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Fernando

Pessoa
A MENSAGEM
Mensagem – O imaginário épico

O imaginário épico
Os Lusíadas Mensagem
Camões Pessoa

Epopeia do Renascimento Canto épico do século XX

Conteúdo maravilhoso, Matéria real: queda do


alegórico, mítico e Império e perda da
fantástico identidade nacional

Incentivo dos heróis Valorização do passado e apelo


Valorização dos feitos à esperança no futuro

Cantores do Império
(em momentos distintos da História portuguesa)
Mensagem – O imaginário épico

O imaginário épico
Os Lusíadas Mensagem
Camões Pessoa

Temas comuns
O Passado: O (seu) Presente:
. As Descobertas . Egoísmo mercenário
. Falta de patriotismo
marítimas
. Deficiência de valores
. A História de Portugal
. Esquecimento do passado áureo
. Descrédito pelas letras
. Falta de identidade nacional
Mensagem – O imaginário épico

Natureza épico-lírica da obra


Características do Características do
discurso épico discurso lírico
▪ uso da 3.ª pessoa (narratividade); ▪ uso da 1.ª pessoa (intimismo e
▪ exaltação de ações heroicas com subjetividade);
proteção sobrenatural; ▪ identificação “eu”/pátria;
▪ integração de figuras e ▪ tom emotivo e linguagem
acontecimentos históricos; expressiva;
▪ protagonistas de elevado estatuto ▪ forma fragmentária (44 poemas).
(social e moral);
▪ glorificação e mitificação do herói
(celebração e recompensa).
Fernando Pessoa, Mensagem

Mensagem

Publicada em 1934 para concorrer aos


prémios do Secretariado de Propaganda
Nacional, Mensagem constitui o único livro vindo
a público durante a vida de Fernando Pessoa.

Relata a História de Portugal através de


uma série de quadros ou de retratos nos quais se
mostram, sequencialmente, vários «reis, heróis,
navegadores ou profetas», que apresentam um
sentido oculto, ou seja, não representam só o
passado, mas também o futuro.
Fernando Pessoa, Mensagem

Estrutura Mensagem
simbólica

Brasão Mar Português O Encoberto

Evolução do Império Português

Idade do
Idade do Pai Idade do Filho
Espírito
Os que deram
Idade ainda não
Os fundadores da continuidade ao Pai
concretizada, mas já
nação portuguesa e alargaram o
anunciada
Império

As fases da existência

Nascimento/ Realização Morte e


génese (vida) Renascimento
Estrutura
externa

PRIMEIRA PARTE SEGUNDA PARTE TERCEIRA PARTE

BRASÃO MAR PORTUGUÊS O ENCOBERTO

Bellum sine bello Possessio maris Pax in excelsis


Mensagem – O imaginário épico

Estrutura da obra

1.ª Parte – Brasão


• Fundação e consolidação da
nacionalidade

2.ª Parte – Mar Português


• Saga das descobertas e concretização do
destino providencialista do país

3.ª Parte – O Encoberto


• Futuro de Portugal e Quinto Império
Fernando Pessoa, Mensagem

Exaltação patriótica

Mensagem

«Mar «O
«Brasão»
Português» Encoberto»

A origem A capacidade criadora Envolto em nevoeiro, mas


predestinada e o de Portugal. símbolo do espírito do
património divino a homem das descobertas
defender. que cada português
encerra em si.
Estrutura formal e simbólica da
Mensagem

BRASÃO
PRIMEIRA PARTE
Bellum sine bello

I II
Os Campos Os Castelos

Primeiro: «O dos Castelos» Primeiro: «Ulisses»


Segundo: «O das Quinas» Segundo: «Viriato»
Terceiro: «O Conde D.
Henrique»
Quarto: «D. Tareja»
Quinto: «D. Afonso Henriques»
Sexto: «D. Dinis»
Sétimo: (I) «D. João o
Primeiro»
Sétimo: (II) «D. Filipa de
Lencastre»
Estrutura formal e simbólica da
Mensagem

BRASÃO
PRIMEIRA PARTE
Bellum sine bello

III IV V
As Quinas A Coroa O Timbre

Primeira: «D. Duarte, «Nun’Álvares Pereira» A cabeça do grifo: «O


Rei de Portugal» Infante D. Henrique»
Segunda: «D. Uma asa do grifo: «D.
Fernando, Infante de João O Segundo»
Portugal» A outra asa do grifo:
Terceira: «D. Pedro, «Afonso de
Regente de Portugal» Albuquerque»
Quarta: «D. João,
Infante de Portugal»
Quinta: «D. Sebastião,
Rei de Portugal»
Estrutura formal e simbólica da
Mensagem

MAR PORTUGUÊS
SEGUNDA PARTE
Possessio maris

I. «O Infante» VII. «Ocidente»


II. «Horizonte» VIII. «Fernão de Magalhães»
III. «Padrão» IX. «Ascensão de Vasco da
IV. «O Mostrengo» Gama»
V. «Epitáfio de Bartolomeu X. «Mar Português»
Dias» XI. «A Última Nau»
VI. «Os Colombos» XII. «Prece»
Estrutura formal e simbólica da
Mensagem

O ENCOBERTO
TERCEIRA PARTE
Pax in excelsis

I II III
Os Símbolos Os Avisos Os Tempos

Primeiro: «D. Primeiro: «O Primeiro: «Noite»


Sebastião» Bandarra» Segundo: «Tormenta»
Segundo: «O Quinto Segundo: «António Terceiro: «Calma»
Império» Vieira» Quarto: «Antemanhã»
Terceiro: «O Terceiro: «Screvo meu Quinto: «Nevoeiro»
Desejado» livro à beira-mágoa»
Quarto: «As Ilhas
Afortunadas»
Quinto: «O Valete, Frates
Encoberto»
Estrutura formal e simbólica da
Mensagem

Estrutura simbólica

Três Partes – Três Épocas

Brasão Mar Português O Encoberto

Idade do Pai Idade do Filho Idade do Espírito


Os que, recolhendo a
Idade que ainda não veio, o
As pedras basilares da herança, a dilataram
Espírito encoberto que espera
nacionalidade portuguesa. pelos mares e o Desejado.
continentes.

Génese Vida Morte e renascimento


Fim das energias do
Os fundadores e construtores Realização do império império. Renascimento
do império. territorial sonhado. do império espiritual:
Quinto Império.
Estrutura formal e simbólica da
Mensagem

Brasão
I. Os Campos

Simbologia da terra, espaço de fecundidade, de vida.

A obra realizada pelos fundadores e construtores do império.

II. Os Castelos

Força, nobreza e coragem.

Valores da fundação e da defesa da nacionalidade colocados a


par do mistério e do enigma como portadores da origem e do
futuro.
Estrutura formal e simbólica da
Mensagem

Brasão
III. As Quinas

Transposição heráldica das chagas de Jesus, que foram, segundo uma lenda, oferecidas pelo próprio
Cristo ao nosso primeiro rei.

Consagração das figuras nacionais nestes cinco poemas como heróis-mártires que contribuíram para
cimentar a mística nacional.

IV. A Coroa

Símbolo de perfeição e de poder; promessa de imortalidade.

Representada pelo arquétipo do herói-cavaleiro puro, o Condestável D. Nuno Álvares Pereira, que
coroa simbolicamente o fundador da dinastia de Avis, D. João I.
Estrutura formal e simbólica da
Mensagem

Brasão
V. O Timbre

O grifo reforça uma dupla natureza celeste (a


águia) e terrestre (o leão), as duas qualidades de
sabedoria e de força de Cristo.

A cabeça do grifo representa o Espírito, a


Sabedoria, o Sonho inspirado do Alto; as asas
transportam o sonho, do plano celeste ao terrestre.
Estrutura formal e simbólica da
Mensagem

Mar
Português
Glorificação das grandes descobertas marítimas portuguesas.

Entre a época do Infante e a de D. Sebastião, Portugal assume-se como a


cabeça da Cristandade ocidental, percorrendo mares desconhecidos e
revelando mundos ignorados, aos quais vai fazer chegar a mensagem cristã.

Descreve-se, primeiro, a epifania oceânica do novo povo eleito, depois a sua


perdição na noite e na tormenta e, finalmente, a sua prece a Deus para o
ressurgimento ou a reconquista da Distância, símbolo de distância geográfica
para a Ásia e as Américas, mas também símbolo da distância para o mistério
do absoluto ou do divino.
Estrutura formal e simbólica da
Mensagem

O Encoberto
I. Os Símbolos Correspondem à própria linguagem da
existência; os cinco grandes mitos
portugueses.

II. Os Avisos As profecias dos três grandes arautos do


messianismo português.

III. Os Tempos Desvelam-se os sinais que indiciam a


proximidade de «O Encoberto».
Estrutura formal e simbólica da
Mensagem

O Encoberto

A constatação de um tempo e de um espaço perdidos, envoltos nas


brumas da memória, e o sofrimento do eu poético por ver dormir o
seu povo, que tinha perdido a sua identidade e os seus referentes.

É neste momento que o poeta explicita o significado do Quinto


Império, recorrendo a uma linguagem que deixa antever esse tempo
de prosperidade espiritual, numa estrutura tripartida:

I. Os Símbolos II. Os Avisos III. Os Tempos


Fernando Pessoa, Mensagem

O Nacionalismo de Fernando Pessoa assenta no conceito de pátria como nação.

NAÇÃO

Conjunto humano unido por instituições comuns,


tradições históricas e, principalmente, uma língua.
Mensagem – O Sebastianismo

Sebastianismo

▪ Da História ao mito: a inspiração providencial da


figura de D. Sebastião.
▪ D. Sebastião e o Encoberto: a dimensão
messiânica de um salvador da pátria.
▪ A mitologia nacional: o Sebastianismo como
crença na regeneração futura de Portugal e
ideologia impulsionadora do Quinto Império.
Fernando Pessoa, Mensagem

O Sebastianismo

Desejo latente de renovação nacional que promove o regresso de D. Sebastião.

Procura da revitalização nacional,


Espera inconsequente que acentua
sob o estandarte de um sonho
o nosso atraso.
comum.

É no inconsciente nacional que o mito do Encoberto se guarda, apresentando-se como um motor


poderoso do processo histórico, torna-se o sonho pelo qual vale a pena viver.
Mensagem – O Sebastianismo

Sebastianismo
Fernando Pessoa, Mensagem

O Quinto
Império
 Império construído na esfera de uma identidade cultural, um
império que a vontade e a esperança transformadora hão de
por força (re)criar contra a decadência presente, contra a
Nação adormecida.

 Império civilizacional, de paz universal, espiritual, tendo


como centro Portugal, que pressupõe o regresso de um
Messias: o D. Sebastião mítico, coordenada simbólica da sua
edificação.

 Representação mental, uma atitude perante a nação e a


nossa própria existência: a procura do nosso ser no mundo,
como indivíduos e como Povo historicamente predestinado a
recuperar o prestígio perdido.
Mensagem – O imaginário épico

Exaltação patriótica

▪ O nacionalismo: Portugal como tema.

▪ O passado de inspiração, o presente de frustração


e o futuro de concretização.

▪ povo eleito para a instituição do Quinto Império.


Pátria = nação

conjunto humano unido por instituições comuns,


tradições históricas e, acima de tudo, uma língua
comum.
Mensagem – O imaginário épico

Dimensão simbólica do herói

▪ Portugal como herói:


a nova pátria e o
Quinto Império.

▪ As figuras históricas
de dimensão exemplar
no plano espiritual.
Mensagem – O imaginário épico

Dimensão simbólica do herói


▪ A dimensão mítica dos heróis, marcados pela
inspiração divina.

“Deus quer, o homem sonha, a obra nasce” (“O


Infante”)

O agente primeiro, A concretização da


que deseja vontade divina e o

+ resultado da ação humana


Teofania:
O receptor da
revelação de
inspiração/vontade divina,
uma intenção
que a executa
divina
Mensagem – O imaginário épico

Dimensão simbólica do herói


Exemplo: “O Infante”
“Deus quer, o homem sonha, a obra nasce”

“Deus quis que a terra “Foste desvendando a


fosse toda uma, / Que o espuma”
mar unisse, já não
separasse”
+ “Sagrou-te”
O desejo divino de unir por via marítima a Terra levou à escolha e
sagração do Infante D. Henrique que, com a sua ação, cumpriu a obra
espiritualmente concebida. O Infante é representante de Deus,
concretizador da sua obra.
Fernando Pessoa, Mensagem

Natureza épico-lírica da obra

Poesia épica sui generis – epo-


lírica
 A poesia da Mensagem é uma poesia epo-lírica, não só pela forma fragmentária como
pela atitude introspetiva, de contemplação no espelho da alma, e pelo tom menor
adequado.

 Integra a matéria épica na corrente subjetiva, reduzindo-a a imagens simbólicas pelas


quais o poeta liricamente se exprime.

 Há assim na Mensagem uma dupla face de tédio e ansiedade, de cética lucidez e


intuição divinatória.
Fernando Pessoa, Mensagem

Natureza épico-lírica da obra

Discurso épico:
Passado histórico: exaltação de acontecimentos memoráveis e extraordinários, que veiculam uma
visão heroica do mundo, protagonizados por figuras de alta estirpe (social e moral) que se impõem
como seres superiores, de qualidades excecionais, capazes de executarem feitos extraordinários,
gloriosos e singulares.

Presente: resultado consequente desse passado remoto e mítico que se projeta no futuro.

Recurso ao maravilhoso: confere grandeza à ação e transpõe a verdade histórica para a


dimensão do mito.

Uso narrativo da terceira pessoa.


Fernando Pessoa, Mensagem

Natureza épico-lírica da obra


Discurso
lírico:

 brevidade dos poemas, que encerram um valor próprio e isolado dos demais;

 interiorização, mentalização da matéria épica que é reduzida a imagens simbólicas através


das quais o sujeito poético se exprime;

 expressão da subjetividade: presença «dominante» da primeira pessoa do presente;

 confluência íntima entre o eu e o mundo, o tempo e o espaço.


Fernando Pessoa, Mensagem

Estrutura estrófica, a métrica e a rima

Mensagem: 44 poemas
Número de estrofes Estrofes Versos
Monóstrofos (3 poemas) Monósticos, dísticos, Apresentam uma vasta gama
Duas estrofes (15 poemas) tercetos, quadras e de ritmos, indo do dissílabo ao
Três estrofes (18 poemas) quartetos, quintilhas, dodecassílabo, passando pelos
Quatro estrofes (5 poemas) sextilhas, sétimas, versos de três, quatro, seis,
Cinco estrofes (2 poemas) nonas e décimas. sete, oito, nove e dez sílabas.
Seis estrofes (1 poema)

Rima
Grande variedade, que vai dos versos brancos aos versos rimados, dividindo-se estes em
emparelhados, cruzados, interpolados, misturados, e que vai da rima rica à rima pobre, da rima
aguda à rima grave e esdrúxula.
Fernando Pessoa, Mensagem

Estrutura estrófica, a métrica e a rima

Exemplificação:

Poema: «O dos Castelos»

• quatro estrofes irregulares: par / ímpar / par / ímpar – quadra /


Estrutura estrófica quintilha / dístico / monóstico.

• versos decassilábicos: «A Eu/ro/pa/ jaz/, pos/ta/ nos/ co/to/ve/los»;

Métrica
• último verso da primeira estrofe: verso hexassilábico – «O/lhos/ gre/
gos/, lem/bran/do».

• rima cruzada: primeira e segunda estrofes;


Rima
• versos soltos ou brancos: terceira e quarta estrofes.
Fernando Pessoa, Mensagem

Linguagem e estilo

Características da linguagem Exemplos

•Adjetivo de características abrangentes. •Desnudo; ungido.

•Adjetivo duplicado. •Com bruta e natural certeza.

•Adjetivo nominalizado. •Ai dos felizes.

•Adjetivo separado do nome e realçado entre •Que arcanjo teus sonhos veio / Velar,
vírgulas. maternos, um dia?

•Advérbio de modo repetido. •Assim vivi, assim morri.

•Emprego típico do particípio. •À espada em tuas mãos achada.

•Interjeição emotiva e apelativa. •Ai dos felizes; Ah, quando.


Fernando Pessoa, Mensagem

Linguagem e estilo

Características da linguagem Exemplos

• Inversão da ordem habitual das frases. •Três impérios do chão lhe a sorte apanha.

•Neologismos. •Almar; beira-mágoa; praiar.

•Nomes conceituais. •Mito; brasão; mistério; vigília.

•Repetição do verbo. •Baste, basta, bastar.

•Verbo intransitivo empregado transitivamente. •Assim vivi, assim morri a vida.

•Verbo nominalizado, de sabor latino, no •O querer; o ser; o saber; ter é tardar.


infinitivo.

•… •…
Fernando Pessoa, Mensagem

Linguagem e estilo

Recursos expressivos Exemplos

• Aliteração. • Formidável vulto; […] os medos do mar sem fundo.

• Anáfora. • É o som […] / É a voz […].

• Anástrofe. • Que, da obra ousada, é minha a parte feita.

• Antítese. • A vida é breve, a alma é vasta.

• Apóstrofe. • Ó mar anterior a nós […].

• Comparação. • É rumor dos pinhais que, como um trigo / De império,


ondulam sem se poder ver.

• Enumeração. • A árvore, a praia, a flor, a ave, a fonte.


Fernando Pessoa, Mensagem

Linguagem e estilo

Recursos expressivos Exemplos

• Gradação. • Quando a nau se aproxima […] / Mais perto […] / E no


desembarcar […].

• Interrogação retórica. • Inutilmente? Não, porque o cumpri.

• Metáfora. • Em baixo, a vida, metade / De nada, morre.

• Metonímia. • (D. Filipa): princesa do Santo Graal […]; Madrinha de


Portugal!

• Personificação. • A Europa jaz, posta nos cotovelos.

•… •…

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