Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
O autor Mcgrath inicia sua obra com a menção de que no século 16, Calvino provou ser uma
figura de extrema influência na história da Europa, mudando a perspectiva de indivíduos e
instituições, no início da era moderna, à medida que a civilização ocidental começou a assumir
sua forma característica. Falar de Calvino é falar de Genebra. Ao mesmo tempo em que a frase
“A Genebra de Calvino” é carregada de implicações potencialmente enganosas, resultando,
talvez, em interpretações incorretas acerca do status e do âmbito de liberdade de ação de que
Calvino gozava em Genebra, ela é útil pelo fato de destacar a íntima interação que havia entre
o homem e a cidade. O impacto de Calvino sobre a fama e o destino de Genebra, até mesmo a
ponto de criar uma mitologia em torno daquela cidade. O movimento genebrino se tornou
internacional e ameaçou rompeu ou desestabilizou a ordem reinante na Europa ocidental e
que, posteriormente, pareceu propício à criação de uma ordem social radicalmente nova na
América do Norte. As ideias provenientes de Genebra comprovadamente exerceram um
estranho fascínio sobre gerações de europeus e ainda mantêm alguma influência atualmente.
No tópico "A Pressão Pela Reforma", os fatores não eram somente religiosos, mas envolviam,
também, questões sociais, políticas e econômicas. Para que se possa entender a Reforma e,
especialmente, o papel crucial que João Calvino desempenhou neste drama.
No tópico "O fenômeno da religião pessoal", o autor de que: Um dos mais sutis e significativos
avanços na compreensão do significado do Cristianismo passou a ocorrer à medida que uma
religião que crescera habituada a se expressar e a se definir por meio de formas”.
Deve-se ressaltar que as origens destes movimentos nada devem a Lutero. Enquanto Lutero
era ainda um monge desconhecido que lecionava, de forma pacata, para pequenas audiências,
em uma das mais insignificantes universidades da Europa, os grandes e famosos respiravam,
novamente, a brisa fresca do Novo Testamento. Uma ênfase inédita e difundida acerca da
religião, incorporada a uma forma pessoal e a um novo interesse nos escritos de Paulo e
Agostinho, parece ser característica de muitos grupos e indivíduos influentes nas primeiras
duas décadas do século 16. Tamanha era a aversão posteriormente relacionada ao nome de
Martinho Lutero, que semelhanças entre as ideias destes grupos e indivíduos e as ideias de
Lutero vieram a ser tratadas como evidência de heresia, por parte dos primeiros, em lugar de
serem consideradas ortodoxas, por Lutero. Lefebvre, em Paris, Guilherme Briçonnet, em
Meaux e os alumbrados (um grupo de escritores místicos), na Espanha, somente se tornaram
suspeitos de heresia quando as idéias de Lutero tornaram-se conhecidas. Ainda que a
contribuição de Lutero para a Reforma seja avaliada de forma positiva, deve-se admitir que ela
teve, de um modo geral, o efeito negativo de fazer com que perspectivas católicas e ortodoxas
autênticas, potencialmente hábeis a injetar vitalidade em uma Igreja exaurida, fossem
consideradas heréticas.
Na diocese de Rouen havia um clamor público acerca dos lucros excepcionais que a
Igreja obtinha com a venda de grãos em um período de grande escassez. A imunidade do clero
em relação ao processo, nas cortes civis, também separou o clero do povo. Na França, as crises
de subsistência da década de 1520 tiveram um papel importante na consolidação das atitudes
anticlericais. Em seu aclamado estudo de Languedoc, Ladurie sustentou que, na década de
1520, verificou-se uma reversão do processo de expansão e recuperação, que havia sido típico
de duas gerações, desde o fim da Guerra dos Cem Anos.19 Dali em diante, a crise começou a
se agravar, manifestando-se através da peste, da fome e do êxodo rural para as cidades, na
busca por alimento e emprego.
No tópico "A crise de autoridade na igreja" ao final do período da Idade Média, que muito fez,
a princípio, para promover o surgimento da Reforma e, posteriormente, para inibir medidas
efetivas em oposição a esta. Na Alemanha. De crucial importância, para Lutero, era a doutrina
da justificação – que trabalha a questão da maneira como o indivíduo entra em
relacionamento com Deus. Para Lutero parecia que a Igreja de sua época havia aderido ao
Pelagianismo, um entendimento inaceitável a respeito de como um indivíduo entrava em
relacionamento com Deus. A Igreja, segundo acreditava Lutero, ensinava que as pessoas
poderiam alcançar o favor e a aceitação diante de Deus com base em suas obras e seu status, o
que negava, portanto, todo o conceito da graça. Lutero pode, perfeitamente, ter se enganado
quanto ao seu entendimento – porém, havia tamanha confusão na Igreja, em sua época. à
Reforma, no que tange a João Calvino, era a crescente incapacidade da Igreja em impor a
ortodoxia. Na Alemanha, a complexa rede de sínodos provinciais e diocesanos – encarregados
de identificar e suprimir a heresia – não conseguiu fazê-lo e, muito menos, tomar alguma
medida decisiva no período durante o qual a tese de Lutero estava começando a atrair
atenção. A tentativa das autoridades francesas de suprimir os valdenses (Vaudois), na
primavera de 1487, não foi propriamente um sucesso, apenas dispersando este grupo, tido
como herege, em lugar de eliminá-lo.
Cauvin nasceu, em 10 de julho de 1509. Jehan Cauvin é conhecido pela versão latina de seu
nome – Johannes Calvinus – João Calvino. De sua infância, praticamente nada sabemos com
um certo grau de certeza, apesar do empenho de seus primeiros biógrafos do século 17, os
quais vasculharam a catedral de Noyon e os registros da época em busca de alguma menção
ao seu nome, além de entrevistarem habitantes locais na esperança de que estes se
recordassem de algo, dentre as brumas de um passado distante, a respeito do filho de Gerard
Cauvin. O genuíno conteúdo histórico destas memórias acrescenta, provavelmente, pouco
mais do que se refere a sua personalidade.
No tópico "A gênese de um enigma", diz o autor: "Sugerir queCalvino representa algo como
um enigma histórico pode, à primeira vista, parecer absurdo. Não sabemos mais a seu respeito
do que sobre várias outras figuras do século 16? Antes de iniciar a análise histórica e a
reconstituição da incrível carreira de Calvino, porém, é relevante atentarmos para o fato de
que sabemos muito menos sobre ele, particularmente sobre seu período inicial, do que
gostaríamos de saber. Seu maior legado para a civilização ocidental foram suas ideias e as
formas literárias com que elas foram expostas. Na verdade, mais de um historiador sugeriu a
existência de paralelos entre Calvino e Lênin, alegando que os dois possuíam um grau
extraordinário de visão teórica e aptidão organizacional. Ambos forneceram fundamentos
teóricos para movimentos revolucionários, os quais dependeram justamente de tais
fundamentos para sua organização, direção e posterior sucesso.
O próprio Calvino, porém, como figura humana, de carne e osso, por detrás dessas ideias,
permanece vago. As razões para isso não são difíceis de se entender, sendo, talvez, melhor
compreendidas pela comparação de Calvino com o grande Reformador saxão, Martinho
Lutero". Que tem inicio de sua carreira como reformador ao apregoar suas 95 teses em 31 de
outubro de 1517.
No Capítulo 2 "Paris: A formação de uma mente"
O autor menciona que: "Paris é curiosamente modesta sobre sua conexão com
Calvino, talvez refletindo um certo grau de ambivalência a respeito dos méritos de seu impacto
sobre a história da França. Dentre os poucos reconhecimentos tangíveis dessa conexão está
uma inscrição na fachada da Bibliothèque Sainte-Geneviève, em frente ao Panthèon. Lá,
registrado entre uma lista de célebres figuras intelectuais e culturais, que inclui Erasmo e
Rabelais, pode ser encontrado o nome do Reformador francês.
Ele foi fortemente influenciado por estudos na área da lógica e dialética. Calvino teve
aulas de gramática latina com Marthurin Cordier. Ele, então, filiou-se, formalmente, ao Collège
de Montaigu, onde estudou humanidades, provavelmente com a intenção de estudar teologia,
após a conclusão de seu curso.
Sobre esta escola o autor menciona que: “Erasmo foi forçado a se inscrever nesse
collegium pauperum, que trazia consigo obrigações de auxiliar nas tarefas domésticas. Ele
relembra suas impressões do lugar e de suas personalidades em seu Colloquies. Montaigu
revela-se como um lugar infestado de piolhos, decrépito e brutal, cheirando a latrinas abertas
e povoado por tiranos. 21 Primeiro personagem: De qual prisão ou caverna você vem?
Segundo: Do Collège de Montaigu. Primeiro: Então, eu presumo que você está repleto de
sabedoria. Segundo: Não, apenas de piolhos”.
McGrath afirma que Calvino viveu uma condição diferente neste colégio: “Calvino teve
um tempo bem melhor em Montaigu. Os estudantes eram divididos em cinco categorias:
boursiers, aos quais eram fornecidos alojamentos; portionnistes, que pagavam por alojamento
e refeição; caméristes, que alugavam seus quartos e pagavam por seu sustento; martinets, que
moravam em casas e pagavam apenas pelas aulas e pauvres, que garantiam sua subsistência
por meio de serviços domésticos e assistiam as aulas que podiam. Enquanto Erasmo estava
entre les pauvres, Calvino parece ter estado entre les riches, mais especificamente um
camériste, vivendo fora da faculdade, em quartos”.
"O Collège de Montaigu" observa-se que: “foi fundado no início do século 14 pelo
filantropo arcebispo de Rouen, que foi poupado do desgosto de testemunhar seu dramático
declínio, durante o século 15. A reversão desse processo de deterioração, nos últimos anos do
século, deve ser creditada quase que inteiramente à enorme energia e dedicação de uma
única figura, Jan Standonck. Standonck havia estudado sob a orientação dos Irmãos da Vida
Comum, um movimento monástico concentrado nos Países Baixos que apresentava a vocação
particular para a reforma da vida monástica como fim e sólidos métodos educacionais como
meio para alcançar aquele objetivo.
Quanto a formação nesta academia o autor faz menção do que escreveu Beza em sua
biografia sobre o reformador: “Ela era formada por quatro faculdades: teologia, direito,
medicina e humanidades. Um estudante era obrigado a se formar antes que a ele fosse
permitido cursar matérias das três primeiras faculdades, que eram chamadas de “superior”.
Um estudante que fosse membro de uma ordem religiosa seria obrigado a ter aulas nesta
ordem devido a uma centenária hostilidade entre a universidade e as ordens religiosas: a
universidade estava determinada a evitar ser inundada por frades mendicantes. Outros
estudantes, como Calvino, poderiam começar o curso de humanidades tão logo eles fossem
capazes de ler, escrever e lidar com o latim, a língua na qual eles seriam ensinados e fariam
seus exames.
Em sua segunda biografia de Calvino (1575), Beza afirma que Calvino dominava tão
bem o latim que foi capaz de mudar para o curso de humanidades antes do previsto
Agostinho coloca tanta ênfase sobre a “graça” que ele é, freqüentemente, designado
como doctor gratie, “o doutor da graça”. A “graça” é o imerecido ou injustificável dom de Deus
através do qual ele, voluntariamente, rompe as amarras do pecado sobre a humanidade. A
redenção somente é possível como um presente de Deus. Não é algo que possamos alcançar
por nós mesmos, mas que tem que ser feito por nós. Agostinho, portanto, enfatiza que os
recursos para salvação encontram-se fora da humanidade, no próprio Deus. É Deus que inicia
o processo de salvação, e não os homens ou as mulheres.
Niethammer estava alarmado com o crescente foco sobre as ciências naturais e a tecnologia
na educação secundária alemã e acreditava que as consequências potencialmente
desumanizadoras dessa ênfase apenas poderiam ser reduzidas através de um estudo mais
aprofundado das ciências humanas.
preocupação comum e implícita com a eloquência. Se existe algum tema comum nos
o grego e o latim clássicos servindo como modelos e fontes para esse ambicioso
programa estético".
que comprove este fato. No ano seguinte ele foi atraído a Bourges em razão da
cidade, o notável jurista Andréa Alciati. Como parte de uma série de reformas impostas
Alciati foi seduzido a deixar Avignon em razão de um atrativo acordo financeiro. Após
No tópico "O comentário de Sêneca", o autor diz que: "O tratado particular que
Calvino escolheu expor havia sido incluído por Erasmo de Rotterdam em sua edição
de Sêneca, em 1515. Naquela época, Erasmo estava preocupado com sua obra sobre
Jerônimo e o Novo Testamento e não é improvável que ele possa ter dedicado menos
tempo e atenção a Sêneca, do que a obra o exigia; insatisfeito com seus esforços, ele
publicou uma edição melhorada, em janeiro de 1529. Foi essa segunda edição que
convida qualquer pessoa, com maior capacidade e tempo livre que ele, a melhorar
sua obra; era um claro convite à derrota. Talvez seja uma indicação de sua
No tópico "Paris em 1533" vemos que: "O período de 1528 a 1535 foi repleto
notório crítico da faculdade, foi indicado para o cargo de bispo de Paris. Uma certa
As relações entre o rei e a faculdade também eram tensas. A faculdade havia sido
suas pregações durante a quaresma, em 1533. Não demorou para que outros
No tópico "O discurso do Dia de Todos os Santos", o autor nos mostra que:
ao período em que Calvino viveu em Paris, afirmar que esse discurso foi feito na "igreja
usavam amarrada em volta de suas cinturas (isso ficou claro em uma carta de
Roderigo Manrique para Luis Vives, datada de 9 de dezembro de 1533; isso também
explica uma questão que, de outra forma, seria confusa - porque foram os cordeliers
autor discorre sobre: "O termo "conversão" era, então, bastante carregado de nuances
Como alguém que desprezava o culto à personalidade, Calvino fornece poucas pistas
de sua própria evolução religiosa. Há apenas uma passagem nos seus escritos que
pode, de forma realista, ser tomada como um relato fidedigno de sua decisão em
romper com seu passado: o prefácio de seu Comentário sobre os Salmos (1557). Ao
descrever esse rompimento com a Igreja medieval como uma "súbita conversão",
descrever como se desenvolveu seu chamado para ser um Reformador, ele afirma
ato de Deus poderia libertá-lo dessa situação. Ele era um conservador, incapaz de se
sua situação como a de alguém que está aprisionado em seus próprios caminhos,
incapaz e, talvez, até mesmo relutante em se libertar. Uma intervenção externa era
necessária para que ele algum dia pudesse se libertar da matriz da religião
compara a maneira como Deus lida com ele, nessa fase, a um cavaleiro que dirige
seu cavalo por meio das rédeas. "Por fim, Deus mudou minha trajetória para uma
direção diferente, pelo freio secreto (frenum) de sua providência... Por uma súbita
conversão à docilidade, ele domou uma mente bastante intransigente pelos seus
anos".
de Calvino é falar de Genebra. Calvino iria influenciar e ser influenciado por Genebra.
A relação desse homem com sua cidade adotiva é uma das mais simbióticas da
relação, que ele muitas vezes considerava embaraçosa: com bastante frequência ele
municipal de Genebra à sua pessoa. Embora seu primeiro período de ministério nessa
cidade tenha sido curto e, de muitas maneiras, desastroso, seu retorno posterior, de
Calvino. Não que ela seja totalmente ignorada, mas pelo fato de ser, por outro lado,
tratada de uma forma muito parecida com a que as biografias eduardianas, sobre os
tema. Genebra não pode ser tratada dessa forma. Para entender Calvino como um
história é necessário estar em consonância com a cidade que deu origem e modificou
tanto do seu pensamento. Certas ideias de Calvino parecem ter sido desenvolvidas
tendo em vista a situação de Genebra. Se este capítulo parece surgir que Genebra
seja, transitoriamente, mais importante do que Calvino, isso é feito, em parte, para
corrigir uma incongruência fatal que ocorre em muitas das biografias existentes sobre
Calvino".
No tópico "A Reforma Como um Fenômeno Urbano", o autor nos mostra que:
"várias teorias têm sido desenvolvidas para explicar esse fenômeno. Berndt Moeller
15, pela progressiva tensão social nas cidades e pela crescente tendência de
ou a cúria papal. Pela adoção da Reforma de Lutero, sugeriu Moeller, tais cidades
de uma comunidade com uma religião comum, que unia os habitantes em torno de
das grandes cidades, Lutero dificilmente poderia evitar produzir uma teologia que
fosse voltada para dentro, provincial em vez de urbana, que falhava em se engajar na
disciplina comunitária e nas estruturas corporativas urbanas. Era previsível que a falta
enquanto Lutero era forçado a construir sua eclesiologia com base na noção abstrata
Genebra era uma cidade governada por bispos estava em declínio. Sua prosperidade
anualmente desde 1262 e que aconteciam no dia de Reis, na Páscoa, no dia de São
Confederação Suíça. Essas feiras eram tão importantes que o banco dos Médici até
mesmo julgou que valia a pena abrir uma filial em Genebra. A situação mudou
drasticamente, porém, ao final da Guerra dos Cem Anos. Luís XI implantou feiras
forma que coincidissem exatamente com as de seu único rival na região, Genebra. O
declínio logo se instalou; os Médici, sentindo o rumo que o vento tomava, transferiram
dizendo que: "Ninguém lá sabia que eu era o seu autor. Aqui, como em todos os
lugares, eu não fiz qualquer menção a esse fato e intencionava continuar fazendo o
mesmo, até que finalmente Guilherme Farel me reteve em Genebra, não tanto por
conselho ou argumento, mas através de uma terrível maldição, como se Deus tivesse,
do céu, colocado sobre mim suas mãos, para me deter. Eu tinha a intenção de ir para
Estrasburgo; a melhor estrada para lá, porém, estava fechada pelos conflitos na
região. Eu decidi passar por Genebra rapidamente, não permanecendo mais do que
uma noite na cidade. Pouco antes, as doutrinas, práticas e rituais da Igreja Católica
haviam sido banidos de lá, pelo bom homem que eu mencionei e por Pierre Viret. A
situação, contudo, estava ainda longe de estar resolvida, havendo divisões e facções
sérias e perigosas, dentre os habitantes da cidade. Então alguém, que havia, de forma
cidade e divulgou esse fato aos demais. Diante disso, Farel (que ardia, com grande
zelo, pela expansão do Evangelho) fez de tudo para me deter lá. E, após ter ouvido
que eu tinha uma série de estudos particulares, para os quais eu desejava me manter
livre, e descobrindo que ele não havia conseguido me convencer com seus pedidos,
ele soltou uma imprecação, dizendo que Deus poderia amaldiçoar o tempo livre e a
paz para estudar que eu buscava, se eu lhe virasse as costas e fosse embora,
Essas palavras me chocaram e causaram em mim tal impacto que desisti da viagem
problema de Calvino, como ele mesmo veio a perceber, era o fato de ele haver sido
Genebra. Mesmo que se recusasse terminantemente a aceitar que ele havia feito algo
que fosse errado enquanto esteve em Genebra, ele reconhecia claramente que certas
coisas poderiam e deveriam ter sido feitas de forma diferente. Sua crise pessoal
pastor: "o Senhor me deu razões mais seguras para me convencer de sua validade."
Parece que essa nova confiança em sua vocação pode ser atribuída à nova esfera de
ministério e atividade literária para a qual ele havia sido chamado - Estrasburgo".
impetuoso que havia partido em 1538 era agora substituído por um talentoso e
segundo período em Genebra iria assistir posteriormente a uma troca decisiva, a seu
favor, no equilíbrio de poder que havia na cidade. Porém, isso provou ser ainda parte
"Ao final da década de 1540, tornou-se cada vez mais óbvio que Calvino simplesmente
não possuía o status político necessário para alcançar seus objetivos. O Conselho
"libertinos" (o grupo associado a Ami Perrin, por outro lado também conhecido como
senhor Micawber às avessas, sempre procurando por alguma coisa para rejeitas".
"Portanto, foi negado a Calvino o acesso à estrutura de decisão da cidade. Ele não
podia votar e não podia concorrer a cargos públicos. De 1541 a 1559 seu status na
Jacques Rousseau, Calvino nunca pôde enfeitar as páginas iniciais de suas obras
1559 seu nome foi, finalmente, anotado no Livre des bourgeois de l'ancienne
para influenciar através de sua autoridade moral, ele não possuía qualquer jurisdição
civil, nenhum direito de coagir outros a agir de acordo com o que ele desejava. Calvino
podia e efetivamente incitava, seduzia e suplicava: ele não podia, contudo, ordenar".
quase que imediatamente após seu retorno a Genebra, do período de seu exílio em
adequado aos objetivos de Calvino deve ser considerado como um dos aspectos mais
execução de Miguel Serveto por heresia é responsável, mais do que qualquer outro
episódio, pela reputação posterior de Calvino. Não é inteiramente claro por que os
época da rainha Elizabeth. Mesmo muito tempo depois, em 1612, o governo inglês,
sob as ordens dos bispos de Londres e Lichfield, queimou em praça pública dois
No primeiro capítulo de sua obra, Mcgrath faz um apanhado geral da história pré-
Calvino. Para começar, o autor trata um pouco dos eventos que culminaram na
foram publicados e o povo pode adquiri-los. Isso gerou uma espécie de avanço
humanista, no qual muitas crenças foram postas em cheque e houve grande avanço
intelectuais que surgira. Os ensinos escolásticos já não eram mais suficientes para
apenas da igreja. Tudo isso culminou em uma diminuição do poder clerical. Além
preparo e investimento da igreja. Na França, houve tensões entre o alto clero – que
advinha da nobreza – e o povo rural. Isso gerou indignação por parte da população e
tivessem acesso ao ensino teológico (dentre as quais o próprio Lutero). Além disso,
uma revolta quase generalizada contra o Papa criou-se nas igrejas alemã e
No final do primeiro capítulo, o autor expõe um pouco o indivíduo que será objeto de
estudo: João Calvino. Ao autor, sua vida pessoal é enigmática. Conforme escreve,
Sua personalidade era complexa e difícil, o que leva o leitor a ter de analisá-lo por
período em que Calvino viveu em Paris. Não há dados muito claros sobre isso, e até
mesmo histórias mal-contadas, mas sabe- basicamente, que em Paris Calvino teve
influenciado por isso, tendo rigorosa instrução lógica e dialética. Contudo, devido a
fatores do mérito humano e de Jesus Cristo, amplo uso dos escritos de Agostinho,
uma perspectiva pessimista do pecado original, ênfase sobre Deus salvar o homem,
uma doutrina de dupla predestinação absoluta e uma rejeição dos méritos humanos
na salvação.
disciplinas como lógica, gramática e retórica. Como diz o próprio autor, “O estudo
1 MCGRATH, Alister. A vida de João Calvino. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2004, p. 36.
IBID.p.71.
multifacetado.
uma arma que o ajudou a crescer foi a imprensa. A revolução humanista utilizou-se
muito da imprensa. O próprio Erasmo o fez, e posteriormente Calvino. Mais uma vez,
que Calvino não ignorou quando, da sua vez de propagar tais idéias.”3
humanista, tento contato com o direito acadêmico da época (o que, com certeza, lhe
produzindo um comentário da obra de Sêneca (algo que, com certeza, não o faria
Agora, há uma transição evidente na vida de Calvino: dos estudos humanistas para
uma radical conversão e em seu papel como Reformador. No quarto capítulo, então,
Não é certo como Calvino tenha se convertido. Pode ser que tenha tido acesso a
uma excelente biblioteca teológica em Angoulême e se convertido através da leitura
de clássicos cristãos. Por outro lado, pode ser que tenha tido contato com indivíduos
trata o quinto capítulo, do primeiro período em Calvino em Genebra e sua ida para
Estrasburgo.
Genebra é, com toda a certeza, o lugar mais importante da vida de João Calvino. Foi
acreditava.
3 MCGRATH, Alister. A vida de João Calvino. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2004, p. 73.
Antes de Calvino, Genebra era governada por bispos. Sua economia dependia de
feiras de negócios que aconteciam quatro vezes por ano. Os negócios eram
Calvino – que estava em Estrasburgo – foi confrontado por Guilherme Farel para ir à
Genebra, e o fez em 1536. Suas primeiras semanas no lugar não foram agitadas,
mas logo foi convidado para definir os pontos da Reforma e atuar como um dos
Genebra, debate esse ocorrido em outubro de 1536. Calvino foi muito bem-sucedido
evangélico, Farel e Calvino foram expulsos de Genebra, de modo que seu primeiro
período na cidade foi quase infrutífero. Assim, Calvino ficou exilado em Estrasburgo
de 1538 a 1541, onde editou seu Magnus opus “As Institutas”, pastoreou e participou
da vida política da cidade. Mais tarde, em 1541, ao voltar para Genebra, Calvino já
Contudo, o autor não fica apenas nos lugares comuns que geralmente são tratados
neste assunto, mas fala das dificuldades de Calvino e de sua influência geral.
Primeiro, Mcgrath desfaz a ideia de que Calvino tenha sido um ditador teocrático em
Genebra. Segundo afirma, ele nem mesmo poderia fazê-lo, pois sua influência
A própria geografia de Genebra não era propícia para que houvesse uma ditadura.
Na verdade, a cidade era governada por um corte, e Calvino, a princípio, não fazia
parte dela. A cidade tinha três tipos de cidadãos: os cidadãos propriamente ditos, o
corpo diretivo – chamado de Petit Conseil -, que era composto por cidadãos que
oficiais. Destarte, Calvino não tinha poder para tomar decisões políticas.
Na verdade, havia o Consistório, que foi responsável inclusive por aplicar a pena de
pena máxima. Aliás, foi justamente gozando desses direitos que o conselho ordenou
a morte de Serveto por heresia. Neste episódio, Calvino costuma ser injustamente
atacado como mandante da morte de Serveto por heresia, sendo que na verdade ele
apenas atuou como consultor e não tinha poder para expedir sentença – apesar de
Conforme explica, Calvino é muito mais conhecido e exerceu muito mais influência
por alguns motivos principais: as visões dos reformadores sobre o que era a
Reforma eram diferentes, e a visão de Calvino implicava uma mudança não apenas
alcançaram muito mais pessoas do que as obras de Vadian; Calvino teve contato
com grandes editores da Basiléia e Estrasburgo, enquanto que Vadian não teve
acesso a isso; Vadian costumava se referir à igreja e sociedade como o mesmo
intelectuais influentes da época. E por esses motivos principais, Calvino foi muito
Calvino. Indo desde sua influência humanista até sua conversão e influência