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Resenha Crítica – O Alienista

O Alienista é um conto de Machado de Assis que aborda assuntos como


a vaidade, o egoísmo e, é claro, o cientificismo levado às suas últimas
consequências. A obra machadiana dialoga principalmente com a definição de
patologia, um dos temas foco de nossas aulas. Além disso, é nesse período
que o autor completa a sua metamorfose de Romântico para Realista,
marcando uma forte investigação do caráter humano e suas ramificações
psicológicas.

Simão Bacamarte, respeitado médico no velho continente, vem para a


vila de Itaguaí para dedicar-se a ciência. O primeiro acontecimento que chama
a atenção é o seu casamento, pois ele escolhe sua concubina baseando-se
exclusivamente nos aspectos fisiológicos e anatômicos e a sua possibilidade
de ter filhos sãos e inteligentes. A ironia típica do autor se faz presente: o casal
não teve filhos.

Tal é a genialidade de Machado que nesse início já nos é apresentado o


tema geral da história disfarçado. Simão baseia-se exclusivamente na ciência,
estuda muito um tema e, ao final, não atinge nenhum objetivo.

Depois de não conseguir ser pai, Simão se volta completamente para a


clínica, e em seu período como médico da região ele se interessa cada vez
mais pelo exame de patologia cerebral, levando-o a criar um asilo, a
Casa Verde, para atender aqueles que Bacamarte considerasse loucos.
Contudo, as teorias do alienista (as quais ele seguia rigorosamente)
declaravam sumariamente todos que cruzavam o seu caminho como loucos.

Além do cientificismo extremado, a obra personifica outros traços de


personalidade. Porfírio, barbeiro com vocação política, inicia uma revolta e
toma o controle da vila como seu Protetor sob o pretexto de destruir a Casa
Verde e libertar os seus pacientes. Entretanto, quando tem a oportunidade, o
barbeiro alia-se com Simão.

O Protetor de Itaguaí é a personificação da vaidade política, tema


constantemente discutido na figura dos vereadores. Como todo vaidoso,
Porfírio é vítima de si mesmo. O alienista julga loucos os revoltosos e prende
50 deles, facilitando a queda do Protetor. Novamente, Machado mostra o
caminho do Alienista em outra personagem.

No entanto, o tema principal e mais proeminentemente discutido por


Machado foi a classificação de patologia comparada a normalidade.
Inicialmente, Dr. Bacamarte internou casos aparentemente legítimos, como o
homem que se julgava a estrela d’alva. Contudo, seguiu rigorosamente as suas
teorias que classificavam qualquer desbalanço como patologia: a afetação
poética, a ignorância econômica e superstições.

O alienista, assim, sob o manto da ciência e sob o pretexto da loucura


internou pessoas saudáveis. Machado utilizou-se da comicidade e da ironia
para avisar-nos do futuro. A ciência pura e exata tornava-se progressivamente
poderosa em sua época e cada vez mais o pensamento subjetivo humano
perdia espaço em suas próprias especialidades, como a mente. Podemos
conectar esse pensamento de Machado com tratamentos de eletrochoque e
lobotomia, em última análise, pois esses foram provenientes da confiança
extrema em meios puramente exatos e que desconsideravam a parte humana
do indivíduo paciente.

Em última análise, o alienista é um aviso para as gerações futuras. É um


apelo para que tratemos humanamente os que confiam em nós. O autor se
utiliza de alegorias para mostrar um futuro com uma ciência desumanizada,
que ignora o fator humano e trata as pessoas com categorias em uma planilha,
assim como Bacamarte.

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