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RELATÓRIO DE LEITURA

O autor Mcgrath inicia sua obra com a menção de que no século 16, Calvino provou ser uma
figura de extrema influência na história da Europa, mudando a perspectiva de indivíduos e
instituições, no início da era moderna, à medida que a civilização ocidental começou a assumir
sua forma característica. Falar de Calvino é falar de Genebra. Ao mesmo tempo em que a frase
“A Genebra de Calvino” é carregada de implicações potencialmente enganosas, resultando,
talvez, em interpretações incorretas acerca do status e do âmbito de liberdade de ação de que
Calvino gozava em Genebra, ela é útil pelo fato de destacar a íntima interação que havia entre
o homem e a cidade. O impacto de Calvino sobre a fama e o destino de Genebra, até mesmo a
ponto de criar uma mitologia em torno daquela cidade. O movimento genebrino se tornou
internacional e ameaçou rompeu ou desestabilizou a ordem reinante na Europa ocidental e
que, posteriormente, pareceu propício à criação de uma ordem social radicalmente nova na
América do Norte. As ideias provenientes de Genebra comprovadamente exerceram um
estranho fascínio sobre gerações de europeus e ainda mantêm alguma influência atualmente.

No tópico "A Pressão Pela Reforma", os fatores não eram somente religiosos, mas envolviam,
também, questões sociais, políticas e econômicas. Para que se possa entender a Reforma e,
especialmente, o papel crucial que João Calvino desempenhou neste drama.

Quanto ao tópico “o avanço na alfabetização de adultos”, percebemos conforme o autor


menciona “O Humanismo, entretanto, tornou a educação de adultos uma conquista social,
uma habilidade que abriu caminho para o avanço e a melhoria social.

No tópico "O fenômeno da religião pessoal", o autor de que: Um dos mais sutis e significativos
avanços na compreensão do significado do Cristianismo passou a ocorrer à medida que uma
religião que crescera habituada a se expressar e a se definir por meio de formas”.

Deve-se ressaltar que as origens destes movimentos nada devem a Lutero. Enquanto Lutero
era ainda um monge desconhecido que lecionava, de forma pacata, para pequenas audiências,
em uma das mais insignificantes universidades da Europa, os grandes e famosos respiravam,
novamente, a brisa fresca do Novo Testamento. Uma ênfase inédita e difundida acerca da
religião, incorporada a uma forma pessoal e a um novo interesse nos escritos de Paulo e
Agostinho, parece ser característica de muitos grupos e indivíduos influentes nas primeiras
duas décadas do século 16. Tamanha era a aversão posteriormente relacionada ao nome de
Martinho Lutero, que semelhanças entre as ideias destes grupos e indivíduos e as ideias de
Lutero vieram a ser tratadas como evidência de heresia, por parte dos primeiros, em lugar de
serem consideradas ortodoxas, por Lutero. Lefebvre, em Paris, Guilherme Briçonnet, em
Meaux e os alumbrados (um grupo de escritores místicos), na Espanha, somente se tornaram
suspeitos de heresia quando as idéias de Lutero tornaram-se conhecidas. Ainda que a
contribuição de Lutero para a Reforma seja avaliada de forma positiva, deve-se admitir que ela
teve, de um modo geral, o efeito negativo de fazer com que perspectivas católicas e ortodoxas
autênticas, potencialmente hábeis a injetar vitalidade em uma Igreja exaurida, fossem
consideradas heréticas.

Na diocese de Rouen havia um clamor público acerca dos lucros excepcionais que a
Igreja obtinha com a venda de grãos em um período de grande escassez. A imunidade do clero
em relação ao processo, nas cortes civis, também separou o clero do povo. Na França, as crises
de subsistência da década de 1520 tiveram um papel importante na consolidação das atitudes
anticlericais. Em seu aclamado estudo de Languedoc, Ladurie sustentou que, na década de
1520, verificou-se uma reversão do processo de expansão e recuperação, que havia sido típico
de duas gerações, desde o fim da Guerra dos Cem Anos.19 Dali em diante, a crise começou a
se agravar, manifestando-se através da peste, da fome e do êxodo rural para as cidades, na
busca por alimento e emprego.

No tópico "A crise de autoridade na igreja" ao final do período da Idade Média, que muito fez,
a princípio, para promover o surgimento da Reforma e, posteriormente, para inibir medidas
efetivas em oposição a esta. Na Alemanha. De crucial importância, para Lutero, era a doutrina
da justificação – que trabalha a questão da maneira como o indivíduo entra em
relacionamento com Deus. Para Lutero parecia que a Igreja de sua época havia aderido ao
Pelagianismo, um entendimento inaceitável a respeito de como um indivíduo entrava em
relacionamento com Deus. A Igreja, segundo acreditava Lutero, ensinava que as pessoas
poderiam alcançar o favor e a aceitação diante de Deus com base em suas obras e seu status, o
que negava, portanto, todo o conceito da graça. Lutero pode, perfeitamente, ter se enganado
quanto ao seu entendimento – porém, havia tamanha confusão na Igreja, em sua época. à
Reforma, no que tange a João Calvino, era a crescente incapacidade da Igreja em impor a
ortodoxia. Na Alemanha, a complexa rede de sínodos provinciais e diocesanos – encarregados
de identificar e suprimir a heresia – não conseguiu fazê-lo e, muito menos, tomar alguma
medida decisiva no período durante o qual a tese de Lutero estava começando a atrair
atenção. A tentativa das autoridades francesas de suprimir os valdenses (Vaudois), na
primavera de 1487, não foi propriamente um sucesso, apenas dispersando este grupo, tido
como herege, em lugar de eliminá-lo.

Cauvin nasceu, em 10 de julho de 1509. Jehan Cauvin é conhecido pela versão latina de seu
nome – Johannes Calvinus – João Calvino. De sua infância, praticamente nada sabemos com
um certo grau de certeza, apesar do empenho de seus primeiros biógrafos do século 17, os
quais vasculharam a catedral de Noyon e os registros da época em busca de alguma menção
ao seu nome, além de entrevistarem habitantes locais na esperança de que estes se
recordassem de algo, dentre as brumas de um passado distante, a respeito do filho de Gerard
Cauvin. O genuíno conteúdo histórico destas memórias acrescenta, provavelmente, pouco
mais do que se refere a sua personalidade.

No tópico "A gênese de um enigma", diz o autor: "Sugerir queCalvino representa algo como
um enigma histórico pode, à primeira vista, parecer absurdo. Não sabemos mais a seu respeito
do que sobre várias outras figuras do século 16? Antes de iniciar a análise histórica e a
reconstituição da incrível carreira de Calvino, porém, é relevante atentarmos para o fato de
que sabemos muito menos sobre ele, particularmente sobre seu período inicial, do que
gostaríamos de saber. Seu maior legado para a civilização ocidental foram suas ideias e as
formas literárias com que elas foram expostas. Na verdade, mais de um historiador sugeriu a
existência de paralelos entre Calvino e Lênin, alegando que os dois possuíam um grau
extraordinário de visão teórica e aptidão organizacional. Ambos forneceram fundamentos
teóricos para movimentos revolucionários, os quais dependeram justamente de tais
fundamentos para sua organização, direção e posterior sucesso.

O próprio Calvino, porém, como figura humana, de carne e osso, por detrás dessas ideias,
permanece vago. As razões para isso não são difíceis de se entender, sendo, talvez, melhor
compreendidas pela comparação de Calvino com o grande Reformador saxão, Martinho
Lutero". Que tem inicio de sua carreira como reformador ao apregoar suas 95 teses em 31 de
outubro de 1517.
No Capítulo 2 "Paris: A formação de uma mente"

O autor menciona que: "Paris é curiosamente modesta sobre sua conexão com
Calvino, talvez refletindo um certo grau de ambivalência a respeito dos méritos de seu impacto
sobre a história da França. Dentre os poucos reconhecimentos tangíveis dessa conexão está
uma inscrição na fachada da Bibliothèque Sainte-Geneviève, em frente ao Panthèon. Lá,
registrado entre uma lista de célebres figuras intelectuais e culturais, que inclui Erasmo e
Rabelais, pode ser encontrado o nome do Reformador francês.

Na universidade de Paris enquanto frequentava o Collège de la Marche O reformador


teve uma espécie de centro escolástico, um movimento inclusive bastante desprezado. Já na
universidade de Paris, à época, resistiu a uma tendência moderna do curso de filosofia,
mantendo um currículo fortemente baseado no pensamento Aristótelico.

No tópico "Correntes intelectuais em Paris" vemos que: "O Escolasticismo


éprovavelmente um dos mais desprezados movimentos intelectuais na história da
humanidade. A palavra inglesa "dunce" (estúpido) deriva-se do nome de um dosmaiores
escritores escolásticos, Duns Scotus. O Escolasticismo é mais conhecidocomo o movimento
medieval que floresceu entre 1250 e 1500, havendo posto grande ênfase sobre a justificação
relacionada a crença religiosa. É a demonstração da racionalidade inerente à teologia cristã
através de um apelo à filosofia e à demonstração da total harmonia daquela teologia por meio
da análise minuciosa da relação de seus vários elementos. Os escritos escolásticos tinham a
tendência de serem longos e argumentativos, apoiando-se frequentemente em diferenças
debatidas de forma bastante próxima. Porém, qual sistema filosófico melhor se adequava à
defesa racional do Cristianismo? Por volta de 1270, Aristóteles era reconhecido como "o
Filósofo".

Ele foi fortemente influenciado por estudos na área da lógica e dialética. Calvino teve
aulas de gramática latina com Marthurin Cordier. Ele, então, filiou-se, formalmente, ao Collège
de Montaigu, onde estudou humanidades, provavelmente com a intenção de estudar teologia,
após a conclusão de seu curso.

A Sainte-Barbe e La Marche, nas primeiras biografias, podem se basear,


eventualmente, em inferências incorretas ou malentendidos por parte de seus primeiros
biógrafos. Calvino, provavelmente, teve aulas de latim sob a supervisão de Cordier, que podem
ter sido ministradas tanto em La Marche como em Sainte-Barbe, sem que o jovem francês
tivesse qualquer filiação formal com qualquer dessas faculdades,

Sobre esta escola o autor menciona que: “Erasmo foi forçado a se inscrever nesse
collegium pauperum, que trazia consigo obrigações de auxiliar nas tarefas domésticas. Ele
relembra suas impressões do lugar e de suas personalidades em seu Colloquies. Montaigu
revela-se como um lugar infestado de piolhos, decrépito e brutal, cheirando a latrinas abertas
e povoado por tiranos. 21 Primeiro personagem: De qual prisão ou caverna você vem?
Segundo: Do Collège de Montaigu. Primeiro: Então, eu presumo que você está repleto de
sabedoria. Segundo: Não, apenas de piolhos”.

McGrath afirma que Calvino viveu uma condição diferente neste colégio: “Calvino teve
um tempo bem melhor em Montaigu. Os estudantes eram divididos em cinco categorias:
boursiers, aos quais eram fornecidos alojamentos; portionnistes, que pagavam por alojamento
e refeição; caméristes, que alugavam seus quartos e pagavam por seu sustento; martinets, que
moravam em casas e pagavam apenas pelas aulas e pauvres, que garantiam sua subsistência
por meio de serviços domésticos e assistiam as aulas que podiam. Enquanto Erasmo estava
entre les pauvres, Calvino parece ter estado entre les riches, mais especificamente um
camériste, vivendo fora da faculdade, em quartos”.

"O Collège de Montaigu" observa-se que: “foi fundado no início do século 14 pelo
filantropo arcebispo de Rouen, que foi poupado do desgosto de testemunhar seu dramático
declínio, durante o século 15. A reversão desse processo de deterioração, nos últimos anos do
século, deve ser creditada quase que inteiramente à enorme energia e dedicação de uma
única figura, Jan Standonck. Standonck havia estudado sob a orientação dos Irmãos da Vida
Comum, um movimento monástico concentrado nos Países Baixos que apresentava a vocação
particular para a reforma da vida monástica como fim e sólidos métodos educacionais como
meio para alcançar aquele objetivo.

Quanto a formação nesta academia o autor faz menção do que escreveu Beza em sua
biografia sobre o reformador: “Ela era formada por quatro faculdades: teologia, direito,
medicina e humanidades. Um estudante era obrigado a se formar antes que a ele fosse
permitido cursar matérias das três primeiras faculdades, que eram chamadas de “superior”.
Um estudante que fosse membro de uma ordem religiosa seria obrigado a ter aulas nesta
ordem devido a uma centenária hostilidade entre a universidade e as ordens religiosas: a
universidade estava determinada a evitar ser inundada por frades mendicantes. Outros
estudantes, como Calvino, poderiam começar o curso de humanidades tão logo eles fossem
capazes de ler, escrever e lidar com o latim, a língua na qual eles seriam ensinados e fariam
seus exames.

Em sua segunda biografia de Calvino (1575), Beza afirma que Calvino dominava tão
bem o latim que foi capaz de mudar para o curso de humanidades antes do previsto

Calvino espelhou bastante Agostinho em sua obra nos seguintes quesitos:


nominalismo epistemológico, entendimento voluntarista dos fatores do mérito humano e de
Jesus Cristo, amplo uso dos escritos de Agostinho, uma perspectiva pessimista do pecado
original, ênfase sobre Deus salvar o homem, uma doutrina de dupla predestinação absoluta e
uma rejeição dos méritos humanos na salvação.

Agostinho coloca tanta ênfase sobre a “graça” que ele é, freqüentemente, designado
como doctor gratie, “o doutor da graça”. A “graça” é o imerecido ou injustificável dom de Deus
através do qual ele, voluntariamente, rompe as amarras do pecado sobre a humanidade. A
redenção somente é possível como um presente de Deus. Não é algo que possamos alcançar
por nós mesmos, mas que tem que ser feito por nós. Agostinho, portanto, enfatiza que os
recursos para salvação encontram-se fora da humanidade, no próprio Deus. É Deus que inicia
o processo de salvação, e não os homens ou as mulheres.

Para Pelágio, entretanto, os recursos necessários para a salvação encontramse na


própria humanidade. Os seres humanos, individualmente, têm a capacidade de salvar a si
próprios. Eles não estão presos pelo pecado, mas têm a habilidade para fazer tudo o que é
necessário para serem salvos. Salvação é algo conquistado através de boas obras, as quais
colocam Deus em dívida com a humanidade. Pelágio marginaliza a idéia da graça, entendendo-
a como exigências que são impostas à humanidade – tal como os Dez Mandamentos – para
que a salvação possa ser alcançada. A ética do Pelagianismo pode ser sintetizada como a
“salvação através da conquista pessoal”, enquanto Agostinho, ao contrário, ensina a “salvação
pela graça divina”.
No ponto "A natureza do Humanismo", o autor nos mostra que: "O termo "Humanismo" foi
inicialmente utilizado pelo educador alemão F. J. Niethammer, em 1808, para se referir a uma
espécie de educação que enfatizava o ensino do grego e do latim clássicos.

Niethammer estava alarmado com o crescente foco sobre as ciências naturais e a tecnologia
na educação secundária alemã e acreditava que as consequências potencialmente
desumanizadoras dessa ênfase apenas poderiam ser reduzidas através de um estudo mais
aprofundado das ciências humanas.

Curiosamente o termo não foi usado na própria época da Renascença, embora a

palavra italiana umanista seja, frequentemente, encontrada. Essa palavra se refere à

função de professor universitário de studia humanitatis - "o estudo das humanidades"

ou "artes liberais", tais como a poesia, a gramática e a retórica. Repetidos estudos a

respeito de célebres escritores humanistas da Renascença italiana têm revelado uma

preocupação comum e implícita com a eloquência. Se existe algum tema comum nos

escritos humanistas é a necessidade de incentivar a eloquência falada e escrita, com

o grego e o latim clássicos servindo como modelos e fontes para esse ambicioso

programa estético".

No tópico "O Humanismo jurídico francês" nota-se que: "Calvino provavelmente

chegou a Orleans em 1528, embora não tenhamos qualquer evidência documental

que comprove este fato. No ano seguinte ele foi atraído a Bourges em razão da

reputação de um professor de direito italiano que havia chegado recentemente àquela

cidade, o notável jurista Andréa Alciati. Como parte de uma série de reformas impostas

em 1527, Bourges começou a tomar célebres acadêmicos de outras instituições,

oferecendo altos salários que compensavam a falta de prestígio da universidade.

Alciati foi seduzido a deixar Avignon em razão de um atrativo acordo financeiro. Após

um tempo, porém, Calvino descobriu que o carisma de Alciati estava claramente em

declínio; ele parece haver retornado a Orleans em outubro de 1530".

No tópico "O comentário de Sêneca", o autor diz que: "O tratado particular que

Calvino escolheu expor havia sido incluído por Erasmo de Rotterdam em sua edição

de Sêneca, em 1515. Naquela época, Erasmo estava preocupado com sua obra sobre

Jerônimo e o Novo Testamento e não é improvável que ele possa ter dedicado menos

tempo e atenção a Sêneca, do que a obra o exigia; insatisfeito com seus esforços, ele
publicou uma edição melhorada, em janeiro de 1529. Foi essa segunda edição que

atraiu a atenção de Calvino, talvez devido a seu prefácio. Erasmo cordialmente

convida qualquer pessoa, com maior capacidade e tempo livre que ele, a melhorar

sua obra; era um claro convite à derrota. Talvez seja uma indicação de sua

imaturidade o fato de que Calvino, visando à aprovação da esfera literária, aceitou o

desafio, onde outros teriam sido sábios o suficiente para rejeitá-lo".

No tópico "Paris em 1533" vemos que: "O período de 1528 a 1535 foi repleto

de dificuldades para a faculdade de teologia. Em 1532, Jean du Bellay, um antigo e

notório crítico da faculdade, foi indicado para o cargo de bispo de Paris. Uma certa

frieza se desenvolveu, nesse período, entre a faculdade e o parlamento parisiense.

As relações entre o rei e a faculdade também eram tensas. A faculdade havia sido

vencida por Francisco I na questão do divórcio de Henrique VIII e observava, com

alarme, a crescente influência de Marguerite de Navarre, propensa ao

evangelicalismo, sobre Francisco, após a morte da rainha mãe. Sob a proteção de

Marguerite, o evangélico Gérard Roussel começou a atrair grandes multidões com

suas pregações durante a quaresma, em 1533. Não demorou para que outros

pregadores começassem a imitar seu estilo e ideias. Seriamente preocupada com o

impacto de Roussel, em 29 de março de 1533, a faculdade ordenou seis de seus

membros a pregarem contra "erros e a perversa doutrina dos luteranos".

No tópico "O discurso do Dia de Todos os Santos", o autor nos mostra que:

"Em 1o de novembro de 1533, Cop proferiu o costumeiro discurso, marcando o início

do novo ano acadêmico. Desde a publicação, em 1580 do definitivo Histoire

ecclèsiastique dês églises réformées au royame de France, compilada na Genebra,

sob a direção de Teodoro de Beza, tornou-se parte da tradição permanente, quanto

ao período em que Calvino viveu em Paris, afirmar que esse discurso foi feito na "igreja

dos Mathurins". Embora o discurso fosse, de fato, tradicionalmente feito na capela do

convento Trinitariano de São Mathurin, que era o local habitual de reunião da

faculdade de teologia, em 1533, o local foi, na verdade, a capela dos Franciscan

Observantines, localmente conhecidos como "cordeliers" por causa da corda que

usavam amarrada em volta de suas cinturas (isso ficou claro em uma carta de
Roderigo Manrique para Luis Vives, datada de 9 de dezembro de 1533; isso também

explica uma questão que, de outra forma, seria confusa - porque foram os cordeliers

os primeiros a condenar o discurso de Cop.)"

No Capítulo 4 entitulado de "De Humanista a Reformador: A Conversão", o

autor discorre sobre: "O termo "conversão" era, então, bastante carregado de nuances

e apelos implícitos a acontecimentos vitais e a padrões normativos da história cristã.

Como alguém que desprezava o culto à personalidade, Calvino fornece poucas pistas

de sua própria evolução religiosa. Há apenas uma passagem nos seus escritos que

pode, de forma realista, ser tomada como um relato fidedigno de sua decisão em

romper com seu passado: o prefácio de seu Comentário sobre os Salmos (1557). Ao

descrever esse rompimento com a Igreja medieval como uma "súbita conversão",

Calvino estava, indiscutivelmente, aderindo a essas poderosas associações. A

"conversão" não designava, meramente, uma experiência religiosa privada e interna;

ela abrangia uma mudança exterior, visível e radical da lealdade institucional. Ao

descrever como se desenvolveu seu chamado para ser um Reformador, ele afirma

que estava "tão intensamente devotado às superstições do papado" que apenas um

ato de Deus poderia libertá-lo dessa situação. Ele era um conservador, incapaz de se

libertar, possivelmente até mesmo contente em se espojar no lodo reconfortante e

familiar da espiritualidade católica. Em uma série de imagens bruscas, Calvino retrata

sua situação como a de alguém que está aprisionado em seus próprios caminhos,

incapaz e, talvez, até mesmo relutante em se libertar. Uma intervenção externa era

necessária para que ele algum dia pudesse se libertar da matriz da religião

predominante, ao final da Idade Média. Empregando uma imagem equestre, ele

compara a maneira como Deus lida com ele, nessa fase, a um cavaleiro que dirige

seu cavalo por meio das rédeas. "Por fim, Deus mudou minha trajetória para uma

direção diferente, pelo freio secreto (frenum) de sua providência... Por uma súbita

conversão à docilidade, ele domou uma mente bastante intransigente pelos seus

anos".

No Capítulo Cinco entitulado "Genebra: O Primeiro Período", vemos que: "Falar

de Calvino é falar de Genebra. Calvino iria influenciar e ser influenciado por Genebra.
A relação desse homem com sua cidade adotiva é uma das mais simbióticas da

história. O próprio Calvino, ocasionalmente, irritava-se com a proximidade dessa

relação, que ele muitas vezes considerava embaraçosa: com bastante frequência ele

se queixava de que indivíduos mal informados atribuíam medidas do Conselho

municipal de Genebra à sua pessoa. Embora seu primeiro período de ministério nessa

cidade tenha sido curto e, de muitas maneiras, desastroso, seu retorno posterior, de

forma quase triunfal, marcou o início de um período novo e significativo da história da

cidade. Mas Genebra é curiosamente marginalizada por muitos dos biógrafos de

Calvino. Não que ela seja totalmente ignorada, mas pelo fato de ser, por outro lado,

tratada de uma forma muito parecida com a que as biografias eduardianas, sobre os

grandes líderes e pioneiros ingleses, referem-se às esposas destes indivíduos como

influências sem grande importância, infrutíferas, merecedoras de uma menção breve

e respeitosa, não possuindo, contudo, qualquer relevância decisiva em relação ao

tema. Genebra não pode ser tratada dessa forma. Para entender Calvino como um

homem de ação, em vez de um idealizador de grandes teorias sem relevância para a

história é necessário estar em consonância com a cidade que deu origem e modificou

tanto do seu pensamento. Certas ideias de Calvino parecem ter sido desenvolvidas

tendo em vista a situação de Genebra. Se este capítulo parece surgir que Genebra

seja, transitoriamente, mais importante do que Calvino, isso é feito, em parte, para

corrigir uma incongruência fatal que ocorre em muitas das biografias existentes sobre

Calvino".

No tópico "A Reforma Como um Fenômeno Urbano", o autor nos mostra que:

"várias teorias têm sido desenvolvidas para explicar esse fenômeno. Berndt Moeller

argumentou que o sentimento de comunidade urbana havia sido destruído, no século

15, pela progressiva tensão social nas cidades e pela crescente tendência de

dependência em relação a entidades políticas externas, tais como o governo imperial

ou a cúria papal. Pela adoção da Reforma de Lutero, sugeriu Moeller, tais cidades

foram capazes de restaurar um senso de identidade comunitária, incluindo a noção

de uma comunidade com uma religião comum, que unia os habitantes em torno de

uma vida religiosa compartilhada. De forma significativa, Moeller chama a atenção


para as implicações sociais da doutrina de Lutero sobre o sacerdócio de todos os

crentes, que aboliu certas distinções tradicionais existentes na sociedade urbana e

encorajou um senso de unidade comunitária. Moeller alegava que o pensamento de

Lutero era, inevitavelmente, produto de um local menos desenvolvido culturalmente,

a porção situada no Nordeste da Alemanha, que não possuía a sofisticação das

comunidades mais desenvolvidas do Sudoeste. Proveniente de uma pequena vila,

que não possuía as estruturas coletivas das associações e os impulsos comunitários

das grandes cidades, Lutero dificilmente poderia evitar produzir uma teologia que

fosse voltada para dentro, provincial em vez de urbana, que falhava em se engajar na

disciplina comunitária e nas estruturas corporativas urbanas. Era previsível que a falta

de familiaridade de Lutero com as ideologias urbanas contemporâneas levasse à

formulação de uma teologia que fosse profunda e subjetiva, orientada na direção da

introspecção individual, tanto quanto desinteressada pela regeneração e disciplina

comunitárias. As teologias de Bucero e Zwínglio eram, em profundo contraste,

orientadas no sentido das realidades urbanas. Bucero e Zwínglio basearam suas

eclesiologias sobre a correlação histórica entre as comunidades urbana e eclesial,

enquanto Lutero era forçado a construir sua eclesiologia com base na noção abstrata

da graça, que ameaçava romper a unidade cívica".

No tópico "Genebra Antes de Calvino", observa-se que: "antes da Reforma,

Genebra era uma cidade governada por bispos estava em declínio. Sua prosperidade

havia sido decorrente de quatro feiras internacionais de negócios, que ocorriam

anualmente desde 1262 e que aconteciam no dia de Reis, na Páscoa, no dia de São

Pedro e no Dia de Todos os Santos. Elas atraíam um grande número de comerciantes

vindos dos vales do Reno e do Danúbio, do Norte da Itália, de Borgonha e da

Confederação Suíça. Essas feiras eram tão importantes que o banco dos Médici até

mesmo julgou que valia a pena abrir uma filial em Genebra. A situação mudou

drasticamente, porém, ao final da Guerra dos Cem Anos. Luís XI implantou feiras

exclusivas nas proximidades de Lion, escolhendo cuidadosamente suas datas, de

forma que coincidissem exatamente com as de seu único rival na região, Genebra. O

declínio logo se instalou; os Médici, sentindo o rumo que o vento tomava, transferiram

suas atividades de Genebra para Lion".


No tópico "A Chegada de Calvino em Genebra", vemos o próprio Calvino

dizendo que: "Ninguém lá sabia que eu era o seu autor. Aqui, como em todos os

lugares, eu não fiz qualquer menção a esse fato e intencionava continuar fazendo o

mesmo, até que finalmente Guilherme Farel me reteve em Genebra, não tanto por

conselho ou argumento, mas através de uma terrível maldição, como se Deus tivesse,

do céu, colocado sobre mim suas mãos, para me deter. Eu tinha a intenção de ir para

Estrasburgo; a melhor estrada para lá, porém, estava fechada pelos conflitos na

região. Eu decidi passar por Genebra rapidamente, não permanecendo mais do que

uma noite na cidade. Pouco antes, as doutrinas, práticas e rituais da Igreja Católica

haviam sido banidos de lá, pelo bom homem que eu mencionei e por Pierre Viret. A

situação, contudo, estava ainda longe de estar resolvida, havendo divisões e facções

sérias e perigosas, dentre os habitantes da cidade. Então alguém, que havia, de forma

perversa, se rebelado e se voltado para os papistas, descobriu que eu estava na

cidade e divulgou esse fato aos demais. Diante disso, Farel (que ardia, com grande

zelo, pela expansão do Evangelho) fez de tudo para me deter lá. E, após ter ouvido

que eu tinha uma série de estudos particulares, para os quais eu desejava me manter

livre, e descobrindo que ele não havia conseguido me convencer com seus pedidos,

ele soltou uma imprecação, dizendo que Deus poderia amaldiçoar o tempo livre e a

paz para estudar que eu buscava, se eu lhe virasse as costas e fosse embora,

recusando-me a lhes dar apoio e ajuda, em uma situação de tamanha necessidade.

Essas palavras me chocaram e causaram em mim tal impacto que desisti da viagem

que intencionava fazer. Porém, consciente da minha vergonha e timidez, eu não

queria ser forçado a desempenhar quaisquer funções específicas".

No tópico "O Exílio em Estrasburgo, de 1538 a 1541", vemos que: "Parte do

problema de Calvino, como ele mesmo veio a perceber, era o fato de ele haver sido

percebido como alguém inexperiente e sonhador, durante sua experiência em

Genebra. Mesmo que se recusasse terminantemente a aceitar que ele havia feito algo

que fosse errado enquanto esteve em Genebra, ele reconhecia claramente que certas

coisas poderiam e deveriam ter sido feitas de forma diferente. Sua crise pessoal

parece logo ter se solucionado. Em 20 de outubro Calvino escreveu a du Tillet,


declarando com segurança que ele não mais duvidava de sua vocação divina para ser

pastor: "o Senhor me deu razões mais seguras para me convencer de sua validade."

Parece que essa nova confiança em sua vocação pode ser atribuída à nova esfera de

ministério e atividade literária para a qual ele havia sido chamado - Estrasburgo".

No tópico "O Retorno a Genebra", vemos o relato de que: "Em 13 de setembro

daquele mesmo ano, Calvino entrou novamente em Genebra. O jovem inexperiente e

impetuoso que havia partido em 1538 era agora substituído por um talentoso e

experiente estrategista eclesiástico, atento às atitudes do mundo à sua volta. O

segundo período em Genebra iria assistir posteriormente a uma troca decisiva, a seu

favor, no equilíbrio de poder que havia na cidade. Porém, isso provou ser ainda parte

de um futuro um tanto distante. Um enganoso recomeço o aguardava, enquanto

Calvino se preparava para regressar".

No capítulo seis intitulado "Genebra: A Consolidação do Poder", nota-se que:

"Ao final da década de 1540, tornou-se cada vez mais óbvio que Calvino simplesmente

não possuía o status político necessário para alcançar seus objetivos. O Conselho

municipal tornou-se, gradualmente, hostil em relação a Calvino, à medida que os

"libertinos" (o grupo associado a Ami Perrin, por outro lado também conhecido como

os "perrinistas") ganhavam domínio. De fato, o conselho se portava como se fosse um

senhor Micawber às avessas, sempre procurando por alguma coisa para rejeitas".

No tópico "Calvino e a Administração de Genebra", é possível observar que:

"Portanto, foi negado a Calvino o acesso à estrutura de decisão da cidade. Ele não

podia votar e não podia concorrer a cargos públicos. De 1541 a 1559 seu status na

cidade era o de habitant. Diferentemente da posterior celebridade de Genebra, Jean-

Jacques Rousseau, Calvino nunca pôde enfeitar as páginas iniciais de suas obras

publicadas com as cobiçadas palavras citoyen de Genève. Em 25 de dezembro de

1559 seu nome foi, finalmente, anotado no Livre des bourgeois de l'ancienne

republique de Genève. Embora lhe tenha sido tardiamente concedido o status de

bourgeois, Calvino foi definitivamente excluído da possibilidade de se tornar um


cidadão da cidade que se tornou tão intimamente associada a seu nome. Sua

influência sobre Genebra foi exercida de forma indireta, através de pregações,

conferências e outras formas de persuasão legítima. A despeito de sua habilidade

para influenciar através de sua autoridade moral, ele não possuía qualquer jurisdição

civil, nenhum direito de coagir outros a agir de acordo com o que ele desejava. Calvino

podia e efetivamente incitava, seduzia e suplicava: ele não podia, contudo, ordenar".

No tópico "O Consistório", vemos que: "Se as Institutas da Religião Cristã

representam os músculos da Reforma de Calvino, sua organização eclesiástica

representa a espinha dorsal. As Ordenanças Eclesiásticas (1541), que deram à igreja

de Genebra sua forma e identidade características, foram elaboradas por Calvino

quase que imediatamente após seu retorno a Genebra, do período de seu exílio em

Estrasburgo. Convencido da necessidade de uma igreja disciplinada, bem organizada

e estruturada, ele procedeu à elaboração de diretrizes detalhadas, que disciplinavam

cada aspecto de sua existência. O estabelecimento de um aparato eclesiástico

adequado aos objetivos de Calvino deve ser considerado como um dos aspectos mais

significativos de seu ministério e fornece um peso adicional à hipótese que estabelece

um paralelo entre ele e Lênin; ambos eram admiravelmente conscientes da

importância das instituições para a propagação de suas respectivas revoluções e

prontamente organizaram aquilo que era necessário para tanto".

No tópico "O Episódio Serveto", vemos o seguinte relato: "O julgamento e a

execução de Miguel Serveto por heresia é responsável, mais do que qualquer outro

episódio, pela reputação posterior de Calvino. Não é inteiramente claro por que os

acadêmicos qualificaram a execução de Serveto como algo mais importante e

significativo do que as execuções em massa que se deram na Alemanha, após a

frustrada Guerra dos Camponeses (1525) e após o término do cerco de Munster

(1534), ou a cruel política de execução dos sacerdotes católicos, na Inglaterra, na

época da rainha Elizabeth. Mesmo muito tempo depois, em 1612, o governo inglês,

sob as ordens dos bispos de Londres e Lichfield, queimou em praça pública dois

indivíduos que defendiam ideias similares às de Serveto. Na França eram

empregadas políticas cruéis de execução semelhantes: trinta e nove indivíduos foram


condenados à fogueira, em Paris, por heresia, entre maio de 1547 e março de 1550".

No primeiro capítulo de sua obra, Mcgrath faz um apanhado geral da história pré-

reforma – dos eventos que a ajudaram a acontecer – e da vida enigmática de João

Calvino. Para começar, o autor trata um pouco dos eventos que culminaram na

reforma, sendo eles: o avanço na alfabetização de adultos (devido ao surgimento da

imprensa, a alfabetização de adultos tornou-se muito maior no século 16. Livros

foram publicados e o povo pode adquiri-los. Isso gerou uma espécie de avanço

humanista, no qual muitas crenças foram postas em cheque e houve grande avanço

de interesse por uma genuína fé cristã).

Outro fenômeno importante para desencadear a reforma foi o crescimento da

“religião pessoal”. O institucionalismo foi sendo “substituído” por uma geração de

intelectuais que surgira. Os ensinos escolásticos já não eram mais suficientes para

abarcar toda a fé cristã e defini-la, e a própria teologia deixou de ser instrumento

apenas da igreja. Tudo isso culminou em uma diminuição do poder clerical. Além

disso, os abusos da igreja católica propiciaram um ambiente hostil ao

institucionalismo católico. E já nessa época, em se tratando da Alemanha, surgiu

Lutero e sua indignação contra o tráfico de indulgências.

Um dos fatores que também colaborou para a Reforma foi o avanço do

anticlericalismo. Os párocos italianos já apresentavam bastante deficiência

intelectual. Muitos capelães e padres, no início do século 16, não dispunham de

preparo e investimento da igreja. Na França, houve tensões entre o alto clero – que

advinha da nobreza – e o povo rural. Isso gerou indignação por parte da população e

preparou um cenário propício à Reforma na França.

Um último fator importante para se destacar foi a crise de autoridade na igreja. O


crescimento das universidades na Europa colaborou para que mais pessoas

tivessem acesso ao ensino teológico (dentre as quais o próprio Lutero). Além disso,

uma revolta quase generalizada contra o Papa criou-se nas igrejas alemã e

francesa, o que facilitou o avanço reformado.

No final do primeiro capítulo, o autor expõe um pouco o indivíduo que será objeto de

estudo: João Calvino. Ao autor, sua vida pessoal é enigmática. Conforme escreve,

Calvino foi um líder proeminente, intelectual brilhante e de influência imensurável.

Sua personalidade era complexa e difícil, o que leva o leitor a ter de analisá-lo por

suas idéias. Escreve o autor: “O lugar de Calvino na história da humanidade

fundamenta-se, de forma predominante, em suas idéias.”1

Nos próximos três capítulos o autor trata da formação de Calvino. No segundo,

Mcgrath fala de Calvino em Paris, apontando para as incertezas quanto ao próprio

período em que Calvino viveu em Paris. Não há dados muito claros sobre isso, e até

mesmo histórias mal-contadas, mas sabe- basicamente, que em Paris Calvino teve

aulas de gramática latina, formou-se no Collège de Montaigu (um colégio de pouco

prestígio) estudou filosofia.

No segundo capítulo o autor também escreve que em Paris se propagaram algumas

correntes intelectuais. Era lá que havia uma espécie de centro escolástico, um

movimento inclusive bastante desprezado nas outras universidades do mundo.

A universidade de Paris, à época, resistiu a uma tendência moderna do curso de

filosofia, mantendo um currículo fortemente baseado em Aristóteles. Calvino foi

influenciado por isso, tendo rigorosa instrução lógica e dialética. Contudo, devido a

influências posteriores, Calvino espelhou bastante Agostinho em sua obra nos

seguintes quesitos: nominalismo epistemológico, entendimento voluntarista dos

fatores do mérito humano e de Jesus Cristo, amplo uso dos escritos de Agostinho,

uma perspectiva pessimista do pecado original, ênfase sobre Deus salvar o homem,

uma doutrina de dupla predestinação absoluta e uma rejeição dos méritos humanos

na salvação.

No terceiro capítulo o autor trata do tempo em Calvino em Orleans, onde o

reformador encontrou-se com o humanismo corrente da época.


Erasmo de Roterdã estudara em Orleans anos antes de Calvino, e sua influência foi

notória, afinal, o lugar era uma espécie de centro do humanismo.

O humanismo da época dizia respeito ao estudo de humanidades, que abrangiam

disciplinas como lógica, gramática e retórica. Como diz o próprio autor, “O estudo

clássico e a competência filosófica eram, simplesmente, as ferramentas usadas para

explorar os recursos da Antiguidade.”2 Destarte, o humanismo passava pela

formação clássica e uma maior ênfase no ser humano.

1 MCGRATH, Alister. A vida de João Calvino. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2004, p. 36.

IBID.p.71.

O humanismo foi um movimento heterogêneo. Assim, alguns humanistas eram

platônicos e outros aristotélicos. Alguns humanistas eram anti-religiosos (como é o

caso de Maquiavel), outros, religiosos (como Erasmo). Portanto, foi um movimento

multifacetado.

O humanismo – nascido no renascimento italiano – expandiu-se para a Europa, e

uma arma que o ajudou a crescer foi a imprensa. A revolução humanista utilizou-se

muito da imprensa. O próprio Erasmo o fez, e posteriormente Calvino. Mais uma vez,

citando o próprio autor, “O sucesso de Erasmo também acentuou a importância da

imprensa como um meio de disseminação de novas idéias radicais – um aspecto

que Calvino não ignorou quando, da sua vez de propagar tais idéias.”3

Calvino, chegado em Orleans provavelmente em 1528, estudou na academia

humanista, tento contato com o direito acadêmico da época (o que, com certeza, lhe

deu ferramentas para posteriormente sistematizar seu pensamento teológico) e

produzindo um comentário da obra de Sêneca (algo que, com certeza, não o faria

ser conhecido como um grande intelectual).

Agora, há uma transição evidente na vida de Calvino: dos estudos humanistas para

uma radical conversão e em seu papel como Reformador. No quarto capítulo, então,

o autor trabalha a conversão de Calvino à causa da Reforma e sua importância.

Não é certo como Calvino tenha se convertido. Pode ser que tenha tido acesso a
uma excelente biblioteca teológica em Angoulême e se convertido através da leitura

de clássicos cristãos. Por outro lado, pode ser que tenha tido contato com indivíduos

adeptos da Reforma Luterana e ouvido a pregação do evangelho em Angoulême.

De qualquer maneira, Calvino foi convertido e teve papel fundamental na Reforma

européia (principalmente em Genebra, mas também em Estrasbugo). E é disso que

trata o quinto capítulo, do primeiro período em Calvino em Genebra e sua ida para

Estrasburgo.

Genebra é, com toda a certeza, o lugar mais importante da vida de João Calvino. Foi

lá que ele realizou seu ministério e conseguiu implementar a reforma em que

acreditava.

3 MCGRATH, Alister. A vida de João Calvino. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2004, p. 73.

Antes de Calvino, Genebra era governada por bispos. Sua economia dependia de

feiras de negócios que aconteciam quatro vezes por ano. Os negócios eram

governados por um ducado e o sentimento religioso do povo era de declínio.

Calvino – que estava em Estrasburgo – foi confrontado por Guilherme Farel para ir à

Genebra, e o fez em 1536. Suas primeiras semanas no lugar não foram agitadas,

mas logo foi convidado para definir os pontos da Reforma e atuar como um dos

debatedores em favor do movimento evangélico contra representantes católicos em

Genebra, debate esse ocorrido em outubro de 1536. Calvino foi muito bem-sucedido

e logo se tornou uma figura conhecida em Genebra. Contudo, devido a uma

controvérsia e de medidas impopulares quanto ao culto e a obrigatoriedade de ser

evangélico, Farel e Calvino foram expulsos de Genebra, de modo que seu primeiro

período na cidade foi quase infrutífero. Assim, Calvino ficou exilado em Estrasburgo

de 1538 a 1541, onde editou seu Magnus opus “As Institutas”, pastoreou e participou

da vida política da cidade. Mais tarde, em 1541, ao voltar para Genebra, Calvino já

era um pastor maduro e experiente.

No capítulo seis, Macgrath fala do segundo período em que Calvino esteve em

Genebra. E neste sim o reformador foi muito influente e teve um ministério

absolutamente bem-sucedido, mas também muitas dificuldades.


No capítulo seis, o autor fala do segundo período da vida em Calvino em Genebra.

Contudo, o autor não fica apenas nos lugares comuns que geralmente são tratados

neste assunto, mas fala das dificuldades de Calvino e de sua influência geral.

Primeiro, Mcgrath desfaz a ideia de que Calvino tenha sido um ditador teocrático em

Genebra. Segundo afirma, ele nem mesmo poderia fazê-lo, pois sua influência

limitava-se basicamente ao pastorado, afinal, Calvino não era um cidadão genebrino

com plenos direitos.

A própria geografia de Genebra não era propícia para que houvesse uma ditadura.

Na verdade, a cidade era governada por um corte, e Calvino, a princípio, não fazia

parte dela. A cidade tinha três tipos de cidadãos: os cidadãos propriamente ditos, o

corpo diretivo – chamado de Petit Conseil -, que era composto por cidadãos que

ajudavam nas decisões políticas, e os bourgeois, que tinham direito de eleger

oficiais. Destarte, Calvino não tinha poder para tomar decisões políticas.

Na verdade, havia o Consistório, que foi responsável inclusive por aplicar a pena de

excomunhão. Esse conselho dispunha de autoridade civil, inclusive para aplicar a

pena máxima. Aliás, foi justamente gozando desses direitos que o conselho ordenou

a morte de Serveto por heresia. Neste episódio, Calvino costuma ser injustamente

atacado como mandante da morte de Serveto por heresia, sendo que na verdade ele

apenas atuou como consultor e não tinha poder para expedir sentença – apesar de

sim, ter participado do processo ainda que indiretamente -.

O autor termina o capítulo falando do motivo do sucesso de Calvino, comparando-o

a outro reformador de época chamado Vadian, pertencente à cidade de St Gallen.

Conforme explica, Calvino é muito mais conhecido e exerceu muito mais influência

por alguns motivos principais: as visões dos reformadores sobre o que era a

Reforma eram diferentes, e a visão de Calvino implicava uma mudança não apenas

ética ou moral, mas eminentemente religiosa e social; as publicações de Vadian

tinham cunho humanista, enquanto que as de Calvino tinham caráter totalmente

religioso; o público-alvo de Calvino eram os franceses e suas publicações

alcançaram muito mais pessoas do que as obras de Vadian; Calvino teve contato

com grandes editores da Basiléia e Estrasburgo, enquanto que Vadian não teve
acesso a isso; Vadian costumava se referir à igreja e sociedade como o mesmo

público, enquanto Calvino distinguia os grupos, defendendo a disciplina na igreja; as

obras de Vadian foram publicadas em alemão e lidas por um grupo restrito de

pessoas, já as de Calvino, além de mais fundamentadas, foram lidas por todos os

intelectuais influentes da época. E por esses motivos principais, Calvino foi muito

mais influente do que o reformador d e St Gallen.

A obra de Alister Mcgrath é muito importante àqueles que buscam saber os

acontecimentos históricos e escolas de pensamentos que permearam a vida de

Calvino. Indo desde sua influência humanista até sua conversão e influência

religiosa, o autor demonstra os motivos pelos quais Calvino foi o grande

sistematizador e intelectual da reforma genebrina. É uma obra fundamental.

Os crentes não oram com a intenção de informar a Deus a respeito das


coisas que ele desconhece, ou para incitá-lo a cumprir o seu dever, ou para
apressá-lo, com se ele fosse relutante. Pelo contrário, eles oram para que
assim possam despertar-se e buscá-lo, e assim e xerc ite m s ua fé na med
itação da s s uas pro mess as, e a livie m s ua a ns iedade s, de ixa ndo- as na
s mão de le; numa pa la vra, ora m co m o fi m de dec larar q ue s ua espe ra
nça e expec tativa das co isas bo as, para e les mes mo s e para o s o utro s,
est á só ne le ” [Jo hn Calvin, Co mme ntar y o n a Har mo ny o f t he Eva
nge list s, Mat tew, Mark, a nd Luke, Gra nd Rap ids, M ic higa n, Baker
Boo h Ho use, 1981 (re imp resso ), p. 314]

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