Você está na página 1de 11

OVERNO DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE

SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO E DA CULTURA


3ª DIRETORIA REGIONAL DE EDUCAÇÃO E CULTURA- DIREC
ESCOLA ESTADUAL EDMUNDO NEVES DO NASCIMENTO
Componente curricular: FILOSOFIA
Professor: Milton Melé
2ª SÉRIE

TEMA: IDADE MODERNA


AULA 1 - A REVALORIZAÇÃO DO SER HUMANO E DA NATUREZA

O período que se convencionou chamar IDADE MODERNA vai de meados do


século XV ao século XVIII. Ocorria, então, uma série de transformações nas sociedades
europeias, boa parte delas ligadas a processos iniciados durante a Baixa Idade Média.
No plano socioeconômico, processava-se a passagem do feudalismo para o
capitalismo, passagem essa relacionada com o florescimento do comércio, o estabelecimento
das grandes rotas comerciais, o predomínio do capital comercial e a emergência da
burguesia, no final do período anterior.
Paralelamente, ocorria a centralização do poder político nas mãos dos reis e
formavam-se os primeiros Estados nacionais modernos, como Portugal, Espanha, Inglaterra
e França. Nesse cenário, desenvolviam-se: o absolutismo, como doutrina e forma de poder
político; o mercantilismo, como conjunto de doutrinas e práticas econômicas; as grandes
navegações e a expansão comercial -marítima que deram origem à descoberta do Novo
Mundo e ao processo de colonização das Américas.
As mudanças também chegavam ao âmbito religioso, no qual a Reforma protestante,
ultrapassando as fronteiras de uma mera reforma ou ajuste, provocava a quebra da unidade
religiosa europeia. Incorporando a nova mentalidade em ascensão - marcada pelo
humanismo -, o movimento reformador rompia com a concepção passiva do ser humano,
entregue unicamente aos desígnios divinos, ao reconhecer o trabalho como fonte legítima da
riqueza e da felicidade. Além disso, concebia a razão humana como extensão do poder
divino, o que colocava o indivíduo em condições de pensar, pelo menos até certo ponto, com
mais liberdade e de responsabilizar-se por seus atos de forma mais autônoma.
Paralelamente, com a criação de novos métodos de investigação científica,
desenvolvia-se a ciência natural, impulsionada pela confiança nas possibilidades da razão,
que questionava os princípios da ciência escolástica e os dogmas do cristianismo. Nesse
cenário, a Igreja Católica perdia cada vez mais seu poder de influência sobre os Estados e de
dominação sobre o pensamento.
Por sua vez, a invenção da imprensa dava suporte a esses processos, pois
possibilitava o acesso de um número maior de leitores aos clássicos gregos e romanos,
favorecendo assim o desenvolvimento do humanismo. De modo semelhante, as obras
científicas, filosóficas e artísticas surgidas, até então, também atingiam um número cada vez
maior de pessoas, o que incidiu sobre o grau de consciência e de liberdade de expressão.
Todos esses acontecimentos contribuíam para modificar, em várias regiões, o modo de
ser, viver e perceber a realidade de grande número de europeus, o que se expressava em suas
artes, ciências e filosofias. Desse modo, a visão teocêntrica [que tem Deus como centro] que
havia predominado até então, passou a ser substituída por uma tendência antropocêntrica [que
tem o ser humano como centro], de valorização da obra e da compreensão humana.
É nesse contexto que ocorre o desenvolvimento do racionalismo e de uma filosofia
laica [não religiosa], que se mostrariam, de modo geral, mais otimistas em relação à
capacidade da razão de intervir no mundo, organizar a sociedade e aperfeiçoar a vida
humana.

AULA 2 - HUMANISMO

O termo “humanismo” é recente e, ao que apontam os pesquisadores, foi usado pela


primeira vez por F. I. Nietnammer para indicar a área cultural coberta pelos estudos clássicos
e pelo espírito que lhe é próprio, em contradição com a área coberta pelas disciplinas
científicas.
Entretanto, o termo “humanista” (e seus equivalentes nas várias línguas) nasceu por
volta de meados do século XV, reforçado nos termos “legista”, “jurista”, “canonista” e
“artista”, para indicar os professores e cultores de gramática, retórica, poesia, história e
filosofia moral. Além disso, já no século XIV, falava-se de “estudos da humanidade” (studia
humanitatis) e de “estudos humanizados” (studia humaniora), expressões referidas a
famosas afirmações de Cícero, para indicar essas disciplinas.
Para autores Latinos, “humanitas” significava aproximadamente aquilo que os
helênicos indicavam com o termo “PAIDEIA”, ou seja, educação e formação do homem.
Ora, considerava-se que as letras, ou seja, a poesia, a retórica, a história e a filosofia
desempenhavam um papel essencial nessa obra de formação espiritual. Com efeito, são essas
disciplinas que estudam o homem naquilo que ele tem de peculiar renunciando qualquer
utilidade pragmática.
Por isso, mostram-se mais capazes do que todas as outras disciplinas a fazer o homem
ser aquilo que deve ser, precisamente em virtude de sua natureza espiritual específica.
A partir da segunda metade do século XIV e depois, sempre de forma crescente, nos
dois séculos seguintes, tornou-se uma tendência atribuir, aos estudos relativos às Literaturas
Humanas, um grande valor, considerando a Antiguidade Clássica, Latina e Grega, como um
paradigma e um ponto de referência para as atividades espirituais (valores imateriais) e a
cultura em geral.
Pouco a pouco, os autores latinos e gregos se firmavam como modelos insuperáveis
nas chamadas “LETRAS HUMANAS”, verdadeiros mestres da humanidade. Em outras
palavras, o humanismo significa uma tendência geral que apresentava-se de um modo
exclusivamente novo por seu particular colorido, por suas peculiares modalidades e pela sua
intensidade, a ponto de marcar o início de um novo período na história da cultura e do
pensamento.
Com tanto, pode-se dizer que a marca que destaca o humanismo consiste em UM
NOVO SENTIDO DO HOMEM E DE SEUS PROBLEMAS. É um novo sentido que
encontra expressões multiformes e, por vezes, até opostas, mas sempre ricas e originais. é um
novo sentido que alcança uma celebração teórica da “DIGNIDADE DO HOMEM” como
ser em certo sentido “extraordinário” em relação a toda a ordem do cosmos, isto é, em relação
a todas as outras coisas do universo.

AULA 3 - RENASCIMENTO

O renascimento pode ser entendido em duas perspectivas. Por um lado, o


RENASCIMENTO surge como como fenômeno tipicamente italiano quanto às suas origens,
caracterizado pelo individualismo prático e teórico, pela exaltação da vida mundana, pelo
acentuado sensualismo, pela mundanização da religião, pela tendência paganizante, pela
libertação em relação às autoridades constituídas que haviam dominado a vida espiritual no
passado, pelo forte sentido da história, pelo naturalismo filosófico e pelo extraordinário gosto
artístico.
O Renascimento seria, portanto, uma época que viu surgir uma nova cultura, oposta à
medieval. E a revivescência do mundo antigo teria desempenhado nisso um papel importante,
mas não exclusivamente determinante. Logo, partindo do renascimento da antiguidade,
passou-se a chamar de “RENASCIMENTO” toda essa época, que, porém, é algo mais
complexo porque é a síntese do NOVO ESPÍRITO que se criou na Itália com a própria
Antiguidade - é o espírito que, rompendo definitivamente com o espírito da época medieval,
inaugurou a época moderna.
A outra perspectiva acerca do renascimento se destaca por entender que o
RENASCIMENTO representou um grande fenômeno espiritual de “regeneração” e
“reforma”, no qual o retorno aos antigos significou revivescência das origens, “retorno aos
princípios”, ou seja, retorno ao autêntico. é também nesse espírito que deve ser entendida a
imitação dos antigos, que se revelou o estímulo mais eficaz para que os homens
encontrassem, recriassem e regenerassem a si próprios. Ou seja, de certa forma, nessa
perspectiva, o Renascimento e o Humanismo, de certa forma, seriam a “mesma coisa”.
Em outras palavras, podemos sintetizar o RENASCIMENTO da seguinte forma: o
renascimento se caracteriza como movimento cultural que envolveu artistas e intelectuais de
diversas áreas e, dessa forma, contribuíram para importantes transformações na sociedade.
Esse movimento cultural recebeu o nome de Renascimento porque se inspirou nas
ideias do humanismo - defendendo, também, o reavivamento dos ideais de exaltação do ser
humano e seus atributos, tais como a RAZÃO e a LIBERDADE. Era, portanto, um renascer
ou redespertar desses ideais. Como, porém, nenhuma cultura renasce fora de seu tempo, o
resultado desse movimento não poderia ser o de um mero retorno à Antiguidade clássica,
trazendo consequências distintas.
Ao propiciar a expansão de uma MENTALIDADE RACIONALISTA, o
Renascimento criou as bases conceituais e de valores que favoreceriam o desenvolvimento da
ciência no século XVII. Revelando maior disposição para investigar os problemas do mundo,
o indivíduo moderno aguçou seu espírito de observação sobre a natureza, dedicou mais tempo
à pesquisa e às experimentações, abriu a mente ao livre exame do mundo.
Esse conjunto de atitudes contrapunha-se fortemente à mentalidade medieval típica,
influenciada pelo pensamento contemplativo e mais submissa às chamadas verdades
inquestionáveis da fé. O pensador moderno buscaria não somente conhecer a realidade,
descobrir as leis que regem os fenômenos naturais, mas também exercer controle sobre ela. O
objetivo era prever para prover.
A transição para a mentalidade científica moderna não foi, porém, um processo súbito
e sem resistências. Forças ligadas ao passado medieval lutavam duramente contra as
transformações que se desenvolviam, organizando listas de livros proibidos [ o INDEX] e
punindo, entre outros, muitos pensadores da época. Nesse contexto, muitos pioneiros da
ciência moderna foram perseguidos pela inquisição - tribunal instituído pela igreja católica
com o fim de julgar os responsáveis pela propagação e prática de heresias [CONCEPÇÕES
CONTRÁRIAS AOS DOGMAS DA RELIGIÃO].

Aula 4 - CARACTERÍSTICAS DO PENSAMENTO MODERNO.

A modernidade é marcada por uma nova mentalidade, logo, examinando o contexto


histórico em que ocorreram transformações tão radicais, percebemos que elas não se
desligavam de outros processos igualmente marcantes: o aumento das atividades comerciais
propiciou a maior circulação de valores e informações, o crescimento dos centros urbanos e o
fortalecimento da burguesia; a formação dos estados nacionais na Europa Ocidental deu
condições para movimentos reformistas que questionavam o poder centralizador da Igreja
Católica; e os aperfeiçoamentos técnicos e as inovações tecnológicas mudavam a relação do
homem com a natureza. Desse modo, surgia um novo indivíduo, confiante na razão e no
poder de transformar o mundo.
O renascimento das ciências no século XVII não constituiu uma simples evolução do
pensamento científico, mas uma verdadeira ruptura que implicou outra concepção de saber,
por conta da novidade do método instituído.
A valorização da razão e do pensamento crítico pelos renascentistas [século XV e
XVI] e o questionamento da autoridade papal pelos movimentos reformistas religiosos
[século XVI] possibilitaram a alteração de valores na Europa ocidental. Dentre as
características decorrentes deste movimento histórico:

> ANTROPOCENTRISMO: o indivíduo moderno coloca a si próprio no centro dos


interesses e decisões. Às certezas da fé, contrapõe-se a capacidade de livre exame. Até na
religião os adeptos da Reforma defendem o acesso ao texto bíblico, dando a cada um o direito
de interpretá-lo.

> RACIONALISMO: o poder exclusivo da razão de discernir, distinguir e comparar


opôs-se ao critério da fé e da revelação; a atitude polêmica perante a tradição revelava a
recusa do dogmatismo.
> SABER ATIVO: o saber adquirido devido à aliança entre ciência e a técnica deve
voltar à realidade para transformá-la.
> MÉTODO: o rompimento da ciência com a filosofia aristotélico - escolástica
instigou os intelectuais na busca de novos métodos de investigação filosófica e científica.
Ademais, o antropocentrismo, palavra de origem grega: ánthropos, significa
“homem”. Logo, o antropocentrismo é equivalente ao HOMEM NO CENTRO. E essa
perspectiva se opõe ao TEOCENTRISMO [ Deus no centro] do período anterior.
A ruptura com toda a autoridade preestabelecida de conhecimento fez com que os
pensadores modernos buscassem uma base segura, algo que garantisse a verdade de um
raciocínio. Assim, um dos principais problemas da filosofia nesse período relacionou-se com
o processo de entendimento humano e, mais especificamente, com a seguinte questão: Que
garantia posso ter de que um pensamento é verdadeiro? Procurava-se, portanto, um método.
Como a razão estava em alta, o método escolhido foi o matemático, pois a
matemática já era uma ciência bastante desenvolvida na época, conquistando grandes
resultados com seu método lógico - dedutivo. Como ciência exata, ela mostrava-se capaz de
garantir um alto grau de segurança e certeza em relação a suas conclusões. Era, portanto, o
paradigma ideal tanto para a filosofia como para as ciências, tornando-se modelo seguido
pelo racionalismo do século XVII.

AULA 5 - A ASTRONOMIA E A GEOMETRIZAÇÃO DO ESPAÇO.

No século XVI, o monge Nicolau Copérnico [1473 - 1543] publicou Das revoluções
dos corpos celestes, obra em que expõe o heliocentrismo. A obra foi praticamente ignorada
até o início do século XVII, quando as teorias nela propostas ressurgiram com Galileu e
Kepler.
A luneta proporcionou, a Galileu, descobertas valiosas: para além das estrelas fixas,
haveria ainda infindáveis mundos; a superfície da Lua é rugosa e irregular; o Sol tem
manchas; e em torno de júpiter existem quatro luas! Como isso seria possível? Partindo da
Física de Aristóteles, o Universo é finito, a Lua e o Sol são compostos de uma substância
incorruptível e perfeita e Júpiter, engastado de uma esfera de cristal, não poderia ter luas que
a perfurassem.
Essas descobertas levaram à conclusão de que não há corpos “perfeitos” e
“imperfeitos”, não há hierarquia entre o Céu e a Terra, o Universo é infinito. Podemos dizer
que houve uma "democratização" dos espaços, pois todos se tornaram equivalentes, nenhum
sendo superior ao outro. Dessa constatação foi possível concluir que as leis de física
aplicam-se igualmente a todos os corpos do Universo, ou seja, os fenômenos de física e da
astronomia, antes explicados de acordo com as diferenças da natureza dos corpos perfeitos e
imperfeitos, tornaram-se homogêneos.
Em 1638, à revelia da Inquisição, foi publicada na Holanda a obra Discursos e
demonstrações matemáticas sobre duas novas ciências, quando seu autor, Galileu, já cego,
ainda se encontrava em prisão domiciliar. A partir desse último e importante trabalho, em que
ligou a ciência da astronomia à física, pode-se dizer que nascia a física moderna e uma nova
concepção de astronomia.
Em certo sentido, o objetivo da ciência continua sendo compreender o que é
universal em relação aos objetos e fenômenos investigados. O que mudou bastante, dos
antigos gregos à ciência moderna, foi o próprio entendimento do que é ciência e das
condições nas quais se dá o conhecimento científico.
Aristóteles dizia que conhecer é conhecer as causas, concebidas por ele como quatro:
a causa material, a causa formal, a causa eficiente e a causa final. Esse processo levaria a um
conhecimento que transcenderia a ciência no seu sentido atual, e se confundiria com a própria
metafísica.
Logo, pode-se afirmar que A REVOLUÇÃO CIENTÍFICA ganha sentido com
Galileu. Isso, porque, a partir de Galileu, deu-se o abandono, em grande medida, dessa
pretensão metafísica do conhecimento, de busca dos princípios últimos de todas as coisas. A
ciência passou a se guiar por um procedimento mais específico e experimental e, sobretudo,
por um enfoque quantitativo. A procura da explicação qualitativa e finalística acerca dos
seres [de sua finalidade ou de seu sentido] foi substituída pela matematização, isto é, por um
processo que abstrai, ignora as características sensíveis da realidade e reduz a explicação dos
fenômenos a equações, teoremas e fórmulas.
Como observou o historiador da ciência Alexandre Koyré em seu livro Do mundo fechado ao
universo infinito, a partir do Renascimento houve a destruição da ideia de COSMO, isto é, de
um mundo hierarquizado, dotado de centro e limitado no espaço. Em seu lugar, surgiu a ideia
de um UNIVERSO INFINITO, não hierarquizado, não místico, mas geométrico.
AULA 6: NICOLAU COPÉRNICO E O HELIOCENTRISMO.

Entre as concepções que trariam maiores “estragos” à cosmologia medieval


destacou-se a TEORIA HELIOCÊNTRICA, proposta pelo sacerdote e astrônomo polonês,
Nicolau Copérnico [1473 - 1543].
Durante a primeira metade do século XVI, ele escreveu o livro Da revolução das
esferas celestes, no qual demonstrava matematicamente que era a Terra que girava em torno
do Sol e não o contrário [o Sol e os demais planetas girando em torno da terra], como
propunha a teoria geocêntrica, vigente até então.
Ou seja, antes da proposta de Nicolau Copérnico, Aristóteles sintetizou e sistematizou
a cosmologia grega de sua época, junto com suas próprias contribuições, na obra Sobre o céu
- a qual se tornaria um dos tratados de maior influência na história da cosmologia, tendo sido
adotado no mundo ocidental por mais de 18 séculos.
Aristóteles trazia a visão de um universo extremamente organizado e racional. A terra
ocupava um lugar privilegiado - O CENTRO [geocentrismo] - , mas que era ao mesmo
tempo o de menor perfeição [ideia vinculada à concepção platônica do mundo corruptível da
matéria].
De acordo com esse modelo, o universo seria finito espacialmente e composto de
diversas esferas concêntricas. A menor seria a da Terra, a maior, a das estrelas fixas. A
esfera correspondente à Lua dividiria o espaço em duas regiões, com qualidades totalmente
distintas. Sendo um mundo sublunar e outro mundo supralunar.
Organizado hierarquicamente, o cosmos aristotélico apresentava a noção de espaço
qualitativo, cada corpo [ou ser] teria uma qualidade e um lugar que lhe seriam próprios, e a
esse lugar ele tenderia por natureza. Assim, de acordo com Aristóteles, quando atiramos
uma pedra para cima e ela volta ao chão, isso ocorre por que esse é seu lugar natural. Pela
mesma razão, a água tende a descer, enquanto o ar e o fogo tende a subir.
Durante a Idade Média, a concepção aristotélica do universo foi assimilada pelos
pensadores cristãos e adotada oficialmente pela Igreja católica. É que essa concepção garantia
um posto privilegiado para o ser humano [no centro da criação], além de permitir que Deus
pudesse ser identificado com o primeiro motor e tivesse seu lugar natural no céu [fora do
mundo], de onde poderia comandar sua obra. Não havia, portanto, conflito com as escrituras
sagradas, que ganhavam em racionalidade com o modelo geocêntrico.
Com tanto, a formulação de Nicolau Copérnico,de que é o Sol, e não nosso planeta, o
centro do universo, atingia a concepção Medieval Cristã de que o ser humano é o ser supremo
da criação e que por isso seu habitat - a Terra - deveria ter o privilégio de ser o centro em
relação aos outros astros. Logo, compreende-se que a teoria heliocêntrica causou uma
mudança radical no modo de pensar o mundo.
Em suma, a revolução copernicana, através de sua teoria heliocêntrica, foi também
uma revolução no mundo das ideias, a transformação de ideias inveteradas que o homem
tinha do universo, de sua relação com ele e do seu lugar nele.Isso porque Copérnico defendeu
em sua teoria as seguintes teses: o mundo deve ser esférico; a Terra deve ser esférica; com a
água, a Terra forma uma única esfera; o movimento dos corpos celestes é uniforme, circular e
perpétuo ou então composto de movimentos circulares; a Terra se move em um círculo orbital
em torno de seu centro, girando também sobre seu eixo; comparados com a dimensão da
Terra, é enorme a vastidão dos céus.
Em suma, pode-se dizer que a revolução copernicana não ganhou total aprovação
nem mesmo entre os astrônomos de sua época, que adotaram o sistema matemático
copernicano, mas recusaram, em certa medida, a veracidade física de sua teoria.

AULA 7: GALILEU GALILEI E O MÉTODO EXPERIMENTAL

Galileu Galilei nasceu em Pisa, em 15 de fevereiro de 1564. Em 1581, já estava


inscrito entre os “alunos artistas” do Estúdio de Pisa. Deveria tornar-se médico, mas
dedicou-se aos estudos de matemática, sob a orientação de Ostilio Ricci, discípulo do
algebrista Nicolau Tartaglia, a quem devemos a fórmula de resolução das equações de
terceiro grau.
Em 1585, Galileu escreveu os Teoremas sobre o centro de gravidade dos sólidos. Em
1586, publicou a Bilancetta, onde se mostra evidente a influência do “divino Arquimedes” e
onde, mais do que indagar sobre a natureza dos corpos, procura-se determinar o seu
peso específico. Para Galileu, a Bilancetta constitui” a sua estréia na produção cienttífica”.
Além disso, ele também cuidava de seus interesses humanísticos, como mostram as
duas lições que ministrou na Academia Florentina, em 1588, Sobre a figura, o local e a
grandeza do “inferno de Dante” e as Considerações sobre Tasso, que remontam
aproximadamente ao ano de 1590.
Nas aulas sobre o Inferno de Dante, Galileu pretendia defender a hipótese de Antonio
Manetti sobre a topografia do inferno, mas o que interessa é o modo como é desenvolvida
essa defesa, que dá lugar a uma série de preciosos problemas geométricos, tratados por
Galileu com rigorosa perícia matemática e com perfeito domínio do texto que
interpretava. Nomeado leitor de matemática em Pisa em 1589, com o apoio do cardeal
Francisco del Monte, já em 1590 Galileu escreveu o De Motu, cuja teoria central, embora
modificada, ainda é a teoria do impetus.
Com tanto, nota-se a relevância de Galileu em suas investigações. E, mesmo assim, ao
ser advertido pelas autoridades católicas por suas idéias heréticas, Galileu teria comentado
que, em se tratando de temas científicos, a Bíblia não era um manual a ser obedecido
cegamente. Pode parecer um comentário de alguém não religioso, mas Galileu não apenas era
católico como acreditava que suas teorias mais apoiavam do que contrariavam a crença em
Deus.
O pioneirismo rebelde de Galileu atraiu a fúria da Inquisição. Em 1633, foi
condenado por seus inquisidores, que lhe impuseram a dramática alternativa: ser queimado
vivo em uma fogueira ou retratar-se publicamente, renegando suas concepções científicas.
Galileu optou por viver e retratar-se perante o tribunal. Permaneceu, entretanto, fiel às suas
idéias e, em 1638, quatro anos antes de morrer, publicou clandestinamente mais uma obra que
contrariava os dogmas oficiais de sua época.
Na tradição grega aristotélica, para entender uma coisa não era preciso estudá-la
experimentalmente. Bastava esforçar-se por compreender como essa coisa existe e funciona,
para depois elaborar uma teoria sobre isso. Assim, para grande parte dos pensadores antigos e
medievais, observar as coisas, agir sobre a natureza e pensar como matemático eram práticas
incompatíveis.
Já Galileu - professor de matemática - decidiu, de forma inovadora, aplicar a
matemática ao estudo experimental da natureza. Desse modo, alcançou grandes realizações,
entre as quais, destacam-se:
> a elaboração da lei da queda livre dos corpos, segundo a qual a aceleração de um
corpo em queda livre é constante, independentemente de o corpo ser leve ou pesado, grande
ou pequeno. A demonstração dessa lei exige condições ideais [vácuo].
> a construção e o aperfeiçoamento de um telescópio, com o qual efetuou observações
astronômicas que o levaram a descobrir o relevo montanhoso da Lua, quatro satélites de
Júpiter, as formas diferentes de Saturno, as fases de Vênus e a existência de manchas solares.
Mas não é apenas por suas descobertas específicas que Galileu merece especial
destaque na história das ciências. Uma de suas mais extraordinárias contribuições foi ter
assumido uma nova postura de investigação científica, cuja metodologia tinha como bases:
> a OBSERVAÇÃO paciente e minuciosa do fenômenos naturais;
> a realização de EXPERIMENTAÇÕES para comprovar uma tese;
> a valorização da MATEMÁTICA como instrumento capaz de enunciar
REGULARIDADES observadas nos fenômenos.

Você também pode gostar