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Renascentismo: O Ser Humano No Foco Das Artes

É muito difícil que alguém nunca tenha ouvido falar sobre o Renascentismo, ou pelos seus diversos
outros nomes: Renascença, Renascimento, etc.

Mas o que na verdade aconteceu durante esse período que o deixou tão famoso? Mais do que isso,
como que essa época mudou e marcou as artes de uma forma tão lembrada até hoje?

Neste artigo, exploraremos um pouco sobre o que foi o movimento renascentista, suas característi-
cas e como elas foram refletidas das expressões artísticas da época. Vamos lá?

O que foi o Renascentismo?


O Renascentismo foi um movimento cultural, artístico, econômico e político que aconteceu entre
os séculos XIV e XVII. Esse período marcante na história teve início na Itália e em pouco tempo se
espalhou para mais países da Europa.

O movimento renascentista propôs diversas mudanças e transformações na sociedade durante o


período em que ficou vigente. O foco das discussões e questionamentos saíram do teocentrismo e
migraram para o antropocentrismo.

Essa nova perspectiva possibilitou o surgimento de novos estilos artísticos e novas correntes filosó-
ficas. Alguns estudiosos vão mais além e colocam no Renascentismo a responsabilidade da so-
breposição da Idade Média pela humanidade.
Contexto histórico do Renascentismo

Assim como em diversos momentos da história nos quais houve uma mudança ou acontecimento
relevante, não dá para responsabilizar apenas um único fator pelo surgimento do Renascentismo.

Existiram diversas questões que ajudaram e convergiram para o fortalecimento desse período.

Novos velhos ideais


Em primeiro lugar, vamos lembrar que o início do Renascentismo aconteceu na Itália, na região da
Toscana. Naquela época, os italianos estavam buscando reviver os ideais da Roma Antiga e da
antiguidade de forma geral. Havia bastante interesse em retomar a cultura antiga, através de es-
critos gregos.
Tais ideias faziam refletir sobre a condição humana e sobre todas as possibilidades de realizações e
descobertas que o ser humano poderia concretizar. Esse pensamento se opunha ao pensamento pri-
mordial da Idade Média, em que Deus e a religião eram os protagonistas dos questionamentos e da
inspiração dos seres humanos.

Por conta dessa vontade de retomada dos ideais da antiguidade é que esse período ficou conhecido
como Renascentismo, Renascença ou até mesmo Renascimento.
Platão: Um dos
filósofos da antiguidade clássica
No entanto, o que “renasceu” não foram exatamente as mesmas ideias culturais pagãs da antigu-
idade. Não houve rompimento efetivo com o Cristianismo, o que aconteceu foi a volta da apreci-
ação das artes e da cultura urbana, assim como na Antiguidade Clássica.

Portanto, um dos primeiros fatores para o fortalecimento do movimento renascentista é a retomada


dos ideias da antiguidade que colocavam o ser humano no protagonismo da própria vida.

Dica de Leitura: O Que é Concept Art?

As grandes navegações e o alcance de novos mundos


Outro fator importante para o período foi o avanço tecnológico marítimo, possibilitando o desen-
volvimento de grandes navegações e o alcance de novos lugares no mundo.

Não há dúvidas de que as grandes navegações ajudaram e impulsionaram o comércio na Europa, por
meio da colonização de novas terras e da possibilidade de negócios com outros países e regiões do
mundo.

Por conta disso, as transformações no mundo foram bem marcantes, abrindo espaço para o desen-
volvimento do capitalismo, a ascensão da burguesia e o fortalecimento da política monetária eu-
ropéia.
Uma nova classe social: a burguesia
As novas rotas marítimas e a expansão comercial — também fortalecida pelas Cruzadas — possibil-
itaram a transição do modelo feudalista para o mercantilista/ capitalista.

As atividades comerciais se intensificaram e as pequenas cidades conhecidas como burgos


começaram a se expandir também, abrigando não somente os comerciantes e artesãos, mas trabal-
hadores de maneira geral.

Com o fortalecimento e expansão dos burgos, uma classe social começou a surgir: a burguesia. Em
um primeiro momento, essa expressão se referia a qualquer um que morasse dentro dos burgos, mas
conforme o tempo começou a ser utilizada para denominar os comerciantes e pessoas ricas.
A burguesia foi bastante importante para o desenvolvimento cultural e artístico do renascentismo
porque começaram a patrocinar escritores, pintores e diversos artistas, num formato chamado
mecenato.

Mecenato no Renascentismo

A prática do mecenato não foi iniciada na renascença. Esse tipo de patrocínio veio da Antiguidade,
mas sofreu grande declínio durante a Idade Média.

E como vimos que um dos pilares do Renascentismo é o resgate de alguns ideais antigos, não é de
surpreender que a burguesia tivesse voltado com essa prática durante o período.
A questão é que o mecenato não era algo puramente e somente para ajudar artistas, mas tam-
bém tinha um papel politicamente relevante. Os mecenas, ou seja, os ricos que patrocinavam artis-
tas, tinham uma projeção política e econômica em paralelo ao incentivo à cultura e às artes.

Portanto, ser um mecenas era um meio da burguesia se afirmar socialmente e garantir mais poderes
e relevância naquela sociedade que estava saindo da Idade Média e entrando na Idade Moderna.

A burguesia foi importante para a ascensão do Renascentismo porque incentivou e financiou fig-
uras artísticas importantes que já estavam com um pensamento menos baseado no teocentrismo e
mais no antropocentrismo.
A invenção da Imprensa
Outro fator essencial para o fortalecimento do Renascentismo foi a invenção da imprensa, pelo
alemão Johann Gutemberg.

Gutemberg inventou a máquina de imprensa entre os anos de 1439 e 1440 e revolucionou os meios
de informação da sociedade.

Com a máquina de imprensa a cópia de manuscritos se tornou muito mais fácil e barata, facilitando
o acesso a livros por todas as camadas da sociedade.
Num primeiro momento, Gutemberg fez cópias da bíblia, mas a máquina de imprensa se tornou
muito importante na divulgação dos ideias protestantes de Martinho Lutero e de filósofos, cientistas,
pensadores e artistas renascentistas.

A utilização da imprensa possibilitou que todas essas novas ideias alcançassem rapidamente
mais pessoas, fazendo com que o Renascentismo e seus ideais ficassem populares.

A Reforma Protestante
O último fator que vamos mencionar nesse texto e que ajudou a fortalecer o movimento renascen-
tista na Europa foi a Reforma Protestante.
Em linhas gerais, a Reforma Protestante foi uma reforma religiosa que criticava diversas ações da
igreja católica na época. Apesar de seus motivos iniciais serem de fato religiosos, havia também
muitos conflitos políticos e econômicos que ajudaram a fortalecer a reforma.

O líder do movimento foi Martinho Lutero e a Reforma Protestante se espalhou rapidamente e foi
absorvida por diversas outras pessoas, como João Calvino.
Martinho Lutero
A Reforma foi importante para o Renascentismo pois claramente fragilizou a igreja católica e per-
mitiu que novos pensamentos religiosos surgissem e se popularizassem, como o protestantismo e
o anglicanismo.

Além disso, a reforma fortaleceu os princípios econômicos e políticos da burguesia, alimentando os


ideais capitalistas.

Ou seja, a igreja católica enfraquecida, o maior foco do ser humano em si próprio e o crescimento
do capitalismo e da burguesia foram essenciais para que o período Renascentista de fato se tornasse
um movimento relevante na história, tanto pela perspectiva econômica e social, quanto pela artística
e cultural.
Dica de Leitura: Luz – A Matéria-Prima Da Fotografia

Características do Renascentismo

Assim como todo momento e movimento importante da história, o Renascentismo possuiu diversas
características marcantes que puderam diferenciar esse período dos demais.

Nós já passamos brevemente por algumas dessas características no começo desse texto, como o
antropocentrismo, por exemplo. Nessa seção, vamos nos aprofundar e conhecer outras particulari-
dades do renascimento.

Antropocentrismo
O antropocentrismo foi uma das particularidades mais evidentes e marcantes do Renascentismo,
surgindo como um contraponto e, de certa forma, uma oposição ao teocentrismo da Idade Média.

A linha de pensamento do antropocentrismo coloca o ser humano no centro do universo e como uma
criação perfeita da natureza. Nesse sentido, o antropocentrismo pregava a importância do homem e
ressaltava a sua liberdade de ação no mundo.

A independência do ser humano em relação à religião possibilitou a reflexão, criação e produção de


diversos outros conhecimentos, dando origem a grandes descobertas no ramo da ciência.
No entanto, apesar de haver essa mudança de foco entre a religião e o ser humano, o antropocen-
trismo não deixou de lado a crença em Deus, que continuou sendo muito importante para a vida das
pessoas.

A questão é que a religião deixou de ser a única fonte de verdade e de conhecimento, sendo estes
buscados, no antropocentrismo, através da razão e não da crença ou da fé.

Humanismo e Individualismo
O Humanismo está bastante ligado ao antropocentrismo por representar a valorização ao ser hu-
mano. No período Renascentista, foi o retorno aos ideais clássicos que originou o pensamento hu-
manista.
Assim como o antropocentrismo, o humanismo não renega a religião, mas dá ênfase à ciência e ao
empirismo ao invés da espiritualidade e ao sobrenatural. Ser humanista é dar importância à capaci-
dade humana.

Em linha com o pensamento humanista, temos também o individualismo, muito marcante no


período Renascentista.
O Individualismo está relacionado ao auto reconhecimento, em termos de personalidade, talentos e
ambições do indivíduo. Essa linha de pensamento coloca a individualidade acima do coletivo.
Racionalismo e Cientificismo
Tendo como base e características a valorização do ser humano e da busca pela verdade através das
observações, outros valores importantes da renascença foram o Racionalismo e o Cientificismo.

O Racionalismo valoriza a razão como principal forma de adquirir conhecimento, prezando pela ob-
servação e pelo empirismo.

A partir disso, o Cientificismo valoriza a ciência e a coloca acima das outras diversas formas com as
quais é possível compreender o mundo e o ser humano, como a filosofia e a religião, por exemplo.
No entanto, é importante ressaltar que o Cientificismo não prega uma doutrina da teoria, em que
devemos aplicar a ciência em todos os níveis e situações da vida. A questão é utilizar a ciência como
uma lente para desvendar os diferentes mistérios do mundo, ao mesmo tempo em que são feitas de-
scobertas científicas e tecnológicas.

No Renascentismo, houve diversos cientistas cujas descobertas mudaram as perspectivas do mundo,


como:

● Nicolau Copérnico;
● Galileu Galilei;
● Isaac Newton;
● Leonardo da Vinci;
● Francis Bacon;
● René Descartes.

Universalismo
O Universalismo valorizou o conhecimento das pessoas em diversas áreas, como filosofia, liter-
atura, botânica, física, entre diversas outras.

O período renascentista foi marcado pela expansão do ensino através de escolas, faculdades e uni-
versidades.
Como consequência do Universalismo, muitas pessoas eram consideradas polímatas, ou seja, pos-
suíam diversas qualificações profissionais.

Leonardo Da Vinci, por exemplo, era poeta, inventor, pintor, geólogo, escultor, mecânico, e atuante
em diversas outras áreas ainda.

As expressões artísticas do Renascentismo

As características do período renascentista influenciaram diversas áreas culturais e artísticas, princi-


palmente por conta da mudança de foco, antes religioso e então no ser humano.
Essa mudança de pensamento não foram expressas somente em pinturas ou esculturas, mas também
estiveram bastante presentes na arquitetura e na literatura.

Arquitetura
Na arquitetura destacaram-se nomes como:

● Leon Battista Alberti;


● Filippo Brunelleschi;
● Donato Bramante;
● Andrea Palladio;
● Michelangelo Buonarotti.
Arquitetura de Fil-
ippo Brunelleschi
Uma das principais mudanças na arquitetura foi a sua emancipação da pintura e da escultura,
antes vistos como algo único. Além disso, priorizaram-se ordens matemáticas para a construção das
estruturas, mas sempre prezando pela simplicidade.

Dica de Leitura: Perspectiva: Aprenda Como Utilizar Essa Técnica Nas Artes Visuais

Pintura
A pintura talvez tenha sido a manifestação artística que mais se fortaleceu durante o Renascentismo
e na qual surgiram grandes nomes, como:
● Leonardo da Vinci;
● Michelangelo;
● Rafael;
● Paolo Uccello;
● Lucas Signorelli;
● Ghirlandaio.
Mona Lisa, de
Leonardo da Vinci
O pensamento antropocêntrico também foi algo bastante explorado nas pinturas, enaltecendo o ser
humano e trazendo mais realismo para os trabalhos.

Além disso, foi bastante comum no período a utilização de técnicas diferentes, como a perspectiva,
luz e sombra, e tintas à óleo.

Outra característica marcante foi o fortalecimento de estilos pessoais dos artistas. Apesar de viverem
na mesma época e beberem da mesma fonte renascentista, os pintores começaram a desenvolver es-
tilos próprios de trabalho, ressaltando o individualismo do período.

Literatura
A literatura foi outra expressão artística muito influenciada pelo Renascentismo, contemplando as
principais ideias do período como o antropocentrismo e o humanismo.

A criação da imprensa beneficiou bastante a literatura da renascença porque possibilitou que


autores pudessem alcançar mais pessoas de forma mais rápida. Isso fez também com que as obras
fossem escritas em idiomas nativos e não somente em latim, francês ou provençal.

Dos autores mais marcantes da renascença podemos citar:

● Dante Alighieri;
● William Shakespeare;
● Miguel de Cervantes;
● Luís de Camões;
● Nicolau Maquiavel.
A Divina Comédia,
de Dante Alighieri
O impacto do Renascentismo nas artes e no Design
O impacto da renascença foi bastante significativo, não somente no que diz respeito à cultura e artes,
mas no mundo como um todo.

O olhar mais científico abriu novas portas e perspectivas, além da mudança econômica e social que
o período proporcionou.

Nesse contexto, as artes e o design foram bastante impactados pelo renascentismo de diversas
formas. Desde a adoção de novas técnicas, como a perspectiva em pinturas, até o uso da lógica
matemática na arquitetura.
Além disso, a visão antropocêntrica foi importante para começarmos a refletir sobre o homem, pela
própria visão do homem. Colocar o ser humano no centro pode ser muito familiar para quem tra-
balha com UX Design.

Mas não faça falsas associações. Não dá para falar que a experiência do usuário foi uma consequên-
cia direta da renascença. No entanto, a importância de uma nova visão abriu muitos caminhos cul-
turais e artísticos que influenciaram o design nos séculos seguintes, até chegarmos na atualidade e
no UX e UI Design.

Expansão Marítima Europeia


A Expansão Marítima Europeia foi um dos maiores feitos realizados pela humanidade, a superação
dos perigos reais e imaginários e a transposição dos oceanos promoveram a partir do século XV,
uma intensa globalização.

Grandes Navegações. Perigos reais e imaginários


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A partir do século XV, sob a liderança de portugueses e espanhóis, os europeus começam um pro-
cesso de intensa globalização, a chamada Expansão Marítima. Este fato também ficou conhecido
como as Grandes Navegações e tinha como principais objetivos: a obtenção de riquezas (atividades
comerciais) tanto pela exploração da terra (minerais e vegetais) quanto pela submissão de outros
seres humanos ao trabalho escravo (indígenas e africanos), pela pretensão de expansão territorial,
pela difusão do cristianismo (catolicismo) para outras civilizações e também pelo desejo de aventura
e pela tentativa de superar os perigos do mar (real e imaginário).
Sendo assim, preconizaremos nossa análise no desejo de aventura e superação dos perigos do mar.
Será que no momento das Grandes Navegações os europeus acreditavam realmente que o planeta
Terra tinha o formato de um quadrado? E que nos mares existiam monstros tenebrosos?

Sempre que lemos textos sobre a Expansão Marítima Europeia é comum encontrarmos referências
aos perigos dos mares, a inexperiência e inexatidão dos navegadores, esses textos nos dão a im-
pressão de que os europeus não tinham nenhum aparato técnico e tecnológico para a época, e
parece-nos que quando iriam lançar-se ao mar, estariam caminhando na escuridão, sem visão e sem
destino. Quem nunca ouviu dizer ou leu sobre a chegada dos portugueses ao território do atual
Brasil, que esses queriam ir às Índias e se perderam e acabaram chegando à América! Então,
chegaram aqui por acaso?

Primeiramente devemos pensar como essas ideias (terra quadrada, mar tenebroso, monstros, zonas
tórridas) foram surgindo no pensamento e mentalidade dos europeus no século XV. Desde a Idade
Média a Igreja Católica era detentora de enormes poderes políticos e espirituais (religioso). Por-
tanto, a Igreja disseminava teorias sobre as coisas naturais, humanas e espirituais para exercer
prontamente o seu poder. Geralmente, aqueles que contrariavam as teorias Teocêntricas da Igreja
sofriam sérias perseguições. Além do mais, o catolicismo exercia a proibição e a censura de certos
livros, principalmente dos filósofos da antiguidade clássica (Platão, Aristóteles, Sócrates).

Esta situação somente começou a mudar com o advento do renascimento urbano e comercial. Per -
mitindo outras possibilidades de leituras do mundo, das coisas naturais, humanas e espirituais.
Sendo assim, o infante português D. Henrique iniciou em Sagres (Sul de Portugal) um local de estu-
dos que reuniu navegadores, cartógrafos, cosmógrafos e outras pessoas curiosas pelas viagens marí-
timas.

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Este local de estudos ficou conhecido como Escola de Sagres, nesta escola desenvolveram novos es-
tudos sobre técnicas de navegação, aperfeiçoaram a bússola, o astrolábio (ferramentas de orientação
geográfica), produziram constantes mapas das rotas pelos oceanos e criaram novos tipos de embar-
cação, por exemplo, as caravelas, mais leves e movidas por velas latinas de formato triangular, que
facilitavam as manobras em alto mar e propiciavam percorrer maiores distâncias.
As diferenças são nítidas entre o acaso de navegar e a precisão nas navegações, se analisarmos ma-
pas feitos anteriormente à Escola de Sagres, percebemos nestes a presença de monstros nas ilus-
trações dos oceanos como obstáculos dos navegadores, outro aspecto importante nestes mapas era a
presença de anjos desenhados no céu, representando a proteção aos navegadores, como se esses an-
jos estivessem protegendo as embarcações.

Além de superar os perigos reais (as tempestades, as danificações nas embarcações, as doenças, a
fome e a sede), os navegadores, pela mentalidade medieval, ainda tinham que superar os medos
imaginários (os monstros marinhos, a zona tórrida, a dimensão plana do planeta, quanto mais naveg-
avam mais próximos estariam do abismo). Acreditamos que a presença dos medos imaginários exis -
tiu, mas as inovações técnicas e tecnológicas (Escola de Sagres) propiciaram outro “olhar” para as
navegações, permitindo a Expansão Marítima Europeia.

A difusão da ideia da chegada ao continente americano por parte dos portugueses não passa de um
possível enaltecimento dos feitos lusitanos, que teriam enfrentado o mar tenebroso e heroicamente
encontrou o “Novo Mundo”. Sobre a desconstrução do acaso (se perderam e chegaram a América),
temos relatos que comprovam que outros navegadores chegaram antes de Pedro Álvares Cabral
(abril de 1500), forma eles: o italiano Américo Vespúcio (1499), o espanhol Vicente Pinzón (1499),
e Diego de Lepe (janeiro de 1500), mas não tomaram posse da terra.

Portanto, se outros navegantes passaram pelo litoral do atual Brasil antes da esquadra de Cabral,
possivelmente eles saberiam o trajeto para chegar. Nos relatos dos tripulantes, não há referência a
tempestades e turbulências no mar; pois mesmo se estivessem perdidos no mar a bússola e o as-
trolábio (tecnologia da época) orientariam os navegadores geograficamente, e com certeza saberiam
a posição que se encontravam.

As visões do Novo Mundo


A Europa majestosa e a América selvagem: um exemplo
da visão de mundo do colonizador.
Ao falarmos sobre a expansão marítimo-comercial, costumamos salientar um amplo número de razões
políticas e econômicas que possibilitaram a ocorrência de tal fato histórico. Sem dúvida, tais fatores são de
fundamental compreensão para esse novo momento em que os homens saem de sua terra natal para desco-
brirem outras localidades e povos ao redor do mundo. Contudo, essa ambição material não encerra as possi-
bilidades de explicação vinculadas às grandes navegações.

Partindo para um outro referencial interpretativo, devemos nos ater ao fato de que várias histórias sobre ter-
ras longínquas cercadas de maravilhas e criaturas terríveis circulavam entre os europeus mesmo antes da
real descoberta de outros continentes. Entre outros documentos podemos salientar o “Livro das Maravilhas”,
obra escrita pelo navegador italiano Marco Pólo, em que relata a exuberância e riqueza de distantes civiliza-
ções do Oriente.

Tendo forte traço medieval, esses relatos tinham base no pensamento religioso cristão ao alternarem relatos
que faziam lembrar a busca do paraíso perdido ou a temível descoberta do inferno. Além disso, várias con-
cepções científicas anteriores a esse período defendiam a compreensão da terra como um grande plano limi-
tado por um grande abismo, onde se encontravam feras terríveis. Dessa forma, o desejo pelo novo e o temor
do desconhecido traziam uma contradição à aventura pelo mar.
Essa visão maniqueísta de origem medieval não foi simplesmente abandonada a partir do momento em que
os navegantes europeus criaram técnicas de navegação seguras e desmentiram vários dos mitos sobre as ter-
ras distantes. Ao chegarem à América, por exemplo, alguns viajantes costumavam falar sobre os costumes
“demoníacos” das populações nativas e da “riqueza infindável” encontrada naquele novo ambiente que os
cercava.

Utilizando dos próprios registros cartográficos do século XVI temos uma série de imagens e gravuras que
demonstravam essa concepção de maneira ainda mais clara. Em alguns mapas, cada continente era descrito
por meio da representação de quatro diferentes mulheres, sendo a Europa o símbolo de altivez e soberania; a
África, uma negra cercada por animais selvagens e com poucos ornamentos; a Ásia, uma princesa cercada
de especiarias; e a América, uma jovem nua selvagem.
A partir disso, podemos compreender que as grandes navegações de fato assinalam um novo momento da
História onde os homens europeus ampliavam sua visão de mundo. Contudo, esse momento ainda se
mostrava impregnado de várias permanências em que os valores religiosos cristãos e a mitologia medieval
se mostravam claramente vivos na mente daqueles homens que partiam para o mar.

Novo Mundo trata-se de como é nomeado o hemisfério ocidental, com o mesmo se originando no fim do século X
A princípio, Novo Mundo
era usado para referir-se somente a América do Sul
Para entendermos o conceito de Novo Mundo, antes é necessário entender o que é o Velho Mundo. Esses

dois termos, assim como também o Novíssimo Mundo, foram criados para referir-se aos continentes em

determinados períodos.

O Velho Mundo nomeia o que os europeus viam no século VX, que eram os seguintes continentes: África,

Ásia e Europa. Já o Novo Mundo dizia respeito ao novo continente descoberto, que foi a América. En-

quanto isso, o Novíssimo Mundo referia-se a Oceania, continente que foi descoberto séculos mais tarde.

Esses termos são ainda importantes porque ajudam a fazer a classificação das espécies de animais e vegetais

que foram estabelecidas ali.


Novo Mundo era usado apenas para se referir a América do Sul, posto que a América do Norte ainda não

havia sido totalmente descoberta. Inclusive, o pintor Leonardo da Vinci havia criado um globo no ano de

1504 onde nele não havia ainda a América do Norte e nem a América Central.

Ao longo da história, muitos mapas e globos foram criados, sendo que boa parte deles retratava a América

do Norte a Ásia existindo com uma conexão de terra, tal como aconteceu com o Globo de Johannes. Mas isso

mudou quando se fez a descoberta do chamado Estreito de Bering (que faz ligação entre os oceanos Ártico e

Pacífico) no século XVII, obtendo então uma afirmação de que não era assim.

Índice de tópicos
● Primeiro uso do termo “Novo Mundo”
● Vespúcio (Vespucci) ou Martyr
● Sob um conceito biológico e na agricultura
● Novo Mundo e vinho

Primeiro uso do termo “Novo Mundo”


Teria sido Américo Vespú-
cio o responsável pela introdução do termo Novo Mundo
Foi após Cristóvão Colombo colonizar as Américas que o termo Novo Mundo passou a ser usado. E tal

termo é ainda utilizado no contexto histórico, sempre que se faz a discussão desse e de outros eventos que

possuam alguma relação com tal conceito.

É creditado ao explorador Américo Vespúcio a criação do termo Novo Mundo. O mesmo o teria apresen-

tado em 1503, numa carta que ele mesmo escreveu para o seu amigo Lorenzo di Pier Fracesco de

‘Medici. O título da carta, qual estava em latim, era “Mundos Novus”.

Com essa carta, Vespúcio estaria confirmando que as terras que Cristóvão Colombo descobriu não se

tratavam de uma parte da Ásia, senão que eram um novo continente ou, como chamou, um Novo Mundo.
É válido contar que Vespúcio fez um comparativo entre o que encontrou no Brasil, quando ali

chegou no ano de 1502, e o que os marinheiros que retornavam da Ásia lhe contavam. E tem-

pos depois ele faria um mapeamento pela costa leste do Brasil, que foi de 1501 a 1503, tendo

ele retornado do país em 1503, seguindo para Portugal, onde ele escreveu a carta para seu

amigo relatando sobre esse Novo Mundo.

A carta escrita por Vespúcio tornou-se conhecida e passou a ser traduzida para outros idiomas,

chegando a muitos países.

No entanto, termos similares já haviam sido utilizados antes desse (a exemplo disso tem-se o

termo “um altro mundo”, que significa “um outro mundo”, o qual foi usado pelo explorador
Alvise Cadamosto. No entanto, Alvise usou o termo apenas como estilismo literário, não

sendo o mesmo algo que remetia a uma nova parte do mundo.

Vespúcio (Vespucci) ou Martyr


O escritor Peter Martyr, que relatava em textos as descobertas de Cristóvão Colombo (isso

desde o ano de 1493), acaba, em muitas ocasiões, sendo creditado como um dos que ajudou a

criar o termo Novo Mundo. Martyr havia usado a expressão “Orbe Novo” (“Novo Globo”),

que muitas das vezes acaba sendo traduzido como “Novo Mundo”, numa história que ele

havia escrito relatando a descoberta da América.


Sob um conceito biológico e na agricultura
Já no que tange a biologia, Novo Mundo e Velho Mundo, por exemplo, ainda serviriam para

distinguir certas espécies de animais. Desse modo, há espécies encontradas no Novo Mundo e

outras encontradas apenas no Velho Mundo. Por exemplo: corvos do Novo Mundo.

Mas há ainda o uso do termo relacionado a agricultura.

Algumas culturas e animais que eram comuns no Velho Mundo não existiam no Novo Mundo, sendo

posteriormente introduzidos ali (a partir dos anos de 1490). O continente asiático, o europeu e o

africano faziam o compartilhamento de uma agricultura similar, com origem na Revolução Neolítica,

sendo que os mesmos animas e as mesmas plantas eram ali cultivados e criados.
No entanto, há muitas culturas que são comuns do Novo Mundo, tendo ali se originado. A exemplo

disso se tem culturas como da mandioca, abacate, tomate, milho e feijão.

Novo Mundo e vinho


Mas, há ainda o uso do termo com relação ao vinho. Nesse caso, quando se fala em vinhos do Novo

Mundo, não se está compreendendo somente os vinhos das Américas, como ainda vinhos produzidos

na Nova Zelândia e África do Sul, por exemplo. Mas essas seriam apenas regiões que estivessem além

das vinícolas tradicionais europeias, da África do Norte e, ainda, do Oriente Próximo.

Novo Mundo trata-se de como é nomeado o hemisfério ocidental, com o mesmo se originando no fim do século X
A princípio, Novo
Mundo era usado para referir-se somente a América do Sul
Para entendermos o conceito de Novo Mundo, antes é necessário entender o que é o Velho Mundo. Esses dois term

sim como também o Novíssimo Mundo, foram criados para referir-se aos continentes em determinados períodos.

O Velho Mundo nomeia o que os europeus viam no século VX, que eram os seguintes continentes: África, Ásia e

Já o Novo Mundo dizia respeito ao novo continente descoberto, que foi a América. Enquanto isso, o Novíssimo M

referia-se a Oceania, continente que foi descoberto séculos mais tarde.

Esses termos são ainda importantes porque ajudam a fazer a classificação das espécies de animais e vegetais que f

tabelecidas ali.
Novo Mundo era usado apenas para se referir a América do Sul, posto que a América do Norte ainda não havia sid

mente descoberta. Inclusive, o pintor Leonardo da Vinci havia criado um globo no ano de 1504 onde nele não hav

a América do Norte e nem a América Central.

Ao longo da história, muitos mapas e globos foram criados, sendo que boa parte deles retratava a América do Nor

existindo com uma conexão de terra, tal como aconteceu com o Globo de Johannes. Mas isso mudou quando se fe

scoberta do chamado Estreito de Bering (que faz ligação entre os oceanos Ártico e Pacífico) no século XVII, obten

tão uma afirmação de que não era assim.

Índice de tópicos
● Primeiro uso do termo “Novo Mundo”
● Vespúcio (Vespucci) ou Martyr
● Sob um conceito biológico e na agricultura
● Novo Mundo e vinho

Primeiro uso do termo “Novo Mundo”


Teria sido Américo
Vespúcio o responsável pela introdução do termo Novo Mundo
Foi após Cristóvão Colombo colonizar as Américas que o termo Novo Mundo passou a ser usado. E tal

termo é ainda utilizado no contexto histórico, sempre que se faz a discussão desse e de outros eventos

que possuam alguma relação com tal conceito.

É creditado ao explorador Américo Vespúcio a criação do termo Novo Mundo. O mesmo o teria apre-

sentado em 1503, numa carta que ele mesmo escreveu para o seu amigo Lorenzo di Pierfrancesco de

‘Medici. O título da carta, qual estava em latim, era “Mundos Novus”.


Com essa carta, Vespúcio estaria confirmando que as terras que Cristóvão Colombo descobriu não se

tratavam de uma parte da Ásia, senão que eram um novo continente ou, como chamou, um Novo

Mundo.

É válido contar que Vespúcio fez um comparativo entre o que encontrou no Brasil, quando ali

chegou no ano de 1502, e o que os marinheiros que retornavam da Ásia lhe contavam. E tem-

pos depois ele faria um mapeamento pela costa leste do Brasil, que foi de 1501 a 1503, tendo

ele retornado do país em 1503, seguindo para Portugal, onde ele escreveu a carta para seu

amigo relatando sobre esse Novo Mundo.


A carta escrita por Vespúcio tornou-se conhecida e passou a ser traduzida para outros idiomas,

chegando a muitos países.

No entanto, termos similares já haviam sido utilizados antes desse (a exemplo disso tem-se o

termo “um altro mundo”, que significa “um outro mundo”, o qual foi usado pelo explorador

Alvise Cadamosto. No entanto, Alvise usou o termo apenas como estilismo literário, não

sendo o mesmo algo que remetia a uma nova parte do mundo.

Vespúcio (Vespucci) ou Martyr


O escritor Peter Martyr, que relatava em textos as descobertas de Cristóvão Colombo (isso

desde o ano de 1493), acaba, em muitas ocasiões, sendo creditado como um dos que ajudou a
criar o termo Novo Mundo. Martyr havia usado a expressão “Orbe Novo” (“Novo Globo”),

que muitas das vezes acaba sendo traduzido como “Novo Mundo”, numa história que ele

havia escrito relatando a descoberta da América.

Sob um conceito biológico e na agricultura


Já no que tange a biologia, Novo Mundo e Velho Mundo, por exemplo, ainda serviriam para

distinguir certas espécies de animais. Desse modo, há espécies encontradas no Novo Mundo e

outras encontradas apenas no Velho Mundo. Por exemplo: corvos do Novo Mundo.

Mas há ainda o uso do termo relacionado a agricultura.


Algumas culturas e animais que eram comuns no Velho Mundo não existiam no Novo Mundo, sendo posteriorme

troduzidos ali (a partir dos anos de 1490). O continente asiático, o europeu e o africano faziam o compartilhament

uma agricultura similar, com origem na Revolução Neolítica, sendo que os mesmos animas e as mesmas plantas e

cultivados e criados.

No entanto, há muitas culturas que são comuns do Novo Mundo, tendo ali se originado. A exemplo disso se tem c

como da mandioca, abacate, tomate, milho e feijão.

Novo Mundo e vinho


Mas, há ainda o uso do termo com relação ao vinho. Nesse caso, quando se fala em vinhos do Novo Mundo, não s

compreendendo somente os vinhos das Américas, como ainda vinhos produzidos na Nova Zelândia e África do Su
exemplo. Mas essas seriam apenas regiões que estivessem além das vinícolas tradicionais europeias, da África do

ainda, do Oriente Próximo.

A modernidade

Observe as duas imagens do início do texto e pense quais relações elas têm com a modernidade? O
que vocês entendem por modernidade?

Praticamente é impossível estabelecer um acontecimento e garantir que “ali” se originou a mod-


ernidade”. Todavia, existem alguns fatores históricos que marcam essa “virada” que vai transformar
as relações sociais no mundo inteiro.

Os principais fatores são:

A Revolução Industrial: com o aperfeiçoamento do motor a vapor, em 1777, por James Watt, que
identificou falhas nos motores anteriores, que demoravam muito para aquecer, ao introduzir dois
cilindros na máquina. A partir disso, toda a noção de tempo, trabalho e lucro seria transformada pro-
fundamente. Tal transformação do tempo e espaço a partir do trabalho permanece até hoje.

A Revolução Francesa: período revolucionário que explodiu no dia 5 de maio de 1789 e que der-
rubou a monarquia francesa e questionou todos os valores éticos e morais. É a partir desse marco
que valores como igualdade, liberdade, fraternidade (esses se tornam o lema da Revolução
Francesa) passam a ocupar o vocabulário popular. Esse momento foi importante para criar as bases
daquilo que entendemos como Estado, participação, voto, representatividade, enfim, uma série de
valores políticos que ainda hoje são discutidos.

A razão: a modernidade no campo das ciências humanas e exatas tem o seu fundamento com René
Descartes, a partir de sua frase mais conhecida “Cogito, ergo sum” ou “Penso, – portanto, sou”. Para
os tempos atuais e de massificação de frases a partir dos memes, hoje, essa sentença pode parecer
banal, porém, na época, Descartes trazia a razão para o centro do raciocínio, frente ao pensamento
metafísico imposto pelas religiões. Tal virada epistêmica ficou conhecida como Racionalismo.
Podemos observar as mudanças impressas no campo científico por meio da imagem abaixo:
Essa alteração na forma de pensar, empreendida por Descartes, ocorreu na primeira metade do
século XVII, ou seja, antecedeu e influenciou as revoluções francesa e industrial e todo pensamento
posterior. Nesse sentido, esses três momentos marcam uma nova etapa na maneira de pensar e de ol-
har sobre o mundo, logo, são eles que fundam a modernidade e, de uma maneira ou de outra, ainda
hoje continuam a influenciar os debates. Por exemplo, as sociedades ainda são organizadas pelo
tempo e calendário do trabalho, fator que surge com a modernidade a partir do século XVIII e per-
manece até hoje.

O outro lado da modernidade

Se por um lado a Modernidade é esse tempo histórico que se inicia com profundas transformações
nas mentalidades, na maneira de pensar o mundo, o tempo – que passa a ser controlado pelo tra-
balho -, é também neste momento que temos o aprofundamento da hierarquização das raças e a con-
strução daquilo que conhecemos como Europa enquanto o centro do mundo e valor moral, fazendo
do resto do mundo apenas espaços de reprodução do conhecimento produzido na Europa (eurocen-
trismo), ou seja, é na modernidade que o racismo e o tempo arcaico são inventados.
Uma das marcas da modernidade é a dominação do homem sobre o homem e isso se deu de variadas
maneiras: colonização, escravização e guerras. Esta última teve dois auges: a I e a II Guerra
Mundial, que também trouxe a outra grande marca da modernidade: a barbárie. Tanto a primeira
quanto a segunda guerra mundial marcaram profundamente e fizeram com que artistas e políticos
passassem a dedicar uma vida contra as guerras ou refletir sobre as mazelas construídas pela ganân-
cia humana.

A hierarquia das raças e a colonização de países fez também com que outra questão surgisse: povos
modernos (no sentido estético e histórico) e os povos arcaicos, também no sentido estético e
histórico. Esse tipo de divisão do planeta e da história tem sido questionado nos últimos 40 anos por
duas correntes de pensadoras e pensadores das Ciências Humanas: os Estudos da Subalternidade e
os Estudos Decoloniais, que têm questionado e abandonando essa divisão binária da história entre
modernos e arcaicos.

O que é a modernidade?

Imagine a seguinte situação: numa consulta de rotina, com seu médico, José descobriu que tem uma
doença grave. Ele, então, junto com seus amigos e familiares, começou uma campanha de oração
pedindo a Deus a cura. Você conhece alguém que viveu uma experiência como essa? Em casos
como esse aparece bem nítida uma característica marcante dessa época histórica que chamamos de
modernidade: a convivência de diferentes tempos históricos.

As épocas históricas

A vida do ser humano pode ser resumida em buscar formas de satisfazer as suas necessidades, você
concorda? A história é uma ciência que procura esclarecer como o homem satisfaz quatro grandes
necessidades: 1. explicar o mundo, para isso o homem produz cultura; 2. viver em grupo, para isso
ele produz os fatos sociais; 3. produzir bens materiais, para isso ele produz a economia; 4. adminis-
trar os conflitos da vida em grupo, para isso produz a política. Acontece que essas formas mudam
com o tempo, vão sendo melhoradas, às vezes pioradas, estão em constante transformação. Obser-
vando a forma que a cultura, a sociedade, a economia e a política assumem e como elas se combi-
nam entre si, os historiadores estabelecem as épocas históricas – que são referências para dizer
quando alguma coisa começou e terminou. Mas estabelecer uma época histórica é sempre um tema
que gera discussões, tamanha a dificuldade que isso envolve. A Modernidade é um exemplo disso:
pivô de grandes controvérsias. Mas há consensos sobre as suas características.
A modernidade é uma época histórica

Comparando com a Idade Média, a época histórica imediatamente anterior à Modernidade, suas car-
acterísticas ficam mais ressaltadas. A explicação para o mundo predominante na modernidade é a
ciência, já na Idade Média era a religião. A sociedade medieval era estamental, ou seja, a posição
social de cada um era determinada pelo nascimento e a mudança era quase impossível. A mod-
ernidade caracteriza-se pela passagem dessa sociedade estamental para a sociedade de classes, onde
o lugar social que cada um ocupa é determinado pela quantidade de bens que a pessoa possui e a
mobilidade social é bem maior – uma pessoa pode ascender socialmente se conseguir adquirir
muitos bens. A forma de organização econômica predominante na Modernidade é o capitalismo, que
se baseia na propriedade privada dos meios de produção, na grande circulação de moeda através do
comércio, no trabalho assalariado. Enquanto que na Idade Média predominava o feudalismo, em que
a relação de trabalho predominante era a servil, a circulação de moeda e o comércio eram se-
cundários. A política na Modernidade caracteriza-se pela existência de Estados centralizados fortes,
inicialmente constituindo-se monarquias para, em seguida, predominar a instauração de repúblicas.
Na Idade Média não havia Estados centralizados autônomos, o centro de poder mais proeminente
era o da Igreja Católica, ou seja, o poder político era exercido sob tutela do poder religioso.
Mas os pontos problemáticos em torno do estabelecimento da Modernidade são muitos. Em
primeiro lugar, o problema da datação: quando começa e quando termina? Há quem entenda o Re-
nascimento, o Humanismo, a Reforma Protestante, as Grandes Navegações, portanto o século XVI,
como o início da Modernidade. Há também quem trabalhe com a ideia de que a Modernidade
começou no século XVIII, com o Iluminismo e a Revolução Francesa. Outro ponto de debate é so-
bre o seu final. Em meados do século XX, surgiram estudiosos dizendo que já se vivia a pós-mod-
ernidade, ou seja, uma época histórica posterior à modernidade enquanto outros dizem que hoje
ainda vivemos nela.

Outro problema importante é que com a modernidade instaurou-se uma explicação para a sua
própria história baseada em juízo de valor. O que isso quer dizer? Quer dizer que os homens moder-
nos começaram a achar que o moderno é melhor do que o não-moderno. As características da Mod-
ernidade – ciência, sociedade de classe, capitalismo, Estado centralizado – transformaram-se em
símbolo do que há de mais adiantado no mundo.

Isso nos leva a outro problema, talvez o principal. O que conhecemos por Modernidade, na verdade,
é o que aconteceu na Europa. Ciência, classe social, capitalismo, Estado ganharam as formas que as
sociedades europeias desenvolveram para satisfazer àquelas necessidades que o ser humano tem.
Noutras partes do mundo, as sociedades encontraram outras formas. Mas como os europeus im-
puseram seu ponto de vista, as formas que os outros povos encontraram de cultura, sociedade,
economia e política acabaram sendo consideradas inferiores. O resultado é que outros povos, como
na América, o Brasil, inclusive, acabou adotando o modelo europeu. Então, outros povos, noutros
lugares, desenvolveram aquele modelo, mas alcançando desenvolvimentos diferentes em tempos
diferentes.

O fato é que a Modernidade é uma época em que o modelo europeu se espalha pelo mundo e se
torna predominante. Isso faz com que essa época histórica seja marcada pela convivência de carac-
terísticas de diferentes épocas. Trocando em miúdos quer dizer que há lugares como o Brasil onde o
capitalismo convive com formas econômicas da Idade Média, a ciência convive com explicações re-
ligiosas ou mágicas, a república mantém práticas medievais dentro de suas instituições, etc.

A formação do Estado moderno

O que é o Estado? (não é o estado de Goiás)


Sempre tem gente querendo mandar nos outros – mandar é exercer poder. O poder é uma caracterís-
tica inerente às relações humanas. O Estado é uma forma de resolver essa questão, definir regras de
como o poder deve ser exercido.

O Estado, com E maiúsculo, é uma instituição que caracteriza a forma de organização política que
temos. Basicamente, ele é um poder centralizado, instituído para administrar a vida das pessoas num
determinado território. Essa forma de organização política, que hoje nos parece tão sólida e até natu-
ral, como toda realização humana, na verdade, é resultado de séculos e séculos – e até milênios – de
construção marcada por disputas e lutas. No final da Idade Média, na Europa, pouco a pouco,
emergiu a forma de Estado que temos hoje, o Estado moderno, dando origem à atual divisão política
do mundo em países.

Os reis vão fortalecendo seu poder

O Estado moderno constituiu-se a partir do fortalecimento do poder do rei em relação à nobreza. O


rei passou a ter sob seu controle a cobrança de impostos e o exército. Esses dois fatores foram fun-
damentais para que a figura dos monarcas se confundissem com o Estado na Europa moderna.
Durante a Idade Média, o rei tinha seu exército, mas dependia do apoio dos vassalos para a luta con-
tra inimigos externos ou internos. A partir do século XV, os reis passaram a contratar cavaleiros
profissionais e a recrutar camponeses para a infantaria, criando, assim, exércitos permanentes. Isso
permitiu que pudessem submeter a maioria dos nobres ao poder da monarquia.

No final da Idade Média, com o desenvolvimento do comércio, os mercadores tornaram-se um


grupo social importante: a burguesia comercial. As monarquias se aliaram a esse grupo. Em troca da
autorização para comerciar em seu território, os reis recebiam empréstimos que os tornaram muito
ricos. Essa fonte de financiamento se multiplicou com as grandes navegações. Os reis recebiam
muitas riquezas na concessão do comércio com as colônias.

Na Idade Média, os reis compartilhavam o poder com os nobres: senhores de feudos, duques, con-
des, marqueses. Muitas vezes os nobres eram mais poderosos que o rei, pois tinham mais vassalos.
Na baixa Idade Média, muitos reis negociaram com a nobreza um novo acordo de governo em que
os nobres continuavam a mandar em seus domínios rurais mas teriam que aceitar o poder soberano
do rei. A Igreja católica, enfraquecida que estava pela Reforma protestante, apoiou as monarquias
leais a ela; e nos países que tinham adotado o protestantismo, a Reforma também se aliou ao rei. Os
camponeses, por sua vez, continuavam como antes: pagando imposto à nobreza, ao clero e ao rei.
Esse conjunto de fatores fez a Europa chegar à Idade Moderna com os nobres submetidos à sobera-
nia dos reis. Neste período, o poder real se tornou absoluto, ou seja, concentrava as tarefas de fazer
as leis, executá-las e julgar, além de ser vitalício e hereditário.

E assim nascem os países de hoje

Assim, foi seguindo o contorno dos territórios dominados pelos reis que se constituíram as fronteiras
dos países europeus que conhecemos hoje. Portugal foi o primeiro nesse processo de centralização
do poder, com a Espanha vindo logo em seguida. França e Inglaterra vieram depois. Países como a
Itália e a Alemanha se formaram tardiamente, só no século XIX.

Formação das Monarquias Nacionais


O processo de formação das Monarquias Nacionais
atribuiu novas feições à Europa.
O processo de formação das monarquias nacionais européias remonta uma série de mudanças que se inicia-
ram durante a Baixa Idade Média. De fato, o processo de consolidação das monarquias foi um dos mais evi-
dentes sinais das transformações que assinalavam a crise do sistema feudal e a construção do sistema capi-
talista, legitimado pela nascente classe burguesa. No entanto, mesmo a surgir nesse contexto de mudança, as
monarquias não simbolizavam necessariamente a crise do poder nobiliárquico.

Nesse sentido, a constituição das monarquias pode ser compreendida enquanto um processo que conseguiu
atender simultaneamente os interesses dos nobres e dos burgueses. Por um lado, a formação das monarquias
conseguiu conter as diversas revoltas camponesas que marcaram os finais da Idade Média com a reafir-
mação da propriedade feudal. Por outro, essas mesmas monarquias implantaram um processo de padroniza-
ção fiscal e monetário que atendia a demanda econômica da classe burguesa.

Por isso, podemos notar que o Estado Monárquico buscava preservar algumas tradições medievais e criar
novos mecanismos de organização política. Nesse novo contexto, o poder local dos senhores feudais foi
suprimido em favor da autoridade real. No entanto, os nobres ainda preservaram alguns importantes privilé-
gios, principalmente no que se refere à isenção no pagamento de impostos. Somente os burgueses e a classe
campesina estavam sujeitas às cobranças de taxa.
Grande parte dos impostos arrecadados era utilizada para organizar os exércitos responsáveis pela contensão
dos conflitos internos e a defesa dos interesses políticos da nação contra os demais estados estrangeiros.
Nesse sentido, percebemos que a Europa moderna foi marcada por intensos conflitos aonde o controle por
territórios instalou sucessivos episódios de guerra. A partir dessa nova demanda, exércitos permanentes
foram formados sem a intervenção personalista da classe nobiliárquica.

No campo econômico as atividades comerciais tinham papel fundamental no enriquecimento e consolidação


da autoridade real. Por isso, diversos reis ficaram preocupados em adotar medidas que protegessem a econo-
mia contra a entrada de produtos estrangeiros (protecionismo) e conquistar áreas de exploração colonial,
principalmente, no continente americano. Dessa forma, podemos ver que o Estado Absolutista teve grande
papel no desenvolvimento da economia mercantil.
O rei, sendo a expressão máxima desse tipo de governo, contou não só com auxílio dos grupos sociais bur-
gueses e nobiliárquicos. Tendo a Europa preservado uma forte religiosidade, foi de fundamental importância
que a Igreja reafirmasse a consolidação dessa nova autoridade por meio de justificativas ligadas à vigente fé
cristã. Nesse sentido, o rei era muitas vezes representado e idealizado como um representante dos anseios
divinos para com a Nação.

Sendo esse um processo histórico que permeou toda a Europa Ocidental, a ascensão das autoridades
monárquicas foi claramente observada entre os séculos XII e XV. Entre os principais representantes dessa
nova experiência política podemos destacar a formação das monarquias em Portugal, na Espanha, na
Inglaterra e na França. O auge desse tipo de governo foi vivido entre os séculos XVI e XVII, mas logo foi
desestabilizado pelas críticas e revoluções liberais iniciadas no século seguinte.
ESTADO NACIONAL MODERNO

O Estado Nacional Moderno ou Antigo Regime consistiu em um conjunto de práticas envolvendo


questões de ordem econômica, social e política. A partir do século XVI, a Europa Ocidental sofreu
diversas transformações que promoveram o crescimento das cidades, das atividades comerciais e da
ciência. Foi em meio a essas mudanças que as Monarquias Nacionais surgiram, contribuindo para o
fortalecimento do poder real e acarretando no desaparecimento gradual da servidão e no declínio do
mundo feudal.

O processo de centralização política nas mãos do rei foi o símbolo da formação dos Estados Moder-
nos na Europa, os exemplos mais clássicos desse processo foram Espanha, Portugal e França. As
mudanças na forma de governar tornaram mais claras as diferenças entre o mundo moderno e o
mundo feudal. Entre os principais aspectos que caracterizaram as Monarquias Nacionais estão: A
burocracia administrativa, que ganhou um corpo de funcionários que tinham a função de desempen-
har tarefas de administração pública; A força militar, que gerou a necessidade de criação de um
exército nacional para conter possíveis invasões ou confrontos com outros países e também para es-
tabelecer ordem pública na sociedade;Leis e justiças unificadas, que foram responsáveis pela for-
mação de leis que possuíam caráter da manutenção da ordem, além de melhor proteger os direitos e
deveres dos cidadãos; Sistema burocrático, que marcou o surgimento das tarifas e tributos cobrados
pelo rei para sustentar as despesas públicas.

O desenvolvimento da navegação marítima marcou a busca por expansão territorial dos Estados Na-
cionais Modernos. Os reis almejavam conquistar riquezas no além-mar, obtendo novos mercados e
expandindo o comércio. A busca por metais preciosos e o interesse na propagação da fé cristã tam-
bém impulsionaram a descoberta de novos territórios. O Estado Nacional Moderno Português retra-
tou claramente isso na colonização da América Portuguesa no século XVI. O objetivo dos portugue-
ses foi concretizado na prática colonizadora que ocasionou a ampliação de suas fronteiras, a
obtenção de novos comércios, o descobrimento de locais com metais preciosos e a disseminação do
catolicismo, resumindo perfeitamente as ambições que os Estados Nacionais Modernos possuíam.

A formação do Estado Nacional Moderno representou uma nova fase das relações comerciais de al-
guns países europeus e contribuiu para centralização do poder político real, como foi o caso do rei
francês Luís XIV, que simbolizou em uma frase esse período dizendo que o “Estado sou eu”.
Chamado também de Rei “Sol”, Luís XIV retratou o apogeu dos reis no Antigo regime até o surgi-
mento do período iluminista (século XVIII) que criticou a política centralizadora dessa época.

A formação do Estado moderno

O que é o Estado? (não é o estado de Goiás)


Sempre tem gente querendo mandar nos outros – mandar é exercer poder. O poder é uma caracterís-
tica inerente às relações humanas. O Estado é uma forma de resolver essa questão, definir regras de
como o poder deve ser exercido.

O Estado, com E maiúsculo, é uma instituição que caracteriza a forma de organização política que
temos. Basicamente, ele é um poder centralizado, instituído para administrar a vida das pessoas num
determinado território. Essa forma de organização política, que hoje nos parece tão sólida e até natu-
ral, como toda realização humana, na verdade, é resultado de séculos e séculos – e até milênios – de
construção marcada por disputas e lutas. No final da Idade Média, na Europa, pouco a pouco,
emergiu a forma de Estado que temos hoje, o Estado moderno, dando origem à atual divisão política
do mundo em países.

Os reis vão fortalecendo seu poder

O Estado moderno constituiu-se a partir do fortalecimento do poder do rei em relação à nobreza. O


rei passou a ter sob seu controle a cobrança de impostos e o exército. Esses dois fatores foram fun-
damentais para que a figura dos monarcas se confundissem com o Estado na Europa moderna.
Durante a Idade Média, o rei tinha seu exército, mas dependia do apoio dos vassalos para a luta con-
tra inimigos externos ou internos. A partir do século XV, os reis passaram a contratar cavaleiros
profissionais e a recrutar camponeses para a infantaria, criando, assim, exércitos permanentes. Isso
permitiu que pudessem submeter a maioria dos nobres ao poder da monarquia.

No final da Idade Média, com o desenvolvimento do comércio, os mercadores tornaram-se um


grupo social importante: a burguesia comercial. As monarquias se aliaram a esse grupo. Em troca da
autorização para comerciar em seu território, os reis recebiam empréstimos que os tornaram muito
ricos. Essa fonte de financiamento se multiplicou com as grandes navegações. Os reis recebiam
muitas riquezas na concessão do comércio com as colônias.

Na Idade Média, os reis compartilhavam o poder com os nobres: senhores de feudos, duques, con-
des, marqueses. Muitas vezes os nobres eram mais poderosos que o rei, pois tinham mais vassalos.
Na baixa Idade Média, muitos reis negociaram com a nobreza um novo acordo de governo em que
os nobres continuavam a mandar em seus domínios rurais mas teriam que aceitar o poder soberano
do rei. A Igreja católica, enfraquecida que estava pela Reforma protestante, apoiou as monarquias
leais a ela; e nos países que tinham adotado o protestantismo, a Reforma também se aliou ao rei. Os
camponeses, por sua vez, continuavam como antes: pagando imposto à nobreza, ao clero e ao rei.
Esse conjunto de fatores fez a Europa chegar à Idade Moderna com os nobres submetidos à sobera-
nia dos reis. Neste período, o poder real se tornou absoluto, ou seja, concentrava as tarefas de fazer
as leis, executá-las e julgar, além de ser vitalício e hereditário.

E assim nascem os países de hoje

Assim, foi seguindo o contorno dos territórios dominados pelos reis que se constituíram as fronteiras
dos países europeus que conhecemos hoje. Portugal foi o primeiro nesse processo de centralização
do poder, com a Espanha vindo logo em seguida. França e Inglaterra vieram depois. Países como a
Itália e a Alemanha se formaram tardiamente, só no século XIX.

ESTADO NACIONAL MODERNO

O Estado Nacional Moderno ou Antigo Regime consistiu em um conjunto de práticas envolvendo


questões de ordem econômica, social e política. A partir do século XVI, a Europa Ocidental sofreu
diversas transformações que promoveram o crescimento das cidades, das atividades comerciais e da
ciência. Foi em meio a essas mudanças que as Monarquias Nacionais surgiram, contribuindo para o
fortalecimento do poder real e acarretando no desaparecimento gradual da servidão e no declínio do
mundo feudal.

O processo de centralização política nas mãos do rei foi o símbolo da formação dos Estados Moder-
nos na Europa, os exemplos mais clássicos desse processo foram Espanha, Portugal e França. As
mudanças na forma de governar tornaram mais claras as diferenças entre o mundo moderno e o
mundo feudal. Entre os principais aspectos que caracterizaram as Monarquias Nacionais estão: A
burocracia administrativa, que ganhou um corpo de funcionários que tinham a função de desempen-
har tarefas de administração pública; A força militar, que gerou a necessidade de criação de um
exército nacional para conter possíveis invasões ou confrontos com outros países e também para es-
tabelecer ordem pública na sociedade;Leis e justiças unificadas, que foram responsáveis pela for-
mação de leis que possuíam caráter da manutenção da ordem, além de melhor proteger os direitos e
deveres dos cidadãos; Sistema burocrático, que marcou o surgimento das tarifas e tributos cobrados
pelo rei para sustentar as despesas públicas.

O desenvolvimento da navegação marítima marcou a busca por expansão territorial dos Estados Na-
cionais Modernos. Os reis almejavam conquistar riquezas no além-mar, obtendo novos mercados e
expandindo o comércio. A busca por metais preciosos e o interesse na propagação da fé cristã tam-
bém impulsionaram a descoberta de novos territórios. O Estado Nacional Moderno Português retra-
tou claramente isso na colonização da América Portuguesa no século XVI. O objetivo dos portugue-
ses foi concretizado na prática colonizadora que ocasionou a ampliação de suas fronteiras, a
obtenção de novos comércios, o descobrimento de locais com metais preciosos e a disseminação do
catolicismo, resumindo perfeitamente as ambições que os Estados Nacionais Modernos possuíam.

A formação do Estado Nacional Moderno representou uma nova fase das relações comerciais de al-
guns países europeus e contribuiu para centralização do poder político real, como foi o caso do rei
francês Luís XIV, que simbolizou em uma frase esse período dizendo que o “Estado sou eu”.
Chamado também de Rei “Sol”, Luís XIV retratou o apogeu dos reis no Antigo regime até o surgi-
mento do período iluminista (século XVIII) que criticou a política centralizadora dessa época.

"
A modernidade é um período de tempo que se caracteriza pela realidade social, cultural e econômica
vigente no mundo. Ao tratarmos da era moderna, pré-moderna ou ainda a pós-moderna, fazemos
referência à ordem política, à organização de nações, à forma econômica que essas adotaram e in-
úmeras outras características. Entretanto, nessa trajetória que traçaremos aqui, o que nos importa é a
trajetória do pensamento humano e o seu processo de construção. Para tanto, partiremos das re-
flexões de Zygmunt Bauman e de Max Weber para traçar uma linha que nos guie pelas mudanças do
pensamento humano e sua conexão com a realidade histórica das pessoas que fizeram parte desse
processo.

O que é a modernidade?

É comum escutarmos ou nos referirmos à nossa realidade como moderna. O termo já é tão natural-
izado em nossa língua que passou a ter o mesmo contexto de contemporâneo — o que coexiste em
um mesmo período de tempo. Mas você entende o que é ou a que nos referimos quando tratamos de
modernidade?

Para respondermos a essa pergunta, temos que voltar em nossa história e entendermos primeiro
como é possível determinar a passagem de um período de tempo para outro. É comumente enten-
dido que os eventos que se iniciaram com a Revolução Francesa foram o ápice da superação do pen-
samento e das organizações sociais tradicionais que marcaram o período medieval. O rompimento
com o pensamento escolástico, método de pensamento crítico ainda ligado aos preceitos da Igreja
Católica, e o estabelecimento da razão como forma autônoma de construção de conhecimento, desli-
gado de preceitos teológicos, foram alguns dos primeiros passos em direção à construção do pensa-
mento moderno.

O desenrolar da Revolução Francesa teve como base a construção ideológica que convencionamos
chamar de Iluminismo. O pensamento iluminista e os pensadores empiristas, que acreditavam que o
conhecimento verdadeiro estava na experiência a partir dos sentidos, estabeleceram a razão e a ciên-
cia como a forma verdadeira de se conhecer o mundo. Esse pensamento racionalista inerente ao Ilu-
minismo revirou toda a estrutura social da França, que era construída sobre pilares tradicionais fun-
damentalmente teológicos, o que abalou todos os pilares sociais e políticos do país em que o
domínio monárquico absolutista se apoiava. A monarquia francesa e seu poder assegurado pela pro-
visão divina foram derrubados diante do fortalecimento dos ideais igualitários e do racionalismo.
Nesse momento, fortalecia-se o pressuposto de igualdade (em que nenhum homem estaria acima de
outro, nem mesmo o Rei), que, mais adiante, seria o ponto de partida para os primeiros movimentos
democráticos nas Américas.

René Descartes foi uma das figuras mais proeminentes desse período. Suas obras são vistas como
fonte de inspiração e base de construção da filosofia moderna. Em sua principal obra, Discurso do
método, Descartes apresenta o que foi chamado de método cartesiano, o ápice de sua filosofia, que
estipulava o caminho a ser tomado para a construção do conhecimento cientifico: a evidência, a
análise, a síntese e a enumeração.

O pensamento racional e o método cartesiano pavimentaram o caminho para os eventos que foram
vistos como o ponto inicial da era moderna: a revolução industrial. A sociedade europeia passava
por uma série de mudanças motivadas por grandes conflitos bélicos e ideológicos. As guerras
napoleônicas estimularam a corrida armamentista, o que elevou a exigência por uma produção de
bens materiais em maior escala. Os processos de cercamento, em que as terras de uso comunal pas-
saram a ser privatizadas, empurraram os camponeses para os grandes centros urbanos. A ligação di-
reta com a terra e o trabalho rural, pelo qual o camponês produzia seu sustento, foi cortada. As pop-
ulações agrárias acumularam-se nas cidades e passaram a ter de vender sua força de trabalho nas
grandes fábricas que se erguiam.

Nesse ponto, vemos que toda a estrutura social que havia existido até então se modificara. As re-
lações entre indivíduos tornaram-se diferentes na medida em que sua realidade tornava-se distinta.
Costumes que antes se justificavam em um mundo agrário e rural foram esquecidos ou se modi-
ficaram no meio urbano. Novos conflitos surgiram diante de uma nova configuração de relações tra-
balhistas e influenciados pelo capitalismo emergente, que foi o ponto principal da nova organização
do mundo.

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A modernidade construiu-se em meio aos conflitos ideológicos da razão objetiva instrumental, uti-
lizada como ferramenta de abordagem de questões do pensamento humano e de sua realidade. As-
sim, o pensamento tradicional, ligado ao pensamento teológico e religioso, foi progressivamente
abandonado. Max Weber referiu-se a esse fenômeno como o processo de “desencantamento do
mundo”, no qual o sujeito moderno passou a despir-se de costumes e crenças baseados em tradições
aprendidas que se apoiavam nos pilares fixos das religiões. Explicações e questionamentos baseados
na utilização da razão instrumental quebraram noções preconcebidas e ancoradas no núcleo reli-
gioso.

A desordem inicial que o mundo moderno encontrou com o abandono dos princípios religiosos que
sustentavam costumes e organizações sociais foi a força motriz para o que o sociólogo Zygmunt
Bauman defendeu ser uma das principais características da modernidade: a busca pela ordem. Essa
busca já havia sido anunciada por Thomas Hobbes, ainda no século XVII, com a descrição do poder
que um Estado soberano deveria ter como controlador de seus súditos e responsável pelo reforço da
ordem, especificando aquilo que era aceitável ou o que era repulsivo.
Todavia. foi apenas nos séculos XIX e XX que esse fenômeno tomou as dimensões que vemos hoje.
A era moderna, diante dos conflitos cada vez mais globais, foi marcada pela segregação de classes,
indivíduos e, principalmente, de nações. Bauman explica que:

Classificar consiste nos atos de incluir e excluir. Cada ato nomeador divide o mundo em dois: enti-
dades que respondem ao nome e todo o resto que não. Certas entidades podem ser incluídas numa
classe — tornar-se uma classe — apenas na medida em que outras entidades são excluídas, deixadas
de fora. (BAUMAN – 1999)*

Os Estados modernos, tais como os conhecemos, foram formados a partir dessa lógica de exclusão e
inclusão. A busca pela ordem, determinando o que nos é comum e o que não é, tomou forma na seg-
regação estamental de territórios dos países que temos hoje espalhados pelo mundo e espalhou-se
por todos os redutos das sociedades modernas. Os conflitos entre ideias socialmente aceitas e tudo o
que é diferente foram a marca das sociedades modernas.
O ato nomeador a que Bauman se refere é o princípio da determinação de uma ordem. Ao ex-
cluirmos o que não faz parte de uma organização, estabelecemos simultaneamente o que faz parte
dela. Como exemplo mais claro, temos as fronteiras de países que delimitam de forma precisa a ex-
tensão de um território e ainda servem como uma barreira invisível para os “estrangeiros” ou aque-
les que não fazem parte dessa ordem. De maneira particular, essa separação fortaleceu-se de forma
colossal durante o século XX e as guerras de escala global que se seguiram, como a Primeira e a Se-
gunda Guerra Mundial.

O estabelecimento da ordem foi seguido pela busca pelo progresso, outra característica marcante da
era moderna. Nesse sentido, as guerras foram responsáveis pelo avanço tecnológico vertiginoso do
último século. A corrida armamentista dos países envolvidos levou ao desenvolvimento de novas
tecnologias que mudaram novamente a nossa percepção de mundo.

Diante dessa enorme trajetória que nos esforçamos para cobrir, podemos contemplar o tamanho da
complexidade dos caminhos pelos quais o pensamento humano e nossas organizações sociais pas-
saram e ainda passam. Entender os processos históricos permite-nos entender a origem da realidade
em que vivemos. O mundo moderno ainda se reinventa e, assim como todos os períodos que vieram
antes, chegará o momento derradeiro de sua conclusão. Resta-nos perguntar: já estamos nesse mo-
mento de ruptura?"

Veja mais sobre "O que é Modernidade?" em: https://brasilescola.uol.com.br/sociologia/o-que-


modernidade.htm
O mundo contemporâneo: o Antigo Regime em crise: Absolutismo, mercantilismo, iluminismo e a
emergência do capitalismo.

AGRUPAMENTO H | 8º ANO | CICLO DA ADOLESCÊNCIA |HISTÓRIA | PROF.: UILSON

Absolutismo e Mercantilismo

Iniciaremos nossa aula de hoje analisando um mapa mental sobre “Absolutismo e Mercantilismo”.
Peço que observem atentamente e façam as conexões sobre quando? Onde? Como?
Pela análise do mapa mental podemos perceber que o rei utilizava de poder absoluto no controle do
Estado e do povo. Sustentava a nobreza e recebia apoio desta e da burguesia. No campo econômico
o mercantilismo dava sustentação a essa prática.

Como já foi dito, não é possível estabelecer uma data fixa para quando os fatos históricos acontece-
ram. Mesmo com a existência do “Absolutismo e do Mercantilismo”, contradições começaram a ex-
istir e no século XVIII eclode como um movimento filosófico, intelectual e científico que contrariou
as bases do Antigo Regime. Começando na Inglaterra e tendo seu auge na França. Vale lembrar que
o iluminismo representou a forma da burguesia interpretar o mundo.

Acompanhem no vídeo abaixo a definição de iluminismo e suas características -“O iluminismo” no


canal Project H, no site YouTube.

O Iluminismo (Resumo Rápido)


Alguns conceitos chaves são necessários para a melhor compreensão do iluminismo, liberalismo e
de suas características. Para tanto, observe as definições a seguir.
Trechos de definições do Dicionário Houaiss da língua portuguesa para palavras relacionadas ao Ilu-
minismo e do liberalismo:

Iluminismo s.m.1 movimento intelectual do século XVIII, caracterizado pela centralidade da ciência
e da racionalidade crítica no questionamento filosófico, o que implica recusa a todas as formas de
dogmatismo, esp. o das doutrinas políticas e religiosas tradicionais; Filosofia das Luzes, Ilustração,
Esclarecimento, Século das Luzes.

Liberalismo s.m. 1 ECON FIL POL doutrina baseada na defesa da liberdade individual, nos campos
econômico, político, religioso e intelectual, contra as ingerências e atitudes coercitivas do poder es-
tatal […] econômico ECON aplicação das doutrinas do liberalismo à economia, que se exprime pela
defesa de mercados competitivos, em obediência ao princípio de que a lei da oferta e da procura é a
única que deve influir na produção, no consumo e no mecanismo dos preços. […]

Liberdade s.f. grau de independência legítimo que um cidadão, um povo ou uma nação elege como
valor supremo, como ideal 2 p.ext. conjunto de direitos reconhecidos ao indivíduo, isoladamente ou
em grupo, em face da autoridade política e perante o Estado; poder que tem o cidadão de exercer a
sua vontade dentro dos limites que lhe faculta a lei <l. religiosa> <l. de pensamento> […] 7 p.ext.
possibilidade que tem o indivíduo de exprimir-se de acordo com sua vontade, sua consciência, sua
natureza […]

Neoliberalismo […] ECON POL 2 doutrina, desenvolvida a partir da década de 1970, que defende a
absoluta liberdade de mercado e uma restrição à intervenção estatal sobre a economia, só devendo
esta ocorrer em setores imprescindíveis e ainda assim num grau mínimo […]

Progresso s.m. 1 ação ou resultado de progredir 2 movimento para a frente; avanço <após um dia de
marcha, verificamos que o p. havia sido pequeno> […] 4 mudança de estado (de algo) que o move
para um patamar superior; crescimento, desenvolvimento, aumento […]

Razão s.f. (sXIII) 1 faculdade de raciocinar, apreender, compreender, ponderar, julgar; a inteligência
<o homem tem o uso da r.> […] 8 FIL faculdade intelectual e linguística que distingue o ser hu-
mano dos outros animais 9 FIL faculdade humana da linguagem e do pensamento, voltada para a
apreensão cognitiva da realidade, em contraste com a função desempenhada pelos sentidos na cap-
tação de percepções imediatas e não refletidas do mundo externo […]
Podemos ressaltar a grande importância desse movimento pois ele influenciou uma série de movi-
mentos na Europa e fora dela que abalaram definitivamente o Antigo Regime ao longo dos séculos
XVIII e XIX, como por exemplo a Independência dos EUA e a Revolução Francesa; E é a base do
pensamento contemporâneo em muitas sociedades ocidentais, no que diz respeito à organização
política, econômica e social.

Liberalismo Econômico

O liberalismo econômico é uma ideologia baseada na organização da economia em linhas individu-


alistas, rejeitando o intervencionismo estatal, o que significa que o maior número possível de de-
cisões econômicas são tomadas pelas empresas e indivíduos e não pelo Estado ou por organizações
coletivas. As teses do liberalismo econômico foram criadas no século XVI com a clara intenção de
combater o mercantilismo, cujas práticas já não atendiam às novas necessidades do capitalismo,
sendo seu pressuposto básico a emancipação da economia de qualquer dogma externo a ela mesma.

O criador da teoria mais aceita na economia moderna foi Adam Smith, economista britânico, apon-
tando como as nações iriam prosperar sob tal sistema. Nela ele confrontou as idéias de Quesnay e
Gournay, afirmando que a desejada prosperidade econômica e a acumulação de riquezas não são
concebidas pela atividade rural e nem comercial. Para Smith o elemento de geração de riqueza está
no potencial de trabalho sem ter o estado como regulador e interventor. Outro ponto fundamental é o
fato de que todos os agentes econômicos são movidos por um impulso de crescimento e desenvolvi-
mento econômico, que poderia ser entendido como uma ambição ou ganância individual, que no
contexto macro traria benefícios para toda a sociedade, uma vez que a soma desses interesses partic-
ulares promoveria a evolução generalizada, um equilíbrio perfeito.

Adam Smith teve também grande influência na derrubada da teoria mercantilista. Desmistificou a
importância do ouro e da prata, equiparando esses metais às demais mercadorias.

Enquanto o liberalismo econômico favorece os mercados sem restrições por parte do governo,
afirma também que o Estado tem um papel legítimo no fornecimento de bens públicos, segundo
Smith.[3] O liberalismo econômico é também geralmente considerado contrário às ordens não-capi-
talistas, como o socialismo, socialismo de mercado e economias planificadas, as quais ainda estu-
darão.

Características do liberalismo econômico


Utilizem o mapa mental abaixo para poder identificar e compreender as características do liberal-
ismo econômico.
Relembrando a aula – Nesta aula conceituamos Absolutismo e analisamos a estrutura econômica
que era a base de tal poder. Analisamos e caracterizamos o iluminismo e liberalismo. Percebemos
que essas mudanças prepararam o caminho para a emergência do capitalismo.

Antigo Regime

Juliana Bezerra

Professora de História
Antigo Regime é a denominação do sistema político e social da França anterior à Revolução
Francesa (1789).

Durante o Antigo Regime, a sociedade francesa era constituída por diferentes estados: clero, no-
breza e burguesia.

No degrau mais alto estava o rei, que governava segundo a Teoria do Direito Divino na qual afir-
mava que o poder do soberano era concedido por Deus.

O termo foi aplicado depois da revolução para diferenciar os dois tipos de governo.

Características do Antigo Regime


Política
A política do Antigo Regime se caracterizava pelo Absolutismo.

Este consistia na concentração da autoridade política sobre o rei com o apoio da teoria do direito di-
vino, desenvolvida pelo filósofo Jean Bodin. Existia uma assembleia que reunia os três estados, mas
esta só podia ser convocada quando o rei decidisse.

O último rei a governar a França durante o Antigo Regime foi Luís XVI (1754 - 1793), da dinastia
Bourbon, que morreu na guilhotina.

Economia
Durante o Antigo Regime, vigorava o mercantilismo, um conjunto de normas econômicas onde o
Estado organizava e intervinha na economia.
Segundo as ideias mercantilistas, a riqueza de um país estava baseado no monopólio, na acumulação
de metais e na regulação da economia pelo Estado.

Veja também: Mercantilismo


Sociedade
A sociedade do Antigo Regime se dividia em estamentos compreendidos entre clero, nobreza, bur-
guesia e camponeses. O clero e a nobreza eram livres de impostos que recaíam sobre burgueses e
camponeses.

Por sua parte, o rei governava sob a teoria do direito divino centralizando as decisões do executivo,
legislativo e judiciário. Para isto, ele era apoiado pela Igreja Católica.
Os três estados do
Antigo Regime: o clero, a nobreza e a burguesia
Veja também: Sociedade Estamental
Primeiro Estado
O primeiro estado era representado pelo clero. A França era um país católico e à Igreja cabia os reg-
istros de nascimento e falecimento, a educação, os hospitais, e, claro, a vida religiosa dos franceses.

A Igreja exercia forte influência sobre o governo porque várias figuras do alto clero, como cardeais,
bispos e arcebispos, eram conselheiros do rei. Entretanto, havia o baixo clero, que atuava nas zonas
rurais e pequenas cidades e que não possuíam bens.

A Igreja estava isenta de impostos e era proprietária de terras e imóveis. Desta forma, conseguiu
acumular grande riqueza.
No entanto, o Rei interferia nos assuntos eclesiásticos e aproveitava das cerimônias religiosas para
reafirmar seu poder como representante de Deus na Terra.

Veja também: Igreja Medieval


Segundo Estado
O segundo estado era constituído pela nobreza, pessoas com títulos hereditários e que ocupavam
cargos importantes no governo.

Os nobres eram proprietários de terras e viviam exaltando luxo. A fim de não rivalizarem com o
poder do rei, haviam sido cooptados pelo monarca para viverem em Versalhes, na corte francesa.

A nobreza se dividia conforme a antiguidade dos seus títulos, pois alguns nobres os haviam recebido
na época das Cruzadas.
Por sua parte, havia nobres que eram antigos burgueses que conseguiram chegar a essa condição por
terem comprado títulos de nobreza ou por se casarem com nobres que estavam empobrecendo.

Assim como o clero, não pagavam impostos e acumulavam cargos no governo francês.

Veja também: Absolutismo


Terceiro Estado
Na base da sociedade francesa estavam as pessoas comuns, o terceiro estado, que correspondia a
95% da população. Nessa classe, estavam os burgueses, ricos comerciantes e profissionais liberais.

Nessa camada também estavam os camponeses e criados dos nobres, que enfrentavam dificuldades
para manter condições mínimas de sobrevivência, como alimentação e vestuário.
Sobre o terceiro estado recaía pesada tributação e era o único dos estados que pagava impostos.

Veja também: Burguesia


O Iluminismo e o Antigo Regime
O iluminismo foi um movimento intelectual francês ocorrido entre os séculos XVII e XVIII e que
questionava o modelo econômico, social e político da Idade Média. Para eles, nada de bom aconte-
ceu nesta época e os iluministas a classificaram como "Idade das Trevas".

Apoiado em uma nova visão a respeito de Deus, da razão, da natureza da humanidade, o iluminismo
teve significativa influência sobre o pensamento revolucionário.
Os iluministas defendiam que os objetivos da humanidade são o conhecimento, a liberdade e a feli-
cidade. Além disso, queriam um governo onde os poderes estivessem divididos e o papel do sober-
ano fosse limitado.

Veja também: Iluminismo


Crise no Antigo Regime
A crise econômica
provocou a revolta dos camponeses e dos trabalhadores urbanos
A partir de 1787, a velha organização política e social francesa começou a ser questionada através
das ideias iluministas.

Também contribuíram para isto a crise financeira na qual a França mergulhou após o fracasso das
colheitas de trigo nos anos de 1787 e 1788, e os gastos militares na Guerra de Independência dos Es-
tados Unidos.

O fracasso no campo não impediu o aumento da cobrança de impostos ao terceiro estado, que passa
a exigir melhores condições sociais e a reforma do governo.
O rei convocou a Assembleia dos Estados Gerais para encontrar uma solução para a crise financeira.
Contudo, tanto o primeiro, como o segundo estado não aceitavam abdicar os privilégios e integrar o
regime de recolhimento de tributos.

O desenho da revolução ocorria com a organização da burguesia e do baixo clero, que conseguiram
a instituição da monarquia constitucional.

Veja também: Monarquia Constitucional


A Revolução Francesa e o fim do Antigo Regime
A Revolução Francesa provocou o fim do Antigo Regime na França e posteriormente, na Europa.

A burguesia estava ressentida da exclusão do poder e rejeitava os últimos vestígios do anacrônico


feudalismo.
Por sua parte, o governo francês estava à beira da falência; o aumento da população elevou propor-
cionalmente o descontentamento com a falta de alimentos e o excesso de impostos.

No contexto ideológico, as ideias iluministas defendiam uma nova ordem e a teoria do direito divino
deixou de ser aceita.

Iluminismo

Juliana Bezerra
Professora de História

O Iluminismo foi um movimento intelectual que se tornou popular no século XVIII, conhecido
como "Século das Luzes".

Surgido na França, a principal característica desta corrente de pensamento foi defender o uso da
razão sobre o da fé para entender e solucionar os problemas da sociedade.

Resumo sobre Iluminismo


Os iluministas acreditavam que poderiam reestruturar a sociedade do Antigo Regime. Defendiam o
poder da razão em detrimento ao da fé e da religião e buscaram estender a crítica racional em todos
os campos do saber humano.
Através da união de escolas de pensamento filosóficas, sociais e políticas, enfatizavam a defesa do
conhecimento racional para desconstruir preconceitos e ideologias religiosas. Por sua vez, essas se-
riam superadas pelas ideias de progresso e perfectibilidade humana.

Em suas obras, os pensadores iluministas argumentavam contra as determinações mercantilistas e


religiosas.

Também foram avessos ao absolutismo e aos privilégios dados à nobreza e ao clero. Estas ideias
eram consideradas polêmicas, pois isso abalava os alicerces da estrutura política e social do Antigo
Regime.

Desta maneira, filósofos como Diderot e D’Alembert buscaram reunir todo o conhecimento pro-
duzido à luz da razão num compêndio dividido em 35 volumes: a Enciclopédia (1751-1780).
A publicação da Enciclopédia contou com a participação de vários expoentes iluministas como
Montesquieu e Jean-Jacques Rousseau.

Suas ideias se difundiram principalmente entre a burguesia, que detinha a maior parte do poder
econômico. Entretanto, não possuíam nada equivalente em poder político e ficavam sempre à
margem das decisões.

Características do Iluminismo
O iluminismo rejeitava a herança medieval e, por isso, passaram a chamar este período de "Idade
das Trevas". Foram esses pensadores que inventaram a ideia que nada de bom havia acontecido
nesta época.

Vejamos, a seguir, as principais ideias iluministas sobre economia, política e religião.


Economia
Em oposição ao Mercantilismo, praticado durante o Antigo Regime, os iluministas afirmavam que o
Estado deveria praticar o liberalismo. Ao invés de intervir na economia, o Estado deveria deixar que
o mercado a regulasse. Essas ideias foram expostas, principalmente, por Adam Smith.

Alguns, como Quesnay, defendiam que a agricultura era a fonte de riqueza da nação, em detrimento
do comércio, como defendido pelos mercantilistas.

Quanto à propriedade privada não havia consenso entre os iluministas. John Locke enfatizava que a
propriedade era um direito natural do homem, enquanto Rousseau, apontava que esta era a razão dos
males da humanidade.

Política e Sociedade
Contrários ao Absolutismo, os iluministas afirmavam que o poder do rei deveria ser limitado por um
conselho ou uma Constituição.

O escritor Montesquieu, por exemplo, defendia um modelo de Estado onde o governo estaria divi-
dido em três poderes: Legislativo, Executivo e Judiciário. Assim, haveria equilíbrio e menos poder
concentrado numa só pessoa. Esta ideia de governo foi adota por quase todos os países do mundo
ocidental.

Igualmente, os súditos deveriam ter mais direitos e serem tratados de forma igualitária.Com isso
queria se afirmar que todos deveriam pagar impostos e minorias, como os judeus, tinham que ser re-
conhecidos como cidadãos plenos. É preciso lembrar que no Antigo Regime, as minorias religiosas
como judeus e muçulmanos, forma obrigados a se converter ou a deixar os países onde estavam para
escapar das perseguições.

Embora houvesse algumas vozes a favor das mulheres e até pensadoras iluministas, como Émilie du
Châtelet ou Mary Wollstonecraft, nenhum homem defendeu realmente a concessão de direitos para
elas.

Religião
A religião foi muito criticada por vários pensadores iluministas.

A maioria, defendia a limitação dos privilégios do clero e da igreja; bem como o uso da ciência para
questionar as doutrinas religiosas.
Havia aqueles que compreendiam o poder da religião na formação do ser humano, mas preferiam
que houvessem duas esferas distintas: a religião e o Estado. De igual maneira, alguns iluministas de-
fendiam o fim da igreja como instituição e a fé deveria ser uma expressão individual.

Despotismo esclarecido
As ideias iluministas se espalharam de tal modo que muitos governantes buscaram implantar medi-
das embasadas no iluminismo para modernizar seus respectivos Estados.

Isso acontecia sem que os monarcas abdicassem de seu poder absoluto, apenas conciliando-o aos in-
teresses populares. Deste modo, estes governantes faziam parte do Despotismo Esclarecido.

Iluminismo no Brasil
O Iluminismo chegou ao Brasil através das publicações que eram contrabandeadas para a colônia.
Igualmente, vários estudantes que iam à Universidade de Coimbra também tiveram contato com as
ideias iluministas e passaram a difundi-las.

Essas ideias passavam a questionar o próprio sistema colonial e fomentar o desejo de mudanças. As-
sim, o movimento das Luzes influenciou a Inconfidência Mineira (1789), a Conjuração Baiana
(1798) e a Revolução Pernambucana (1817).

Consequências do Iluminismo
Os ideais iluministas tiveram sérias implicações sociopolíticas. Como exemplo, o fim do colonial-
ismo e do absolutismo e implantação do liberalismo econômico, bem como a liberdade religiosa, o
que culminou em movimentos como a Revolução Francesa (1789).

Principais pensadores iluministas


Segue abaixo os principais filósofos iluministas:

● Montesquieu (1689-1755)
● Voltaire (1694-1778)
● Diderot (1713-1784)
● D’Alembert (1717-1783)
● Rousseau (1712-1778)
● John Locke (1632-1704)
● Adam Smith (1723-1790)

Temos mais textos sobre Iluminismo para você:


● Liberalismo
● Ateísmo
● Contrato Social
● Antigo Regime
● Questões sobre Revolução Francesa

Revolução Industrial

Revolução Industrial foi iniciada na segunda metade do século XVIII e causou profundas trans-
formações para a humanidade, por meio do surgimento da indústria e do capitalismo.
Crianças trabalhando em
uma fábrica têxtil dos Estados Unidos que foi construída no final do século XIX.
Por Revolução Industrial, as ciências humanas compreendem como o período de grande desenvolvimento
tecnológico que foi iniciado na Inglaterra a partir da segunda metade do século XVIII. Com o tempo, esse
desenvolvimento espalhou-se para outras partes do mundo, como a Europa ocidental e os Estados Unidos.
Assim, surgiu a indústria, e as transformações causadas por essa possibilitaram a consolidação do capital-
ismo.
A economia, a nível mundial, sofreu grandes transformações. O processo de produção de mercadorias
acelerou-se bastante, já que a produção manual foi substituída pela utilização da máquina. O resultado foi o
estímulo à exploração dos recursos da natureza de maneira excessiva, uma vez que a capacidade produtiva
aumentou. A Revolução Industrial também impactou as relações de trabalho, gerando uma reação dos tra-
balhadores, cada vez mais explorados no contexto industrial.
Resumo sobre a Revolução Industrial

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● A Inglaterra foi a pioneira do desenvolvimento industrial por ser a nação que possuía as condições
mínimas necessárias para desencadear esse processo.
● O ponto de partida da Revolução Industrial foi o desenvolvimento da máquina a vapor.
● A revolução resultou em transformações sensíveis no modo de produção das mercadorias e nas re-
lações de trabalho e em forte redução do salário.
● Os trabalhadores, intensamente explorados, mobilizaram-se em organizações e coordenaram dois
movimentos: o ludismo e o cartismo.
● A Revolução Industrial, mesmo que não tenha tido rupturas, foi dividida em fases que represen-
tam um processo evolutivo tecnológico que transformou o setor econômico e social.
● A Primeira Revolução Industrial representa o início do processo de industrialização limitado à
Inglaterra no século XVIII.
● A Segunda Revolução Industrial iniciou-se após a Segunda Guerra Mundial e representou um
período de grandes inovações tecnológicas.
● A Terceira Revolução Industrial teve início na metade do século XX e corresponde ao desenvolvi-
mento não só do setor industrial mas também do campo científico.
● As principais consequências da Revolução Industrial foram as novas relações de trabalho; a con-
solidação do capitalismo; a industrialização dos países; a expansão do imperialismo; o exodo rural
e a urbanização; os avanços nos campos da medicina, do transporte e das telecomunicações; o au-
mento da capacidade produtiva e do consumo; os impactos ambientais negativos etc.
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Antecedentes da Revolução Industrial

O início da Revolução Industrial ocorreu pelo desenvolvimento da máquina a vapor, que aproveita o vapor
da água aquecida pelo carvão para produzir energia e revertê-la em força para mover as máquinas. Na
Inglaterra, ainda no final do século XVII, foi criada a primeira máquina desse tipo, por Thomas Newcomen,
e, na década de 1760, esse equipamento foi aprimorado por James Watt.
Muitos historiadores sugerem, então, que a década de 1760 tenha sido o ponto de partida da Revolução In -
dustrial, mas existe muita controvérsia a respeito da datação do início dessa revolução. De toda forma, é im-
portante atermo-nos ao fato de que a Revolução Industrial ficou marcada pelo desenvolvimento tecnológico
e de máquinas que transformou o estilo de vida da humanidade.
As primeiras máquinas que surgiram voltavam-se, principalmente, para atender as necessidades do mercado
têxtil da Inglaterra. Sendo assim, grande parte das primeiras máquinas criadas veio com o objetivo de facili -
tar o processo de produção de roupas. Essas máquinas teciam fios em uma velocidade muito maior que a do
processo manual, e podemos destacar algumas delas, como a spinning frame e a water frame.
Com o tempo e à medida que os grandes capitalistas foram enriquecendo, o lucro de suas indústrias
começou a ser revertido em investimento para o desenvolvimento das estradas de ferro, por exemplo. O
surgimento da locomotiva e da estrada de ferro permitiu que as mercadorias pudessem ser transportadas
com maior rapidez e em maior quantidade. Isso aconteceu porque o lucro da indústria inglesa era tão alto
que permitiu a diversificação dos investimentos em outros segmentos.
Acesse também: Conheça o acontecimento que deu início à industrialização do Japão
O trabalhador depois da Revolução Industrial

A Revolução Industrial causou profundas transformações no mundo, e uma dessas transformações deu-se no
processo produtivo e no estilo de vida dos trabalhadores. Para que possamos entender como a vida do tra -
balhador mudou, precisamos visualizar, antes, as mudanças no processo de produção de mercadorias uti-
lizando o contexto da produção têxtil.
Antes da Revolução Industrial, o processo de produção era manufatureiro, ou seja, a produção acontecia em
uma manufatura, na qual a produção era manual e o trabalhador realizava seu trabalho por meio de sua ca-
pacidade artesanal. Com o desenvolvimento das máquinas, a produção passou a ser parte da maquinofatura,
isto é, a máquina era a grande responsável pela produção.
Assim, se, antes da máquina, a produção necessitava da habilidade artesanal do trabalhador, agora, isso não
era mais necessário porque qualquer trabalhador poderia manejar a máquina e realizar todo o processo soz -
inho. Na prática, isso significa que não era mais necessário um trabalhador com habilidades manuais, e o re-
sultado disso foi que seu salário diminuiu.
O historiador Eric Hobsbawm traz um dado interessante que comprova essa observação. Utilizando como
base o salário de um artesão que trabalhava na cidade de Bolton (cidade inglesa próxima à Manchester), ele
aponta que, em 1795 (no começo da Revolução Industrial), o salário médio era de 33 shillings. Em 1815,
esse salário já havia caído para 14 shillings, e, entre 1829-1834, ele já era inferior a 6 shillings.|1| Esse pro-
cesso de quedas salariais aconteceu em toda Inglaterra e espalhou-se pela Europa na medida em que ela in-
dustrializou-se.
Além do salário extremamente baixo, os trabalhadores eram obrigados a aceitar uma carga de trabalho ex-
cessivamente elevada que, em alguns casos, chegava a 16 horas diárias de trabalho, das quais o trabalhador
só tinha 30 minutos para almoçar. Essa jornada era particularmente cruel porque todos aqueles que não a
aguentassem eram prontamente substituídos por outros trabalhadores.
O trabalho, além de cansativo, era perigoso, pois não havia nada que protegesse os trabalhadores, e eram co-
muns os acidentes que os faziam perder os dedos ou mesmo a mão em casos mais graves. Os afastados por
problema de saúde não recebiam, pois o salário só era pago para aqueles que trabalhavam. Os que ficavam
fisicamente incapacitados de exercer o serviço eram demitidos e outros trabalhadores contratados.
Na questão salarial, mulheres e crianças também trabalhavam e seus salários eram, pelo menos, 50%
menores do que os dos homens adultos. Muitos patrões preferiam contratar somente mulheres e crianças
porque o salário era menor (e, por conseguinte, seu lucro maior) e essas eram mais sujeitas a obedecerem às
ordens, sem se rebelarem.
Esse quadro de extrema exploração dos trabalhadores fez com que esses se mobilizassem em prol de melho-
rias de sua situação. Assim, foram criadas as organizações de trabalhadores, conhecidas no Brasil como
sindicatos e na Inglaterra como trade union. As maiores reivindicações dos trabalhadores eram melhorias no
salário e redução da carga de trabalho.
A mobilização dos trabalhadores deu surgimento a dois grandes movimentos, na primeira metade do século
XIX, na Inglaterra, que são o ludismo e o cartismo.
● O primeiro atuou no período entre os anos de 1811 e 1816 e ficou marcado pela mobilização de
trabalhadores para invadir as fábricas e destruir as máquinas. Os adeptos do ludismo acreditavam
que as máquinas estavam roubando os empregos dos homens e, assim, era necessário destruí-las.
A repressão das autoridades inglesas sobre o ludismo foi duríssima, e o movimento teve atuação
muito curta.
● O segundo surgiu na década de 1830 e mobilizou trabalhadores para lutar por direitos trabalhistas
e também por direitos políticos. Os cartistas tinham como uma de suas principais exigências o
sufrágio universal masculino, isto é, exigiam que todos os homens tivessem direito ao voto. Além
disso, reivindicavam que a classe trabalhadora tivesse representação no Parlamento.

Os protestos de trabalhadores na Inglaterra resultaram em algumas melhorias para essa classe, e essas mel-
horias foram obtidas, principalmente, por meio da greve. Um dos grandes ganhos dos movimentos de trabal-
hadores na Inglaterra foi conquistar a redução da jornada de trabalho para 10 horas por dia.
Importante mencionar que a mobilização de trabalhadores não foi resultado apenas da Revolução Industrial,
uma vez que, na história recente da Europa, as populações mais pobres revoltavam-se contra as autoridades.
Um exemplo na própria história inglesa foram os diggers, que se mobilizaram durante os anos da Revolução
Puritana.
Revolução Industrial na Inglaterra
As minas de carvão foram muito importantes para o desenvolvimento da Revolução Industrial na Inglaterra.
A Revolução Industrial, como mencionamos, iniciou-se na Inglaterra no século XVIII e, com o tempo, es -
palhou-se pela Europa, Estados Unidos, Japão etc. A pergunta que instiga muitos é: por que esse aconteci-
mento deu-se na Inglaterra? Isso aconteceu porque a Inglaterra reunia todas as condições necessárias para
tanto.
Primeiro, o desenvolvimento tecnológico e industrial que aconteceu na Inglaterra só foi possível pelo estab -
elecimento precoce da burguesia no poder inglês. Isso porque a Inglaterra foi o primeiro país absolutista a
passar por uma revolução burguesa — a Revolução Gloriosa, que aconteceu no ano de 1688. A partir dela, a
burguesia estabeleceu-se no poder, e isso garantiu o desenvolvimento da economia inglesa.
Com essa revolução, o país converteu-se em uma monarquia constitucional parlamentarista, na qual o poder
dos reis estava submetido ao Parlamento. Desse modo, a burguesia, consolidada no poder, começou a tomar
medidas que a fortaleciam e atendiam seus interesses economicamente. Antes disso, a economia inglesa
havia sido beneficiada por uma medida tomada em 1651, antes mesmo da Revolução Gloriosa.
Nesse ano, foram decretados, por Oliver Cromwell, os Atos de Navegação — uma lei que determinava que
as mercadorias compradas e vendidas pela Inglaterra só seriam transportadas por embarcações inglesas. Isso
alterou as rotas marítimas inglesas e transformou o país na maior potência comercial do mundo, dando iní -
cio ao processo de acumulação de capital no país. Esse capital excedente foi utilizado no desenvolvimento
das máquinas, tempos depois.
Além do capital para investir no desenvolvimento industrial, era necessário também que houvesse grande
quantidade de mão de obra para trabalhar nas indústrias. Acontece que a Inglaterra do século XVIII tinha
uma grande quantidade de mão de obra, fruto dos cercamentos que forçaram os camponeses ingleses a mu-
darem-se para as cidades inglesas.
Esses cercamentos eram resultado da Lei dos Cercamentos, uma lei inglesa que permitia que as terras co -
muns utilizadas pelos camponeses fossem cercadas e transformadas em pasto para a criação de ovelhas. Es-
sas terras comuns eram parte de um sistema feudal que separava determinadas áreas para que os campone-
ses cultivassem-nas.
Os cercamentos resultaram na expulsão dos camponeses de suas terras, uma vez que essas estavam sendo
transformadas em pasto e esses não tinham mais como sobreviver no campo. Assim, os camponeses eram
obrigados a irem para o único lugar onde poderiam obter um sustento: as cidades. Lá, tornaram-se mão de
obra que alimentava as indústrias, e essa grande disponibilidade dava aos patrões um poder de pressão sobre
o salário dos trabalhadores.
Por último, mas não menos importante, é necessário destacar que a Inglaterra possuía uma grande reserva
exatamente das duas matérias-primas mais importantes para o desenvolvimento industrial naquele mo-
mento: carvão e ferro. Essas matérias eram essenciais para a construção das máquinas e para seu funciona -
mento (à base do vapor da água).
Acesse também: Saiba quando se deu o primeiro surto de industrialização no Brasil
Fases da Revolução Industrial

Geograficamente, a Revolução Industrial, no que tange às transformações nos campos econômico, tec-
nológico e social, possibilitou uma nova forma de organização da sociedade, bem como deu início a uma
nova forma de produção e consumo de bens e serviços.
A revolução, em seu início (meados do século XVIII), limitou-se à Inglaterra. Contudo, com os avanços al-
cançados, possibilitou novas transformações para além da Europa ocidental. Esses desdobramentos ficaram
conhecidos como fases da Revolução Industrial e representam o desenvolvimento das sociedades mediante
às tecnologias empregadas em cada período.
Contudo, é importante deixar claro que, apesar de ser apresentada em fases, a Revolução Industrial não teve
ruptura, sendo, portanto, um processo contínuo de transformações socioeconômicas que transformou a pro-
dução capitalista.
● Primeira Revolução Industrial
A Primeira Revolução Industrial é marcada pelo início do processo de industrialização que transformou o
cenário econômico e social.
A primeira fase da Revolução Industrial corresponde à sua eclosão no século XVIII (1760 a 1850), limitada
à Europa ocidental e tendo a Inglaterra como precursora. Essa primeira fase representa o conjunto de mu -
danças no setor econômico e no setor social possibilitado pela evolução tecnológica.
Esses avanços contribuíram para a consolidação de uma nova forma de produção, bem como deram início a
uma nova realidade industrial, estabelecendo um novo padrão de consumo na sociedade e novas relações de
trabalho.
A Primeira Revolução Industrial possui como marco a substituição da manufatura pela maquinofatura, ou
seja, a substituição do trabalho humano e a introdução de máquinas capazes de realizar esse trabalho com
maior precisão e em menor tempo.
Nesse período, houve a expansão do comércio, e a mecanização possibilitou maior produtividade e, conse-
quentemente, o aumento dos lucros. As indústrias expandiam-se cada vez mais, criando, então, um cenário
de progresso jamais visto. As principais invenções do período contribuíram para o melhor escoamento das
matérias-primas utilizadas nas indústrias e também favoreceu o deslocamento de consumidores e a dis-
tribuição dos bens produzidos.
Os principais avanços tecnológicos conhecidos nessa fase foram:
● uso do carvão como fonte de energia para a máquina a vapor;
● desenvolvimento da máquina a vapor e criação da locomotiva;
● invenção do telégrafo;
● aparecimento de indústrias têxteis, como a do algodão;
● ampliação da indústria siderúrgica.
● Segunda Revolução Industrial
Uma das invenções na Segunda Revolução Industrial foi a locomotiva.
A segunda fase da revolução corresponde ao processo evolutivo das tecnologias que modificaram ainda
mais o cenário econômico, industrial e social. Essa fase iniciou-se da metade do século XIX até o início do
século XX, findando-se durante a Segunda Guerra Mundial (1939 a 1945).
Esse período representou avanços não só tecnológicos mas também geográficos, representando o momento
em que a revolução deixou de limitar-se à Inglaterra espalhando-se para outros países, como Estados
Unidos, Japão, Alemanha e França.
A Segunda Revolução Industrial eclodiu como consequência, principalmente, das grandes revoluções bur-
guesas ocorridas no século XIX, representadas pela classe dominante na época, a burguesia. Essas rev-
oluções foram as responsáveis pelo fim do Antigo Regime e também influenciaram o fortalecimento do cap-
italismo, impulsionado pela industrialização.
Foi nesse período que surgiu o capitalismo financeiro, que acabou por moldar essa fase, que ficou conhecida
como o período das grandes inovações. Esse avanço e aperfeiçoamento tecnológico possibilitou aumentar a
produtividade nas indústrias, bem como os lucros obtidos. O mundo vivenciou novas criações e o incentivo
à pesquisa, principalmente no campo da medicina.
As principais inovações dessa fase da revolução estão associadas à introdução de novas fontes de energia e
de novas técnicas de produção, com destaque para a indústria química. O uso da eletricidade do petróleo
possibilitou a substituição do vapor. A eletricidade, antes usada apenas no desenvolvimento de pesquisas
laboratoriais, passou a ser usada também no setor industrial. O petróleo passou a ser utilizado como com-
bustível, e seu uso difundiu-se com a invenção do motor a explosão.
Na Segunda Revolução Industrial, destacaram-se:
● a substituição do ferro pelo aço;
● o surgimento de antibióticos;
● a construção de ferrovias e navios a vapor;
● a invenção do telefone, da televisão e da lâmpada incandescente;
● o uso de máquinas e fertilizantes químicos na agricultura.

Para saber mais sobre a Segunda Revolução Industrial, clique aqui.


● Terceira Revolução Industrial
A Terceira Revolução Industrial representa o desenvolvimento tecnológico no campo científico.
A terceira fase da Revolução Industrial iniciou-se na metade do século XX, após o fim da Segunda Guerra
Mundial, e ficou conhecida também como Revolução Técnico-Científica. A principal mudança representada
por essa fase está associada ao desenvolvimento tecnológico atribuído não só ao processo produtivo mas
também ao campo científico. A industrialização, nesse momento, espalhou-se pelo mundo.
Saiba mais: Robotização na produção industrial
A Terceira Revolução Industrial significou um novo patamar alcançado pelos avanços tecnocientíficos que
são até hoje vivenciados pela sociedade. Os principais marcos desse período podem ser vistos por meio dos
aperfeiçoamentos e das inovações nas áreas de robótica, genética, telecomunicações, eletrônica, transporte e
infraestrutura. Tudo isso transformou ainda mais as relações sociais e modificou o espaço geográfico.
Fala-se nessa fase em globalização, que representa o avanço tecnológico, especialmente no sistema de co-
municação e transporte, o qual possibilitou maior integração econômica e política. A tecnologia, nessa fase
da revolução, permitiu diminuirem-se tempo e distância, aproximando pessoas do mundo todo e possibili -
tando a transmissão de informações instantaneamente, ultrapassando os obstáculos físicos, culturais e soci-
ais.
Para saber mais sobre a Terceira Revolução Industrial, clique aqui.
Consequências da Revolução Industrial

A Revolução Industrial representou um marco na história da humanidade — transformando as relações soci-


ais, as relações de trabalho, o sistema produtivo — e estabeleceu novos padrões de consumo e uso dos re -
cursos naturais. As consequências foram muitas e estão relacionadas à cada fase vivida no processo evolu-
tivo das tecnologias que proporcionou a industrialização dos países.
Durante a Primeira Revolução Industrial, o modo capitalista de produção reorganizou-se. As principais con-
sequências desse período foram:
● substituição do trabalho humano por máquinas, o que ampliou o êxodo rural e intensificou o
crescimento urbano;
● crescimento desenfreado das cidades, acarretando favelização, marginalização de pessoas, au-
mento da miséria, fome e violência;
● aumento significativo de indústrias e, consequentemente, da produção;
● organização da sociedade em dois grupos: a burguesia versus o proletariado.
Os avanços tecnológicos obtidos na Segunda Revolução Industrial fizeram com que a industrialização al-
cançasse outros países, especialmente os mais ricos. Esses, a fim de ampliarem seu mercado, deram início a
uma expansão territorial também em busca de matéria-prima, o que ficou conhecido como imperialismo. As
principais consequências desse período foram:
● aumento da produção em massa e em curto espaço de tempo, aumentando também o comércio;
● avanços nos setores de transporte e telecomunicações que ampliaram o mercado consumidor, bem
como o escoamento dos bens produzidos;
● surgimento das grandes cidades e, com elas, dos problemas de ordem social, como a superpopu-
lação;
● aumento de doenças;
● desemprego e maior disponibilidade de mão de obra barata;
● avanços no setor da saúde que possibilitaram melhorias na qualidade de vida da população.

A terceira fase da Revolução Industrial — que integrou a ciência, a tecnologia e a produção — transformou
ainda mais a relação do homem com o meio. A apropriação dos recursos naturais era cada vez mais intensa,
visto que, a cada dia, tornou-se mais necessário viabilizar as produções em massa.
As principais consequências da Terceira Revolução Industrial foram:
● muitos avanços no campo da medicina;
● criação de robôs capazes de fazer trabalhos minuciosos e mais precisos;
● técnicas na área da genética que melhoraram a qualidade de vida da população;
● consolidou-se o capitalismo financeiro;
● aumento do número de empresas multinacionais;
● maior difusão de informações e notícias, integrando o mundo todo instantaneamente;
● aumento dos impactos ambientais negativos e esgotamento de recursos naturais;
● preocupação com o desenvolvimento econômico que explora os recursos naturais sem se preocu-
par com as gerações futuras, gerando a necessidade de buscar um modelo de desenvolvimento sus-
tentável.

"A Revolução Industrial foi o período de grande desenvolvimento tecnológico que teve início na
Inglaterra a partir da segunda metade do século XVIII e que se espalhou pelo mundo, causando
grandes transformações. Ela garantiu o surgimento da indústria e consolidou o processo de for-
mação do capitalismo.

O nascimento da indústria causou grandes transformações na economia mundial, assim como no


estilo de vida da humanidade, uma vez que acelerou a produção de mercadorias e a exploração
dos recursos da natureza. Além disso, foi responsável por grandes transformações no processo
produtivo e nas relações de trabalho.

A Revolução Industrial foi iniciada de maneira pioneira na Inglaterra, a partir da segunda metade
do século XVIII, e atribui-se esse pioneirismo aos ingleses pelo fato de que foi lá que surgiu a
primeira máquina a vapor, em 1698, construída por Thomas Newcomen e aperfeiçoada por James
Watt, em 1765. O historiador Eric Hobsbawm, inclusive, acredita que a Revolução Industrial só
foi iniciada de fato na década de 1780|1|.
Uma das principais invenções da Primeira Revolução Industrial foi a locomotiva a vapor.

O avanço tecnológico característico da Revolução Industrial permitiu um grande desenvolvimento


de maquinário voltado para a produção têxtil, isto é, de roupas. Com isso, uma série de máquinas,
como a “spinning Jenny”, “spinning frame”, “water frame” e a “spinning mule”, foram criadas
para tecer fios. Com essas máquinas, era possível tecer uma quantidade de fios que manualmente
exigiria a utilização de várias pessoas.

Posteriormente, no começo do século XIX, o desenvolvimento tecnológico foi utilizado na cri-


ação da locomotiva e das estradas de ferro, que, a partir da década de 1830, foram construídas por
toda a Inglaterra. A construção das estradas de ferro contribuiu para ampliar o crescimento indus-
trial, uma vez que diminuiu as distâncias, ao tornar as viagens mais curtas, e ampliou a capaci-
dade de locomoção de mercadorias.

O desenvolvimento das estradas de ferro aproveitou aprosperidade da indústria inglesa, uma vez
que os financiadores de sua construção foram exatamente os capitalistas que prosperaram na Rev-
olução Industrial. Isso porque a indústria inglesa não conseguia absorver todo o excedente de cap-
ital, fazendo com que os investimentos nas estradas de ferro acontecessem.

Acesse também: Revolução Francesa — acontecimento também do séc. XVIII que foi um marco
na história da humanidade
Tópicos deste artigo

1 - Resumo sobre a Revolução Industrial

2 - O trabalhador na Revolução Industrial

Cartismo e ludismo

3 - Por que a Revolução Industrial aconteceu primeiro na Inglaterra?

4 - Fases da Revolução Industrial

→ Primeira Revolução Industrial

→ Segunda Revolução Industrial

→ Terceira Revolução Industrial


5 - Consequências

Resumo sobre a Revolução Industrial

A Inglaterra foi a nação pioneira no desenvolvimento industrial e tecnológico no mundo.

Por meio da Revolução Industrial, o capitalismo consolidou-se como sistema econômico vigente.

O desenvolvimento da máquina a vapor é considerado como o ponto de partida da Revolução In-


dustrial.
Causou profundas transformações no modo de produção e também nas relações entre patrão e tra-
balhador.

Durante o auge da Revolução Industrial, os trabalhadores ingleses recebiam salários baixíssimos e


eram obrigados a suportar uma longa jornada de trabalho.

A intensa exploração do trabalho do proletário fez com que os trabalhadores organizassem-se em


sindicatos.

Dois movimentos de trabalhadores foram muito importantes no século XIX: o ludismo e o car-
tismo.
A Revolução Industrial aconteceu de maneira pioneira na Inglaterra por uma junção de fatores,
que englobam as grandes reservas de carvão do país, os cercamentos, o excedente de capital exis-
tente no país etc.

As transformações econômicas, sociais e tecnológicas proporcionadas pela Revolução Industrial


dividem-se em fases, segundo os avanços produtivos, no campo científico e em diversas outras
áreas do setor econômico e industrial.

Pode-se dividir a Revolução Industrial em: Primeira Revolução Industrial, Segunda Revolução In-
dustrial e Terceira Revolução Industrial.
Diversas foram as consequências da Revolução Industrial. Houve aumento da produtividade, mu-
dança nas relações de trabalho, alterações no modo de vida e padrões de consumo da sociedade;
alterou-se a relação entre o homem e a natureza, houve avanços em diversos campos do conheci-
mento, entre outras mudanças.

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O trabalhador na Revolução Industrial

A Revolução Industrial também gerou grandes transformações no modo de produção de mercado-


rias. Antes do surgimento da indústria, a produção acontecia pelo modo de produção manufa-
tureiro, isto é, um modo de produção manual que utilizava a capacidade artesanal daquele que
produzia. Assim, a manufatura foi substituída pela maquinofatura.
Com a maquinofatura, não era mais necessária a utilização de vários trabalhadores especializados
para produzir uma mercadoria, pois uma pessoa manuseando as máquinas conseguiria fazer todo
o processo sozinha. Com isso, o salário do trabalhador despencou, uma vez que não eram mais
necessários funcionários com habilidades manuais.

Isso é evidenciado pela estatística trazida por Eric Hobsbawm que mostra como o salário do tra-
balhador inglês caiu com o surgimento da indústria. O exemplo levantado foi Bolton, cidade no
oeste da Inglaterra. Lá, em 1795, um artesão ganhava 33 xelins, mas, em 1815, o valor pago havia
caído para 14 xelins e, entre 1829 e 1834, esse salário havia despencado para quase 6 xelins |2|.
Percebemos aqui uma queda brusca no salário e esse processo deu-se em toda a Inglaterra.

Além do baixo salário, os trabalhadores eram obrigados a lidar com uma carga de trabalho exten-
uante. Nas indústrias inglesas do período da Revolução Industrial, a jornada diária de trabalho
costumava ser de até 16 horas com apenas 30 minutos de pausa para o almoço. Os trabalhadores
que não aguentassem a jornada eram sumariamente substituídos por outros.

Não havia nenhum tipo de segurança para os trabalhadores e constantemente acidentes aconte-
ciam. O acidente mais comum era quando os trabalhadores tinham seus dedos presos na máquina,
e muitos os perdiam. Os trabalhadores que se afastavam por problemas de saúde poderiam ser
demitidos e não receberiam seu salário. Só eram pagos os funcionários que trabalhavam efetiva-
mente.

Essa situação degradante fez com que os trabalhadores mobilizassem-se pouco a pouco contra
seus patrões. Isso levou à criação das organizações de trabalhadores (mais conhecidas no Brasil
como sindicatos) e chamadas na Inglaterra de trade union. Os trabalhadores exigiam melhorias
salariais e redução na jornada de trabalho.
Representação de uma revolta de trabalhadores do século XIX.

Cartismo e ludismo

Dois grandes movimentos de trabalhadores surgiram dessas organizações foram o ludismo e o


cartismo. O ludismo teve atuação destacada no período entre 1811 e 1816, e sua estratégia consis-
tia em invadir as fábricas e destruir as máquinas. Isso acontecia porque os adeptos do ludismo
afirmavam que as máquinas estavam roubando os empregos dos homens e, portanto, deveriam ser
destruídas.
O movimento cartista, por sua vez, surgiu na década de 1830 e lutava por direitos trabalhistas e
políticos para a classe de trabalhadores da Inglaterra. Uma das principais exigências dos cartistas
era o sufrágio universal masculino, isto é, o direito de que todos os homens pudessem votar. Os
cartistas também exigiam que sua classe tivesse representatividade no Parlamento inglês.

A mobilização de trabalhadores resultou em algumas melhorias ao longo do século XIX. A


pressão exercida pelos trabalhadores dava-se, principalmente, por meio de greve. Uma das melho-
rias mais sensíveis conquistadas pelos trabalhadores foi a redução da jornada de trabalho para 10
horas diárias, por exemplo.

A mobilização de trabalhadores enquanto classe, isto é, pobres (proletários), não foi um fenômeno
que surgiu especificamente por causa da Revolução Industrial. Nas palavras de Eric Hobsbawm, o
enfrentamento dos patrões pelos trabalhadores aconteceu, porque a Revolução Francesa deu-lhes
confiança para isso, enquanto“a Revolução Industrial trouxe a necessidade de mobilização perma-
nente”|3|.

Leia também: Proletariado — a classe de trabalhadores sem meios próprios de subsistência

Por que a Revolução Industrial aconteceu primeiro na Inglaterra?

A Revolução Industrial despontou pioneiramente, na segunda metade do século XVIII, na


Inglaterra e gradativamente foi espalhando-se pela Europa e, em seguida para todo o mundo. Mas
por que necessariamente isso ocorreu na Inglaterra? A resposta para isso é encontrada um pouco
no acaso e um pouco na própria história inglesa.
Primeiramente, é importante estabelecer que o desenvolvimento tecnológico e industrial na
Inglaterra foi possível, porque a burguesia estabeleceu-se como classe e garantiu o desenvolvi-
mento da economia inglesa na direção do capitalismo. Isso aconteceu no século XVII, com a Rev-
olução Gloriosa.

A Revolução Gloriosa aconteceu em 1688 e consolidou o fim da monarquia absolutista na


Inglaterra (que já vinha enfraquecida desde a Revolução Puritana, na década de 1640). Com isso,
a Inglaterra transformou-se em uma monarquia constitucional parlamentarista, na qual o poder do
rei não estava acima do Parlamento e nem da Constituição, no caso da Inglaterra da Declaração
de Direitos – Bill of Rights.

Assim, a burguesia conseguiu consolidar-se enquanto classe e governar de maneira a atender aos
seus interesses econômicos. Um acontecimento fundamental para o desenvolvimento do comércio
inglês ocorreu no meio das duas revoluções do século XVII, citadas acima. Em 1651, Oliver
Cromwell decretou os Atos de Navegação, lei que decretava que mercadorias compradas ou ven-
didas pela Inglaterra somente seriam transportadas por embarcações inglesas.

Essa lei foi fundamental, pois protegeu o comércio, enfraqueceu a concorrência dos ingleses e
garantiu que os navios ingleses controlassem as rotas comerciais marítimas. Isso enriqueceu a
burguesia inglesa e permitiu-lhes acumular capital. Esse capital foi utilizado no desenvolvimento
de máquinas e na instalação das indústrias.

Mas não bastava somente excedente de capital para garantir o desenvolvimento industrial. Eram
necessários trabalhadores, e a Inglaterra do século XVIII tinha mão de obra excedente. Isso está
relacionado com os cercamentos que aconteciam na Inglaterra e que se intensificaram a partir do
século XVII.
Os cercamentos aconteciam por força da Lei dos Cercamentos (Enclosure Acts), lei inglesa que
permitia que as terras comuns fossem cercadas e transformadas em pasto. As terras comuns eram
parte do sistema feudal, que estipulava determinadas áreas para serem ocupadas e cultivadas pelos
camponeses.

Com os cercamentos, os camponeses que habitavam essas terras foram expulsos, e as terras foram
transformadas em pasto para a criação de ovelhas. A criação de ovelhas era o que fornecia a lã
utilizada em larga escala na produção têxtil do país. Os camponeses expulsos de suas terras e sem
ter para onde ir mudaram-se para as grandes cidades.

Sem nenhum tipo de qualificação, esses camponeses viram-se obrigados a trabalhar nos únicos lo-
cais que forneciam empregos – as indústrias. Assim, as indústrias que se desenvolviam na
Inglaterra tinham mão de obra excedente. Isso garantia aos patrões poder de barganha, pois pode-
riam forçar os trabalhadores a aceitarem salários de fome por uma jornada diária exaustiva.
A adesão dos trabalhadores às indústrias ocorreu de maneira massiva também por uma lei inglesa
que proibia as pessoas de “vadiagem”. Assim, pessoas que fossem pegas vagando pelas ruas sem
emprego poderiam ser punidas com castigos físicos e até mesmo com a morte, caso fossem reinci-
dentes.

Por último, destaca-se que o acaso e o fortuito também contribuíram para que a Inglaterra despon-
tasse pioneiramente. O desenvolvimento das máquinas e das indústrias apenas ocorreu, porque a
Inglaterra tinha grandes reservas dos dois materiais essenciais para isso: o carvão e o ferro. Com
reservas de carvão e ferro abundantes, a Inglaterra pôde desenvolver sua indústria desenfreada-
mente.

Acesse também: Fases do capitalismo — quais são e suas características


Fases da Revolução Industrial

A Revolução Industrial corresponde às modificações econômicas e tecnológicas que consoli-


daram o sistema capitalista e permitiram o surgimento de novas formas de organização da so-
ciedade. As transformações tecnológicas, econômicas e sociais vividas na Europa Ocidental, ini-
cialmente limitadas à Inglaterra, em meados do século XVIII, tiveram diversos desdobramentos,
os quais podemos chamar de fases. Essas fases correspondem ao processo evolutivo das tecnolo-
gias desenvolvidas e as consequentes mudanças socioeconômicas. São elas:

Primeira Revolução Industrial;

Segunda Revolução Industrial;

Terceira Revolução Industrial.


→ Primeira Revolução Industrial

A Primeira Revolução Industrial refere-se ao processo de evolução tecnológica vivido a partir do


século XVIII na Europa Ocidental, entre 1760 e 1850, estabelecendo uma nova relação entre a so-
ciedade e o meio, bem como possibilitando a existência de novas formas de produção que trans-
formaram o setor industrial, dando início a um novo padrão de consumo. Essa fase é marcada es-
pecialmente pela:

substituição da energia produzida pelo homem por energias como a vapor, eólica e hidráulica;

substituição da produção artesanal (manufatura) pela indústria (maquinofatura);

existência de novas relações de trabalho.

As principais invenções dessa fase que modificaram todo o cenário vivido na época foram:
a utilização do carvão como fonte de energia;

o consequente desenvolvimento da máquina a vapor e da locomotiva;

desenvolvimento do telégrafo, um dos primeiros meios de comunicação quase instantânea.

A produção modificou-se, diminuindo o tempo e aumentando a produtividade; as invenções pos-


sibilitaram o melhor escoamento de matérias-primas, bem como de consumidores, e também fa-
voreceram a distribuição dos bens produzidos.

→ Segunda Revolução Industrial


O petróleo passou a ser utilizado na Segunda Revolução Industrial como fonte de energia para o
motor à combustão.

A Segunda Revolução Industrial refere-se ao período entre a segunda metade do século XIX até
meados do século XX, tendo seu fim durante a Segunda Guerra Mundial. A industrialização
avançou os limites geográficos da Europa Ocidental, espalhando-se por países como Estados
Unidos, Japão e demais países da Europa.

Compreende a fase de avanços tecnológicos ainda maiores que os vivenciados na primeira fase,
bem como o aperfeiçoamento de tecnologias já existentes. O mundo pôde vivenciar diversas no-
vas criações, que aumentaram ainda mais a produtividade e consequentemente os lucros das in-
dústrias. Houve nesse período, também, grande incentivo às pesquisas, especialmente no campo
da medicina.
As principais invenções dessa fase estão associadas ao uso do petróleo como fonte de energia, uti-
lizado na nova invenção: o motor à combustão. A eletricidade, que antes era utilizada apenas para
desenvolvimento de pesquisas em laboratórios, nesse período, começou a ser usada para o fun-
cionamento de motores, com destaque para os motores elétricos e à explosão. O ferro, que antes
era largamente utilizado, passou a ser substituído pelo aço.

→ Terceira Revolução Industrial

A Terceira Revolução Industrial ficou conhecida como Revolução Tecnocientífica, especialmente


pelo desenvolvimento da robótica.
A Terceira Revolução Industrial, também conhecida como Revolução Tecnocientífica, iniciou-se
na metade do século XX, após a Segunda Guerra Mundial. Essa fase representa uma revolução
não só no setor industrial, visto que passou a relacionar não só o desenvolvimento tecnológico
voltado ao processo produtivo, mas também ao avanço científico, deixando de limitar-se a apenas
alguns países e espalhando-se por todo o mundo.

As transformações possibilitadas pelos avanços tecnocientíficos são vivenciadas até os dias atu-
ais, e cada nova descoberta representa um novo patamar alcançado dentro dessa fase da rev-
olução, consolidando o que ficou conhecido como capitalismo financeiro. A introdução da biotec-
nologia, robótica, avanços na área da genética, telecomunicações, eletrônica, transporte, entre out-
ras áreas, transformaram não só a produção, como também as relações sociais, o modo de vida da
sociedade e o espaço geográfico.
Todo esse desenvolvimento proporcionado pelos avanços obtidas nas diversas áreas científicas
relacionam-se ao que chamamos de globalização: tudo converge para a diminuição do tempo e
das distâncias, ligando pessoas, lugares, transmitindo informações instantaneamente, superando,
então, os desafios e obstáculos que permeiam a localização geográfica, as diferenças culturais,
físicas e sociais.

Consequências

De um modo geral, a Revolução Industrial transformou não só o setor econômico e industrial,


como também as relações sociais, as relações entre o homem e a natureza, provocando alterações
no modo de vida das pessoas, nos padrões de consumo e no meio ambiente. Cada fase da rev-
olução representou diferentes transformações e consequências mediante os avanços obtidos em
cada período.
A Primeira Revolução Industrial representou uma nova organização no modo capitalista. Nesse
período houve um aumento significativo de indústrias, bem como o aumento significativo da pro-
dutividade (produção em menor tempo). O homem, ao ser substituído pela máquina, saiu da zona
rural para ir para as cidades em busca de novas oportunidades, dando início ao processo de urban-
ização.

Esse processo culminou no crescimento desenfreado das cidades, na marginalização de boa parte
da população, bem como em problemas de ordem social, como miséria, violência, fome. Nessa
fase, também, a sociedade organizou-se em dois polos: de um lado a burguesia e do outro o prole-
tariado.

A Segunda Revolução Industrial teve como principais consequências, mediante o maior avanço
tecnológico, o aumento da produção em massa em bem menos tempo, consequentemente o au-
mento do comércio e modificação nos padrões de consumo; muitos países passaram a se industri-
alizar, especialmente os mais ricos, dominando, então, economicamente diversos outros países
(expansão territorial e exploração de matéria-prima).

O avanço nos transportes possibilitou maior e melhor escoamento de mercadorias e trânsito de


pessoas; surgiram as grandes cidades e com elas também os problemas como superpopulação; au-
mento das doenças; desemprego e aumento da mão de obra barata e novas relações de trabalho.

A Terceira Revolução Industrial e a nova integração entre ciência, tecnologia e produção possibil-
itaram avanços na medicina; a invenção de robôs capazes de fazer trabalho extremamente minu-
cioso e preciso; houve avanços na área da genética, trazendo novas técnicas que melhoraram a
qualidade de vida das pessoas; bem como diminuição das distâncias entre os povos e a maior di-
fusão de notícias e informações por meio de novos meios de comunicação; o capitalismo finan-
ceiro consolidou-se e houve aumento do número de empresas multinacionais.
E não menos importante, todas essas transformações possibilitadas pela Revolução Industrial
como um todo transformaram o modo como o homem relaciona-se com o meio. A apropriação
dos recursos naturais para viabilizar as produções e os avanços tecnocientíficos tem causado
grande impacto ambiental.

Atualmente, as alterações provocadas no meio ambiente têm sido amplamente discutidas pelas
comunidades internacionais, órgãos e entidades, que expressam a importância de mudar o modelo
de desenvolvimento econômico que explora os recursos naturais sem pensar nas gerações fu-
turas."

Veja mais sobre "Revolução Industrial" em: https://brasilescola.uol.com.br/historiag/revolucao-


industrial.htm
"A Revolução Industrial foi o período de grande desenvolvimento tecnológico que teve início na
Inglaterra a partir da segunda metade do século XVIII e que se espalhou pelo mundo, causando
grandes transformações. Ela garantiu o surgimento da indústria e consolidou o processo de formação
do capitalismo.

O nascimento da indústria causou grandes transformações na economia mundial, assim como no es-
tilo de vida da humanidade, uma vez que acelerou a produção de mercadorias e a exploração dos re-
cursos da natureza. Além disso, foi responsável por grandes transformações no processo produtivo e
nas relações de trabalho.

A Revolução Industrial foi iniciada de maneira pioneira na Inglaterra, a partir da segunda metade do
século XVIII, e atribui-se esse pioneirismo aos ingleses pelo fato de que foi lá que surgiu a primeira
máquina a vapor, em 1698, construída por Thomas Newcomen e aperfeiçoada por James Watt, em
1765. O historiador Eric Hobsbawm, inclusive, acredita que a Revolução Industrial só foi iniciada
de fato na década de 1780|1|.

Uma das principais invenções da Primeira Revolução Industrial foi a locomotiva a vapor.

O avanço tecnológico característico da Revolução Industrial permitiu um grande desenvolvimento


de maquinário voltado para a produção têxtil, isto é, de roupas. Com isso, uma série de máquinas,
como a “spinning Jenny”, “spinning frame”, “water frame” e a “spinning mule”, foram criadas para
tecer fios. Com essas máquinas, era possível tecer uma quantidade de fios que manualmente exigiria
a utilização de várias pessoas.

Posteriormente, no começo do século XIX, o desenvolvimento tecnológico foi utilizado na criação


da locomotiva e das estradas de ferro, que, a partir da década de 1830, foram construídas por toda a
Inglaterra. A construção das estradas de ferro contribuiu para ampliar o crescimento industrial, uma
vez que diminuiu as distâncias, ao tornar as viagens mais curtas, e ampliou a capacidade de loco-
moção de mercadorias.

O desenvolvimento das estradas de ferro aproveitou aprosperidade da indústria inglesa, uma vez que
os financiadores de sua construção foram exatamente os capitalistas que prosperaram na Revolução
Industrial. Isso porque a indústria inglesa não conseguia absorver todo o excedente de capital,
fazendo com que os investimentos nas estradas de ferro acontecessem.

Acesse também: Revolução Francesa — acontecimento também do séc. XVIII que foi um marco na
história da humanidade

Tópicos deste artigo


1 - Resumo sobre a Revolução Industrial
2 - O trabalhador na Revolução Industrial
Cartismo e ludismo
3 - Por que a Revolução Industrial aconteceu primeiro na Inglaterra?
4 - Fases da Revolução Industrial
→ Primeira Revolução Industrial
→ Segunda Revolução Industrial
→ Terceira Revolução Industrial
5 - Consequências
Resumo sobre a Revolução Industrial
A Inglaterra foi a nação pioneira no desenvolvimento industrial e tecnológico no mundo.

Por meio da Revolução Industrial, o capitalismo consolidou-se como sistema econômico vigente.

O desenvolvimento da máquina a vapor é considerado como o ponto de partida da Revolução Indus-


trial.
Causou profundas transformações no modo de produção e também nas relações entre patrão e tra-
balhador.

Durante o auge da Revolução Industrial, os trabalhadores ingleses recebiam salários baixíssimos e


eram obrigados a suportar uma longa jornada de trabalho.

A intensa exploração do trabalho do proletário fez com que os trabalhadores organizassem-se em


sindicatos.

Dois movimentos de trabalhadores foram muito importantes no século XIX: o ludismo e o cartismo.

A Revolução Industrial aconteceu de maneira pioneira na Inglaterra por uma junção de fatores, que
englobam as grandes reservas de carvão do país, os cercamentos, o excedente de capital existente no
país etc.
As transformações econômicas, sociais e tecnológicas proporcionadas pela Revolução Industrial di-
videm-se em fases, segundo os avanços produtivos, no campo científico e em diversas outras áreas
do setor econômico e industrial.

Pode-se dividir a Revolução Industrial em: Primeira Revolução Industrial, Segunda Revolução In-
dustrial e Terceira Revolução Industrial.

Diversas foram as consequências da Revolução Industrial. Houve aumento da produtividade, mu-


dança nas relações de trabalho, alterações no modo de vida e padrões de consumo da sociedade; al-
terou-se a relação entre o homem e a natureza, houve avanços em diversos campos do conheci-
mento, entre outras mudanças.

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O trabalhador na Revolução Industrial
A Revolução Industrial também gerou grandes transformações no modo de produção de mercado-
rias. Antes do surgimento da indústria, a produção acontecia pelo modo de produção manufatureiro,
isto é, um modo de produção manual que utilizava a capacidade artesanal daquele que produzia. As-
sim, a manufatura foi substituída pela maquinofatura.

Com a maquinofatura, não era mais necessária a utilização de vários trabalhadores especializados
para produzir uma mercadoria, pois uma pessoa manuseando as máquinas conseguiria fazer todo o
processo sozinha. Com isso, o salário do trabalhador despencou, uma vez que não eram mais
necessários funcionários com habilidades manuais.

Isso é evidenciado pela estatística trazida por Eric Hobsbawm que mostra como o salário do trabal-
hador inglês caiu com o surgimento da indústria. O exemplo levantado foi Bolton, cidade no oeste
da Inglaterra. Lá, em 1795, um artesão ganhava 33 xelins, mas, em 1815, o valor pago havia caído
para 14 xelins e, entre 1829 e 1834, esse salário havia despencado para quase 6 xelins |2|. Percebe-
mos aqui uma queda brusca no salário e esse processo deu-se em toda a Inglaterra.
Além do baixo salário, os trabalhadores eram obrigados a lidar com uma carga de trabalho extenu-
ante. Nas indústrias inglesas do período da Revolução Industrial, a jornada diária de trabalho costu-
mava ser de até 16 horas com apenas 30 minutos de pausa para o almoço. Os trabalhadores que não
aguentassem a jornada eram sumariamente substituídos por outros.

Não havia nenhum tipo de segurança para os trabalhadores e constantemente acidentes aconteciam.
O acidente mais comum era quando os trabalhadores tinham seus dedos presos na máquina, e muitos
os perdiam. Os trabalhadores que se afastavam por problemas de saúde poderiam ser demitidos e
não receberiam seu salário. Só eram pagos os funcionários que trabalhavam efetivamente.

Essa situação degradante fez com que os trabalhadores mobilizassem-se pouco a pouco contra seus
patrões. Isso levou à criação das organizações de trabalhadores (mais conhecidas no Brasil como
sindicatos) e chamadas na Inglaterra de trade union. Os trabalhadores exigiam melhorias salariais e
redução na jornada de trabalho.
Representação de uma revolta de trabalhadores do século XIX.

Cartismo e ludismo
Dois grandes movimentos de trabalhadores surgiram dessas organizações foram o ludismo e o car-
tismo. O ludismo teve atuação destacada no período entre 1811 e 1816, e sua estratégia consistia em
invadir as fábricas e destruir as máquinas. Isso acontecia porque os adeptos do ludismo afirmavam
que as máquinas estavam roubando os empregos dos homens e, portanto, deveriam ser destruídas.

O movimento cartista, por sua vez, surgiu na década de 1830 e lutava por direitos trabalhistas e
políticos para a classe de trabalhadores da Inglaterra. Uma das principais exigências dos cartistas era
o sufrágio universal masculino, isto é, o direito de que todos os homens pudessem votar. Os cartistas
também exigiam que sua classe tivesse representatividade no Parlamento inglês.
A mobilização de trabalhadores resultou em algumas melhorias ao longo do século XIX. A pressão
exercida pelos trabalhadores dava-se, principalmente, por meio de greve. Uma das melhorias mais
sensíveis conquistadas pelos trabalhadores foi a redução da jornada de trabalho para 10 horas
diárias, por exemplo.

A mobilização de trabalhadores enquanto classe, isto é, pobres (proletários), não foi um fenômeno
que surgiu especificamente por causa da Revolução Industrial. Nas palavras de Eric Hobsbawm, o
enfrentamento dos patrões pelos trabalhadores aconteceu, porque a Revolução Francesa deu-lhes
confiança para isso, enquanto“a Revolução Industrial trouxe a necessidade de mobilização perma-
nente”|3|.

Leia também: Proletariado — a classe de trabalhadores sem meios próprios de subsistência

Por que a Revolução Industrial aconteceu primeiro na Inglaterra?


A Revolução Industrial despontou pioneiramente, na segunda metade do século XVIII, na Inglaterra
e gradativamente foi espalhando-se pela Europa e, em seguida para todo o mundo. Mas por que nec-
essariamente isso ocorreu na Inglaterra? A resposta para isso é encontrada um pouco no acaso e um
pouco na própria história inglesa.

Primeiramente, é importante estabelecer que o desenvolvimento tecnológico e industrial na


Inglaterra foi possível, porque a burguesia estabeleceu-se como classe e garantiu o desenvolvimento
da economia inglesa na direção do capitalismo. Isso aconteceu no século XVII, com a Revolução
Gloriosa.

A Revolução Gloriosa aconteceu em 1688 e consolidou o fim da monarquia absolutista na Inglaterra


(que já vinha enfraquecida desde a Revolução Puritana, na década de 1640). Com isso, a Inglaterra
transformou-se em uma monarquia constitucional parlamentarista, na qual o poder do rei não estava
acima do Parlamento e nem da Constituição, no caso da Inglaterra da Declaração de Direitos – Bill
of Rights.
Assim, a burguesia conseguiu consolidar-se enquanto classe e governar de maneira a atender aos
seus interesses econômicos. Um acontecimento fundamental para o desenvolvimento do comércio
inglês ocorreu no meio das duas revoluções do século XVII, citadas acima. Em 1651, Oliver
Cromwell decretou os Atos de Navegação, lei que decretava que mercadorias compradas ou vendi-
das pela Inglaterra somente seriam transportadas por embarcações inglesas.

Essa lei foi fundamental, pois protegeu o comércio, enfraqueceu a concorrência dos ingleses e
garantiu que os navios ingleses controlassem as rotas comerciais marítimas. Isso enriqueceu a bur-
guesia inglesa e permitiu-lhes acumular capital. Esse capital foi utilizado no desenvolvimento de
máquinas e na instalação das indústrias.

Mas não bastava somente excedente de capital para garantir o desenvolvimento industrial. Eram
necessários trabalhadores, e a Inglaterra do século XVIII tinha mão de obra excedente. Isso está
relacionado com os cercamentos que aconteciam na Inglaterra e que se intensificaram a partir do
século XVII.

Os cercamentos aconteciam por força da Lei dos Cercamentos (Enclosure Acts), lei inglesa que per-
mitia que as terras comuns fossem cercadas e transformadas em pasto. As terras comuns eram parte
do sistema feudal, que estipulava determinadas áreas para serem ocupadas e cultivadas pelos cam-
poneses.

Com os cercamentos, os camponeses que habitavam essas terras foram expulsos, e as terras foram
transformadas em pasto para a criação de ovelhas. A criação de ovelhas era o que fornecia a lã uti-
lizada em larga escala na produção têxtil do país. Os camponeses expulsos de suas terras e sem ter
para onde ir mudaram-se para as grandes cidades.

Sem nenhum tipo de qualificação, esses camponeses viram-se obrigados a trabalhar nos únicos lo-
cais que forneciam empregos – as indústrias. Assim, as indústrias que se desenvolviam na Inglaterra
tinham mão de obra excedente. Isso garantia aos patrões poder de barganha, pois poderiam forçar os
trabalhadores a aceitarem salários de fome por uma jornada diária exaustiva.

A adesão dos trabalhadores às indústrias ocorreu de maneira massiva também por uma lei inglesa
que proibia as pessoas de “vadiagem”. Assim, pessoas que fossem pegas vagando pelas ruas sem
emprego poderiam ser punidas com castigos físicos e até mesmo com a morte, caso fossem reinci-
dentes.

Por último, destaca-se que o acaso e o fortuito também contribuíram para que a Inglaterra despon-
tasse pioneiramente. O desenvolvimento das máquinas e das indústrias apenas ocorreu, porque a
Inglaterra tinha grandes reservas dos dois materiais essenciais para isso: o carvão e o ferro. Com
reservas de carvão e ferro abundantes, a Inglaterra pôde desenvolver sua indústria desenfreada-
mente.

Acesse também: Fases do capitalismo — quais são e suas características


Fases da Revolução Industrial
A Revolução Industrial corresponde às modificações econômicas e tecnológicas que consolidaram o
sistema capitalista e permitiram o surgimento de novas formas de organização da sociedade. As
transformações tecnológicas, econômicas e sociais vividas na Europa Ocidental, inicialmente limi-
tadas à Inglaterra, em meados do século XVIII, tiveram diversos desdobramentos, os quais podemos
chamar de fases. Essas fases correspondem ao processo evolutivo das tecnologias desenvolvidas e as
consequentes mudanças socioeconômicas. São elas:

Primeira Revolução Industrial;


Segunda Revolução Industrial;
Terceira Revolução Industrial.
→ Primeira Revolução Industrial
A Primeira Revolução Industrial refere-se ao processo de evolução tecnológica vivido a partir do
século XVIII na Europa Ocidental, entre 1760 e 1850, estabelecendo uma nova relação entre a so-
ciedade e o meio, bem como possibilitando a existência de novas formas de produção que transfor-
maram o setor industrial, dando início a um novo padrão de consumo. Essa fase é marcada especial-
mente pela:

substituição da energia produzida pelo homem por energias como a vapor, eólica e hidráulica;
substituição da produção artesanal (manufatura) pela indústria (maquinofatura);
existência de novas relações de trabalho.
As principais invenções dessa fase que modificaram todo o cenário vivido na época foram:

a utilização do carvão como fonte de energia;


o consequente desenvolvimento da máquina a vapor e da locomotiva;
desenvolvimento do telégrafo, um dos primeiros meios de comunicação quase instantânea.
A produção modificou-se, diminuindo o tempo e aumentando a produtividade; as invenções possi-
bilitaram o melhor escoamento de matérias-primas, bem como de consumidores, e também favore-
ceram a distribuição dos bens produzidos.
→ Segunda Revolução Industrial

O petróleo passou a ser utilizado na Segunda Revolução Industrial como fonte de energia para o mo-
tor à combustão.

A Segunda Revolução Industrial refere-se ao período entre a segunda metade do século XIX até
meados do século XX, tendo seu fim durante a Segunda Guerra Mundial. A industrialização
avançou os limites geográficos da Europa Ocidental, espalhando-se por países como Estados
Unidos, Japão e demais países da Europa.

Compreende a fase de avanços tecnológicos ainda maiores que os vivenciados na primeira fase, bem
como o aperfeiçoamento de tecnologias já existentes. O mundo pôde vivenciar diversas novas cri-
ações, que aumentaram ainda mais a produtividade e consequentemente os lucros das indústrias.
Houve nesse período, também, grande incentivo às pesquisas, especialmente no campo da medicina.
As principais invenções dessa fase estão associadas ao uso do petróleo como fonte de energia, uti-
lizado na nova invenção: o motor à combustão. A eletricidade, que antes era utilizada apenas para
desenvolvimento de pesquisas em laboratórios, nesse período, começou a ser usada para o funciona-
mento de motores, com destaque para os motores elétricos e à explosão. O ferro, que antes era larga-
mente utilizado, passou a ser substituído pelo aço.

→ Terceira Revolução Industrial

A Terceira Revolução Industrial ficou conhecida como Revolução Tecnocientífica, especialmente


pelo desenvolvimento da robótica.

A Terceira Revolução Industrial, também conhecida como Revolução Tecnocientífica, iniciou-se na


metade do século XX, após a Segunda Guerra Mundial. Essa fase representa uma revolução não só
no setor industrial, visto que passou a relacionar não só o desenvolvimento tecnológico voltado ao
processo produtivo, mas também ao avanço científico, deixando de limitar-se a apenas alguns países
e espalhando-se por todo o mundo.

As transformações possibilitadas pelos avanços tecnocientíficos são vivenciadas até os dias atuais, e
cada nova descoberta representa um novo patamar alcançado dentro dessa fase da revolução, consol-
idando o que ficou conhecido como capitalismo financeiro. A introdução da biotecnologia, robótica,
avanços na área da genética, telecomunicações, eletrônica, transporte, entre outras áreas, transfor-
maram não só a produção, como também as relações sociais, o modo de vida da sociedade e o es-
paço geográfico.

Todo esse desenvolvimento proporcionado pelos avanços obtidas nas diversas áreas científicas rela-
cionam-se ao que chamamos de globalização: tudo converge para a diminuição do tempo e das dis-
tâncias, ligando pessoas, lugares, transmitindo informações instantaneamente, superando, então, os
desafios e obstáculos que permeiam a localização geográfica, as diferenças culturais, físicas e soci-
ais.

Consequências
De um modo geral, a Revolução Industrial transformou não só o setor econômico e industrial, como
também as relações sociais, as relações entre o homem e a natureza, provocando alterações no modo
de vida das pessoas, nos padrões de consumo e no meio ambiente. Cada fase da revolução represen-
tou diferentes transformações e consequências mediante os avanços obtidos em cada período.

A Primeira Revolução Industrial representou uma nova organização no modo capitalista. Nesse
período houve um aumento significativo de indústrias, bem como o aumento significativo da produ-
tividade (produção em menor tempo). O homem, ao ser substituído pela máquina, saiu da zona rural
para ir para as cidades em busca de novas oportunidades, dando início ao processo de urbanização.
Esse processo culminou no crescimento desenfreado das cidades, na marginalização de boa parte da
população, bem como em problemas de ordem social, como miséria, violência, fome. Nessa fase,
também, a sociedade organizou-se em dois polos: de um lado a burguesia e do outro o proletariado.

A Segunda Revolução Industrial teve como principais consequências, mediante o maior avanço tec-
nológico, o aumento da produção em massa em bem menos tempo, consequentemente o aumento do
comércio e modificação nos padrões de consumo; muitos países passaram a se industrializar, espe-
cialmente os mais ricos, dominando, então, economicamente diversos outros países (expansão terri-
torial e exploração de matéria-prima).

O avanço nos transportes possibilitou maior e melhor escoamento de mercadorias e trânsito de pes-
soas; surgiram as grandes cidades e com elas também os problemas como superpopulação; aumento
das doenças; desemprego e aumento da mão de obra barata e novas relações de trabalho.
A Terceira Revolução Industrial e a nova integração entre ciência, tecnologia e produção possibili-
taram avanços na medicina; a invenção de robôs capazes de fazer trabalho extremamente minucioso
e preciso; houve avanços na área da genética, trazendo novas técnicas que melhoraram a qualidade
de vida das pessoas; bem como diminuição das distâncias entre os povos e a maior difusão de notí-
cias e informações por meio de novos meios de comunicação; o capitalismo financeiro consolidou-
se e houve aumento do número de empresas multinacionais.

E não menos importante, todas essas transformações possibilitadas pela Revolução Industrial como
um todo transformaram o modo como o homem relaciona-se com o meio. A apropriação dos recur-
sos naturais para viabilizar as produções e os avanços tecnocientíficos tem causado grande impacto
ambiental.

Atualmente, as alterações provocadas no meio ambiente têm sido amplamente discutidas pelas co-
munidades internacionais, órgãos e entidades, que expressam a importância de mudar o modelo de
desenvolvimento econômico que explora os recursos naturais sem pensar nas gerações futuras."
Revolução Francesa

A Revolução Francesa, um dos maiores acontecimentos da humanidade, foi um processo revolu-


cionário inspirado em ideais iluministas contra a monarquia absolutista.
A Revolução Francesa teve
como grande marco a Queda da Bastilha, que aconteceu no dia 14 de julho de 1789.
A Revolução Francesa foi um ciclo revolucionário de grandes proporções que se espalhou pela França e
aconteceu entre 1789 e 1799. Foi inspirada nos ideais do Iluminismo e motivada pela situação de crise que a
França vivia no final do século XVIII. Causou também profundas transformações e marcou o início da
queda do absolutismo na Europa.

Resumo

Dentre os principais acontecimentos e informações relativos à Revolução Francesa, podem ser destacados:
● A Revolução Francesa retirou sua base ideológica dos ideais iluministas.
● Antes da revolução, a França era uma monarquia absolutista governada por Luís XVI.
● A França vivia uma intensa crise econômica durante as décadas de 1770 e 1780, e essa, em partes,
motivou o início da revolução.
● O estopim que espalhou o ímpeto revolucionário pela França foi a Queda da Bastilha, que aconte-
ceu em 14 de julho de 1789.
● Ao longo da revolução, a França viveu as seguintes fases: Assembleia Nacional Constituinte, As-
sembleia Legislativa, Convenção Nacional e Diretório.
● Os principais partidos eram girondinos, defensores de que medidas conservadoras fossem real-
izadas, e jacobinos, defensores de que profundas transformações sociais, econômicas e políticas
acontecessem.
● Durante o período do terror, os jacobinos, liderados por Maximilien Robespierre, guilhotinaram
milhares de opositores.
● Os girondinos derrubaram os jacobinos do poder por meio de um golpe conhecido como Reação
Termidoriana.
● A Revolução Francesa encerrou-se por meio do golpe organizado por Napoleão Bonaparte e con-
hecido como Golpe do 18 de Brumário.

Causas

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Luís XVI era o rei francês durante a década de 1780.
A Revolução Francesa foi resultado direto da crise que a França vivia no final do século XVIII. A insatis-
fação popular (com a crise econômica e política que o país vivia) aliou-se com os interesses da burguesia
em implantar no país as ideias do Iluminismo como forma de combater os privilégios da aristocracia
francesa.
No final do século XVIII, a França era uma monarquia absolutista em que o rei era Luís XVI. O poder de
Luís XVI, como em todo regime absolutista, era pleno, e a sociedade francesa era dividida em grupos soci -
ais muito bem definidos. A composição social da França era a seguinte:
● Primeiro Estado: clero;
● Segundo Estado: nobreza;
● Terceiro Estado: restante da população.

Essa divisão social na França tinha uma clara desigualdade social, uma vez que Primeiro e Segundo Estados
possuíam privilégios que não se estendiam ao Terceiro Estado. O destaque vai para as isenções de impostos
que ambas as classes possuíam e para o direito de alguns nobres de poderem cobrar impostos dos campone-
ses que trabalhavam em suas terras.
O Terceiro Estado, por sua vez, era um grupo bastante heterogêneo, isto é, composto por diferentes grupos,
como a burguesia e os camponeses (os segundos correspondiam a 80% da população francesa). Os cam-
poneses viviam na pobreza ao passo que a aristocracia francesa vivia uma vida de luxo. Para os burgueses,
os privilégios da aristocracia do país eram um entrave para o desenvolvimento de seus negócios. A desigual-
dade social é a primeira causa da revolução.
Toda essa situação de desigualdade agravou-se com a crise social que existia na França. A crise econômica
francesa era motivada pelos elevados gastos do país (o governo francês gastava 20% a mais do que arreca-
dava). Esses gastos foram agravados pelo envolvimento do país em conflitos no exterior. A existência de
privilégios de classe no país também contribuía para a crise.
A crise econômica na França aumentava a pressão, principalmente, para as classes de baixo, uma vez que o
custo de vida aumentou, a oferta de empregos foi reduzida, e os impostos cobrados pela nobreza aumen -
taram. Essa situação, em si, já era o suficiente para levar os camponeses à fome, mas, em 1788 e 1789, o
país ainda enfrentou um inverno rigoroso, que prejudicou as colheitas e contribuiu para que o alimento fi-
casse mais caro ainda.
Tentativas de reforma haviam sido propostas, mas não avançaram porque a aristocracia francesa havia
mostrado-se resistente às possibilidades de reformas que viessem a retirar parte de seus privilégios. Assim,
em 1789, a França vivia uma situação complicada, pois a crise econômica era grave, e a pobreza e a fome
levaram a população a um estado de quase rebelião.
O resultado encontrado pela nobreza francesa foi convocar os Estados Gerais, uma reunião criada na França
feudal e que era convocada só em momentos de emergência. Essa saída era agradável para a aristocracia
francesa, pois, nos moldes antigos do Estado Geral, Primeiro e Segundo Estados uniam-se contra o Terceiro
Estado.
O Terceiro Estado, porém, não estava disposto a manter-se nos Estados Gerais dentro dos moldes em que
ele funcionava em tempos passados. Com isso, foi proposto pelos representantes desse Estado uma alteração
no funcionamento dos Estados Gerais. Em vez de o voto ser por Estado, foi proposto que ele fosse individ-
ual, isto é, todos os membros dos Estados (incluindo os mais de 500 do Terceiro Estado) teriam direito ao
voto.
O rei francês não aceitou a proposta e, assim, o Terceiro Estado rompeu com os Estados Gerais e fundou a
Assembleia Nacional Constituinte, com o propósito de redigir uma Constituição que proporia mudanças
para a França, tornando-a uma monarquia constitucional. Quando Luís XVI tentou fechar a Constituinte à
força, a população parisiense rebelou-se em sua defesa.
No dia 12 de julho de 1789, a população francesa tomou as ruas de Paris. No dia 13, foi criado uma Comuna
para governar Paris e uma Guarda Nacional, espécie de milícia popular. No dia 14, a população partiu para
tomar armas e pólvora do governo e, com isso, atacou a Bastilha, antiga fortaleza convertida em prisão que
era usada para aprisionar opositores dos reis franceses.
No dia 14 de julho, então, houve a Queda da Bastilha, em que a população francesa invadiu e tomou o cont-
role da prisão que era o símbolo da opressão absolutista. Depois disso, a revolução espalhou-se pelo país, al-
cançando novas cidades e chegando ao campo.

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• Iluminismo

A Revolução Francesa inspirou-se nos ideais iluministas, que defendiam que a autoridade deveria basear-se
na razão. Os iluministas defendiam ideais como liberdade e constitucionalismo, eram fortes defensores da
separação entre Igreja e Estado e, além disso, eram opositores da monarquia absolutista e defensores do
método científico. As revoluções burguesas do século XVIII — americana e francesa — tiraram dos ideais
iluministas a sua base ideológica.
Acesse também: Veja as críticas do filósofo Edmund Burke à Revolução Francesa
Etapas da Revolução Francesa

Depois da Queda da Bastilha, o processo de revolução espalhou-se pela França e estendeu-se pelos dez anos
seguintes, sendo somente encerrado quando Napoleão Bonaparte assumiu o poder do país por meio do
Golpe de 18 de Brumário. A Revolução Francesa pode ser dividida dentro do período das instituições políti-
cas que atuaram no país:
● Assembleia Nacional Constituinte e Assembleia Legislativa (1789-1792);
● Convenção Nacional (1792-1795);
● Diretório (1795-1799).

• Assembleia Constituinte e Assembleia Legislativa


Trata-se do período inicial da Revolução Francesa, o qual foi marcado por grandes transformações, por
meio da redação de uma Constituição para a França e pela atuação da Assembleia Legislativa. Após a
Queda da Bastilha, muitos camponeses, no interior do país, temendo ficar sem alimentos e muito endivida-
dos, partiram para o ataque.
Esse foi o período do Grande Medo, que ocorreu entre julho e agosto de 1789, e durante o qual camponeses
começaram a atacar aristocratas e suas propriedades. Assim, residências da nobreza foram invadidas, saque-
adas e destruídas, cartórios foram atacados para que os títulos de propriedade fossem destruídos etc. Os
camponeses exigiam o fim de alguns impostos e maior acesso aos alimentos.
A burguesia francesa, temendo esse ímpeto popular, resolveu tomar decisões que aceleraram as transfor-
mações na França e que tinham como objetivo principal controlar o povo. Assim, no dia 4 de agosto de
1789, foi decretada a abolição dos direitos feudais que existiam na França. No mesmo mês, foi convocada a
redação da Constituição e foi anunciada a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão.
No dia 4 de agosto de 1789, os parlamentares da Assembleia Constituinte aboliram os privilégios oriundos
do Antigo Regime da França.
Esse foi um dos documentos mais importantes da Revolução Francesa e, na teoria, decretava que todos os
seres humanos eram iguais perante a lei. No entanto, é importante considerar que essa ideia de igualdade,
para os liberais do século XVIII, estendia-se apenas ao âmbito jurídico e não alcançava uma dimensão de -
mocratizante como o nome do documento pode sugerir.
Nesse contexto de radicalização popular, a classe média e a burguesia francesa assumiram posições conser-
vadoras para controlar a ação do povo. A nobreza e o clero, por sua vez, começaram a fugir da França, pois
temiam tudo que acontecia no país. Essa aristocracia francesa começou a ser abrigada nas nações absolutis-
tas vizinhas, sobretudo na Áustria e Prússia. Essa nobreza também começou a planejar a contrarrevolução,
com o objetivo de reverter tudo que acontecia na França.
Até mesmo o rei francês, sentindo-se ameaçado, organizou sua fuga da França, em 1791, com sua esposa,
Maria Antonieta. Luís XVI, porém, foi reconhecido quando estava em Varennes, próximo à fronteira com a
França, e reconduzido para a Paris. Antes disso, ele e sua esposa tinham sido obrigados a abandonarem o
Palácio de Versalhes e a instalarem-se no Palácio de Tulherias.
Além de atacar os privilégios da nobreza, a burguesia francesa também se voltou contra o clero. Isso aconte-
ceu por meio da Constituição Civil do Clero, aprovada em 1790. Essa medida legal promoveu a separação
do Estado e da Igreja e tentou colocar a segunda sob a autoridade do primeiro, uma vez que os padres tin-
ham de jurar obediência ao Estado. Essa medida e outras tomadas contra o clero lançaram-no para o esforço
contrarrevolucionário.
Os trabalhos da Assembleia Nacional Constituinte estenderam-se até 1791, quando, finalmente, foi promul-
gada a Constituição da França. No texto da Constituição, determinava-se o fim da monarquia absoluta e es-
tipulava-se que a França era transformada em uma monarquia constitucional. Isso decepcionou uma ala
mais popular da revolução que almejava que o país fosse transformado em uma república democrática.
A atuação conservadora da burguesia francesa à frente da Assembleia Constituinte é exemplificada pelo his-
toriador Eric Hobsbawm no seguinte trecho que aborda os objetivos econômicos e políticos dessa classe:
Economicamente as perspectivas da Assembleia Constituinte eram inteiramente lib-
erais: sua política em relação aos camponeses era o cerco das terras comuns e o incen-
tivo aos empresários rurais; para a classe trabalhadora, a interdição dos sindicatos; para
os pequenos artesãos, a abolição dos grêmios e corporações […]. A Constituição de
1791 rechaçou a democracia excessiva através de um sistema de monarquia constitu-
cional baseada em um direito de voto censitário dos “cidadãos ativos” reconhecida-
mente bastante amplo.|1|
Com a Constituição de 1791, a Assembleia Constituinte encerrou seu período de funcionamento e foi substi-
tuída pela Assembleia Legislativa. Nessa assembleia, consolidaram-se dois grupos políticos que possuíam
visões bastante diferentes a respeito dos rumos da revolução. Os girondinos eram parte da burguesia que
acreditava que as grandes mudanças necessárias já tinham acontecido e, por isso, possuíam uma visão mais
conservadora. Já os jacobinos eram membros da burguesia que acreditavam que as mudanças deveriam ser
ainda mais radicais do que as que estavam em curso.
A primeira reunião da Assembleia Legislativa iniciou-se em 8 de outubro de 1791, e a atuação dessa institu-
ição durou até 7 de setembro de 1792. Nesse período, a França teve de lidar com a ação estrangeira contra a
revolução, pois Áustria e Prússia, liderando os esforços contrarrevolucionários, invadiram o país e forçaram
a França a declarar guerra a ambos.
A ação de Áustria e Prússia contra a França deveu-se pelo fato de que o processo revolucionário francês era
visto como grande ameaça por todas as nações absolutistas da Europa. Com a guerra, os jacobinos
declararam “pátria em perigo”, uma vez que as tropas estrangeiras aproximavam-se de Paris, e a população
francesa começava a se armar para resistir.
A guerra também contribuiu para a radicalização da revolução e deu início a uma fase conhecida como Ter -
ror. Esse clima de guerra fez com que os jacobinos e os sans-culottes tomassem a frente da revolução, e,
com isso, a monarquia francesa acabou sendo derrubada pelos sans-culottes, instaurando-se a República em
1792.
• Convenção

A Convenção Nacional iniciou seus trabalhos a partir de 20 de setembro de 1792 e substituiu a Assembleia
Legislativa. Os participantes da Convenção Nacional foram eleitos por sufrágio universal masculino, e, com
ela, a França transformou-se em uma República. Antes da posse da Convenção, o rei francês havia sido cap-
turado e feito prisioneiro. Daí surgiu um grande debate: a execução do rei.
Esse debate dividiu a Convenção com os girondinos defendendo que o rei fosse exilado enquanto os jacobi-
nos defendiam que o rei fosse executado. O destino do rei e de sua esposa foi decidido quando foram encon-
trados documentos que atestavam o envolvimento de Luís XVI com o rei austríaco. Resultado: Luís XVI e
Maria Antonieta foram acusados de traição e guilhotinados em 1793.
Com o endurecimento da guerra, a França ficou sob o controle dos jacobinos, que contavam com o apoio
popular. Os jacobinos criaram o Comitê de Salvação Pública, instituição em que eles tomavam as decisões
mais importantes da França. Iniciou-se uma intensa perseguição a todos aqueles que, aos olhos jacobinos,
representavam uma ameaça à revolução. O regicídio foi uma dessas execuções voltadas para os que conspir-
avam contra a revolução.
Os jacobinos conseguiram colocar as massas populares sob seu controle, mas a situação da guerra agravou-
se com a execução de Luís XVI. As nações absolutistas europeias ficaram indignadas com a execução do rei
e reagiram formando uma coalizão para derrubar a revolução na França. Esse grande exército contrarrevolu-
cionário era financiado pela Inglaterra.
O período em que os jacobinos, sob a liderança de Maximilien Robespierre, estiveram à frente da revolução
ficou conhecido como Terror. O nome faz menção à perseguição dos opositores por meio da Lei dos Sus -
peitos, que julgava e condenava aqueles considerados traidores com morte na guilhotina. Estima-se que
cerca de 17 mil pessoas tenham sido mortas nesse período em cerca de 14 meses.|2|
Maximilien Robespierre foi o líder dos jacobinos durante a fase da revolução conhecida como Terror.*
Apesar da radicalidade, os jacobinos conseguiram resolver problemas imediatos da França, pois estabi-
lizaram o valor da moeda francesa, aumentaram o exército francês gastando menos, conseguiram derrotar as
tropas que tinham invadido a França e conseguiram estabilizar a situação das rebeliões pelo país.
De toda forma, essa atuação radical dos jacobinos gerou uma natural reação dos grupos conservadores da
França. Assim, os girondinos conspiraram e articularam, com o apoio da alta burguesia da França, um golpe
contra os jacobinos conhecido como Reação Termidoriana e que aconteceu em 1794. Com esse golpe contra
os jacobinos, muitas medidas tomadas por eles foram revertidas, e a liderança jacobina (incluindo Robe-
spierre) foi sumariamente guilhotinada.
Acesse também: Saiba como funcionava o calendário revolucionário francês
• Diretório

O Diretório substituiu a Convenção em 1795 durante um período em que a revolução esteve nas mãos dos
girondinos e da alta burguesia francesa. As medidas mais radicais tomadas pelos jacobinos foram revo-
gadas, inclusive retorno do voto censitário. Nesse momento, os girondinos usaram frequentemente da força
para conter o povo e resistiram a inúmeras tentativas de golpes.
A situação da França permaneceu instável e isso fez com que a alta burguesia francesa visse no autori -
tarismo uma esperança para resolver a situação da França. A população estava insatisfeita, a economia es-
tava ruim, e a guerra continuava a ameaçar o país, então a ditadura foi vista como solução.
A imagem de uma figura forte e autoritária surgiu como possibilidade de resolução dos problemas franceses
e disso nasceu o apoio a Napoleão Bonaparte, general do exército francês que liderava as tropas francesas
contra as coalizões internacionais. Com isso, Napoleão organizou um golpe e tomou o poder em um evento
conhecido como Golpe do 18 de Brumário, que aconteceu em 1799.
Consequências

A Revolução Francesa estendeu-se por dez anos e, nesse período, uma série de transformações aconteceu
naquele país. As transformações trazidas pela Revolução Francesa, porém, não se mantiveram apenas na
França e espalharam-se pelo mundo. Elas foram:
● Fim dos privilégios da aristocracia (nobreza e clero) na França;
● Fim dos resquícios do feudalismo e início da consolidação do capitalismo;
● Queda do absolutismo em toda a Europa;
● Inspirou os movimentos de independência na América, sobretudo das nações colonizadas pela Es-
panha;
● Popularizou a república como forma de governo;
● Popularizou a ideia de separação dos poderes;
● Garantiu a aplicação dos ideais liberais de liberdade individual do lema “todos os homens são
iguais perante a lei”;
● Consolidou o nacionalismo enquanto ideologia de reconhecimento do dever patriótico.

Revolução Francesa

A Revolução Francesa, um dos maiores acontecimentos da humanidade, foi um processo revolu-


cionário inspirado em ideais iluministas contra a monarquia absolutista.
A Revolução Francesa teve
como grande marco a Queda da Bastilha, que aconteceu no dia 14 de julho de 1789.
A Revolução Francesa foi um ciclo revolucionário de grandes proporções que se espalhou pela França e
aconteceu entre 1789 e 1799. Foi inspirada nos ideais do Iluminismo e motivada pela situação de crise que a
França vivia no final do século XVIII. Causou também profundas transformações e marcou o início da
queda do absolutismo na Europa.

Resumo

Dentre os principais acontecimentos e informações relativos à Revolução Francesa, podem ser destacados:
● A Revolução Francesa retirou sua base ideológica dos ideais iluministas.
● Antes da revolução, a França era uma monarquia absolutista governada por Luís XVI.
● A França vivia uma intensa crise econômica durante as décadas de 1770 e 1780, e essa, em partes,
motivou o início da revolução.
● O estopim que espalhou o ímpeto revolucionário pela França foi a Queda da Bastilha, que aconte-
ceu em 14 de julho de 1789.
● Ao longo da revolução, a França viveu as seguintes fases: Assembleia Nacional Constituinte, As-
sembleia Legislativa, Convenção Nacional e Diretório.
● Os principais partidos eram girondinos, defensores de que medidas conservadoras fossem real-
izadas, e jacobinos, defensores de que profundas transformações sociais, econômicas e políticas
acontecessem.
● Durante o período do terror, os jacobinos, liderados por Maximilien Robespierre, guilhotinaram
milhares de opositores.
● Os girondinos derrubaram os jacobinos do poder por meio de um golpe conhecido como Reação
Termidoriana.
● A Revolução Francesa encerrou-se por meio do golpe organizado por Napoleão Bonaparte e con-
hecido como Golpe do 18 de Brumário.

Causas

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Luís XVI era o rei francês durante a década de 1780.
A Revolução Francesa foi resultado direto da crise que a França vivia no final do século XVIII. A insatis-
fação popular (com a crise econômica e política que o país vivia) aliou-se com os interesses da burguesia
em implantar no país as ideias do Iluminismo como forma de combater os privilégios da aristocracia
francesa.
No final do século XVIII, a França era uma monarquia absolutista em que o rei era Luís XVI. O poder de
Luís XVI, como em todo regime absolutista, era pleno, e a sociedade francesa era dividida em grupos soci -
ais muito bem definidos. A composição social da França era a seguinte:
● Primeiro Estado: clero;
● Segundo Estado: nobreza;
● Terceiro Estado: restante da população.

Essa divisão social na França tinha uma clara desigualdade social, uma vez que Primeiro e Segundo Estados
possuíam privilégios que não se estendiam ao Terceiro Estado. O destaque vai para as isenções de impostos
que ambas as classes possuíam e para o direito de alguns nobres de poderem cobrar impostos dos campone-
ses que trabalhavam em suas terras.
O Terceiro Estado, por sua vez, era um grupo bastante heterogêneo, isto é, composto por diferentes grupos,
como a burguesia e os camponeses (os segundos correspondiam a 80% da população francesa). Os cam-
poneses viviam na pobreza ao passo que a aristocracia francesa vivia uma vida de luxo. Para os burgueses,
os privilégios da aristocracia do país eram um entrave para o desenvolvimento de seus negócios. A desigual-
dade social é a primeira causa da revolução.
Toda essa situação de desigualdade agravou-se com a crise social que existia na França. A crise econômica
francesa era motivada pelos elevados gastos do país (o governo francês gastava 20% a mais do que arreca-
dava). Esses gastos foram agravados pelo envolvimento do país em conflitos no exterior. A existência de
privilégios de classe no país também contribuía para a crise.
A crise econômica na França aumentava a pressão, principalmente, para as classes de baixo, uma vez que o
custo de vida aumentou, a oferta de empregos foi reduzida, e os impostos cobrados pela nobreza aumen -
taram. Essa situação, em si, já era o suficiente para levar os camponeses à fome, mas, em 1788 e 1789, o
país ainda enfrentou um inverno rigoroso, que prejudicou as colheitas e contribuiu para que o alimento fi-
casse mais caro ainda.
Tentativas de reforma haviam sido propostas, mas não avançaram porque a aristocracia francesa havia
mostrado-se resistente às possibilidades de reformas que viessem a retirar parte de seus privilégios. Assim,
em 1789, a França vivia uma situação complicada, pois a crise econômica era grave, e a pobreza e a fome
levaram a população a um estado de quase rebelião.
O resultado encontrado pela nobreza francesa foi convocar os Estados Gerais, uma reunião criada na França
feudal e que era convocada só em momentos de emergência. Essa saída era agradável para a aristocracia
francesa, pois, nos moldes antigos do Estado Geral, Primeiro e Segundo Estados uniam-se contra o Terceiro
Estado.
O Terceiro Estado, porém, não estava disposto a manter-se nos Estados Gerais dentro dos moldes em que
ele funcionava em tempos passados. Com isso, foi proposto pelos representantes desse Estado uma alteração
no funcionamento dos Estados Gerais. Em vez de o voto ser por Estado, foi proposto que ele fosse individ-
ual, isto é, todos os membros dos Estados (incluindo os mais de 500 do Terceiro Estado) teriam direito ao
voto.
O rei francês não aceitou a proposta e, assim, o Terceiro Estado rompeu com os Estados Gerais e fundou a
Assembleia Nacional Constituinte, com o propósito de redigir uma Constituição que proporia mudanças
para a França, tornando-a uma monarquia constitucional. Quando Luís XVI tentou fechar a Constituinte à
força, a população parisiense rebelou-se em sua defesa.
No dia 12 de julho de 1789, a população francesa tomou as ruas de Paris. No dia 13, foi criado uma Comuna
para governar Paris e uma Guarda Nacional, espécie de milícia popular. No dia 14, a população partiu para
tomar armas e pólvora do governo e, com isso, atacou a Bastilha, antiga fortaleza convertida em prisão que
era usada para aprisionar opositores dos reis franceses.
No dia 14 de julho, então, houve a Queda da Bastilha, em que a população francesa invadiu e tomou o cont-
role da prisão que era o símbolo da opressão absolutista. Depois disso, a revolução espalhou-se pelo país, al-
cançando novas cidades e chegando ao campo.

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• Iluminismo

A Revolução Francesa inspirou-se nos ideais iluministas, que defendiam que a autoridade deveria basear-se
na razão. Os iluministas defendiam ideais como liberdade e constitucionalismo, eram fortes defensores da
separação entre Igreja e Estado e, além disso, eram opositores da monarquia absolutista e defensores do
método científico. As revoluções burguesas do século XVIII — americana e francesa — tiraram dos ideais
iluministas a sua base ideológica.
Acesse também: Veja as críticas do filósofo Edmund Burke à Revolução Francesa
Etapas da Revolução Francesa

Depois da Queda da Bastilha, o processo de revolução espalhou-se pela França e estendeu-se pelos dez anos
seguintes, sendo somente encerrado quando Napoleão Bonaparte assumiu o poder do país por meio do
Golpe de 18 de Brumário. A Revolução Francesa pode ser dividida dentro do período das instituições políti-
cas que atuaram no país:
● Assembleia Nacional Constituinte e Assembleia Legislativa (1789-1792);
● Convenção Nacional (1792-1795);
● Diretório (1795-1799).

• Assembleia Constituinte e Assembleia Legislativa


Trata-se do período inicial da Revolução Francesa, o qual foi marcado por grandes transformações, por
meio da redação de uma Constituição para a França e pela atuação da Assembleia Legislativa. Após a
Queda da Bastilha, muitos camponeses, no interior do país, temendo ficar sem alimentos e muito endivida-
dos, partiram para o ataque.
Esse foi o período do Grande Medo, que ocorreu entre julho e agosto de 1789, e durante o qual camponeses
começaram a atacar aristocratas e suas propriedades. Assim, residências da nobreza foram invadidas, saque-
adas e destruídas, cartórios foram atacados para que os títulos de propriedade fossem destruídos etc. Os
camponeses exigiam o fim de alguns impostos e maior acesso aos alimentos.
A burguesia francesa, temendo esse ímpeto popular, resolveu tomar decisões que aceleraram as transfor-
mações na França e que tinham como objetivo principal controlar o povo. Assim, no dia 4 de agosto de
1789, foi decretada a abolição dos direitos feudais que existiam na França. No mesmo mês, foi convocada a
redação da Constituição e foi anunciada a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão.
No dia 4 de agosto de 1789, os parlamentares da Assembleia Constituinte aboliram os privilégios oriundos
do Antigo Regime da França.
Esse foi um dos documentos mais importantes da Revolução Francesa e, na teoria, decretava que todos os
seres humanos eram iguais perante a lei. No entanto, é importante considerar que essa ideia de igualdade,
para os liberais do século XVIII, estendia-se apenas ao âmbito jurídico e não alcançava uma dimensão de -
mocratizante como o nome do documento pode sugerir.
Nesse contexto de radicalização popular, a classe média e a burguesia francesa assumiram posições conser-
vadoras para controlar a ação do povo. A nobreza e o clero, por sua vez, começaram a fugir da França, pois
temiam tudo que acontecia no país. Essa aristocracia francesa começou a ser abrigada nas nações absolutis-
tas vizinhas, sobretudo na Áustria e Prússia. Essa nobreza também começou a planejar a contrarrevolução,
com o objetivo de reverter tudo que acontecia na França.
Até mesmo o rei francês, sentindo-se ameaçado, organizou sua fuga da França, em 1791, com sua esposa,
Maria Antonieta. Luís XVI, porém, foi reconhecido quando estava em Varennes, próximo à fronteira com a
França, e reconduzido para a Paris. Antes disso, ele e sua esposa tinham sido obrigados a abandonarem o
Palácio de Versalhes e a instalarem-se no Palácio de Tulherias.
Além de atacar os privilégios da nobreza, a burguesia francesa também se voltou contra o clero. Isso aconte-
ceu por meio da Constituição Civil do Clero, aprovada em 1790. Essa medida legal promoveu a separação
do Estado e da Igreja e tentou colocar a segunda sob a autoridade do primeiro, uma vez que os padres tin-
ham de jurar obediência ao Estado. Essa medida e outras tomadas contra o clero lançaram-no para o esforço
contrarrevolucionário.
Os trabalhos da Assembleia Nacional Constituinte estenderam-se até 1791, quando, finalmente, foi promul-
gada a Constituição da França. No texto da Constituição, determinava-se o fim da monarquia absoluta e es-
tipulava-se que a França era transformada em uma monarquia constitucional. Isso decepcionou uma ala
mais popular da revolução que almejava que o país fosse transformado em uma república democrática.
A atuação conservadora da burguesia francesa à frente da Assembleia Constituinte é exemplificada pelo his-
toriador Eric Hobsbawm no seguinte trecho que aborda os objetivos econômicos e políticos dessa classe:
Economicamente as perspectivas da Assembleia Constituinte eram inteiramente lib-
erais: sua política em relação aos camponeses era o cerco das terras comuns e o incen-
tivo aos empresários rurais; para a classe trabalhadora, a interdição dos sindicatos; para
os pequenos artesãos, a abolição dos grêmios e corporações […]. A Constituição de
1791 rechaçou a democracia excessiva através de um sistema de monarquia constitu-
cional baseada em um direito de voto censitário dos “cidadãos ativos” reconhecida-
mente bastante amplo.|1|
Com a Constituição de 1791, a Assembleia Constituinte encerrou seu período de funcionamento e foi substi-
tuída pela Assembleia Legislativa. Nessa assembleia, consolidaram-se dois grupos políticos que possuíam
visões bastante diferentes a respeito dos rumos da revolução. Os girondinos eram parte da burguesia que
acreditava que as grandes mudanças necessárias já tinham acontecido e, por isso, possuíam uma visão mais
conservadora. Já os jacobinos eram membros da burguesia que acreditavam que as mudanças deveriam ser
ainda mais radicais do que as que estavam em curso.
A primeira reunião da Assembleia Legislativa iniciou-se em 8 de outubro de 1791, e a atuação dessa institu-
ição durou até 7 de setembro de 1792. Nesse período, a França teve de lidar com a ação estrangeira contra a
revolução, pois Áustria e Prússia, liderando os esforços contrarrevolucionários, invadiram o país e forçaram
a França a declarar guerra a ambos.
A ação de Áustria e Prússia contra a França deveu-se pelo fato de que o processo revolucionário francês era
visto como grande ameaça por todas as nações absolutistas da Europa. Com a guerra, os jacobinos
declararam “pátria em perigo”, uma vez que as tropas estrangeiras aproximavam-se de Paris, e a população
francesa começava a se armar para resistir.
A guerra também contribuiu para a radicalização da revolução e deu início a uma fase conhecida como Ter -
ror. Esse clima de guerra fez com que os jacobinos e os sans-culottes tomassem a frente da revolução, e,
com isso, a monarquia francesa acabou sendo derrubada pelos sans-culottes, instaurando-se a República em
1792.
• Convenção

A Convenção Nacional iniciou seus trabalhos a partir de 20 de setembro de 1792 e substituiu a Assembleia
Legislativa. Os participantes da Convenção Nacional foram eleitos por sufrágio universal masculino, e, com
ela, a França transformou-se em uma República. Antes da posse da Convenção, o rei francês havia sido cap-
turado e feito prisioneiro. Daí surgiu um grande debate: a execução do rei.
Esse debate dividiu a Convenção com os girondinos defendendo que o rei fosse exilado enquanto os jacobi-
nos defendiam que o rei fosse executado. O destino do rei e de sua esposa foi decidido quando foram encon-
trados documentos que atestavam o envolvimento de Luís XVI com o rei austríaco. Resultado: Luís XVI e
Maria Antonieta foram acusados de traição e guilhotinados em 1793.
Com o endurecimento da guerra, a França ficou sob o controle dos jacobinos, que contavam com o apoio
popular. Os jacobinos criaram o Comitê de Salvação Pública, instituição em que eles tomavam as decisões
mais importantes da França. Iniciou-se uma intensa perseguição a todos aqueles que, aos olhos jacobinos,
representavam uma ameaça à revolução. O regicídio foi uma dessas execuções voltadas para os que conspir-
avam contra a revolução.
Os jacobinos conseguiram colocar as massas populares sob seu controle, mas a situação da guerra agravou-
se com a execução de Luís XVI. As nações absolutistas europeias ficaram indignadas com a execução do rei
e reagiram formando uma coalizão para derrubar a revolução na França. Esse grande exército contrarrevolu-
cionário era financiado pela Inglaterra.
O período em que os jacobinos, sob a liderança de Maximilien Robespierre, estiveram à frente da revolução
ficou conhecido como Terror. O nome faz menção à perseguição dos opositores por meio da Lei dos Sus -
peitos, que julgava e condenava aqueles considerados traidores com morte na guilhotina. Estima-se que
cerca de 17 mil pessoas tenham sido mortas nesse período em cerca de 14 meses.|2|
Maximilien Robespierre foi o líder dos jacobinos durante a fase da revolução conhecida como Terror.*
Apesar da radicalidade, os jacobinos conseguiram resolver problemas imediatos da França, pois estabi-
lizaram o valor da moeda francesa, aumentaram o exército francês gastando menos, conseguiram derrotar as
tropas que tinham invadido a França e conseguiram estabilizar a situação das rebeliões pelo país.
De toda forma, essa atuação radical dos jacobinos gerou uma natural reação dos grupos conservadores da
França. Assim, os girondinos conspiraram e articularam, com o apoio da alta burguesia da França, um golpe
contra os jacobinos conhecido como Reação Termidoriana e que aconteceu em 1794. Com esse golpe contra
os jacobinos, muitas medidas tomadas por eles foram revertidas, e a liderança jacobina (incluindo Robe-
spierre) foi sumariamente guilhotinada.
Acesse também: Saiba como funcionava o calendário revolucionário francês
• Diretório

O Diretório substituiu a Convenção em 1795 durante um período em que a revolução esteve nas mãos dos
girondinos e da alta burguesia francesa. As medidas mais radicais tomadas pelos jacobinos foram revo-
gadas, inclusive retorno do voto censitário. Nesse momento, os girondinos usaram frequentemente da força
para conter o povo e resistiram a inúmeras tentativas de golpes.
A situação da França permaneceu instável e isso fez com que a alta burguesia francesa visse no autori -
tarismo uma esperança para resolver a situação da França. A população estava insatisfeita, a economia es-
tava ruim, e a guerra continuava a ameaçar o país, então a ditadura foi vista como solução.
A imagem de uma figura forte e autoritária surgiu como possibilidade de resolução dos problemas franceses
e disso nasceu o apoio a Napoleão Bonaparte, general do exército francês que liderava as tropas francesas
contra as coalizões internacionais. Com isso, Napoleão organizou um golpe e tomou o poder em um evento
conhecido como Golpe do 18 de Brumário, que aconteceu em 1799.
Consequências

A Revolução Francesa estendeu-se por dez anos e, nesse período, uma série de transformações aconteceu
naquele país. As transformações trazidas pela Revolução Francesa, porém, não se mantiveram apenas na
França e espalharam-se pelo mundo. Elas foram:
● Fim dos privilégios da aristocracia (nobreza e clero) na França;
● Fim dos resquícios do feudalismo e início da consolidação do capitalismo;
● Queda do absolutismo em toda a Europa;
● Inspirou os movimentos de independência na América, sobretudo das nações colonizadas pela Es-
panha;
● Popularizou a república como forma de governo;
● Popularizou a ideia de separação dos poderes;
● Garantiu a aplicação dos ideais liberais de liberdade individual do lema “todos os homens são
iguais perante a lei”;
● Consolidou o nacionalismo enquanto ideologia de reconhecimento do dever patriótico.

Revolução Francesa (1789)

Juliana Bezerra
Professora de História

A Revolução Francesa, iniciada no dia 17 de junho de 1789, foi um movimento impulsionado pela
burguesia e contou com a participação dos camponeses e das classes urbanas que viviam na miséria.

Em 14 de julho de 1789, os parisienses tomaram a prisão da Bastilha desencadeando profundas mu-


danças no governo francês.

Contexto histórico
No final do século XVIII, a França era um país agrário, com a produção estruturada no modelo feu-
dal. Isso significava que existiam impostos e licenças que só eram válidos para determinadas
regiões. O poder político estava concentrado no rei e num pequeno número de auxiliares.

Por isso, para a burguesia e parte da nobreza era preciso acabar com o poder absoluto do rei Luís
XVI.

Enquanto isso, do outro lado do Canal da Mancha, a Inglaterra, sua rival, desenvolvia o processo de
Revolução Industrial.

Fases da Revolução Francesa


Para fins de estudo, a Revolução Francesa é dividida em três fases:
● Monarquia Constitucional (1789-1792);
● Convenção Nacional (1792-1795);
● Diretório (1795-1799).

Causas da Revolução Francesa


A burguesia francesa, preocupada em desenvolver a indústria no país, queria acabar com as barreiras
que restringiam a liberdade de comércio internacional. Desta forma, era preciso que se adotasse na
França, segundo a burguesia, o liberalismo econômico.

A burguesia exigia também a garantia de seus direitos políticos, pois era ela quem sustentava o Es-
tado, posto que o clero e a nobreza estavam livres de pagar impostos.
Apesar de ser a classe social economicamente dominante, sua posição política e jurídica era limi-
tada.

Iluminismo
O iluminismo se propagou entre os burgueses e propulsionou o início da Revolução Francesa.

Este movimento intelectual fazia duras críticas às práticas econômicas mercantilistas, ao abso-
lutismo, e aos direitos concedidos ao clero e à nobreza.

Seus autores mais conhecidos foram Voltaire, Montesquieu, Rousseau, Diderot e Adam Smith.

Crise econômica e política


A crítica situação econômica, às vésperas da revolução de 1789, exigia reformas, mas gerava uma
crise política. Esta se agravou quando os ministros sugeriram que a nobreza e o clero deveriam pa-
gar impostos.

Pressionado pela situação, o rei Luís XVI convoca os Estados Gerais, uma assembleia formada pe-
los três estamentos da sociedade francesa:

● Primeiro Estado - composto pelo clero;


● Segundo Estado - formado pela nobreza;
● Terceiro Estado - composto por todos aqueles que não pertenciam ao Primeiro nem ao Se-
gundo Estado, no qual se destacava a burguesia.
O Terceiro Estado, mais numeroso, pressionava para que as votações das leis fossem individuais e
não por Estado. Somente assim, o Terceiro Estado poderia passar normas que os favorecessem.

No entanto, o Primeiro e o Segundo Estado recusaram esta proposta e as votações continuaram a ser
realizadas por Estado.

Desta forma, reunidos no Palácio de Versalhes, o Terceiro Estado e parte do Primeiro Estado (baixo
clero) se separam da Assembleia. Em seguida, declaram-se os legítimos representantes da nação,
formando a Assembleia Nacional Constituinte e jurando permanecer reunidos até que ficasse pronta
a Constituição.
O juramento na
Sala de Jogo de Paume, de Jean-Louis David, ilustra a união entre parte do Primeiro Estado e o Ter-
ceiro.
Monarquia constitucional (1789-1792)
No dia 26 de agosto de 1789 foi aprovada pela Assembleia a Declaração dos Direitos do Homem e
do Cidadão.

Esta Declaração assegurava os princípios da liberdade, da igualdade, da fraternidade (“Liberté, égal-


ité, fraternité” - lema da Revolução), além do direito à propriedade.

A recusa do rei Luís XVI em aprovar a Declaração provocam novas manifestações populares. Os
bens do clero foram confiscados e muitos padres e nobres fugiram para outros países. A instabili-
dade na França era grande.

A Constituição ficou pronta em setembro de 1791. Dentre os artigos podemos destacar:

● o governo foi transformado em monarquia constitucional;


● o poder executivo caberia ao rei, limitado pelo legislativo, constituído pela Assembleia;
● os deputados teriam mandato de dois anos;
● instituído o voto censitário (só seria eleitor quem tivesse uma renda mínima);
● suprimiram-se os privilégios e as antigas ordens sociais;
● confirmaram-se a abolição da servidão e a nacionalização dos bens eclesiásticos;
● manteve-se a escravidão nas colônias.

Convenção Nacional (1792-1795)


A Assembleia Legislativa foi substituída, através do sufrágio universal masculino, pela Convenção
Nacional, que aboliu monarquia e implantou a República. Os jacobinos eram a maioria neste novo
parlamento.
O rei Luís XVI foi julgado e sentenciado culpado por traição, sendo condenado à morte por guil-
hotina e executado em janeiro de 1793. Meses depois, a rainha Maria Antonieta teria o mesmo des-
tino.

Internamente, as opiniões divergentes de como deveriam ser conduzida a revolução, começavam a


provocar divisão entre os próprios revolucionários. Existiam basicamente dois grupos:

Os girondinos - representantes da alta burguesia, defendiam posições moderadas e a monarquia con-


stitucional.

Por sua parte, os jacobinos - representantes da média e da pequena burguesia, constituía o partido
mais radical, sob a liderança de Maximilien Robespierre. Queriam a instalação de uma república e
um governo popular.
O Terror (1793-1794)
Dentro do período da Convenção Nacional existe um ano extremamente violento, onde as pessoas
suspeitas de serem contrarrevolucionárias eram condenadas à guilhotina. Este período ficou con-
hecido como "terror".

Isto foi possível graças a aprovação da Lei dos Suspeitos que autorizava a prisão e morte dos con-
siderados antirrevolucionários. Nessa mesma altura, as igrejas eram encerradas e os religiosos obri-
gados a deixar seus conventos. Aqueles que recusavam a jurar a Constituição Civil do Clero eram
executados. Além da guilhotina, os suspeitos eram afogados no rio Loire.

A ditadura jacobina introduziu novidades na Constituição como:

● voto universal e não censitário;


● fim da escravidão na colônias;
● congelamento de preços de produtos básicos como o trigo;
● instituição do Tribunal Revolucionário para julgar os inimigos da Revolução.

As execuções tornaram-se um espetáculo popular, pois aconteciam diversas vezes ao dia num ato
público. Para os ditadores eram uma forma justa de acabar com os inimigos, porém essa atitude
causava medo na população que se voltou contra Robespierre e o acusou de tirania.

Nessa sequência, após ser detido, Robespierre foi executado e este fato ficou conhecido como
“Golpe do 9 Termidor”, em 1794.
Gravura do século
XIX mostrando a execução de Robespierre (centro)
Veja também: O Terror na Revolução Francesa
Diretório (1794-1799)
A fase do Diretório dura cinco anos e se caracteriza pela ascensão da alta burguesia, os girondinos,
ao poder. Recebe este nome, pois eram cinco diretores que governavam a França.

Inimigos dos jacobinos, seu primeiro ato é revogar todas as medidas que eles haviam feito durante
sua legislação. No entanto, a situação era delicada. Os girondinos atraíram a antipatia da população
ao anular o congelamento de preços.
Vários países, como a Inglaterra e o Império Austríaco, ameaçavam invadir a França a fim de conter
os ideais revolucionários. Por fim, a própria nobreza e a família real no exílio buscavam organizar-
se para restaurar o trono.

Diante desta situação, o Diretório recorre ao Exército, na figura do jovem general Napoleão Bona-
parte para conter os ânimos dos inimigos.

Desta maneira, Bonaparte dá um golpe - o 18 Brumário - onde instaura o Consulado, um governo


mais centralizado que traria paz ao país por alguns anos.

Consequências da Revolução Francesa


Napoleão Bona-
parte espalhou os ideais da Revolução Francesa através de guerras pela Europa
Em dez anos, de 1789 a 1799, a França passou por profundas modificações políticas, sociais e
econômicas.

A aristocracia do Antigo Regime perdeu seus privilégios, libertando os camponeses dos laços que os
prendiam aos nobres e ao clero. Desapareceram as amarras feudais que limitavam as atividades da
burguesia e criou-se um mercado de dimensão nacional.

A Revolução Francesa foi a alavanca que levou a França do estágio feudal para o capitalista e
mostrou que a população era capaz de condenar um rei.

Igualmente, instalou a separação de poderes e a Constituição, uma herança deixada para várias
nações do mundo.
Em 1799, a alta burguesia aliou-se ao general Napoleão Bonaparte, que foi convidado a fazer parte
do governo. Sua missão era recuperar a ordem e a estabilidade do país, proteger a riqueza da bur-
guesia e salvá-los das manifestações populares.

Por volta de 1803 têm início as Guerras Napoleônicas, conflitos revolucionários imbuídos dos ideais
da Revolução Francesa que teve como protagonista Napoleão Bonaparte.

REVOLUÇÃO FRANCESA

Processo revolucionário que aconteceu na França entre 1789 e 1799 e que recebeu o nome de Rev-
olução Francesa.
A Queda da Bastilha, que
aconteceu em 14 de julho de 1789, marcou o início da Revolução Francesa.

A Revolução Francesa foi um ciclo revolucionário que aconteceu na França entre 1789 e 1799 e que
teve como resultado prático o fim do absolutismo no país. A Revolução Francesa aconteceu por
conta da insatisfação da burguesia com os privilégios que a aristocracia francesa gozava e da insatis-
fação do povo com sua vida de sofrimentos, marcada pela pobreza e fome.

A Revolução Francesa é um dos acontecimentos mais importantes da história da humanidade porque


dela iniciou-se o processo de universalização dos direitos sociais e das liberdades individuais, pre-
vistos na Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão. Essa revolução também abriu caminho
para o republicanismo na Europa e para a democracia representativa. A Revolução Francesa in-
spirou-se nos ideais do Iluminismo, que surgiram no século XVIII.

Acesse também: Conheça os hábitos e as práticas da aristocracia absolutista

Causas da Revolução Francesa


A Revolução Francesa foi resultado da crise econômica, política e social que a França viveu no final
do século XVIII. Essa crise na França foi consequência direta de uma sociedade marcada pela de-
sigualdade típica do Antigo Regime, nome pelo qual ficou conhecido o absolutismo na França. A
França do final do século XVIII era governada por Luís XVI.

A sociedade francesa era dividida em três classes sociais:

● Primeiro Estado: clero


● Segundo Estado: nobreza
● Terceiro Estado: restante da população que não se incluía nos outros dois Estados

Dentro dessa organização social, existia uma divisão muito clara, pois clero e nobreza eram classes
que compunham a aristocracia e que gozavam de uma série de privilégios, como isenção de certos
impostos e direito de cobrar taxas por suas terras. O Terceiro Estado, por sua vez, mantinha todo o
peso de arcar com as despesas do governo francês. Além disso, essa classe era extremamente vari-
ada, pois incluía grupos bastante diferentes, como burgueses e camponeses.
A grande desigualdade social da França foi a raiz que causou a convulsão que iniciou a Revolução
Francesa. É importante também não ignorar a insatisfação da burguesia, que queria combater os
privilégios da aristocracia como forma de prosperar seus negócios no país. Isso convergiu para a
revolução em 1789.

Na segunda metade do século XVIII, a França sofria as consequências de seu atraso econômico (em
comparação com a Inglaterra) no desenvolvimento do capitalismo e dos altos gastos do país. Tenta-
tivas de reforma econômica aconteceram naquele século, mas fracassaram, pois esbarraram na re-
sistência do clero e da nobreza, que não queriam abrir mão de seus privilégios.

Os gastos desnecessários também eram um dos grandes males do país, sobretudo aqueles relaciona-
dos com guerras desnecessárias, como a Revolução Americana. Esses fatores endividaram bastante
o governo e destruíram a economia francesa.

A crise econômica que se instalou na França impactou diretamente as relações sociais no país, pois a
nobreza, tentando reduzir os impactos da crise em seu estilo de vida, aumentou a exploração sobre o
povo. Dessa forma, os camponeses e a classe média francesa, principalmente, foram prejudicados.
Isso aconteceu porque a nobreza passou a ocupar cargos de governo que, usualmente, eram ocupa-
dos pela classe média e porque os impostos cobrados dos camponeses aumentaram.

Essa situação gerou um grande impacto, principalmente, sobre a renda dos camponeses, grupo que
já vivia uma situação delicada. O aumento dos impostos fez com que os camponeses abrissem mão
de uma parcela cada vez maior da sua produção, utilizada basicamente para sua subsistência. Isso
fez com que o estilo de vida dos camponeses piorasse bastante nos vinte anos anteriores à Rev-
olução Francesa.

Os gastos elevados do governo francês também eram um problema grave. No final do século XVIII,
a França gastava metade de seu orçamento anual para o pagamento de dívidas do Estado. Um dos
resultados mais pesados da crise econômica sobre o povo foi a alta da inflação e, consequentemente,
o aumento do custo de vida. Como a situação em 1789 era delicada, o rei francês optou por convo-
car os Estados Gerais.

Estados Gerais e a Queda da Bastilha


Os Estados Gerais eram uma espécie de assembleia emergencial convocada pelos reis franceses para
tomada de decisões importantes. Os últimos Estados Gerais tinham sido convocados há mais de 150
anos. Embora a aristocracia francesa esperasse que medidas fossem tomadas, desejava que a assem-
bleia convocada em 1789 mantivesse os privilégios aristocratas.

A convocação dos Estados Gerais coincidiu com um momento de grande mobilização popular em
Paris. Essa mobilização foi resultado direto da insatisfação popular com a fome, que havia aumen-
tado por conta das colheitas ruins de 1788. Em decorrência disso, o preço do alimento disparou,
fazendo com que muitos não tivessem condição de comprar alimentos suficientes.

Com a fome espalhando-se pelo país, as pessoas mais pobres eram jogadas para a rebelião ou para o
banditismo. Essa situação fez com que as camadas populares de Paris enxergassem os Estados
Gerais como uma forma de melhorar a situação.

As decisões dos Estados Gerais eram realizadas por meio de uma votação, na qual cada estado tinha
direito a um voto. Esse mecanismo permitia a união entre nobreza e clero contra o Terceiro Estado
e, assim, garantia a permanência de seus privilégios. Os representantes do Terceiro Estado, por sua
vez, sugeriram que o voto fosse individual, não por Estado. Com isso, o Terceiro Estado teria a pos-
sibilidade de ameaçar os interesses da nobreza e do clero.

A proposta do Terceiro Estado pelo voto individual foi rejeitada pelo rei, o que motivou seus a
romper com os Estados Gerais e a formar uma Assembleia Nacional Constituinte a fim de que uma
nova Constituição fosse redigida para a França. A insatisfação popular tomou as ruas quando o rei
mostrou-se contrário à Constituição e ordenou o fechamento da Constituinte.

No dia 14 de julho de 1789, os sans-culottes (camadas populares de Paris), enfurecidos, resolveram


atacar a Bastilha, prisão que abrigava presos políticos do absolutismo. Apesar de, naquele momento,
a Bastilha estar quase desativada, continuava sendo um grande símbolo do absolutismo. A popu-
lação parisiense conseguiu tomar a prisão. Essa ação é considerada pelos historiadores como o
grande marco que iniciou a Revolução Francesa.

Acesse também: Veja quais foram as influências da Revolução Francesa pelo mundo

Fases da Revolução Francesa


Após a Queda da Bastilha, o processo revolucionário espalhou-se pelo país e estendeu-se por um
período de dez anos. A revolução só foi encerrada na França quando Napoleão Bonaparte tomou o
poder do país por meio do Golpe do 18 de Brumário. Esses dez anos de extensão da Revolução
Francesa são divididos em três fases:

1. Assembleia Nacional Constituinte e Assembleia Legislativa (1789-1792)


2. Convenção (1792-1795)
3. Diretório (1795-1799)
● Assembleia Nacional Constituinte e Assembleia Legislativa

Essa é fase da Revolução Francesa na qual ocorreu a atuação da Assembleia Nacional Constituinte e
da Assembleia Legislativa. Após a Queda da Bastilha, a revolução espalhou-se pelo país e chegou às
zonas rurais. Os camponeses temiam que a aristocracia reagisse aos fatos que aconteciam em Paris e
deixasse a população sem alimento. Com isso, partiram para o ataque.

Essa reação recebeu o nome de Grande Medo e aconteceu entre julho e agosto de 1789. Nesse episó-
dio, camponeses começaram a invadir as propriedades de aristocratas, promovendo saques e assassi-
nando os proprietários. Além disso, exigiam o fim de alguns impostos e queriam ter direito a mais
alimentos.

Os constituintes, temendo que a violência aumentasse, tomaram algumas medidas para conter as
ações do povo. Assim, os privilégios feudais foram abolidos na França no início de agosto e, ainda
nesse mês, foi anunciada a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, um dos documentos
mais importantes de toda a Revolução Francesa. Essa declaração estabelecia, na teoria, que todos os
homens eram iguais perante a lei.

A violência popular e as mudanças que estavam acontecendo fizeram com que parte da aristocracia
francesa fugisse do país e fosse para outras nações absolutistas, como Áustria e Prússia. Essa aris-
tocracia que fugiu da França iniciou esforços contrarrevolucionários com o objetivo de reimplantar
o absolutismo na França.

O rei francês Luís XVI e sua esposa, Maria Antonieta, também tentaram fugir da França, mas foram
reconhecidos quando se aproximavam da fronteira com a Bélgica. Após ser capturado, o rei francês
foi reencaminhado para o Palácio de Tulherias, local onde vivia desde 1789 – antes disso, o rei
francês vivia no Palácio de Versalhes.
Outras mudanças que aconteceram nesse período foram decorrentes da Constituição Civil do Clero,
uma tentativa de colocar o clero francês sob o controle do governo. Em 1791, foi promulgada a nova
Constituição da França, que transformou o país em uma monarquia constitucional. Após a promul-
gação, a Assembleia Constituinte transformou-se em Assembleia Legislativa.

Nessa Assembleia, consolidaram-se dois partidos, que foram muito importantes para os anos
seguintes da Revolução Francesa: girondinos e jacobinos. Os girondinos assentavam-se à direita da
Assembleia e tinham uma postura mais conservadora em relação às mudanças em curso. Já os ja-
cobinos assentavam-se à esquerda e partilhavam de uma posição mais reformista, que defendia a
ampliação das reformas em curso no país.

Nesse período, rumores de que austríacos e prussianos estavam organizando forças para invadir a
França espalharam-se e fizeram com que a Assembleia emitisse uma declaração de guerra contra
esses dois países. Os franceses lutaram essa guerra com a Guarda Nacional, tropa que tinha surgido
em Paris no começo da revolução e que era liderada pelo Marquês de La Fayette.

O início da guerra criou condições para a radicalização da revolução e levou a população a apoiar os
jacobinos e os sans-culottes. A guerra foi declarada em abril de 1792 e, em setembro de 1792, a
Monarquia Constitucional na França caiu. Os sans-culottes anunciaram a instauração da República
na França.

● Convenção

Com a República, a Assembleia Legislativa transformou-se em Convenção. Os membros da Con-


venção foram escolhidos por sufrágio universal masculino, e o rei francês, naturalmente, foi desti-
tuído de sua função. Nesse momento, uma nova discussão tomou a política francesa: o destino de
Luís XVI.

Os jacobinos defendiam que o rei deveria ser guilhotinado, pois era considerado o grande culpado
pelos males que a França enfrentava. Já os girondinos defendiam o exílio do rei. O processo de Luís
XVI teve uma reviravolta quando um suposto cofre foi encontrado em Tulherias com evidências do
envolvimento do rei com a contrarrevolução. O resultado disso foi a execução de Luís XVI na guil-
hotina em janeiro de 1793.

Esse regicídio inaugurou a fase do Terror na revolução. Os jacobinos tomaram o poder da França e,
liderados por Maximilien Robespierre, iniciaram uma fase de radicalização, que ampliou as refor-
mas no país e perseguiu todos aqueles que se opunham a ela. Na República controlada pelos jacobi-
nos, os opositores foram alvos da Lei dos Suspeitos, responsável pela morte na guilhotina de 17 mil
pessoas em 14 meses|1|.

O Terror imposto pelos jacobinos levou os girondinos a organizarem-se e a reagirem com a Reação
Termidoriana em 1794. Com esse evento, os jacobinos foram destituídos do poder, Robespierre foi
guilhotinado e a agenda reformista foi substituída por uma agenda mais conservadora e liberal. Em
1795, a Convenção foi substituída pelo Diretório.

● Diretório

Com o enfraquecimento dos jacobinos, os girondinos, à frente dos interesses da alta burguesia
francesa, redigiram uma nova Constituição para a França e reverteram algumas medidas. Utilizaram
ainda o exército francês para reprimir todos aqueles que se opusessem às medidas que estavam
sendo implantadas.

A França permaneceu em uma onda de instabilidade política, social e econômica durante os anos
seguintes, que fez com que a alta burguesia defendesse a implantação de um governo autoritário pre-
sidido por uma figura de força. Essa figura era Napoleão Bonaparte, general do exército francês,
famoso na época por liderar as tropas do país no exterior.

Napoleão tomou o poder da França em 1799, quando organizou um golpe que ficou conhecido como
Golpe do 18 de Brumário. Isso marcou início do Período Napoleônico.

Acesse também: Saiba como foi a coroação de Napoleão Bonaparte em 1804

Consequências

A Revolução Francesa foi um marco para a humanidade e causou uma série de mudanças, a curto
prazo e a longo prazo, na França e no mundo. Entre as várias consequências, podem-se destacar al-
gumas:

● Universalização dos direitos sociais e das liberdades individuais


● Fim dos privilégios e dos resquícios do feudalismo na França
● Início da queda do absolutismo na Europa
● Separação entre os poderes legislativo, executivo e judiciário

Revolução Francesa
A Revolução Francesa, ciclo revolucionário que aconteceu entre 1789 e 1799, foi responsável pelo
fim dos privilégios da aristocracia e pelo término do Antigo Regime.
A Queda da Bastilha aconteceu em 14 de julho de 1789 e foi o marco que espalhou a revolução pela
França.
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A Revolução Francesa é o nome dado ao ciclo revolucionário que aconteceu na França entre 1789 e
1799 que marcou o fim do absolutismo nesse país. Essa revolução, além de seu caráter burguês, teve
uma grande participação popular e atingiu um alto grau de radicalismo, uma vez que a situação do
povo francês era precária em virtude da crise que o país enfrentava.
A Revolução Francesa foi um marco na história da humanidade, porque inaugurou um processo que
levou à universalização dos direitos sociais e das liberdades individuais a partir da Declaração dos
Direitos do Homem e do Cidadão. Essa revolução também abriu caminho para a consolidação de um
sistema republicano pautado pela representatividade popular, hoje chamado de democracia represen-
tativa. A Revolução Francesa só foi possível graças à popularização dos ideais do Iluminismo.

A respeito da importância da Revolução Francesa, o historiador Eric Hobsbawm afirma que

[…] a França que fez suas revoluções e a elas deu suas ideias, a ponto de ban -
deiras tricolores de um tipo ou de outro terem-se tornado o emblema de todas as
nações emergentes […]. A França forneceu o vocabulário e os temas da política
liberal e radical-democrática para a maior parte do mundo. A França deu o
primeiro grande exemplo, o conceito e o vocabulário do nacionalismo. […] A
ideologia do mundo moderno atingiu as antigas civilizações que tinham até en-
tão resistido às ideias europeias inicialmente através da influência francesa. Essa
foi a obra da Revolução Francesa1.
Acesse também: Conheça a história da revolução burguesa que aconteceu na Inglaterra

Tópicos deste artigo

● 1 - Causas da Revolução Francesa



● 2 - Mapa Mental - Revolução Francesa
● 3 - Etapas da Revolução Francesa
○ Assembleia Constituinte e Assembleia Legislativa
○ Convenção
○ Diretório

● 4 - Consequências da Revolução Francesa

● 5 - Exercícios

Causas da Revolução Francesa

A Revolução Francesa foi resultado da crise política, econômica e social que a França enfrentou no
final do século XVIII. Essa crise marcou o fim da monarquia absolutista que existia na França há
séculos e da antiga ordem de privilégios que constituía o Antigo Regime Francês. Nessa época, a
França era governada por Luís XVI, e a sociedade era dividida em classes sociais, conhecidas como
Estados:

● Primeiro Estado: clero;


● Segundo Estado: nobreza;
● Terceiro Estado: povo, definição genérica que incorpora o restante da sociedade francesa.
A sociedade francesa era muito bem definida: um grupo que possuía uma série de privilégios em
detrimento do restante do país. É importante observar que o Terceiro Estado era uma classe ex -
tremamente heterogênea, formada por grupos distintos, como a burguesia e o campesinato.

De toda forma, a sociedade francesa era marcada por uma desigualdade extrema, uma vez que no-
breza e clero gozavam de privilégios, como a isenção de determinados tributos e o direito de cobrar
impostos por suas terras. Essa desigualdade social era a raiz da crise enfrentada pela França no
século XVIII.

A França, nesse período, começou a sofrer as consequências de seu atraso econômico em relação às
mudanças que estavam acontecendo no mundo em decorrência do avanço do capitalismo. As tentati-
vas de reforma que haviam sido cogitadas na segunda metade do século XVIII fracassaram, porque
nobreza e clero impunham forte resistência a qualquer medida que resultasse na perda de seus priv-
ilégios.

Mapa Mental - Revolução Francesa


* Para baixar o mapa mental em PDF, clique aqui!

Além do atraso em relação ao avanço do capitalismo, principalmente em comparação com a


Inglaterra, havia também os gastos elevados e desnecessários do governo francês nessa época. Um
grande exemplo foi o envolvimento da França na Revolução Americana, o que causou um grande
impacto na economia francesa.

O resultado foi uma crise econômica duríssima que impactou diretamente as relações sociais, pois a
nobreza intensificou a exploração sobre o povo, principalmente sobre o campesinato e a classe mé-
dia francesa. Isso aconteceu em decorrência da ocupação de cargos governamentais pela nobreza
(até então, esses cargos eram destinados à classe média) e do aumento dos impostos cobrados dos
camponeses.

Esse aumento de tributos foi extremamente pesado, pois grande parte dos camponeses não possuía
terras. Assim, foram obrigados a ceder uma parcela cada vez maior de sua renda, que era utilizada
basicamente para a própria subsistência. Dessa forma, a situação do campesinato nos vinte anos que
antecederam a Revolução Francesa agravou-se consideravelmente.

Segundo o historiador Hobsbawm, o Estado francês gastava cerca de 20% a mais do que deveria, us-
ava 50% do seu orçamento para pagar dívidas, e a inflação crescia rapidamente 2. Tamanha crise
econômica demandava reformas, mas, como mencionado, nobreza e clero não estavam dispostos a
abrir mão de seus privilégios. Em 1788, as colheitas na França haviam sido ruins, o que aumentou
consideravelmente o custo de vida tanto no campo quanto nas cidades. Logo, em 1789, a França já
se encontrava em estado avançado de convulsão social. O efeito disso foi que a crise instalada nesse
momento empurrou as pessoas para a rebelião e para o banditismo. Para contornar esse cenário, os
Estados Gerais foram convocados.

Os Estados Gerais eram uma espécie de assembleia que surgiu na França medieval e que era convo-
cada em momentos de crise (a última convocação havia sido feita em 1614). O povo francês via
nessa assembleia uma forma de obter soluções para a situação do país. Para entender essa esperança
popular, é importante saber como os Estados Gerais funcionavam.
Os Estados Gerais reuniam representantes dos três Estados que formavam a sociedade francesa. As
soluções debatidas nesse conselho eram determinadas a partir de votação, que era realizada por Es-
tado, e não por indivíduo. Sendo assim, nobreza e clero sempre se uniam para derrotar o Terceiro
Estado. O grande problema é que, naquele momento, os representantes do Terceiro Estado
começaram a exigir que o voto fosse individual, o que possibilitaria que as propostas da burguesia
(grupo que representava o povo no conselho) fossem aprovadas. A proposição do Terceiro Estado
por voto individual foi rejeitada, o que o motivou a criar uma Assembleia Nacional Constituinte.

Todo esse contexto fez com que o povo colocasse suas esperanças nos representantes do Terceiro
Estado. Assim, o apoio popular foi a chave do sucesso das ações da Assembleia Nacional Constitu-
inte. A população, já insatisfeita, enfureceu-se quando o rei mostrou-se contrário à Constituição que
estava sendo elaborada e ordenou o fechamento da Constituinte.

Assim, em 14 de julho de 1789, a população parisiense conhecida como sans-culottes rebelou-se e


atacou a Bastilha, prisão para onde eram enviados os opositores do Absolutismo Francês e símbolo
do Antigo Regime. A Queda da Bastilha, nome pelo qual ficou conhecida a tomada da prisão pela
população parisiense, marcou o início da Revolução Francesa e espalhou o fervor revolucionário
pelo país.

Etapas da Revolução Francesa

A partir da Queda da Bastilha, o processo revolucionário francês estendeu-se por dez anos e só foi
finalizado com o Golpe de 18 de Brumário, organizado por Napoleão Bonaparte. Toda a extensão
do processo revolucionário francês é organizado em três fases:

1. Assembleia Nacional Constituinte e Assembleia Legislativa (1789-1792)


2. Convenção (1792-1795)
3. Diretório (1795-1799)
● Assembleia Constituinte e Assembleia Legislativa
Em 4 de agosto de 1789, os representantes da Assembleia Nacional Constituinte aboliram os privilé-
gios feudais na França.

Esse é o período inicial da Revolução Francesa e corresponde aos anos em que os constituintes redi-
giram uma Constituição para a França e ao período da Assembleia Legislativa. Como mencionado, a
Queda da Bastilha fez com que se espalhasse o processo revolucionário por todo o país. Os cam -
poneses, temerosos de que a aristocracia reagisse e deixasse-os sem alimentos, partiram para o
ataque.

Essa investida, conhecida como Grande Medo, aconteceu entre julho e agosto de 1789 e foi marcada
por ataques e saqueamentos contra propriedades de aristocratas e, muitas vezes, pelo assassinato dos
donos desses locais. Os camponeses lutavam pelo fim de alguns impostos e exigiam que fosse
garantido a eles um maior acesso aos alimentos – a fome era um problema grave entre o
campesinato.
Com a radicalização do povo nesse contexto, uma série de mudanças aconteceu na França. Os priv-
ilégios feudais foram abolidos no começo de agosto e, no fim desse mês, foi anunciada a Declaração
dos Direitos do Homem e do Cidadão, talvez o documento mais importante de toda a Revolução
Francesa. Esse documento determinava, teoricamente, que todos os homens eram iguais perante a
lei.

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A radicalização popular fez com que a classe média e a burguesia francesa assumissem uma posição
conservadora como forma de frear o ímpeto do povo. Já a nobreza e o clero iniciaram uma fuga em
massa da França, mudando-se para países como Áustria e Prússia. Além disso, começaram uma con-
spiração contrarrevolucionária, que tinha como objetivo reverter as mudanças que estavam em
curso.

O próprio rei Luís XVI tentou fugir da França em 1791, mas foi reconhecido quando se aproximava
da fronteira com a Bélgica. Depois de recapturado, foi reconduzido ao Palácio de Tulherias, local-
izado em Paris. Esse era o local onde o rei morava desde 1789, quando os revolucionários obri-
garam-no a abandonar Versalhes.

Nesse período, os revolucionários também atacaram os privilégios do clero por meio da aprovação
da Constituição Civil do Clero, em 1790. Essa medida tentou subjugar a Igreja Francesa à autori -
dade do Estado e contribuiu largamente para que o clero francês aderisse ao esforço contrarrevolu-
cionário.

As tentativas de barrar a radicalização da revolução tornaram-se claras quando foi promulgada a


nova Constituição Francesa em 1791. Ela transformou a França em uma Monarquia Constitucional e
frustrou aqueles que esperavam que a França seria uma República com ampla democracia. Com
isso, a Assembleia Nacional Constituinte transformou-se em Assembleia Legislativa.

Consolidaram-se, então, os dois grandes grupos políticos que marcaram a Revolução Francesa:
girondinos e jacobinos. Esses grupos possuíam visões radicalmente diferentes em relação à con-
dução do processo revolucionário. Os girondinos entendiam que as mudanças deveriam ser contidas,
já os jacobinos achavam que as mudanças deveriam ser mais radicalizadas.

A Assembleia Legislativa também deu início à guerra contra outras nações europeias. O processo
revolucionário francês era visto como um grande ameaça por outras nações absolutistas da Europa.
Assim, muitas começaram a conspirar a possibilidade de invadir o país. Antecipando-se a isso, a As-
sembleia declarou guerra contra a Áustria e a Prússia. A defesa da França foi realizada pela Guarda
Nacional, tropa criada em Paris no começo da revolução.

Essa declaração de guerra, que aconteceu em abril de 1792, abriu caminho para a radicalização da
Revolução Francesa e deu início a um período conhecido como Terror. O clima de guerra empurrou
a sociedade francesa para o lado dos jacobinos e dos sans-culottes. O resultado disso foi que os sans-
culottes organizaram-se, derrubaram a Monarquia Francesa e instauraram a República.

● Convenção
Maximilien Robespierre, líder dos jacobinos e grande nome do Terror, foi guilhotinado a mando dos
girondinos.*

Com a instauração da República na França, a Assembleia Legislativa foi substituída pela Con-
venção, inaugurada em setembro de 1792. Os membros da Convenção foram determinados por
sufrágio universal masculino. Com isso, Luís XVI deixou de ser o rei da França, e um novo debate
surgiu: a execução do rei.

Enquanto os girondinos exigiam que Luís XVI fosse exilado, os jacobinos exigiam sua execução. O
destino do rei foi selado quando foram descobertas evidências que associavam-no ao esforço contra
revolucionário realizado no exterior. Assim, o rei foi executado em janeiro de 1793.

O regicídio inaugurou o período do Terror, no qual jacobinos liderados por Maximilien Robespierre
radicalizaram a revolução na tentativa de impor uma ampla agenda reformista no país. Apesar de a
Convenção ser a instituição mais importante do país, os jacobinos impuseram seus ideais por meio
do Comitê de Salvação Pública.
A República liderada por jacobinos ficou marcada por conseguir estabilizar a situação do país e
colocar a guerra e as massas populares sob controle. Apesar disso, a guerra agravou-se depois da ex-
ecução do rei, porque os países absolutistas alarmaram-se com o regicídio cometido pelos jacobinos.
Outra marca jacobina era a perseguição a todos os seus opositores.

Com a Lei dos Suspeitos, os jacobinos começaram a perseguir todos aqueles que eram considerados
inimigos da revolução. Os suspeitos eram julgados e, se condenados, guilhotinados. A fase do Ter-
ror foi responsável por 17 mil mortes em cerca de 14 meses 3. Foram abolidos os privilégios feudais
que existiam no país e imposta uma economia de guerra. As medidas na economia, no entanto,
atrasaram o desenvolvimento capitalista da França.

A atuação dos jacobinos gerou, naturalmente, uma reação dos grupos conservadores, representados
pelos girondinos. Essa articulação contou com o apoio da alta burguesia francesa e resultou num
golpe conhecido como Reação Termidoriana, que aconteceu em 1794. A partir dessa data, os
girondinos tomaram uma série de medidas que reverteram as decisões jacobinas. Em 1795, a Con-
venção foi substituída pelo Diretório. Com a Reação Termidoriana, vários jacobinos, incluindo
Robespierre, foram guilhotinados.

Acesse também: Saiba mais sobre o calendário criado durante a Revolução Francesa

● Diretório

Com a derrocada jacobina, os girondinos e a alta burguesia francesa redigiram uma nova Constitu-
ição para a França e restauraram algumas medidas, como o voto censitário. Foi um período au-
toritário no qual o exército francês foi utilizado várias vezes para reprimir o povo. Além disso,
houve resistência às tentativas de golpe por parte de jacobinos e monarquistas.

A instabilidade que a França vivia fez com que a alta burguesia francesa defendesse esse autori-
tarismo, pois as massas estavam insatisfeitas, a economia estava ruim e a guerra ameaçava o país.
Por isso, passaram a defender a implantação de uma ditadura no país sob o governo de uma figura
forte, autoritária. Dessa forma, nasceu o apoio a Napoleão Bonaparte, general famoso por liderar os
exércitos franceses na luta contra as coalizões internacionais.

O resultado disso foi a organização de um golpe por Napoleão, que, em 1799, tomou o poder da
França em um evento conhecido como Golpe do 18 de Brumário. Iniciou-se, então, o Período
Napoleônico.

Consequências da Revolução Francesa

Os dez anos da Revolução Francesa geraram diversas consequências para a França e para o mundo.
Algumas consequências de destaque foram:

● fim dos privilégios de classe na França;


● fim de qualquer resquício do feudalismo no país e início da consolidação do capitalismo;
● início do processo de queda do absolutismo na Europa e na França;
● inspiração para movimentos de independência no continente americano;
● popularização da república como forma de governo;
● separação entre os poderes;
● imposição das liberdades individuais, que tornavam os homens “iguais perante a lei”.

Conjurações Separatistas na América Portuguesa

Por Ulisses Martins

Pós-graduado em História do Brasil pela Universidade Cândido Mendes




INCONFIDÊNCIA MINEIRA (1789)


Inconfidência Mineira marcou período colonial (Foto: Reprodução)

Em Minas Gerais, grande parte da população colonial mineradora vivia na pobreza havia muito
tempo. Essa situação agravou-se com o declínio da exploração do ouro, a partir da segunda metade
do século XVIII. Um clima de tensão e revolta tomou conta dos proprietários das minas de ouro
quando o governador da capitania anunciou que haveria uma nova derrama (cobrança forçada dos
impostos atrasados).

Membros da elite de Minas começaram a se reunir e planejar um movimento contra as autoridades


portuguesas e a cobrança da derrama. O projeto dos inconfidentes incluía medidas como:

- separar o Brasil de Portugal, criando uma república com capital em São João Del Rei;

- adotar uma nova bandeira;

- desenvolver indústrias no país;


- criar uma universidade em Vila Rica (Ouro Preto);

- criar o serviço militar obrigatório;

- incentivar a natalidade.

O movimento dos inconfidentes foi denunciado por Joaquim Silvério dos Reis ao governador de
Minas Gerais e, em troca, obteve o perdão de suas dívidas com a Fazenda Real. Os participantes da
Inconfidência foram presos, julgados e condenados. Onze deles receberam sentença de morte, mas
a rainha de Portugal, d. Maria I, modificou a pena para exílio perpétuo em colônias portuguesas da
África. Só Tiradentes teve sua pena de morte mantida.

CONJURAÇÃO BAIANA (1798)

Quase dez anos depois da Inconfidência Mineira, ocorreu na Bahia um novo movimento revolu-
cionário, que se diferenciava dos episódios mineiros por um motivo fundamental: foi promovido
por brancos e negros pobres. Até mesmo alguns homens ricos e letrados que participavam da con-
juração afastaram-se quando perceberam seu alcance popular.

Participaram da Conjuração Baiana soldados, negros livres e profissionais como alfaiates, pe-
dreiros e sapateiros, motivo pelo qual o movimento também ficou conhecido pelo nome de Revolta
dos Alfaiates. Os planos dos revoltosos baianos incluíam:

- o fim da dominação portuguesa sobre o Brasil;

- a proclamação de uma república democrática;

- a abolição da escravidão;

- o aumento da remuneração dos soldados;

- a abertura dos portos brasileiros a navios de todas as nações;


- a melhoria das condições de vida da população.

Os revoltosos produziram panfletos revolucionários e foram denunciados por inúmeras pessoas


motivadas pelas recompensas do governo. Mais de 30 participantes foram presos e processados.
Ao final, as penas mais severas recaíram sobre os líderes mais pobres.

REVOLUÇÃO PERNAMBUCANA (1817)

Muitos moradores estavam desgostosos com o crescente aumento dos impostos, que serviam para
sustentar o luxo da Corte portuguesa instalada no Rio de Janeiro. Além dessa insatisfação, outros
dois problemas afetavam os habitantes da região: a grande seca de 1816 que causou graves prejuí-
zos à agricultura e provocado fome no Nordeste e os preços do açúcar e do algodão que eram os
principais produtos cultivados em Pernambuco, cujos preços estavam caindo no mercado interna-
cional devido à concorrência do açúcar antilhano e do algodão norte-americano.
Tudo isso serviu para dar início à revolta contra o governo de d. João VI. O principal objetivo era
proclamar uma república, que seria organizada conforme os ideais de igualdade, liberdade e frater-
nidade que inspiraram a revolução Francesa.

O movimento conseguiu tomar o poder e constituir um governo provisório, que decidiu:

- extinguir alguns impostos;

- elaborar uma Constituição;

- decretar a liberdade religiosa e de imprensa e a igualdade para todos, exceto para os escravos.

D. João VI tratou de combater violentamente a revolução, enviando tropas, armas e navios para a
região. Os revoltosos foram duramente atacados e, depois de muita luta, acabaram por se entregar.
Esta foi a única rebelião anterior à independência do Brasil que ultrapassou a fase de conspiração.
Independência do Brasil

Independência do Brasil foi declarada em 7 de setembro de 1822, quando aconteceu o Grito do Ipiranga.
O Brasil transformou-se em uma monarquia governada por d. Pedro I.
Com a independência, d.
Pedro foi coroado imperador do Brasil e tornou-se d. Pedro I.[1]
A independência do Brasil foi o processo histórico de separação entre Brasil e Portugal que se deu em 7 de
setembro de 1822. Por meio da independência, o Brasil deixou de ser uma colônia portuguesa e passou a ser
uma nação independente. Com esse evento, o país organizou-se como uma monarquia que tinha d. Pedro I
como imperador.
Acesse também: Como funcionou a política externa do Brasil durante o Período Joanino
As causas da independência do Brasil

A independência do Brasil tem uma grande ligação com a transferência da corte portuguesa para a colônia,
em 1808. Os acontecimentos que se passaram no intervalo de tempo entre 1808 e 1822 levaram ao desgaste
na relação entre a elite brasileira, sobretudo a do Sudeste, com o Reino de Portugal.
A corte portuguesa resolveu mudar-se para o Brasil, no fim de 1807, para fugir das tropas napoleônicas que
invadiram Portugal em represália pelo país ter furado o Bloqueio Continental. Nessa época, a rainha de Por-
tugal era d. Maria e o príncipe regente era d. João VI, e essa medida foi uma decisão deste.
Mudanças sensíveis aconteceram no Brasil nesse período, que ficou conhecido como Período Joanino. Essas
mudanças ocorreram no campo cultural, econômico e até mesmo político. A primeira medida de grande
repercussão na época foi a abertura dos portos do Brasil, em 1808. Esse foi o fim do monopólio comercial
que existiu durante o período colonial.

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Isso era muito importante, porque, até então, os portos brasileiros estavam abertos apenas para embarcações
portuguesas. A abertura desses gerou a possibilidade um leque de oportunidades econômicas que beneficia-
ria consideravelmente os comerciantes instalados em cidades, como o Rio de Janeiro, à época capital do
Brasil.
Por meio de d. João VI, também foram tomadas medidas que permitiram a construção de universidades,
teatros, bibliotecas etc. Artistas e intelectuais estrangeiros vieram para o país, e a circulação de conheci-
mento nele aumentou consideravelmente. Apesar disso, a situação era razoavelmente estável, com exceção
de Pernambuco, que sediou a Revolução Pernambucana de 1817.
Nas relações internacionais, o Brasil posicionou-se como uma nação expansionista, uma vez que d. João VI
iniciou conflitos pelo controle da Guiana Francesa e da Cisplatina (atual Uruguai). As mudanças no país
eram inúmeras, mas os ventos do separatismo só foram soprar-se nele a partir de 1820.
A mudança status do Brasil, durante o Período Joanino, é claramente identificada por meio de uma ação re -
alizada em 16 de dezembro de 1815. Nessa data, o país foi elevado à condição de reino e passou a não ser
mais colônia portuguesa, mas sim parte do reino de Portugal. Com isso, esse último passou a chamar-se
Reino de Portugal, Brasil e Algarves.
Acesse também: A história da primeira guerra internacional travada pelo Brasil independente
● Revolução Liberal do Porto

A situação de Portugal naquele momento era muito ruim, pois o país enfrentava uma crise política e
econômica em consequência da invasão francesa. Para agravar a situação dos portugueses, o rei d. João VI
estava no Rio de Janeiro, distante demais dos problemas da metrópole.
A burguesia portuguesa organizou-se nas Cortes, instituição política que se baseou em princípios liberais.
Daí nasceu a Revolução Liberal do Porto, que defendia a realização de reformas em Portugal. A grande ex-
igência dos liberais portugueses era que Portugal, e não o Brasil, deveria ser a sede do reino português.
Dentro desse contexto, os liberais portugueses passaram a exigir o retorno do rei para Portugal, e d. João VI
não tinha nenhuma intenção de fazê-lo. Os portugueses também exigiram que o monopólio comercial fosse
restabelecido no Brasil, e essas exigências demonstraram para a elite brasileira o desejo dos portugueses de
restaurarem os laços coloniais com a colônia.
O rei português passou a ser ameaçado de ser destituído do trono se não retornasse, e, assim, acabou retor-
nando para Portugal, em 26 de abril de 1821. Seu filho, Pedro de Alcântara, foi deixado no Rio de Janeiro
como príncipe regente do Brasil.
Principais acontecimentos da independência do Brasil

A independência do Brasil aconteceu na medida em que a elite brasileira percebeu que o desejo dos por -
tugueses era restabelecer os laços coloniais. Quando a relação ficou insustentável, o separatismo surgiu
como opção política, e o príncipe regente acabou sendo convencido a seguir esse caminho.
As Cortes de Portugal tomaram medidas que foram impopulares aqui no Brasil, tais como a exigência do re-
torno do príncipe regente e a instalação de mais tropas no Rio de Janeiro. Além disso, a relação azedava
também porque os portugueses tratavam os representantes brasileiros que iam a Portugal para negociar com
desdém.
Quando os portugueses exigiram o retorno do princípe a Portugal, foi organizado um movimento de re-
sistência contra a medida. Dessa forma, foi criado aqui no Brasil o Clube da Resistência, e o Senado
brasileiro recebeu uma carta contendo milhares de assinaturas que defendiam que príncipe ficasse aqui.
ciou o Dia do Fico, contrariando as ordens das Cortes de Portugal.[2]
O movimento que exigia a permanência de d. Pedro motivou-o a desafiar a ordem das Cortes, e isso resultou
no Dia do Fico, em 9 de janeiro de 1822. Na ocasião, d. Pedro anunciou publicamente que permaneceria no
Brasil. Apesar de uma forte insatisfação, o separatismo ainda não era uma opção consolidada na cabeça dos
brasileiros.
A relação entre Portugal e Brasil continuava ruim, e, em maio de 1822, foi decretado o Cumpra-se, lei que
determinava que as medidas aprovadas em Portugal só valeriam no Brasil se d. Pedro aprovasse-as. A essa
altura, a ideia de separatismo já estava bastante propagada, tanto que, em junho, foi convocada uma eleição
para formação de uma Assembleia Constituinte.
O caminho do rompimento seguia a todo vapor, e a ideia de elaborar uma Constituição para o Brasil re-
forçava isso. A forma como d. Pedro conduziu esse processo foi bastante influenciada por sua esposa, d.
Maria Leopoldina, e por seu conselheiro, José Bonifácio.
● Declaração de independência
A situação agravou-se em agosto, quando ordens chegaram de Portugal. As Cortes atacavam os “privilégios
brasileiros”, acusavam José Bonifácio de traição e ordenavam o retorno de d. Pedro. Isso fez d. Maria
Leopoldina convocar uma sessão extraordinária presidida por José Bonifácio, em 2 de setembro.
Nessa sessão ficou decidido que era o momento de declarar a independência do Brasil. Uma declaração de
independência foi redigida e enviada, junto às cartas portugueses, para d. Pedro. O regente estava a caminho
de São Paulo na ocasião, e acabou sendo alcançado pelo mensageiro, no dia 7 de setembro de 1822.
Às margens do Rio Ipiranga, d. Pedro inteirou-se da situação, e, segundo o que ficou registrado na história
oficial brasileira, foi realizado o grito pela independência do Brasil, momento conhecido como Grito do Ipi-
ranga. Os historiadores, porém, afirmam que não existem muitas evidências que comprovem se o grito tenha
de fato acontecido.
Guerra de independência do Brasil

A declaração de independência foi recebida positivamente por muitos, mas não por todos. As províncias do
Pará, Bahia, Maranhão e da Cisplatina mantiveram-se fiéis a Portugal, e isso deu início ao que conhecemos
hoje como Guerra de independência do Brasil, composta por conflitos travados isoladamente em cada
província e que se estenderam até 1824.
Todas as províncias foram conquistadas pelas tropas brasileiras, e d. Pedro garantiu o controle sobre todo o
território brasileiro. Depois da derrota da resistência, Portugal aceitou negociar o reconhecimento da inde -
pendência brasileira via mediação realizada pelos ingleses. Caso tenha maior interesse nesse assunto, leia
nosso texto: Guerra de independência do Brasil.
Acesse também: Entenda como foi o fim do reinado de d. Pedro I no Brasil
As consequências da independência do Brasil

Com a independência do Brasil, o país tornou-se soberano e organizou-se com uma monarquia. Na América
do Sul, o Brasil foi a única monarquia, pois as outras nações organizaram-se como repúblicas.
Dom Pedro foi coroado imperador e nomeado como d. Pedro I em 1º de dezembro de 1822. Com isso, foi
inaugurado o Primeiro Reinado (1822-1831). Outra consequência da independência foi o endividamento do
país, já que Portugal cobrou dois milhões de libras do Brasil como indenização.
Rebeliões na América Colonial Portuguesa
8º ANO Blog Luzinete Dantas 08 de março de 2021





Disponível em: https://portal.educacao.go.gov.br/fundamental_dois/rebelioes-na-america-
portuguesa-as-conjuracoes-mineiras-e-baiana-8o-ano-historia-2a-semana/. Acesso em 08/03/2021
As Revoltas Nativistas

Como o próprio nome diz, as Revoltas Nativistas foram idealizadas por políticos e pela elite que
viviam no Brasil ao longo do período colonial, principalmente nos séculos XVII e XVIII.

● Foi uma maneira que encontraram de bater de frente com a Coroa portuguesa para reivindi-
carem soluções para situações que estavam saindo do controle, como:
● concessão de terrenos para colonos e aventureiros que aqui chegavam;
● extração de recursos naturais, como borracha e pau-brasil;
● tráfico de índios.
Ao observarem as injustiças, houve um olhar para o que se chamou na época de contradições
da colonização. Dentro dessa premissa, as revoltas foram marcantes.

Elas também foram contrárias aos impostos que eram cobrados pelo que se produzia, inclu-
sive com valores sendo repassados a espanhóis e holandeses.

Assim, muitos nativos discordaram da situação e começaram a mobilizar confrontos e até


mesmo tentativas de impor governos paralelos ou em busca da autonomia política. Foram ten-
tativas tímidas, pois o que movia mesmo era a intenção de demonstrar a insatisfação quanto
aos mandos da Coroa.
A REVOLTA DE BECKMAN (1684)

No século XVII, a base da economia do Grão-Pará e Maranhão eram as chamadas drogas do


sertão, como cacau, canela, castanha-do-pará, pequi, guaraná, entre outras. Eram os indígenas
escravizados que extraíam essas riquezas da floresta para os colonos da região. Além disso,
eram eles também que tocavam os engenhos de açúcar do Maranhão. Assim, ao serem infor-
mados da proibição de se escravizarem indígenas, os colonos protestaram e exigiram uma ati-
tude do governo português.

Pensando em contornar a situação, o governo de Portugal criou a Companhia de Comércio do


Maranhão, que se comprometeu a vender africanos escravizados para os colonos. A compan-
hia, no entanto, não cumpriu o prometido: além de não trazer a mão de obra africana para o
Maranhão, ela falsificava pesos e medidas, cobrava caro pelos produtos que vendia (bacalhau,
sal, farinha de trigo) e pagava barato por aquilo que comprava da região.
Os colonos começaram, então, a planejar uma revolta contra a Companhia de Comércio do
Maranhão, os jesuítas e o governador local, acusado pelos colonos de corrupção e de favore-
cer seus protegidos.

Liderados por um grande senhor de engenho do Maranhão, chamado Manuel Beckman, os


colonos invadiram os armazéns da Companhia de Comércio do Maranhão, destituíram o gov-
ernador e ocuparam o colégio dos jesuítas em São Luís, obrigando dezenas deles a fugirem; o
movimento armado recebeu o nome de Revolta de Beckman.
O governo português reagiu prontamente enviando soldados ao Maranhão, que reprimiram os
rebeldes e condenaram seu principal líder à morte na forca. Mas, ao mesmo tempo, atendeu às
exigências dos colonos: extinguiu a Companhia de Comércio do Maranhão e voltou a permitir
a escravização dos indígenas.

A GUERRA DOS EMBOABAS (1707-1709)

Por volta de 1693, o paulista Antônio Rodrigues Arzão descobriu ouro perto de onde é hoje a
cidade mineira de Sabará. Nos anos seguintes, foram descobertas novas minas de ouro, como
as de Vila Rica, hoje Ouro Preto. Daí o nome “minas gerais”
Assim que a notícia se espalhou, milhares de pessoas das mais diversas condições sociais
afluíram ao sertão mineiro. Vinham de Portugal, do Rio de Janeiro, da Bahia, de São Paulo e
de vários outros pontos do território colonial atraídas pela ideia de enriquecimento fácil. Da
África, foram trazidos milhares de indivíduos escravizados para trabalhar na mineração.

Nos primeiros anos de mineração, ocorreram vários conflitos na região das minas. O maior
deles teve origem na disputa pelo ouro entre os paulistas, que o descobriram, e os forasteiros
(portugueses e pessoas de outras regiões do Brasil), que queriam explorá-lo. Os portugueses
foram apelidados pelos paulistas de emboabas.
* Emboaba: para alguns, o termo significa “forasteiro”; para outros, é uma palavra de origem
indígena que significa “ave de pés cobertos”, apelido dado pelos paulistas aos portugueses
pelo fato de calçarem botas.

Os forasteiros, chamados de emboabas e liderados pelo comerciante português Manuel Nunes


Viana, foram proibidos de entrar na região e reagiram pegando em armas; o conflito se esten-
deu por dois anos (1707-1709) e ficou conhecido como Guerra dos Emboabas. Durante os
conflitos, os emboabas aclamaram Manuel Nunes governador de todas as Minas.

A GUERRA DOS MASCATES (1710-1711)


Quem eram os mascates?

Os senhores de engenho sentiram- -se ameaçados, pois consideravam-se mais “donos” de Per-
nambuco do que os novos comerciantes. Afinal, haviam gasto seus próprios recursos para ex-
pulsar os holandeses do Brasil.

Por isso passaram a chamar os homens de negócio do Recife de mascates, que era uma ex -
pressão pejorativa. No sentido original, mascate era o vendedor ou mercador ambulante, que
vendia mercadorias sem grande valor de porta em porta. A “nobreza da terra” usava essa
palavra para demonstrar o desprezo que tinha pelos novos comerciantes. Os recifenses, por
seu lado, respondiam chamando os arruinados de pés-rapados.
Na segunda metade do século XVII, o açúcar brasileiro vinha perdendo preço na Europa. E,
com isso, os senhores de engenho de Olinda contraíram dívidas com os comerciantes de Re-
cife. Assim, esses comerciantes, chamados na época de “mascates”, foram enriquecendo, en-
quanto os senhores de engenho de Olinda se endividavam; daí nasceu uma forte rivalidade en-
tre os dois grupos.

Embora fossem ricos, esses comerciantes não tinham poder político, pois Recife era contro-
lada pela Câmara Municipal de Olinda, liderada pelos senhores de engenho locais.

Conscientes de sua força, os comerciantes de Recife pediram ao rei de Portugal que elevasse
seu povoado a vila, pois, assim, teriam a sua própria Câmara Municipal. Em 1710, o rei aten-
deu ao pedido dos comerciantes, muitos deles portugueses, que se apressaram em erguer um
pelourinho no centro de Recife.

Inconformados, os proprietários olindenses se armaram, invadiram Recife e destruíram o


pelourinho, dando início, assim, à Guerra dos Mascates. O governo português interveio em fa-
vor dos comerciantes; mandou soldados reprimirem os olindenses e enviou um novo gover-
nador. Recife foi confirmada como vila independente e tornou-se capital de Pernambuco.

A REVOLTA DE VILA RICA (1720)


Para controlar a exploração do ouro, cobrar impostos e julgar os crimes praticados na região,
o rei de Portugal criou, em 1702, a Intendência das Minas. Na fase inicial da exploração do
ouro, utilizavam-se a bateia e o almocafre. Depois, passou-se a investir em novas técnicas de
extração. Uma delas foi a roda do rosário, mostrada na imagem abaixo.
Disponível em Boulos Júnior, Alfredo. História, Sociedade & Cidadania: 8º Ano: 4. Edição -
São Paulo: FTD, 2018, P. 72. Manual do professor.

Impostos e mais impostos

Ao mesmo tempo em que incentivavam a extração do ouro, as autoridades portuguesas cri-


avam e cobravam impostos sobre homens livres e escravizados, tecidos, ferramentas, gêneros
agrícolas e ouro. O mais importante desses impostos era o quinto (20% de todo o ouro ex-
traído)

Cobrança e desvios
A cobrança dos impostos era feita, sobretudo, nas estradas que ligavam as minas ao Rio de
Janeiro, a São Paulo e à Bahia, sempre policiadas por soldados (dragões do Regimento das
Minas). Quanto maior a opressão fiscal, mais a população reagia, praticando o contrabando.
Escondia ouro entre os dedos dos pés, nos saltos e solas das botas, entre doces e salgados que
as quitandeiras carregavam em seus tabuleiros, dentro das estátuas de santos. Para driblar as
cobranças de altos impostos, os mineiros sonegavam o Quinto – imposto de 20% que a coroa
portuguesa cobrava de todos os metais preciosos garimpados no Brasil. Nesta época, os santos
eram esculpidos nas madeiras oca e, posteriormente cheios de ouro em pó, fazendo com que o
ouro passasse pelas casas de fiscalização sem prestar contas às casas de fundição. [...] Existe
também outra versão para a expressão “santinho do pau oco”, a segunda acredita que as ima-
gens de santos, vinham de Portugal, também no Brasil colônia, recheadas de dinheiro falso.
Apesar das duas versões, todos sabem que a frase ultrapassou gerações e continua sendo us-
ada sempre que aparece alguém que tenta fazer alguma fraude, ou iludir as pessoas.
O contrabando de ouro aumentava, e o governo português apertava o cerco. Para dificultar o
desvio, em 1719 criou as Casas de Fundição, locais onde o ouro era transformado em barras,
selado e quintado – ou seja, teria extraída a sua quinta parte, como imposto. Das casas de
fundição, o ouro seguia para a Provedoria da Fazenda Real, de onde era levado para o Rio,
sob forte escolta dos Dragões da capitania de Minas Gerais.

*Provedoria da Fazenda Real: órgão do governo português responsável pelo recolhimento do


ouro no território colonial.

A criação das casas de fundição aumentou a insatisfação das pessoas, que já reclamavam do
alto preço dos alimentos, e acabou ocasionando uma revolta em Vila Rica, em 1720. As prin-
cipais exigências dos rebeldes eram:
• a redução do preço dos alimentos;

• anulação do decreto que criava as Casas de Fundição

A revolta foi duramente reprimida. Seus principais líderes, o tropeiro Felipe dos Santos e o
minerador e comerciante Pascoal da Silva Guimarães, foram presos. Felipe dos Santos foi
morto e teve seu corpo feito em pedaços e exposto nas margens das estradas. Para aumentar
seu controle sobre a Colônia, o rei separou Minas Gerais de São Paulo, criando, em 1720, a
capitania de Minas Gerais.

*Tropeiro: pessoa que conduz, compra e vende animais


MINERAÇÃO E MERCADO INTERNO

A mineração de ouro e de diamantes contribuiu para uma série de mudanças ocorridas no


Brasil. Dentre elas cabe destacar:

a. a ocupação e o povoamento de vastas áreas do interior brasileiro;


b. o florescimento da vida urbana, contribuindo para o nascimento de várias vilas e cidades;
c. mudança da capital de Salvador para o Rio de Janeiro (1763), único porto por onde o gov-
erno português permitia que se embarcasse o ouro;
d. crescimento do mercado interno, já que a população da Capitania de Minas Gerais e das
áreas onde são hoje Mato Grosso e Goiás comprava com ouro em pó de várias partes do
Brasil aquilo de que necessitava. Do Nordeste vinham o gado, o couro e a farinha de man-
dioca; do Rio de Janeiro, africanos escravizados e artigos europeus (vidros, louças, tecidos,
ferramentas); de São Paulo, milho, trigo e marmelada; do Sul, cavalos, bois, mulas e char-
que.
AS REBELIÕES SEPARATISTAS

As rebeliões separatistas foram movimentos que tinham como objetivo a separação do Brasil de
Portugal, acontecendo, desta forma, no período anterior ao da independência brasileira. Entre out-
ras rebeliões separatistas destacam-se a inconfidência mineira, a conjuração baiana e a revolução
de Pernambuco.

A CONJURAÇÃO MINEIRA (1789)

A partir de 1760, as jazidas de ouro mineiras começaram a se esgotar. Apesar disso, o governo por-
tuguês continuou cobrando pesados impostos e fazendo proibições, como impedir a instalação de
indústrias no Brasil. Essa política opressiva empobrecia os habitantes da Colônia e aumentava o
medo e a insegurança em Minas Gerais.
Em 1788, quando um novo governador enviado por Portugal anunciou que haveria uma derrama,
ou seja, a cobrança forçada dos impostos atrasados, um clima de revolta tomou conta da população;
a capitania de Minas Gerais devia a Portugal mais de cinco toneladas de ouro. Os colonos diziam
que não podiam pagar porque o ouro estava se esgotando. As autoridades portuguesas afirmavam
que o problema era que o ouro estava sendo desviado.

Reagindo a esta situação opressiva, um grupo de homens, quase todos da elite de Minas, começou
a se reunir em Vila Rica para planejar uma rebelião contra o domínio português. Entre os rebeldes
estavam: Tomás Antônio Gonzaga, juiz de Vila Rica; Cláudio Manuel da Costa, advogado e int-
electual renomado; Inácio de Alvarenga Peixoto, dono de jazidas e filho de grande fazendeiro e
comerciante; padre Oliveira Rolim, chefe político do Arraial do Tijuco, atual Diamantina, agiota e
negociante de diamantes; padre Carlos Correia de Toledo, dono de terras minerais e de uma grande
fazenda que produzia milho e feijão, dentre os mais ricos da capitania; e Joaquim Silvério dos Reis,
contratador. Como se vê, eram em sua maioria homens ricos, alguns deles endividados, que temiam
perder tudo no dia em que a derrama fosse aplicada.

Entre eles estava também um homem que tinha sido dentista prático, tropeiro, garimpeiro e que,
aos 30 anos, tornara-se militar: o alferes Joaquim José da Silva Xavier, conhecido por todos como
Tiradentes.

Os conjurados defendiam a independência de Minas Gerais; a proclamação de uma república com


capital em São João del Rei, núcleo agropecuário que mantinha intenso comércio com outras
regiões brasileiras; e a criação, em Vila Rica, de uma universidade e de uma Casa da Moeda para
controlar a emissão de dinheiro.
A bandeira da república mineira teria a inscrição Libertas quae sera tamen, que significa: “Liber-
dade ainda que tardia”. Parte dos conjurados era movida por ideias iluministas e de mudança; outra
parte, no entanto, tinha como único objetivo a suspensão da derrama (cobrança forçada dos impos-
tos em atraso devidos a Portugal). Os conjurados divergiam quanto à escravidão: a maioria deles –
senhores de terras, mineradores e grandes comerciantes – era favorável à continuidade da es-
cravidão; apenas Alvarenga Peixoto e o padre Carlos Correia de Toledo se disseram favoráveis à
Abolição.

Denúncia, prisão e sentença


A rebelião foi denunciada por vários indivíduos. Um deles, o coronel Joaquim Silvério dos Reis,
contou o plano dos conjurados ao Visconde de Barbacena (governador) em troca do perdão de uma
dívida que tinha com Portugal e foi perdoado; Silvério dos Reis morreu rico quase 30 anos depois.

De sua parte, o governador suspendeu a derrama e ordenou a perseguição aos envolvidos;


Tiradentes e os demais conjurados foram presos. A rainha de Portugal, D. Maria I, ordenou a aber-
tura de dois processos, um no Rio de Janeiro e outro em Minas Gerais. O julgamento durou três
anos; 11 conjurados foram condenados à forca. Depois as sentenças foram alteradas: somente
Tiradentes foi condenado à morte. Os demais receberam a pena de degredo (exílio) nas colônias
portuguesas da África. Tiradentes foi enforcado e esquartejado, e as partes de seu corpo foram es-
parramadas pelo caminho que ligava o Rio de Janeiro a Minas Gerais, ficando sua cabeça em Vila
Rica. A intenção da rainha era lembrar a todos o preço a ser pago por quem se rebelasse contra a
Monarquia.
A CONJURAÇÃO BAIANA (1798)

Outro movimento com objetivo de independência foi a Conjuração Baiana, ocorrida em Salvador,
em 1798. Na época, a cidade possuía por volta de 60 mil habitantes, dos quais 40 mil eram afrode -
scendentes. Muitos deles eram escravizados; outros, libertos ou livres, trabalhavam como soldados,
artesãos, carregadores, pescadores, pedreiros e vendedores ambulantes.
Disponível em: https://www.todamateria.com.br/conjuracao-baiana/. Acesso em 08/03/2021
Em Salvador, no final do século XVIII, a população e o comércio vinham crescendo e levando
prosperidade para os senhores de terra e grandes comerciantes. Para a maioria da população,
porém, a situação era crítica, pois os preços, principalmente da carne e da farinha de mandioca,
vinham subindo mais do que seus ganhos. Os impostos abusivos também contribuíam para a alta
nos preços de outros alimentos e, além disso, a obrigação de importar produtos industrializados, já
que o Brasil era proibido de fabricá-los, encarecia esses produtos. O racismo contra os afrodescen-
dentes prejudicava a vida em sociedade.

Essa situação gerava uma insatisfação generalizada entre as camadas pobres e médias da popu -
lação. Isso explica por que, em 1798, as ruas e ladeiras das cidades alta e baixa de Salvador foram
palcos de várias agitações políticas. Entre os insatisfeitos estavam alguns intelectuais, como o
médico Cipriano Barata e o padre Agostinho Gomes, que começaram a pregar ideias de liberdade,
igualdade e fraternidade, atraindo com isso muitas pessoas pobres (artesãos, soldados, trabal-
hadores escravizados e libertos). Alguns homens ricos da Bahia também se sentiram atraídos pelo
movimento, pela possibilidade de romper com Portugal e estabelecer o livre-comércio com as
nações.

Em 12 de agosto de 1798, Salvador amanheceu com dezenas de panfletos afixados em seus prédios
públicos, alguns deles com a seguinte mensagem: “O Povo Bahinense e Republicano ordena,
manda e quer que para o futuro seja feita a sua digníssima Revolução”. Em seus panfletos, os re-
beldes defendiam:

a. o fim do domínio português na Bahia;


b. a proclamação de uma república em que todos tivessem igualdade de tratamento;
c. a abertura do porto de Salvador para o livre comércio;
d. a diminuição dos impostos e o aumento dos soldos e da oferta de alimentos;
e. o fim do preconceito contra os negros.

As palavras usadas pelos rebeldes, liberdade e república, atemorizaram as autoridades dos


dois lados do Atlântico; elas sabiam que esses ideais tinham inspirado a Revolução Ameri-
cana (1776), a Revolução Francesa (1789) e as lutas por liberdade em São Domingos
(1791). Isso explica por que a reação do governador-geral da Bahia, D. Fernando José de
Portugal e Castro, foi imediata: mandou prender dezenas de rebeldes e condenou à morte
quatro líderes da rebelião, todos afrodescendentes e pobres.

Inconfidência Mineira x Conjuração Baiana

As proximidades e diferenças entre duas revoltas que marcaram o final do século XVIII, no Brasil.
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Ao longo do século XVIII, observamos o desenvolvimento de diversas situações de conflito envol-


vendo os colonos brasileiros e a administração metropolitana. Nessa época, a ampliação dos impos-
tos, o rigor da fiscalização decorrente da exploração aurífera e a decadência do açúcar foram alguns
dos motivos que cercaram a ocorrência dessas revoltas. Para alguns, isso indica o desenvolvimento
de um processo que contribuiu para o processo de independência brasileiro.
Mesmo parecendo plausível, devemos assinalar que o reconhecimento de um processo se torna um
tanto quanto complicado ao analisarmos a natureza e as diferenças que marcaram cada uma dessas
rebeliões coloniais. Entre outros casos, podemos notar que a contraposição entre a Inconfidência
Mineira de 1789 e a Conjuração Baiana de 1798 oferece ricos dados na compreensão dessas difer-
enças que vão contra a ideia de um processo em desenvolvimento.

Assim como a grande parte de nossas revoltas coloniais, as revoltas, mineira e baiana, foram alimen-
tadas por membros da elite insatisfeitos com a ação metropolitana em cada uma dessas regiões. No
caso de Minas, os mineradores de Vila Rica e outros membros da elite mostravam-se insatisfeitos
com a política fiscal e a cobrança da derrama. Por outro lado, a cidade de Salvador era palco de uma
grave crise econômica que se arrastava desde a crise do açúcar e a transferência da capital para o
Rio de Janeiro.

Além disso, devemos notar que os participantes dessas mesmas revoltas estiveram diretamente in-
fluenciados pela ideologia iluminista. Mais uma vez, notamos o caráter elitista de tais movimentos,
os quais eram sustentados por uma elite letrada e, em alguns casos, instruída nas universidades eu-
ropeias. Sendo assim, observamos que a origem social, análoga a esses movimentos, viria a em-
preender a busca por objetivos próximos em cada um deles.

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No entanto, a despeito de um projeto de nação independente, vemos que a Conjuração Baiana e a In-
confidência Mineira não se separaram apenas por um hiato temporal. A falta de comunicação entre
os centros de colonização e a ausência de um sentimento nacional anula qualquer possibilidade de se
considerar que tais revoltosos se sentiam integrantes de uma nação que merecia a sua independên-
cia. Na maioria dos casos, a autonomia era projetada em esfera local.

Entre tantas proximidades, vemos que a questão da escravidão acabou sendo o ponto que veio a es-
tabelecer uma diferença entre essas duas revoltas. No caso mineiro, a limitação do movimento às
discussões de uma elite enriquecida acabou fazendo com que a escravidão não entrasse em sua
pauta, já que o fim desta prejudicaria boa parte dos inconfidentes. No caso baiano, a divulgação de
panfletos acabou disseminando a causa emancipacionista entre setores populares e favoráveis à
abolição.
Assim que a Conjuração Baiana ganhava contornos mais radicais e populares, os líderes intelectuais
da causa acabaram se afastando do movimento. Talvez, assim como os inconfidentes mineiros, eles
temiam os efeitos de uma revolta emancipacionista conduzida pelas camadas menos favorecidas da
população. Por fim, vemos que a revolta baiana se diferenciou da conspiração mineira assim que os
agentes sociais de cada acontecimento se diferiram em suas origens e interesses.

Por Rainer Sousa

Mestre em História

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Rebeliões coloniais na América Portuguesa

Por Ulisses Granater Azeredo Martins

Professor de História do Colégio Qi




REVOLTA DE BECKMAN

A Revolta de Beckman (1864) é um importante episódio das rebeliões coloniais do Brasil, assunto
que cai bastante no Enem. Muitos colonos queriam capturar e escravizar os indígenas para utilizá-
los como mão-de-obra, contrariando os jesuítas, que defendiam a proposta de aculturá-los e con-
trolá-los dentro das missões.

A partir de 1650, a capitania do Maranhão começou a passar por grave crise econômica, provocada
pela redução dos preços do açúcar no mercado internacional. Sem condições de pagar os altos
preços cobrados pelo escravo africano, os senhores de engenho da região organizaram tropas para
invadir as missões e capturar indígenas para o trabalho escravo em suas propriedades. Essa atitude
provocou o protesto dos jesuítas, junto ao governo português, que interveio e acabou reeditando a
proibição de escravizar indígenas aldeados.

Para suprir a mão-de-obra da capitania, o governo português criou a companhia Geral de Comércio
do Maranhão (1682), com a responsabilidade de introduzir na região 500 escravos negros por ano,
durante 20 anos. Essa companhia não conseguiu, no entanto, cumprir seus compromissos, agra-
vando a crise de mão-de-obra e aumentando o descontentamento dos colonos.

Um grupo de senhores de engenho, liderados por Manuel Beckman, organizou um movimento para
acabar com a Companhia e com a influência dos jesuítas. Os rebeldes formaram um governo pro-
visório. Ao saber dos acontecimentos, o rei enviou um novo governador, Gomes Freire de Andrade
que, ao chegar, ordenou o enforcamento de Beckman e outros dois líderes do movimento.

GUERRA DOS EMBOABAS

O rápido e caótico afluxo de milhares de pessoas às regiões das minas logo trouxe seus problemas.
Os paulistas, descobridores do ouro de Minas Gerais, sentiam-se no direito de explorá-lo com ex-
clusividade. Entretanto, muitos portugueses vindos da metrópole ou de outras partes da própria
colônia também queriam apoderar-se das jazidas descobertas. A tensão cresceu quando os por-
tugueses passaram a controlar o sistema de abastecimento de mercadorias na região das minas, em
1707.
O conflito teve fim em 1709, no chamado Capão da Traição, quando muitos paulistas foram mor-
tos por tropas emboabas de cerca de mil homens. Posteriormente, os paulistas organizaram uma
vingança contra os emboabas.

Entre as consequências da Guerra dos Emboabas podemos destacar: o controle mais rígido por
parte da Metrópole; a elevação de São Paulo à categoria de cidade; a criação da capitania de São
Paulo e Minas Gerais do Ouro e a descoberta de ouro em Mato Grosso a Goiás.

GUERRA DOS MASCATES

Devido à queda do preço do açúcar no mercado europeu, causada pela concorrência do açúcar an-
tilhano, os ricos senhores de engenho de Olinda, principal cidade de Pernambuco em 1710, viram-
se arruinados. Começaram, então, a pedir empréstimos aos comerciantes do povoado do Recife
(Mascates), que cobravam juros bastante elevados por eles.

Convencidos de sua relevância, os comerciantes de Recife pediram ao rei de Portugal, d. João V,


que seu povoado fosse elevado à categoria de vila. D. João V atendeu ao pedido e, com isso, os
senhores de engenho organizaram uma rebelião e invadiram Recife. Sem condições de resistir, os
comerciantes mais ricos fugiram para não ser capturados.

Em 1711, o governo português interveio na região, reprimindo duramente os revoltosos. Os princi-


pais líderes foram presos ou condenados ao exílio. Os Mascates reassumiram suas posições, e Re-
cife tornou-se a capital de Pernambuco.

REVOLTA DE VILA RICA

O anúncio da Criação das Casas de Fundição causou insatisfação entre os mineradores, pois con-
sideravam que a medida dificultava a circulação e o comércio do ouro dentro da capitania facili-
tando apenas a cobrança de impostos. Tal descontentamento acabou provocando a chamada Re-
volta de Felipe dos Santos ou Revolta de Vila Rica, em 1720.

Cerca de 2 mil revoltosos, comandados pelo tropeiro português Felipe dos Santos, conquistaram a
cidade de Vila Rica. Esse grupo exigiu do governador da capitania de Minas Gerais a extinção das
Casas de Fundição.
Apanhados de surpresa, o governador fingiu aceitar as exigências, ganhando tempo para organizar
suas tropas e reagir energicamente. Pouco depois, os líderes do movimento foram presos, e Felipe
dos Santos foi condenado, enforcado e esquartejado em praça pública.

Independência da América Espanhola

Por Leandro Augusto Martins Junior

Mestre em História Política pela UERJ



INDEPENDÊNCIA NO NOVO MUNDO

Ao longo do século XIX, o continente americano foi varrido pelos mais diversos movimentos de
independência. Região de colonização europeia, a América teve na Independência das Treze Colô-
nias Inglesas a pioneira deste processo, evento que ocorreu ainda no século anterior. No entanto,
seria somente nos “oitocentos” que as demais regiões viriam a se libertar da dominação metropoli-
tana, inclusive aquelas sob controle espanhol.

Influenciados pelos ideais libertários do Iluminismo, estes movimentos se sucederam em clara re-
sposta ao aperto do pacto colonial imposto pela Espanha. Neste momento, as colônias hispano-
americanas sofriam com uma extensa carga tributária, além de um sistema fiscalizador cada vez
mais rigoroso, elevando a insatisfação dos colonos a níveis nunca antes vistos.
Uma das determinações mais impopulares tomadas pela Coroa espanhola foi o estabelecimento do
sistema de “Portos Únicos”. Segundo esta deliberação, os negociantes americanos só poderiam en-
viar suas mercadorias à Europa através de portos específicos, localizados no México, Panamá e
Colômbia. Embora esta medida tivesse sido adotada pelo governo espanhol já nas primeiras dé-
cadas da colonização, sua aplicação passou a ser mais rígida nos anos anteriores à eclosão das in-
dependências.

AUTOGOVERNO DOS CABILDOS


Lutas de independência na América Espanhola (Foto: Reprodução)

Nos primeiros anos do século XIX, a Europa foi assolada pelo expansionismo napoleônico, trans-
formando sua formatação territorial e composição política. Na Espanha, por exemplo, as tropas
francesas foram responsáveis pela deposição de Fernando VII, fato que viria a transformar profun-
damente os caminhos tomados pelas colônias hispânicas no Novo Mundo.

Neste momento, o trono espanhol ficou sob a incumbência de José Bonaparte, irmão de Napoleão.
Os colonos americanos, então, jurando fidelidade a Fernando VII, não reconheceram a legitimi-
dade do novo governo. A partir de então, os assuntos da colônia passaram, assim, a ser coordena-
dos diretamente pelos cabildos, espécie de câmara municipal integrada pelos colonos hispano-
americanos mais abastados, os criollos.

O autogoverno dos cabildos representava, ao menos na prática, a quase que total autonomia dos
colonos no que diz respeito às decisões sobre as questões pertinentes à América Hispânica. Neste
momento, caberia a estes homens o papel que anteriormente era desempenhado pela Coroa espan-
hola e seus representantes. E foi justamente neste cenário que as elites coloniais deram início às lu-
tas pela independência.

Com a derrota de Napoleão e as resoluções do Congresso de Viena, todos os governantes submeti-


dos por Bonaparte foram novamente levados ao poder. Fernando VII, por exemplo, voltara ao
trono espanhol, reimplementando o absolutismo no país. Em relação às suas colônias, tentou re-
tomar o controle dessas regiões, retirando toda a autonomia conquistada por seus nativos durante o
período marcado pelo autogoverno dos cabildos. Apresentava-se, então, mais um fator motivador
para o fortalecimento dos movimentos emancipacionistas.

LIDERANÇA CRIOLLA
Independência Haiti (Foto: Reprodução)

Liderados pelas elites criollas, tais movimentos contaram com pequena participação popular.
Diferente da ilha de São Domingos (atual Haiti), colônia francesa cujo processo de independência
foi liderado por escravos de origem africana, as colônias espanholas tiveram suas emancipações
coordenadas pelos setores mais abastados.
Evidentemente que revoltas populares chegaram a ocorrer, como, por exemplo, o movimento lider-
ado pelos padres Miguel Hidalgo e José Morellos no México, e a rebelião organizada por Tupac
Amaru na região do Peru. No entanto, todas elas foram frontalmente combatidas não apenas pelas
autoridades espanholas, mas também pelas elites criollas, temerosas da “haitinização” dos movi-
mentos de independência.

As independências hispano-americanas ocorreram em momentos distintos, basicamente ao longo


das três primeiras décadas do século XIX. Em todos os casos, a participação dos “Libertadores da
América” foi fundamental. Estes homens eram importantes líderes locais que coordenaram diver-
sos movimentos emancipatórios. Simón Bolívar, José de San Martín, Bernardo O’Higgins e José
Sucre foram quatro desses libertadores que, conjuntamente às elites criollas, fundamentaram o
surgimento dos primeiros países livres no território da América Espanhola.

PÓS-INDEPENDÊNCIA
Simón Bolívar, líder da independência (Foto: Reprodução)

Com o sucesso das independências, a maioria dos novos países estabeleceu a república como sis-
tema de governo, agora invariavelmente sob a liderança dos antigos criollos. Esta formatação
política contribuiu para a fragmentação do território hispano-americano, pois os interesses desses
líderes locais em manter o domínio sob suas regiões fragilizavam qualquer tentativa de unificar es-
sas áreas.

Simón Bolívar foi o grande representante do projeto unitarista, defendendo a união das ex-colônias
espanholas em uma única e grandiosa nação independente. Bolívar advogou esta proposta no Con-
gresso do Panamá, encontro que buscava definir os caminhos a serem tomados pelos novos países
latino-americanos. No entanto, frente aos interesses das lideranças locais e ao desejo da Inglaterra
e dos Estados Unidos em impedir a formação de uma potência rival na região, seu programa uni-
tarista foi derrotado. Deste modo, a fragmentação do território foi consolidada e a formação de
vários países estabelecida
Independência dos Estados Unidos

Por Leandro Augusto Martins Junior

Mestre em História Política pela UERJ




CONTEXTO EXPLOSIVO

Região colonizada por potências europeias a partir do processo de expansão marítima iniciado em
meados do século XV, o continente americano viria a ser, muitos anos depois, palco de inúmeros
movimentos coloniais emancipacionistas. Mais precisamente ao longo do século XVIII, no mesmo
contexto de crise do Antigo Regime na Europa e de fortalecimento dos ideais iluministas, o Novo
Mundo foi assolado por diversas insurreições contrárias às determinações das Coroas europeias. Se
por um lado algumas dessas revoltas apenas reivindicavam alterações no pacto colonial, outras
radicalizavam e exigiam a ruptura total com suas metrópoles.

Os movimentos de independência das colônias americanas ganharam força à medida que as Coroas
europeias ampliaram a carga tributária cobrada sobre essas regiões, além de expandir todo o sis-
tema de fiscalização que ali funcionava. Tais medidas, que na ótica do colonizador buscavam so-
mente ampliar sua arrecadação, ao olhar do colono se mostravam como ações intoleráveis e que at-
acavam frontalmente suas liberdades e direitos. Nesses termos, o pacto colonial se transformava
em um acordo inaceitável.
Ao mesmo tempo, a propagação dos valores liberais do Iluminismo nas Américas contribuiu para
incendiar ainda mais o cenário explosivo que se desenvolvia nessas colônias. Difundidos por amer-
icanos que iam estudar em universidades europeias e depois retornavam, nas lojas maçônicas ou
mesmo através de livros e jornais que chegavam a essas regiões, estes ideais foram interpretados
pelos colonos como justificativas que legitimavam a luta pela independência.

PIONEIRISMO DAS TREZE COLÔNIAS

A primeira região americana a conseguir sua independência foi aquela formada pelas Treze Colô-
nias Inglesas. Situadas na América do Norte, essas colônias gozavam de uma autonomia bastante
incomum dentro do sistema colonizador europeu. Mais especificamente as “colônias do norte”
usufruíam dessa liberdade, possibilitada pelo relativo afastamento que a metrópole inglesa tinha
em relação aos negócios por elas desenvolvidos.
Boston Tea Party, um protesto da colônia (Foto: Reprodução)

No transcorrer do século XVIII, no entanto, esta “Negligência Salutar” que caracterizava as re-
lações entre a Inglaterra e suas colônias do norte foi corrompida, com a metrópole ampliando dras-
ticamente a carga tributária sobre essas áreas. Medidas como a Lei do Açúcar, a Lei do Selo e a
Lei do Chá não apenas aumentaram a quantidade de impostos pagos pelos colonos, mas também
coibiram a liberdade comercial que até então se fazia presente nessas regiões.

A Lei do Selo cumpria ainda uma outra importante função dentro dos esforços ingleses em contro-
lar as mobilizações coloniais: ao determinar que todo documento escrito só pudesse circular ofi-
cialmente no espaço colonial após receber o “selo metropolitano”, a Inglaterra buscava não apenas
angariar mais impostos, mas igualmente fiscalizar a possível divulgação de ideais revolucionários
através desses textos.

Ao conceder o monopólio da venda de chá nas Treze Colônias à Companhia das Índias Orientais, a
Lei do Chá estabelecia a exclusividade da venda do lucrativo produto por uma empresa metropoli-
tana, o que naturalmente causou grande insatisfação nos colonos. Em resposta, estes organizaram o
saque de navios ingleses que, aportados em Boston, traziam em seus porões grandes cargas de chá.
Tal episódio ficou conhecido como Boston Tea Party (a Festa do Chá em Boston).

Entre os anos de 1756 e 1763 a Inglaterra se envolveu em um conflito com a França pela disputa
do controle de terras localizadas na América do Norte. Auxiliados por destacamentos das Treze
Colônias, os ingleses saíram vitoriosos, consolidando seu domínio na região. Os gastos de guerra,
no entanto, foram grandiosos. Como forma de compensá-los, a Inglaterra ampliou a cobrança de
impostos sobre os mesmos colonos que haviam lhe ajudado no combate, contribuindo evidente-
mente para o aumento da insatisfação dos americanos.

CONGRESSO DA FILADÉLFIA

O descontentamento dos colonos com o governo metropolitano atingiu seu ápice com o estabeleci-
mento das Leis Intoleráveis. Através desse conjunto de leis, a Inglaterra determinava, por exemplo,
o fechamento do porto de Boston e o financiamento dos custos oriundos da manutenção do
exército metropolitano na colônia pelos próprios colonos.
Frente a este cenário de medidas repressoras, os colonos começaram a desenvolver uma reação
mais organizada. Em meados de 1774, representantes das treze colônias reuniram-se, então, no
Primeiro Congresso da Filadélfia. Embora não apresentasse um caráter separatista, este evento foi
fundamental ao processo de independência ao estabelecer a formação de um exército colonial.

Com o fracasso das tentativas de negociação entre as Treze Colônias e sua metrópole por um pacto
colonial mais flexível, a relação entre as partes ficou insustentável. Os primeiros confrontos arma-
dos começaram em abril de 1775, com a Batalha de Lexington. Semanas depois, os colonos
voltaram a se reunir no Segundo Congresso da Filadélfia, quando toda a população local foi con-
vocada a lutar pela independência.

Declarada oficialmente em 04 de julho de 1776, a independência das Treze Colônias Inglesas só


viria a ser reconhecida pela Inglaterra em 1783, através do Tratado de Paris. Anos depois, em
1787, o agora já chamado Estados Unidos da América elaboraram sua primeira constituição. Clara-
mente influenciada pelos ideais iluministas, instituía a república presidencialista como sistema de
governo, a tripartição dos poderes e o Estado Laico. O federalismo também foi adotado com o ob-
jetivo de conciliar os diferentes interesses das ex-colônias que agora passavam a integrar a mesma
nação.

Período Joanino

Por Leandro Augusto Martins Junior

Mestre em História Política pela UERJ




BLOQUEIO CONTINENTAL

Os primeiros anos do século XIX na Europa foram marcados por profundas agitações políticas e
numerosas alterações na composição do seu espaço territorial. Em decorrência do expansionismo
napoleônico, o continente se viu imerso em um violento cenário de guerra, no qual a França bona-
partista se opunha a uma coligação de países liderados pela Inglaterra, sua principal inimiga. Tais
conflitos acabaram interferindo, direta ou indiretamente, nos destinos de várias nações europeias.
Portugal é certamente um dos maiores exemplos.

Tendo ciência do protagonismo assumido pela Inglaterra neste período, Napoleão arquiteta uma
estratégia com o objetivo de fragilizar sua arquirrival: o decreto do “Bloqueio Continental” im-
punha aos países do continente a proibição de comercializarem com a Inglaterra. Caso não
aceitassem tais determinações, estas nações viriam a ser severamente castigadas pelas forças
francesas.

Como Portugal nutria íntimas relações com a Inglaterra desde ao menos o século anterior, seu
príncipe-regente D. João VI resolveu não ceder às pressões de Bonaparte, desrespeitando as delib-
erações do Bloqueio Continental. Em represália, semanas depois o exército francês viria a invadir
o território lusitano, não encontrando mais por lá, no entanto, a família real. Neste meio tempo, a
corte portuguesa retirou-se do país em direção àquela que era, então, sua maior colônia, o Brasil.

LISBOA TROPICAL
Gazeta do Rio de Janeiro (Foto: Reprodução)

Após uma cansativa viagem de quase dois meses para atravessar o Atlântico, a Corte portuguesa
finalmente chegava ao litoral luso-americano. Precedida de uma breve parada na cidade de Sal-
vador, a caravana real aportou definitivamente na capital Rio de Janeiro em 07 de março de 1808.
Cidade portuária habitada por cerca de 60.000 pessoas, o Rio de Janeiro nem de longe se assemel-
hava às grandes capitais europeias. Pantanosa e assolada pelas mais diversas pestes tropicais, a
nova sede da família real portuguesa não apresentava a menor infraestrutura para receber os ilus-
tres recém-chegados.

O primeiro grande problema enfrentado por D. João e sua corte foi a escassez de habitações que
pudessem ser transformadas em suas novas residências. A solução encontrada foi polêmica, com
os melhores domicílios sendo transformados forçosamente em propriedades reais, despertando a
insatisfação da população local.

A partir de então, a cidade sofreu uma variedade de tantas outras transformações urbanísticas e
culturais: teatros foram construídos, a Academia Real Militar e a de Belas Artes do Rio de Janeiro
foram criadas, a Biblioteca Real foi edificada e o Horto Real foi arquitetado com o propósito de
ampliar as pesquisas sobre a rica e exótica flora brasileira. Além disso, a “Gazeta do Rio de
Janeiro” passou a ser publicada, constituindo-se no primeiro jornal redigido na América Por-
tuguesa.

Pintura de Debret (Foto: Reprodução)


Buscando retratar as belezas e peculiaridades das terras brasileiras, D. João VI patrocinou a vinda
de uma “Missão Artística Francesa” à América Portuguesa. Liderados por Jean-Baptiste Debret, os
artistas europeus representavam em suas artes os costumes e valores da sociedade colonial. Em
destaque estavam temáticas “exóticas” (ao olhar do europeu, evidentemente) como as paisagens
tropicais, o folclore indígena e o cotiodiano do trabalho escravo.

DE COLÔNIA PARA METRÓPOLE

A vinda da família real para a América Portuguesa transformou ainda outros setores da colônia.
Suas estruturas econômicas, por exemplo, foram profundamente alteradas a partir da “Abertura dos
Portos às Nações Amigas” (1808) e da assinatura dos “Tratados de Livre Comércio e Navegação”
(1810). Tais acordos estabeleciam, respectivamente, a possibilidade dos portos brasileiros comer-
cializarem com outras nações e tarifas alfandegárias mais vantajosas aos produtos ingleses em
nosso mercado.

Na prática, tais medidas representaram o fim do pacto colonial, corrompendo qualquer tipo de ex-
clusividade ou prevalência de representantes portugueses nos negócios da colônia. Ao mesmo
tempo, o Brasil entrava progressivamente na órbita de influência da economia inglesa, situação que
viria a perdurar até ao menos as primeiras décadas do século XX.

Em termos políticos, além da própria presença da Coroa portuguesa em terras brasileiras, outro fa-
tor modificou bruscamente o destino da América Portuguesa: em 1815, o Brasil foi elevado a
“Reino Unido de Portugal e Algarves”, abandonando definitvamente seu status de colônia. A partir
de então, os colonos passariam a gozar de uma grande autonomia, liberdade esta que jamais viriam
a abdicar.

INDEPENDÊNCIA

A partir de 1820, as relações entre Brasil e Portugal ficaram comprometidas. Com a eclosão da
“Revolução do Porto”, os rebeldes lustianos exigiam não apenas o retorno de D. João VI e sua
Corte para sua terra natal, mas requeriam ainda a recolonização do território americano. Cedendo a
tais pressões, o monarca decide por voltar a Portugal, garantindo a posse do trono.
O príncipe D. Pedro, no entanto, permanece na cidade do Rio de Janeiro. Em 09 de janeiro de
1822, data conhecida como o “Dia do Fico”, anuncia sua decisão de não regressar à Europa. Meses
depois, frente à intransigência portuguesa em exigir a recolonização do Brasil, D. Pedro viria a lid-
erar as elites locais no processo de independência. A partir de então, tornar-se-ia ainda o primeiro
governante do Império Brasileiro.

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