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contexto e características
Tendo Itália como berço, o Renascimento é o período que se
inicia no século xv e que se caracteriza por uma nova mentalidade
e uma nova forma de ver o mundo. As mudanças económicas,
sociais, políticas e culturais operadas vão transformar a Europa que
existia na Idade Média e abrir caminho para a Era Moderna.
O Renascimento corresponde a uma mudança cultural e artística que tem origem
EVITE O ERRO no designado Quattrocento italiano. No século xv, nos reinos de Itália, a prosperidade
económica leva os soberanos a uma generosa política de mecenato, que se reflete na
Idade Média contratação de artistas para o empreendimento de grandes obras, no domínio das várias
e Renascimento artes: arquitetura, pintura, literatura, etc. A inspiração seguida por estes, que se baseava
É um erro pensar que na recuperação de modelos e teorias da Antiguidade Clássica, rapidamente se expande
o Renascimento rompe a toda a Europa e toma as dimensões de um movimento que se alargará a outras áreas,
completamente com a como a do conhecimento, operando uma renovação cultural.
Idade Média e que esta
pode ser considerada
uma era de «trevas» Economia, sociedade e política
e obscurantismo. A sociedade agrária feudal é substituída por uma sociedade mercantil, que privilegia as
Na verdade, na época
trocas comerciais. A exploração da terra tem um papel menos importante e a vitalidade
medieval, encontram-se
focos de pensamento
da economia passa a assentar no comércio e na indústria. Como reflexo deste novo
e de vitalidade cultural, sistema económico dá-se o aumento da circulação monetária.
como o Renascimento A burguesia, que se dedica ao comércio, consolida-se definitivamente como classe, ganha
Carolíngio e as obras importância social e poder político, substituindo a nobreza feudal como grupo dominante.
de filósofos, por exemplo, A par do enfraquecimento da nobreza, a influência social e política do clero diminui.
Roger Bacon, Alberto
Magno ou William of
Em termos políticos, prossegue o trabalho de centralização do poder na Coroa, incluindo,
Ockham. Além disso, quando possível, a confiscação dos bens e das terras da nobreza e do clero. Ligada a esta
existem aspetos tendência de fortalecimento das monarquias, assiste-se à consolidação dos reinos como
económicos, políticos nações e à valorização das culturas e línguas nacionais, favorecendo-se o seu estudo.
e culturais que apontam
para a existência de uma
continuidade e de uma
Religião, cultura e conhecimento
transição harmoniosa No plano religioso, este período fica marcado pelas cisões no interior da Cristandade.
entre as duas épocas. Os princípios e dogmas da doutrina, bem como os comportamentos e a política da
instituição eclesiástica, são submetidos a um exame crítico. Este movimento de ruptura,
conhecido por Reforma, conduz à criação das correntes religiosas protestantes. Lutero,
Calvino e Henrique VIII são as figuras que lideram o protesto e que fundam as suas
próprias Igrejas: o luteranismo, o calvinismo e o anglicanismo, respetivamente.
Esta revolução religiosa acompanha um novo sistema de ideias que surge na Renascença.
O Humanismo corresponde a este movimento intelectual, com implicações sociais, que
se funda na valorização do Homem e do seu papel no mundo. Procura alcançar-se o ideal
de realização do indivíduo através de um conjunto de princípios éticos, tendo em vista
um mundo de tolerância, harmonia e paz. Erasmo, Thomas More, Da Vinci, Campanella
e Damião de Góis destacam-se entre os humanistas.
No âmbito cultural, o aspeto que caracteriza o período renascentista é a recuperação,
nas artes, das ideias, dos modelos e das formas das culturas grega e latina da época
clássica. O Classicismo traduz-se no renovado interesse pelos textos da Antiguidade, no
Segundo a teoria renascentista recurso a motivos e elementos dessa época, por exemplo a mitologia, e na reprodução
do heliocentrismo, o Sol,
e não a Terra, é o centro
das noções de equilíbrio, harmonia, regra e verosimilhança na literatura e nas artes
do sistema solar. plásticas.
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O Renascimento em Portugal
O Renascimento em Portugal tem início por volta do último quartel do século xv
e estende-se por todo o século seguinte, sendo fortemente marcado pela expansão
marítima. O conhecimento de novas terras e de outros povos tem implicações
no progresso do conhecimento e na abertura do espírito humano. Fruto das
explorações portuguesas, desenvolvem-se áreas científicas e técnicas: a astronomia,
a matemática, a zoologia e a botânica, a geografia, a cartografia, a construção naval
e até a linguística. Aperfeiçoam-se instrumentos de navegação existentes, o astrolábio
e o quadrante, e inventam-se outros, a balestilha. Descobrem-se as propriedades
medicinais das plantas de outras terras. Garcia de Orta escreve um tratado sobre
o tema. Produzem-se as primeiras gramáticas, a de Fernão de Oliveira (1536)
e a de João de Barros (1540), que já incorporam palavras importadas de culturas
com que os portugueses contactam.
A expansão marítima determina alterações no sistema económico nacional. Se,
inicialmente, a exploração comercial das terras descobertas fora monopólio da Coroa,
esta abriu o mercado ultramarino à iniciativa privada. A medida beneficiou a burguesia
mercantil e deu dinamismo à economia. A Igreja também beneficiou com as Descobertas: Gramática de Fernão de Oliveira.
a ideia de que estas eram empreendidas em nome da propagação da fé vem legitimar
a importância da religião no contexto quinhentista.
A corrente que chegou da Europa e estava em harmonia com o espírito da expansão
marítima era o Humanismo. D. Manuel I e D. João III promovem o saber, as artes
e o pensamento, na tentativa de impulsionar o conhecimento e de melhorar as
instituições do país. Nesse sentido, atribuem bolsas a portugueses que saem para
estudar em universidades europeias e recrutam eminentes humanistas para virem
lecionar no nosso país. D. João III reformula a Universidade e promove o ensino
em terras portuguesas. Paradoxalmente, será este monarca que introduz a Inquisição
em Portugal, o que vai travar este movimento, dando-se um retrocesso em alguns
aspetos.
Características da literatura
A literatura renascentista portuguesa recebe uma forte influência das culturas
da Antiguidade Clássica e da cultura italiana.
Da literatura greco-latina recuperam-se géneros, formas e motivos. A tragédia e a
comédia voltam a ser cultivadas, segundo as regras clássicas, e o género da epopeia
é recuperado na concretização da obra Os Lusíadas. Outras formas da literatura grega
e latina, como a écloga e a elegia, são cultivadas pelos poetas portugueses. As divindades,
a mitologia, e os heróis da cultura clássica estão presentes nas obras como protagonistas
de episódios ou em breves referências.
A literatura italiana, com os seus novos motivos e composições, depois do florescimento
do Quattrocento, serve igualmente de modelo e referência para os escritores. Apesar
de se enquadrar no final da Idade Média, a produção dos poetas italianos Dante
e Petrarca é importante neste aspeto, oferecendo temas originais, a descrição
de ambientes inusitados e uma forma de expressar os sentimentos até então não
concretizada. Dante Alighieri.
Em Portugal, os Descobrimentos condicionaram muita da literatura de Quinhentos,
fornecendo pretextos, assuntos e motivos para a poesia, a narrativa de viagens,
a historiografia e outros géneros.
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BIOGRAFIA
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LEITURA
Neste excerto de Castro, que corresponde ao início do ato IV, Inês de Castro pede ao rei que lhe poupe a vida.
PACHECO: A presteza em tal caso é bom seguro, CORO: Quem pode ver-te,
E piedade, senhor, será crueza. Que não chore e se abrande?
Cerra os olhos a lágrimas e mágoas, CASTRO: Meu senhor,
Que te podem mover dessa constância. Esta é a mãe de teus netos. Estes são
REI: Esta é, que a mim se vem: ó rosto digno Filhos daquele filho que tanto amas.
De mais ditosos fados! Esta é aquela coitada mulher fraca,
CORO: Eis a morte Contra quem vens armado de crueza.
Vem. Vai-te entregar a ela: vai depressa, Aqui me tens. Bastava teu mandado
Terás que chorar menos. Pera eu segura, e livre te esperar,
CASTRO: Vou, amigas. Em ti, e em minha inocência confiada.
Acompanhai-me vós, amigas minhas, Escusaras, senhor, todo este estrondo
Ajudai-me a pedir misericórdia. De armas e cavaleiros: que não foge,
Chorai o desemparo destes filhos Nem se teme a inocência da justiça.
Tão tenros e inocentes. Filhos tristes, E quando meus pecados me acusaram
Vedes aqui o pai de vosso pai. A ti fora buscar, a ti tomara
Eis aqui vosso avô, nosso senhor: Por vida em minha morte. Agora vejo
Beijai-lhe a mão, pedi-lhe piedade Que tu me vens buscar. Beijo estas mãos
De vós, desta mãe vossa, cuja vida Reais tão piedosas, pois quiseste
Vos vem, filhos, roubar. Por ti vir-te informar de minhas culpas. […]
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