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História _ 10ano_ módulo3

1. A geografia cultural de Quatrocentos e Quinhentos

Desde o século IX os califas de Bagdad mandam reunir e traduzir obras literá rias e escritos
originais da cultura grega. Obras de Galeno mas também de Ptolomeu, Euclides ou Hipó crates. 

No século X também os cristã os conquistam Toledo e têm acesso à s traduçõ es á rabes dos escritos
gregos e a Península Ibérica torna-se assim uma zona multicultural importante pois nela se
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encontram as culturas clá ssica greco-romana, cultura á rabe e judaica. Maometanos, mudéjares,
moçá rabes e judeus convivem e procuram tomar contacto com a ciência muçulmana. 

A mentalidade humanista desenvolve-se com instrumentos de uma didá ctica quantitativa como
o á baco, o astrolá bio, a bú ssola, os portulanos, conhecimentos de medicina, a observaçã o
lançando-se progressivamente as bases de um empirismo experiencialismo fundamental para a
futura revoluçã o científica. Desenvolve-se o comércio e procuram-se novos portos em cidades
ligadas a novos e desconhecidos continentes e horizontes como Lisboa e Sevilha. 

As viagens realizadas e as influências estranhas que os portugueses introduzem na Europa


tornam-se elementos de grande peso no avanço científico e cultural que a Europa está a tomar
sobre as restantes regiõ es do mundo 

2. O alargamento do conhecimento do mundo

Ao longo dos séculos XV e XVI, os portugueses realizam uma série de viagens marítimas que
alargam os horizontes da geografia e permitem ao homem europeu acabar com muitas das
crenças, superstiçõ es e erros científicos em que desde sempre acreditara. Gil Eanes, Bartolomeu
Dias, Diogo Cã o, Vasco da Gama, Fernã o de Magalhã es realizaram viagens fundamentais para o
alargamento sobre o conhecimento do mundo.

Foi também importante o contributo português  em outras á reas que tiveram um desenvolvimento
paralelo com o das viagens. A cartografia, a astronomia, a matemá tica, a botâ nica e a zoologia, mas
também a construçã o naval, as técnicas de navegaçã o, a literatura de viagens, a geografia
receberam importantes avanços a partir das observaçõ es e especulaçã o precientíficas de sá bios
como Duarte Pacheco, Garcia da Orta, D. Joã o de Castro, Pedro Nunes.
Os seus contributos foram fundamentais nã o só para a ciência da época mas também porque
deixaram para os vindouros uma série de documentos e relatos, obras de aná lise e instrumentos
aperfeiçoados que constituíram avanços nos domínios especializados da matemá tica, astronomia e
geografia constituindo aquilo que se costuma designar por experiencialismo.

Esse terá sido também um dos mais importantes contributos portugueses para a mentalidade
quantitativa que estava em curso na época do Renascimento. Ao lado dos trabalhos de Copérnico,
Galileu, Keppler, os escritos pré-científicos dos portugueses da época da expansã o foram 2
igualmente de grande importâ ncia para a construçã o de uma metodologia de trabalho de rigor e
exactidã o assente na Matemá tica e na Geometria mas também nas ciências da natureza, com a
revoluçã o científica a partir do século XVII.
Se a época, século XV e XVI, nã o foi de ciência e rigor absolutos, esta foi mesmo assim uma etapa
necessá ria e prévia e os portugueses tiveram por isso um papel central na construçã o da
mentalidade científica europeia ocidental.

3. A produçã o cultural

Distinçã o social e mecenato 

Humanistas desvalorizavam a influência da cultura medieval nas novas correntes renascentistas.


Apelidavam a arte dessa época como bá rbara designando-a de gó tica em referência aos godos
bá rbaros. 

Salientaram o individualismo, o humanismo e o culto da racionalidade para associar o seu saber ao


dos autores clá ssicos cuja cultura e riqueza pretendem recuperar e atribuir-se. 
O Renascimento surge assim como mudança e transiçã o para a modernidade que no entanto nã o é
possível delimitar com rigor no tempo já que os ú ltimos tempos da Idade Média assistiram a vá rias
mudanças na cultura e na sociedade que já nã o se enquadravam na mentalidade tipicamente
medieval e romano-cristã .

Factores que marcam habitualmente a entrada na Idade Moderna: 

A fuga dos sá bios bizantinos para Itá lia em 1453 apó s a tomada de Constantinopla pelos turcos. 
A invençã o da Imprensa e o impulso cultural na divulgaçã o das obras antigas.
Viagens de descobrimentos portugueses permitem abrir os horizontes da experiência humana e
desenvolver a visã o humanista e crítica sobre a natureza e o Homem. 
Afirmaçã o libertá ria das repú blicas italianas permite o desenvolvimento de uma mentalidade
cosmopolita e liberta das teias opressivas do pensamento cristã o, medieval. 
Afirmaçã o das línguas nacionais impulsionadas pela imprensa, relegando o latim para segundo
plano. 
A Arte- imitação e superação dos modelos clássicos

É a partir da Idade Média com a descoberta de obras de autores gregos e romanos na Espanha e 3
Sicília muçulmanas que ressurge um interesse acentuado pela antiguidade. Tal situaçã o corre
paralela com o dinamismo urbano medieval que se verifica a partir da formaçã o das universidades
medievais da Itá lia, França e Flandres.
O ambiente político também favorece a emergência dos individualismos. Na Itá lia, dividida pelos
poderes  e rivalidades urbanas locais as cidades de Florença, Veneza, Roma e Génova tornam-se
centros majestá ticos de irradiaçã o de cultura e ostentaçã o. A arquitectura majestosa do Império
Romano sã o testemunhos do classicismo e instigam à superaçã o dos modelos antigos.
Em Portugal, o Manuelino é derivaçã o meridional do gó tico com influências marítimas e orientais,
foi influenciado pelo Renascimento flamengo.
A centralidade do observador na arquitectura e pintura.

Importâ ncia do Antropocentrismo como matriz temá tica da arte do Renascimento. Equilíbrio,
perfeiçã o formal, técnica, racionalidade e espiritualidade sujeitas a uma leitura do mundo em que
o homem e a natureza se encontram na origem de todos os fenó menos. 
Brunelleschi acentua a perspectiva, sistema racional que organiza todos os elementos do
conjunto. 
Temá ticas religiosas, realismo naturalista, pintura a ó leo sobre tela, transparência plá stica,
sfumatto, naturezas mortas, 
Escultura naturalista também libertando-se das paredes e nichos arquitectó nicos torna-se de
novo arte autó noma que põ e em evidência o homem, o individuo e as suas qualidades libertando-
se de temas religiosos. Escultura equestre e busto recuperam importâ ncia. 
4. A renovaçã o da espiritualidade e da religiosidade

O movimento da Reforma iniciou-se em 1517 com o protesto de Martinho Lutero contra a venda
das indulgências pela Igreja cató lica. 
As divisõ es na Igreja começaram na Idade Média com o Cisma do Ocidente. Também no século XV,
Erasmo e os humanistas acentuam a pureza original da religiã o rejeitando os excessos de poder e a
complexidade do culto e da hierarquia. 
As críticas à Igreja continuaram nos séculos XIV e XV com críticas fortes contra o excessivo luxo e
ostentaçã o além da vida pouco cristã dos príncipes da Igreja.  4
Em 1517 o papa Leã o X mandou pregar por toda a Europa o perdã o dos pecados a quem
contribuisse com dinheiro ou riquezas para a construçã o da Basílica de S. Pedro Em Roma. 
Lutero protestou contra a venda das indulgências afixando na porta da catedral de Wittemberg as
95 Teses contra as Indulgências, documento que protestava contra esta medida papal acusada de
puro mercantilismo religioso. 
o papa excomungou Lutero e mandou persegui-lo obrigando-o a pedir protecçã o aos príncipes da
Alemanha que viram neste conflito a forma de se livrarem da obrigaçã o de pagamentos de tributos
ao papado retendo para seu proveito as receitas das dizimas na Alemanha e das propriedades da
Igreja nessa regiã o europeia. 
O culto na Alemanha e noutras regiõ es do norte da Europa passou a ser feito segundo as regras de
Lutero e da Igreja Luterana. 
A divisã o provocada por Lutero nã o teria sido possível sem o concurso de um espírito fortemente
crítico relativamente à Igreja, que existia nas regiõ es norte europeias. 
No norte da Europa ao contrá rio do sul a influência da Igreja era tradicionalmente menos forte. Foi
a regiã o menos latinizada e cristianizada no tempo romano e foi a regiã o menos romanizada. a sua
religiosidade era mais austera a vida urbana era mais intensa e o comércio bastante desenvolvido.
O culto cristã o romano, com forte influência pagã e de imagens era menos forte e mais
espiritualizado. 
As zonas onde a reforma teve mais dificuldade em implantar-se foram aquelas onde a influência
romana fora mais forte. 
A reforma separou duas zonas europeias distintas. No norte, o pensamento mais abstracto e
crítico, a livre discussã o das ideias e a valorizaçã o individual levou à revoluçã o científica e à
revoluçã o industrial. A sul o pensamento menos autó nomo e crítico levou ao fanatismo religioso e
às perseguiçõ es lideradas pela Inquisiçã o.

Contra o Luteranismo, Calvinismo e Anglicanismo, o Concílio de Trento reuniu-se entre 1545 e


1563. A Companhia de Jesus, o Index e a Inquisiçã o tornaram-se instrumentos dessa luta anti
protestante. O norte da Europa acentua a sua vocaçã o livre, protestante e urbana enquanto o sul
da Europa continua sendo fanaticamente cató lico, tradicional e ignorante. Decidiu-se:
reafirmar o culto, a liturgia, a hierarquia e os dogmas sobre os quais os leigos nã o poderiam
pronunciar-se. 
criar os seminá rios para formar os sacerdotes e o catecismo como guiã o elementar da moral e fé
cristã . 
Em Portugal a Companhia de Jesus terá um papel importante na perseguiçã o aos eruditos e
humanistas. Os sá bios portugueses sã o perseguidos pela Inquisiçã o introduzida em 1536 pelo rei
D. Joã o III, principalmente os que contactaram com Erasmo ou estiveram nas universidades do 5
norte protestante. 
Terá também um papel importante na missionaçã o dos territó rios portugueses do oriente da
América. As oras cientificas sã o proibidas nas listas do Index. Os judeus sã o também perseguidos e
refugiam-se nos países do norte para onde levam os cabedais e onde desenvolvem a sua actividade
mercantil
5. As novas representaçõ es da Humanidade

EXPANSÃO EUROPEIA

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CONTACTOS ENTRE POVOS E CULTUTAS (europeus
africanos, asiáticos, ameríndios)

 Preconceito racista
 Desrespeito dos direitos humanos
 Escravização
 Compreensão do Outro; defesa da sua
humanidade

MISSIONAÇÃO E MISCIGENAÇÃO

O encontro de culturas

Como as viagens, ao longo dos séculos XV e XVI aumentaram consideravelmente, os Europeus


alargaram o conhecimento que tinham de si mesmos e do resto mundo, tomando consciência do
resto dos povos e culturas existentes pelo globo.
As relaçõ es que se estabeleceram foram de diferentes naturezas e, por isso, deram aso a diferentes
significados e consequências.
No continente africano, os Europeus encontraram, pela primeira vez, populaçõ es de cor negra
(maioritariamente, em regime tribal), que eram seminó madas e viviam da caça, da pesca, da
pastorícia e de uma agricultura primitiva. Os Europeus acreditavam que estas civilizaçõ es eram
atrasadas e bá rbaras e que necessitavam de serem civilizados, ou seja, na altura isso significava
cristianizar, muito devido ao seu atraso material, à estranheza física e à barbá rie de alguns dos
seus modos de vida. Os padres missioná rios, em especial os jesuítas, foram, entã o, companheiros
dos descobridores.
Contudo, a fixaçã o em territó rio Africano até entã o desconhecido nã o foi grande, notando-se mais
apenas em certas feitorias comerciais do litoral e alguns casos isolados do interior.
O maior impacto cultural realizou-se através da escravatura, cujo trá fico começou no século XV.
Sendo que a escravatura já era praticada entre as tribos, os portugueses aproveitaram-no e
começaram a traficar escravos para o reino (sobretudo, para serviços domésticos). A captura e
comércio de escravos africanos intensificou-se apó s a descoberta e exploraçã o do Brasil. 7
No continente Asiá tico, as relaçõ es tiveram início já na idade média, com as primeiras viagens dos
descobrimentos. Os portugueses foram, no entanto, os primeiros a chegar, por mar, à s regiõ es
orientais e a iniciar um período de contactos mais frequentes e intensos.
Os europeus encontraram, no oriente, terras densamente povoadas, com grande variedade étnica e
cultural, com civilizaçõ es como a hindu, a chinesa e a japonesa – civilizaçõ es muito bem
estruturadas e milenares. Estas civilizaçõ es começaram por admirar os europeus pelo exotismos
pró prio dos seus costumes, pela religiã o e arte e pelos conhecimentos que possuíam, mas
consideravam-nos bá rbaros, pois eram fechados a influências estrangeiras. Por este motivo,
poucos foram os valores ocidentais que penetraram no oriente e a missionaçã o foi igualmente
difícil. O Ocidente ficou, claramente, a ganhar: conseguiu produtos para comércio (que
influenciaram, obviamente, a economia europeia), adotaram inventos técnicos e importaram
saberes na á rea da ciência, da medicina, da filosofia e das artes.
No continente Americano, as civilizaçõ es naturais (os índios) eram diversificadas. Na América
Central, encontraram-se populaçõ es muito antigas (como os astecas, maias, incas e outros) num
estado civilizacional semelhante ao das primeiras civilizaçõ es da Antiguidade Oriental.
Nas montanhas da Bolívia e do Peru habitavam os Quíchuas, que desenvolveram a agricultura de
montanha e praticavam a pastorícia. Viviam em aldeias comunitá rias, num regime social
semelhante ao feudalismo europeu.
Na zona do atual Brasil, foram encontradas populaçõ es num estado de desenvolvimento
semelhante ao do final do Neolítico europeu, subdivididos numa série de tribos com dialetos e
costumes diferentes.
A chegada dos europeus à América – maioritariamente, portugueses e espanhó is - teve um enorme
impacto localmente.
Como se sentiam superiores, devido a serem uma civilizaçã o materialmente mais avançada, os
portugueses e os espanhois promoveram um processo de europeizaçã o (os espanhó is
demonstraram modos mais violentos e forçados aquando deste processo.) Esta aculturaçã o teve
como consequência a estagnaçã o ou, até mesmo, destruiçã o de certas culturas e uma elevada
mortalidade gerada, tanto pelas guerras de ocupaçã o como pelo contacto nos aldeamentos e
missõ es – enorme recuo demográ fico.
Os Europeus transportaram, ainda, muitas doenças desconhecidas para a América, nã o possuindo
os indígenas defesas orgâ nicas para estas.
As dificuldades de aceitaçã o do princípio de unidade do género humano: evangelizaçã o e
escravizaçã o
Os Europeus, levados pela curiosidade despertada devido ao encontro das etnias a culturas tã o
desconhecidas, escreveram e relataram vá rias obras, onde descreviam, de modo detalhado, os
diferentes povos, particularidades físicas e costumes. 8
Como foram postos em causa os conhecimentos adquiridos até entã o sobre a raça humana, através
da religiã o, houve a necessidade de uma revisã o do conceito do Homem e da Humanidade,
procurando verdadeiramente definir a sua essência.
Os Europeus questionaram-se, com algum ceticismo, se os povos encontrados seriam, realmente,
humanos, ou seja, se todos seriam iguais, devido à origem da raça humana partir do ato divino de
“Adã o e Eva”. Na época, o pensamento humanista exaltava a excelência do homem. As civilizaçõ es
eram tidas em conta como gente de aspeto grosseiro e estranho, primitivas em relaçã o aos há bitos
e modos de vida e, por isso, dificilmente encaixavam no conceito.
Nos relatos da época é também percetível uma visã o etnocêntrica que dominava a mentalidade
europeia, que eram crentes na superioridade da sua civilizaçã o, pois esta aparentava ser a mais
avançada a nível técnico e material e o seu modo de vida era mais organizado e conforme a
vontade de Deus.
Por isto, achando-se superiores, os Europeus acreditaram que era sua obrigaçã o impor a religiã o
cristã à s novas civilizaçõ es, considerando-a a ú nica verdadeira e autêntica.
Deste modo, é justificada a preocupaçã o quanto à evangelizaçã o que acompanhou todas as açõ es
de expansã o comercial dos europeus e, também, a aceitaçã o e complacência da época perante a
escravatura.
Os povos conhecidos eram vistos pelos europeus mais como animais do que como humanos, o que
os levou a um sentimento e noçã o de racismo. O escravo era visto também, como alguém que, ao
integrar-se no mundo do seu senhor, conseguia civilizar-se e abandonar a vida anteriormente
levada.
Os antecedentes da defesa dos direitos humanos
Apesar dos sentimentos e ideias anteriormente explicadas terem dominada a mentalidade da
altura, alguns acreditaram e compreenderam que o aspeto físico e os há bitos e modos de vida
eram fruto da histó ria, ou seja, das circunstâ ncias temporais em que as civilizaçõ es se tinham
desenvolvido e que a sua essência era tã o humana como todos os outros, independentemente da
raça ou cultura.
Foi, entã o, desenvolvido um sentimento de fraternidade pelos que conviveram mais
proximamente e quotidianamente com estas populaçõ es. Algo que evidencia esse sentimento foi o
aumento crescente dos casamentos mistos, que alastraram o fenó meno da mestiçagem.
Na América espanhola e no Brasil, os padres jesuítas iniciaram um discurso em defesa dos direitos
humanos, ainda no século XVI, dos índios que, na sua opiniã o, apesar de serem criaturas selvagens
eram dó ceis e boas e nã o deviam ser escravizadas.
A questã o da essência humana também foi importante para a elite intelectual. O pensamento
humanista da época defendia que a grandeza do homem assentava na sua origem divina, pois Deus
criara-o à sua imagem e semelhança, concedendo-lhe dois bens essenciais: razã o e liberdade, ou 9
seja, o dom do livre-arbítrio para que pudesse decidir e agir.
Estas características eram as que permitiam descender da sua condiçã o de matéria (bicho) do
homem natural (em estado selvagem) à espera superior do homem civilizado – aquele que, capaz
de desenvolver as suas capacidades, pode atingir o conhecimento e o domínio das verdades
espirituais, chegando até Deus.

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