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Theophrastus von Hohenheim, mas ele preferiu ser conhecido como

Paracelso, sugerindo com isso que se julgava superior a Celso, o


grande médico romano. Embora muitas referências dêem Paracelso
como um charlatão e impostor, na realidade não está provado que ele
o fosse.
Ao menos mostrou-se bastante capaz como clínico para ser nomeado,
em 1 527, professor de medicina na Universidade de Basiléia e
médico da cidade. Ademais, cabe-lhe o mérito especial de ter
recorrido diretamente à experiência para o conhecimento das
moléstias e sua cura. Em lugar de seguir os ensinamentos dos autores
antigos, fez extensas viagens, estudando casos de doenças em vários
meios e experimentando inúmeras drogas. Negava que fosse função
do químico procurar a pedra filosofal e insistia na íntima correlação da
química e da medicina. Sua contribuição especifica mais importante
talvez tenha sido o descobrimento da relação entre o cretinismo dos
filhos e o bócio dos pais.

2. A RENASCENÇA CULTURAL NOS PAÍSES-BAIXOS


A despeito do fato de não se libertarem os Países-Baixos da
dominação estrangeira até o século XVII, constituíram, não obstante,
um dos mais esplêndidos centros de renascimento cultural fora da
Itália. Pode-se encontrar a explicação disso na riqueza das cidades
holandesas e flamengas e nas importantes ligações comerciais com a
Europa meridional. Já em 1.450 haviam ocorrido nos Países-Baixos
importantes progressos artísticos, inclusive o desenvolvimento da
pintura a óleo. Foi ali também que se imprimiram alguns dos primeiros
livros. Embora na verdade não tenha tido a Renascença nessa região
um alcance mais alto do que em outras partes da Europa setentrional,
suas realizações, em conjunto, revestem-se de um brilho excepcional.
A história da literatura e da filosofia renascentista nos Países-Baixos
começa e acaba com Desidério Erasmo, aclamado universalmente
como o Príncipe dos Humanistas. Erasmo era filho de um padre e de
uma criada e nasceu perto de Rotterdam, provavelmente em 1.466.
Em sua primeira educação foi favorecido com a excelente instrução
ministrada na escola dos "Irmãos da Vida Comum", em Deventer;
após a morte dos pais, seus tutores o colocaram num mosteiro
agostiniano. Aí o pequeno Erasmo encontrou pouca religião e
nenhuma instrução sistemática, mas gozou de bastante liberdade para
ler o que quisesse. Devorou todos os clássicos que pôde ter à mão e
as obras de muitos dos Padres da Igreja. Quando contava mais ou
menos 30 anos, obteve permissão para deixar o mosteiro e matricular-
se na Universidade de Paris, onde completou o curso e obteve o grau
de bacharel em teologia. Erasmo, porém, nunca exerceu as funções
ativas do sacerdócio, preferindo em lugar disso ganhar a vida
ensinando e escrevendo. Pela continua leitura dos clássicos elaborou
um estilo latino não notável pela finura e delicadeza, que tudo quanto
escrevia era lido por um vasto público. Mas o amor de Erasmo pelos
clássicos não nascera de um interesse pedante. Admirava-os porque
eles tinham sido a expressão dos verdadeiros ideais de naturalismo,
tolerância e humanitarismo que ocupavam lugar tão alto em seu
próprio espírito. Estava pronto a acreditar que pagãos como Cícero e
Sócrates mereciam muito mais o título de santos do que muitos
cristãos canonizados pelo Papa por causa de milagres fortalecedores
da fé dos crédulos. Em 1.536 Erasmo morreu em Basiléia, depois de
uma existência longa e dedicada sem vacilações à defesa do estudo,
dos altos padrões de gosto literário e da vida racional. Muito
acertadamente, é considerado como o homem mais civilizado de sua
época.
Como filósofo do humanismo, Erasmo foi a encarnação dos mais altos
ideais da Renascença nos países setentrionais. Convencido da inata
bondade do homem, acreditava que toda a miséria e injustiça
possivelmente desapareceria se fosse permitido à pura luz da razão
penetrar nas escuras cavernas da ignorância, da superstição e do
ódio. Não sendo de modo algum um fanático, pregava uma atitude
liberal, razoável e conciliatória em lugar da feroz intolerância ante o
mal. Repugnavam-lhe a violência e a paixão da guerra, fosse entre
sistemas, classes ou nações. Grande parte de seus ensinamentos e
escritos era dedicada à causa da reforma religiosa. Embora chocado
com o estúpido cerimonialismo, dogmatismo e superstição da igreja
católica, dominantes no seu tempo, não se coadunava com seu
temperamento levantar uma cruzada contra eles. Procurava,
sobretudo, por meio da ironia suave e ocasionalmente pela sátira feri
na, expor o irracionalismo em todas as suas formas e propagar uma
religião humanista de piedade simples e conduta nobre, baseada no
que chamava "filosofia de Cristo". Ainda que a sua crítica à fé católica
tenha contribuído muito para apressar a Revolução Protestante,
recuou desgostoso ante o fanatismo dos luteranos. Não teve também
muita simpatia pela revivescência científica do seu tempo. Como a
maioria dos humanistas, acreditava que dar demasiada importância à
ciência seria incrementar um grosseiro materialismo e afastar o
interesse dos homens da influência nobilitante da literatura e da
filosofia. As principais obras de Erasmo são: O elogio da loucura, no
qual ele satiriza a pedantaria e o dogmatismo dos teólogos e a
ignorância e credulidade das massas; Colóquios familiares, e o
Manual do cavaleiro cristão, no qual condena o cristianismo
eclesiástico e se bate pela volta aos ensinamentos simples de Jesus,
"que nada mais nos ordenou senão o amor ao próximo". Numa obra
menos famosa, intitulada A lamentação da Paz, exprime o horror à
guerra e o desprezo pelos príncipes despóticos.
A Renascença artística dos Países-Baixos limitou-se quase que
exclusivamente à pintura; nesse campo sobressaem as realizações da
escola flamenga. A pintura flamenga tem como razão, e não das
menores, de sua excelência, o ser uma arte autóctone. Ali não houve
influências clássicas, nenhuma estátua antiga a ser imitada e
nenhuma tradição viva das culturas bizantina e sarracena. Até
relativamente bem tarde, mesmo a influência italiana foi de pequena
monta. A pintura de Flandres era, antes, o produto espontâneo de
uma sociedade urbana viril e próspera, dominada por mercadores
ambiciosos e interessados na arte como um símbolo de seus gostos
luxuosos. O trabalho de quase todos os principais pintores - os van
Eycks, Hans Memling e Roger van der Weyden - mostram essa
inclinação para pintar as virtudes sólidas e respeitáveis de seus
clientes. Distinguem-se também pelo seu poderoso realismo, por uma
atenção infatigável aos detalhes da vida quotidiana, por um colorido
brilhante e por uma piedade profunda e sem crítica. Hubert e Jan van
Eyck salientaram-se pela sua Adoração do Cordeiro, um painel de
altar pintado para uma igreja de Gand, logo depois do início do século
XV. Considerada por alguns críticos como a obra mais insigne da
escola flamenga, representa uma profundidade de sentimento
religioso e um fundo de experiência comum não encontrados na arte
italiana. Foi o primeiro grande trabalho da Renascença executado com
a nova técnica da pintura a óleo, processo que se acredita ter sido
inventado pelos van Eycks. Hans Memling e Roger van der Weyden,
os outros dois pintores flamengos do século XV, são famosos,
respectivamente, pelo naturalismo e pela expressão de intensidade
emocional. Mais ou menos uma centena de anos depois aparec eu
Peter Breughel, o artista setentrional mais independente e mais
dotado de consciência social. Deixando de lado as tradições religiosas
e burguesas dos seus predecessores, Breughel preferiu pintar a vida
do homem comum. Gostava de pintar os prazeres violentos da gente
do povo nas festas de casamento e nas feiras de aldeia ou ilustrar
provérbios com cenas tiradas da vida da gente humilde, rente com a
terra. Conquanto fosse suficientemente realista para nunca idealizar
os personagens que apresentava, sua atitude em relação a eles era
nitidamente simpática. Empregou também o seu talento em condenar
a tirania do regime espanhol nos Países-Baixos. Um de seus quadros
O Massacre dos Inocentes descreve o assassínio de mulheres e
crianças pelos soldados espanhóis. Raramente a grande arte tem sido
usada com tanta eficácia como arma de protesto político.

3. A RENASCENÇA FRANCESA
A despeito dos fortes interesses artísticos do povo francês,
demonstrado pela perfeição da sua arquitetura gótica na Idade Média,
foram relativamente de pequena importância as realizações dos

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