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Escravidão, Servidão e Trabalho livre

na Antiguidade
Conheça as diferenças entre escravidão, servidão e
trabalho livre entre os povosevernote antigos

Introdução

Durante a Antiguidade, desde o início das primeiras


civilizações até a queda do Império Romano do Ocidente,
houve três tipos principais de trabalho: escravidão
(trabalho compulsório), servidão e trabalho livre. Eles
possuem diferenças fundamentais e conhecê-las é muito
importante para compreender a História Antiga.

Principais características dos tipos de trabalho na


Antiguidade:

Escravidão

- Geralmente os escravos eram pessoas capturadas em


guerra. O exército vencedor prendia os inimigos
derrotados e os transformavam em escravos. Houve
também, principalmente na Grécia Antiga, a escravidão
por dívidas.

- O escravo não possui nenhum tipo de liberdade.

- Não possuíam direitos, apenas deveres.

- Eram obrigados a realizar todos os trabalhos


ordenados pelos proprietários ou pelo Estado.

- Estavam presos à condição de escravos, ou seja, não


podiam deixar o trabalho para buscar melhores
oportunidades.

- Os escravos domésticos tinham uma condição de vida um


pouco melhor do que os outros tipos de escravos.

- Seu trabalho não era remunerado por dinheiro ou


qualquer outro bem. O escravo recebia, de seu
proprietário, apenas o alimento suficiente para
sobreviver (geralmente era de péssima qualidade ou
restos), vestimentas básicas e um local para dormir.

- Os castigos físicos foram muitas vezes utilizados


para punir atos de desobediência, erros ou tentativas
de fuga dos escravos.

- Na Antiguidade, houve escravidão no: Egito Antigo,


Grécia Antiga, Roma Antiga, China Antiga, Índia Antiga,
Suméria (Mesopotâmia).

Servidão

- A servidão é caracterizada, principalmente, pela


condição de dependência do servo em relação ao seu
senhor.

- Na Antiguidade, a servidão funcionou, principalmente,


da seguinte forma: um proprietário rural deixava os
camponeses cultivarem em sua terra, porém, os servos
deviam pagar tributos para o senhor. Geralmente, o
tributo era pago em espécie (uma certa quantidade do
que os servos colheram). Dessa forma, os servos ficavam
sempre devendo ao proprietário rural e, de certa forma,
presos à terra.

- Embora não fosse escravidão, os senhores utilizavam o


poder que tinham para forçar a permanência dos servos
em suas terras. Garantiam, assim, a cobrança de
elevados tributos.

Trabalho Livre

- Nesse tipo de trabalho, o trabalhador não era preso a


nenhuma pessoa ou obrigação com o Estado.

- Geralmente eram pequenos comerciantes, artesãos,


pequenos proprietários rurais e diferentes tipos de
prestadores de serviços.

- Pagavam impostos ao Estado. Os impostos costumavam


ser elevados e podiam ser pagos em espécie (produtos)
ou moedas.

- Entre os trabalhadores livres podia haver mobilidade


social, porém era bem difícil subir para outros níveis
da sociedade.

- Houve trabalho livre em todas as sociedades da


Antiguidade.
Escravidão na Roma Antiga, durante o Império
Romano (por volta do ano 200)

"A escravidão na África se estabeleceu em


moldes domésticos. Nela, o escravo era
obtido por meio da guerra, por exemplo, e
poderia até ter certo grau de autonomia,
podendo se casar e ter terras. Com o tempo,
ele era integrado à comunidade de que passou
a fazer parte. O comércio de escravizados
trouxe profundas transformações para a
escravidão na África.

Acesse também: Cultura africana – uma das


raízes da nossa cultura

Tópicos deste artigo


1 - Resumo sobre escravidão na África
2 - Escravidão na África
3 - Escravidão doméstica
4 - Escravidão islâmica
5 - Tráfico negreiro
Resumo sobre escravidão na África
A escravidão era uma instituição registrada
no continente africano desde o período do
Egito Antigo.
Antes da comercialização de escravos em
larga escala, a principal forma de
escravização no continente africano era a
doméstica.
Na escravidão doméstica, o escravizado,
apesar de não possuir totalmente sua
liberdade, poderia ter terras e até se
casar.
A escravidão na África começou a se
transformar com o comércio com os árabes
muçulmanos que se estabeleceram no norte da
África.
A partir do século XV, o tráfico negreiro se
estabeleceu e a escravidão no continente
africano mudou radicalmente.
Escravidão na África
A escravidão é uma das práticas mais antigas
da humanidade, e, desde os tempos do Egito
Antigo, por exemplo, essa instituição já se
fazia presente. Quando falamos de
escravidão, estamos definindo uma relação
entre duas pessoas na qual uma parte é vista
como proprietária e a outra, como objeto e
propriedade.

Assim sendo, o sentido clássico do conceito


de escravidão afirma que o senhor detém o
domínio sobre o seu escravo, enxergando-o
como uma propriedade e privando-o de sua
liberdade e de suas vontades. Nesse sentido,
o destino de um escravo fica totalmente nas
mãos de seu senhor, e essa prática se
manifestou em diversas partes do planeta,
incluindo o continente africano.

Existe documentação de que expedições


militares para obtenção de escravos eram
realizadas no Egito por volta de 2700 a.C.
Essas expedições visavam a obter escravos na
Núbia e trazê-los ao Egito para que fossem
revendidos. No Egito, os escravos poderiam
ser encaminhados para trabalhos braçais
pesados, como em pedreiras.

Escravidão doméstica
A escravidão na África teve um grande salto
por conta do comércio com os árabes e os
europeus, como veremos. Entretanto, antes
disso, a forma de escravidão mais
tradicional que existia no continente
africano era a doméstica, na qual o
escravizado era utilizado em trabalhos
simples, como o cultivo da terra.

Essa escravidão se dava, principalmente, por


meio da guerra, em que um vilarejo vencido
em uma luta tinha parte de sua população
escravizada. Essas pessoas aprisionadas se
somavam ao vilarejo vencedor e se juntavam
ao grupo de pessoas que cultivavam a terra,
pois, em diversas culturas africanas, a
riqueza se media pela quantidade de pessoas
disponíveis para o cultivo da terra.

Na escravidão doméstica, os dois principais


grupos escravizados eram as mulheres e as
crianças, as primeiras por se rebelarem
menos e por garantirem a continuidade da
linhagem pela reprodução, e as segundas por
sua maior facilidade em serem assimiladas.

A reprodução e a assimilação dos escravos


eram importantes nessa modalidade de
escravidão porque as mulheres escravizadas
se tornavam concubinas de seus senhores e os
filhos delas eram integrados à comunidade,
isto é, nasciam livres e garantiam a
continuidade da linhagem daquele povo. Essa
assimilação se dava gradativamente.
Existiam outras maneiras de obtenção de
escravos, como pela punição por delitos
considerados graves, como o roubo e o
adultério. Entretanto, o historiador
Roquinaldo Ferreira aponta que esse tipo de
sentença se tornou mais comum somente depois
do estabelecimento do tráfico negreiro na
costa africana.|1|

Os historiadores Wlamyra Albuquerque e


Walter Fraga Filho também explicam que
existiam povos que revendiam pessoas para
serem escravizadas em contextos e situações
críticas, em que a sobrevivência da
comunidade dependia dos recursos obtidos por
esse comércio. Eles afirmam que os Sena, de
Moçambique, vendiam pessoas escravizadas
quando a seca os deixava sem alimentos.|2|

Por fim, é importante comentar que a


escravidão doméstica africana tinha algumas
características peculiares, uma vez que dava
certo grau de autonomia para o escravizado e
permitia que ele se casasse com outras
pessoas livres e até que fosse proprietário
de um lote de terra.

Acesse também: Como ficou a vida dos ex-


escravizados após a Lei Áurea?

Escravidão islâmica
A escravidão doméstica era uma prática
tímida, em que muito poucas pessoas
escravizadas eram vendidas como tal, e, como
vimos, tinha um papel ligado ao cultivo da
terra nas comunidades para as quais essas
pessoas iam. Com o tempo, elas acabavam
sendo integradas à comunidade e viam suas
linhagens serem libertas.
O comércio de escravos passou a se tornar
uma atividade econômica comum e intensamente
lucrativa por meio dos contatos dos árabes
com os povos subsaarianos. Isso porque, a
partir do século VIII, o norte da África foi
conquistado pelos árabes. Isso fez com que
essa região fosse islamizada e fortaleceu os
laços comerciais entre muçulmanos e os povos
subsaarianos.

Esses laços se davam porque os berberes


(habitantes do norte da África convertidos
ao islamismo) realizavam caravanas que
cruzavam o deserto do Saara e iam para
diversas regiões da África subsaariana e lá
trocavam diversas mercadorias, como
perfumes, tecidos e cavalos, por ouro,
marfim e escravizados.

Fala-se que a escravidão islâmica tenha sido


responsável pela escravização de cerca de
sete milhões de pessoas em cerca de 11
séculos.|3| Entre os árabes, os escravizados
cumpriam trabalhos como carregadores nas
caravanas, agricultores, artesãos,
domésticos, entre outros. A cultura árabe
não permitia a escravização de muçulmanos,
portanto, essa ação era entendida por eles
como uma oportunidade para a conversão, uma
vez o acesso à palavra de Alá a impediria.

A grande demanda dos árabes por escravizados


transformou a relação dos africanos com a
escravidão e contribuiu para o
desenvolvimento de um grande comércio no
continente. Com isso, a escravidão doméstica
foi perdendo espaço para a comercial, isto
é, a obtenção e revenda escravos unicamente
pelo lucro.

Leia mais: Escravidão no Brasil – escravizou


milhões de indígenas e africanos e existiu
por mais de 300 anos

Tráfico negreiro

Os africanos comprados pelos europeus como


escravos eram colocados em navios chamados
de tumbeiros.
Foi a partir do século XV que o comércio de
escravos no continente africano se
transformou em um negócio de proporções
gigantescas. Esse negócio se estabeleceu no
período das grandes navegações, isto é,
durante as expedições de exploração do
oceano Atlântico, realizadas pelos
portugueses ao longo do século XV.

A relação comercial entre os europeus e os


africanos fez com que se consolidasse uma
classe de comerciantes especializados na
obtenção de prisioneiros e na sua revenda
como escravizados. Antes da colonização,
milhares de africanos já haviam sido
enviados para cidades como Lisboa e Sevilla,
para lá realizarem todo o tipo de trabalho.

O tráfico de escravizados incentivou as


lutas internas no continente africano, uma
vez que alguns povos com maior capacidade
militar passaram a usar dessa força para
subjugar povos mais fracos, a fim de
revendê-los como escravos. Entre os reinos
que passaram a praticar esse tipo de
comércio, estavam Daomé e Ashanti, por
exemplo.

Roquinaldo Ferreira aponta que o comércio de


escravizados com os europeus contribuiu para
a centralização política da África, fazendo
com que os reinos que dominavam a captura e
venda de pessoas se tornassem forças
hegemônicas. Isso intensificou as guerras e
tornou mais rígidas as leis entre esses
reinos, fazendo com que certos delitos, que
eram punidos com multas, passassem a ser
punidos com a escravização.

Assim, antigas práticas de integração


deixaram de existir e foram sendo
substituídas por práticas que visavam à
maior obtenção de pessoas para serem
vendidas como escravas. À medida que o
comércio de escravizados se intensificou,
foi sendo necessário buscar prisioneiros
mais longe do litoral. Os prisioneiros
obtidos eram levados até a costa oeste
africana caminhando e eram mantidos em
estado de debilidade para evitar fugas.

Estima-se que, ao longo de mais de três


séculos de comercialização de escravizados
no continente africano, cerca de 12 milhões
deles tenham sido trazidos para a América.
Grande parte desses vinha de diferentes
regiões da África Central e Ocidental."

Cultura Medieval

A Cultura Medieval é um conjunto de manifestações


filosóficas, literárias, religiosas, científicas, que
mistura fatores das culturas greco-romanas e germânica,
numa síntese permeada por aspectos cristãos.

Vale destacar que a Igreja Católica teve uma


preponderância marcante durante todo o período medieval
(século IV ao XV), sobretudo quando os francos e as
tribos germânicas aderiram ao Cristianismo.

De tal maneira, ela detinha cerca de um terço das


terras cultiváveis, o que lhe garantia um considerável
poder econômico.

Além disso, a educação ficava a cargo da Igreja, onde


todos os saberes eram impregnados de religiosidade, o
que acabou motivando os renascentistas a denominar esse
período histórico como “Idade das Trevas”.

Para saber mais sobre o período, acesse os links: Idade


Média e Igreja Medieval
Contexto Histórico: Resumo
O período que compreende a Idade Média abarca
aproximadamente um milênio de história e começa durante
os séculos IV e V.

Seu marco inicial é a desestruturação do Império Romano


do Ocidente. A Idade Média permaneceu até os séculos
XIV e XV, com a crise do feudalismo e ascensão dos
estados nacionais. Contudo, foi entre os séculos XI e
XIII que a “cultura medieval” atingiu seu apogeu.

A partir do século X, na Europa Ocidental tem início


uma reestruturação econômica, social, política e
cultural que irá culminar no Renascimento Cultural e
Urbano perpetrado pela burguesia.

Além disso, as peregrinações, feiras e o movimento


copista dos Monastérios contribuíram para a difusão
cultural durante toda a Idade Média.

Para saber mais: Renascimento Cultural e Renascimento


Urbano
Principais Características
Segue abaixo algumas das principais características do
período medieval, nos campos da educação, artes e
ciências.
Educação Medieval e Escolástica
De partida, vale destacar que somente uma minoria da
população medieval sabia ler e escrever, posto que, via
de regra, somente os filhos da nobreza estudavam.

De toda forma, na maior parte do período medieval, o


latim foi à língua oficial, especialmente no que tange
à escrita. Sua versão oral suportava uma forma menos
culta.

Outro destaque que deve ser feito é para a Instituição


Escolar que se desenvolveu a partir do século XII: a
Escolástica, um método pelo qual se pretendia descobrir
a verdade por meio da dialética.

Esta forma de ensino se desenvolveu nos Monastérios e


nas Escolas das Catedrais, principais centros de estudo
e depositário da produção intelectual, até a criação
das Universidades, as quais ainda estavam muito ligadas
à Igreja durante todo século XII.

Por conseguinte, nestes centros de saber, valorizava-se


muito os autores da Antiguidade Clássica, como
Aristóteles e Platão, as quais se dedicaram Santo Tomás
de Aquino e Santo Agostinho, os principais teólogos do
período medieval.

Saiba mais sobre a Filosofia Medieval.


Arquitetura Medieval
Na arquitetura medieval destacaram-se os estilos
Romântico (Alta Idade Média), caracterizado pela
austeridade e solidez e o estilo Gótico, marcado pela
leveza e formas esguias.

A arquitetura medieval ficou muito conhecida pela


construção de castelos, mas foram nas Igrejas e
Catedrais que a arquitetura religiosa floresceu.

Nesses espaços sacros, eram necessárias a retratação de


cenas religiosas e moralizadoras para catequizar a
população.

Para saber mais veja também os artigos:

• Arte Gótica
• Arte Medieval
• Arte Românica

Música Medieval
A música também recebeu grande influência da Igreja,
haja vista o canto sacro, especialmente o gregoriano de
Gregório Magno (Papa Gregório I), composto por vozes
masculinas em formato de coral.

Contudo, enquanto o monge italiano Guido d'Arezzo cria


a pauta de quatro linhas e escala musical, os
trovadores e menestréis difundiam a música popular.

Os principais estilos musicais da época foram a música


modal, a música polifônica, a ars antiqua e a ars nova,
bem como as variações da música profana.
Por sua vez, os instrumentos musicais mais usados foram
a Cítara, o Alaúde, a Harpa, as Flauta e os Tambores.
Literatura Medieval
A literatura medieval foi marcada pelo uso do latim na
maioria dos textos, os quais repercutiam os temas
religiosos e existenciais da moral cristã.

Contudo, as manifestações vernáculas em forma lírica e


narrativa do século XII, romperam com essa tradição e
marcaram o abandono do latim clássico.

Tem-se o surgimento da poesia trovadoresca, como nas


canções de gesta, escárnio, de amor, de amizade, que
marcaram o pensamento medieval até o aparecimento do
Quinhentismo, em meados de 1418.

Para saber mais leia os artigos:

• Literatura Medieval
• Trovadorismo
• Quinhentismo

Culinária Medieval
A culinária medieval é muito rica e se destaca pelo uso
de especiarias como noz-moscada, canela, gengibre,
cravo em pó, açafrão, utilizado na produção de molhos
para carnes vermelhas, de aves e de peixes.

Apesar desta variedade, os alimentos mais consumidos


eram os pães e cereais, bem como ensopados e caldos de
batatas, pois a carne era um alimento muito valioso.
Ciência Medieval
Quanto aos aspectos científicos medievais, merecem
destaque a Alquimia, de influência notadamente árabe,
bem como a medicina, influenciada por médicos gregos e
orientais.

A organização social do Império Romano

Ao alcançar o governo de Roma, Caio Otávio teve grande


habilidade em conduzir uma série de reformas que
modificaram as feições da administração e da economia
no país. Nesse sentido, ele visava fortalecer a nova
ordem sem, para tanto, dispor necessariamente de
dispositivos de poder autoritários. Sob tal aspecto,
acabou interferindo na organização da sociedade daquela
época ao estabelecer novos critérios de classificação
entre os cidadãos romanos.

Durante muito tempo, a determinação dos direitos


políticos e individuais foram realizados por meio do
nascimento de cada romano. Era por essa razão que,
durante uma parte do período republicano, os plebeus,
mesmo se enriquecendo com o artesanato e o comércio,
não usufruíam os mesmos direitos que os patrícios. Ao
longo do tempo, esse tipo de diferenciação acabou
fomentando uma série de revoltas que deixavam a
sociedade romana a mercê das desavenças e da
instabilidade.

Visando superar tal estrutura, o imperador Otávio


Augusto determinou uma nova ordenação social baseada na
condição econômica apresentada por cada um dos
indivíduos. Dessa forma, foram criadas as ordens
Senatorial, Equestre e Inferior. Seguindo tal
hierarquia, a Ordem Senatorial era basicamente composta
por cidadãos que comprovassem uma renda superior a um
milhão de sestércios, moeda de prata empregada na
economia romana daquela época.

Os membros da ordem Senatorial poderiam se candidatar


aos mais importantes cargos públicos existentes em Roma
e se diferiam dos demais utilizando uma tarja púrpura
em suas vestes. Logo em seguida, os pertencentes da
Ordem Equestre constituíam uma classe intermediária que
teria de comprovar uma renda superior a quatrocentos
mil sestércios. Com tal fortuna, ele teria o direito de
participar de votações e exercer alguns dos cargos
públicos disponíveis.

Por fim, a Ordem Inferior, todo aquele que tivesse uma


renda inferior a quatrocentos mil sestércios, dispunha
de vários direitos, mas não poderia ocupar cargos
públicos ou interferir em nenhuma das eleições
organizadas na época. Em uma rápida observação, vemos
que o regime imperial determinava maiores privilégios
àqueles que tinham uma condição econômica mais
avantajada. Contudo, a prosperidade dos primeiros
séculos não abriu portas para rebeliões de maior
impacto.

Além dessas ações de ordem política, o imperador Otávio


Augusto também impôs uma série de leis em que buscava
interferir nos costumes romanos. Segundo ele mesmo, a
prosperidade trouxe uma situação de “relaxamento dos
costumes” que poderia provocar a ruína de toda a
população. Desse modo, ele incentivou o crescimento das
famílias romanas, a fixação de população em áreas
rurais e a punição contra as mulheres que cometessem
adultério.

A modernidade
Observe as duas imagens do início do texto e pense
quais relações elas têm com a modernidade? O que vocês
entendem por modernidade?
Praticamente é impossível estabelecer um acontecimento
e garantir que “ali” se originou a modernidade”.
Todavia, existem alguns fatores históricos que marcam
essa “virada” que vai transformar as relações sociais
no mundo inteiro.
Os principais fatores são:
A Revolução Industrial: com o aperfeiçoamento do motor
a vapor, em 1777, por James Watt, que identificou
falhas nos motores anteriores, que demoravam muito para
aquecer, ao introduzir dois cilindros na máquina. A
partir disso, toda a noção de tempo, trabalho e lucro
seria transformada profundamente. Tal transformação do
tempo e espaço a partir do trabalho permanece até hoje.
A Revolução Francesa: período revolucionário que
explodiu no dia 5 de maio de 1789 e que derrubou a
monarquia francesa e questionou todos os valores éticos
e morais. É a partir desse marco que valores como
igualdade, liberdade, fraternidade (esses se tornam o
lema da Revolução Francesa) passam a ocupar o
vocabulário popular. Esse momento foi importante para
criar as bases daquilo que entendemos como Estado,
participação, voto, representatividade, enfim, uma
série de valores políticos que ainda hoje são
discutidos.
A razão: a modernidade no campo das ciências humanas e
exatas tem o seu fundamento com René Descartes, a
partir de sua frase mais conhecida “Cogito, ergo sum”
ou “Penso, – portanto, sou”. Para os tempos atuais e de
massificação de frases a partir dos memes, hoje, essa
sentença pode parecer banal, porém, na época, Descartes
trazia a razão para o centro do raciocínio, frente ao
pensamento metafísico imposto pelas religiões. Tal
virada epistêmica ficou conhecida como Racionalismo.
Podemos observar as mudanças impressas no campo
científico por meio da imagem abaixo:

Essa alteração na forma de pensar, empreendida por


Descartes, ocorreu na primeira metade do século XVII,
ou seja, antecedeu e influenciou as revoluções francesa
e industrial e todo pensamento posterior. Nesse
sentido, esses três momentos marcam uma nova etapa na
maneira de pensar e de olhar sobre o mundo, logo, são
eles que fundam a modernidade e, de uma maneira ou de
outra, ainda hoje continuam a influenciar os debates.
Por exemplo, as sociedades ainda são organizadas pelo
tempo e calendário do trabalho, fator que surge com a
modernidade a partir do século XVIII e permanece até
hoje.
O outro lado da modernidade
Se por um lado a Modernidade é esse tempo histórico que
se inicia com profundas transformações nas
mentalidades, na maneira de pensar o mundo, o tempo –
que passa a ser controlado pelo trabalho -, é também
neste momento que temos o aprofundamento da
hierarquização das raças e a construção daquilo que
conhecemos como Europa enquanto o centro do mundo e
valor moral, fazendo do resto do mundo apenas espaços
de reprodução do conhecimento produzido na Europa
(eurocentrismo), ou seja, é na modernidade que o
racismo e o tempo arcaico são inventados.
Uma das marcas da modernidade é a dominação do homem
sobre o homem e isso se deu de variadas maneiras:
colonização, escravização e guerras. Esta última teve
dois auges: a I e a II Guerra Mundial, que também
trouxe a outra grande marca da modernidade: a barbárie.
Tanto a primeira quanto a segunda guerra mundial
marcaram profundamente e fizeram com que artistas e
políticos passassem a dedicar uma vida contra as
guerras ou refletir sobre as mazelas construídas pela
ganância humana.
A hierarquia das raças e a colonização de países fez
também com que outra questão surgisse: povos modernos
(no sentido estético e histórico) e os povos arcaicos,
também no sentido estético e histórico. Esse tipo de
divisão do planeta e da história tem sido questionado
nos últimos 40 anos por duas correntes de pensadoras e
pensadores das Ciências Humanas: os Estudos da
Subalternidade e os Estudos Decoloniais, que têm
questionado e abandonando essa divisão binária da
história entre modernos e arcaicos.
O que é a modernidade?
Imagine a seguinte situação: numa consulta de rotina,
com seu médico, José descobriu que tem uma doença
grave. Ele, então, junto com seus amigos e familiares,
começou uma campanha de oração pedindo a Deus a cura.
Você conhece alguém que viveu uma experiência como
essa? Em casos como esse aparece bem nítida uma
característica marcante dessa época histórica que
chamamos de modernidade: a convivência de diferentes
tempos históricos.
As épocas históricas
A vida do ser humano pode ser resumida em buscar formas
de satisfazer as suas necessidades, você concorda? A
história é uma ciência que procura esclarecer como o
homem satisfaz quatro grandes necessidades: 1. explicar
o mundo, para isso o homem produz cultura; 2. viver em
grupo, para isso ele produz os fatos sociais; 3.
produzir bens materiais, para isso ele produz a
economia; 4. administrar os conflitos da vida em grupo,
para isso produz a política. Acontece que essas formas
mudam com o tempo, vão sendo melhoradas, às vezes
pioradas, estão em constante transformação. Observando
a forma que a cultura, a sociedade, a economia e a
política assumem e como elas se combinam entre si, os
historiadores estabelecem as épocas históricas – que
são referências para dizer quando alguma coisa começou
e terminou. Mas estabelecer uma época histórica é
sempre um tema que gera discussões, tamanha a
dificuldade que isso envolve. A Modernidade é um
exemplo disso: pivô de grandes controvérsias. Mas há
consensos sobre as suas características.
A modernidade é uma época histórica
Comparando com a Idade Média, a época histórica
imediatamente anterior à Modernidade, suas
características ficam mais ressaltadas. A explicação
para o mundo predominante na modernidade é a ciência,
já na Idade Média era a religião. A sociedade medieval
era estamental, ou seja, a posição social de cada um
era determinada pelo nascimento e a mudança era quase
impossível. A modernidade caracteriza-se pela passagem
dessa sociedade estamental para a sociedade de classes,
onde o lugar social que cada um ocupa é determinado
pela quantidade de bens que a pessoa possui e a
mobilidade social é bem maior – uma pessoa pode
ascender socialmente se conseguir adquirir muitos bens.
A forma de organização econômica predominante na
Modernidade é o capitalismo, que se baseia na
propriedade privada dos meios de produção, na grande
circulação de moeda através do comércio, no trabalho
assalariado. Enquanto que na Idade Média predominava o
feudalismo, em que a relação de trabalho predominante
era a servil, a circulação de moeda e o comércio eram
secundários. A política na Modernidade caracteriza-se
pela existência de Estados centralizados fortes,
inicialmente constituindo-se monarquias para, em
seguida, predominar a instauração de repúblicas. Na
Idade Média não havia Estados centralizados autônomos,
o centro de poder mais proeminente era o da Igreja
Católica, ou seja, o poder político era exercido sob
tutela do poder religioso.
Mas os pontos problemáticos em torno do estabelecimento
da Modernidade são muitos. Em primeiro lugar, o
problema da datação: quando começa e quando termina? Há
quem entenda o Renascimento, o Humanismo, a Reforma
Protestante, as Grandes Navegações, portanto o século
XVI, como o início da Modernidade. Há também quem
trabalhe com a ideia de que a Modernidade começou no
século XVIII, com o Iluminismo e a Revolução Francesa.
Outro ponto de debate é sobre o seu final. Em meados do
século XX, surgiram estudiosos dizendo que já se vivia
a pós-modernidade, ou seja, uma época histórica
posterior à modernidade enquanto outros dizem que hoje
ainda vivemos nela.
Outro problema importante é que com a modernidade
instaurou-se uma explicação para a sua própria história
baseada em juízo de valor. O que isso quer dizer? Quer
dizer que os homens modernos começaram a achar que o
moderno é melhor do que o não-moderno. As
características da Modernidade – ciência, sociedade de
classe, capitalismo, Estado centralizado –
transformaram-se em símbolo do que há de mais adiantado
no mundo.
Isso nos leva a outro problema, talvez o principal. O
que conhecemos por Modernidade, na verdade, é o que
aconteceu na Europa. Ciência, classe social,
capitalismo, Estado ganharam as formas que as
sociedades europeias desenvolveram para satisfazer
àquelas necessidades que o ser humano tem. Noutras
partes do mundo, as sociedades encontraram outras
formas. Mas como os europeus impuseram seu ponto de
vista, as formas que os outros povos encontraram de
cultura, sociedade, economia e política acabaram sendo
consideradas inferiores. O resultado é que outros
povos, como na América, o Brasil, inclusive, acabou
adotando o modelo europeu. Então, outros povos, noutros
lugares, desenvolveram aquele modelo, mas alcançando
desenvolvimentos diferentes em tempos diferentes.
O fato é que a Modernidade é uma época em que o modelo
europeu se espalha pelo mundo e se torna predominante.
Isso faz com que essa época histórica seja marcada pela
convivência de características de diferentes épocas.
Trocando em miúdos quer dizer que há lugares como o
Brasil onde o capitalismo convive com formas econômicas
da Idade Média, a ciência convive com explicações
religiosas ou mágicas, a república mantém práticas
medievais dentro de suas instituições, etc.

Civilização Africana A cultura africana deve ser


observada sempre no plural, haja vista sua existência
milenar e sua vasta diversidade. Cumpre lembrar que a
África não é um país. A arqueologia aponta a África
como o território habitado há mais tempo no planeta.
Isso resultou na profusão de idiomas com mais de mil
línguas, religiões, regimes políticos, condições
materiais de habitação e atividades econômicas. O
“Etnocentrismo” e o “Eurocentrismo” nas ciências
europeias durante o século XIX são os responsáveis pela
concepção das culturas africanas. Nesse viés, elas são
consideradas manifestações primitivas ou bárbaras,
típicas dos primeiros estágios da civilização. Hoje,
com as independências dos países africanos, há um
esforço de recuperação das tradições culturais
africanas, bem como a constituição de uma
historiografia local. As manifestações culturais
africanas sofreram uma intensa destruição pelos regimes
coloniais, o que leva as nações africanas modernas ao
embate com o nacionalismo árabe e ao imperialismo
europeu. Os povos africanos podem ser nômades e vagarem
pelo deserto ou se fixarem em território para construir
grandes impérios. Também podem ser formados por
pequenas tribos ou grandes reinos, onde o chefe
político e o sumo sacerdote podem ser a mesma pessoa.
Em termos religiosos, vários cultos estão presentes na
África, com destaque para o islamismo e cristianismo.
Além deles, destacamse as religiões tradicionais,
muitas vezes vistas como prática de magia e a
feitiçaria. Devemos considerar que grande parte da
produção artística tradicional africana era feita para
não ser vista e o material utilizado em sua confecção
possuía um valor simbólico muito grande. Também são
muito conhecidas as danças e músicas tradicionais
africanas, marcadas pelos batuques e movimentos
corporais bem acentuados, como o rebolado. Por fim,
destaca-se a culinária africana, temperada com
condimentos de aromas fortes e picantes, com os quais
se preparam pratos a base de carnes, legumes, verduras,
e até insetos. A principal civilização africana foi sem
dúvida a egípcia, que construiu o primeiro império
africano há mais de 5 mil anos. Civilização Pré-
Colombiana Povos pré-colombianos são aqueles que viviam
na América antes da chegada de Cristóvão Colombo. Este
termo é usado para se referir aos povos nativos da
América Hispânica e da América Anglosaxônica. Para o
Brasil se utiliza o termo pré cabralino. Entre as
culturas pré-colombianas podemos encontrar incas,
astecas, maias, aimaras, tikunas, nazcas e muitas
outras. As civilizações pré-colombianas mais estudadas
são os incas, astecas e maias. Estes três povos eram
sedentários e viviam em cidades onde havia templos,
palácios, mercados e casas. Embora sejam muito
diferentes entre si, podemos destacar algumas
características comuns das sociedades pré-colombianas.
As sociedades pré-colombianas eram extremamente
hierarquizadas com o imperador no topo da hierarquia,
seguido pelos sacerdotes, chefes militares, guerreiros
e camponeses que cultivavam a terra. A agricultura era
a base de sua economia e plantavam milho, batata e
abóbora, entre outros. Praticavam o artesanato,
especialmente a cerâmica, mas também faziam peças de
metais. Igualmente, davam importância à vestimenta, na
qual existia uma distinção muito clara entre as roupas
dos nobres e as das pessoas comuns. Por fim, outra
característica das sociedades pré-colombianas é o
politeísmo. Vários deuses ligados ao ciclo da vida eram
cultuados em cerimônias que incluíam procissões e
sacrifícios de humanos e animais

Povos pré-colombianos

Povos pré-colombianos são aqueles que viviam na América


antes da chegada de Cristóvão Colombo.

Este termo é usado para se referir aos povos nativos da


América Hispânica e da América Anglo-saxônica. Para o
Brasil se utiliza o termo pré-cabralino.

Entre as culturas pré-colombianas podemos encontrar


incas, astecas, maias, aimaras, tikunas, nazcas e
muitas outras.
Civilizações pré-colombianas
As civilizações pré-colombianas mais estudadas são os
incas, astecas e maias.

Estes três povos eram sedentários e viviam em cidades


onde havia templos, palácios, mercados e casas. Embora
sejam muito diferentes entre si, podemos destacar
algumas características comuns das sociedades pré-
colombianas.

As sociedade pré-colombianas eram extremamente


hierarquizadas com o imperador no topo da hierarquia,
seguido pelos sacerdotes, chefes militares, guerreiros
e camponeses que cultivavam a terra.

A agricultura era a base de sua economia e plantavam


milho, batata e abóbora, entre outros. Praticavam o
artesanato, especialmente a cerâmica, mas também faziam
peças de metais.

Igualmente, davam importância à vestimenta, na qual


existia uma distinção muito clara entre as roupas dos
nobres e as das pessoas comuns.

Por fim, outra característica das sociedades pré-


colombianas é o politeísmo. Vários deuses ligados ao
ciclo da vida eram cultuados em cerimônias que incluíam
procissões e sacrifícios de humanos e animais.
Maias
Os maias se estabeleceram onde atualmente é o sul do
México, Guatemala, Belize e Honduras. Cultivavam
algodão, milho, tabaco e desenvolveram um sofisticado
sistema numérico.

No entanto, o que mais nos chama atenção nos maias é


sua impressionante arquitetura. Até hoje sobrevivem
pirâmides onde se ofereciam sacrifícios humanos e de
animais. Estas construções eram ricamente decoradas com
estátuas de animais e símbolos diversos.

Como eram excelentes astrônomos, criaram calendários


onde podiam conhecer as datas dos eclipses e estações
do ano. Tudo isso era fundamental para a realização das
atividades agrícolas e dos rituais aos seus deuses.
Exem
plo de pirâmide maia, em Chichén Itzá, México
Veja também: Maias
Astecas
Os astecas viviam, originalmente, no norte do atual
México.

Imigraram para o centro deste território e foram


submetendo vários povos e, em 1325, se estabeleceram no
meio do planalto mexicano onde construíram sua capital,
Tenochtitlan, no centro de um lago. Esta cidade se
tornou o centro do grande império e impressionou aos
espanhóis com suas ruas largas e limpas.

O povo asteca se organizava como um verdadeiro império


e cobrava tributos dos povos subjugados. Cultivavam
amendoim, milho, tomate, cacau (para fazer chocolate),
feijão, abóbora, pimenta, melão, abacate e
comercializavam artesanato com as populações vizinhas.

Os astecas também aproveitavam as guerras para capturar


bravos guerreiros e assim oferecê-los aos deuses em
rituais religiosos.

Veja também: Astecas


Incas
Viveram na região onde estão os atuais Peru, Equador,
parte do Chile e da Argentina.

Os incas submeteram vários povos e estabeleceram uma


rede de impostos e contribuições de trabalho que
atingia todo império. Registravam a cobrança de
tributos e acontecimentos num sistema denominado quipo.
Este consistia em uma série de fios coloridos onde eram
feitos nós de 1 até 9.
Plantavam milho, bata e coca, e domesticaram animais
como a lhana da qual obtinha lã, leite, carne, além de
ajudar na carga de mercadorias.

Assim como os demais povos pré-colombianos, os incas


eram politeístas e honravam a natureza. Para isso
realizavam cerimônias grandiosas a cada mudança de
estação que incluíam procissões, músicas, sacrifícios
de animais e humanos.

Veja também: Incas


Economia dos povos pré-colombianos

A base da economia dos povos pré-colombianos era a


agricultura. Para isso, no caso dos incas,
desenvolveram um sofisticado sistema de irrigação e de
cultivo por “andares” . Os astecas, por sua vez,
aprenderam a aterrar e fazer locais de plantios em
pleno lago, em locais que recebiam o nome de
"chinampas".

Tanto os incas como os astecas também cobravam impostos


dos povos que haviam conquistado. Igualmente, as
famílias deveriam mandar os filhos (ou as filhas) para
servir ao imperador.

Em contrapartida, os camponeses tinham direito a um


terreno de acordo com o tamanho de sua família. Na
época de fome ou peste, podiam servir-se das reservas
de grãos fornecidas pelo imperador. Por isso, estas
sociedades não conheceram a fome ou a miséria.
Cultura Africana
Juliana Bezerra

Professora de História

A cultura africana deve ser observada sempre no plural,


haja vista sua existência milenar e sua vasta
diversidade. Cumpre lembrar que a África não é um país.

A arqueologia aponta a África como o território


habitado há mais tempo no planeta. Isso resultou na
profusão de idiomas com mais de mil línguas, religiões,
regimes políticos, condições materiais de habitação e
atividades econômicas.

Atualmente, o continente africano ocupa um quinto da


Terra, com mais de 50 países e quase 1 bilhão de
habitantes.
Etnocentrismo, eurocentrismo e culturas africanas

É fato conhecido que a história africana foi escrita e


contada pelos colonizadores europeus.

Os viajantes, missionários e dirigentes coloniais foram


os responsáveis pelos primeiros relatos acerca da
cultura dos povos africanos.

Assim, além de serem capturados para alimentarem a


escravidão colonial, estes povos foram usurpados em
todos os seus direitos, incluindo o de contar a própria
história.

O “Etnocentrismo” e o “Eurocentrismo” nas ciências


europeias durante o século XIX são os responsáveis pela
concepção das culturas africanas.

Nesse viés, elas são consideradas manifestações


primitivas ou bárbaras, típicas dos primeiros estágios
da civilização.

Hoje, com as independências dos países africanos, há um


esforço de recuperação das tradições culturais
africanas, bem como a constituição de uma
historiografia local.
Aspectos gerais
Apre
sentação de Dança Africana em Porto Elizabeth, África
do Sul
As manifestações culturais africanas sofreram uma
intensa destruição pelos regimes coloniais, o que leva
as nações africanas modernas ao embate com o
nacionalismo árabe e ao imperialismo europeu.

Em se tratando de culturas tradicionais, muito se


preservou e se difundiu pelo continente africano,
especialmente devido aos fluxos migratórios pela
África.

Isso permitiu a preservação e a combinação de vários


aspectos culturais entre os povos do continente.

Ademais, vale ressaltar também que boa parte destas


culturas são baseadas em tradições orais, o que não
significa ausência de escrita.

Veja também: Aspectos gerais da África: mapa, países e


economia
Organização política
Os povos africanos podem ser nômades e vagarem pelo
deserto ou se fixarem em território para construir
grandes impérios.

Também podem ser formados por pequenas tribos ou


grandes reinos, onde o chefe político e o sumo
sacerdote podem ser a mesma pessoa.

Seja governado por clãs de linhagem ou por classes


sociais específicas, estes povos irão constituir
grandes patrimônios materiais e imateriais presentes
até os dias de hoje.

Estes bens refletem a história e o meio ambiente em que


se originaram. Por isso, representam aspectos das
florestas tropicais, desertos, montanhas, etc.

Veja também: Lendas Africanas


Religiões africanas
Em termos religiosos, vários cultos estão presentes na
África, com destaque para o islamismo e cristianismo.
Além deles, destacam-se as religiões tradicionais,
muitas vezes vistas como prática de magia e a
feitiçaria.

Considerados pelos europeus como povos animistas, uma


parte dos africanos reverenciam os espíritos das
árvores, pedras, dentre outros, e aceitam a
coexistência com forças desconhecidas.

Cada povo africano tem suas origens mitológicas para


explicar suas origens. Estas religiões tradicionais
possuem, via de regra, um panteão e estão voltadas ao
culto dos antepassados e das divindades da natureza.

A forma mais conhecida destas religiões envolve o culto


aos Orixás (divindades de origem Ioruba ou Nagô) e
englobam uma ampla variedade de crenças e ritos.

Por outro lado, a vida material e espiritual nas


religiões africanas, tendem a indistinção entre o
sagrado e o profano. Estas dimensões são concebidas
como indissociáveis e inseparáveis.
Artes plásticas
Másc
aras em madeira africanas contemporâneas
Devemos considerar que grande parte da produção
artística tradicional africana era feita para não ser
vista e o material utilizado em sua confecção possuía
um valor simbólico muito grande.

Estas peças podem ser esculpidas, fundidas, pintadas,


trançadas, tecidas e utilizadas como adornos corporais,
trajes e itens de uso sagrado ou cotidiano.

Geralmente, os produtos artísticos africanos


representam os antepassados fundadores e apresentam
figuras geométricas, antropomórfica, zoomórficas ou
antropo-zoomórficas que ensinam a humanidade a produzir
e se reproduzir.

Por sua vez, as famosas máscaras africanas possuem


desenhos elaborados e são utilizadas em cerimônias e
rituais.

O renomado artista Pablo Picasso (1881-1973) se


inspirou grandemente nestas máscaras, bem como na
iconografia africana, para criar um estilo artístico
conhecido como cubismo.

A metalurgia era conhecida e utilizada para fabricar


armas, ferramentas e adornos, sendo mais comum nas
regiões de savana. Outro tipo muito típico de produção
artística africana são as esculturas em marfim (povos
Ioruba e Bakongo).
Dança e culinária
Também são muito conhecidas as danças e músicas
tradicionais africanas, marcadas pelos batuques e
movimentos corporais bem acentuados, como o rebolado.

Por fim, destaca-se a culinária africana, temperada com


condimentos de aromas fortes e picantes, com os quais
se preparam pratos a base de carnes, legumes, verduras,
e até insetos.

É típico da África o leite de coco, o óleo de palmeira,


o inhame e o feijão, etc.
Principais povos e culturas da África
Pess
oas cantando ao pôr do sol na aldeia de Nairobi,
Quênia, África
A principal civilização africana foi sem dúvida a
egípcia, que construiu o primeiro império africano há
mais de 5 mil anos.

As cerâmicas de Nok (Nigéria) apontam para uma


civilização muito desenvolvida que viveu do século V
a.C. ao século II d.C.

Mais adiante, no século XIII, surge o poderoso Reino do


Kongo. Outros povos, como os Berberes (nômades do
deserto do Saara) e os Bantos (região da Nigéria, Mali,
Mauritânia e Camarões) também constituíram grandes
grupos populacionais na África.

Por fim, os africanos começaram a ser colonizados pelos


europeus a partir do século XV. Ao atingir o século
XIX, já estavam totalmente sob domínio das metrópoles
europeias até a segunda metade do século XX.

Veja também: Egito Antigo


Culturas africanas no Brasil
As culturas africanas tiveram grande influência na
formação cultural brasileira e a diversidade de origem
dos africanos escravizados no Brasil reflete
diretamente a variedade de povos existentes na África.

A maior parte destas populações era de origem Bantos,


Nagôs e Jejes, Hauçás e Malês.

Muitos são os aspectos culturais que sofreram


influência africana no país, entretanto, podemos
destacar:

• o candomblé, religião afro-brasileira baseada no


culto aos orixás, da qual surge a umbanda;
• a capoeira, uma dança-luta praticada pelos antigos
escravos criada no Brasil;
• a culinária, com vários temperos e pratos típicos,
como o vatapá, o caruru e o acarajé.

Na área musical, os ritmos africanos estão em quase


todos os estilos brasileiros: maxixe, samba, choro,
bossa-nova. Na dança, o samba é a expressão maior da
cultura afro descendente.
Renascimento: Características e Contexto Histórico
Juliana Bezerra

Professora de História

O Renascimento foi um movimento cultural, econômico e


político, surgido na Itália no século XIV e se estendeu
até o século XVII por toda a Europa.

Inspirado nos valores da Antiguidade Clássica e gerado


pelas modificações econômicas, o Renascimento
reformulou a vida medieval e deu início à Idade
Moderna.
Origem do Renascimento: conceito, mudanças e cidades
renascentistas
O termo Renascimento foi criado no século XVI para
descrever o movimento artístico que surgiu um século
antes. Posteriormente acabou designando as mudanças
econômicas e políticas do período também e é muito
contestado hoje em dia.

O conceito "Renascimento" carrega a ideia de que esse


período trouxe profundas e drásticas mudanças para o
contexto europeu. Porém, apesar de ter sido um momento
de alterações consideráveis para o velho continente,
não houve uma total ruptura com as características
existentes na Idade Média.

Afinal, mesmo considerando as mudanças urbanas e no


comércio, as cidades nunca desapareceram totalmente e
os povos não deixaram de comercializar entre si, nem de
usar moeda. Houve, sim, uma diminuição dessas
atividades durante a Idade Média.

Observamos, porém, que na Península Itálica várias


cidades como Veneza, Gênova, Florença, Roma, dentre
outras, se beneficiaram do comércio com o Oriente.

Estas regiões enriqueceram com o desenvolvimento do


comércio no Mar Mediterrâneo, dando origem a uma rica
burguesia mercantil. A fim de se afirmarem socialmente,
estes comerciantes patrocinavam artistas e escritores -
uma prática chamada de mecenato - que inauguraram uma
forma de fazer arte.

A Igreja e nobreza também foram mecenas de artistas


como Michelangelo, Domenico Ghirlandaio, Pietro della
Francesa, entre muitos outros.
Cultura renascentista
Destacamos cinco características marcantes da cultura
renascentista:

• Racionalismo - a razão era o único caminho para se


chegar ao conhecimento. Tudo poderia ser explicado
pela razão e pela ciência.
• Cientificismo - todo conhecimento deveria ser
demonstrado através da experiência científica.
• Individualismo - o ser humano buscava afirmar a
sua própria personalidade, mostrar seus talentos,
atingir a fama e satisfazer suas ambições, através
da concepção de que o direito individual estava
acima do direito coletivo.
• Antropocentrismo - o homem é visto como a suprema
criação de Deus e como centro do universo. O homem
agora é o centro do pensamento do próprio homem.
• Classicismo - os artistas buscam sua inspiração na
Antiguidade Clássica greco-romana para fazer suas
obras.

Renascimento artístico
Os principais artistas do renascimento foram:

Leonardo da Vinci: Matemático, físico, anatomista,


inventor, arquiteto, escultor e pintor, ele foi o
estereótipo do homem renascentista que domina várias
ciências - a essa característica chamamos de
universalismo. Por isso, é considerado um gênio
absoluto. A Mona Lisa e A Última Ceia são suas obras-
primas.
Mona Lisa
Rafael Sanzio: foi um mestre da pintura e famoso por
saber transmitir sentimentos delicados através de suas
imagens de Nossa Senhora. Uma de suas obras principais
é a Madona do Prado.

Michelangelo: artista italiano cuja obra foi marcada


pelo humanismo. Além de pintor, foi um dos maiores
escultores do Renascimento. Entre suas obras destacam-
se a Pietá, David, A Criação de Adão e O Juízo Final.
Também foi o responsável por pintar o teto da Capela
Sistina.
O Humanismo renascentista
O humanismo foi um movimento de glorificação do homem e
da natureza humana, que surgiu nas cidades da Península
Itálica, em meados do século XIV.

O homem, a obra mais perfeita do Criador, seria capaz


de compreender, modificar e até dominar a natureza. Por
isso, os humanistas buscavam interpretar o
cristianismo, utilizando escritos de autores da
Antiguidade, como Platão.

A religião não perdeu importância, mas passou a ser


muito questionada. Assim surgiram novas correntes
cristãs, como o protestantismo.

O estudo dos textos antigos, igualmente, despertou o


gosto pela pesquisa histórica e pelo conhecimento das
línguas clássicas, como o latim e o grego.

Desta forma, o humanismo se tornou referência para


muitos pensadores nos séculos seguintes, como os
filósofos iluministas do século XVII.
Renascimento literário
O Renascimento deu origem a grandes gênios da
literatura, entre eles:

• Dante Alighieri: escritor italiano, autor do


grande poema "Divina Comédia".
• Maquiavel: autor de "O Príncipe", obra precursora
da ciência política, onde o autor apresenta
conselhos aos governadores da época.
• Shakespeare: considerado um dos maiores
dramaturgos de todos os tempos. Abordou em sua
obra os conflitos humanos nas mais diversas
dimensões: pessoais, sociais, políticas. Escreveu
comédias e tragédias, como "Romeu e Julieta",
"Macbeth", "A Megera Domada", "Otelo" e várias
outras.
• Miguel de Cervantes: autor espanhol da obra "Dom
Quixote", uma crítica contundente da cavalaria
medieval.
• Luís de Camões: teve destaque na literatura
renascentista em Portugal, autor do grande poema
épico "Os Lusíadas".

Renascimento científico
O Renascimento foi marcado por importantes descobertas
científicas, notadamente nos campos da astronomia, da
física, da medicina, da matemática e da geografia.

O polonês Nicolau Copérnico, que negou a teoria


geocêntrica defendida pela Igreja, ao afirmar que "a
Terra não é o centro do universo, mas simplesmente um
planeta que gira em torno do Sol".

Galileu Galilei descobriu os anéis de Saturno, as


manchas solares, os satélites de Júpiter. Perseguido e
ameaçado pela Igreja, Galileu foi obrigado a negar
publicamente suas ideias e descobertas.

Na medicina os conhecimentos avançaram com trabalhos e


experiências sobre circulação sanguínea, métodos de
cauterização e princípios gerais de anatomia.
Renascimento comercial
Todas essas inovações só foram possíveis graças ao
crescimento comercial que houve na Idade Média.

Quando as colheitas eram boas e sobravam alimentos,


estes eram vendidos nas feiras itinerantes. Com o
incremento comercial, os vendedores passaram a se fixar
em determinados locais que ficaram conhecidos como
burgos. Assim, quem morava no burgo foi chamado de
burguês.
Nas feiras era mais fácil usar moedas do que o sistema
de trocas. No entanto, como cada feudo tinha sua
própria moeda, ficava difícil saber qual seria o valor
correto. Dessa forma, surgiram pessoas especializadas
na troca monetária (câmbio) e outras em fazer
empréstimos e garantir pagamentos, dando origem
futuramente aos bancos.

O dinheiro, então, passou a ser mais valorizado do que


a terra e isso inaugurou forma de pensar e se
relacionar em sociedade, onde os produtos seriam
medidos pela quantidade de dinheiro que custavam.
Significado de Humanismo
O que é Humanismo:
O humanismo foi um movimento intelectual iniciado na
Itália no século XV com o Renascimento e difundido pela
Europa, rompendo com a forte influência da Igreja e do
pensamento religioso da Idade Média. O teocentrismo
(Deus como centro de tudo) cede lugar ao
antropocentrismo, passando o homem a ser o centro de
interesse.

Em um sentido amplo, humanismo significa valorizar o


ser humano e a condição humana acima de tudo. Está
relacionado com generosidade, compaixão e preocupação
em valorizar os atributos e realizações humanas.

O humanismo procura o melhor nos seres humanos sem se


servir da religião, oferecendo novas formas de reflexão
sobre as artes, as ciências e a política. Além disso, o
movimento revolucionou o campo cultural e marcou a
transição entre a Idade Média e a Idade Moderna.

Especificamente no campo das ciências, o pensamento


humanista resultou em um afastamento dos dogmas e
ditames da igreja e proporcionou grandes progressos em
ramos como a física, matemática, engenharia e medicina.
Características do Humanismo
Entre as principais características do humanismo
destaca-se:
• Período de transição entre Idade Média e
Renascimento;
• Valorização do ser humano;
• Surgimento da burguesia;
• Ênfase no antropocentrismo, ou seja, o homem no
centro do universo;
• As emoções humanas começaram a ser mais valorizadas
pelos artistas;
• Afastamento de dogmas;
• Valorização de debates e opiniões divergentes;
• Valorização do racionalismo e do método científico.
Humanismo nas artes
Através das suas obras, os intelectuais e artistas
passaram a explorar temas que tivessem relação com a
figura humana, inspirados pelos clássicos da
Antiguidade greco-romana como modelos de verdade,
beleza e perfeição. As esculturas e pinturas agora
apresentavam altíssimos graus de detalhes nas
expressões faciais e nas proporções humanas, e o
período foi marcado pela desenvolvimento de diversas
técnicas.

A perspectiva com ponto de fuga (também chamada de


perspectiva renascentista) foi uma das técnicas de
pintura desenvolvida durante o movimento humanista,
proporcionando simetria e profundidade às obras.

Nas artes plásticas e na medicina, o humanismo foi


representado em obras e estudos sobre anatomia e
funcionamento do corpo humano.
Principais nomes e obras do humanismo
Alguns dos principais artistas humanistas da época do
nascimento, seguido de algumas das suas obras são:
Literatura
• Francesco Petrarca: Cancioneiro e o Triunfo, Meu
Livro Secreto e Itinerário para a Terra Santa
• Dante Alighieri: A Divina Comédia, Monarquia e O
Convívio
• Giovanni Boccaccio: Decameron e O Filocolo
• Michel de Montaigne: Ensaios
• Thomas More: A Utopia, A Agonia de Cristo e
Epitáfio
Pintura
• Leonardo da Vinci: A Última Ceia, Mona Lisa e Homem
Vitruviano
• Michelangelo: A Criação de Adão, Teto da Capela
Sistina e Juízo Final
• Raphael Sanzio: Escola de Atenas, Madona Sistina e
Transfiguração
• Sandro Botticelli: O Nascimento de Vênus, A
Adoração dos Magos e A Primavera
Escultura
• Michelangelo: La Pieta, Moisés e Madonna de Bruges
• Donatello: São Marcos, Profetas e Davi

Humanismo na Literatura
O Humanismo também corresponde a uma escola literária
que teve preponderância nos séculos XIV e XV.

Na literatura, destaca-se a poesia palaciana (que surge


dentro dos palácios), escrita por nobres que retratavam
os usos e costumes da corte. Alguns escritores
italianos que mais impacto causaram foram: Dante
Alighieri (Divina Comédia), Petrarca (Cancioneiro) e
Bocaccio (Decameron).
Humanismo e Renascimento
O contexto histórico do humanismo se confunde com o do
Renascimento, tendo em vista que foi o pensamento
humanista que estabeleceu os fundamentos ideológicos
que serviram de base para o movimento renascentista.

Entre os séculos XIV e XVII, o humanismo determinou uma


nova postura em relação às doutrinas religiosas em
vigor na época, propondo um afastamento das mesmas e
uma interpretação mais racional e antropocêntrica do
mundo.

Durante o renascimento, o pensamento humanista também


foi caracterizado por tentativas de libertar o ser
humano das regras rígidas do cristianismo da era
medieval. Em sentido amplo, o humanismo nesta época
serviu como uma luta contra a obscuridade medieval, e
levou à criação de um comportamento científico livre de
normas teológicas.

Saiba mais sobre o significado do Renascimento.


Humanismo e Classicismo
O humanismo é frequentemente relacionado com o
classicismo uma vez que ambos foram movimentos
antropocêntricos que ocorreram durante o Renascimento.

O classicismo se tornou evidente no século XVI (um


século após o surgimento do pensamento humanista),
funcionando como uma vertente do humanismo que visava
estabelecer o racionalismo e o antropocentrismo
resgatando os valores clássicos greco-latinos,
anteriores à influência da igreja. Assim, é possível
afirmar que o classicismo foi uma das formas de
manifestação do pensamento humanista.

Apesar de ter grande impacto na cultura e na filosofia,


o respeito à Antiguidade Clássica trazido pelo
classicismo teve maior visibilidade nas artes visuais,
razão pela qual o movimento classicista é visto como
predominantemente estético.
Humanismo Secular
O Humanismo Secular, também conhecido como Humanismo
Laico, é uma corrente filosófica que aborda a justiça
social, a razão humana e a ética.
Seguidores do Naturalismo, os humanistas seculares são
normalmente ateus ou agnósticos, renegando a doutrina
religiosa, a pseudociência, ou superstição e o conceito
de sobrenatural. Para os humanistas seculares, estas
áreas não são vistas como alicerce da moralidade e da
tomada de decisões.

Os humanistas seculares possuem como base a razão, a


ciência, a aprendizagem através de relatos históricos e
da experiência pessoal, sendo que estes constituem
suportes éticos e morais, dando sentido à vida.
Humanismo e Psicologia
A psicologia humanista teve sua origem na metade do
século XX, e sua importância aumentou
significativamente nas décadas de 60 e 70. Sendo um
ramo da psicologia, mais concretamente da psicoterapia,
a psicologia humanista surgiu como uma reação à análise
exclusivamente feita ao comportamento. É considerada
como uma abordagem adicional, junto com a terapia
comportamental e a psicanálise.

Tendo por base o humanismo, a fenomenologia, a


autonomia funcional e o existencialismo, a psicologia
humanista ensina que o ser humano possui no seu
interior um potencial de autorrealização. A psicologia
humanista não tem como propósito fazer uma revisão ou
adaptação de conceitos psicológicos já existentes, mas
de ser uma nova contribuição na área da psicologia.
Características do Humanismo

O humanismo é uma postura ética, cultural, filosófica e


artística surgida no século XV na Europa, que enfatiza
a importância dos próprios seres humanos como fonte de
formação de valores.

O humanismo é tido como uma visão progressista


contrária ao sobrenaturalismo (crença na existência e
participação de entidades sobrenaturais nos eventos
mundanos). Tendo em vista que a corrente humanista teve
início durante o Renascimento, a mesma contribuiu para
a diminuição da influência da igreja na época.

Com fundamentos antropocêntricos, a filosofia humanista


oferecia novas formas de reflexão sobre vários aspectos
da vida e logo encontrou manifestações nas artes,
literatura e filosofia.

Conheça as principais características do humanismo:


1. Valoriza o racionalismo
Os humanistas acreditam que somente evidências
científicas tornam um conceito aceitável e preciso.
Segundo a corrente, a razão, a especulação e o método
científico são ferramentas perfeitamente capazes de
obter respostas satisfatórias acerca do mundo, sem a
necessidade de se recorrer ao sobrenatural.
2. Fundamenta a ética e moral em valores humanos
O humanismo estabelece que valores como amor, respeito
e honestidade devem ser desenvolvidos através de
experiências individuais e mundanas. Assim, a corrente
humanista rejeita a ideia de que forças externas devam
ditar a moralidade dos atos humanos, bem como
desconsidera qualquer conceito religioso sobre o tema.

Para os humanistas, é necessário observar os desejos e


necessidades comuns entre os humanos e, através da
razão e da dinâmica social, evoluir os valores, crenças
e padrões morais como forma de se alcançar a
felicidade, liberdade e progresso.
3. Confere total responsabilidade aos humanos
Considerando que o humanismo desconsidera a influência
de seres sobrenaturais nas relações humanas, a corrente
filosófica atribui aos humanos a responsabilidade total
dos seus atos.

Para os humanistas, a humanidade tem controle sobre


todos os aspectos da vida e possui o poder e
conhecimento necessários para resolver qualquer
problema. Assim, qualquer crise que se desenvolva é de
sua completa responsabilidade.
4. Valoriza o contraste de ideias e crenças
Os humanistas reconhecem as vantagens de se adotar
pontos de vistas divergentes como forma de evoluir como
sociedade. Com relação à religião, os humanistas são
classificados como “não teístas”, uma vez que seus
adeptos frequentemente são ateus, agnósticos ou mesmo
deístas.
5. Visa a realização pessoal
O humanismo tem como objetivo a realização pessoal de
todos os seres humanos. A ausência de crença em forças
sobrenaturais ou em vida após a morte significa que só
existe uma vida a ser vivida. Assim, o presente deve
ser valorizado e qualquer desejo ou sonho deve ser
perseguido o quanto antes.
6. Ausência de dogmas
A adoção de certezas ou verdades absolutas é
incompatível com o humanismo. Considerando que o foco é
sempre o ser humano, a pluralidade de opiniões somada
às naturais transformações na sociedade fazem com que
os humanistas estejam sempre abertos a questionamentos
e à revisão dos seus preceitos.
7. Desenvolvimento de novas técnicas e interesses
artísticos
No campo das artes, o humanismo instigou uma
transformação nos interesses e inspirações dos
artistas. As esculturas e pinturas agora apresentavam
altíssimos graus de detalhes nas expressões faciais e
nas proporções humanas. Além disso, foi durante o
Renascimento que os pintores desenvolveram as técnicas
da perspectiva linear e ponto de fuga.

Escultura renascentista de Moisés feita por


Michelangelo na qual se nota o foco nos detalhes do
corpo humano, característica marcante da arte
humanista.
Principais nomes e obras do humanismo
O humanismo teve grande influência em todos os ramos
das artes, servindo de inspiração para algumas das
obras mais conhecidas do mundo. Confira abaixo os
principais artistas humanistas da época do
Renascimento, seguidos de algumas de suas obras:
Literatura
• Francesco Petrarca: Cancioneiro e o Triunfo, Meu
Livro Secreto e Itinerário para a Terra Santa
• Dante Alighieri: A Divina Comédia, Monarquia e O
Convívio
• Giovanni Boccaccio: Decameron e O Filocolo
• Michel de Montaigne: Ensaios
• Thomas More: A Utopia, A Agonia de Cristo e
Epitáfio
Pintura
• Leonardo da Vinci: A Última Ceia, Mona Lisa e Homem
Vitruviano
• Michelangelo: A Criação de Adão, Teto da Capela
Sistina e Juízo Final
• Raphael Sanzio: Escola de Atenas, Madona Sistina e
Transfiguração
• Sandro Botticelli: O Nascimento de Vênus, A
Adoração dos Magos e A Primavera
Escultura
• Michelangelo: La Pieta, Moisés e Madonna de Bruges
• Donatello: São Marcos, Profetas e Davi
A divisão do mundo de acordo com a visão eurocentrista

No eurocentrismo a Europa é o centro do


mundo.
O mundo em que vivemos recebe diversas regionalizações. Tais
divisões possuem o fim de facilitar a compreensão das
informações requeridas e de partes específicas do espaço
geográfico, impedindo que haja generalizações dos dados.

Dentre as muitas divisões que o mundo é sujeitado, as


principais são: divisão em hemisférios (norte/sul e
oriental/ocidental), em continentes (América, Europa,
África, Ásia e Oceania), e assim por diante.

Mas o mundo é regionalizado também do ponto de vista


histórico, tomando como base os continentes já conhecidos.
Nessa abordagem, o mundo é divido em três: Velho Mundo, Novo
Mundo e Novíssimo Mundo.

O Velho Mundo é uma expressão usada para designar a visão de


mundo que os europeus detinham por volta do século XV.
Naquela época, os europeus conheciam somente os continentes
da Europa, África e Ásia.

Novo Mundo é um termo criado pelos europeus para designar o


continente americano. A expressão teve seu uso difundido no
período do descobrimento do novo continente, a América, pois
até então era desconhecido pelos europeus, vindo a ser algo
novo em relação aos continentes já conhecidos.

Já o Novíssimo Mundo compreende o continente da Oceania,


constituída pela Austrália, Nova Guiné, Nova Zelândia, entre
outras ilhas. Tal denominação se deu em razão do continente
ter sido o último a ser descoberto.

É bom ressaltar que as regionalizações citadas acima não


passam de uma visão eurocentrista (idéia que coloca a Europa
como o centro do mundo), a qual crê que o continente (Velho
Mundo) é a principal civilização e que sua cultura, povo e
língua são superiores às demais existentes.

A abordagem eurocentrista desconsidera totalmente todas as


civilizações existentes fora do Velho Mundo. No Novo Mundo
(América), por exemplo, importantes civilizações como os
Incas, Maias e Astecas não são levadas em conta. Na visão
dos europeus não existe história antes de sua chegada.
Conceito de Novo Mundo

Escutar o artigo

Novo Mundo trata-se de como é nomeado o hemisfério ocidental, com


mesmo se originando no fim do século XV.

A
princípio, Novo Mundo era usado para referir-se somente
a América do Sul

Para entendermos o conceito de Novo Mundo, antes é necessário ent


que é o Velho Mundo. Esses dois termos, assim como também o Novís
Mundo, foram criados para referir-se aos continentes em determina
períodos.

O Velho Mundo nomeia o que os europeus viam no século VX, que era
seguintes continentes: África, Ásia e Europa. Já o Novo Mundo diz
respeito ao novo continente descoberto, que foi a América. Enquan
isso, o Novíssimo Mundo referia-se a Oceania, continente que foi
descoberto séculos mais tarde.

Esses termos são ainda importantes porque ajudam a fazer a classi


das espécies de animais e vegetais que foram estabelecidas ali.

Novo Mundo era usado apenas para se referir a América do Sul, pos
a América do Norte ainda não havia sido totalmente descoberta.
Inclusive, o pintor Leonardo da Vinci havia criado um globo no an
1504 onde nele não havia ainda a América do Norte e nem a América
Central.

Ao longo da história, muitos mapas e globos foram criados, sendo


parte deles retratava a América do Norte a Ásia existindo com uma
conexão de terra, tal como aconteceu com o Globo de Johannes. Mas
mudou quando se fez a descoberta do chamado Estreito de Bering (q
ligação entre os oceanos Ártico e Pacífico) no século XVII, obten
então uma afirmação de que não era assim.
Índice de tópicos

• Primeiro uso do termo “Novo Mundo”


• Vespúcio (Vespucci) ou Martyr
• Sob um conceito biológico e na agricultura
• Novo Mundo e vinho

Primeiro uso do termo “Novo Mundo”

Teri
a sido Américo Vespúcio o responsável pela introdução
do termo Novo Mundo

Foi após Cristóvão Colombo colonizar as Américas que o termo Novo


passou a ser usado. E tal termo é ainda utilizado no contexto his
sempre que se faz a discussão desse e de outros eventos que possu
alguma relação com tal conceito.

É creditado ao explorador Américo Vespúcio a criação do termo Nov


Mundo. O mesmo o teria apresentado em 1503, numa carta que ele me
escreveu para o seu amigo Lorenzo di Pier Fracesco de ‘Medici. O
da carta, qual estava em latim, era “Mundos Novus”.
Com essa carta, Vespúcio estaria confirmando que as terras que Cr
Colombo descobriu não se tratavam de uma parte da Ásia, senão que
um novo continente ou, como chamou, um Novo Mundo.

É válido contar que Vespúcio fez um comparativo


entre o que encontrou no Brasil, quando ali chegou
no ano de 1502, e o que os marinheiros que
retornavam da Ásia lhe contavam. E tempos depois
ele faria um mapeamento pela costa leste do Brasil,
que foi de 1501 a 1503, tendo ele retornado do país
em 1503, seguindo para Portugal, onde ele escreveu
a carta para seu amigo relatando sobre esse Novo
Mundo.

A carta escrita por Vespúcio tornou-se conhecida e


passou a ser traduzida para outros idiomas,
chegando a muitos países.

No entanto, termos similares já haviam sido


utilizados antes desse (a exemplo disso tem-se o
termo “um altro mundo”, que significa “um outro
mundo”, o qual foi usado pelo explorador Alvise
Cadamosto. No entanto, Alvise usou o termo apenas
como estilismo literário, não sendo o mesmo algo
que remetia a uma nova parte do mundo.
Vespúcio (Vespucci) ou Martyr

O escritor Peter Martyr, que relatava em textos as


descobertas de Cristóvão Colombo (isso desde o ano
de 1493), acaba, em muitas ocasiões, sendo
creditado como um dos que ajudou a criar o termo
Novo Mundo. Martyr havia usado a expressão “Orbe
Novo” (“Novo Globo”), que muitas das vezes acaba
sendo traduzido como “Novo Mundo”, numa história
que ele havia escrito relatando a descoberta da
América.

Sob um conceito biológico e na agricultura

Já no que tange a biologia, Novo Mundo e Velho


Mundo, por exemplo, ainda serviriam para distinguir
certas espécies de animais. Desse modo, há espécies
encontradas no Novo Mundo e outras encontradas
apenas no Velho Mundo. Por exemplo: corvos do Novo
Mundo.

Mas há ainda o uso do termo relacionado a agricultura.

Algumas culturas e animais que eram comuns no Velho Mundo não exi
no Novo Mundo, sendo posteriormente introduzidos ali (a partir do
de 1490). O continente asiático, o europeu e o africano faziam o
compartilhamento de uma agricultura similar, com origem na Revolu
Neolítica, sendo que os mesmos animas e as mesmas plantas eram al
cultivados e criados.

No entanto, há muitas culturas que são comuns do Novo Mundo, tend


se originado. A exemplo disso se tem culturas como da mandioca, a
tomate, milho e feijão.

Novo Mundo e vinho

Mas, há ainda o uso do termo com relação ao vinho. Nesse caso, qu


fala em vinhos do Novo Mundo, não se está compreendendo somente o
vinhos das Américas, como ainda vinhos produzidos na Nova Zelândi
África do Sul, por exemplo. Mas essas seriam apenas regiões que
estivessem além das vinícolas tradicionais europeias, da África d
e, ainda, do Oriente Próximo.

A formação do Estado moderno

O que é o Estado? (não é o estado de Goiás)

Sempre tem gente querendo mandar nos outros – mandar é


exercer poder. O poder é uma característica inerente às
relações humanas. O Estado é uma forma de resolver essa
questão, definir regras de como o poder deve ser
exercido.
O Estado, com E maiúsculo, é uma instituição que
caracteriza a forma de organização política que temos.
Basicamente, ele é um poder centralizado, instituído
para administrar a vida das pessoas num determinado
território. Essa forma de organização política, que
hoje nos parece tão sólida e até natural, como toda
realização humana, na verdade, é resultado de séculos e
séculos – e até milênios – de construção marcada por
disputas e lutas. No final da Idade Média, na Europa,
pouco a pouco, emergiu a forma de Estado que temos
hoje, o Estado moderno, dando origem à atual divisão
política do mundo em países.

Os reis vão fortalecendo seu poder

O Estado moderno constituiu-se a partir do


fortalecimento do poder do rei em relação à nobreza. O
rei passou a ter sob seu controle a cobrança de
impostos e o exército. Esses dois fatores foram
fundamentais para que a figura dos monarcas se
confundissem com o Estado na Europa moderna.

Durante a Idade Média, o rei tinha seu exército, mas


dependia do apoio dos vassalos para a luta contra
inimigos externos ou internos. A partir do século XV,
os reis passaram a contratar cavaleiros profissionais e
a recrutar camponeses para a infantaria, criando,
assim, exércitos permanentes. Isso permitiu que
pudessem submeter a maioria dos nobres ao poder da
monarquia.

No final da Idade Média, com o desenvolvimento do


comércio, os mercadores tornaram-se um grupo social
importante: a burguesia comercial. As monarquias se
aliaram a esse grupo. Em troca da autorização para
comerciar em seu território, os reis recebiam
empréstimos que os tornaram muito ricos. Essa fonte de
financiamento se multiplicou com as grandes navegações.
Os reis recebiam muitas riquezas na concessão do
comércio com as colônias.

Na Idade Média, os reis compartilhavam o poder com os


nobres: senhores de feudos, duques, condes, marqueses.
Muitas vezes os nobres eram mais poderosos que o rei,
pois tinham mais vassalos. Na baixa Idade Média, muitos
reis negociaram com a nobreza um novo acordo de governo
em que os nobres continuavam a mandar em seus domínios
rurais mas teriam que aceitar o poder soberano do rei.
A Igreja católica, enfraquecida que estava pela Reforma
protestante, apoiou as monarquias leais a ela; e nos
países que tinham adotado o protestantismo, a Reforma
também se aliou ao rei. Os camponeses, por sua vez,
continuavam como antes: pagando imposto à nobreza, ao
clero e ao rei.

Esse conjunto de fatores fez a Europa chegar à Idade


Moderna com os nobres submetidos à soberania dos reis.
Neste período, o poder real se tornou absoluto, ou
seja, concentrava as tarefas de fazer as leis, executá-
las e julgar, além de ser vitalício e hereditário.

E assim nascem os países de hoje

Assim, foi seguindo o contorno dos territórios


dominados pelos reis que se constituíram as fronteiras
dos países europeus que conhecemos hoje. Portugal foi o
primeiro nesse processo de centralização do poder, com
a Espanha vindo logo em seguida. França e Inglaterra
vieram depois. Países como a Itália e a Alemanha se
formaram tardiamente, só no século XIX.

Formação das Monarquias Nacionais

O processo de formação das


Monarquias Nacionais atribuiu novas feições à Europa.
O processo de formação das monarquias nacionais européias
remonta uma série de mudanças que se iniciaram durante a
Baixa Idade Média. De fato, o processo de consolidação das
monarquias foi um dos mais evidentes sinais das
transformações que assinalavam a crise do sistema feudal e a
construção do sistema capitalista, legitimado pela nascente
classe burguesa. No entanto, mesmo a surgir nesse contexto
de mudança, as monarquias não simbolizavam necessariamente a
crise do poder nobiliárquico.

Nesse sentido, a constituição das monarquias pode ser


compreendida enquanto um processo que conseguiu atender
simultaneamente os interesses dos nobres e dos burgueses.
Por um lado, a formação das monarquias conseguiu conter as
diversas revoltas camponesas que marcaram os finais da Idade
Média com a reafirmação da propriedade feudal. Por outro,
essas mesmas monarquias implantaram um processo de
padronização fiscal e monetário que atendia a demanda
econômica da classe burguesa.

Por isso, podemos notar que o Estado Monárquico buscava


preservar algumas tradições medievais e criar novos
mecanismos de organização política. Nesse novo contexto, o
poder local dos senhores feudais foi suprimido em favor da
autoridade real. No entanto, os nobres ainda preservaram
alguns importantes privilégios, principalmente no que se
refere à isenção no pagamento de impostos. Somente os
burgueses e a classe campesina estavam sujeitas às cobranças
de taxa.

Grande parte dos impostos arrecadados era utilizada para


organizar os exércitos responsáveis pela contensão dos
conflitos internos e a defesa dos interesses políticos da
nação contra os demais estados estrangeiros. Nesse sentido,
percebemos que a Europa moderna foi marcada por intensos
conflitos aonde o controle por territórios instalou
sucessivos episódios de guerra. A partir dessa nova demanda,
exércitos permanentes foram formados sem a intervenção
personalista da classe nobiliárquica.

No campo econômico as atividades comerciais tinham papel


fundamental no enriquecimento e consolidação da autoridade
real. Por isso, diversos reis ficaram preocupados em adotar
medidas que protegessem a economia contra a entrada de
produtos estrangeiros (protecionismo) e conquistar áreas de
exploração colonial, principalmente, no continente
americano. Dessa forma, podemos ver que o Estado Absolutista
teve grande papel no desenvolvimento da economia mercantil.

O rei, sendo a expressão máxima desse tipo de governo,


contou não só com auxílio dos grupos sociais burgueses e
nobiliárquicos. Tendo a Europa preservado uma forte
religiosidade, foi de fundamental importância que a Igreja
reafirmasse a consolidação dessa nova autoridade por meio de
justificativas ligadas à vigente fé cristã. Nesse sentido, o
rei era muitas vezes representado e idealizado como um
representante dos anseios divinos para com a nação.

Sendo esse um processo histórico que permeou toda a Europa


Ocidental, a ascensão das autoridades monárquicas foi
claramente observada entre os séculos XII e XV. Entre os
principais representantes dessa nova experiência política
podemos destacar a formação das monarquias em Portugal, na
Espanha, na Inglaterra e na França. O auge desse tipo de
governo foi vivido entre os séculos XVI e XVII, mas logo foi
desestabilizado pelas críticas e revoluções liberais
iniciadas no século seguinte.
No Segundo Reinado, o Brasil tomou uma medida que seria
determinante para a sua histórica concentração
fundiária. Em 18 de setembro de 1850, o imperador dom
Pedro II assinou a Lei de Terras, por meio da qual o
país oficialmente optou por ter a zona rural dividida
em latifúndios, e não em pequenas propriedades.

Atualmente, apenas 0,7% das propriedades têm área


superior a 2 mil hectares (20 km2), mas elas, somadas,
ocupam quase 50% da zona rural brasileira. Por outro
lado, 60% das propriedades não chegam a 25 hectares
(0,25 km2) e, mesmo tão numerosas, só cobrem 5% do
território rural. Os dados são do Instituto Nacional de
Colonização e Reforma Agrária (Incra).

Antes de chegar às mãos de dom Pedro II, a primeira lei


agrária do Brasil independente percorreu um lento e
tortuoso caminho dentro do Senado e da Câmara. O
projeto da Lei de Terras entrou no Parlamento em 1843,
baseado num anteprojeto redigido por conselheiros do
imperador. Após sete anos de debates, negociações,
impasses e reviravoltas, os senadores e deputados enfim
deram ao projeto de lei a versão definitiva.

Documentos da época hoje guardados no Arquivo do


Senado, em Brasília, revelam como a composição do campo
brasileiro foi planejada. Os próprios senadores e
deputados eram, em grande parte, senhores de terras. O
senador Costa Ferreira (MA), por exemplo, discursou:

— Isso de repartir terras em pequenos bocados não é


exequível. Só quem nunca foi lavrador é que pode julgar
o contrário. São utopias. Ninguém vai para lá [o
interior do país]. Ninguém se quer arriscar.

O argumento dele era que os pequenos camponeses não


tinham força para expulsar os indígenas e que, por
isso, era natural que a terra fosse para os grandes
senhores. Costa Ferreira continuou:

— Existem nas províncias muitas terras, mas algumas não


se acham demarcadas nem são beneficiadas porque estão
infestadas de gentios [indígenas]. Nas minhas fazendas
já tenho tido alguns prejuízos por essa causa em gado,
escravos etc. A maior parte dos [pequenos] lavradores
da minha província não lavra para o interior porque o
gentio não os deixa. Mas um lavrador poderoso, logo que
entra, pode beneficiar as terras. Muito lucra, pois, a
nação em se venderem as fazendas nacionais a
particulares que as cultivem.

Terras cultivadas por posseiro na época do Império


(imagem: O Brazil Illustrado com Gravuras/Biblioteca do
Senado)

Na época do Império, embora o Brasil fosse agrário e


dependesse da renda gerada pela exportação do café, a
zona rural estava mergulhada no caos e na insegurança
jurídica. Ao contrário de hoje, poucos eram os
fazendeiros com o registro da propriedade. Eles eram os
donos das chamadas sesmarias, terras doadas de papel
passado pelo rei português, ainda nos idos da Colônia,
com a exigência de que fossem cultivadas.

Sendo extensas demais e tendo só um pedaço efetivamente


explorado, as sesmarias viviam sob o constante risco de
serem confiscadas.

Em 1823, logo após a Independência, dom Pedro I proibiu


a doação de novas sesmarias, mas não pôs no lugar
nenhuma nova regra para a apropriação da zona rural. No
vácuo legal, as pessoas começaram a invadir as terras
públicas desocupadas. Nesse Brasil despovoado, ainda
longe dos 10 milhões de habitantes (hoje são 210
milhões), havia terras livres de sobra. Assim, por meio
da simples ocupação, surgiram humildes camponeses
cultivando para a própria subsistência e também
poderosos latifundiários plantando para a exportação.

Na ausência do título oficial da propriedade, tanto


pobres quanto ricos não passavam de posseiros e, como
tais, também corriam o risco de terem a terra
confiscada a qualquer momento. Enquanto os sesmeiros
eram minoria, os posseiros eram maioria.

— No Brasil, têm sido esbanjadas as terras — queixou-se


o senador Bernardo Pereira de Vasconcellos (MG). — Só
não é proprietário o que não quer ser. Depois da
suspensão das sesmarias, qualquer apodera-se de terreno
devoluto, fixa nele sua residência, planta, colhe e
ninguém lhe disputa.

Para o senador Vergueiro (MG), o problema eram apenas


os pequenos posseiros:

— Se não se puser obstáculo a essas invasões, apenas


restarão algumas terras devolutas nas províncias do
Pará, de Mato Grosso e de Goiás [as atuais Regiões
Norte e Centro-Oeste inteiras]. Para as mais, acabam-se
em pouco anos. E será isso útil? Não, é
prejudicialíssimo não só aos interesses do Tesouro, mas
da civilização, porque essa gente espalha-se pelo meio
do sertão e barbariza-se, não reconhece autoridades
senão as suas paixões.

O senador Carneiro Leão (MG) concordou. Na visão dele,


apenas os grandes posseiros eram dignos da proteção
pública:

— Em presença da inércia, do desleixo do governo, a


população cansou-se de esperar e entrou sem mais
cerimônia pelas terras da nação, prestando assim um
verdadeiro serviço ao país, pois contribuiu para o
aumento e progresso da lavoura. Não se pense que todas
as posses se reduzam a uma pequena roça e à construção
de uma casinha de palha. A princípio podia ser assim,
mas depois em boa parte delas estabeleceram-se grandes
plantações.

Para completar o caos fundiário do Império, não


existiam limites claros entre uma terra e outra. Os
sesmeiros evitavam a demarcação porque os técnicos que
mediam os terrenos eram escassos e careiros. Os
posseiros, por sua vez, porque não tinham escritura. Em
razão das divisas nebulosas, os conflitos entre
vizinhos eram corriqueiros.

— Há nas terras muitas posses de muitos donos. Cada um


deles fixa os seus limites arbitrariamente. Quando há
contestações, a questão quase sempre se decide pelo
bacamarte [espécie de espingarda] — afirmou o senador
Francisco de Paula Souza (SP). — Agora mesmo tenho
notícia de que na Vila da Constituição [atual
Piracicaba], em São Paulo, nos últimos meses houve 13
ou 14 assassinatos em consequência de questões de
terras. Eu estou convencido de que esta lei é sumamente
necessária, principalmente para prevenir os abusos e as
violências que se praticam no interior.

Grandes propriedades rurais em São Paulo e Pernambuco


no fim do Império (imagens: O Brazil Illustrado com
Gravuras/Biblioteca do Senado)
Para tentar pôr alguma ordem no campo, o primeiro
artigo da Lei de Terras dizia que não mais se toleraria
a invasão de terras públicas. Quem desobedecesse a lei
iria para a cadeia. A partir de então, elas seriam
vendidas. No entanto, haveria uma anistia geral para
quem vivia na corda bamba até aquele momento.

— Ora, se devemos providenciar para o futuro e passar


uma esponja sobre o passado, essa esponja deve abranger
posseiros e sesmeiros — defendeu o senador Vergueiro.

Dessa forma, os fazendeiros que haviam descumprido a


exigência de cultivar suas sesmarias seriam perdoados,
e os posseiros que tinham se assenhorado de terras que
não lhes pertenciam ganhariam a escritura. Seria algo
parecido com o que hoje se chama de regularização
fundiária, recorrente em terras públicas invadidas por
particulares na Amazônia.

Na prática, porém, a anistia de 1850 alcançaria apenas


os grandes posseiros. Os pequenos acabariam sendo
barrados.

— Sabe-se quantas vezes têm acontecido que homens que


apenas levam consigo um bocado de farinha dentro de um
saco e uma foice e um machado ao ombro têm se
introduzido no interior dos matos virgens das fazendas
ou matas devolutas da nação, derrubando e roçando, e se
apresentado dizendo: “Esta terra é minha, porque dela
tomei posse”. Não é possível que a lei consinta em tal
absurdo — indignou-se o senador Clemente Pereira (PA).

— Convém que sejamos generosos com aqueles posseiros


dignos de equidade — disse o senador Visconde de
Abrantes (CE), referindo-se aos grandes posseiros. — O
homem empregou seu tempo, afrontou talvez perigos,
sujeitando-se às febres que sempre aparecem depois das
derrubadas da mata virgem, e foi regar a terra com o
seu suor. Como se diz a esse homem que lhe tiramos o
fruto de tantas fadigas? Um homem nessas
circunstâncias, aventuroso e corajoso, é digno de
proteção.

O grande obstáculo que a Lei de Terras impôs aos


camponeses, afastando deles a anistia, foi a cobrança
de taxas para a regularização da propriedade. Para os
grandes posseiros, as taxas não pesavam no bolso. Para
os pequenos, elas podiam ser proibitivas.

Lei agrária de 1850 impediu acesso de ex-escravos à


terra (foto: Projeto Monumenta)

Não foi por acaso que a Lei de Terras nasceu em 1850.


Duas semanas antes de ela entrar em vigor, outra norma
histórica havia sido assinada por dom Pedro II: a Lei
Eusébio de Queirós. Foi a primeira das leis
abolicionistas. Por meio dela, o Brasil, pressionado
pela Grã-Bretanha, proibiu a entrada de novos escravos
africanos no território nacional. Embarcações
britânicas passaram a interceptar navios negreiros no
Oceano Atlântico e confiscar a carga humana.

Os latifundiários entenderam que a escravidão, mais


cedo ou mais tarde, chegaria ao fim e que os seus
cafezais corriam o risco de ficar sem mão de obra. A
Lei de Terras eliminaria esse risco. Uma vez tornadas
ilegais a invasão e a ocupação da zona rural, tanto os
ex-escravos quanto os imigrantes pobres europeus
ficariam impedidos de ter suas próprias terras, ainda
que pequenas, e naturalmente se transformariam em
trabalhadores abundantes e baratos para os latifúndios.
Da mesma forma, os pequenos posseiros que fossem
expulsos de seus antigos lotes, excluídos da anistia
por não poderem pagar as taxas previstas na Lei de
Terras, também reforçariam o contingente assalariado
dos cafezais.

Com base nesse mesmo raciocínio, os senadores afirmaram


que o governo deveria fixar altos preços para as terras
públicas colocadas à venda. O Visconde de Abrantes
opinou:

— O preço deve ser elevado para que qualquer proletário


que só tenha a força do seu braço para trabalhar não se
faça imediatamente proprietário comprando terras por
vil preço. Ficando inibido de comprar terras, o
trabalhador de necessidade tem de oferecer seu trabalho
àquele que tiver capitais para as comprar e aproveitar.
Assim consegue-se que proprietários e trabalhadores
possam ajudar-se mutuamente.

O senador Vergueiro apontou outra vantagem que os


latifundiários teriam com as terras públicas sendo
comercializadas a preços exorbitantes:

— Suponhamos que é impossível vender terras por esse


preço. Quem quer adquirir terras, não podendo
estabelecer-se em terras devolutas, há de comprá-las. E
então sobe o valor das propriedades [privadas]. É um
benefício aos atuais proprietários. Os donos de
extensas sesmarias vêm a ganhar muito com esta lei.

Pintura de Pedro Weingärtner mostra alemães no Sul do


Brasil em 1889: latifundiários não queriam que
imigrantes europeus tivessem livre acesso à terra
(imagem: reprodução)
O historiador Marcio Both, professor da Universidade
Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste) e estudioso da
Lei de Terras, explica que o sistema colonial de
sesmarias já havia significado a escolha do Brasil pelo
latifúndio. Como havia a exigência de que as sesmarias
fossem exploradas, o latifúndio e o trabalho escravo
andavam de mãos dadas.

— Em meados do século 19, no contexto de expansão


mundial do capitalismo, o Brasil precisava oficializar
a transformação da terra em mercadoria. É claro que,
antes de 1850, a terra podia ser comercializada, mas
essa não era a regra. A Lei de Terras veio como parte
de uma série de reformas liberais que procuraram pôr o
Brasil entre as nações ditas civilizadas.

Ainda de acordo com Both, a mudança do status das


terras em 1850 teve ligação com a iminente mudança de
status dos escravos:

— Até então, o poder do latifundiário se media pelo


número de pessoas sob seu controle, principalmente
escravos. Em épocas em que a terra não tinha fronteiras
definidas nem documentos que comprovassem a
titularidade, os escravos, sim, tinham registro,
garantiam segurança financeira e eram até utilizados
como garantia em empréstimos. Com a abolição da
escravidão a caminho, a terra precisava ser
transformada definitivamente em mercadoria e ganhar
valor. O poder do latifundiário foi passando dos
escravos para a terra.

Os senadores e deputados, no fim das contas, não


incluíram na Lei de Terras o tal preço estratosférico
para a venda das terras públicas. Acabou ficando a
cargo do governo fixar o valor. Por outro lado, eles
tiveram sucesso em barrar uma proposta de taxação das
terras privadas. O anteprojeto escrito pelos
conselheiros de dom Pedro II previa a cobrança anual de
um tributo semelhante ao atual Imposto sobre a
Propriedade Territorial Rural (ITR). No Parlamento, a
grita foi geral.

— A simples enunciação desta proposição importa uma


questão grave. Grave porque é odiosa. Odiosa porque tem
em vista estabelecer um imposto — protestou o Visconde
de Abrantes.

— Eu não me queixo pelo que me toca. Não me causa


gravame pagar este imposto que se propõe, porque as
minhas terras produzem, dão-me um lucro correspondente.
Mas nem todos estão nestas circunstâncias — argumentou
Vergueiro. — Meus vizinhos mesmo, que têm terras de
inferior qualidade [e produzem pouco], não podem pagar
isto. É muito pesado para eles. Não falo agora das
terras que estão nos lugares mais remotos, nas
províncias do interior, sem comércio de exportação

— Como se pode tributar o terreno que nada produz ou


produz muito pouco? Bem vê o Senado que esta medida não
só é oposta às regras da ciência, como à justiça e ao
bom senso — acrescentou Francisco de Paula Souza.

Em tom dramático, o senador Costa Ferreira argumentou


que a situação dos fazendeiros já era dura demais sem o
imposto:

— Quem não é lavrador e se sustenta à larga dos


rendimentos dos lavradores julga que eles são felizes.
Mas quem é lavrador experimenta o peso das desgraças
sobre seus ombros e no fim do ano, depois de empregar
90 ou 100 escravos na lavoura, recolhe uma quantia tal
que apenas chega para sustentar sua família. Esse homem
é que sabe a vida que passa. Legisladores, quereis
aumentar a aflição ao aflito, vós que nunca
experimentastes a necessidade? Este tributo não é só
injusto, mas injustíssimo, porque carrega sobre uma
classe que não pode suportá-lo.

Ele deixou no ar uma sutil ameaça ao governo imperial:

— É assim que se quer avexar os lavradores, que são os


verdadeiros sustentáculos da Monarquia? Lembrai-vos,
senhores, que a besta suporta a carga, mas a sobrecarga
a sacode.

Proprietário de latifúndio do Nordeste no fim do século


19 (imagem: O Brasil Ilustrado com Gravuras/Biblioteca
do Senado)

A Lei de Terras serviu de base para que latifundiários


recorrem ao governo e até aos tribunais para ampliar
suas propriedades. No lado oposto, sem dispor de
informação, dinheiro ou influência, muitos sitiantes
perderam suas terras. A anistia foi prorrogada várias
vezes, beneficiando posseiros que invadiram terras
públicas depois de 1850. Após a derrubada da Monarquia
e a imposição da República, a elite agrária continuou
no comando do país e a concentração fundiária, embora
guiada por novas regras, pouco mudou.

Estudiosos da questão dizem que o histórico predomínio


do latifúndio levou ao surgimento dos trabalhadores
rurais sem terra e tornou rotineira a violência no
campo. Também condenou a agricultura brasileira a um
longo período de atraso técnico. A vastidão das
propriedades permitiu que os fazendeiros mudassem suas
plantações de lugar sempre que determinada terra se
esgotava, avançando sobre novas fronteiras agrícolas e
derrubando florestas. Caso os lotes fossem pequenos,
eles teriam sido forçados a investir em novas
tecnologias para aproveitá-los ao máximo.

— A sociedade e o Estado têm uma dívida histórica com


camponeses pobres, indígenas, ex-escravos, descendentes
de escravos — diz o historiador Márcio Both. — A
concentração fundiária é um problema social, político e
econômico que passa por toda a história do Brasil,
desde a Colônia até o momento presente. É certo que, ao
longo desse período, houve rupturas, como a Lei de
Terras, de 1850, mas sempre com o fito de garantir a
permanência daquilo que é estrutural.
Conflito armado envolvendo o Paraguai e Tríplice
Aliança

A guerra do Paraguai foi um conflito armado que


envolveu os países Paraguai, Uruguai, Brasil e
Argentina em 6 anos de luta por motivos de disputas
territoriais. A guerra, considerada a maior da América
do Sul, teve início em março de 1864 e só acabou no
final de 1870.

A principal motivação decorreu da ambição de um


ditador, que virou presidente do Paraguai, Francisco
Solano López. Seu objetivo era expandir o território do
país e ainda obter uma saída para o oceano Atlântico
através da Bacia do Prata.
Antes de compreender as causas que levaram a guerra, as
principais batalhas e as consequências é preciso
entender em que contexto ocorreram as disputas por
fronteiras entre esses países.

Historiografia

Para os historiadores, a guerra do Paraguai foi algo


bastante emblemático, pois até a década de 1990
diversas interpretações foram dadas sobre o real motivo
do conflito. Porém, os novos estudos a respeito das
causas basearam-se em uma documentação inédita.

Eles levaram ao surgimento do que os historiadores


chamam de uma nova historiografia do conflito. À
princípio, essa nova versão revela que o Paraguai não
era uma nação completamente desenvolvida como apontavam
as interpretações anteriores, pois viveu isolada
durante muito tempo.

Isso se deve ao fato de que o Paraguai sempre foi uma


nação governada por ditadores, logo acreditavam que
essa seria a melhor forma de garantir a independência
do país. Entre eles, José Gaspar Rodríguez de Francia,
o responsável pela instalação da política de isolamento
no início do século XIX.
Início da guerra do Paraguai

Na metade do século XIX, o Brasil, Uruguai, Argentina e


Paraguai tinham diversas questões políticas e
econômicas em comum, em especial a disputa por
fronteiras, expansão de territórios e transportes de
mercadorias.

O Paraguai disputava territórios fronteiriços com


Brasil e Argentina. Além disso, pretendia reforçar a
sua posição regional como terceira potência. A
Argentina, por outro lado, queria consolidar seu
território, impedindo maiores fragmentações e
derrotando os rebeldes federalistas das províncias de
Entre Rios e Corrientes.

O Brasil, assim como o Paraguai, queria reforçar a sua


posição como potência e garantir a livre navegação pela
Bacia Platina. Já o Uruguai vivia anos difíceis devido
à guerra travada entre suas duas representações
políticas: os blancos e colorados.

Quando o ditador do Paraguai, Solano López, assumiu a


presidência do governo, em 1862, a situação dessas
quatro nações começou a se complicar ainda mais. A
posse do ditador fez com que o país se aproximasse de
um grupo rebelde argentino, conhecido como
federalistas.
Essa união não agradou muito o governo argentino, que
na época era governado por Bartolomé Mitres. A
aproximação paraguaia com os blancos, por outro lado,
desagradou tanto a Argentina quanto o Brasil.

O Brasil ajudou o Uruguai a desfazer o governo blanco,


que havia recebido o apoio de Solano López, para poder
colocar o líder do partido colorado, Venancio Flores,
no poder. Essa atitude provocou a ira de Solano López
que, em dezembro de 1862, ordenou a prisão de uma
embarcação brasileira que navegava pelo país em direção
à província do Mato Grosso. Na verdade, a rivalidade
entre os governos brasileiro e paraguaio já existia
desde as negociações referentes aos direitos de
navegação no Rio Paraguai.

Além disso, os dois países brigavam pela disputa de


terra, que atualmente é o estado do Mato Grosso do Sul.
Por conta disso, aconteceu o estopim para a guerra do
Paraguai, pois com medo de que o Brasil pudesse atacá-
lo, o Paraguai ordenou as prisões das embarcações
brasileiras que navegavam pelos rios do país em direção
ao Mato Grosso.

Embora a embarcação fosse apenas mercante, o ditador


achou que nos porões do navio pudesse ter armas
escondidas. Depois da invasão da província do Mato
Grosso, o exército de López rumou em direção à
província do Rio Grande do Sul. Em seguida, eles
partiram para apoiar os blancos na Guerra Civil
Uruguaia.

Contudo, o trajeto que o exército paraguaio pretendia


fazer passaria pela província argentina de Corrientes.
Com a passagem negada pelos argentinos, sob a ordem de
López, 22 mil soldados paraguaios invadiram a
Argentina.

Tríplice Aliança

O ataque que a Argentina sofreu do exército paraguaio


fez com que o país se aproximasse do Brasil. Sendo
assim, o Brasil, a Argentina e o Uruguai (representado
pelos colorados) assinaram, no dia 1° de maio de 1865,
um tratado militar chamado Tríplice Aliança.

Com isso, os dois exércitos enviados por Solano López


em direção ao Rio Grande do Sul foram derrotados e
voltaram para o Paraguai. Isso marcou o início da
guerra do Paraguai, uma vez que a partir desse momento
o país focou em defender os seus territórios dos
invasores da Tríplice.
Batalhas

O grande destaque da Guerra do Paraguai foi a Batalha


do Riachuelo, travada entre o país e o Brasil, conflito
em que a marinha brasileira acabou com praticamente
toda a marinha Paraguaia em 1865. Isso fez com que o
Brasil pudesse controlar a navegação dos rios da Bacia
Platina, impondo um bloqueio de isolamento para o
Paraguai.

Batalha de Riachuelo. (Foto: Wikimedia)

Outro conflito que marcou a guerra do Paraguai foi a


Batalha do Curupaiti. Nela, as tropas da Tríplice
Aliança sofreram uma grande derrota e perderam mais de
4 mil soldados. Entretanto, os fatos que mais definiram
os rumos da guerra aconteceram no ano de 1868, quando a
principal fortaleza do Paraguai-Humaitá foi invadida e
saqueada.

Por último, marcando o fim da guerra do Paraguai


aconteceu a Batalha de Cerro Corá, conflito em que
Solano López foi morto por soldados brasileiros por ter
recusado se render.

Consequências

Estima-se que cerca de 400 mil pessoas, entre civis e


militares tenham morrido durante os confrontos. O
Paraguai baixou consideravelmente seus índices de
desenvolvimento, tanto na indústria quando na economia,
que nunca mais voltaram a ser os mesmos.

A guerra estagnou as indústrias e praticamente toda a


população passou a trabalhar na lavoura. Além disso, o
Brasil, devido aos empréstimos que foram tomados em
outros países, aumentou a sua dívida externa, e apenas
conseguiu se restabelecer durante o governo de Getúlio
Vargas, em 1943.

Por fim, a Inglaterra, que não participou diretamente


dos conflitos, foi a única que lucrou com toda essa
situação, pois aumentou a sua influência no continente
em razão dos empréstimos e apoio militar concebidos
durante a guerra.

"A escravidão no Brasil iniciou-se por volta da década


de 1530, quando os portugueses implantaram as bases
para a colonização da América portuguesa, para atender,
mais especificamente, à demanda dos portugueses por mão
de obra para o trabalho na lavoura. Tal processo deu-
se, primeiramente, com a escravização dos indígenas, e,
ao longo dos séculos XVI e XVII, essa foi sendo
substituída pela escravização dos africanos, trazidos
por meio do tráfico negreiro.

A escravidão no Brasil, mas não só aqui, mostrou-se uma


instituição perversa e cruel, e as suas consequências
ainda são sentidas atualmente, mais de 130 anos depois
que a Lei Áurea aboliu essa prática no país. A
violência e a discriminação que os negros sofrem
atualmente são o reflexo direto de um país que se
construiu por meio da normalização do preconceito e da
violência para com esse grupo. Não obstante, é sempre
importante lembrar que, além dos africanos, os
indígenas também foram escravizados, aos milhões, pelos
portugueses, e que sua escravização também perpetuou
preconceitos e violência contra eles.

Acesse também: Conheça a história dos caifazes e do


abolicionismo popular do século XIX

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Tópicos deste artigo

1 - Como começou

2 - Escravização dos indígenas


3 - Escravização dos africanos

4 - Fim da escravidão

Como começou

A escravidão no Brasil tem como ponto de partida a


década de 1530, período em que os portugueses deram
início ao processo colonizatório. Até então, a ação
desses havia sido baseada na exploração do pau-brasil,
e o trabalho dos indígenas era realizado por meio do
escambo. Assim, os indígenas interessados derrubavam as
árvores, levavam até a costa e então eram pagos com
objetos oferecidos pelos portugueses.

Em 1534, porém, Portugal implantou na América


portuguesa o sistema de capitanias hereditárias e
começou a ser incentivado o desenvolvimento de engenhos
de produção do açúcar. Essa era uma atividade mais
complexa e que demandava uma grande quantidade de
trabalhadores. Como os portugueses consideravam o
trabalho braçal uma atividade inferior, a solução
encontrada foi escravizar a única mão de obra
disponível naquele momento: os indígenas.

Escravização dos indígenas

Os indígenas foram a principal mão de obra dos


portugueses até meados do século XVII, quando, de fato,
os escravos africanos começaram a tornar-se a maioria
desse tipo de trabalhador no Brasil. A escravização dos
indígenas, apesar de mais barata, foi, na visão dos
portugueses, conturbada e problemática.
O historiador Stuart Schwartz afirma que os indígenas
mostravam-se relutantes em realizar trabalho contínuo
na lavoura porque, na visão deles, era um “trabalho de
mulher”|1|, além do fato de que a cultura indígena não
possuía a concepção de trabalho contínuo. Outro fator
que tornava a escravização de indígenas complicada para
muitos foram os conflitos entre colonizadores e
jesuítas. Isso acontecia porque os jesuítas
posicionavam-se contra a escravização dos indígenas,
pois enxergavam-lhes como grupo a ser catequizado.

Assim, os colonos que escravizavam indígenas podiam


sofrer problemas jurídicos devido à atuação dos
jesuítas. A pressão realizada pelos últimos, para que a
escravização dos indígenas fosse cessada, levou a Coroa
portuguesa a decretar a proibição dessa escravização.
Apesar da lei, a escravização de indígenas continuou,
sobretudo em locais nos quais não havia grande número
de escravos africanos, como São Paulo, Paraná e
Maranhão. Se quiser saber mais sobre os conflitos entre
jesuítas e colonos, acesse o texto: Jesuítas x
Bandeirantes.

A escravização de indígenas também encontrou obstáculos


devido à alta taxa de mortalidade desse grupo em
decorrência da presença portuguesa na América. Essa
alta mortalidade acontecia por causa de questões
biológicas, de guerras travadas entre grupos indígenas
e motivadas pelos portugueses, além de guerras contra a
própria escravização e quem os escravizava etc.

Os indígenas eram conhecidos pelos portugueses como


“negros da terra”, e o preço do escravo indígena, em
relação ao africano, era, em média, três vezes menor.
Na década de 1570, um escravo indígena custava cerca de
sete mil-réis, enquanto um escravo africano tinha o
custo geral de 20 mil-réis.|2|

Por fim, é importante mencionar que, apesar da chegada


dos escravos africanos ao Brasil, por volta da década
de 1550, os indígenas continuaram sendo a principal mão
de obra na economia açucareira aqui instalada até
meados do século XVII. Na década de 1590, por exemplo,
cerca de 2/3 dos escravos no Brasil eram indígenas.|3|
Foi a prosperidade da economia açucareira que fez
alguns lugares, como Bahia e Pernambuco, possuírem uma
grande quantidade de escravos africanos.

Acesse também: Saiba como ficou a vida dos ex-escravos


após a aprovação da Lei Áurea

Escravização dos africanos

Por meio do tráfico negreiro, 4,8 milhões de africanos


foram enviados para o Brasil como escravos.

Os primeiros africanos começaram a chegar ao Brasil por


volta da década de 1550, inicialmente, por meio do
tráfico ultramarino, também conhecido como tráfico
negreiro. Os portugueses, desde o século XV, possuíam
feitorias na costa africana, mantinham relações com
povos africanos e realizavam a compra desses indivíduos
para escravizá-los, por exemplo, na Ilha da Madeira.

Com o desenvolvimento da colonização no Brasil, a


necessidade contínua por trabalhadores braçais fez com
que esse comércio fosse aberto para os colonos
instalados aqui. A razão para a prática do tráfico
negreiro foram a já mencionada necessidade contínua da
colônia por trabalhadores escravos e os altos lucros
que essa atividade rendia para os envolvidos.

A migração para o uso do escravo africano aconteceu,


pois, segundo Stuart Schwartz, “só o tráfico de
escravos africanos fornecia um abastecimento
internacional de mão de obra em grande escala e
relativamente estável, que acabou por fazer dos
africanos escravizados as vítimas preferenciais”.|4|
Assim, por meio do tráfico negreiro e ao longo de mais
de 300 anos, cerca de 4,8 milhões de africanos foram
desembarcados no Brasil.|5|

O trabalho dos africanos, concentrado na economia


açucareira, era duríssimo e pautado na violência. A
jornada de trabalho poderia estender-se por até 20
horas de trabalho diário, e as historiadoras Lilia
Schwarcz e Heloísa Starling afirmam que o ofício no
engenho era muito mais exaustivo e perigoso do que o
realizado nas roças.|6|

Nas moendas, era comum que os escravos perdessem suas


mãos ou braços, e nas fornalhas e caldeiras, eram
comuns as queimaduras. Nessa última etapa, o trabalho
era tão pesado que os escravos utilizados nela,
geralmente, eram os mais rebeldes. Era comum que os
grandes engenhos possuíssem por volta de 100 escravos,
lembrando que os escravos africanos só se tornaram a
maioria em meados do século XVII.

Ao fim do dia, os escravos eram reunidos na senzala e


lá eram monitorados para que não fugissem (os indígenas
dormiam em ocas e não na senzala). Eles tinham uma
alimentação muito pobre e insuficiente, e parte de sua
sobrevivência dependia da pequena plantação de
subsistência que possuíam, mas só tinham o domingo para
poderem cuidar dessa plantação.

Existiam escravos que trabalhavam no campo, nas


residências e nas cidades. Os do campo eram
extremamente mal vestidos, e muitos não tinham contato
direto com seu senhor, apenas com o feitor. Os escravos
domésticos tinham roupas melhores e contato direto com
o senhor e sua família. Os escravos urbanos trabalhavam
em diferentes ofícios.

A violência era algo rotineiro na vida dos escravos, e


o tratamento violento dedicado a eles tinha o intuito
de incutir-lhes temor de seus senhores. Esse medo
visava mantê-los conformados com a sua escravização e
impedir fugas e revoltas. Uma punição muito comum
aplicada sobre eles era o “quebra-negro”, que ensinava-
os a sempre olharem para baixo na presença de seus
senhores.
Além disso, muitos escravos podiam ser acorrentados,
para evitar que fugissem, e usar uma máscara de ferro,
conhecida como máscara de flandres, colocada neles para
impedir que engolissem diamantes (nas regiões
mineradoras), se embriagassem, ou mesmo cometessem
suicídio por meio da ingestão de terra.

Escravos rebeldes e que fugissem também poderiam ser


acorrentados no tronco e chicoteados (alguns o eram até
a morte). As violências que os escravos sofriam eram
inúmeras, e a historiadora Keila Grinberg enumera as
diferentes formas de execução pelas quais um escravo
poderia ser condenado: por envenenamento, por uso de
instrumentos de ferro, queimado, na forca, no
pelourinho etc.|7|

Ao longo dos 300 anos de escravidão, os escravos


africanos realizaram inúmeras ações de resistência.

Os escravos, por sua vez, não aceitavam a escravização


e as violências diárias de maneira passiva. A história
da escravização africana no Brasil ficou marcada por
diferentes formas de resistência que incluíam a
desobediência, as fugas individuais e coletivas, as
revoltas, a formação de quilombos etc. Para saber mais
sobre a resistência dos escravos, leia o seguinte
texto: Resistência dos escravos.

Acesse também: Conheça a trajetória de três grandes


abolicionistas negros

Fim da escravidão

O Brasil acabou sendo o último país das Américas a


abolir a escravidão, e isso aconteceu por meio da Lei
Áurea, que foi aprovada pelo Senado e assinada pela
regente do Brasil, a princesa Isabel. O fim da
escravidão no país, no entanto, não foi um ato de
benevolência da monarquia, mas sim resultado da pressão
e do engajamento da população brasileira.

O movimento abolicionista ganhou força na sociedade na


década de 1870, com o fim da Guerra do Paraguai, mas
questões relativas à abolição já eram debatidas, mesmo
que timidamente, desde a independência brasileira,
embora seu ponto de partida seja o decreto da Lei
Eusébio de Queirós, que proibiu o tráfico negreiro, em
1850.

Na medida em que o movimento abolicionista ganhou


força, diversas associações em defesa da causa
começaram a surgir no país, e suas formas de luta
contra a escravidão foram variadas. Advogados começaram
a defender escravos contra seus senhores em tribunais,
jornais começaram a publicar artigos em defesa da
abolição, e pessoas comuns começaram a abrigar escravos
que haviam fugido.

Os escravos também tiveram papel essencial na


desestabilização da escravidão no Brasil e resistiram
realizando fugas em massa, organizando revoltas contra
seus senhores (algumas das quais levaram à morte dos
senhores de escravos), formando os quilombos (sobretudo
nos arredores do Rio de Janeiro e de Santos) etc.

A força da pressão popular, por meio do movimento


abolicionista, e as constantes revoltas dos escravos
criaram o clima que obrigou o Império a abolir o
trabalho escravo em 13 de maio de 1888, com a citada
Lei Áurea. A abolição do trabalho escravo foi recebida
com festa pela população brasileira. Os escravos
libertos, porém, continuaram a sofrer com o preconceito
e com a falta de oportunidades."

Escravidão no Brasil

A escravidão no Brasil foi implantada no início do


século XVI.
Em 1535 chegou a Salvador (BA), o primeiro navio com
negros escravizados. Este ano é o marco do início da
escravidão no Brasil que só terminaria 353 anos depois
em 13 de maio de 1888, com a Lei Áurea.

As primeiras pessoas a serem escravizadas na colônia


foram os indígenas. Posteriormente, negros africanos
seriam capturados em possessões portuguesas como Angola
e Moçambique, e regiões como o Reino do Daomé, e
trazidos à força ao Brasil para serem escravizados.
Origem da escravidão no Brasil
Os historiadores apontam várias causas para se empregar
a mão de obra escrava nas colônias.

Portugal tinha uma população pequena, de cerca de dois


milhões de pessoas, e não tinha condições de dispensar
parte de seus habitantes para sua colônia americana.
Para suprir os braços que faltavam, os colonizadores
usaram a escravidão, que já era praticada na África e
no mundo árabe.

O transporte de pessoas escravizadas fomentou a


produção de mais embarcações, alimentos, vestuário,
armas, e outros produtos que estavam ligados ao
comércio de gente. Por isso, o tráfico negreiro
representou um ótimo negócio para a Europa e
movimentava grandes capitais nos três continentes.

Desta maneira, portugueses, espanhóis, franceses,


holandeses e ingleses tornaram a escravidão um negócio
lucrativo. Superlotaram os porões de seus navios com
negros africanos (navios negreiros) para serem vendidos
nos portos brasileiros e em toda América.

Já as pessoas escravizadas não ganhavam nada, ao


contrário, só perdiam, pois passavam a ser propriedade
de outra pessoa. Este contingente produziu toda riqueza
no Brasil: desde o plantio da cana-de-açúcar, colheita,
transformação do caldo de cana, construção de casas,
engenhos, igrejas, tudo isso era feito por cativos.
Escravidão indígena no Brasil colonial
No início do processo de colonização no Brasil,
empregou-se a mão de obra indígena.
Os índios eram capturados por meio de expedições como
as bandeiras ou obtidos como espólio das guerras
intertribais. Os portugueses estabeleciam alianças com
as tribos e, em troca, conseguiam mão de obra escrava
indígena.

Por muito tempo, nas escolas brasileiras, se ensinou


que o índio não servia como escravo por ser
"preguiçoso" e por isso, o portugueses teriam preferido
escravizar o africano. Na verdade, a escravidão de
indígenas somente seria abolida no século XVIII, e,
portanto, o argumento não tem sentido.

O que aconteceu era que escravizar africanos era muito


mais lucrativo que escravizar indígenas, e por esta
razão, os europeus preferiram investir no tráfico
negreiro.

Outro impedimento para a escravização do indígena foi a


oposição dos religiosos, sobretudo os jesuítas, que
protegiam aldeias inteiras em suas reduções.

Veja também: Escravidão indígena no Brasil Colonial


Tipos de escravidão no Brasil
No caso dos portugueses, os negros africanos eram
trazidos de suas colônias na África para serem
utilizados principalmente na agricultura e na
mineração. Desempenhavam também vários serviços
domésticos e/ou urbanos.

Nas cidades haviam os chamados “escravos de ganho”,


utilizados em tarefas do ramo comercial ou de serviços.
Normalmente, eles vendiam produtos manufaturados,
quitutes, carregavam água ou auxiliavam na
administração de pequenos comércios.

Veja também: Tráfico Negreiro


As condições da escravidão
As condições de escravidão no Brasil eram as piores
possíveis e a vida útil de uma pessoa escravizada
adulta não passava de 10 anos.

Após sua captura na África, os seres humanos


escravizados enfrentavam a perigosa travessia da África
para o Brasil nos porões dos navios negreiros, onde
muitos morriam antes de chegar ao destino.

Após vendidos, passavam a trabalhar de sol a sol,


recebendo uma alimentação de péssima qualidade,
vestindo trapos e habitando as senzalas. Normalmente,
tratava-se de locais escuros, úmidos e com pouca
higiene, adaptado apenas para evitar fugas.

Errar não era permitido e poderia ser punível com


castigos dolorosos. Eram proibidos de professar sua fé
ou de realizar suas festas e rituais, tendo que fazer
isso às escondidas. Afinal, a maioria das pessoas
escravizadas vinham da África já batizadas e era
suposto que abraçassem a religião católica. Daí surge o
sincretismo que verificamos no Candomblé praticado no
Brasil.

As mulheres negras eram exploradas sexualmente e usadas


como mão-de-obra para trabalhos domésticos, como
cozinheiras, arrumadeiras, etc. Não era incomum que as
mulheres escravizadas recorressem ao aborto para
impedir que seus filhos não tivessem a mesma sorte.
Quando fugiam, os capitães do mato perseguiam as
pessoas escravizadas. A obtenção da liberdade só era
possível quando escapavam para quilombos ou quando
conseguiam comprar a carta de alforria.

Moag
em de Cana Fazenda Cachoeira, Benedito Calixto de
Jesus. Campinas,1830. Museu Paulista da USP

Escravidão e formas de resistência


As revoltas nas fazendas não eram raras no período
colonial. Muitos grupos de escravos fugiam e formavam
comunidades fortificadas e escondidas na mata chamadas
"quilombos" e uma dos mais significativos, no Brasil
colonial, foi o "Quilombo dos Palmares". Ali, podiam
praticar sua cultura e exercer seus rituais religiosos.

No entanto, vários escravizados que não conseguiam


escapar, preferiam suicidar que continuar cativos.

Abolição da escravatura
Quando a sociedade europeia começou a adotar as ideias
do liberalismo e do Iluminismo, a escravidão passou a
ser severamente questionada. Afinal, a privação de
liberdade não combinava com a nova etapa do capitalismo
industrial.

Igualmente, quando a Inglaterra aboliu a escravidão nas


suas colônias, substituiu por trabalhadores
assalariados. Por esta razão, a produção agrícola ali
seria mais cara e as colônias inglesas não poderiam
concorrer com os baixos preços praticados pelos
portugueses.
Assim, era necessário transformar a mão-de-obra
escravizada em trabalhadores assalariados. Isto iria
igualar os preços da produção e no futuro, os ex-
escravos poderiam se tornar consumidores.

Por isso, a Inglaterra, que liderava a nova expansão


capitalista-industrial, aprovou a "Lei Bill Aberdeen".
Esta transformou a Marinha Real Britânica numa arma
contra o tráfico de escravos em qualquer parte do
mundo, pois permitiu que seus navios abordassem navios
negreiros de qualquer nacionalidade. Importar pessoas
para serem escravizadas acabou se tornando cada vez
mais caro.

No Brasil, o tráfico foi oficialmente abolido em 1850,


com a "Lei Eusébio de Queirós". Mais adiante, em 1871,
a "Lei do Ventre Livre" garantiu a liberdade aos filhos
de escravos; e, em 1879, teve início a campanha
abolicionista liderada por intelectuais e políticos.

Posteriormente, a "Lei dos Sexagenários" (1885)


garantia a liberdade aos escravos maiores de 60 anos.
Lei Áurea
A abolição da escravidão no país foi concedida pela Lei
Áurea, aprovada pelo Senado e assinada pela princesa
Isabel, dia 13 de maio de 1888.

A Lei Áurea encerrava décadas de discussão em torno de


várias questões. Porém, a mais importante era: se os
escravos fossem libertados, o governo pagaria
indenização aos proprietários? Por fim, venceu a tese
de que os donos de escravos não receberiam nenhuma
compensação financeira.
Isso retira o apoio dos latifundiários escravistas
davam à monarquia. Quando surge o golpe republicano, os
grandes proprietários de terra sustentam o novo regime.

Libertos sem qualquer plano, os ex-cativos se viram


entregues à própria sorte e passaram a formar um enorme
contingente de pessoas sem qualificação.

Abolição e luta escrava por liberdade

A abolição resultou principalmente da luta escrava em


favor da liberdade, demonstrando o protagonismo da ação
dos africanos escravizados.
Valongo ou mercado de escravos no
Rio, desenho de Auguste Earle (1793-1838)
Durante a primeira metade do século XIX as rebeliões
escravas estavam tirando o sono dos latifundiários, já que a
ameaça apresentada pelo exemplo da independência do Haiti
ainda era recente e havia indícios de que os africanos
escravizados sabiam do processo de abolição e independência
haitiana.
Só na Bahia foram mais de 30 revoltas até 1835, sendo a mais
conhecida a Revolta dos Malês. Em Minas Gerais também ficou
conhecida a rebelião de Carrancas, ocorrida em 1833, no
contexto da instabilidade política do Período Regencial. Em
1838, houve, no Rio de Janeiro, a revolta de Manoel Congo,
ocorrida no município de Vassouras. Entre 1839 e 1842, a
Balaiada no Maranhão também levou preocupação à elite,
principalmente pelo grupo de escravos liderados por Cosme
Bento das Chagas, que se juntou aos balaios, mas que acabou
derrotado e executado.
Todas essas ocorrências servem para que possamos refletir
sobre o processo de abolição da escravidão no Brasil. A
Abolição da escravidão foi fruto apenas das pressões
internacionais, como da Inglaterra, e do movimento
abolicionista a partir da década de 1870, composto em sua
maioria por pessoas brancas e livres, ou seria a abolição
decorrente da luta dos próprios africanos e seus
descendentes contra a escravidão?
Estudos historiográficos das últimas décadas do século XX e
de início do XXI apontam a existência de um forte movimento
de luta contra a escravidão realizada pelos próprios
escravos, a força de trabalho que durante quatro séculos
criou as riquezas no Brasil.
Apesar de terem sido intensas na primeira metade do século
XIX, rebeliões de grande monta se tornaram mais raras na
segunda metade do século. Mas em seu lugar as fugas, a
formação de quilombos e a resistência cotidiana no trabalho
contribuíram para pressionar o Estado a colocar fim à
escravidão.
Essas três formas de luta intensificaram-se após o fim do
tráfico negreiro em 1850, resultando na formação de
quilombos próximos às cidades, na intensificação de ações de
resistência e de reprodução das comunidades, como furtos e
saques, além de ações contra os senhores e prepostos, que
muitas vezes resultavam em mortes.
Esse movimento de resistência foi anterior ao movimento
abolicionista e foi por sua virulência, além de ser uma ação
autônoma da classe trabalhadora escrava, que houve a pressão
que resultou no surgimento da legislação abolicionista.
Dois motivos contribuíram para essa situação: a
intensificação do tráfico interprovincial e a chamada
crioulização da escravatura, com a maior utilização de
escravos nascidos no Brasil.
Com o fim do tráfico internacional de escravos, os cativos
passaram a ser comercializados das províncias do Norte e do
Sul para as do Sudeste, em ascensão econômica com a produção
de café. Muitos desses escravos eram nascidos no Brasil,
sendo ainda considerados escravos “indisciplinados”,
carregando com eles uma noção de “cativeiro justo”, ao qual
impunham parâmetros de formas de organização, bem como de
intensidade e métodos de trabalho aos seus senhores.

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A “indisciplina” gerava constantes conflitos com os senhores


e feitores, resultando em fugas e, muitas vezes, em mortes.
Nesse sentido, as ações realizadas pelos escravos
pressionaram o Estado brasileiro, somadas à pressão
internacional, a criar uma legislação que garantisse
gradualmente a abolição. Gradualmente, pois se temia que uma
abolição abrupta levasse o país ao caos econômico, bem como
ao estímulo uma revolução.
Os debates para a criação das leis tinham como argumentos os
aumentos de rebeliões escravas nas décadas de 1850 e 1860,
demonstrando o temor das elites com a resistência à
escravidão e também com o perigo de eclodir uma revolução
escrava no Brasil. O medo do exemplo do Haiti ainda era
presente.
A criação de uma legislação colocava ainda o Estado no meio
da relação social existente entre senhor e escravo, situação
que não ocorria anteriormente, já que o escravizado era uma
propriedade do senhor, livre para dela utilizar como bem
queria. Nesse contexto, os escravos souberam utilizar as
leis nos tribunais para pressionar seus senhores e, em
muitos casos, conseguir a liberdade. Houve um grande aumento
de ações judiciais para que fosse possível colocar em
prática a legislação que não era aceita pelos senhores, como
a que garantia que o escravo podia comprar sua alforria,
mesmo contra a vontade do senhor.

Uma senhora e seus escravos na província de São Paulo,


fotografia de autor desconhecido
A Lei do Ventre Livre, por exemplo, foi decorrente da
preocupação das elites com a mudança da estrutura escrava no
Brasil, com um maior número de escravos nascidos no país, o
que teria resultado em maiores rebeliões. Libertar as
crianças filhas de mães escravas era uma forma de impedir as
rebeliões e insatisfações. A imposição do fim do tráfico
interprovincial, em 1881, era também uma lei que tinha como
preocupação o surgimento de uma guerra civil no Brasil,
semelhante à ocorrida nos EUA entre 1861 e 1865.
Por outro lado, houve a concentração de escravos nas mãos de
poucos senhores, após o fim do tráfico internacional, em
razão da dificuldade de obtê-los e do aumento dos preços.
Com isso, o escravismo deixava de ser uma instituição
disseminada na sociedade brasileira, o que aos poucos
contribuiu para a criação do sentimento abolicionista. Além
disso, a liberação de capitais com o fim do tráfico
internacional possibilitou o surgimento de setores sociais
não comprometidos com o escravismo. Essas circunstâncias
explicariam o surgimento dos movimentos abolicionistas a
partir de 1870.
Entretanto, ao contrário do que afirmou a historiografia
mais tradicional do Brasil, o motor do abolicionismo foram
as ações dos escravos, como as fugas e a formação dos
quilombos, as rebeliões, a ocupação de terras livres pelos
fugidos, a insubmissão das regras de trabalho nas fazendas,
demonstrando o protagonismo dos africanos escravizados em
seu processo de libertação.
Muitas vezes, quando vemos notícias relacionadas aos
países do continente africano, elas estão relacionadas
aos diferentes conflitos existentes e às dificuldades
financeiras enfrentadas pela população local. E qual
seria o motivo disso?
Para entender a situação atual do continente e o poder
econômico dos países europeus, é importante conhecer o
processo imperialista que ocorreu no século XIX e que
até hoje influencia diretamente as relações de poder no
cenário mundial e evidencia as desigualdades entre as
diferentes regiões do mundo.
Nesse texto, falaremos sobre como ocorreu esse processo
e suas consequências para a África atual.

O que foi o Imperialismo?


O Imperialismo – também conhecido como Neocolonialismo
– foi uma forma de dominação econômica, política e
social pelas potências industriais europeias sobre
países africanos e asiáticos durante o século XIX. Essa
dominação ocorreu devido à busca incansável pelo lucro,
uma vez que a Europa passava pela Segunda Revolução
Industrial e necessitava de matérias-primas, mão-de-
obra barata e mercado consumidor, buscando-os, assim,
em outras regiões do globo.
Com sua riqueza em minerais preciosos e reservas de
petróleo, o continente Africano logo se tornou atrativo
para os países europeus. Vale destacar que esse
processo está inserido no contexto capitalista – mais
precisamente no contexto do capitalismo industrial –
afinal, a produção industrial em massa era a prioridade
para manter o sistema de consumo funcionando, foi por
isso, então, que as potências europeias passaram a
disputar os territórios africanos no século XIX.
Ver saber mais sobre argumentos contra e a favor do
capitalismo!

O Tratado de Berlim e a divisão do Continente Africano


Quando o assunto é o Imperialismo não se pode esquecer
do Tratado de Berlim, visto que foi definidor para a
divisão do continente africano entre os países
europeus.
Conhecido como “O futuro da África”, o Tratado de
Berlim foi uma reunião entre as potências imperialistas
da época (Alemanha, Inglaterra, Estados Unidos,
Espanha, Portugal, Bélgica, Holanda etc.), e baseou-se
no desejo dos países participantes em adquirir
territórios no continente africano. Esse Tratado
ocorreu na cidade de Berlim (atual capital da
Alemanha), no ano de 1884, e tinha como objetivo
inicial o domínio europeu das rotas fluviais africanas.
Ao final do acordo, as regiões dá África foram
repartidas entre os países mais poderosos da época,
estabelecendo assim os limites territoriais do
continente, da maneira que conhecemos hoje. É
importante salientar que nem todas as nações
participantes do Tratado receberam territórios
africanos; todavia, havia um interesse comum entre elas
quanto aos futuros acordos comerciais.
Os principais países que ficaram com as maiores porções
de territórios no continente africano foram a
Inglaterra e a França. Podemos identificar os rastros
imperialistas nos países colonizados principalmente
através dos idiomas falados (como línguas oficiais ou
não) pela população nativa, como o inglês em países
como África do Sul, Botswana, Camarões etc, e o francês
no Senegal, Costa do Marfim, Guiné e alguns outros.
É importante destacar que a divisão desigual dos
territórios do continente africano entre os países
europeus no século XIX foi uma das razões para o
surgimento da Primeira Guerra Mundial em 1914. Buscando
aumentar o poder de influência por meio do domínio não
somente nas nações colonizadas, mas no mundo como um
todo, gerou-se atritos entre as potências europeias, e
posteriormente uma das maiores guerras já existentes.

Consequências do Imperialismo para o continente


africano
Vamos a uma analogia: imagine que você vive em uma
cidade e que cada bairro possui os seus próprios
costumes e líderes locais. Em um certo momento, chegam
pessoas de outro continente com uma cultura
completamente diferente da que você está habituado e
tomam posse daquela região em que você vive, unificando
o local e misturando diversos bairros, tornando-os um
só. Foi dessa forma que ocorreu a partilha do
continente africano pelos europeus: de maneira
desordenada e desconsiderando as diferenças étnicas das
tribos locais.
Com a mistura de tribos culturalmente distintas em uma
mesma delimitação territorial, surgem os conflitos no
Continente Africano que ocorrem até os dias atuais.
Esses conflitos vão desde disputas territoriais entre
tribos até desavenças religiosas. Pode-se dizer que os
países europeus auxiliaram no processo de
estabelecimento desses conflitos durante a
neocolonização quando por exemplo, apoiavam líderes de
determinadas etnias ou tribos para o controle de uma
zona que desejavam exercer influência. Alguns exemplos
contemporâneos são: os conflitos entre Sudão e Sudão
do Sul e o genocídio de Ruanda.
Além dos conflitos étnicos existentes, há também outros
problemas causados pelo processo imperialista do século
XIX nos países africanos, como, por exemplo, a miséria
e as crises humanitárias vivenciadas pela população
local.
A falta de alimentos e recursos básicos para a
sobrevivência e bem-estar da população africana são um
dos maiores desafios enfrentados e que demonstram as
desigualdades continentais existentes. Segundo dados da
Organização das Nações Unidas para Alimentação e
Agricultura (FAO), 257 milhões de pessoas passam fome
na África, o que representa cerca de 20% da população
total do continente. Tais crises humanitárias atuais,
além do clima do continente e de fatores como as
concentrações de poder existentes, podem ser
relacionadas com o processo Imperialista uma vez que a
Europa foi a responsável por explorar grande parte dos
recursos do Continente Africano.

Justificativas europeias para o Imperialismo


Para justificar as ações de dominação imperialistas
sobre a África e a Ásia, os europeus utilizaram
argumentos racistas, baseados na ideologia racial
europeia do século XIX que colocava os habitantes da
Europa em um patamar de superioridade quando comparados
com outras raças, as quais eram vistas como inferiores.
Entre essas teorias, iremos destacar o darwinismo
social e a eugenia.
Darwinismo Social: corrente de pensamento que baseava-
se na Teoria da Evolução das Espécies de Charles
Darwin, em que acreditava-se que haviam sociedades mais
evoluídas do que outras, sendo necessária a intervenção
da “superior” na considerada “inferior”, para que
houvesse a civilização do local dominado.
Eugenia: a palavra eugenia provém do grego e significa
“bem nascido”. Foi um conceito disseminado na Europa do
século XIX e tinha como fundamento a seleção de seres
humanos com “boas” características genéticas, a fim de
melhorar as gerações futuras. Com isso, há a eugenia
positiva (em que os indivíduos com as melhores
características são incentivados a se reproduzirem) e a
eugenia negativa (em que há a eliminação do indivíduo
considerado inadequado para a sociedade).

O papel dos Estados Unidos no processo imperialista


Os Estados Unidos foi o único país da América a
participar do Tratado de Berlim em 1884; no entanto,
diferentemente das potências europeias, não ocupou
territórios no Continente Africano, sendo o seu
interesse da época obter tratados comerciais nas
regiões africanas. Mesmo assim, os EUA desempenharam um
papel importante durante o Imperialismo no século XIX,
exercendo sua influência nas regiões da América.
Após o fim da Guerra Civil Americana em 1865, os
Estados Unidos se consolidou como um Estado Nacional,
transformando-se em uma grande potência mundial fora da
Europa. Com o desenvolvimento industrial, na década de
1890, o mercado interno não era capaz de consumir toda
a produção dos Estados Unidos, surgindo a necessidade
de abertura para o mercado externo. A partir disso, o
olhar estadunidense se abre para outras regiões do
mundo, mais precisamente para toda a América – uma vez
que a África e a Ásia já estavam sob domínio europeu –
identificando-a como uma possível zona para a sua
expansão.
Dessa forma, surgem algumas aplicações de políticas
americanas para a dominação do continente: a Doutrina
Monroe, com o lema “América para os americanos”, em que
os Estados Unidos se posicionava contra a interferência
da Europa nas questões da América e a política do Big
Stick, que buscava agir violentamente para interferir
no continente americano. Tais medidas impostas tinham
como objetivo o fortalecimento dos EUA e o controle da
América

Colonização x Imperialismo
Ambos os processos foram realizados com a finalidade de
gerar lucro para os países europeus, dominando e
subjugando os povos nativos da região. Apesar de
parecidos, há grandes diferenças entre os processos de
colonização e o imperialista. Entenda essas diferenças
abaixo:
Colonização: ocorreu nos século XV e XVI, as potências
europeias da época eram Portugal e Espanha, o sistema
vigente era o capitalismo comercial (mercantilismo), o
objetivo principal era a busca por especiarias e metais
preciosos, resultou na colonização de diversas regiões
do mundo.
Imperialismo: ocorreu no século XIX, diversos países
europeus tiveram participação (Alemanha, Portugal,
Espanha, Inglaterra, Bélgica, Holanda etc.), o sistema
vigente era o capitalismo industrial (contexto da
Segunda Revolução Industrial), o objetivo principal era
a busca por novos territórios para a extração de
matérias primas, a utilização de mão-de-obra barata e
ampliação do mercado consumidor, resultou na divisão do
Continente Africano entre os países europeus.

IMPERIALISMO NA ÁSIA E ÁFRICA


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Definição
Fase monopolista do capitalismo, ocorrida no final do
século XIX e início do século XX.
Fatores geradores
• superprodução: expansão da Revolução Industrial
e aprimoramento tecnológico, resultando em
aumento da produção de mercadorias; países
industrializados buscam mercados consumidores
de artigos industrializados;
• crescimento demográfico: queda das taxas de
mortalidade e manutenção de elevadas taxas de
natalidade geram fenômeno conhecido como
explosão demográfica. O excedente populacional
vive em condições miseráveis, mas começa a se
organizar em sindicatos e partidos);
• busca de matérias-primas: sofisticação
tecnológica exige diversidade e maiores
quantidades de matérias-primas (borracha,
petróleo, cobre, etc.);
• busca de investimentos de capitais: as áreas
industrializadas não podem reinvestir capitais
excedentes na produção industrial sem agravar o
problema da superprodução; busca-se, portanto,
áreas para a exportação de capitais excedentes.

Imperialismo: solução para os problemas econômicos,


sociais e, até mesmo, políticos e culturais das grandes
potências industrializadas do mundo (Inglaterra,
França, Alemanha, Itália, Estados Unidos, Rússia,
Japão) no final do século XIX, por meio da expansão
territorial e do estabelecimento de áreas de
influência.
Características
• concentração da produção e do capital em
reduzido número de países e, dentro deles, nas
mãos de pequena parcela da população (alta
burguesia);
• capital financeiro, resultante da fusão do
capital industrial e do bancário;
• exportação de capitais, com investimentos nos
setores de infraestrutura (especialmente nos
setores de comunicações e transportes), para
facilitar a dominação e agilizar o escoamento
de mercadorias);
• partilha do mercado mundial entre os países
industrializados;
• associações monopolistas – trustes, cartéis e
holdings;
• divisão territorial do planeta em áreas de
dominação direta e zonas de influência
econômica;
• o “fardo do homem branco” como justificativa
ideológica para a dominação: missão
civilizadora que levaria aos que viviam nas
trevas da ignorância a luz do conhecimento;
ideia de superioridade biológica da raça branca
sobre as demais.

Imperialismo na Ásia
Índia

Conhecida desde a Antiguidade pelos europeus. No século


XV, a Índia se tornou uma área muito cobiçada pelos
comerciantes da Europa, graças às especiarias que
possuía em seu território.
Os portugueses dominaram por cerca de meio século a
rota comercial marítima que levava ao Oriente e,
portanto, controlavam o valioso comércio de mercadorias
indianas. Ao longo dos séculos XVI e XVII, porém, o
domínio português foi suplantado pelo britânico, que se
tornou a principal potência marítimo-comercial, atuando
por meio das companhias monopolistas de comércio.
No século XVIII, a supremacia econômica da Inglaterra
sobre a Índia estava assegurada – situação favorecida
pela ausência de centralização política em território
indiano. Nessa época, a Índia se encontrava dividida em
diversos estados rivais. Essa rivalidade era estimulada
pelos ingleses, a fim de evitar uma centralização
política que prejudicasse seus interesses econômicos.
Ainda assim, em 1857, eclodiu na Índia uma revolta
nacionalista contra o domínio inglês. Denominada
Revolta dos Cipaios, o conflito durou até 1859, quando
os rebeldes foram derrotados pelos ingleses, que
conseguiram, a partir de então, impor um domínio ainda
mais rígido.
A garantia do domínio britânico sobre a Índia – não
apenas econômico, mas também político – consolidou-se
em 1877, quando a rainha Vitória da Inglaterra foi
coroada Imperatriz da Índia.
China

Vasto território contendo uma população numerosa, a


China despertou o interesse da Europa no século XV. Os
europeus, principalmente os portugueses, passaram a
importar para o Ocidente mercadorias chinesas.
Como na Índia, a Inglaterra tomou o lugar de Portugal e
passou a dominar comercialmente a China. Os ingleses
exploravam o comércio chinês por meio das Companhias
das Índias Orientais. Mas ao contrário da Índia, que se
encontrava dividida, o poder político chinês era
centralizado. A China era regida pela dinastia Manchu.
Contudo, a aristocracia agrária chinesa nunca
reconhecera a legitimidade dessa dinastia.
Ao longo dos séculos XVII e XVIII, o predomínio
britânico sobre a China se aprofundou e, aos poucos, os
ingleses introduziram, ilegalmente, o ópio no mercado
chinês. Esse artigo era produzido em abundância nas
colônias inglesas da Índia e na Birmânia e os chineses
o apreciavam muito, gastando verdadeiras fortunas e
endividando-se junto aos ingleses para obtê-lo.
O governo chinês, por diversas razões, opunha-se
veementemente à aquisição e consumo do ópio e, em 1839,
adotou medidas enérgicas para coibi-lo. Tal atitude
precipitou um conflito entre China e Inglaterra,
conhecida como a Guerra do Ópio, que foi vencida pelos
ingleses. Graças a essa vitória, a Inglaterra obteve
uma maior abertura do mercado chinês, e não apenas para
si, mas também para outras nações do mundo, como a
Alemanha, a França, a Rússia e o Japão.
Em 1900, houve na China uma nova reação nacionalista
contra o domínio dos países industrializados. Essa
revolta, denominada Guerra dos Boxers, foi
violentamente reprimida por forças militares das
grandes potências.
Japão
No início do século XIX, o Japão era cobiçado pelas
potências industriais. O país não apresentava
centralização política: o poder era exercido pelos
grandes proprietários de terras, denominados xóguns. O
comércio do país era vedado ao mundo ocidental, pois os
japoneses temiam que a importação indiscriminada de
mercadorias estrangeiras resultaria na entrada dos
vícios ocidentais.
Em 1854, os Estados Unidos, interessados em estabelecer
sua hegemonia econômica no Pacífico Norte, forçaram,
por meio de uma ação militar violenta, a abertura do
mercado japonês aos produtos ocidentais. Isso provocou
uma também violenta reação nacionalista no Japão,
encabeçada pelos samurais, resultando na centralização
política do país.
A chamada Era Meiji iniciou-se em 1868. Foi a era em
que o governo japonês modernizou sua economia de acordo
com os princípios do capitalismo. A adoção de reformas
modernizadoras, aliada à manutenção de importantes
tradições da cultura japonesa, ajudaram a promover um
rápido e profundo processo de industrialização no país.
Para que isso pudesse ocorrer, o Japão assimilou muitas
técnicas de produção ocidentais. Graças a essas
reformas, o Japão não apenas evitou a expansão
imperialista sobre seu território, mas conseguiu se
transformar em um país imperialista.
O imperialismo japonês se manifestou no final do século
XIX por meio de duas guerras expansionistas: a Guerra
Sino-Japonesa e a Guerra Russo-Japonesa. Procurava o
Japão instituir seu poderio no Pacífico e no Extremo
Oriente.
O imperialismo na África
A África foi o continente mais utilizado para a
expansão territorial imperialista no final do século
XIX e início do século XX. A partilha formal do
continente se iniciou após a realização da Conferência
de Berlim (1884 - 1885), em que o rei Leopoldo II, da
Bélgica, convidou os líderes das principais potências
industriais da época para dividir o rico território
africano.
A penetração imperialista na região foi favorecida pelo
tribalismo imperante no continente, que inviabilizava a
união de esforços entre os indivíduos para barrar a
invasão dos estrangeiros.
A ausência de critérios que levassem em conta as
múltiplas realidades da África acabaram gerando
problemas, que, aliada à exploração predatória do
continente, resultaram em miséria e conflitos étnicos e
políticos.
Inglaterra, França, Bélgica, Alemanha, Itália, Portugal
e Espanha foram os países que se beneficiaram da
partilha da África.
O imperialismo teve como principal resultado o
acirramento das tensões entre os países industriais,
pois alguns deles, notadamente a Alemanha, sentiram-se
prejudicados pelo “pequeno” território colonial que
lhes foi concedido após a partilha.
Darwinismo social, racismo e dominação – Uma visão
geral
24/03/2014

Os negros têm pele escura porque sua região de origem,


a África, recebe intensas radiações ultravioleta. Como
o excesso de sol é nocivo à saúde, a pele escura
protege o organismo e mantém o nível de ácido fólico
(vitamina do complexo B) no corpo, garantindo, assim, a
descendência sadia, pois a deficiência de folato em
mulheres grávidas pode causar graves defeitos no feto.
Ao migrarem para ambiente onde o sol é mais fraco, como
a Europa, os seres humanos passaram a nascer com uma
pigmentação mais clara, enquanto recurso de
sobrevivência para melhor recepcionar e armazenar a
escassez dos raios solares, essenciais para a formação
das vitaminas A e D, evitando, entre outros problemas,
que as pessoas fiquem raquíticas e anêmicas, pois é a
vitamina D que responde pelo sistema imunológico e pelo
desenvolvimento dos ossos. O naturalista Charles Darwin
resume a adaptação do homem à natureza, convencido de
que a evolução é uma série de erros bem-sucedidos.
Por Rodrigo Santos, do Sociedade Racionalista

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Robert Charles Darwin (1809-1882), cientista inglês que


revolucionou o pensamento da Biologia do século XIX com
a Teoria da Seleção Natural, chamada de Evolução das
Espécies, em seu livro A origem das espécies por meio
da seleção natural (1859), demonstra que os organismos
vivos tendem a produzir descendentes ligeiramente
diferentes dos pais, com o processo de seleção natural
favorecendo aqueles que melhor se adaptam ao ambiente.
Alguns seres têm propriedades que os tornam mais aptos
para sobreviverem, evoluindo e transmitindo as
características aos seus descendentes. Darwin concluiu
que as criaturas da fauna e da flora que não se adaptam
ao meio em que vivem estão fadadas ao desaparecimento.

Verifique que essa teoria se refere ao universo da vida


biológica em nosso planeta e, em nenhum momento, o
cientista se arrisca em interpretações sociológicas do
ambiente humano, até porque, como médico e naturalista,
esse não era seu objeto de trabalho. Quando instigado a
fazer qualquer comparação entre sua teoria e o meio
social, Darwin exclamava com indisfarçável inquietação:
“se a miséria de nossos pobres não é causada pelas leis
da natureza, mas por nossas instituições, grande é a
nossa culpa!”.

Todavia, difundira-se no século XIX e XX interpretações


que utilizavam a Teoria da Seleção Natural como
instrumento de análise do meio social. Ideologias
racistas e preconceituosas estas que visavam explicar e
legitimar, de maneira determinista e reducionista, a
desigualdade em um sistema capitalista que alega ter a
igualdade como sua palavra-de-ordem.

As ideias difundidas pelo Darwinismo social acreditam


que as sociedades evoluem naturalmente de um estágio
inferior para os estágios superiores e mais complexos
de organização social. Assim, povos ditos civilizados
(os europeus) têm o dever de ocupar, dominar e explorar
as culturas “mais atrasadas”, a fim de levar-lhes
desenvolvimento, progresso, avanços tecnológicos e
permitir-lhes que alcancem os estágios superiores de
civilização.

Desafortunadamente, no Brasil do século passado, não


faltaram aqueles que deturparam o conceito
evolucionista consagrado por Darwin, ora a serviço dos
interesses dominantes, ou de nações estrangeiras, ora
de grupos racista ou em defesa de suas convicções
pessoais ou interesses financeiros.
Com o objetivo de descobrir se o brasileiro é racista e
que tipo de racismo seria esse, o Instituto Datafolha,
depois de rigoroso levantamento em todas as regiões do
País, publicou o livro Racismo cordial (1995),
concluindo que o brasileiro é racista, sim, só que esse
racismo é “cordial”. A cordialidade está representada
no abismo existente entre os que consideram haver
racismo (89% dos brasileiros) e os que admitem se, eles
próprios, racistas (10%).

A prova maior de nossa discriminação está na


necessidade de fazer constar na Constituição a
classificação de racismo como crime. Diz o artigo 5º,
inciso XLII:

A prática de racismo constitui crime inafiançável e


imprescritível, sujeito à pena de reclusão, nos termos
da lei.

São atos racistas as ações discriminatórias (como não


permitir que um negro entre em uma loja, proibir que um
indígena se hospede em um hotel, impedir que um branco
frequente um clube social). Crime inafiançável é aquele
para o qual é vedado o pagamento de fiança (em
dinheiro), não podendo, consequentemente, o autor do
crime responder por ele em liberdade; é imprescritível
quando a sentença judicial nunca perde a validade,
devendo ser cumprida a qualquer tempo; e a pena de
reclusão determina que o criminoso fique preso numa
penitenciária, em regime fechado.

Início da República no Brasil

O período da Primeira República era comumente dividido


em “República da Espada”, que vai de 1889 a 1894, época
em que o Brasil foi governado pelos militares Deodoro
da Fonseca e Floriano Peixoto, e “República
Oligárquica”, de 1894 a 1930, em que prevaleceram os
interesses dos grandes cafeicultores. Durante a
República da Espada, os militares do Exército
procuraram manter a ordem e centralizar o poder,
reprimindo, por exemplo, rebeliões de setores da Armada
(Marinha). Na República Oligárquica, os grupos das
elites agrárias de São Paulo e de Minas Gerais
assumiram o poder. Os oligarcas eram adeptos do
federalismo, o que dava mais autonomia aos governos
estaduais.

A primeira Constituição da República

Ao tomar o poder, os militares expulsaram do país o


imperador D. Pedro II e organizaram um governo
provisório. Em seguida, convocaram uma Assembleia
Constituinte, formada por representantes dos grupos
sociais que participaram do golpe, a fim de elaborar
uma nova Constituição para o Brasil. Essa Constituição
ficou pronta em 1891 e estabeleceu como regime político
do país a República Federativa.

Veja outras características da Constituição de 1891.


• As províncias passaram a ser chamadas de estados e o
país, de Estados Unidos do Brasil.

• O poder do Estado foi dividido em três: Poder


Executivo, Poder Legislativo e Poder Judiciário.

• O mandato do presidente foi fixado em quatro anos,


sem direito à reeleição.

• Eleições diretas, com voto aberto (não era secreto).


Podiam votar os maiores de 21 anos que não fossem
analfabetos, mendigos, soldados ou religiosos. A
Constituição não fazia referência à participação
política da mulher.

• Os povos indígenas não foram citados no documento da


Constituição.

• Separação entre Estado e Igreja (não haveria mais


religião oficial) e instituição do casamento civil.

Para caracterizar e analisar o política da “República


Oligárquica” assistam ao vídeo abaixo:

Vídeo: REPÚBLICA OLIGÁRQUICA ,no canal Na Cola da


Prova, no site YouTube

Link do vídeo: https://www.youtube.com/watch?


v=06dP0LmBRO4

As desigualdades sociais na Primeira República

A grande imigração
No início da República, ocorreu no Brasil a chamada
“grande imigração”. Nesse período, muitos estrangeiros
deixaram seus países de origem e vieram se estabelecer
no Brasil. Desde a época da proibição do tráfico de
escravizados africanos, em 1850, diversos grupos da
elite brasileira compartilhavam a ideia de que era
necessário trazer imigrantes para o Brasil, a fim de
substituir a mão de obra escravizada. Com a abolição da
escravidão, em 1888, grande parte da elite brasileira
aderiu a essa ideia.

O governo republicano deu grande incentivo à imigração


para o Brasil, investindo no subsídio da viagem das
famílias de imigrantes. Os principais grupos que vieram
para o Brasil nesse período foram os de origens
italiana, portuguesa, espanhola, alemã, japonesa,
libanesa e síria. Esses grupos de imigrantes tinham
cada uma sua própria cultura e, ao se integrarem à
sociedade brasileira, deram uma grande contribuição
para a diversidade cultural presente em nosso país.

Muitos imigrantes que vieram para o Brasil durante a


Primeira República foram trabalhar nos cafezais. O tipo
de contrato estabelecido entre os imigrantes e os
grandes proprietários era o colonato. De acordo com
esse tipo de contrato, todos os integrantes da família,
incluindo homens, mulheres e crianças, deveriam
trabalhar na lavoura de café.

Em troca, cada família recebia uma parte do café


colhido e uma pequena remuneração. Os imigrantes
moravam em pequenas casas localizadas nas sedes das
fazendas. De acordo com o colonato, eles podiam
utilizar pequenos lotes de terras, onde cultivavam
cereais e legumes para sua subsistência, vendendo o
excedente de sua produção. Geralmente os imigrantes
eram proibidos de sair das fazendas em que trabalhavam
sem a autorização do proprietário. A situação de
submissão se agravava ainda mais, pois os contratos
estabelecidos com esses proprietários previa a quitação
das dívidas da migração, obrigando-os a permanecer nas
fazendas. Além disso, frequentemente eram vítimas de
maus-tratos e acabavam fugindo para outras fazendas ou
para as cidades, em busca de melhores condições de
vida.

Conflitos sociais

Durante a Primeira República, as contradições sociais


no país eram enormes. Enquanto as elites agrárias
lutavam pela manutenção do seu poder e influência sobre
o governo central, as classes populares e as populações
indígenas, por exemplo, foram totalmente excluídas da
participação política. A maioria da população vivia em
condições difíceis e enfrentava problemas como falta de
moradia e de trabalho.

Movimentos Messiânicos Líderes religiosos.

Guerra de Canudos (BA 1896 – 1897):

Antônio Conselheiro (líder).


Causas: miséria crônica da população nordestina, má
distribuição de terras, descaso com o trabalhador
rural, seca, aumento de impostos, separação entre
religião e Estado decorrente da proclamação da
República.

Camponeses seguem Antônio Conselheiro, formando o


Arraial de Canudos (ou Arraial do Belo Monte), no
interior da BA.

A Comunidade forma um Estado paralelo a República,


abandonando as fazendas, deixando de pagar o dízimo e
os impostos republicanos.

Governo republicano + Coronéis + Igreja unem-se contra


Canudos.

Campanha de difamação contra Canudos atinge os


principais jornais da capital, associando Canudos ao
retorno da monarquia.

Após 4 expedições militares, Canudos é massacrada.

Fonte bibliográfica frequentemente citada: “Os Sertões”


– Euclides da Cunha.

Revolta de Juazeiro (CE – 1913):

Líder: Padre Cícero.Guerra do Contestado (SC/PR 1912 –


1916):

José Maria (líder).

Causas: exploração de camponeses, concessão de terras e


benefícios para empresas inglesas e americanas que
provocaram a expulsão e marginalização de pequenos
camponeses.

Origem do nome: região contestada entre os estados de


Santa Catarina e Paraná.

Assim como Canudos, os participantes foram


violentamente massacrados.

Banditismo Social ou Cangaço (NE 1890 – 1940):

Bandos armados que percorriam o interior nordestino


sobrevivendo de delitos.

Principais bandos: Lampião e Curisco.

Causas: miséria crônica da população nordestina, seca,


má distribuição de terras, descaso do Estado e dos
coronéis para com os mais pobres, violência.

Mito do “Robin Hood”.

Os cangaceiros foram perseguidos pela polícia volante e


exterminados um a um. Eram os únicos que despertavam
medo nos coronéis, justamente por não terem perspectiva
de melhorar sua condição e, portanto, não precisar
temer o desrespeito das leis vigentes.

Revolta da Vacina (RJ – 1904):

Projeto de modernização do RJ (Presidente Rodrigues


Alves).
Destruição de cortiços e favelas, ampliação das
avenidas, construção de novos prédios inspirando-se em
Paris.

Vacinação obrigatória contra a varíola (Oswaldo Cruz)


desencadeia conflito.

Expulsão de comunidades pobres das regiões centrais,


inflação, alta do custo de vida. Veja imagem abaixo:

Fonte: DIAS, Adriana Machado Vontade de saber:


história: 6° ano: ensino fundamental: anos finais /
Adriana Machado Dias, Keila Grinberg, Marco César
Pellegrini. — 1. ed. — São Paulo: Quinteto Editorial,
2018. Disponível PNLD 2020.

Revolta dos Marinheiros ou Revolta da Chibata (RJ


1910):

João Cândido (líder), posteriormente apelidado de


“Almirante Negro”.

Causas: maus tratos, baixos soldos, péssima alimentação


e castigos corporais (como a chibata, por exemplo)
dentro da marinha.

Marinheiros tomam 2 navios e ameaçam bombardear o Rio


caso continuassem os castigos na marinha.

O Governo promete atender as reivindicações e solicita


que marinheiros se entregassem.
Os envolvidos foram presos e mortos. João Cândido
sobrevive, mas é expulso da marinha.

Castigos corporais na marinha são abolidos.

Movimento operário:

Causas: ampla exploração dos trabalhadores urbanos das


fábricas e ausência de legislação trabalhista que
amparasse os trabalhadores.

Até a década de 20 predomínio de imigrantes italianos


de ideologia anarquista.

Principais formas de luta: formação de sindicatos e


organização de greves.

A partir de 1922 o principal instrumento de luta


operária foi o PCB, que tentava organizar os operários.

Postura do governo em relação ao movimento operário:


repressão (“caso de polícia”).

Nesta aula aprendemos que durante o período da


emergência da República no Brasil, grupos ligados à
oligarquia cafeeira exerciam grande parte do domínio
político e econômico no país. Caracterizamos e
exemplificamos as condições sociais dando destaque
para:

• No início do período Republicano, algumas revoltas e


movimentos ocorreram no Nordeste e no Sudeste, como a
revolta dos marinheiros e o movimento de Canudos. Esses
movimentos lutavam contra as desigualdades do regime
republicano e pela garantia de direitos.

• Após a abolição, os ex-escravizados não obtiveram


suporte para que fossem integrados à sociedade
brasileira e para que pudessem exercer seus papéis como
cidadãos. Muitos grupos criaram as redes de
solidariedade para lutar por melhores condições de
vida.

• Muitos elementos das culturas de origem africana,


trazidos pelos escravizados, fazem parte da formação
das tradições atuais brasileiras.• No início do período
Republicano, algumas das cidades brasileiras passaram
por um processo de urbanização e modernização, e o
Estado brasileiro promoveu uma série de reformas.
Entretanto, essas transformações não atingiram todos os
setores da população e ficaram restritas aos grupos da
elite.

Resumo da história da República Brasileira


A história da República Brasileira foi marcada por
inúmeros golpes de Estado e pela instabilidade
política, cenário que parece ter mudado no início do
século XXI.

A História da República Brasileira iniciou-se em 1889


com a Proclamação da República e acompanhou todo o
período posterior, até o século XXI. A difusão dos
ideais republicanos remonta ao período colonial, como
durante a Inconfidência Mineira e a Conjuração Baiana,
no final do século XVIII. Apesar dos ideais e das
revoltas buscarem a superação da monarquia, apenas no
final do século XIX, com o fim do escravismo, as elites
agrárias do país aceitaram organizar o Estado
brasileiro nos moldes republicanos.

O fato de a República nascer como uma aceitação das


elites e ter sido realizada através da espada do
exército brasileiro conformou um caráter autoritário e
excludente do Estado brasileiro, garantindo os
privilégios das classes dominantes e a negação de
direitos às classes exploradas durante muito tempo. A
participação do exército na vida política nacional foi
também uma constante da história republicana do país,
que pode ser dividida em algumas fases.

Tópicos deste artigo

• 1 - Primeira República

• 2 - Era Vargas

• 3 - Quarta República

• 4 - Ditadura Militar

• 5 - A Nova República

Primeira República

A República Velha, ou Primeira República, é o primeiro


período dessa história, compreendida entre a
Proclamação da República em 1889 e a Revolução de 1930.
Inicialmente ela foi caracterizada pela presidência de
dois marechais do exército, o que lhe garantiu o nome
de República da Espada. Após esses dois mandatos, a
elite rural paulista e mineira passaram a deter o poder
do governo federal, garantindo o poder da oligarquia
agrária, o que deu fundamento aos historiadores para
chamarem esse período de República Oligárquica.

Foi nesse período que o país conheceu uma série de


revoltas urbanas e rurais decorrente das mudanças
sociais e políticas pelas quais passaram o país. É de
se destacar a Guerra de Canudos, de 1896-1897, e a
Revolta da Vacina, de 1904. Foi nesse período que o
Brasil iniciou sua industrialização, alterando a
paisagem urbana de algumas cidades e criando as
condições para a formação da classe operária em
território nacional.

Essas mudanças resultaram em novas pressões políticas e


sociais, que as oligarquias paulistas e mineiras não
poderiam mais controlar. A Revolução de 1930 foi o
ápice desse processo, o que resultou no período
conhecido como Era Vargas.

Era Vargas
A Revolução de 1930 elevou Getúlio Vargas ao poder,
permanecendo como presidente até 1945. Durante seu
Governo Provisório (1930-1934), o novo presidente
conseguiu contornar os conflitos entre as elites
nacionais, principalmente com a vitória sobre a
oligarquia e burguesia industrial paulista durante a
Revolução Constitucionalista de 1932.

A promulgação da Constituição em 1934 e a abertura de


um processo democrático selaram o acordo entre as
várias frações da classe dominante nacional. Porém, não
puderam conter a insatisfação dos setores populares. É
nesse sentido que se pode entender o surgimento do
Partido Comunista Brasileiro e a tentativa de derrubar
o governo de Vargas, através do que ficou conhecido
como Intentona Comunista de 1935.

A tentativa do PCB serviu de pretexto para Vargas dar


um golpe de Estado em 1937, pondo fim ao período
constitucional e inaugurando o Estado Novo. Mesmo
contendo as forças do integralismo, o Estado Novo
marcou mais um período de extremo autoritarismo do
Estado Brasileiro.

Uma nova Constituição foi adotada e o Congresso foi


fechado. Como forma de conter a insatisfação popular e
conseguir aumentar o poder de consumo do mercado
interno, Vargas promulgou uma série de leis que
garantia alguns direitos à classe trabalhadora urbana,
além de proporcionar um nível de renda que
impulsionasse o esforço de industrialização.

A industrialização somada a medidas de racionalização


da administração pública caracterizou o esforço de
modernizar o Estado brasileiro, garantindo as condições
de fortalecimento tanto da burguesia industrial quando
da tecnocracia das empresas estatais e da administração
pública.

Quarta República

Ao fim da Segunda Guerra Mundial, em 1945, Vargas


estava enfraquecido. Um golpe comandado pelo general
Góes Monteiro o retirou do poder. Uma nova Constituição
foi adotada em 1946, garantindo a realização de
eleições diretas para presidente da República e para os
governos dos estados. O Congresso Nacional voltou a
funcionar e houve alternância no poder.

Entretanto, foi um período de forte instabilidade


política. As mudanças sociais decorrentes da
urbanização e da industrialização projetavam novas
forças políticas que pretendiam aprofundar o processo
de modernização da sociedade e do Estado brasileiro, o
que desagrava as elites conservadoras. O período foi
marcado por várias tentativas de golpe de Estado,
levando inclusive ao suicídio de Getúlio Vargas, em
1954.
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O governo de JK conseguiu imprimir um acelerado


desenvolvimento industrial em algumas áreas, mas não
pôde resolver o problema da exclusão social na cidade e
no campo. Essas medidas de mudança social iriam compor
a base das propostas do Governo de João Goulart. O
estado brasileiro estava caminhando para resolver
demandas há muito reprimidas, como a reforma agrária.
Frente ao perigo que representava aos seus interesses
econômicos e políticos, as classes dominantes mais uma
vez orquestraram um golpe de Estado, com a deposição
pelo exército de João Goulart, em 1964.

Ditadura Militar

Iniciada em 01 de abril de 1964, a Ditadura Militar foi


um dos períodos mais repressivos da História da
República. Inúmeros grupos políticos foram cassados, e
seus membros torturados e mortos. O que diferenciou o
período foi a sistematização da repressão estatal
aliada ao incentivo ao desenvolvimento econômico.

A estrutura estatal repressiva, de impedimento do


exercício da oposição política através de instituições
policiais, garantiu a estabilidade social necessária
aos investimentos estrangeiros. Foi o período do
milagre econômico brasileiro e da tentativa de
transformação do país em uma potência mundial.
A ditadura existiu até 1985 quando as pressões
populares por abertura política tomaram as ruas do
país, principalmente na campanha das Diretas Já. Mesmo
com milhares de pessoas nas ruas, a reforma do Estado
foi feita de forma “lenta e gradual”, como queriam os
militares.

No lado da classe trabalhadora, surgiu um vigoroso


movimento sindical na década de 1970, principalmente
depois das greves no ABC paulista, entre 1978 e 1980.
Esse movimento sindical tornar-se-ia uma das
características do período posterior.

A Nova República

A Nova República iniciou-se com o governo de José


Sarney e permanece até os dias atuais, com o primeiro
mandato da presidente Dilma Rousseff. Sarney foi eleito
através do voto indireto e durante seu governo foi
elaborada uma nova Constituição, promulgada em 1988,
que garantia eleições diretas e livres a todos os
cargos eletivos. A divisão dos poderes foi mantida e
uma nova perspectiva democrática liberal se abriu no
país.

O primeiro presidente eleito diretamente desde 1960 foi


Fernando Collor de Melo, em 1989. Porém, os escândalos
de corrupção o fizeram renunciar em 1992. A partir
dessa renúncia, marcaram a história política da
República os mandatos de dois governantes. O primeiro
foi Fernando Henrique Cardoso que com o Plano Real pôde
garantir a estabilidade econômica necessária aos
investimentos estrangeiros. Esses investimentos foram
possíveis em decorrência das privatizações realizadas
em setores específicos da econômica, como
telecomunicações, mineração e siderurgia. Por outro
lado, tais medidas representaram o enxugamento das
funções do Estado brasileiro, marcando o período do
neoliberalismo no Brasil.

FHC governou até 2002, quando foi substituído por Luiz


Inácio Lula da Silva. O primeiro presidente de origem
operária da República buscou caracterizar seu governo
pela distribuição de renda, possibilitada pela
estabilidade econômica do período anterior. A
distribuição de renda ocorreu através de políticas como
Bolsa Família, que além de uma renda mínima, garantiu a
obrigatoriedade de um nível educacional mínimo à quase
toda a população em idade escolar, uma uniformização
federal de procedimentos administrativos e o estímulo
econômico a regiões extremamente pobres do território
nacional.

Apesar da estabilidade política dos dois governos acima


mencionados, os casos de corrupção também se fizeram
presentes, como as acusações de compra de votos para a
reeleição durante o governo FHC, em 1998, e o escândalo
do mensalão, no governo Lula, em 2005.
A alternância do poder garantiu ainda a eleição da
primeira mulher para a presidência da República, em
2010. Esse é um dos mais marcantes fatos da recente
história republicana brasileira.

Proclamação da República

A Proclamação da República aconteceu em 15 de novembro de


1889 e representou o fim do Segundo Reinado e o início do
período republicano. Desde a Guerra do Paraguai, os
militares fortaleceram-se como grupo social e almejavam
maior participação na política. O Clube Militar no Rio de
Janeiro se tornou local para discussões sobre as causas
republicanas.

Dom Pedro II, utilizando o Poder Moderador, impediu a


participação militar na política brasileira durante o
Segundo Reinado. E foi justamente um levante miliar o
responsável pela deposição do segundo imperador brasileiro.
Logo após a instalação da República, a família real foi
exilada na França.

Leia também: República do Café com Leite – alternância de


poder entre SP e MG

Contexto histórico da Proclamação da República

A Guerra do Paraguai, que ocorreu de 1864 a 1870, foi


vencida pela Tríplice Aliança, formada por Brasil, Argentina
e Uruguai, mas trouxe graves consequências para o governo de
Dom Pedro II. Os militares que retornaram após a guerra
estavam mais conscientes da sua importância na sociedade por
causa da vitória e desejavam participar ativamente dos
destinos do Brasil. O segundo imperador brasileiro estava
cada vez mais ausente do país para tratamento de questões de
saúde, o que enfraquecia a monarquia e fortalecia o discurso
do movimento republicano de que Dom Pedro II não tinha mais
condições de ser o governante do Império.

Os republicanos utilizaram a imprensa para divulgar seus


discursos e atacar o imperador. Os jornais republicanos eram
lidos pela elite, e os temas neles trazidos provocavam
discussões no Clube Militar e em praça pública. O pensamento
positivista estava em destaque na Europa, e o militar
Benjamim Constant foi o responsável por trazer as ideias de
Augusto Comte para as Forças Armadas. As ideias de que a
ciências e o progresso poderiam desenvolver o Brasil
ganharam força entre os militares adeptos ao republicanismo.

As crises que o Império atravessava só reforçavam os


discursos republicanos da necessidade de se encerrar o
Segundo Reinado e iniciar um novo governo no Brasil que
possibilitasse o desenvolvimento em todas as áreas da
sociedade brasileira.

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Causas da Proclamação da República

As causas da Proclamação da República estão ligadas à crise


do Segundo Reinado. O movimento republicano se apresentou
como a solução para essa crise, angariando apoio da elite
brasileira. Apesar do apoio popular à pessoa do imperador,
seu governo já não era mais efetivo, já não conseguia conter
a crise do final do século XIX. A historiografia tem por
tradição denominar as causas da proclamação da república
como questões.

A Questão Militar foi o atrito entre Dom Pedro II e os


militares. Aproveitando a força da vitória na Guerra do
Paraguai, os militares quiseram participar efetivamente da
política brasileira, mas Dom Pedro II, utilizando o Poder
Moderador, impediu essa participação. O Exército, em
especial, mostrava-se como “salvador da pátria”, como se
fosse o único detentor da solução para a crise enfrentada
pelo Império.

A união entre Império e Igreja também foi motivo de atritos


entre Dom Pedro II e religiosos católicos. Procurando seguir
as normas vindas do Vaticano no final do século XIX de
combate à maçonaria, vários bispos proibiram a participação
de maçons em qualquer ordem religiosa. Ao mandar prender os
bispos que decidiram cumprir à risca tal medida, a questão
religiosa provocou o rompimento entre o imperador e o
catolicismo.

Outra questão determinante para o fim do Império e a


consequente Proclamação da República foi o fim da escravidão
em 13 de maio de 1888. A abolição aconteceu sem nenhum
pagamento de indenização. Com isso, os fazendeiros romperam
com Dom Pedro II e se aproximaram do movimento republicano.
Na época, esses fazendeiros foram chamados de “republicanos
de última hora”.

O enfraquecimento de Dom Pedro II e o agravamento do seu


estado de saúde deixaram o Segundo Reinado sem um comando,
sem uma liderança, o que favoreceu o movimento das tropas do
marechal Deodoro da Fonseca, em 15 de novembro de 1889, a
decretar o fim do Império e instalar a república no Brasil.

Veja também: Governo Floriano Peixoto – segundo governo


republicano do Brasil

O Marechal Deodoro da
Fonseca liderou as tropas que derrubaram Dom Pedro II e
instalaram a República no Brasil.

Objetivos e participantes da Proclamação da República

Os republicanos já desejavam instalar a república logo após


a proclamação da Independência em 1822. Várias revoltas
provinciais no período imperial tinham a república como
principal objetivo. Esse tipo de governo daria maior
autonomia às províncias, reduzindo o poder central. Porém, a
forte repressão do governo imperial reduziu as chances de se
instalar uma república no Brasil antes de 1889.

Os militares inspirados nos ideais positivistas colocaram-se


perante a sociedade como “salvadores da pátria”, aqueles que
poderiam desenvolver o país com ordem e progresso, tendo a
ciência como grande fiadora de suas ações. Esses ideais
ganharam força entre os miliares e foram discutidos no Clube
Militar. Os fazendeiros que não foram indenizados após a
abolição da escravidão em 1888 mudaram de lado, aguardando
apoio econômico do novo governo.

Quem proclamou a República?

A
Proclamação da República aconteceu no Rio de Janeiro, em 15
de novembro de 1889.
Apesar de ser aliado de Dom Pedro II, o marechal Deodoro da
Fonseca aproximou-se dos grupos militares alinhados com o
positivismo. Ele assumiu a liderança dos republicanos no
Exército e, em 15 de novembro de 1889, comandou as tropas
que depuseram Dom Pedro II.

Com Deodoro, chegavam ao poder os militares, que dominaram a


política brasileira nos primeiros anos da república. O
marechal tornou-se o primeiro presidente do Brasil. Seu
governo e o do seu sucessor, o marechal Floriano Peixoto,
são chamados na historiografia de República da Espada (1889-
1894).

Consequências da Proclamação da República

As consequências da proclamação da República foram:

• chegada dos militares ao poder e sua influência nos


primeiros governos republicanos;
• fim do Segundo Reinado;
• extinção do Poder Moderador;
• separação entre Estado e Igreja, garantindo liberdade
religiosa;
• maior autonomia para as províncias, que, depois do 15
de novembro de 1889, transformaram-se em estados.

Resumo sobre a Proclamação da República

• Crise do Império: questão religiosa, militar e


escravista.
• Militares foram influenciados pelos ideais
positivistas e se mostraram como “salvadores da
pátria”.
• A Proclamação da República aconteceu em 15 de novembro
de 1889 por meio da liderança do marechal Deodoro da
Fonseca.

Primeira República
A Primeira República foi iniciada com a Proclamação da
República e ficou marcada pelo predomínio das
oligarquias na política nacional. Esse período
encerrou-se em 1930.

Campos Sales, presidente brasileiro entre 1898 e 1902 e


o arquiteto da política dos governadores.*

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A Primeira República é o período da história do Brasil


que aconteceu de 1889 a 1930, tendo sido iniciado com a
Proclamação da República que aconteceu em 15 de
novembro de 1889 e encerrou-se com a deposição de
Washington Luís como consequência da Revolução de 1930.
Esse período é conhecido por muitos como República
Velha, mas entre os historiadores o termo utilizado
para referir a esse período é Primeira República.

Acesse também: A história de vida de uma das principais


personagens da história do Brasil

Tópicos deste artigo

• 1 - Proclamação da República

• 2 - Periodização

• 3 - Mapa Mental - Primeira República
• 4 - Características
• Política dos governadores
• Política do café com leite

• 5 - Economia

• 6 - Decadência da Primeira República

• 7 - Resumo

Proclamação da República

A Primeira República foi iniciada com a Proclamação da


República, que aconteceu no dia 15 de novembro de 1889.
A derrubada da monarquia ocorreu pela perda de apoio
político fazendo com que esse regime se tornasse
impopular entre as elites do Brasil. Os militares,
insatisfeitos com a monarquia há tempos, e uma parcela
da sociedade civil, sobretudo os oligarcas paulistas,
organizaram um movimento para derrubar a monarquia.

Em 15 de novembro, liderados pelo marechal Deodoro da


Fonseca, os militares destituíram o Visconde de Ouro
Preto do Gabinete Ministerial. Ao longo do dia, as
movimentações políticas levaram José do Patrocínio a
proclamar a República na Câmara Municipal do Rio de
Janeiro. Isso marcou o início da Primeira República
Brasileira.

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Periodização

A Primeira República, conforme já mencionado, estendeu-


se de 1889 a 1930. Um período específico da Primeira
República que foi de 1889 a 1894, também é conhecido
como República da Espada. Esse nome se deve ao fato de
que os dois presidentes brasileiros (Deodoro da Fonseca
e Floriano Peixoto) foram militares. A República da
Espada, porém, é um período incorporado à Primeira
República.

Toda a Primeira República pode ser dividida em três


grandes fases, conforme estabelece o professor Marcos
Napolitano|1|:

• Consolidação (1889-1898): período marcado pela


consolidação das estruturas políticas e econômicas
da Primeira República. Foi assinalado por crises na
política e na economia.
• Institucionalização (1898-1921): período no qual a
estrutura política da Primeira República estava
devidamente consolidada. Aqui se definiram
políticas como a dos governadores e do café com
leite.
• Crise (1921-1930): período no qual as estruturas
políticas da Primeira República entraram em crise
por conta da incorporação de novos atores na
política brasileira. Conflitos entre as oligarquias
também contribuíram para o fim da Primeira
República.

Mapa Mental - Primeira República

*Para baixar o mapa mental, clique aqui!

Características

A Primeira República, além de República Velha, é muito


conhecida também como República Oligárquica e isso
porque esse período ficou marcado pelo predomínio das
oligarquias sobre nosso país. As oligarquias eram
forças políticas que baseavam o seu poder em suas
posses, isto é, na terra (os oligarcas eram, em geral,
grandes proprietários de terra).

O predomínio das oligarquias sobre a política do Brasil


começou a ser consolidado a partir de 1894, quando
Prudente de Morais foi eleito presidente. A eleição de
Prudente de Morais também marcou o fim do citado
período conhecido como República da Espada. O
predomínio das oligarquias resultou em algumas
características que são consideradas grandes marcas da
Primeira República.

Essas características são o mandonismo, o clientelismo


e o coronelismo. Essas três simbolizam o poder das
elites agrárias do país manifestado na posse de terras,
além de manifestar o poder dos coronéis sobre as
regiões interioranas do Brasil e a troca de interesse,
elemento fundamental para a sustentação das oligarquias
no poder.

Outras características muito importantes desse período


foram as políticas que sustentavam as estruturas no
âmbito político do Brasil. Aqui estamos falando da
política dos governadores e da política do café com
leite. Essas políticas foram muito importantes, porque
reduziram os conflitos entre as oligarquias, mas não
acabaram com eles.

• Política dos governadores

A política dos governadores, também conhecida como


política dos estados, foi criada durante o governo de
Campos Sales, presidente do Brasil entre 1898 e 1902.
Foi com a política dos governadores que o funcionamento
político brasileiro na Primeira República foi
estruturado. Por meio dessa política, foi possível
realizar uma aliança entre executivo e legislativo.

O historiador Boris Fausto definiu os objetivos da


política dos governadores da seguinte maneira:

Seus objetivos podem ser assim resumidos:


reduzir ao máximo as disputas políticas no
âmbito de cada Estado, prestigiando os
grupos mais fortes; chegar a um acordo
básico entre a União e os Estados; pôr fim
à hostilidade existente entre Executivo e
Legislativo, domesticando a escolha dos
deputados|2|.

Na prática, essa política funcionava da seguinte


maneira: o Governo Federal daria apoio à oligarquia
mais poderosa de cada Estado. Em troca, o governo
exigia que cada oligarquia apoiasse as propostas do
Governo Federal no legislativo.

Assim, as oligarquias deveriam eleger deputados


dispostos a atuar em favor do governo no legislativo.
Com o apoio à oligarquia mais poderosa, o Governo
Federal esperava que os conflitos políticos
respingassem o mínimo possível no âmbito federal e
ficassem reduzidos apenas ao âmbito estadual.

O funcionamento da política dos governadores dependia


consideravelmente da figura do coronel, pois seria ele
que, a nível regional, mobilizaria os votos necessários
para eleger os candidatos certos, de acordo com o
interesse de cada oligarquia.

O coronel usava seu poder financeiro para pressionar as


pessoas a votar em determinado candidato. Essa
intimidação dos eleitores é conhecida como “voto de
cabresto”. Além da intimidação, a fraude das atas que
registravam os votos eram uma prática comum.

• Política do café com leite

A política do café com leite é um conceito clássico


quando nos referimos à Primeira República. Essa
política ganhou força no Brasil, sobretudo a partir de
1913, com a assinatura do Pacto de Ouro Fino, entre as
oligarquias de São Paulo e Minas Gerais. Esse conceito
refere-se ao revezamento dos candidatos lançados à
presidência por essas duas oligarquias.

Segundo esse pacto, paulistas e mineiros alternavam-se


na presidência da República. O nome “café com leite”
faz referência ao fato de que São Paulo era o maior
produtor de café do Brasil, enquanto que Minas Gerais
era o maior produtor de leite.

O uso desse conceito para explicar a Primeira República


tem sido criticado pelos historiadores, porque as
oligarquias mineira e paulista eram importantes, mas o
funcionamento jogo político desse período não passava
exclusivamente por elas, uma vez que existiam outras
oligarquias no país.

Economia

No campo econômico, o Brasil seguiu com grande


dependência do café. O grande produtor dele no Brasil
era o estado de São Paulo. No começo do século XX, os
cultivadores começaram a aumentar a quantidade de café
produzida, o que acarretou a queda do preço desse
produto, uma vez que o mercado ficou abarrotado com a
mercadoria. Visando a defender seus interesses, os
cafeicultores reuniram-se no Convênio de Taubaté.

Nesse convênio, decidiu-se que o governo brasileiro


compraria o excedente de sacas de café com o objetivo
de controlar o preço desse produto no mercado
internacional. Isso garantiria os lucros dos
fazendeiros e resolveria a questão do preço do café.
Além disso, decidiu-se que o Estado realizaria um
empréstimo de 15 milhões de libras para conseguir
realizar a compra do excedente dessas sacas.

Na Primeira República também aconteceu um pequeno


desenvolvimento industrial, sobretudo no Estado de São
Paulo. O desenvolvimento industrial em São Paulo foi,
em parte, financiado pela prosperidade do negócio
cafeeiro e a cidade de São Paulo concentrou grande
parte desse crescimento industrial.

As indústrias receberam um grande número de


trabalhadores imigrantes e o crescimento industrial
resultou no surgimento do movimento operário do Brasil,
sobretudo a partir de 1917, quando aconteceu a
Revolução Russa.

Acesse também: Saiba mais sobre o período mais sombrio


da história brasileira

Decadência da Primeira República

A Primeira República iniciou sua fase decadente na


década de 1920. A entrada de novos atores na política
nacional, como os tenentistas, contribuiu para seu fim.
O desgaste do pacto que mantinha as oligarquias
minimamente em paz também contribuiu para o fim desse
período da história brasileira. Na década de 1920, os
tenentistas foram uma força que abalou a estrutura da
Primeira República.

Isso aconteceu porque os tenentistas reivindicavam o


fim das estruturas oligárquicas que estavam
estabelecidas no país. Ao longo da década de 1920, os
tenentistas realizaram uma série de revoltas por todo o
país como a Revolta dos 18 do Forte de Copacabana, a
Revolta Paulista de 1924 e a Coluna Prestes.

Importante mencionar que a Primeira República foi um


período marcado por tensões sociais que resultaram em
conflitos por diferentes regiões do Brasil. Aqui
podemos citar a Guerra de Canudos, Revolta da Armada,
Guerra do Contestado, Revolta da Vacina, Revolta da
Chibata etc. Leia este texto para saber mais sobre
revoltas da Primeira República.

O estopim para o fim da Primeira República foi a


eleição presidencial de 1930. Naquela ocasião, o
presidente Washington Luís resolveu romper com o Pacto
de Ouro Fino e em vez de lançar um candidato mineiro
optou por lançar Júlio Prestes, candidato paulista.
Isso desagradou profundamente a oligarquia mineira que
se aliou à oligarquia gaúcha e aos tenentistas, e
juntos lançaram Getúlio Vargas como candidato
presidencial.

Getúlio Vargas foi derrotado, mas membros de sua chapa


eleitoral, inconformados com a derrota, começaram a
conspirar contra o governo. A desculpa utilizada pelos
membros da Aliança Liberal (chapa de Vargas) para
iniciar uma revolta armada contra o governo foi o
assassinato de João Pessoa, vice-presidente de Vargas.
O assassinato de João Pessoa, porém, não teve relação
com a disputa eleitoral entre Júlio Prestes e Vargas.

A revolta contra o governo, nomeada como Revolução de


1930, iniciou-se em 3 de outubro de 1930, e, no mesmo
mês, no dia 24, resultou na deposição de Washington
Luís da presidência. Júlio Prestes foi impedido de
assumir a presidência do país e, em novembro do mesmo
ano, Getúlio Vargas foi empossado como presidente
provisório do país. Esse era o fim da Primeira
República, e o início da Era Vargas, período que se
estendeu por quinze anos.

Resumo

• A Primeira República foi iniciada com a Proclamação


da República em 15 de novembro de 1889.
• A posse de Getúlio Vargas como presidente, após a
Revolução de 1930, marcou o fim desse período.
• A política dos governadores e a política do café
com leite eram práticas importantes desse período.
• A Primeira República pode ser dividida em República
da Espada e República Oligárquica.
• Outras características importantes desse período
foram mandonismo, clientelismo e coronelismo.
• O Convênio de Taubaté foi um acontecimento
importante, pois garantiu os interesses dos
cafeicultores paulistas.

TRABALHISMO NA ERA VARGAS

ESTRATÉGIAS DE ENSINO-APRENDIZAGEM
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A partir da década de 1930, vislumbramos um novo


cenário político no Brasil onde a relação dos cidadãos
e as instituições de controle político sofrem uma
sensível mudança. A nação, grosso modo, sofreu uma
mudança em sua arena política. Nesta época, as
populações camponesas deixaram de representar a maioria
dos cidadãos e trabalhadores que configuraram o cenário
político dessas nações. Para tanto, os processos de
industrialização e urbanização são de fundamental
importância.

De acordo com alguns historiadores, a expansão das


cidades vai criar um processo de complexificação das
relações entre o capital e o trabalho. Tal fato se
exprimira em um processo onde os antagonismos entre as
classes operárias e os capitalistas vão se avolumar de
tal maneira nunca antes vista. Agrupados em
instituições sindicais, os trabalhadores vão exigir
melhores condições de vida e trabalho em um contexto
intelectual de plena modernização das idéias e dos
governos.

No entanto, o que significava esta modernidade?


Significava o fortalecimento de regimes democráticos
através de eleições livres e diretas que pudessem dar o
direito de ampla participação política ao cidadão. De
tal maneira, poderíamos agora supor que as classes
trabalhadoras (agora majoritariamente urbanas) tivessem
como, principalmente por meio dos novos meios de
informação (rádio e TV), protagonizar as principais
decisões políticas de seu tempo.

Essa possibilidade de articulação e mobilização da


população pode ser observada na ascensão dos
sindicatos, greves e partidos de oposição que se
mobilizaram frente ao governo. No entanto, aqui no
Brasil, o Governo de Getúlio Vargas será de fundamental
importância para que essa mobilização se desarticule
por meio de dois elementos fundamentais: a propaganda e
o controle. Não é à toa que recomendamos ao professor
de história que utilize de cartazes e eventos oficias
para que os alunos compreendam tal momento.
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Trabalhando dois documentos disponíveis do CPDOC da


Fundação Getúlio Vargas, temos um exemplo claro de como
o regime varguista agiu. Na Imagem 01, temos uma foto
onde os trabalhadores assistem um desfile de 1º de maio
organizado pelo governo em homenagem ao trabalhador.
Interessante ressaltar a passividade e o apoio dos
trabalhadores à manifestação organizada pelas
autoridades da época. Além disso, podemos refletir
porque não são os próprios trabalhadores que tomam a
frente no evento.

História do Trabalhismo no Brasil

Por Pedro Eurico Rodrigues

Mestrado em História (UDESC, 2012)

Graduação em História (UDESC, 2009)

Ouça este artigo:

O trabalhismo é um conceito bastante amplo e, no


Brasil, está diretamente relacionado ao governo de
Getúlio Vargas, iniciado em 1930. Getúlio Vargas
tornou-se presidente da república em um evento
conhecido na história do Brasil como Revolução de 1930.
Ela marcou o fim da chamada república oligárquica, em
que o poder circulava especialmente entre os
representantes da elite paulista e que tinha como ideal
o liberalismo. A ascensão de Vargas ao poder foi o
início de uma nova forma de organização social, marcada
por um estado de compromisso e por trazer um novo ator
político para a vida pública: o trabalhador.

Foi dialogando com os trabalhadores e tornando-os


centrais em suas projeções políticas que Vargas fez do
trabalhismo a sua ideologia principal. Isso se torna
mais evidente, principalmente, a partir do início do
Estado Novo, a forma de governo autoritária varguista,
que durou de 1937 a 1945. Durante o Estado Novo houve,
ao mesmo temo, uma ascensão do autoritarismo e, também,
um crescimento significativo nas construções de imagens
sobre o país.

Com a criação do Departamento de Imprensa e Propaganda,


o DIP, foi se construindo em imagens, sons e
representações a figura do trabalhador ideal. Havia a
valorização do trabalho e do trabalhador. A criação do
Ministério do Trabalho foi igualmente importante para
esse movimento ideológico. Durante o governo varguista,
especialmente durante o Estado Novo, o trabalhismo foi
uma ideologia fomentada no seio do governo. Mas, com a
criação do PTB – o Partido Trabalhista Brasileiro, que
passou a ser o partido de Getúlio Vargas – o
trabalhismo virou um projeto político do partido em
questão, tornando-se central para o aglutinamento de
políticos e apoiadores ao seu redor.

Getúlio Vargas assina a criação do Ministério do


Trabalho.
É preciso lembrar que a questão trabalhista era latente
no Brasil do início do século XX. Se em maio de 1888
houve a libertação dos sujeitos escravizados por meio
da Lei Áurea, a gestão da população e o incentivo ao
trabalho moderno falhou, jogando milhares de homens e
mulheres negros nos trabalhos informais. A questão
trabalhista no Brasil, portanto, estava posta. Com o
início das atividades fabris e industriais passou a
ocorrer mobilização de trabalhadores. Engana-se quem
pensa que a figura do trabalhador é aquela do homem
imigrante europeu branco: havia associação de mulheres
costureiras que reivindicavam direitos; havia homens e
mulheres trabalhadores e trabalhadoras negros que
lutavam por seus direitos. E havia também os
imigrantes, que aqui chegaram com promessas de terra e
prosperidade, e que muito demoraram a encontrar o
prometido.

Anarquistas, socialistas e comunistas passaram a se


organizar e reivindicar direitos trabalhistas já na
década de 1920. Lutavam pela redução da jornada de
trabalho, férias, férias remuneradas, descanso semanal
remunerados, salários dignos. Esses rebeldes pouco
tiveram espaço, e no espaço que tiveram foram
combatidos. Foi esta então a estratégia de Vargas:
valorização do trabalhador, tornando-os cidadãos
necessários para a nova república que ali se anunciava.
Entre 1930 e 1945 houve uma intensa construção na
valorização do trabalho e do trabalhador – que se
tornaram lemas de Vargas, difundidos pela sociedade –
até nas escolas. A criação do Ministério do Trabalho,
da Indústria e do Comércio em 1930 e a Consolidação das
Leis Trabalhistas foram fundamentais para a construção
da identidade do trabalhador para o Brasil. Há quem
interprete o período da ideologia trabalhista como
populismo, como muitas vezes o governo Vargas é
caracterizado.

Havia, pois, a consolidação da imagem do trabalhador


nacional como marca ideológica do governo varguista. O
Estado Novo investiu nessa imagem e a explorou, fazendo
de Getúlio Vargas o pai dos pobres. Durante o período
democrático que seguiu o governo Vargas o trabalhismo
permaneceu no jogo político através do Partido, mas, a
partir de 1964 a ideologia trabalhista foi obliterada.
Foi somente no final da Ditadura Militar que algumas
lideranças sindicais começaram a protagonizar greves e
lutas operárias, projetando-se no cenário político
nacional, como foram as Greves do ABC e de Contagem a
partir de 1979. A ascensão de figuras políticas como
Luiz Inácio Lula da Silva e a criação do Partido dos
Trabalhadores mostra como a ideologia trabalhista ainda
tem força no Brasil.

Capitalismo em risco: Revolução Russa e a Crise de 29


Aprenda tudo sobre a ascensão do Capitalismo, a deflagração
da Revolução Russa e a crise de 29 nos Estados Unidos e
prepare-se para gabaritar o vestibular!

Desde seu início, o capitalismo foi cada vez mais sendo


aprimorado, chegando ao seu auge. Com o surgimento do
capitalismo monopolista, se viu ainda mais forte e
necessário. Porém, com a Revolução Russa de outubro de
1917 e sua adesão ao socialismo, o mundo percebeu que
existiam outras possibilidades, além do então desigual
capitalismo. Além disso, a crise de 1929, decorrente em
muito da primeira guerra mundial, considerada uma
guerra puramente capitalista, pôs em xeque o
capitalismo como era visto.

Início da divisão mundial: capitalismo X socialismo

Antecedentes da Revolução
A estrutura semifeudal russa (resquício da Idade Média)
dava à Rússia um caráter rural e agrícola, o que
ajudava em muito a manter a fraca industrialização,
restrita a algumas cidades e dependentes de capital
externo. Além disso, os russos criticavam o absolutismo
monárquico, o que fez com que o contato com novas
ideologias e influências externas possibilitasse a
formação de partidos políticos (Partido Constitucional
Democrata – Kadetes, burgueses / Partido Operário
Social Democrata Russo – POSDR, camadas médias,
intelectuais, soldados, operários e camponeses). Em
1903, houve a cisão do POSDR e a formação de dois novos
partidos com sua “quebra”:

• Os Mencheviques: socialismo em aliança com a


burguesia. Segundo eles, a Rússia deveria primeiro
se fortalecer e enriquecer com o capitalismo e
depois fazer a Revolução;
• os Bolcheviques: com os líderes Trotsky e Lênin,
aspiravam o socialismo sem qualquer tipo de aliança
com o burguesia. Além disso, segundo eles, se fosse
necessário que a Rússia se industrializasse, seria
pelas mãos do governo.

Posterior a isso houve o chamado “Domingo sangrento”


(22 de janeiro de 1905), no qual uma manifestação
contra o Czar (que ficou conhecida como ensaio geral)
fez com que ele enviasse tropas para reprimir
violentamente a população. Apesar da maioria dos
soldados se negar a cumprir as ordens contra a
população, cidadãos foram mortos e houve uma reação
violenta dos russos ao episódio.

A Revolução: outubro de 1917

Os bolcheviques lideram a Revolução com as chamadas


teses de abril, “Paz, pão e terra” e “todo poder aos
sovietes” (que se uniram para a queda do governo
provisório iniciado por uma revolução em fevereiro de
1917 e implantaram o socialismo na Rússia). A Guerra
Civil para conclusão desse processo durou de 1917 a
1921 com aproximadamente 11 milhões de mortos. O
exército brando lutou contra o exército vermelho
revolucionário, que optou pelo comunismo de guerra,
fechando a Rússia para o mercado, confiscando fábricas
para entregar ao proletariado e nacionalizando bancos e
empresas. Em 1918, Rússia sai da guerra (Tratado de
Bret-Litovsky com a Alemanha) e em 1921 o exército
vermelho tem sua vitória.

Revolução Russa de 1917

1929: A Crise Capitalista

Após a primeira guerra mundial, os Estados Unidos se


tornaram a maior potência. Isso deu ensejo para o
“American Way of Life”, a euforia norte-americana, com
seu liberalismo e ajuda financeira à Europa devastada.
Porém, devido a essa ajuda, a Europa se recupera e
volta a produzir, passando a não mais precisar dos
produtos americanos. Mesmo com isso, os EUA não
diminuem sua produção, então o subconsumo causa uma
superprodução. Devido a isso, há um corte de gastos no
país, causando um desemprego de aproximadamente 13
milhões de pessoas. Foi, então, em 4 de outubro de
1929, na chamada “quinta feira negra”, que houve a
quebra da bolsa de valores de Nova York, com cerca de
4.000 bancos quebrados e 80.000 empresas falidas. Essa
crise liberal, ou crise do capitalismo, em um sensível
momento fez com que o socialismo se tornasse um
atrativo aos olhos de muitos países que sofreram
imensamente com a crise. “Se os EUA pegam um resfriado,
o mundo todo pegou uma pneumonia”, já que o mundo
dependia da potência norte-americana.

REVOLUÇÃO RUSSA – 1917

Conheça os principais acontecimentos que marcaram a


Revolução Russa de 1917!

A revolução comunista na
Rússia ocorreu no ano de 1917

A Revolução Russa é um dos principais acontecimentos do


século XX. Ocorrida no ano de 1917, podemos afirmar que
essa revolução é “filha” da Primeira Guerra Mundial
(1914-1917), isto é, nasceu da crise política e social
gerada pela atmosfera catastrófica da “Grande Guerra”.
Sabemos que o modelo de ideias políticas que orientou
os revolucionários russos foi o comunismo, desenvolvido
pelos alemães Karl Marx e Friedrich Engels. Portanto, a
Revolução Russa foi a primeira revolução comunista da
história. Para compreendermos o porquê de uma revolução
comunista ter se desenrolado na Rússia, e não em outro
país, é necessário que saibamos como o principal nome
na Revolução de 1917, Vladimir Lenin, interpretou Marx.

Karl Marx defendia a tese de que um efetiva revolução


de viés comunista só seria possível em uma nação que
tivesse um elevado desenvolvimento industrial e uma
grande concentração de riqueza (tal como a Inglaterra
do século XIX). Isso porque, em uma nação muito
desenvolvida, seria mais fácil ocorrer a expropriação
dos meios de produção, o que acabaria viabilizando,
segundo Marx, uma sociedade sem classes.

O russo Vladimir Lenin absorveu as ideais de Marx,


porém rejeitou a perspectiva de que o comunismo só
teria triunfo em uma nação com alto desenvolvimento
tecnológico. Para Lenin, a experiência revolucionária
poderia ser empregada em uma nação eminentemente rural
e semifeudal, como o Império Russo. Uma revolução em um
país agrário e tecnologicamente atrasado seria
estrategicamente eficaz, pois essa nação poderia
modernizar-se dentro dos padrões do comunismo. Nesse
contexto, a nação seria diretamente controlada pelo
poder central delegado aos dirigentes do Partido
Comunista, o que “aceleraria” o processo
revolucionário. Além disso, a Primeira Guerra, iniciada
em 1914, provocaria, segundo Lenin, a falência do
imperialismo europeu, fato que daria brechas para uma
revolução de proporções globais, com vários focos ao
mesmo tempo.
Boa parte dessas premissas leninistas foram gestadas
ainda em 1905, quando houve a primeira tentativa
revolucionária na Rússia, na época da guerra entre o
Império Russo e o Império Japonês. Nessa época, houve
muitos focos de greves e rebeliões populares, fato que
deu origem ao Partido Operário Social-Democrata Russo
(POSDR), que ficou polarizado entre bolcheviques e
mencheviques. Esses últimos tinham como líderes
principais Plekhanov e Martov, mantinham uma postura
política alinhada à social-democracia e levavam em
conta o fato de que mais importante que acelerar o
processo revolucionário era, naquele momento,
desenvolver o capitalismo na Rússia, tirando-a do
atraso. Já os bolcheviques, liderados por Lenin e Leon
Trotsky, acreditavam na via revolucionária e na
radicalização política.

Com a entrada do Império Russo na Primeira Guerra, a


situação política do país tornou-se ainda mais crítica,
sobretudo após as grandes derrotas sofridas pelo
exército. Muitos soldados que desertaram dos campos de
batalha associaram-se às massas de camponeses e
operários que se formaram nas zonas rurais e nas
cidades russas e que começavam a se organizar
novamente, estimulados pelos revolucionários, contra o
regime do czar Nicolau II. Diante da fragilidade do
regime czarista, foi realizada na Rússia a chamada
Revolução de Fevereiro (de 1917). Essa foi a primeira
etapa da Revolução Russa, na qual os revolucionários
conseguiram acabar com Império, mas ainda havia uma
coexistência entre comunistas radicais e a burguesia
liberal.

Essa coexistência ficou expressa no Governo Provisório,


no qual se articularam o soviete de Petrogrado
(composto pelos revolucionários radicais –
bolcheviques, em sua maioria) e os representantes da
burguesia. Essa aliança, porém, não durou muito tempo.
Havia uma divergência bem acentuada entre os dois
grupos. Os burgueses defendiam a permanência da Rússia
na guerra, enquanto os comunistas repudiavam essa
ideia. Foi a partir dessa divergência que sobreveio a
ruptura em outubro de 1917. Os bolcheviques,
capitaneados por Lenin (que elaborou a premissa do
“Todo poder aos sovietes”), fizeram a chamada
“Revolução de Outubro”, conhecida também como Revolução
Bolchevique, contra os seus opositores.

Entre o fim de 1917 até 1921, desenrolou-se na Rússia


uma guerra sangrenta entre as forças bolcheviques,
representadas pelo Exército Vermelho, comandado por
Trotsky, e as forças da oposição burguesa,
representadas pelo Exército Branco. Esse período ficou
conhecido também como “comunismo de guerra”. Lenin e os
demais líderes revolucionários viam-se como uma espécie
de “novos jacobinos” ao reatualizarem o “terror
revolucionário”, isto é, a guerra sem limites em favor
do ideal revolucionário. Essa filiação do “terror
vermelho” comunista com o “terror jacobino” foi
acentuada pelo historiador Silvio Pons:

[….] Modelado no precedente jacobino que


obcecava a mente dos bolcheviques, o
Terror Vermelho, no entanto, foi também
alimentado pela cega convicção ideológica
de que só uma guerra civil abriria caminho
para a nova época histórica. A fórmula do
'comunismo de guerra' resumiu, de fato, a
mistura entre visões utópicas e métodos
ferozes de governo. Entre 1918 e 1920,
muitos elementos variados se combinaram
entre si, seja como frenética projeção no
futuro, seja como resultado da situação
excepcional: o emprego extensivo do
terror, a ditadura contra as classes
dirigentes defenestradas, as requisições
violentas contra os camponeses, a
liquidação das relações de mercado, as
formas primitivas de igualitarismo, o
ethos do sacrifício e da organização, a
paixão pela emancipação social e sexual, a
negação da esfera privada na vida
cotidiana, a fé messiânica no advento da
sociedade justa.” [1]

Após essa fase do comunismo de guerra, houve a


implementação da chamada NEP, Nova Política Econômica,
elaborada por Lenin, entre os anos de 1921 e 1928, que
possibilitou a consolidação do sistema comunista da
Rússia, o que deu suporte para a formação da chamada
URSS - União das Repúblicas Socialistas Soviéticas.
Primeira Guerra Mundial
A Primeira Guerra Mundial foi um conflito que ocorreu
entre 1914 e 1918 e ficou muito conhecida em razão dos
combates que aconteciam nas trincheiras.

Tropas alemãs posicionadas em uma trincheira que ficava


nos arredores de Paris.

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A Primeira Guerra Mundial foi um marco na história da


humanidade. Foi a primeira guerra do século XX e o
primeiro conflito em estado de guerra total – aquele em
que uma nação mobiliza todos os seus recursos para
viabilizar o combate. Estendeu-se de 1914 a 1918 e foi
resultado das transformações que aconteciam na Europa,
as quais fizeram diferentes nações entrar em choque.

O resultado da Primeira Guerra Mundial foi um trauma


drástico. Uma geração de jovens cresceu traumatizada
com os horrores da guerra. A frente de batalha,
sobretudo a Ocidental, ficou marcada pela carnificina
vivida nas trincheiras e um saldo de 10 milhões de
mortos. Os desacertos da Primeira Guerra Mundial
contribuíram para que, em 1939, uma nova guerra
acontecesse.

Leia também: Tríplice Aliança — o tratado visava


prevenir a guerra na Europa

Tópicos deste artigo

• 1 - Resumo sobre a Primeira Guerra Mundial



• 2 - Mapa Mental: Primeira Guerra Mundial

• 3 - Causas da Primeira Guerra Mundial

• 4 - Países envolvidos na Primeira Guerra Mundial

• 5 - Onde ocorreu a Primeira Guerra Mundial?

• 6 - Fases da Primeira Guerra Mundial

• 7 - Consequências da Primeira Guerra Mundial

• 8 - Segunda Guerra Mundial

Resumo sobre a Primeira Guerra Mundial


• A Primeira Guerra Mundial foi um conflito que
aconteceu entre 1914 e 1918, e os principais
cenários de guerra ocorreram no continente europeu.
• Foi resultado de inúmeros fatores, como a
rivalidade econômica, ressentimentos por
acontecimentos passados e questões nacionalistas.
• Teve como estopim o assassinato do arquiduque
Francisco Ferdinando e sua esposa, Sofia, em
Sarajevo, na Bósnia, em junho de 1914.
• Estendeu-se por quatro anos em duas fases
distintas: Guerra de Movimento e Guerra de
Trincheira. A última fase é a mais conhecida por
ter sido a mais longa (de 1915 a 1918) e por ter
sido efetivamente caracterizada por um alto grau de
mortalidade dos soldados envolvidos.
• O saldo do conflito foi, aproximadamente, 10
milhões de mortos e uma Europa totalmente
transformada.

Mapa Mental: Primeira Guerra Mundial

* Para baixar o mapa mental em PDF, clique aqui!

Causas da Primeira Guerra Mundial

As causas da Primeira Guerra Mundial são extremamente


complexas e envolvem uma série de acontecimentos não
resolvidos que se arrastavam desde o século XIX:
rivalidades econômicas, tensões nacionalistas, alianças
militares etc.

De maneira geral, os principais fatores que


contribuíram para o início da Primeira Guerra Mundial
foram:

• disputas imperialistas;
• nacionalismos;
• alianças militares;
• corrida armamentista.

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Na questão imperialista, o enfoque pode ser dado ao


temor que a ascensão da Alemanha gerou em nações como
Rússia, França e Grã-Bretanha. Os alemães haviam
passado pelo processo de unificação na segunda metade
do século XIX e, após isso, lançaram-se à busca de
colônias para seu país. Isso prontamente chamou a
atenção da França, por exemplo, que via seus interesses
serem prejudicados com o fortalecimento alemão.

A questão dos nacionalismos envolveu diferentes nações.


A Alemanha encabeçava um movimento conhecido como
pangermanismo. Esse movimento nacionalista servia como
suporte ideológico para o Império Alemão defender os
seus interesses de expansão territorial no começo do
século XX. O pangermanismo ainda se expressava nas
questões econômicas, pois os alemães pretendiam
colocar-se como a força econômica e militar hegemônica
da Europa.

Na questão nacionalista, havia também o revanchismo


francês. Essa questão envolvia os ressentimentos que
existiam na França a respeito do desfecho da Guerra
Franco-Prussiana, conflito travado entre Prússia e
França em 1870 e 1871. A derrota francesa foi
considerada humilhante, principalmente por dois
fatores: a rendição ter sido assinada na Galeria dos
Espelhos, no Palácio de Versalhes, e pela perda da
Alsácia-Lorena. Após o fim desse conflito, a Prússia
autoproclamou-se como Império Alemão.

A questão nacionalista mais complexa envolvia os


Bálcãs, região no sudeste do continente europeu. No
começo do século XX, os Bálcãs eram quase inteiramente
dominados pelo Império Áustro-Húngaro, que estava em
ruínas por causa da multiplicidade de nacionalidades e
movimentos separatistas que existiam em seu território.

A grande tensão nos Bálcãs envolvia a Sérvia e a


Áustria-Hungria na questão referente ao controle da
Bósnia. Os sérvios lutavam pela formação da Grande
Sérvia e, por isso, desejavam anexar a Bósnia ao seu
território (a Bósnia era parte da Áustria-Hungria desde
1908 oficialmente). Esse movimento nacionalista de
sérvios era apoiado pela Rússia por meio do pan-
eslavismo, ideal em que todos os eslavos estariam
unidos em uma nação liderada pelo czar russo.

Tendo em vista todo esse quadro de tensão e


rivalidades, as nações europeias meteram-se em um
labirinto de alianças militares, que acabou sendo
definido da seguinte maneira:

• Tríplice Entente: formada por Rússia, Grã-Bretanha


e França.
• Tríplice Aliança: formada por Alemanha, Áustria-
Hungria, Império Otomano e Itália.

Esses acordos militares incluíam cláusulas secretas de


cooperação militar caso uma nação fosse atacada por
outra nação adversária. Por fim, toda essa hostilidade
deu a garantia para todas as potências e chefes de
Estado na Europa de que a guerra era apenas questão de
tempo. Por essa razão, as nações europeias iniciaram
uma corrida armamentista com o objetivo de se
fortalecer para o conflito que ocorreria.

O que faltava para que a guerra tivesse início era um


estopim, que aconteceu em 28 de junho de 1914, durante
a visita do arquiduque Francisco Ferdinando, herdeiro
do trono austríaco, a Sarajevo, capital da Bósnia. A
visita do arquiduque foi entendida como uma provocação
e colocou em movimento os grupos nacionalistas que
existiam na Sérvia e Bósnia.

Gavrilo Princip sendo preso após cometer o atentado que


causou a morte de Francisco Ferdinando.

O resultado da visita do arquiduque foi que Gavrilo


Princip, membro de um movimento nacionalista bósnio,
armado de um revólver, meteu-se à frente do carro que
levava Francisco Ferdinando e sua esposa, Sofia. Ele
abriu fogo, assassinando ambos. A consequência direta
do ato foi uma crise política gravíssima que ficou
conhecida como Crise de Julho.

Como não houve saída diplomática para a Crise de Julho,


a consequência final foram declarações de guerra
acontecendo em cadeia. Em 29 de julho, a Áustria
declarou guerra à Sérvia; no dia 30, russos (em defesa
da Sérvia), alemães e austríacos mobilizaram seus
exércitos. Em 1º de agosto, a Alemanha declarou guerra
à Rússia e, no dia 3, à França. No dia 4, o Reino Unido
declarou guerra à Alemanha. Era o começo da Primeira
Guerra Mundial.

Países envolvidos na Primeira Guerra Mundial


Como mencionado no texto, os dois grupos que lutaram
entre si na Primeira Guerra Mundial ficaram conhecidos
como Tríplice Aliança (as principais forças eram a
Alemanha, Áustria-Hungria, Império Otomano e Itália) e
Tríplice Entente (as principais forças eram a Rússia,
Grã-Bretanha e França). No caso da Itália, o país fazia
parte da Tríplice Aliança, mas recusou-se a participar
da guerra quando ela se iniciou. Em 1915, a Itália
aderiu à Tríplice Entente.

Naturalmente, a Primeira Guerra Mundial não se resumiu


ao envolvimento desses países, pois diversas outras
nações envolveram-se no conflito. No lado da Entente,
países como Grécia, Estados Unidos, Canadá, Japão e até
mesmo o Brasil entraram no confronto. No lado da
Tríplice Aliança, houve a participação da Bulgária e de
outros povos e Estados clientes, como o Sultanato de
Darfur.

Onde ocorreu a Primeira Guerra Mundial?

Os combates da Primeira Guerra Mundial, em sua maioria,


aconteceram no continente europeu. Na Europa,
destacaram-se a Frente Ocidental, em que os alemães
lutaram contra franceses e britânicos, e a Frente
Oriental, em que os alemães lutaram contra sérvios e
russos. Durante a guerra, houve também batalhas no
Oriente Médio, isto é, nas regiões que estavam sob
domínio do Império Otomano.
Fases da Primeira Guerra Mundial

Utilizando a classificação do estudioso Luiz de Alencar


Araripe, a Primeira Guerra Mundial pode ser dividida em
duas grandes fases1. A primeira fase ficou conhecida
como Guerra de Movimento e aconteceu entre agosto e
novembro de 1914. A segunda fase ficou conhecida como
Guerra de Trincheiras e ocorreu entre 1915 e 1918.

Da primeira fase da guerra, destacou-se o plano alemão


de invasão da França pelo território belga, o chamado
Plano Schlieffen. Esse plano foi elaborado pelo conde
Alfred von Schlieffen e consistia basicamente em uma
manobra para envolver as tropas francesas e conquistar
Paris, a capital da França.

Poucos meses depois que os franceses conseguiram


impedir os alemães de conquistar Paris, iniciou-se a
segunda fase da guerra, caracterizada pelas
trincheiras. As trincheiras eram corredores
subterrâneos construídos para abrigar os soldados e
separar os exércitos que lutavam entre si. Muitas
vezes, a distância entre uma trincheira e outra era
mínima.

O espaço entre as trincheiras era conhecido como “terra


de ninguém” e era preenchido com sacos de areia, arames
farpados e tudo que fosse necessário para garantir a
proteção das tropas e para informar que tropas inimigas
aproximavam-se. Durante a guerra de trincheiras, foram
utilizadas pela primeira vez armas químicas. Os alemães
inicialmente utilizaram gás clorídrico, que, com o
tempo, também passou a ser utilizado por franceses e
britânicos. Por fim, o gás clorídrico foi substituído
pelo gás mostarda.

Soldados americanos utilizando máscaras para se


proteger das armas químicas utilizadas na frente de
batalha.

A respeito dos horrores da Guerra de Trincheiras


travada na Frente Ocidental, vale ressaltar o relato
feito pelo historiador Eric Hobsbawm:

Milhões de homens ficavam uns diante dos


outros nos parapeitos de trincheiras
barricadas com sacos de areia, sob as
quais viviam como – e com – ratos e
piolhos. De vez em quando seus generais
procuravam romper o impasse. Dias e mesmo
semanas de incessante bombardeio de
artilharia […] “amaciavam” o inimigo e o
mandavam para baixo da terra, até que no
momento certo levas de homens saíam por
cima do parapeito, geralmente protegido
por rolos e teias de arame farpado, para a
“terra de ninguém”, um caos de crateras de
granadas inundadas de água, tocos de
árvore calcinadas, lama e cadáveres
abandonados, e avançavam sobre as
metralhadoras, que os ceifavam, como eles
sabiam que aconteceria2.

Na Frente Ocidental, destacaram-se batalhas como Verdun


e Somme em que a luta nas trincheiras causou a morte de
milhões de soldados de ambos os lados. Na Frente
Oriental, os alemães conseguiram impor pesadas derrotas
aos russos em batalhas como a de Tannenberg, garantindo
grandes conquistas territoriais.

A violência da guerra também foi destacada durante os


combates que aconteceram na Sérvia. No Oriente Médio,
destacou-se a perseguição que o Império Otomano
promoveu contra os armênios, o que levou ao Genocídio
Armênio. A Primeira Guerra também registrou combates
aéreos e uma disputa acirrada entre alemães e
britânicos no mar.

Em 1917, os Estados Unidos, presididos por Woodrow


Wilson, entraram na guerra quando uma embarcação
britânica foi atacada por alemães, causando a morte de
mais de uma centena de americanos. Nesse mesmo ano, os
russos, fragilizados por tantas derrotas e por uma
crise econômica duríssima, retiraram-se da guerra, e a
Revolução Russa consolidou o socialismo no país.

A Primeira Guerra Mundial encerrou-se como resultado do


esfacelamento das forças da Tríplice Aliança. Bulgária,
Áustria-Hungria e Império Otomano renderam-se, sobrando
apenas a Alemanha. O Império Alemão, arrasado pela
guerra, também se rendeu após uma revolução estourar no
país e levar ao fim da monarquia alemã. Aqueles que
implantaram a república no país (os social-democratas)
optaram por um armistício para colocar fim à guerra
após quatro anos.

Acesse também: A vida dos soldados na trincheira

Consequências da Primeira Guerra Mundial

Como consequência do armistício e da derrota alemã, foi


assinado, em junho de 1919, o Tratado de Versalhes. A
assinatura desse tratado aconteceu exatamente no mesmo
local onde os franceses haviam ratificado sua derrota
em 1871. Dessa vez, os derrotados eram os alemães, que
assinavam um tratado que impunha termos duríssimos à
Alemanha.

Delegações reunidas durante a assinatura do Tratado de


Versalhes na Galeria dos Espelhos, em 1919.
A Alemanha perdeu todas as suas colônias ultramarinas,
além de territórios na Europa. Foi obrigada a pagar uma
multa pesadíssima, que arrastou o país pra uma crise
econômica sem precedentes na sua história. Suas forças
militares foram restritas a 100 mil soldados de
infantaria. A rigidez dos termos do Tratado de
Versalhes é entendida pelos historiadores como a porta
que deu abertura para o surgimento e crescimento do
nazismo.

O fim da guerra também marcou a reconfiguração do mapa


europeu por causa do esfacelamento dos Império Alemão,
Austro-húngaro e Otomano. Diversas novas nações
surgiram, como Polônia, Finlândia, Iugoslávia etc.

Segunda Guerra Mundial

Os termos que os franceses e britânicos impuseram à


Alemanha foram encarados pelos historiadores como paz
punitiva. O objetivo era enfraquecer a Alemanha de tal
maneira que outra guerra da magnitude da Primeira
Guerra Mundial não acontecesse. Britânicos e franceses
fracassaram nesse objetivo, já que vinte anos depois
uma nova guerra começou na Europa: a Segunda Guerra
Mundial.

Totalitarismo
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• Página Inicial
• Idade Contemporânea
• Totalitarismo

Ao longo do século XX, uma série de regimes totalitários


surgiu, sobretudo no continente europeu. Os regimes
totalitários destacados foram: nazismo, fascismo e
stalinismo.

Durant
e o auge do totalitarismo (décadas de 1920 e 1930), uma
série de regimes democráticos ruiu para o autoritarismo.

O totalitarismo é um sistema político caracterizado pelo


domínio absoluto de uma pessoa ou partido político sobre
uma nação. Dentro do totalitarismo, a pessoa ou partido
político no poder controla todos os aspectos da vida
pública e da vida privada por meio de um governo
abertamente autoritário.

O totalitarismo também é marcado pela forte presença de um


militarismo na sociedade e é acompanhado por ações do
regime com o objetivo de promover sua ideologia por meio
de um sistema de doutrinação da população. Os regimes
totalitários utilizam-se do terror como arma política para
conter e perseguir seus opositores políticos, e a
propaganda política é usada de maneira consistente para
que a população seja convencida das medidas extremas
tomadas por esses regimes.
O totalitarismo foi um sistema político que esteve no auge
durante as décadas de 1920 e 1930. Seu surgimento
aconteceu após a Primeira Guerra Mundial e é considerado
pelos historiadores como um reflexo causado por toda a
destruição causada por esse conflito. Assim, o
autoritarismo começou a ganhar força como solução política
para as crises que o mundo enfrentava no pós-guerra,
conseguindo adeptos mundo afora.

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A ascensão do autoritarismo marcou a queda dos valores do
liberalismo, que são definidos, da seguinte maneira, pelo
historiador Eric Hobsbawm:

Esses valores eram a desconfiança da


ditadura e do governo absoluto; o
compromisso com um governo constitucional
com ou sob governos e assembleias
representativas livremente eleitos, que
garantissem o domínio da lei; e um conjunto
aceito de direitos e liberdades dos
cidadãos, incluindo a liberdade de
expressão, publicação e reunião.|1|

O termo “totalitarismo” surgiu durante a década de 1920


para referir-se ao fascismo italiano. Esse sistema
político, inclusive, surgiu com o próprio fascismo
italiano, regime que alcançou o poder na Itália em 1922,
quando Mussolini tornou-se primeiro-ministro do país. Ao
longo da década de 1920, a tendência política mundial
pendia para o autoritarismo, e o totalitarismo ganhou
considerável força após a ascensão do nazismo ao poder na
Alemanha.
Acesse também: Conheça a história do salazarismo, regime
autoritário que foi influenciado pelo fascismo

Características dos regimes totalitários

Alemães realizando a saudação nazista “Heil Hitler”. O


culto ao líder é uma das características de regimes
totalitários.*

O consenso entre os historiadores determina que as


características básicas do totalitarismo inspiram-se em
três regimes: fascismo, nazismo e stalinismo. Existe um
intenso debate entre esses profissionais sobre se outros
regimes, como o Khmer Vermelho, no Camboja, e o atual
regime norte-coreano, encaixam-se dentro do conceito de
totalitarismo. Apesar desse debate, neste texto levaremos
em consideração apenas o nazismo, o fascismo e o
stalinismo.

As características básicas do totalitarismo são:

• Culto ao líder: Os três regimes possuíam um forte


culto ao líder, e sua imagem era espalhada em
todos os locais possíveis, como escolas, por
exemplo.
• Unipartidarismo: Todos os totalitarismos suprimiam
a existência dos partidos, e somente o partido do
governo tinha a permissão de funcionar.
• Doutrinação: A população dos regimes totalitários
era alvo de intensa doutrinação, que se iniciava
com o ensino infantil. Essa doutrinação visava
propagar a ideologia do governo.
• Centralização do poder: O poder político no
totalitarismo é centralizado no líder e/ou no
partido.
• Uso do terror: O terror era uma arma dos regimes
totalitários para amedrontar seus opositores e
perseguir grupos enxergados como “inimigos do
Estado”.
• Censura: A censura era uma prática comum a jornais
e à população em geral. Regimes totalitários não
aceitavam críticas, denúncias e não aturavam a
existência de uma oposição.
• Militarização: Exaltação do exército e
militarização da sociedade.
• Criação de inimigos internos e/ou externos: Esse
mecanismo era utilizado como distração ou
justificativa para explicar as ações e o
autoritarismo do regime.
• Nacionalismo exacerbado: O nacionalismo no
totalitarismo assumia um viés extremista que
pregava a exclusão e perseguição de outros povos
ou etnias.

Regimes totalitários na Europa

Como mencionado, destacaremos neste texto as principais


experiências totalitárias que existiram na Europa durante
o período entreguerras. Na extrema-direita do espectro
político, estão o fascismo italiano e o nazismo alemão, e
na extrema-esquerda, está o stalinismo soviético.

• Nazismo

O Partido Nazista surgiu na Alemanha em 1919 e assumiu o


poder do país em 1933, quando Hitler foi nomeado primeiro-
ministro alemão.*

O nazismo surgiu na Alemanha, com o nome de Partido


Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães, em 1919. O
grande líder do partido foi Adolf Hitler, austríaco
nomeado primeiro-ministro da Alemanha em 1933. O
crescimento do Partido Nazista na Alemanha foi resultado
da crise que se instalou no país após a Primeira Guerra
Mundial e a Grande Depressão.

Os nazistas organizaram tropas de assaltos (SA) que


atuavam para intimidar os opositores do partido,
principalmente, os social-democratas e os comunistas. A
ideologia do nazismo foi articulada por Hitler em um livro
chamado Minha Luta (Mein Kampf, em alemão), escrito
durante o período em que esteve preso.

Leia também: Adolf Hitler - Biografia, Trajetória Política


e Principais Ações

A ideologia nazista incorporava elementos como o


antissemitismo, isto é, o ódio aos judeus que foi
manifestado durante o Holocausto, genocídio responsável
pela morte de, aproximadamente, seis milhões de judeus.
Além do antissemitismo, outras características do nazismo
eram o nacionalismo extremado e o racismo que deram origem
à ideia dos germânicos como raça “pura” e “superior”
(chamados pelos nazistas de “arianos”). O nazismo também
incorporava o antimarxismo, o antiliberalismo, o
militarismo, a exaltação da guerra etc.

O nazismo governou a Alemanha de 1933 a 1945, período no


qual conduziu esse país à guerra. Nesse momento, uma
verdadeira ditadura foi instalada, e Hitler preparou seu
país, que havia sido derrotado na Primeira Guerra Mundial,
para uma guerra contra as potências europeias que haviam
participado do combate anterior e vencido a Alemanha. Ao
longo da década de 1930, esse último país desrespeitou os
termos do Tratado de Versalhes e foi expandindo seu
território pela Europa. Para saber mais sobre o nazismo,
leia: Nazismo: contexto, características e consequências.

• Fascismo

Benito Mussolini e Adolf Hitler, líderes do fascismo e


nazismo, respectivamente.*

O fascismo surgiu na Itália em 1919, quando Benito


HYPERLINK "https://www.historiadomundo.com.br/idade-
contemporanea/benito-mussolini.htm" HYPERLINK
"https://www.historiadomundo.com.br/idade-contemporanea/be
nito-mussolini.htm"Mussolini criou a Fasci Italiani di
Combattimento, grupo que, posteriormente, passou a chamar-
se Partido Nacional Fascista. A ascensão do fascismo ao
poder na Itália aconteceu em 1922, quando foi organizada a
Marcha sobre Roma.

Durante esse evento, milhares de fascistas de toda a


Itália marcharam em direção à Roma, capital do país, para
pressionar o rei Vitor Emanuel III a fim de que ele
nomeasse Benito Mussolini como primeiro-ministro italiano.
A nomeação de Mussolini aconteceu e, em 1925, o primeiro-
ministro italiano autoproclamou-se ditador da Itália.

O fascismo italiano é considerado o precursor do nazismo


na Alemanha e, por conta disso, existem inúmeras
semelhanças entre essas duas vertentes totalitárias. Entre
as características do fascismo italiano estão:

• Antiliberalismo;
• Imposição de um sistema unipartidário no país;
• Desprezo pelo marxismo;
• Exaltação de valores tradicionais;
• Negação de valores modernos;
• Controle total do Estado sobre a economia,
política e cultura.
O fascismo governou a Itália de 1922 e 1945 e, durante o
período entreguerras, aliou-se com a Alemanha. Quando a
Segunda Guerra Mundial iniciou-se, em 1939, italianos e
alemães fizeram parte do Eixo, grupo que lutou contra os
Aliados. Para saber mais sobre o fascismo, leia: Fascismo
– contexto histórico e características.

Acesse também: Trajetória de vida de Francisco Franco,


líder de uma ditadura na Espanha

• Stalinismo

Josef Stalin foi líder da União Soviética entre 1924 e


1953.**

O stalinismo é usado para referir-se ao período em que a


União Soviética foi governada por Josef Stalin. A
aplicação da noção de totalitarismo para o stalinismo
também é alvo de debates, pois historiadores, como Eric
Hobsbawm|2|, afirmam que esse não foi um regime
totalitário, enquanto outros, como Hannah Arendt|3| e
Timothy Snyder|4| |5|, afirmam o contrário.

Josef Stalin assumiu o poder da União Soviética logo após


o falecimento de Vladimir Lênin em 1924, mas considera-se
o ponto de partida para o stalinismo o ano de 1929,
momento em que Stálin tornou-se líder supremo da União
Soviética. Manteve-se no poder de maneira tirânica até
1953, quando acabou falecendo.

O governo de Stálin é entendido como a experiência


totalitária da extrema-esquerda e ficou marcado por
perseguições de opositores, expurgos, crise de fome etc.
Entre as características do stalinismo, estão:

• Exclusão da religião da vida pública;


• Coletivização da economia;
• Fim da propriedade privada;
• Censura;
• Unipartidarismo;
• Centralização do poder;
• Perseguição de opositores;
• Militarização da sociedade etc.
Ao longo dos anos em que esteve no poder, o governo de
Stalin foi responsável pela execução de milhares de
pessoas enxergadas como inimigas do Estado. Além disso,
milhões de pessoas foram enviadas para gulags — campos de
trabalho forçados —, e milhões também morreram de fome
durante o processo de coletivização da terra que ocorreu
na década de 1930.

Regimes totalitários no Brasil

No Brasil não existiu nenhum governo totalitário, mas


existiram governos autoritários. Entre os governos
autoritários que estiveram no poder em nosso país, estão o
Estado Novo, que aconteceu entre 1937 e 1945, e a Ditadura
Militar, que aconteceu entre 1964 e 1985. Os dois períodos
ficaram marcados pela ausência de liberdades individuais,
censura, perseguição, tortura, execução de opositores etc.
Totalitarismo
O totalitarismo foi um regime político baseado no
controle total da vida, no nacionalismo e no forte
militarismo, tendo ocorrido em alguns países da Europa,
no século XX.
Pessoas saudando Hitler durante reunião nazista. [1]

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O totalitarismo foi um regime político que surgiu e


desapareceu em países europeus no século XX. Os regimes
totalitários têm em comum o controle total da vida
pública e da vida privada. Para se manterem, os países
que adotaram o totalitarismo elegeram líderes
totalitários, que centralizaram as diversas figuras do
poder e a atuação do Estado em si mesmos, além de
investirem fortemente em propaganda e elegerem inimigos
em potencial, que se tornaram a maior justificativa
interna para que o totalitarismo funcionasse.

Podemos observar três exemplos maiores e principais de


totalitarismo na Europa do século XX: o nazismo, de
Hitler, o fascismo, de Mussolini, e o stalinismo, na
União Soviética. Porém, as ditaduras autoritárias de
Franco (Espanha) e Salazar (Portugal) podem ser
consideradas totalitárias, além de terem inspirações no
fascismo italiano de Benito Mussolini.

Leia também: O que é ditadura militar?

Tópicos deste artigo

• 1 - Origem do totalitarismo

• 2 - Exemplos de totalitarismo

• 3 - Características do totalitarismo

• 4 - Totalitarismo e filosofia

Origem do totalitarismo

Apesar de alguns teóricos tentarem imputar a origem do


totalitarismo ao comunismo, seja pela dissidência, seja
pela reação, não é possível, a partir de uma análise
isenta de visões ideológicas, apresentar um motivo
preciso que tenha dado origem a todos os regimes
totalitários. É notório, porém, que há um elemento em
comum entre eles: a crise.

Todos os regimes totalitários surgiram em uma época de


crise europeia, deixada principalmente pela Primeira
Guerra Mundial e por políticas econômicas ineficazes. A
crise levou a uma caótica situação de alta inflação,
miséria, fome, desemprego e falta de assistência básica
à população.

Os regimes políticos totalitários apareceram naquele


cenário caótico como possíveis soluções para os
problemas da população e, por isso, ganharam apoio
popular. Podemos associar, então, a origem do
totalitarismo ao ódio a alguma categoria social,
justificada pelo medo e pelo terror imputados na
população.

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Exemplos de totalitarismo

• Nazismo: liderado por Adolf Hitler, ocorreu na


Alemanha entre 1933 e 1945.
• Fascismo: liderado por Benito Mussolini, vigorou na
Itália entre 1922 e 1943.
• Stalinismo: o comunismo soviético iniciou-se em
1917, a partir da Revolução Russa, mas o
stalinismo, surgido de uma interpretação particular
e heterodoxa de Josef Stalin do marxismo, somente
entrou em cena em 1924, perdurando até 1953.
• Franquismo e Salazarismo: Francisco Franco foi um
general que dominou a Espanha entre 1939 e 1975;
Antônio de Oliveira Salazar dominou Portugal entre
1926 e 1970, acabando com o liberalismo econômico e
implantando o Estado Novo português. Ambos os
líderes são considerados totalitários,
anticomunistas, nacionalistas e tiveram inspiração
no fascismo de Mussolini.

Para saber mais sobre os acontecimentos que


marcaram esse tipo de regime, recomendamos a
leitura do texto Regimes totalitários: exemplos,
características, consequências.

Leia também: O nazismo era de esquerda ou de direita?

Características do totalitarismo

Podemos elencar alguns elementos em comum que delineiam


o conceito de totalitarismo, tanto no exemplo de regime
totalitário de extrema-esquerda (União Soviética)
quanto nos regimes totalitários de extrema-direita
(Alemanha e Itália). Esses elementos são:

• Cenário caótico da crise: A Alemanha, no momento de


ascensão do partido nazista, passava por crise
financeira e institucional deixada pela Primeira
Guerra Mundial, o que resultou na fome e no
desemprego. Hitler e o Partido Nacional-Socialista
dos Trabalhadores Alemães surgiram como uma
esperança de recuperação. No início, Hitler recebeu
forte apoio popular. Não foi diferente na Rússia,
que também foi devastada pela Primeira Guerra e por
anos de monarquia czarista. Em 1917, quando
estourou a Revolução Russa, os líderes do movimento
(Lenin tornou-se o mais importante líder do
processo revolucionário) prometeram eliminar as
mazelas enfrentadas pelo país. Com a saída de Lenin
do poder, Stalin, o sucessor, impôs um regime
totalitário de esquerda, que tinha como principal
inimigo os anticomunistas.
• Identificação de um inimigo em comum: em todos os
regimes totalitários, podemos encontrar a
identificação de inimigos potenciais em comum, que,
em geral, são grupos que não partilham do interesse
do regime ou que são escolhidos para servirem de
alvo da indignação popular. Tendo um alvo em comum,
é mais fácil manter o povo unido em prol de um
objetivo final. No caso do stalinismo, o inimigo
era o burguês; para os nazistas, o inimigo central
era o povo judeu, além de ciganos, comunistas e
homossexuais; para os fascistas, os inimigos eram
os estrangeiros, os antinacionalistas e os críticos
do Estado forte, como os anarquistas.
• Controle total da vida da população: é
característica comum dos regimes totalitários o
controle da vida da população, tanto no âmbito
público quanto no âmbito privado. Essa
característica difere o totalitarismo das
ditaduras, pois ela confere ao Estado plenos
poderes de decidir arbitrariamente sobre tudo
aquilo que a população pode ou não acessar, em
todos os aspectos de sua vida. Isso faz com que o
Estado seja excessivamente inflado, estabelecendo
um elo entre totalitarismo e autoritarismo, o que
pode causar confusão entre o totalitarismo e o
comunismo. Apesar de haver o registro de um regime
totalitário de esquerda (o stalinismo), não se pode
dizer que os regimes totalitários sejam,
essencialmente, de esquerda ou que o comunismo seja
uma proposta totalitária.
• Centralização do poder: para se sustentarem, os
regimes totalitários centralizaram o poder nas mãos
de um líder ou de um grupo político, o que levou ao
culto à personalidade e, como estratégia, os grupos
ou líderes propagaram o nacionalismo e o
patriotismo como elementos essenciais para o
crescimento da nação. Há também o unipartidarismo.
• Propaganda: todos os regimes totalitários
investiram fortemente em publicidade para
propagarem os ideais totalitários e manterem o
domínio ideológico sobre o povo. A ideia era manter
o apoio popular, mesmo em momentos de crise. A
propaganda nazista, stalinista e fascista foram
extremamente fortes, sempre apresentando o líder e
o Estado como os salvadores da pátria contra os
inimigos. Qualquer indício de pensamento liberal ou
antinacionalista (como a defesa da cultura e da
economia globalista) era combatido com a incisiva
propaganda, que dominava todos os meios de
comunicação, afinal, todos os meios de comunicação
foram estatizados. As rádios, o cinema, os jornais,
tudo que fosse meio de disseminação cultural
deveria passar pelo crivo do Estado. Para controle
efetivo dos meios de comunicação e garantia da
propaganda, os líderes totalitários criaram
ministérios e secretarias para regulamentação
midiática.
• Medo, terror e policiamento: há um constante
policiamento da população, justificado pelo medo do
governante de seus governados e vice-versa. O
terror é espalhado como sendo um elemento real, o
que causa medo nas pessoas, que se permitem serem
governadas totalitariamente.
• Eliminação das singularidades: o Estado totalitário
elimina as diferenças existentes entre as pessoas,
criando um corpo total igual, ao implantar as
mesmas ideias nas pessoas por meio da propaganda,
impor os mesmos produtos para o consumo e controlar
as suas vidas privadas.

Totalitarismo e filosofia

Como a filosofia dedica-se, entre outras coisas, à


problematização do meio e das práticas políticas,
podemos identificar pensamentos filosóficos que, de
algum modo, criticaram ou apoiaram o totalitarismo. Há,
por exemplo, o filósofo alemão Martin Heidegger, que
durante muito tempo foi apoiador do nazismo alemão.

Já os frankfurtianos Adorno, Horkheimer e Marcuse, além


de Walter Benjamin, criticaram o nazismo, até porque
eram judeus alemães perseguidos pelo regime de Hitler.
Anarquistas e comunistas, como Gramsci, criticaram o
fascismo italiano. Muitos artistas e intelectuais
apoiaram o stalinismo, como o poeta alemão Bertold
Brecht.

Porém, o maior e mais fundamentado estudo sobre os


regimes totalitários que analisa de maneira imparcial
todos os casos de totalitarismo do século XX parte da
filósofa judia alemã Hannah Arendt.

→ Totalitarismo e Hannah Arendt

A filósofa judia alemã Hannah Arendt escreveu um livro


chamado Origens do Totalitarismo, além de outros textos
em que se dedica a analisar o fenômeno totalitário e o
antissemitismo por meio da Filosofia política.

Em Origens do Totalitarismo, a pensadora dedica-se a


identificar as origens desse fenômeno contemporâneo a
ela (ela sofreu perseguição nazista por ser judia,
sendo presa em campo nazista no território francês até
que pudesse fugir para os Estados Unidos), além de
estudar minuciosamente as causas políticas que levam ao
totalitarismo. Arendt identifica a existência dos
elementos comuns entre os regimes totalitários que
foram descritos anteriormente.

Selo impresso na Alemanha estampa o rosto de Hannah


Arendt, que escreveu o livro Origens do Totalitarismo.
[2]

Segundo Arendt, o totalitarismo é a elevação de dois


fenômenos: o medo e o terror. A fusão desses dois
elementos em sua potencialidade leva a um sistema
extremamente burocrático em que o Estado total
transforma a coletividade em um único corpo. Uma das
marcas do totalitarismo é a anulação da individualidade
para a promoção de uma sociedade que pensa da mesma
maneira e quer as mesmas coisas, apoiando, assim, em
uníssono, a atuação do líder totalitário. Em Origens do
totalitarismo, Arendt diz:

Em lugar das fronteiras e dos


canais de comunicação entre os
homens individuais, constrói um
cinturão de ferro que os cinge de
tal forma que é como se a sua
pluralidade se dissolvesse em Um-
Só-Homem de dimensões gigantesca...
Pressionando os homens, uns contra
os outros, o terror total destrói o
espaço entre eles.i

Para efetivar o que se objetivava com o totalitarismo,


não bastava atuar com a propaganda alienante e com a
força ideológica do líder, mas era necessário também
eliminar todo aquele que se colocasse contra o regime,
além de perseguir uma determinada categoria de pessoas
como sendo inimigos em comum da nação.

Hannah Arendt também classifica, em obras posteriores,


como Eichmann em Jerusalém, a existência de tipos
diferentes de pessoas que estavam por trás do nazismo.
Segundo a filósofa, existiam os nazistas convictos,
tomados por um mal radical (que no vocabulário kantiano
designa pessoas tomadas por um mal enraizado em si), ou
seja, aqueles que realmente acreditavam no
antissemitismo como salvação da pátria.

Existiam também as pessoas como Adolf Eichmann, um


oficial de baixa patente da SS responsável pelo
transporte dos judeus presos até os campos de
concentração. Em seu julgamento tardio (Eichmann
conseguiu fugir e foi capturado na Argentina somente em
1962, sendo julgado em um tribunal internacional de
exceção), Eichmann afirmou em sua defesa que não era um
antissemita.

Realmente, os fatos apontavam para uma personalidade


pacífica do réu, que, como disse em sua defesa, apenas
trabalhava para o exército durante aquele regime, em
busca de uma carreira e uma colocação profissional. O
julgamento de Eichmann levou Arendt a encontrar uma
nova modalidade de totalitaristas, em especial os
nazistas: aqueles que não acreditavam no que estavam
fazendo (que levava diretamente ao mal), mas que
simplesmente faziam para obter alguma vantagem pessoal.
Holocausto
Holocausto foi o genocídio de judeus cometido pelos
nazistas durante a Segunda Guerra Mundial e resultou na
morte de seis milhões de pessoas, aproximadamente.

Prisioneiros judeus que estavam instalados no campo de


concentração de Buchenwald.*

Texto:

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Holocausto é o nome que se dá para o genocídio cometido


pelos nazistas ao longo da Segunda Guerra Mundial e que
vitimou aproximadamente seis milhões de pessoas entre
judeus, ciganos, homossexuais, testemunhas de Jeová,
deficientes físicos e mentais, opositores políticos
etc. De toda forma, o grupo mais foi vitimado no
Holocausto foi o dos judeus. Estes, por sua vez,
preferem referir-se a esse genocídio como Shoah, que em
hebraico significa “catástrofe”.
Acesse também: O nazismo era um partido de esquerda ou
de direita?

Tópicos deste artigo

• 1 - Antissemitismo nazista
• 2 - Solução Final
• Grupos extermínio
• Campos de concentração
• Julgamentos em Nuremberg

• 3 - Filmes

Antissemitismo nazista

O Holocausto foi o resultado final de um processo de


construção do ódio de uma nação contra um grupo
específico que vivia na Europa. O antissemitismo na
Alemanha não surgiu com o nazismo e remonta a meados do
século XIX, em movimentos nacionalistas, além de ter
sido manifestado por personalidades alemãs da época,
como Hermann Ahlwardt e Wilhelm Marr.

Quando o partido nazista surgiu, em 1920, o


antissemitismo era um elemento que já fazia parte da
plataforma do partido, e os historiadores acreditam que
Adolf Hitler tornou-se antissemita em algum momento de
sua juventude, quando vivia em Viena, capital da
Áustria. A presença do antissemitismo no nazismo,
durante sua fundação, era perceptível no programa do
partido, que afirmava que nenhum judeu poderia ser
considerado cidadão alemão.

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O antissemitismo alemão partia do pressuposto de que a


raça alemã era superior e de que os judeus eram
responsáveis por todos os males da sociedade alemã.
Hitler e os nazistas começaram por colocar nos judeus a
culpa da derrota alemã na Primeira Guerra Mundial por
meio da “teoria da punhalada nas costas”.

Os nazistas falavam que os judeus possuíam um plano de


dominação mundial e criticavam contundentemente o
liberalismo econômico e o capitalismo financeiro, pois
afirmavam que ambos eram dominados pelos judeus. Um dos
exemplos claros dessa ideia (situada na época das
teorias da conspiração utilizadas para acusar os
judeus) foi um livro de origem russa e autor
desconhecido que foi sucesso de vendas na Alemanha: “Os
protocolos dos sábios de Sião”.

Quando os nazistas assumiram o poder na Alemanha, em


1933, o processo de exclusão e de violência contra os
judeus foi iniciado de maneira progressiva. O discurso
nazista, aliado à doutrinação realizada na sociedade
alemã, tornou os judeus bodes expiatórios e vítimas de
perseguição intensa, não só por parte do governo, mas
também pelos civis.

Durante os anos do Holocausto, os nazistas obrigavam os


judeus a usarem uma estrela costurada na roupa como
forma de identificação.**

Uma das primeiras ações tomadas pelos nazistas contra


os judeus foi uma lei, aprovada em 7 de abril de 1933,
chamada Berufsbeamtengesetz, traduzida para o português
como Lei para Restauração do Serviço Público
Profissional. Essa lei proibia definitivamente os
judeus de atuarem em cargos públicos. Outras leis do
tipo foram aprovadas para outros ofícios, como médicos
e advogados. Além das leis, os judeus eram alvos de
ataques promovidos pelas tropas de assalto nazistas
(SA) e tinham suas lojas boicotadas a nível nacional.

Com o passar do tempo, novas ações contra os judeus


foram sendo organizadas na Alemanha. Essa perseguição
forçou milhares de judeus a fugirem do país, mas muitos
outros não conseguiram, pois nenhum país estava
disposto a recebê-los. Na década de 1930, duas medidas
tomadas por Hitler simbolizaram o reforço do
antissemitismo na Alemanha: as Leis de Nuremberg e a
Noite dos Cristais.
• Leis de Nuremberg

As Leis de Nuremberg foram um conjunto de três leis,


aprovadas no ano de 1935, que legislavam sobre a
miscigenação, a bandeira e a cidadania alemã. As duas
leis que se relacionavam diretamente com o
antissemitismo na Alemanha eram a Lei de Proteção do
Sangue e da Honra Alemã e a Lei de Cidadania do Reich.

A primeira lei tratava a respeito da miscigenação,


proibindo que judeus e não judeus casassem-se, além de
proibir também que não judeus tivessem relações sexuais
com judeus. Essa lei também falava que judeus não
poderiam ter empregadas domésticas com idade inferior a
45 anos nem portar as cores do Reich (preto, vermelho e
branco).

A segunda tratava a respeito da cidadania, basicamente


definindo quem era cidadão e quem não era. Segundo essa
lei, todas as pessoas que tivessem ¾ de sangue judeu ou
fossem praticantes do judaísmo seriam consideradas
judias e automaticamente não teriam direito à
cidadania. Com isso, os judeus eram considerados apenas
“sujeitos de Estado” e eram pessoas que tinham de
cumprir suas obrigações, mas não tinham direito a
receber nada do que um cidadão receberia.

• Noite dos Cristais


A Noite dos Cristais foi um marco na história do
antissemitismo porque oficializou um ponto de partida
para o aumento da violência contra os judeus na
Alemanha. Esse acontecimento passou-se em 1938 e é
definido como um pogrom, isto é, um ataque violento que
é organizado contra um grupo específico.

Esse ataque aconteceu em represália ao assassinato de


Ernst vom Rath, um diplomata alemão, por um estudante
judeu de 17 anos que queria vingar-se da expulsão de
seus pais da Alemanha. Dias após o diplomata alemão ser
atacado em Paris, uma ordem foi emitida por Hitler e
Goebbels para que ações de violência fossem organizadas
como forma de intimidar os judeus.

Os ataques da Noite de Cristal iniciaram-se na noite de


9 de novembro de 1930 e estenderam-se até a metade do
dia seguinte. Membros do partidonazista, a maioria à
paisana, partiram para um ato de violência inédita na
Alemanha. Casas, estabelecimentos, orfanatos e
sinagogas foram atacadas com os agressores destruindo o
que encontravam pela frente, agredindo as pessoas que
estavam nesses locais e, por fim, incendiando as
construções.

Ao fim do pogrom, milhares de estabelecimentos foram


destruídos, e, apesar do número oficial de mortos ser
91, especula-se que os mortos nesse ataque possam ter
chegado à casa dos milhares. A Noite dos Cristais
também inaugurou o aprisionamento de judeus em campos
de concentração, pois, durante o pogrom, 30 mil judeus
foram presos e encaminhados para Dachau, Buchenwald e
Sachsenhausen.

Acesse também: O que é fascismo?

Solução Final

Na imagem estão Heinrich Himmler (à esquerda) e


Reinhard Heydrich (no centro), os dois arquitetos da
Solução Final.*

Com o início da Segunda Guerra, em 1939, a cúpula do


partido nazista começou a discutir “soluções” sobre
como tratar a “questão judia” na Europa. Como
mencionado, o aprisionamento de judeus em campos de
concentração foi iniciado ainda na década de 1930.
Esses locais, no entanto, não haviam sido preparados
para serem locais de extermínio como aconteceu durante
a guerra.

Quando a guerra começou, os judeus no Leste da Europa


começaram a ser agrupados em guetos, um local
específico da cidade que era cercado pelas tropas
nazistas e separado especificamente para o abrigo de
judeus. Os guetos agrupavam-nos para que mais tarde
fossem enviados para os campos de concentração e
extermínio.

Além disso, os nazistas debatiam soluções a serem


colocadas em prática para lidar com a “questão judia”,
e duas dessas foram amplamente debatidas. Na primeira,
os nazistas tentaram obter autorização para deportar os
judeus para a União Soviética, mas Stalin não aceitou
recebê-los. Outro plano ficou conhecido como Plano
Madagascar, em que os nazistas cogitaram deportar os
judeus da Europa para a ilha de Madagascar, na África.

Por toda a Europa, os judeus eram aglomerados e


transportados, para os guetos e campos de concentração,
em vagões de trem.

De toda forma, o plano de exterminar todos os judeus


após a guerra é classificado pelo historiador Timothy
Snyder como uma utopia de Hitler que foi reformulada
por dois membros do Partido Nazista à medida que a
guerra foi tomando o rumo que não era desejado pelos
nazistas.|1| Os reformuladores do plano de extermínio
dos judeus foram Reinhard Heydrich e Heinrich Himmler
e, por isso, ambos são considerados arquitetos do
Holocausto.
• Grupos extermínio

Quando a Solução Final foi elaborada, o que estava na


mente de Heydrich e Himmler era: “os judeus que não
pudessem trabalhar teriam que sumir, e os fisicamente
capazes de trabalhar seriam usados como mão de obra em
algum lugar na União Soviética conquistada até que
morressem.” |2| Os primeiros judeus vítimas desse plano
foram alvo dos Einsatzgruppen, os grupos de extermínio.

Esses grupos de extermínio atuaram na Polônia, nos


países bálticos e na parte do território soviético que
os nazistas estavam ocupando. A atuação deles era
simples: promover a limpeza sistemática de judeus
dessas áreas por meio de fuzilamentos. Os judeus dessas
localidades eram reunidos em um local específico,
posicionados nus em frente a uma vala comum e fuzilados
um a um até que toda a população judia desses locais
estivesse morta.

A atuação dos grupos de extermínio nos locais citados,


como os países bálticos (Estônia, Lituânia e Letônia),
levou à morte por fuzilamento milhares de pessoas:

• na Lituânia, 114.856 judeus foram mortos;


• na Letônia, 69.750 judeus foram executados; e
• na Estônia, foram encontrados 963 judeus e todos
eles foram executados.
Durante esses fuzilamentos, os grupos de extermínio
também executaram outras pessoas, como as que tinham
colaborado com os soviéticos.|3| O fuzilamento
organizado pelo Einsatzgruppen que mais ficou conhecido
recebeu o nome de Massacre de Babi Yar, quando os
judeus de Kiev foram reunidos em um ponto da cidade e
fuzilados durante um período de 36 horas. Desse
massacre resultaram as mortes de 33.761 pessoas, que
foram depositadas em uma vala comum.|4|

A atuação dos grupos de extermínio, no entanto, tinha


limites sensíveis aos objetivos nazistas. Primeiro, por
mais eficiente que fosse o Einsatzgruppen, a velocidade
com que faziam a limpeza étnica era abaixo do que os
nazistas desejam. Segundo, o envolvimento dos soldados
em uma quantidade assombrosa de execuções trazia-lhes
graves problemas psicológicos. Isso forçou os nazistas
a pensarem em uma alternativa que fizesse o genocídio
de judeus acontecer de maneira mais ágil e impessoal.

Acesse também: Massacre de Katyn — genocídio realizado


pela polícia secreta soviética

• Campos de concentração

Cadáveres de judeus encontrados no campo de


concentração de Bergen-Belsen em 1945.*

A solução encontrada pelos nazistas foi a de promover a


execução de judeus em câmaras de gás, que foram sendo
instaladas nos campos de concentração. Além disso,
foram construídos seis campos de extermínio cujo
intuito era unicamente promover a execução de judeus. A
diferença é que, nos campos de concentração, os judeus,
além de executados, também tinham sua mão de obra
explorada ao máximo.

As câmaras de gás para a execução de judeus foi uma


ideia exportada do Programa de Eutanásia, também
conhecido como Aktion T4. Nesse programa, os nazistas
executavam os que eram considerados inválidos, ou seja,
aqueles que possuíam algum tipo de distúrbio mental ou
deficiência física.

Entrada de Auschwitz, campo de extermínio responsável


pela morte de 1,2 milhão de pessoas. No portal está
escrito “o trabalho liberta”.***

Os campos de extermínio, construídos pelos nazistas a


partir do segundo semestre de 1941, foram: Chelmno,
Belzec, Sobibor, Treblinka, Auschwitz e Majdanek. Todos
esses campos localizavam-se na Polônia, e o primeiro
deles a ser construído foi o de Belzec — local no qual
foi desenvolvida uma câmara de gás à base de monóxido
de carbono e que matava suas vítimas por asfixia.
Depois, outros campos foram construídos, e os nazistas
começaram a utilizar Zyklon-B para assassinar os
prisioneiros.

Dos campos de extermínio citados, a quantidade de


mortos foi a seguinte:

• Auschwitz-Birkenau: aproximadamente 1,2 milhão de


mortos.
• Treblinka: aproximadamente 900 mil mortos.
• Belzec: aproximadamente 400 mil mortos.
• Sobibor: aproximadamente 170 mil mortos.
• Chelmno: aproximadamente 150 mil mortos.
• Majdanek: aproximadamente 80 mil mortos.

Dentre os horrores cometidos nos campos de


concentração, destacaram-se a jornada de trabalho
extenuante, os maus-tratos diários e as péssimas
condições de higiene. Os prisioneiros ficavam em
alojamentos abarrotados de pessoas e eram mal
alimentados. Execuções sumárias sem motivação aparente
aconteciam como forma de tortura psicológica aos
prisioneiros, além das execuções nas câmaras de gás.
Duas crianças judias que morreram de inanição e foram
encontradas no campo de concentração de Bergen-Belsen
em 1945.*

Os prisioneiros recebiam roupas insuficientes para o


inverno, e, na maioria das vezes, elas eram recolhidas
em abril (principalmente no caso de Auschwitz)
independentemente se o frio tivesse passado ou não.
Eles eram obrigados a suportar a enorme quantidade de
percevejos e pulgas nos alojamentos. Quando adoeciam, o
tratamento oferecido era sempre insuficiente. Na
questão médica, também há registros de testes
realizados em cobaias humanas por médicos nazistas em
diversos campos de concentração.

Os prisioneiros dos campos de concentração foram sendo


libertados à medida que os nazistas foram perdendo a
Segunda Guerra Mundial. No decorrer em que suas
posições no Leste Europeu eram ameaçadas, os nazistas
intensificaram a velocidade das execuções de judeus nas
câmaras de gás, além de terem tentado ocultar os
indícios do genocídio, seja com a destruição de
documentos, seja com a exumação dos corpos.

• Julgamentos em Nuremberg
Depois que os nazistas renderam-se em maio de 1945,
muitos deles e seus colaboradores, que atuaram
diretamente no Holocausto, foram presos e levados a
julgamento no Tribunal Militar Internacional de
Nuremberg. Os julgamentos em Nuremberg estenderam-se
durante nove meses e condenaram alguns nazistas à morte
por enforcamento, enquanto outros receberam penas de
prisão perpétua ou por certa quantidade de tempo.

Entre os condenados à morte por enforcamento, estavam


Hermann Göring, chefe da Luftwaffe (força aérea), e
Joachim von Ribbentrop, ministro das Relações
Exteriores da Alemanha. Entre os condenados à prisão
perpétua, estavam Rudolf Hess, vice-líder do partido
nazista, e Erich Raeder, comandante da Kriegsmarine
(marinha alemã).

Ascensão do Fascismo e do Nazismo

Por Pedro Eurico Rodrigues

Mestrado em História (UDESC, 2012)

Graduação em História (UDESC, 2009)

Ouça este artigo:

A ascensão do Fascismo e do Nazismo aconteceu no


período entreguerras, ou seja, um tempo de crises e de
descrédito na Europa, entre 1919 e 1939. A Primeira
Guerra Mundial acabou com as crenças em prosperidade no
mundo ocidental, especialmente no continente europeu.

O século XIX foi marcado pela euforia com o progresso,


as descobertas científicas, o avanço da Revolução
Industrial e a hegemonia europeia no mundo por meio do
colonialismo e do imperialismo. No final no século XIX,
com a Conferência de Berlim, as potências europeias
partilharam entre si o continente africano com a
intenção de explorar suas matérias primas para a
indústria em expansão. Além disso, lutaram pelo fim do
tráfico atlântico na evidente intenção de fomentar
novos mercados consumidores e vivenciaram assim um
período de enriquecimento e expansão econômica, e o
otimismo fazia parte da realidade das nações europeias.

Durante o período posterior à Primeira Guerra Mundial o


poder econômico europeu foi diminuindo, enquanto novas
potências cresciam. Os Estados Unidos da América
mantiveram sua economia forte, e na Ásia o Japão se
industrializou e se tornou imperialista. Portanto, o
centro do mundo – como acreditavam os europeus – não
era mais o Velho Continente.

As crises – sociais, políticas e econômicas – estavam


presentes em uma Europa já em descrédito, que aos
poucos via o número de conflitos sociais crescerem.
Desta forma, vários foram os movimentos de esquerda que
surgiram neste cenário, onde os sindicatos exerceram
importante papel.

Desta forma a euforia e o otimismo tão presentes no


século XIX abriram espaço para o pessimismo e para o
descrédito espalhados por toda a Europa. Isso começou a
fazer parte das propostas e ideias para a saída da
crise e um nacionalismo agressivo surgido como solução
foi uma dessas propostas que acabou ganhando força,
especialmente na Alemanha e na Itália. Violência e
ditadura passaram a significar solução. A justificativa
do uso da força e da instauração de governos
ditatoriais foi usada diversas vezes na história como
argumento para conter momentos de crise e desordem.

A Alemanha, derrotada na Primeira Guerra Mundial, viu


nas ideias nazistas de Adolf Hitler uma solução para
sua recuperação. Já a Itália, mesmo vitoriosa na
Primeira Guerra, viu em Benito Mussolini o líder que
através do fascismo salvaria a Itália da crise.

Hitler e Mussolini conseguiram formar grupos de extrema


direita compostos por ex-militares, estudantes e
profissionais liberais, para quem as ideias
nacionalistas e racistas fizeram sentido, pois
atribuíam ao outro a culpa pela crise.

Os líderes alemão e italiano acabavam com comícios e


qualquer tipo de manifestação socialista através de
organizações paramilitares que combatiam – com o aval
do Estado – o que chamavam de perigo vermelho.

Pode-se perceber que a construção do medo do comunismo,


do socialismo e de ideias de esquerda estiveram
presentes em vários processos históricos ao redor do
mundo. A falta de informação leva, inclusive, pessoas a
acreditarem até hoje que o Partido Nazista, por
carregar o nome de Partido Nacional Socialista dos
Trabalhadores Alemães, estava ligado às ideias
socialistas. É sabido que o socialismo e o comunismo
foram grandes inimigos dos regimes totalitários e a
utilização dos termos socialista e trabalhadores foi
uma estratégia para conquistar os trabalhadores
afastando-os do que consideravam perigoso: as ideias de
esquerda que se alastravam no mundo.

Segunda Guerra Mundial


A Segunda Guerra Mundial foi um conflito de escala
global que aconteceu entre 1939 e 1945 e ficou marcada
por eventos como o Holocausto e o uso de bombas
atômicas.

O Dia D foi um dos dias mais marcantes da Segunda


Guerra Mundial e ocorreu em 6 de junho de 1944.

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A Segunda Guerra Mundial foi um conflito de proporções


globais que aconteceu entre 1939 e 1945. Caracterizada
como um conflito em estado de guerra total (no qual há
mobilização de todos os recursos para a guerra), a
Segunda Guerra Mundial fez Aliados e Eixo enfrentarem-
se na Europa, África, Ásia e Oceania. Após seis anos de
conflito, mais de 60 milhões de pessoas morreram.

Leia também: Totalistarismo — o regime político que


surgiu em vários países europeus no século XX

Tópicos deste artigo

• 1 - Resumo sobre a Segunda Guerra Mundial



• 2 - Videoaula sobre a Segunda Guerra Mundial

• 3 - Causas da Segunda Guerra Mundial

• 4 - Mapa Mental: Segunda Guerra Mundial

• 5 - Combatentes da Segunda Guerra Mundial

• 6 - Fases da Segunda Guerra Mundial
• 7 - Segunda Guerra Mundial na Ásia
• Bombas atômicas

• 8 - Fim da Segunda Guerra Mundial

• 9 - Consequências

• 10 - Filmes sobre a Segunda Guerra Mundial

Resumo sobre a Segunda Guerra Mundial

• A Segunda Guerra Mundial estendeu-se de 1939 até


1945.
• O conflitou resultou morte de 60 milhões a 70
milhões de pessoas, embora existam estatísticas que
sugiram que a guerra provocou mais que 70 milhões
de mortos.
• O estopim para a deflagração da guerra foi a
invasão da Polônia pelos alemães em 1º de setembro
de 1939.
• A guerra iniciou-se na Europa, mas espalhou-se pela
África, Ásia e Oceania e contou com o envolvimento
de nações de todos os continentes, inclusive o
Brasil.
• Pode ser organizada em três fases distintas: a fase
da supremacia alemã, a fase em que as forças
estavam equilibradas e a fase que marcou a derrota
do Eixo.
• Os grupos que se enfrentaram na guerra foram:
• os Aliados (Reino Unido, França, União
Soviética e Estados Unidos) e
• o Eixo (Alemanha, Itália e Japão).
• Esse conflito ficou marcado por uma série de
acontecimentos impactantes, tais como o Massacre de
Katyn, o Holocausto, o Massacre de Babi Yar e o
lançamento das bombas atômicas sobre Hiroshima e
Nagasaki.
• Teve fim oficialmente em 2 de setembro de 1945,
quando os japoneses assinaram um documento que
reconhecia sua rendição incondicional aos
americanos (os nazistas renderam-se aos Aliados em
maio de 1945).

Videoaula sobre a Segunda Guerra Mundial

Vídeos

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Causas da Segunda Guerra Mundial

A Segunda Guerra Mundial teve como grande causa o


expansionismo e o militarismo da Alemanha Nazista. Essa
postura da Alemanha refletia diretamente a ideologia
dos nazistas, que haviam alcançado o poder da Alemanha
em 1933. A ação dos nazistas resultava, em grande
parte, da insatisfação de uma parte radicalizada da
sociedade alemã com o desfecho da Primeira Guerra
Mundial.

Ao final da Primeira Guerra Mundial, consolidou-se


fortemente na sociedade alemã uma ideia de que a
derrota na guerra havia sido injusta. Somado a isso,
havia também a grande humilhação que a Alemanha sofreu
com o Tratado de Versalhes, acordo que pôs fim à
Primeira Guerra e que proibia a Alemanha de ter navios
e aviões de guerra, limitou ao número de 100 mil os
soldados de infantaria, obrigou a nação alemã a pagar
uma indenização altíssima e a entregar suas colônias
para aqueles que a derrotaram.
Para piorar, na década de 1920, durante a República de
Weimar, a Alemanha encarou uma crise econômica
duríssima, que levou o país à falência. Essa crise foi
agravada com a Crise de 1929, que, por sua vez,
reforçou a crise da democracia liberal e fomentou
movimentos autoritários e fascistas pela Europa. O
fascismo italiano e o nazismo alemão são os grandes
exemplos.

Os nazistas ocuparam o poder da Alemanha em 1933, e


Adolf Hitler, o líder do partido nazista, iniciou uma
campanha de recuperação da Alemanha, de doutrinação da
população e de perseguição às minorias. A Alemanha, ao
recuperar a sua economia, partiu para o rearmamento –
um desafio claro às determinações do Tratado de
Versalhes. Franceses e ingleses nada fizeram, pois
temiam que um desafio aos alemães poderia levar a
Europa a uma nova guerra, experiência essa que queriam
evitar ao máximo.

À medida que a Alemanha fortaleceu-se militarmente,


Hitler deu início ao seu expansionismo territorial. A
ideia dele era construir o lebensraum, o “espaço vital”
que os nazistas tanto almejavam. Esse conceito
consistia basicamente em formar um império para a
Alemanha em territórios que historicamente haviam sido
ocupados por germânicos. Esse era o Terceiro Reich, um
império dedicado exclusivamente para os arianos (ideal
de raça pura dos nazistas) e que sobreviveria à custa
da exploração dos eslavos.
O expansionismo germânico ocorreu em três momentos
distintos. Inicialmente foi realizada a invasão e
anexação da Áustria, evento conhecido como Anschluss e
que ocorreu em 1938. Em 1939, os alemães manifestaram o
interesse de invadir e anexar os Sudetos, região da
Checoslováquia. Após negociações conduzidas por
britânicos e franceses, os alemães tiveram autorização
para anexar os Sudetos (acabaram anexando quase toda a
Checoslováquia). Por fim, veio a Polônia. Esse país do
Leste Europeu havia surgido ao final da Primeira Guerra
Mundial em territórios que anteriormente pertenciam aos
alemães e aos russos.

A retórica de Hitler contra os poloneses endureceu-se


em meados de 1939. A invasão da Polônia, no entanto,
não seria aceita por ingleses e franceses. Ambos os
países haviam exigido de Hitler, durante a Conferência
de Munique, que suas ambições territoriais encerrassem-
se na Checoslováquia.

Hitler, no entanto, não esperava que ingleses e


franceses fossem reagir aos seus movimentos. Em 1º de
setembro, ordenou a invasão da Polônia utilizando como
justificativa um suposto ataque polonês na fronteira
com a Alemanha (o ataque foi forjado pelos nazistas).
Dois dias depois, britânicos e franceses responderam à
agressão alemã contra a Polônia com uma declaração de
guerra. Esse foi o início da Segunda Guerra Mundial.
Confira no nosso podcast: Marcos do período
entreguerras

Mapa Mental: Segunda Guerra Mundial

*Para baixar o mapa mental em PDF, clique aqui!

Combatentes da Segunda Guerra Mundial

A Segunda Guerra Mundial contou com o envolvimento de


dezenas de países. Os participantes da Segunda Guerra
Mundial podem ser agrupados em dois grupos.

• Aliados: Reino Unido, França, União Soviética e


Estados Unidos eram os membros principais;
• Eixo: Alemanha, Itália e Japão eram os membros
principais.

Adolf Hitler e Benito Mussolini eram os líderes da


Alemanha e Itália, respectivamente. Ambas as nações
pertenciam ao Eixo.

Naturalmente, ao longo da guerra, diversos outros


países foram tomando partido e juntando-se a um dos
dois lados que estavam na luta. Do lado dos Aliados,
por exemplo, lutaram o Canadá, o Brasil, a Austrália, a
China, a Holanda etc. No Eixo, atuaram nações como
Hungria, Romênia, Croácia etc. É importante mencionar
que em diversos locais que os nazistas pisaram houve
colaboracionismo, mas também houve resistência.

Um símbolo do colaboracionismo com os nazistas foi


Vidkun Quisling, nazista da Noruega que organizou o
plano de invasão de seu próprio país com os alemães.
Símbolos de resistência contra os nazistas foram, por
exemplo, os guerrilheiros (partisans) da Bielorrússia
(conhecida atualmente como Belarus) que organizaram
forças nas florestas de seu país e atuaram por anos
sabotando os nazistas.

Fases da Segunda Guerra Mundial

A Segunda Guerra Mundial pode ser dividida em três


fases para melhor entendimento dos acontecimentos do
conflito, a saber:

• Supremacia do Eixo (1939-1941): nessa fase,


tornaram-se notórios o uso da blitzkrieg e a
conquista de diversos locais pelas tropas da
Alemanha. Além disso, na Ásia, os japoneses
conquistaram uma série de territórios dominados por
britânicos, franceses e holandeses.
• Equilíbrio de forças (1942-1943): nessa fase, os
Aliados conseguiram recuperar-se na guerra, tanto
na Ásia quanto na Europa, e equilibraram forças com
os alemães. Essa fase ficou marcada pela
indefinição de quem ganharia o conflito.
• Derrota do Eixo (1944-1945): nessa fase, o Eixo
estava em decadência. A Itália foi invadida;
Mussolini, deposto; os alemães e japoneses passaram
a ser derrotados sucessivamente e ambos os países
entraram em colapso.

A guerra, conforme mencionado, foi iniciada quando os


alemães invadiram a Polônia em 1º de setembro de 1939.
A partir desse momento, os alemães iniciaram a
utilização de uma tática que se destacou no conflito: a
blitzkrieg. Essa palavra em alemão significa “guerra-
relâmpago” e consistia, basicamente, em uma tática em
que artilharia e infantaria faziam ataques coordenados
contra as linhas adversárias com o objetivo de abri-
las. A partir da abertura das linhas, a infantaria e os
blindados faziam rápidas movimentações no território
para penetrar na brecha que foi aberta.

Entre 1939 e 1941, os alemães conquistaram Polônia,


Dinamarca, Noruega, Holanda, Bélgica, França,
Iugoslávia e Grécia. Nesse período, as conquistas
aconteciam em uma velocidade assombrosa, com as forças
alemãs passando a dominar grande parte do continente
europeu.

Em 1941, a Alemanha parecia invencível, e os alemães


organizaram o seu plano mais ousado em toda a guerra: a
Operação Barbarossa. Essa operação consistia em
coordenar a invasão do grande adversário dos alemães na
Europa: o bolchevismo soviético. Até esse momento,
ambas as nações estavam em paz, pois, em 1939, haviam
assinado um pacto de não agressão, em que concordavam
em não lutar entre si durante um período de 10 anos.

Tropas alemãs em Minsk, Bielorrússia, durante a


Operação Barbarossa.

A invasão da União Soviética aconteceu em 22 de junho


de 1941, e o plano dos alemães era conquistar o país em
oito semanas. O fracasso dos alemães nesse sentido
destruiu toda e qualquer possibilidade de o fazerem em
longo prazo, pois a Alemanha não tinha recursos e nem
dinheiro para uma guerra de longa duração contra os
soviéticos.

Os alemães tinham três objetivos: Moscou, Leningrado e


Stalingrado. A capital soviética quase foi conquistada
(Moscou) porque os alemães chegaram a poucos
quilômetros dela, mas falharam. Leningrado foi cercada
pelos alemães durante 900 dias e deixada para morrer de
fome – os relatos sobre a fome na cidade mostram o
desespero da população diante da falta de alimento.

O ponto-chave da Segunda Guerra Mundial aconteceu em


uma cidade do sul da União Soviética (sul da atual
Rússia) que fica às portas do Cáucaso e à beira do rio
Volga: Stalingrado. A conquista dessa cidade era
crucial para os alemães garantirem o controle sobre os
poços de petróleo do Cáucaso, além de ser simbólico
conquistar a cidade que levava o nome do líder da União
Soviética, Josef Stalin.

A luta em Stalingrado foi duríssima e estendeu-se de


julho de 1942 até 1943. Antes de Stalingrado os alemães
haviam conquistado vastos territórios da União
Soviética (os alemães tinham conquistado os Países
Bálticos, Ucrânia, Bielorrússia etc). Em Stalingrado,
os alemães sofreram a derrota que iniciou a virada dos
Aliados.

A batalha por Stalingrado resultou na morte de 1 a 2


milhões de pessoas, e a descrição dessa batalha define-
a como um inferno. A cidade foi arrasada, e os alemães
estiveram bem perto de conquistá-la, mas a resistência
dos soviéticos garantiu a derrota dos alemães. Durante
essa batalha, diariamente, milhares de soldados e de
munição eram enviados para as tropas soviéticas. A
derrota dos alemães veio logo após a Operação Urano.

Destruição em Stalingrado causada pela batalha que


aconteceu na cidade entre 1942 e 1943.

As tropas alemãs foram empurradas para fora da cidade


e, sem autorização para recuar, foram cercadas pelos
soviéticos. Nesse momento, o exército, a indústria e a
economia alemã iniciaram seu colapso. Começava a
recuperação dos Aliados na luta contra os alemães.
Outra batalha importante que selou o destino dos
alemães na União Soviética foi a batalha travada em
Kursk, em 1943.

Nesse ano também (1943), britânicos e americanos


ampliaram seus esforços na luta contra os alemães. A
partir dos esforços dos Estados Unidos e da Inglaterra,
as tropas alemãs foram expulsas do norte do continente
africano. Depois, os Aliados debateram a respeito das
possibilidades de um ataque contra os alemães na
Normandia. Esse plano, no entanto, foi adiado, e
americanos e britânicos optaram por invadir a Sicília.
Com o desembarque de tropas aliadas na Sicília,
iniciou-se a reconquista da Itália, e os alemães foram
obrigados a reforçar as defesas no norte italiano. Foi
na frente de batalha travada na Itália, inclusive, que
as tropas brasileiras lutaram entre 1944 e 1945. A
partir de 1944, a situação da Alemanha na guerra era
caótica, e mais derrotas ocorreram.

Em junho de 1944, britânicos e americanos lideraram, no


dia 6, o desembarque de tropas conhecido como Dia D.
Essa operação fazia parte dos planos de reconquista da
França (ocupada pelos alemães desde 1940). No Dia D,
foram mobilizados cerca de 150 mil soldados, que
desembarcaram em cinco praias da Normandia: os
codinomes das praias eram Utah, Juno, Sword, Gold e
Omaha.

No mapa, podemos identificar as cinco praias designadas


para o desembarque das tropas dos Aliados.

Na virada de 1944 para 1945, a situação da Alemanha era


desesperadora. Nos primeiros meses de 1945, os alemães
acumularam grande parte de suas perdas em toda a
Segunda Guerra Mundial. Na virada do ano, foi travada a
última ofensiva dos alemães na Batalha das Ardenas, que
tinha como objetivo recuperar territórios na França e
Bélgica. A campanha foi um fracasso e serviu para
enfraquecer as tropas alemãs que ainda resistiam no
front oriental.

Uma consequência direta da derrota nas Ardenas foi a


perda de territórios na Polônia, quando os soviéticos
conseguiram avançar do rio Vístula para o rio Oder e
ficar à beira da fronteira com a Alemanha. Além disso,
os soviéticos avançaram pelo Leste Europeu,
conquistando locais como Budapeste (Hungria) e a
Iugoslávia.

Segunda Guerra Mundial na Ásia

Em dezembro de 1941, os japoneses atacaram os


americanos de surpresa em Pearl Harbor, no Havaí.

O conflito na Ásia ficou marcado pela luta travada


entre japoneses e americanos no que também ficou
conhecido como Guerra do Pacífico. Ao longo da década
de 1930, o Japão também manifestou intenções
expansionistas baseado em um forte militarismo. O
resultado direto disso foi a Segunda Guerra Sino-
Japonesa, conflito iniciado em 1937 que se fundiu com a
Segunda Guerra Mundial e, portanto, só teve fim em
1945.
Antes mesmo do início da Segunda Guerra Mundial, os
japoneses haviam participado de uma batalha contra os
soviéticos entre junho e agosto de 1939. A Batalha de
Khalkhin Gol, como ficou conhecida, foi travada
basicamente por disputas territoriais existentes entre
japoneses e mongóis (apoiados pelos soviéticos).

Os japoneses foram derrotados nessa batalha, o que foi


fundamental para o caminho que os japoneses tomaram em
seguida. Com a derrota nessa batalha, os japoneses
passaram a priorizar levar a guerra para o sul da Ásia,
ou seja, para as colônias europeias que ficavam no
sudeste asiático, e contra os Estados Unidos.

Em 1937, foi iniciada a guerra do Japão contra a China.


Em 1940, os japoneses invadiram a Indochina Francesa e,
em 1941, além de atacarem os americanos em Pearl
Harbor, invadiram uma série de colônias britânicas e a
colônia holandesa.

O ataque a Pearl Harbor é entendido como marco da


Guerra no Pacífico e aconteceu em dezembro de 1941. Por
causa desse ataque, os americanos declararam guerra
contra o Japão e iniciaram a sua luta contra o exército
e marinha japoneses. Alguns momentos marcantes da luta
travada no Pacífico foram as batalhas de Midway (vista
como a virada dos americanos na luta contra os
japoneses), Guadalcanal e Tarawa, que aconteceram entre
1942 e 1943.
De 1944 em diante a situação do Japão era similar à da
Alemanha: o país estava em ruínas, mas seguia
resistindo. No ano final da guerra, batalhas cruciais
foram travadas em Iwo Jima, Okinawa e nas Filipinas,
sendo as duas primeiras ilhas pertencentes ao
território japonês. Nessas batalhas ficou evidente que
a resistência promovida pelos japoneses seria realizada
até a morte.

Os soldados japoneses, de fato, lutaram até a morte –


pouquíssimos renderam-se aos americanos. Além da
doutrinação imposta aos soldados, a rendição na cultura
japonesa era vista de forma vergonhosa; sendo assim, os
soldados lutavam até ser mortos ou, em casos extremos,
cometiam o seppuku – um ritual de suicídio no qual uma
adaga é enfiada nas entranhas.

Após a rendição dos nazistas, os Aliados exigiram, na


Declaração de Potsdam, em julho de 1945, a rendição
incondicional dos japoneses; caso contrário, eles
enfrentariam a sua própria destruição. Os japoneses não
aceitaram se render e, em represália a isso, os
americanos organizaram os ataques a Hiroshima e
Nagasaki com bombas atômicas.

Veja também: Vitórias Japonesas na Segunda Guerra


Mundial e Derrota Japonesa na Segunda Guerra Mundial
• Bombas atômicas

Existe um debate intenso entre os historiadores a


respeito da questão ética por trás do lançamento dessas
bombas sobre o Japão. Existem aqueles que defendem a
hipótese de que o lançamento foi apenas uma
demonstração de força dos americanos e totalmente
desnecessário, tendo em vista a situação em que o Japão
estava naquele momento. Por outro lado, existem aqueles
que afirmam que o lançamento foi justificado dentro
daquele cenário porque o Japão negava-se a se render, e
a invasão da ilha principal do Japão custaria a vida de
milhares de soldados americanos.

Além disso, dentro do cenário de resistência dos


japoneses até a morte, os americanos não sabiam até
quando o conflito se estenderia. Assim, o lançamento
seria justificado como ferramenta para forçar o fim da
guerra.

Argumentos à parte, o lançamento das bombas atômicas


foi um dos capítulos mais tristes da história mundial.
Os relatos narram toda a destruição e o horror que se
espalharam em 6 e 9 de agosto de 1945. Após o
lançamento da segunda bomba, os japoneses renderam-se
incondicionalmente aos americanos.Para saber mais,
leia: Efeitos das bombas atômicas sobre Hiroshima e
Nagasaki.
Fim da Segunda Guerra Mundial

A batalha final no cenário de guerra europeu foi


travada em Berlim, capital alemã, onde foi organizada a
resistência final dos nazistas em uma situação tão
desesperadora que havia tropas compostas por velhos e
crianças. O ataque a Berlim foi realizado apenas pelos
soviéticos e, logo após as tropas do Exército Vermelho
entrarem no Reichstag (Parlamento alemão), Hitler e sua
esposa (Eva Braun) cometeram suicídio. O comando da
Alemanha foi transmitido para Karl Dönitz, e os alemães
renderam-se oficialmente no dia 8 de maio de 1945.

No cenário asiático, a guerra teve fim oficialmente no


dia 2 de setembro de 1945, quando os japoneses
assinaram sua rendição incondicional aos americanos. A
rendição japonesa foi resultado direto do lançamento
das bombas atômicas sobre Hiroshima, em 6 de agosto, e
Nagasaki, em 9 de agosto.

Confira no nosso podcast: Consequências da Segunda


Guerra Mundial para o Japão

Consequências

Após a Segunda Guerra Mundial, o mundo passou por


intensas e radicais transformações. Logo após a guerra
já estava predefinido o cenário que caracterizaria o
mundo pelas décadas seguintes: o da bipolarização do
período da Guerra Fria. O Leste Europeu foi ocupado
pelas tropas do Exército Vermelho, e toda essa região
ficou sob a influência do comunismo soviético.

As potências dos Aliados reuniram-se em 1945 e


debateram a respeito das mudanças territoriais que
aconteceriam no mapa europeu. Assim, a Alemanha, por
exemplo, perdeu territórios para os soviéticos (a
chamada Prússia Oriental passou a ser da União
Soviética e atualmente é conhecida como Oblast de
Kaliningrado e fica na atual Rússia). Vale mencionar
também que a Alemanha foi ocupada por tropas
britânicas, americanas, francesas e soviéticas.

Após a Segunda Guerra, foram criados tribunais que


julgaram os crimes de guerra cometidos por alemães e
japoneses. Pessoas que estiveram diretamente envolvidas
com o Holocausto e com os massacres cometidos pelo
Japão na Ásia foram julgadas no Tribunal Militar
Internacional de Nuremberg e no Tribunal Internacional
para o Extremo Oriente.

Após o final da Segunda Guerra Mundial, foi criada a


Organização das Nações Unidas, conhecida como ONU e
responsável pela manutenção da paz entre as nações. A
intenção de uma organização como a ONU é evitar que
outro conflito como a Segunda Guerra Mundial aconteça.
Por fim, uma consequência direta da bipolarização do
mundo, com os soviéticos representando um modelo e os
americanos representando outro, foi a criação de um
plano de reconstrução da Europa Ocidental financiado
pelos Estados Unidos: o Plano Marshall.

regimes totalitários na Europa: Itália e Alemanha.

O fascismo na Itália

Após a Primeira Guerra Mundial, o cenário político era


crítico em muitos países da Europa. Grande parte da
população estava desalentada, pois o fim da guerra não
havia melhorado suas condições de vida. Além disso,
ainda era grande o sentimento nacionalista, que fora
bastante estimulado durante a guerra.

Para alguns grupos sociais, nem a ideologia socialista


nem a liberal eram capazes de resolver os graves
problemas da sociedade. A destruição provocada pela
guerra, piorada pela falta de matérias-primas e de
dinheiro, abateu a confiança de muitos europeus em seus
governantes.

Nessa situação de crise, a ideologia do fascismo


adquiriu seguidores, conquistando desempregados,
estudantes e a classe média, formada por funcionários
públicos, profissionais liberais, militares e pequenos
proprietários de terras, de fábricas e de
estabelecimentos comerciais. O fascismo suscitou a
mobilização das massas, mas também recebeu apoio de
grupos paramilitares nacionalistas e da burguesia,
temerosa do crescimento do socialismo. Na Itália, o
principal líder fascista foi Benito Mussolini.

A ideologia fascista

O fascismo surgiu na Itália com base nas ideias


difundidas por Benito Mussolini, que em 1921 fundou o
Partido Fascista. Após combater na Primeira Guerra
Mundial e escrever para jornais socialistas, Mussolini
procurou criar uma nova ideologia política.

De acordo com essa sugestão, a solução para os


problemas sociais dos países seria a adoção de alguns
princípios básicos, como: o nacionalismo, de tendências
xenófobas e ao racismo; a militarização, com um governo
autoritário e expansionista; e o corporativismo,
sistema em que os sindicatos de trabalhadores são
substituídos por corporações submetidas ao controle do
Estado, em que participam operários e patrões.

A ascensão do fascismo

Aproveitando a insatisfação popular, Mussolini


organizou e liderou, em 1922, uma passeata fascista em
Roma, denominada Marcha sobre Roma, que contou com a
participação de milhares de pessoas.

Após essa manifestação de poder, o rei italiano Vítor


Emanuel III concedeu o cargo de primeiro-ministro a
Mussolini, que, a partir de então, aumentou a
perseguição às pessoas contrárias às suas ideias. Além
disso, ele substituiu os sindicatos dos trabalhadores
por corporações e aboliu o Poder Legislativo e os
demais partidos, concentrando o poder do Estado no
Partido Fascista. Com essas medidas centralizadoras,
Mussolini tornou-se ditador da Itália.

A ascensão do nazismo na Alemanha

No início da década de 1920, a Alemanha passava por uma


profunda crise econômica e sofria com a crescente
inflação. A dívida do Estado alemão era acentuada pela
alta indenização que, de acordo com o Tratado de
Versalhes, o governo se comprometeu a pagar aos
Aliados.

Nessa situação, foi fundado o Partido Nazista. O


nazismo, ideologia desse partido, demonstrava
princípios semelhantes aos do fascismo, porém dava
grandiosa ênfase ao racismo e ao antissemitismo, além
de condenar a democracia liberal da República de
Weimar. O maior líder do Partido Nazista era Adolf
Hitler.

Em 1923, Hitler liderou os nazistas em um golpe para


procurar tomar o poder na cidade de Munique, na região
alemã da Baviera. A tentativa de golpe foi velozmente
sufocada pela polícia bávara e Hitler foi preso com
outros nazistas.

Na prisão, Hitler escreveu a obra Mein Kampf (Minha


Luta), definindo alguns princípios da ideologia
nazista, entre eles a necessidade de a “raça” ariana se
constituir como nação, o culto à personalidade do líder
e a destruição da democracia, utilizando para isso a
própria política como estratégia, ao combiná-la com
ações armadas.

Os textos acima apresentam o contexto do surgimento de


alguns regimes totalitários na Europa e buscam
caracterizar o fascismo e o nazismo embora tenham
características semelhantes.

Vejamos as causas e as características principais do


Nazifascismo:

Causas Gerais:

1. Crise do pós-1ª Guerra Mundial.

2. Crise de 29.

3. Crescimento dos partidos socialistas (medo da


burguesia).

4. Revanchismo.

Características principais do Nazifascismo:

1. Nacionalismo extremado (xenófobo).

2. Totalitarismo.

3. Militarismo.

4. Anticomunismo.

5. Antiliberalismo.

6. Unipartidarismo.
7. Culto ao líder.

8. Propaganda governamental.

9. Educação dirigida.

10. Corporativismo.

11. Racismo.

12. Expansionismo territorial.

Nessa parte em que foi apresentado as principais


características do Nazifascismo é necessário que se
faça uma pesquisa e identifique o significado de cada
uma das características citadas.

As ideologias descritas acima são classificadas como


regimes totalitários, mas o que é um regime
totalitário?

Concentração do poder nas mãos de um único governante –


poder nas mãos de uma única pessoa -, onde não há
espaço para democracia e muito menos para direitos e
garantias individuais. Manter o controle da população
por parte do culto do líder. São exemplos de regimes
totalitários: Fascismo, Nazismo e Stalinismo.

Para ajudar na compreensão do que seja, apresentamos


duas charges para que vocês (estudantes) analisem as
mesmas e posteriormente – nas atividades identifiquem
algumas características – a utilizarão para
intertextualizar os temas abordados até aqui.
Imagem 1

Imagem 2

Segunda Guerra Mundial

A Segunda Guerra Mundial foi o conflito mais sangrento da


nossa história. De 1939 a 1945, milhões de pessoas perderam
suas vidas no campo de batalha. A política expansionista e
militarista do nazifascismo provocou um novo conflito
mundial. Aliados e Eixo disputaram durante seis anos a
vitória na guerra. O Brasil também participou de forma
efetiva com as tropas aliadas. O final da Segunda Guerra
Mundial trouxe grandes consequências para o mundo.

Leia também: Japão após a Segunda Guerra Mundial – o que


ocorreu depois da rendição?

Causas da Segunda Guerra Mundial

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Para compreender as causas da Segunda Guerra Mundial, é


preciso resgatar a forma como terminou a Primeira Guerra
Mundial, em 1918. O Tratado de Versalhes, assinado no ano
seguinte, impôs severas sanções à Alemanha, que foi
considerada a culpada pela guerra. Os alemães saíram
derrotados e humilhados do conflito. Além disso, a crise
econômica de 1929, originada nos Estados Unidos, rapidamente
se espalhou pelo mundo, aprofundando ainda mais os países
europeus, que, a muito custo, tentavam reerguer-se dos
escombros da guerra.

Esse cenário catastrófico, de crise política, social e


econômica, fez surgir grupos radicais que prometiam resgatar
a grandeza do império alemão de séculos anteriores, vingando
a humilhação que o Tratado de Versalhes promoveu ao povo
alemão. Adolf Hitler, com seu Partido Nazista, ganhava
espaço na política da Alemanha.

Em 1933, Hitler foi aclamado como chanceler e tinha em suas


mãos todos os poderes para governar os alemães. O Führer, o
“líder”, era aclamado por onde passava, e a ele o seu povo
prestava juramento de lealdade. A partir desse momento,
Hitler tratou de expandir o domínio alemão sobre a Europa,
reivindicando territórios que pertenceram ao império alemão.
Ele estava disposto a tudo para construir o Terceiro Reich.

A Itália também atravessava processo semelhante. Os


italianos, assim como os alemães, saíram humilhados da
Primeira Guerra Mundial e, durante a década de 1920,
enfrentaram uma crise geral, com greves e desemprego. Benito
Mussolini liderou o Partido Fascista e foi alçado ao poder
em 1922, tornando-se o Il Duce, o grande líder do povo
italiano.

Com tantas semelhanças entre alemães e italianos, não


demorou para que Hitler e Mussolini se aproximassem e
fizessem alianças políticas e militares. Pouco antes de
começar a guerra, os dois líderes aproximaram-se do Japão,
dando início ao Eixo, que lutaria contra os Aliados na
Segunda Guerra Mundial.

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Ao perceber o avanço de Hitler, primeiro na política interna


da Alemanha e depois, externamente, ao procurar anexar
países, Inglaterra e França decidiram não intervir nas
decisões nazistas. Tratava-se da política de apaziguamento.
Em vez de atacar o inimigo e provocar outra guerra, os
líderes britânicos e franceses decidiram conversar, fazer um
acordo com Hitler. Winston Churchill, que, em 1940, seria o
premier britânico durante quase toda a guerra, disse uma
frase que resumiu essa política:

“Entre a desonra e a guerra, vocês escolheram a desonra e


terão a guerra.”

Ao permitir que Hitler mantivesse o seu expansionismo para


evitar uma nova guerra, Inglaterra e França estavam entrando
em outro conflito. Hitler também fez um acordo com Josef
Stalin, líder da União Soviética, o Pacto Molotov-
Ribbentrop, um tratado de não agressão entre os dois países.
Hitler não cumpriria esse pacto e, em 1941, invadiria a
URSS.

O expansionismo nazista, as anexações de territórios e a não


intervenção das grandes potências europeia acabaram levando
o mundo para outro conflito mundial sem precedentes em nossa
história. Em 1º de setembro de 1939, as tropas alemãs
invadiram a Polônia. Apesar das inúmeras exigências para que
se retirassem do território polonês, elas permaneceram. Com
a recusa alemã em cumprir as exigências, Inglaterra e França
declararam guerra contra a Alemanha, desencadeando a Segunda
Guerra Mundial.

Veja também: O nazismo era de esquerda ou de direita?

Combatentes da Segunda Guerra Mundial

Os países que lutaram durante Segunda Guerra Mundial


agruparam-se em Aliados e Eixo. Os Aliados eram:

• Estados Unidos
• Inglaterra
• França
• União Soviética

Enquanto o Eixo era formado por:

• Alemanha
• Itália
• Japão

Fases e acontecimentos da Segunda Guerra Mundial

Podemos dividir a Segunda Guerra Mundial em duas fases:

• Primeira fase (1939-1942)

Nessa fase, as tropas do Eixo avançaram rapidamente pela


Europa. Em 1940, as tropas nazistas já ocupavam grande parte
da França. Hitler fez questão de que a rendição francesa
fosse assinada no mesmo vagão de trem que, em 1918, os
alemães renderam-se logo após a derrota na Primeira Guerra
Mundial. A Inglaterra foi atacada por aviões alemães. Em
1940, Winston Churchill foi eleito primeiro-ministro e
iniciou a reação inglesa contra o ataque inimigo.

Essa fase favorável ao Eixo encerrou-se em 1941, quando as


tropas nazistas foram derrotadas na União Soviética, após
invasão ordenada por Hitler. Em dezembro do mesmo ano, os
Estados Unidos foram atacados por kamikazes japoneses em sua
base aérea de Pearl Harbor, no Oceano Pacífico. Os norte-
americanos, com esse ataque, entraram na guerra.

• Segunda fase (1943-1945)

A segunda fase da guerra foi definitiva para o término do


conflito. Com a entrada dos Estados Unidos e da União
Soviética no confronto, ingleses e franceses contaram com
ajudas importantes para responder aos ataques nazifascistas.
As tropas aliadas iniciaram o contra-ataque e reverteram o
avanço do Eixo obtido na primeira fase. Do lado oriental, as
tropas soviéticas; do lado ocidental, as tropas americanas,
inglesas e francesas.

Na Europa, o Eixo foi perdendo espaço e sendo encurralado


pelos Aliados. Benito Mussolini foi o primeiro líder a ser
derrotado. Um dos dias mais marcantes para os Aliados na
Segunda Guerra Mundial foi o dia 6 de junho de 1944, que
entrou para a história como o Dia D. Nessa ocasião, ocorreu
o desembarque dos aliados na Normandia, norte da França, ato
que foi decisivo para encaminhar o Eixo à derrota ao iniciar
a libertação francesa do domínio nazista.
A Itália foi o primeiro país do Eixo a se render, em 1943.
Dois anos depois, veio a derrota nazista. Percebendo que a
vitória dos Aliados era uma realidade, o Führer suicidou-se.
Logo em seguida, os alemães renderam-se aos aliados, em 8 de
maio de 1945. Esse dia foi comemorado como o Dia da Vitória.
A Segunda Guerra na Europa já tinha terminado, mas, no
Pacífico, os japoneses não assinaram a rendição e
continuaram o combate, principalmente contra as tropas
norte-americanas.

Bombas atômicas

A recusa do Japão em render-se e a vingança ao ataque a


Pearl Harbor fizeram com que os Estados Unidos lançassem
duas bombas atômicas nas cidades japonesas de Hiroshima, em
6 de agosto de 1945, e Nagasaki, dois dias depois. A
destruição foi enorme e o imperador Hirohito não teve
alternativa senão a rendição.

Bomba atômica
lançada pelos Estados Unidos em Nagasaki (Japão), em agosto
de 1945.

Brasil na Segunda Guerra Mundial

No começo da Segunda Guerra Mundial, o Brasil optou pela


neutralidade. Getúlio Vargas governava o país como ditador
desde 1937, quando deu o golpe do Estado Novo. Apesar da
simpatia que ele e integrantes do governo tinham pelo
nazifascismo, no primeiro momento, a neutralidade
prevaleceu. O Brasil tinha acordos econômicos com potências
europeias, e qualquer posicionamento brasileiro poderia
comprometê-los.

A situação mudou a partir de 1942. O presidente norte-


americano Franklin Roosevelt visitou o Brasil e teve um
encontro com Vargas em Natal (RN). A base aérea da capital
potiguar era estratégica para os aviões aliados deslocarem-
se pelo Atlântico e atacarem o Eixo no norte da África e, em
seguida, no sul europeu. O Brasil cederia a base aérea de
Natal e, em troca, os Estados Unidos concederiam empréstimos
para Vargas continuar sua política de investimento na
indústria de base. Assim, o Brasil rompeu relações
diplomáticas com os alemães e declarou guerra ao Eixo.

Ao contrário do que ocorreu na Primeira Guerra Mundial, o


Brasil enviou tropas para a guerra na Europa. Em 1944 foi
criada a Força Expedicionária Brasileira (FEB), que foi
lutar contra as tropas nazistas na Itália. Apesar da
rendição italiana no ano anterior, o país ainda tinha muitas
tropas alemãs por lá. A participação da FEB foi vitoriosa,
pois derrotou várias tropas inimigas. A vitória mais
conhecida foi a conquista de Monte Castelo.

A Força
Expedicionária Brasileira teve papel fundamental na vitória
sobre as tropas nazistas na Itália.

Fim da Segunda Guerra Mundial

A Segunda Guerra Mundial terminou em 1945, deixando como


saldo uma Europa devastada, o mundo horrorizado com a
abertura dos campos de concentração e duas superpotências
surgindo:

• Estados Unidos, capitalista;


• União Soviética, comunista.

Em
Londres, a família real e o premier Winston Churchill
acompanham as comemorações do Dia da Vitória, em 8 de maio
de 1945.

Consequências da Segunda Guerra Mundial

É claro que o mundo não seria o mesmo depois do final da


Segunda Guerra Mundial. A Europa não teria mais a força
política, econômica e cultural que teve durante séculos. As
potências europeias, tanto as que venceram como as que
perderam, não tinham condições de manter suas colônias na
Ásia e na África. Esse enfraquecimento da Europa abriu
espaço para o processo de descolonização, ou seja, a
independência dessas colônias.

A Alemanha teve seu território e sua capital, Berlim,


dividida em zonas de influência dos países vencedores.
Iniciava-se o processo de desnazificação do país ao se
destruir os símbolos ligados ao nazismo e a Adolf Hitler. As
propagandas que exaltavam o Füher foram banidas. Nazistas
foram julgados e condenados à morte no Tribunal de
Nuremberg.

Pouco antes do final da Segunda Guerra Mundial, Estados


Unidos e União Soviética já esboçavam suas diferenças sobre
o mundo a ser formado após o conflito. Em 1947, começava a
Guerra Fria, na qual americanos e soviéticos entrariam em
conflito ideológico, o que não significou que não houve
momentos em que as duas superpotências, por pouco, não
entraram num confronto direito. As armas nucleares tornaram-
se objetos de disputas diplomáticas e de intimidação. Se
elas fossem utilizadas, o mundo inteiro poderia ter sido
destruído.

Apesar do fracasso da Liga das Nações, órgão internacional


criado logo após o final da Primeira Guerra Mundial, em
garantir a paz mundial e evitar uma nova guerra, ainda se
manteve a esperança de uma instituição mundial que tivesse o
mesmo objetivo. Em 1945, foi criada a Organização das Nações
Unidas, que, além de evitar outra guerra mundial, buscava (e
ainda busca) garantir a defesa e o cumprimento dos Direitos
Humanos.

No Brasil, a volta dos soldados da FEB expôs uma


contradição. Ao mesmo tempo que brasileiros lutaram na
guerra contra a ditadura nazifascista, o Brasil era
governado por um ditador autoritário. Os militares voltaram
da Europa com a popularidade alta e desejosos de participar
da vida política. Em novembro de 1945, Getúlio Vargas foi
deposto por militares, encerrando-se a ditadura do Estado
Novo.

Curiosidades sobre a Segunda Guerra Mundial

• O símbolo da Força Expedicionária Brasileira era uma


cobra fumando um cachimbo. Dizia-se na época que, se o
Brasil entrasse na guerra, a cobra fumaria.
• Logo após o final da guerra e a rendição do Japão, em
algumas colônias japonesas espalhadas pelo mundo,
começou o conflito entre aqueles que aceitavam na
rendição e os que acreditavam na vitória japonesa. O
filme Corações sujos, baseado no livro homônimo de
Fernando Meireles, trata sobre isso.
• Estudos recentes mostram que a rápida expansão das
tropas nazistas durante a primeira fase da Segunda
Guerra Mundial deu-se por conta da anfetamina,
substância que os soldados alemães tomavam antes das
batalhas e que provoca euforia e resistência.

Segunda Guerra Mundial

Juliana Bezerra

Professora de História

A Segunda Guerra Mundial ocorreu entre 1º de setembro


de 1939 e terminou 8 de maio de 1945, e em 2 de
setembro, no Pacífico.

As operações militares envolveram 72 países, entre os


quais estão Grã-Bretanha, Estados Unidos e União
Soviética, combatendo a Alemanha, Itália e Japão.

A contenda deixou cerca de 45 milhões de mortos, 35


milhões de feridos e três milhões de desaparecidos.

Calcula-se que o custo total da Segunda Guerra Mundial


chegou a 1 trilhão e 385 bilhões de dólares.
Causas da Segunda Guerra Mundial
Entre os fatores que levaram à 2ª Guerra Mundial está o
descontentamento da Alemanha com o desfecho da Primeira
Guerra (1914-1918).

A Alemanha foi declarada a única culpada deste


conflito, teve suas Forças Armadas reduzidas e teve que
pagar indenizações aos vencedores.

Isto provocou fragilidade econômica, alta inflação e


acúmulo de problemas sociais. Na década de 20, surgem
movimentos radicais como o nazismo, liderado por Adolf
Hitler, que conquistam parte da população.

Hitler defendia o nacionalismo, a ideia que os arianos


eram uma raça superior e as demais deveriam ser
submetidas ou eliminadas, especialmente, os judeus,
considerados culpados de todos os males. Isto gerou o
chamado Holocausto, que foi o assassinato em escala
industrial deste povo.

Igualmente foram condenados e assassinados


descapacitados mentais e físicos, comunistas,
homossexuais, religiosos e ciganos.
Fases da Segunda Guerra
O conflito pode ser dividido em três fases:

• As vitórias do Eixo (1939-1941);


• O equilíbrio das forças (1941-1943);
• A vitória dos Aliados (1943-1945).

A 2ª Guerra Mundial se iniciou com a invasão da Polônia


pela Alemanha no dia 1º de setembro de 1939 e terminou
com a rendição da Alemanha em 8 de maio de 1945. No
Pacífico, porém, a contenda continuaria até a
capitulação do Japão em 2 de setembro de 1945.
A frente de batalha era formada pelas nações do Eixo
(integrado por Alemanha, Itália e Japão) e os países
Aliados (Grã-Bretanha, União Soviética e Estados
Unidos).

O Brasil declarou guerra ao Eixo em 22 de agosto de


1942 e mandou soldados para a Itália em 1944. Além
disso, os Estados Unidos usaram uma base aérea em
Natal/RN.
1ª fase: vitórias do Eixo (1939-1941)
A primeira fase da 2ª Guerra Mundial ocorreu com a
invasão da Polônia pela Alemanha em 1939.

Na tentativa de barrar as incursões do chanceler alemão


Adolf Hitler (1889-1945), os governos de França e Grã-
Bretanha impuseram bloqueios econômicos à Alemanha. No
entanto, não chegaram ao conflito direto.

Eficaz no campo de batalha, a Alemanha realizou em


1940, uma operação em que combinou ataques terrestres,
aéreos e navais para ocupar a Dinamarca.

O exército alemão também tomou a Noruega como forma de


salvaguardar o comércio de aço com a Suécia e marcar
posição contra a Grã-Bretanha. Para tanto, foi ocupado
o porto norueguês de Narvik.

Em maio de 1940, Hitler ordenou a invasão da Holanda e


da Bélgica, e uma vez ocupados estes países, as tropas
nazistas rumam à França e conseguem dominá-la.

A França assina o armistício com a Alemanha em 14 de


junho de 1940 e é dividida em duas áreas: uma
administrada pelos alemães e a outra, pelo Marechal
Petáin, que colaborava com os nazistas.

Hitler volta seus olhos para a Grã- Bretanha e, no dia


8 de agosto, a Alemanha bombardeou as cidades
britânicas com a Luftwaffe, a força aérea alemã. Embora
tivessem em menor número, a Força Aérea Britânica
(RAF), consegue neutralizar o ataque e o governo da
Grã-Bretanha ordenou incursões em solo alemão.

Esta foi a única derrota de Adolfo Hitler na primeira


fase da guerra e permitiu aos Aliados a recompor suas
forças.

No ano seguinte, em 1941, o exército de Hitler chegou à


Líbia, no norte da África, com objetivo de conquistar o
canal de Suez. Em maio deste mesmo ano, Iugoslávia e
Grécia foram ocupadas por tropas do Eixo.
2ª fase: equilíbrio de forças (1941-1943)

Com a
vitória soviética em Estalingrado, os nazistas não
conquistaram mais nenhum território

O equilíbrio das forças caracteriza a segunda fase da


Segunda Guerra. Esta etapa se inicia em 1941 com a
invasão da União Soviética pelos alemães e termina em
1943 com a capitulação da Itália.

A conquista da União Soviética tinha como finalidade a


ocupação das regiões de Leningrado (hoje São
Petersburgo), Moscou, Ucrânia e Cáucaso.

A entrada do exército alemão ocorreu pela Ucrânia e,


posteriormente, seguiu para Leningrado. Quando as
forças de Hitler chegaram a Moscou, em dezembro de
1941, foram contidas pelo Exército Vermelho.
Batalhas no Pacífico
Paralelo ao conflito na Europa, as forças do Japão e
dos Estados Unidos tinham as relações estremecidas.

Antes da guerra, na década de 30, o Japão invadiu a


China e em 1941, a Indochina francesa. Como
consequência, em novembro daquele ano, os EUA
decretaram o embargo comercial ao Japão, exigindo a
desocupação da China e Indochina.

Em meio a negociações diplomáticas entre EUA e Japão,


este bombardeou a base naval de Pearl Harbor, no Havaí,
e prosseguiu a ofensiva contra os americanos na Ásia
meridional e no Pacífico. Diante do ataque, os Estados
Unidos declararam guerra ao Japão.

Os japoneses invadiram a Malásia Britânica, o porto de


Cingapura, a Birmânia, a Indonésia e as Filipinas. No
meio da tensão, o Japão ocupou o porto de Hong Kong e
ilhas no Oceano Pacífico que pertenciam à Grã-Bretanha
e aos Estados Unidos. Além disso, a Alemanha e a Itália
declararam guerra aos Estados Unidos.

Até janeiro de 1942, a ofensiva japonesa resultou na


conquista de 4 milhões de quilômetros quadrados e o
comando de uma população de 125 milhões de habitantes.
O momento da virada: derrota alemã na União Soviética
O cenário da Segunda Guerra Mundial começa a mudar ao
final de 1942, quando os Aliados passam a ter êxito
contra os ataques do Eixo. A Batalha de Estalingrado
marca essa fase, alterando o curso do conflito.
O Japão sofre importantes derrotas no Pacífico, sendo
impedido de conquistar a Austrália e o Havaí.

As forças britânicas e americanas também tem êxito na


Líbia e Tunísia. A partir do norte da África, os
Aliados desembarcam na Sicília e invadem a Itália, em
1943.

Veja também: Principais Batalhas da Segunda Guerra


Mundial
3ª fase: vitória dos Aliados (1943-1945)
A partir da capitulação da Itália, a Segunda Guerra
Mundial entra na terceira fase, que termina com a
rendição do Japão em setembro de 1945.

Na Itália, o governo de Benito Mussolini (1883-1945) é


destituído pelo rei Vítor Emanuel III em julho de 1943.
No norte do país é proclamada a República de Saló, um
Estado reconhecido somente pelos países do Eixo. Em
setembro do mesmo ano, a Itália firma o armistício com
os Aliados.

Após esse ponto, a Itália muda de lado e declara guerra


à Alemanha em outubro de 1943. Em abril de 1945, depois
da captura das forças nazistas na Itália, Mussolini
tenta fugir para a Suíça, mas é detido e fuzilado pela
resistência.

O cerco à Alemanha se concretiza com a queda da Itália.


Em paralelo, em 1944, os soviéticos libertaram a
Romênia, a Hungria, a Bulgária e a Tcheco-Eslováquia.

Em 6 de junho daquele ano, ocorreu o Dia D, como é


chamado o desembarque do exército Aliado na Normandia,
(França), que provoca o recuo dos alemães e a
libertação da França.

Ainda na Europa, o Exército soviético liberta a Polônia


em janeiro de 1945, conquista a Alemanha e derrota o
III Reich. Em 8 de maio, o conflito termina na Europa.

Já no Pacífico, os Estados Unidos pressionam o Japão e


no fim de 1944, conquistam as ilhas Marshall,
Carolinas, Marianas e Filipinas. A Birmânia é
conquistada em 1945 e a ilha de Okinawa é ocupada.

Sem perspectiva de capitular, o Japão sofre a pior


ofensiva bélica da Segunda Guerra Mundial. Em 6 de
agosto de 1945, os Estados Unidos jogam uma bomba
atômica sobre Hiroshima e em 9 de agosto fazem o mesmo
em Nagasaki

A rendição do Japão é assinada em 2 de setembro de


1945, pondo fim ao conflito no Pacífico.

Veja também: Bomba de Hiroshima


O Brasil na Segunda Guerra Mundial
Inicialmente, o Brasil se manteve neutro na guerra, mas
diante do bombardeamento de navios brasileiros, o
governo de Getúlio Vargas declara guerra ao Eixo.

A participação ficou a cargo da FEB (Força


Expedicionária Brasileira), formada em 9 de agosto de
1943 e integrada por um contingente de 25.445 soldados,
permanecendo em combate durante sete meses.

Três mil soldados brasileiros foram feridos e 450


morreram.
Veja também: Brasil na Segunda Guerra
Consequências da Segunda Guerra Mundial
A Segunda Guerra Mundial marcou profundamente o mundo
contemporâneo.

A Alemanha não foi declarada culpada da guerra, como no


conflito anterior, porém passou por um profundo
processo de depuração ideológica.

Os países europeus se encontravam destruídos e com sua


população reduzida. Somente com a ajuda americana,
através do Plano Marshall, foi possível a reconstrução
europeia.

Também foi concretizada a criação de um fórum


internacional, a Organização das Nações Unidas (ONU),
que seria um instrumento diplomático entre as nações
para evitar a guerra.

No entanto, o grande vencedor da contenda foram os


Estados Unidos, que não tiveram seu território invadido
(exceto o Havaí). Desta maneira, o país não acumulava
grandes perdas materiais, comparado aos países
europeus.

A Europa também foi dividida em dois blocos econômicos


de acordo com o país que libertou e ocupou as nações.
Países do leste europeu como Polônia, Hungria e Romênia
passara a sofrer influência da União Soviética e
construíram governos de caráter socialista.

Já países como França, Bélgica e Holanda, se viram


ocupadas pelos Estados Unidos e inauguram a época do
Estado de Bem-Estar Social.
O confronto entre as duas ideologias marcou o mundo
inteiro e foi conhecido como Guerra Fria.

O QUE SÃO DIREITOS HUMANOS

Protesto
pelos direitos territoriais dos Guarani e de outras tribos
no Brasil. Foto: Survival International

Os direitos humanos são uma importante ferramenta de


proteção a qualquer cidadão no mundo. Ainda assim,
existem diversos casos de desrespeito a esses direitos,
colocando pessoas em situações de abuso, intolerância,
discriminação e opressão.
A promoção desses direitos é imprescindível para o
pleno exercício de qualquer democracia. Por isso, o
Politize! vai explicar tudo o que você precisa saber
para entender a importância destes direitos.

Antes de começar, que tal dar uma olhada no vídeo que


preparamos?

PRIMEIRO, QUAL A DEFINIÇÃO DE DIREITOS HUMANOS?

Os direitos humanos consistem em direitos naturais


garantidos a todo e qualquer indivíduo, e que devem ser
universais, isto é, se estender a pessoas de todos os
povos e nações, independentemente de sua classe social,
etnia, gênero, nacionalidade ou posicionamento
político.

Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), os


direitos humanos são “garantias jurídicas universais
que protegem indivíduos e grupos contra ações ou
omissões dos governos que atentem contra a dignidade
humana”. São exemplos de direitos humanos o direito à
vida, direito à integridade física, direito à
dignidade, entre outros.

Quando os direitos humanos são firmados em determinado


ordenamento jurídico, como nas Constituições, eles
passam a ser chamados de direitos fundamentais.

COMO SURGIRAM OS DIREITOS HUMANOS?

Os direitos humanos são garantias históricas, que mudam


ao longo do tempo, adaptando-se às necessidades
específicas de cada momento. Por isso, ainda que a
forma com que atualmente conhecemos os direitos humanos
tenha surgido com a Declaração Universal dos Direitos
Humanos, assinada em 1948, antes disso, princípios de
garantia de proteção aos direitos básicos do indivíduo
já apareciam em algumas situações ao longo da história.
A primeira forma de declaração dos direitos humanos na
história é atribuída ao Cilindro de Ciro, uma peça de
argila contendo os princípios de Ciro, rei da antiga
Pérsia. Ao conquistar a cidade da Babilônia, em 539
a.C. Ciro libertou todos os escravos da cidade,
declarou que as pessoas teriam liberdade religiosa e
estabeleceu a igualdade racial.

A ideia espalhou-se rapidamente para outros lugares.


Com o tempo, surgiram outros importantes documentos de
afirmação dos direitos individuais, como a Petição de
Direito, um documento elaborado pelo Parlamento Inglês
em 1628 e posteriormente enviada a Carlos I como uma
declaração de liberdades civis. A Petição baseou-se em
cartas e estatutos anteriores e tinha como principal
objetivo limitar decisões do monarca sem autorização do
Parlamento.

Já em 1776, foi deflagrado o processo de independência


dos Estados Unidos, contexto em que foi publicada uma
declaração que acentuava os direitos individuais
(direito à vida, à liberdade e à busca pela felicidade)
e o direito de revolução. Essas ideias não só foram
amplamente apoiadas pelos cidadãos estadunidenses, como
influenciaram outros fenômenos similares no mundo, em
particular a Revolução Francesa, em 1789.

Os marcantes acontecimentos da Revolução Francesa


resultaram na elaboração de um histórico documento
chamado Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão.
Nele, foi garantido sobretudo que todos os cidadãos
franceses deveriam ter direito à liberdade,
propriedade, segurança e resistência à opressão.

Esses documentos são considerados importantes


precursores escritos para muitos dos documentos de
direitos humanos atuais, entre eles a Declaração
Universal de 1948.

A Declaração Universal fez 70 anos em 2018! Confira


mais sobre o tema neste vídeo feito em parceria com o
Professor Fábio Monteiro:
Leia mais: conheça movimentos sociais contemporâneos
nesta trilha

A DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS

A Segunda Guerra Mundial resultou na perda de um grande


número de pessoas, sobretudo com as muitas violações a
direitos individuais cometidas por governos fascistas
durante o período. Logo após o fim do conflito, formou-
se a Organização das Nações Unidas (ONU), cujo objetivo
declarado é trazer paz a todas as nações do mundo.

Além disso, foi criada uma comissão, liderada por


Eleanor Roosevelt, com o propósito de criar um
documento onde seriam escritos os direitos que toda
pessoa no mundo deveria ter. Esse documento é a
Declaração Universal, formada por 30 artigos que tratam
dos direitos inalienáveis que devem garantir a
liberdade, a justiça e a paz mundial.
Entre os diversos direitos garantidos pela Declaração
Universal, estão o direito a não ser escravizado, de
ser tratado com igualdade perante as leis, direito à
livre expressão política e religiosa, à liberdade de
pensamento e de participação política. O lazer, a
educação, a cultura e o trabalho livre e remunerado
também são garantidos como direitos fundamentais.

Hoje, a Declaração Universal é assinada pelos 192


países que compõem as Nações Unidas e, ainda que não
tenha força de lei, o documento serve como base para
constituições e tratados internacionais.

Confira o infográfico que o Politize! preparou para


você sobre o assunto!
Que tal baixar esse infográfico em alta qualidade?
Clique aqui!

COMO ESSES DIREITOS SÃO GARANTIDOS?

As normas de direitos humanos são organizadas por cada


país por meio de negociação com organizações como a ONU
e em encontros e conferências internacionais. Vários
países ainda firmam compromisso em garantir os direitos
humanos em tratados das Nações Unidas, sobre as mais
diversas áreas, como direitos econômicos, discriminação
racial, direitos da criança, entre outros. Para cada um
desses tratados, existe um comitê de peritos que avalia
como as nações participantes estão cumprindo as
obrigações que assumiram ao se comprometer com o
tratado.

Além disso, outros órgãos da ONU, como a Assembleia


Geral das Nações Unidas, o Conselho de Direitos Humanos
e o Alto Comissariado para os Direitos Humanos
constantemente se pronunciam sobre casos de violações
desses direitos em todo o mundo.
Outro instrumento para garantia destes direitos são as
operações de manutenção da paz, realizadas pela ONU e
que fiscalizam o cumprimento dos direitos humanos em
diversas partes do mundo. Além disso, já existem três
tribunais de direitos humanos, um localizado na Europa,
um na África e um no continente americano.

A nível nacional, cada país é responsável por garantir


os direitos humanos dentro de seu território. Mas na
fiscalização destes direitos atuam também instituições
de direitos humanos, organizações profissionais,
instituições acadêmicas, grupos religiosos,
organizações não governamentais, entre outros.

NA PRÁTICA, OS DIREITOS HUMANOS AINDA SÃO UM DESAFIO?

Embora existam diversos documentos e instrumentos para


garantir os direitos humanos, na prática ainda há uma
grande dificuldade em tirar esses planos do papel.
Segundo o doutor em Filosofia do Direito Bernardo
Guerra, o desafio para a eficácia dos direitos humanos
está relacionado principalmente à falta de vontade
política, muitas vezes sob a justificativa dos altos
custos dos investimentos sociais.
Ainda hoje, os direitos humanos são desrespeitados em
todas as regiões do mundo. Um caso bastante notável é o
da Síria, que, após anos em guerra civil, enfrenta uma
grave crise de refugiados, metade deles crianças sem
acesso à educação, sem documentos e que muitas vezes
são os responsáveis pelo sustento da família.

Agora que você já sabe o que são os direitos humanos,


que tal entender como foi a evolução desses direitos no
Brasil?

Criação da ONU após a II Guerra Mundial

A ONU foi criada para evitar


a eclosão de novos conflitos como as Guerras Mundiais
A criação da Organização das Nações Unidas (ONU) se deu em
24 de outubro de 1945, na cidade de São Francisco, EUA, como
resultado das conferências de paz realizadas no final da
Segunda Guerra Mundial. Assinaram inicialmente a Carta das
Nações Unidas 50 países, excluindo os que haviam feito parte
do Eixo.

A ONU era uma segunda tentativa de criar uma união de nações


com o propósito de estabelecer relações amistosas entre os
países. A primeira tentativa ocorreu com a formação da Liga
das Nações, ao fim da Primeira Guerra Mundial, mas que
fracassou em seus objetivos.
A Carta afirmava em seu preâmbulo que “Nós, os povos das
Nações Unidas, decididos: a preservar as gerações vindouras
do flagelo da guerra que por duas vezes, no espaço de uma
vida humana, trouxe sofrimentos indizíveis à humanidade; a
reafirmar a nossa fé nos direitos fundamentais do homem, na
dignidade e no valor da pessoa humana, na igualdade de
direitos dos homens e das mulheres, assim como das nações,
grandes e pequenas”, tendo como primeiro objetivo “Manter a
paz e a segurança internacionais e para esse fim: tomar
medidas coletivas eficazes para prevenir e afastar ameaças à
paz e reprimir os atos de agressão, ou outra qualquer
ruptura da paz e chegar, por meios pacíficos, e em
conformidade com os princípios da justiça e do direito
internacional, a um ajustamento ou solução das controvérsias
ou situações internacionais que possam levar a uma
perturbação da paz”.

A organização se estruturava dessa forma para evitar uma


nova deflagração de conflitos mundiais, como as duas Guerras
anteriores, criando condições para que isso se efetivasse,
superando um objetivo apenas de controle militar e
englobando a criação de instâncias responsáveis por garantir
os direitos principais dos seres humanos.

Inicialmente foram criados cinco órgãos fundamentais: a


Assembleia Geral, composta por todos os países-membros; o
Conselho de Segurança, formado por cinco membros permanentes
(URSS, EUA, Inglaterra, França e China) e mais dez membros
provisórios eleitos pela Assembleia Geral; o Secretariado,
presidido pelo Secretário-Geral e com a atribuição de
administrar e organizar a instituição; o Conselho Econômico
e Social, ao qual estão ligados diversos órgãos, como a
Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância) e a OMC
(Organização Mundial do Comércio); e a Corte Internacional
de Justiça, órgão jurídico da ONU com sede em Haia, na
Holanda.

Apesar de sua pretensão de participação igual dos países, a


ONU deu um peso maior às potências militares saídas da II
Guerra Mundial, principalmente os EUA e a URSS, em virtude
de seu papel principal exercido pelo Conselho de Segurança
na resolução de conflitos militares.

Ao longo da história, a ONU colecionou ainda uma série de


reveses na mediação de desentendimentos entre países, mas,
por outro lado, exerceu relevante papel através da Unicef,
garantindo uma melhora de vida para parte das crianças que
vivem em situação de miséria.

Redemocratização (Pós-Ditadura 1964)

Introdução
Após mais de 20 anos de ditadura militar, o Brasil
passou por um processo de abertura política e
reintegração das instituições democráticas, em um
período chamado de redemocratização.

A ditadura militar, instaurada em 1964, foi responsável


por uma forte censura e opressão aos direitos
democráticos. A redemocratização foi o momento na
história do país em que esses direitos foram
reconquistados e houve a transição do governo militar
para o governo civil.
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Como foi a Ditadura Militar no Brasil?
A ditadura militar no Brasil foi marcada por governos
autoritários que tiveram início com o Golpe Militar de
1964 e duraram até o ano de 1985. O Golpe Militar de
1964 destituiu o então presidente João Goulart do poder
e instaurou importantes transformações nos panoramas
sociais, políticos, econômicos e culturais no país.

Os quase 21 anos de sucessivos governos militares foram


marcados por:

• restrição de direitos políticos


• forte censura aos meios de comunicação e culturais
• intensa perseguição policial aos opositores do
Regime, envolvendo inúmeros casos de tortura e
assassinatos.

Como um regime ditatorial, esses governos promulgaram


medidas que ampliaram o Poder Executivo em detrimento
do Poder Judiciário e Legislativo.

Depois de mais de 10 anos de regime militar no país -


passando pela presidência os militares Castelo Branco,
Costa e Silva, Emílio Médici e Geisel - o governo
ditatorial começou a perder força, já no final da
década de 1970.

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dúvidas com o Teste Vocacional Grátis do Quero Bolsa 🎓
O que aconteceu no fim da Ditadura Militar?
A divulgação dos crimes de tortura da ditadura
começaram a aumentar a rejeição ao regime político.
Além disso, o fim do “milagre econômico” - crescimento
relativo da economia e do aumento do poder de compra da
classe média - tornou o governo ainda mais impopular.

Os militares, portanto, propuseram uma abertura “lenta,


gradual e segura”, onde muito demoradamente os direitos
foram devolvidos à população. Durante o governo de
Ernesto Geisel, algumas mudanças foram sendo feitas no
cenário político, como a substituição do AI-5 por
salvaguardas constitucionais e o restabelecimento de
relações diplomáticas entre o Brasil e países de regime
comunista.

Em 1979, o presidente militar João Figueiredo promoveu


os seguintes atos:

• revogação do AI-5
• anistia aos presos políticos e exilados
• fim do bipartidarismo.

As greves de 1978 e os movimentos estudantis


contribuíram muito com o enfraquecimento do regime e
levaram a população a se manifestar em 1984, com a
reivindicação da realização de eleições diretas para o
Presidente da República, as Diretas Já.

Dire
tas Já
Os protestos de artistas, políticos, setores civis,
estudantes e trabalhadores pelas Diretas Já não
obtiveram sucesso. As eleições não foram diretas e sim
realizadas pelo Colégio Eleitoral, que escolheu
Tancredo Neves como novo presidente do Brasil.
Entretanto, Tancredo faleceu antes de assumir o cargo,
levando à posse de José Sarney, o primeiro presidente
civil depois de 21 anos de Regime Militar.

José Sarney, Primeiro Presidente Civil Após 21 Anos De


Ditadura Militar No Brasil.

Governos Civis Pós-Ditadura no Brasil: caminho para a


Redemocratização
Os governos civis que vieram após a Ditadura Militar
tiveram que lidar com a desigualdade social, o
endividamento e a inflação herdados desse período
anterior. A nova fase política no país foi marcada por
inúmeras tentativas de ajustes e pela inserção do país
na lógica da globalização e do neoliberalismo.

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faculdades você pode entrar pelo Sisu, Prouni ou Fies 🎯

Os presidentes civis eleitos pela população após a


ditadura militar (e o mandato de José Sarney) foram:

• Fernando Collor (1990-1992);


• Itamar Franco (1992-1994);*
• Fernando Henrique Cardoso (1995-2002);
• Luís Inácio Lula da Silva, o Lula (2003-2010);
• Dilma Rousseff (2011-2016);
• Michel Temer (2016-2018);*

Juscelino Kubitschek
Juscelino Kubitschek, também conhecido como JK, foi um
importante político brasileiro. Foi presidente do
Brasil de 1956 a 1961 e foi o responsável pela
construção de Brasília.

Juscelino Kubitschek foi presidente do Brasil de 1951 a


1956 e foi o responsável pela construção da nova
capital, Brasília.
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Juscelino Kubitschek, também conhecido como JK, foi um


político brasileiro que esteve na presidência de nosso
país entre 1956 e 1961. Médico por formação, ele
ingressou na política na década de 1930, sendo prefeito
de Belo Horizonte, governador de Minas Gerais e
presidente do Brasil. Foi o responsável pela construção
de Brasília na década de 1950.

Leia também: Getúlio Vargas — uma das figuras mais


importantes do Brasil no século 20

Tópicos deste artigo

• 1 - Resumo sobre Juscelino Kubitschek



• 2 - Videoaula sobre Juscelino Kubitschek

• 3 - Primeiros anos de Juscelino Kubitschek

• 4 - Carreira de Juscelino Kubitschek na medicina

• 5 - Carreira política de Juscelino Kubitschek

• 6 - Eleição presidencial de 1955
• 7 - Governo JK
• Construção de Brasília

• 8 - Últimos anos de Juscelino Kubitschek

Resumo sobre Juscelino Kubitschek

• Juscelino Kubitschek veio de uma família humilde e


formou-se em Medicina, em Belo Horizonte.
• Ingressou na política na década de 1930, chegando a
ser eleito deputado federal.
• Foi nomeado para ser prefeito de Belo Horizonte em
1940.
• Em 1951, assumiu o governo de Minas Gerais.
• Em 1956, assumiu a presidência do Brasil e seu
governo procurou promover o desenvolvimento
econômico do país pela industrialização.
• Morreu em 1976, devido a um acidente de carro.
Muitos falam que o acidente dele foi forjado por
agentes da ditadura.

Videoaula sobre Juscelino Kubitschek

Vídeos

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Primeiros anos de Juscelino Kubitschek

Juscelino Kubitschek de Oliveira nasceu na cidade de


Diamantina, localizada no estado de Minas Gerais, no
dia 12 de setembro de 1902. Juscelino era filho de João
César de Oliveira e Júlia Kubitschek. Seu pai exerceu
diferentes ofícios, como delegado de polícia e
caixeiro-viajante, enquanto sua mãe trabalhava como
professora primária.

Ao dois anos de idade, Juscelino ficou órfão, pois o


pai faleceu vítima de tuberculose. Coube a Júlia
Kubitschek cuidar de seus dois filhos, Juscelino e
Maria da Conceição. Mesmo com uma situação financeira
delicada, a mãe de Juscelino Kubitschek conseguiu que
ele se matriculasse em um seminário diocesano.

Depois de concluir o ensino básico, Juscelino decidiu


abandonar o seminário, pois ele não desejava seguir
carreira religiosa, mas, sim, tornar-se médico. Ele
desejava mudar-se para Belo Horizonte, mas não tinha
condições de pagar pelos seus estudos na capital
mineira, então passou a estudar por conta própria.

Tempos depois ele conseguiu obter certificados de


aprovações em todas as disciplinas do Ginásio e, em
1921, foi chamado para assumir função de telegrafista
após ser aprovado em um concurso que foi realizado em
Belo Horizonte. Com isso, ele pôde mudar-se para a
capital mineira e pôde fazer o vestibular para seguir
seu sonho de se tornar médico.

Carreira de Juscelino Kubitschek na medicina

Em 1922, Juscelino Kubitschek ingressou na Faculdade de


Medicina de Belo Horizonte e manteve os seus estudos
com o trabalho de telegrafista que realizava. A
formação de Juscelino Kubitschek, no entanto, não foi
fácil, pois ele tinha que conciliar o tempo com o
trabalho e os estudos. Além disso, o que ganhava não
era muito.

Em dezembro de 1927, Juscelino formou-se em Medicina e


logo recebeu sua primeira oportunidade profissional.
Com o tempo, ele acumulou funções na carreira médica, o
que permitiu que ele pudesse economizar quantia
suficiente para financiar uma especialização em
urologia. Essa especialização foi realizada em Paris,
para onde Juscelino se mudou em abril de 1930.
Quando retornou ao Brasil, ele encontrou um país em um
novo momento político. Getúlio Vargas havia assumido a
presidência depois de um golpe e nomeado Olegário
Maciel para a interventoria do estado de Minas Gerais.
Nesse contexto, Juscelino recebeu um convite para
trabalhar no Hospital Militar da Força Pública.

Em 1932, ele foi nomeado para coordenar o trabalho


médico na Revolução Constitucionalista de 1932. O
estado de Minas Gerais permaneceu ao lado do presidente
Vargas, e Juscelino atuou no tratamento médico dos
soldados das tropas leais ao governo. Durante o
conflito, Juscelino aproximou-se de Benedito Valadares,
delegado federal na época.

Carreira política de Juscelino Kubitschek

A carreira política de Juscelino Kubitschek se iniciou


em 1933, quando Benedito Valadares tornou-se
interventor de Minas Gerais. O novo interventor do
estado, próximo de Vargas desde a Revolução
Constitucionalista de 1932, convidou-o para se tornar
chefe do Gabinete Civil de Minas Gerais.

Juscelino, então, abandonou a Medicina e assumiu essa


função pública. Ele se filiou ao Partido Progressista
de Minas Gerais, assumiu a secretária do partido e
candidatou-se à Câmara Federal, sendo eleito deputado
federal por Minas Gerais. Ele se mudou para o Rio de
Janeiro e foi empossado no cargo em 1935.

Juscelino Kubitschek manifestou seu apoio à candidatura


de José Américo para a eleição presidencial que
aconteceria em 1938. Entretanto, o golpe do Estado
Novo, em 1937, mudou tudo isso, e José Américo nunca
chegou a concorrer à presidência. Além disso, o golpe
fez com que Juscelino perdesse o cargo de deputado
federal, pois o Congresso Nacional foi fechado por
ordem de Vargas.

Por essa razão, Juscelino voltou ao ofício da Medicina,


assumindo novamente sua posição no Hospital Militar. O
afastamento da política durou pouco, pois, em 1940, o
interventor Benedito Valadares decidiu nomeá-lo para
assumir a prefeitura de Belo Horizonte. Juscelino
rejeitou o cargo, mas o interventor de Minas não
aceitou a recusa e nomeou Juscelino mesmo assim.

Juscelino conciliou a Medicina com a prefeitura de Belo


Horizonte e, durante o exercício do cargo de prefeito,
destacou-se a reforma urbanística que ele realizou na
capital mineira. Depois que Getúlio Vargas foi
destituído e a democratização do país se estruturou,
Juscelino atuou na formação do Partido Social
Democrático (PSD), o maior partido da República de
1946.

Além disso, Juscelino Kubitschek concorreu ao cargo de


deputado federal, sendo novamente eleito. Permaneceu na
função até 1950, consolidando-se como uma figura
política das mais importantes no interior dos quadros
do PSD e da política mineira a nível nacional. Em julho
o seu partido escolheu Juscelino para que ele fosse o
nome do partido na disputa do governo de Minas Gerais.

Juscelino Kubitschek disputou o governo contra o


candidato da União Democrática Nacional (UDN), Gabriel
Passos (o político udenista era concunhado de JK). JK
percorreu todo o estado de Minas em campanha pela sua
eleição e saiu vencedor dessa disputa ao obter mais de
700 mil votos. Em 31 de janeiro de 1951, Juscelino
Kubitschek assumiu como governador de Minas Gerais.

Já no governo de Minas Gerais, Juscelino manifestou uma


característica que seria a marca de seu governo quando
foi presidente do Brasil: o desenvolvimentismo.
Juscelino desejava transformar Minas Gerais, um estado
baseado na pecuária e agricultura, em um estado
industrializado. Para isso, investiu maciçamente na
produção de energia elétrica, construção de estradas e
no desenvolvimento de novas indústrias. Ao final de seu
mandato, ele estava gabaritado para concorrer à
presidência e foi isso que ele fez.

Acesse também: Queremismo — movimento pela continuidade


de Vargas no poder

Eleição presidencial de 1955

A possibilidade da candidatura presidencial de


Juscelino Kubitschek alarmava a UDN e seu grande
expoente, o jornalista Carlos Lacerda. Esse partido, de
matiz liberal e conservadora, entendia que Juscelino
representava uma continuidade do legado político de
Getúlio Vargas e procurava impedir uma eventual vitória
do mineiro.

A UDN e Carlos Lacerda atuaram de todas as formas


possíveis para que um golpe militar e parlamentar
acontecesse no país e um governo provisório fosse
formado para impedir que a eleição de 1955 fosse
realizada. A aliança entre o Partido Trabalhista
Brasileiro (PTB) e o PSD para a disputa presidencial
transformou JK no alvo de Carlos Lacerda.

Diariamente, Carlos Lacerda defendia a imposição de um


“regime de emergência” para impedir o retorno do PTB ao
poder. A eleição presidencial de 1955 foi realizada
nesse clima político conturbado e a disputa foi travada
pelos seguintes candidatos:

• Juscelino Kubitschek (PSD);


• Juarez Távora (UDN);
• Adhemar de Barros (PSP).

O resultado dessa eleição foi apertado e Juscelino


ganhou por uma diferença de pouco mais de 400 mil
votos, obtendo 36% dos votos. Em segundo lugar, ficou
Juarez Távora, com 30%. Adhemar de Barros obteve 26%. A
vitória de JK fez com que o foco de Carlos Lacerda
fosse outro: ele trabalhou para impedir a posse de
Juscelino, marcada para acontecer em 31 de janeiro de
1956.

Um golpe de Estado passou a ser organizado contra


Juscelino Kubitschek e as historiadoras Lilia Schwarcz
e Heloísa Starling contam que o então presidente, Café
Filho, apoiava esse golpe em curso contra JK|1|. No
entanto, o golpe não prosperou graças a uma figura
central na política brasileira: o ministro da Guerra
Henrique Teixeira Lott.

Ele era um militar legalista que defendia o respeito à


Constituição. Ele aglomerou apoiadores nas Forças
Armadas e realizou um contragolpe para impedir que
Carlos Lacerda e outros militares tomassem o poder e
impedissem a posse de Juscelino. Esse acontecimento
ficou conhecido como Movimento de 11 de novembro ou
Golpe Preventivo de 11 de novembro.

Governo JK

Juscelino Kubitschek assumiu a presidência em 31 de


janeiro de 1956 e seu governo ficou marcado pela sua
política desenvolvimentista, isto é, que incentivava o
desenvolvimento econômico do país via industrialização.
O político mineiro entendia que a modernização do país
passava, essencialmente, pelo desenvolvimento
industrial.

Para sustentar sua proposta desenvolvimentista, o


governo JK organizou o Plano de Metas, um programa
econômico que estipulava 31 metas para garantir o
desenvolvimento econômico do Brasil. As áreas
consideradas cruciais dentro desse plano eram energia,
transportes, indústria de base, alimentação e educação.

Entre as prioridades, as áreas de alimentação e


educação foram as que receberam a menor fatia dos
recursos alocados para o Plano de Metas. A indústria de
base, energia e de transporte receberam somas
altíssimas de investimentos do governo, que construiu
estradas pelo país, incentivou o desenvolvimento da
indústria e ampliou o fornecimento de energia elétrica.

• Construção de Brasília
Brasília foi construída durante o governo de
Juscelino Kubitschek, e a construção da capital
movimentou uma vultuosa soma de dinheiro.

O grande projeto do governo JK foi a construção de


Brasília e a transferência da capital para o Planalto
Central. Essa ideia era ventilada na política
brasileira desde o final do século XIX e foi
transformada em promessa de campanha de Juscelino
supostamente após ele ser questionado por um eleitor
sobre a construção de uma nova capital para o Brasil.

A construção de Brasília se estendeu por todo o seu


mandato e foi um projeto grandioso, movimentando uma
enorme soma de dinheiro. Até hoje não se tem certeza da
quantia que foi gasta na construção da nova capital. O
projeto contou com a participação de nomes como Oscar
Niemeyer e Lúcio Costa. A fundação da nova capital
aconteceu em 21 de abril de 1960.

Acesse também: Governo João Goulart — o último governo


democrático antes do golpe militar

Últimos anos de Juscelino Kubitschek

Depois que seu mandato como presidente se encerrou,


Juscelino prosseguiu na política, elegendo-se senador
por Goiás. Ele continuava filiado ao PSD e obteve quase
150 mil votos na disputa eleitoral. Anos depois,
silenciou-se e consentiu com o golpe militar, votando
para a eleição indireta de Humberto Castello Branco, em
abril de 1964.

Uma vez estabelecida a ditadura no país, a repressão se


voltou contra o próprio Juscelino Kubitschek. O governo
militar ordenou a cassação dos direitos políticos de
Juscelino por 10 anos. O seu partido tentou reverter a
situação, mas a repressão tinha vindo para ficar. Ainda
em 1964, Juscelino Kubitschek decidiu mudar-se para a
Europa.
Em 1966, ele aderiu à Frente Ampla, movimento
encabeçado por Carlos Lacerda pela redemocratização do
país. O movimento também contou com o apoio do ex-
presidente João Goulart, derrubado pelo golpe em 1964.
Em 1967, Juscelino retornou ao Brasil para atuar pela
Frente Ampla, mas foi intensamente monitorado pelo
governo militar.

Em 1968, a Frente Ampla teve sua atuação proibida pelo


governo e Juscelino afastou-se definitivamente da
política brasileira. Passou a atuar no ramo empresarial
privado e teve uma morte polêmica em 22 de agosto de
1976, quando sofreu um acidente de carro na Via Dutra.
Investigações posteriores foram realizadas sobre a
morte do ex-presidente.

A Comissão Nacional da Verdade concluiu, em 2014, que a


morte de JK foi acidental, mas membros da Comissão
Municipal da Verdade de São Paulo concluíram o oposto e
afirmaram que Juscelino Kubitschek foi morto pela
ditadura. Já a Comissão da Verdade em Minas Gerais
concluiu que é bastante provável que JK tenha sido
assassinado pela ditadura.

Como pode ser percebido, a morte de Juscelino


Kubitschek é ainda marcada por um grande suspense, uma
vez que não existe uma resposta conclusiva que explique
o acidente de carro que ocasionou a sua morte.

Ditadura Militar no Brasil


• Por Talita de Carvalho

Publicado em:

• 31/03/2021
Atualizado em:

• 11/11/2022

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Mani
festações pelas eleições diretas para a presidência da
República. Abril de 1984. Imagem: Arquivo da Agência
Brasil.

A ditadura militar no Brasil durou 21 anos, teve 5


mandatos militares e instituiu 16 atos institucionais –
mecanismos legais que se sobrepunham à Constituição
Federal. Nesse período houve restrição à liberdade,
repressão aos opositores do regime e censura.

Para que você entenda um pouco mais sobre esse momento


da história brasileira, o Politize! preparou esse
texto. Vamos lá?

Leia também: Intervenção militar no Brasil!

O que estava acontecendo no Brasil antes da Ditadura


Militar?
Antes de entender o período militar brasileiro, é
preciso compreender os eventos que levaram até ele – os
antecedentes do golpe militar de 1964.

O primeiro momento é marcado por Jânio Quadros – que


assumiu a presidência em 1961 e nesse mesmo ano
renunciou ao cargo. A partir disso, seu vice – João
Goulart – foi quem assumiu seu lugar. A questão é que
Jânio Quadros e João Goulart eram de partidos políticos
diferentes e tinham projetos opostos para o país.

O projeto de Jango – apelido por qual era conhecido o


novo presidente – estava apoiado em “reformas de base”
– como fiscal, administrativa, universitária e,
principalmente, agrária. Além disso, o presidente era
um representante trabalhista, do legado de Getúlio
Vargas.

Assim, como mencionado, a reforma agrária era uma das


principais propostas do governo Jango e também a que
mais gerava polêmica. Afinal, era combatida pelos
grandes latifundiários e por grande parte dos
parlamentares no Congresso Nacional.

Assim, esse foi um momento de bastante efervescência e


polarização política entre a população. Houve apoio de
parte da população para a derrubada do governo –
principalmente dos setores mais conservadores da
sociedade e de partes da classe média. É por esse
motivo, inclusive, que muitas vezes o termo ditadura
civil-militar é utilizado.

Veja também nosso vídeo sobre Ditadura Militar no


Brasil!

E o envolvimento dos Estados Unidos?

Vale lembrar ainda que eram tempos de Guerra Fria e


havia medo de um suposto “perigo comunista”. Assim, no
conflito que começou logo após o final da Segunda
Guerra Mundial e foi responsável pela bipolarização
ideológica – em que os Estados Unidos – defensores do
capitalismo – e a União Soviética – defensora do
socialismo – disputavam hegemonia econômica, política e
militar no mundo.

Confira nosso texto sobre o que é comunismo: Comunismo:


4 pontos para entender este conceito!

Nesse cenário, os Estados Unidos, com medo da expansão


socialista – principalmente depois da Revolução Cubana
– passou a intervir ativamente nos países da América
Latina para impedir o crescimento das ideias
consideradas comunistas. As ditaduras militares na
região foram então mecanismos para frear esses
movimentos e tanto no Brasil, quanto em outros países
latino americanos, foram apoiadas pelos Estados Unidos.
Em 2014, documentos liberados pelos Estados Unidos – e
investigados pela Comissão Nacional da Verdade –
revelaram que mais de 300 militares passaram uma
temporada na Escola das Américas (o instituto de guerra
dos Estados Unidos no Panamá). Lá, entre 1954 e 1996,
os militares brasileiros tiveram aulas teóricas e
práticas sobre tortura.

Além disso, gravações liberadas pela Casa Branca das


conversas entre o ex-presidente John Kennedy e o
embaixador do Brasil no momento – Lincoln Gordon –
comprovam o envolvimento estadunidense na ditadura
militar brasileira.

O golpe: o início da ditadura militar no Brasil

No dia 31 de março de 1964, tanques do exército foram


enviados ao Rio de Janeiro, onde estava o presidente
Jango. Três dias depois, João Goulart partiu para o
exílio no Uruguai e uma junta militar assumiu o poder
do Brasil.
No dia 15 de abril, o general Castello Branco toma
posse, tornando-se o primeiro de cinco militares a
governar o país durante esse período. Assim se inicia a
ditadura militar no Brasil, que vai durar até 1985.

Para facilitar seus estudos, confira esse infográfico


que preparamos para você!

Quer baixar esse infográfico em alta


qualidade? É só clicar aqui!

Vamos conhecer essa história com mais detalhes?

Para te ajudar a entender os acontecimentos mais


importantes desses 21 anos de Ditadura Militar no
Brasil, vamos dividir a história de acordo com os
mandatos de cada presidente.
Vale lembrar: nesse período ocorreram eleições
indiretas para presidente e serviam de fachada. Eram
processos antidemocráticos, pois o partido que estava
no governo – ARENA – possuía o controle tanto da Câmara
dos Deputados, quanto do Senado Federal.

Castello Branco e os atos institucionais

No governo de Castello Branco (1964-67) foi declarado o


primeiro ato institucional da Ditadura Militar no
Brasil – conhecido como AI 1!

Atos institucionais eram decretos e normas, muito


utilizados durante a ditadura – eles davam plenos
poderes aos militares e garantiam a sua permanência no
poder. Dentre as principais medidas asseguradas pelo AI
1 estava o fim das eleições diretas, isto é, a partir
desse momento, as eleições para presidente seriam
feitas pelo Congresso Nacional e não pela população.
Nesse mesmo governo, as eleições diretas estaduais
também foram suspensas e em 1967 uma nova Constituição
entrou em vigor.
Em 1965 – por meio do Ato Institucional nº 2 – todos os
partidos políticos foram fechados e foi adotado o
bipartidarismo, ou seja, a partir desse momento
passaram a existir apenas dois partidos: a Aliança
Renovadora Nacional (ARENA) e o Movimento Democrático
Brasileiro (MDB).

Enquanto o primeiro apoiava o governo, o segundo


partido representava a oposição consentida (mas
atenção: havia várias restrições à sua atuação!). Essa
medida, ao mesmo tempo em que fortalecia o Poder
Executivo, proporcionava uma imagem de legalidade à
ditadura, pois mantinha o Congresso Nacional em
funcionamento (apesar de ter sido fechado em alguns
momentos).

Além disso, unir todos os partidos de oposição em


apenas um partido político – o MDB – também foi uma
estratégia dos militares de facilitar a repressão aos
opositores do regime.
O AI-2 mudou ainda dispositivos constitucionais,
alterando o funcionamento do Poder Judiciário e
concentrando cada vez mais poder no Executivo.

Leia também: Como era usada a tortura no regime


militar?

Costa e Silva e o AI-5

O governo de Costa e Silva (1967-69) foi marcado por


muita repressão, violência, tortura aos opositores do
regime e restrição aos direitos políticos e à liberdade
de expressão.

A insatisfação de parcelas da população com as medidas


antidemocráticas fez crescer o número de manifestações,
sendo uma das maiores a Passeata dos 100 mil. Nessa
ocasião, o estudante Edson Luís foi morto em confronto
com a polícia, o que gerou grande comoção e fortaleceu
a oposição ao regime.

Em resposta, Costa e Silva promulgou o AI 5, que fechou


o Congresso por tempo indeterminado; decretou estado de
sítio; cassou mandatos de prefeitos e governadores e
proibiu a realização de reuniões.

Como esse decreto dava o direito ao governo de punir


arbitrariamente os inimigos do regime, é considerado o
golpe mais duro da Ditadura Militar no Brasil. Nesse
período, também conhecido como “anos de chumbo”, em
resposta ao regime repressivo, começaram a surgir
grupos armados, contra os quais houve forte repressão
por parte dos militares.

Confira também este vídeo feito em parceria com o


Professor Fábio Monteiro, sobre os 50 anos do AI 5:
Médici e o “milagre econômico”

O Governo de Médici (1969-74) é considerado o período


de maior repressão da Ditadura Militar no Brasil. A
censura dos meios de comunicação se intensificou e
muitos prisioneiros políticos foram torturados. Afinal,
os movimentos de oposição ao regime eram reprimidos por
diversas frentes do governo militar.

Além disso, o período também ficou conhecido como o


“milagre econômico”. Isso porque algumas medidas
econômicas adotadas pelo governo como a restrição ao
crédito, o aumento das tarifas do setor público, a
contenção dos salários e direitos trabalhistas, e a
redução da inflação resultaram em taxas de crescimento
do PIB acima de 10% e grandes investimentos em
infraestrutura.

Ainda, nesse momento foram construídas mais de 1 milhão


de casas, financiadas pelo Banco Nacional de Habitação
(BNH) e o setor de bens duráveis e eletrodomésticos
cresceu. Por isso, a impressão que se passava a partir
dos resultados dessas medidas era a de crescimento
econômico, ou como se costuma chamar: “milagre
econômico”.

O crescimento da economia somado à euforia após a


conquista do tricampeonato mundial de futebol levou o
governo militar a adotar campanhas publicitárias
ufanistas, como “Brasil, ame-o ou deixe-o” ou “Ninguém
mais segura esse país”. Você talvez já tenha ouvido
falar delas, não é mesmo?

Esse “milagre”, no entanto, deixou uma dívida externa


muito grande para o país – equivalente hoje a uma
dívida no valor de US$ 1,2 trilhão, muito maior que a
atual, cujo valor registrado em 2017 foi de US$ 37,36
bilhões. Isso significa que o “milagre econômico” gerou
na realidade a dependência brasileira por empréstimos
externos nos anos que seguiram.
Além disso, o milagre foi acompanhado de maior
desigualdade de renda. Ou seja, a riqueza se concentrou
ainda mais nas mãos dos ricos e a camada de pobres da
população teve sua situação econômica e social ainda
mais precarizada. O Índice de Gini – que mede a
concentração de renda de um país – alcançou em 1977 o
pior nível da história, com o número de 0,62. Isso
significa uma concentração de renda maior do que a
registrada atualmente em países como Namíbia e Haiti!

Em 1973, houve a crise do petróleo no mercado


internacional. Com o aumento do preço do combustível, a
inflação no país continuou a subir e em 1974 a inflação
era de quase 30% ao ano – chegando a taxa de 242,24% ao
final da ditadura. Além disso, os investimentos na
economia brasileira caíram, reduzindo o consumo e a
geração de empregos. Diante dessas dificuldades, o
governo militar passa a perder apoio.

Em 1971, foi promulgado um decreto-lei que tornava


ainda mais rígida a censura à imprensa, os grupos de
esquerda sofriam fortes repressões e foram criadas
instituições para lutar contra eles, como o
Departamento de Operações Internas (DOI) e o Centro de
Operação da Defesa Interna (CODI). Estes órgãos eram
utilizados como centros de aprisionamento e tortura e
estavam localizados nas principais cidades do Brasil.

Geisel e o início da abertura política

Geisel (1974-79) iniciou seu governo com uma abertura


política lenta, gradual e segura. Na prática, isso
significava a transição para um regime democrático,
mantendo os grupos de oposição e movimentos populares
excluídos dos processos de decisão política. Essa
transição também tinha como razão o desgaste das Forças
Armadas após anos de repressão, violência e restrição à
liberdade.

As violações aos direitos humanos e repressões


violentas continuaram apesar do início da abertura. O
caso mais grave ocorrido durante o governo de Geisel,
como já mencionamos, foi a tortura e morte do
jornalista Vladimir Herzog, em 1975. Esse episódio
gerou grande comoção popular, mas Geisel não tomou
providências para punir os responsáveis.
A crise econômica também se agravou e em 1978 operários
metalúrgicos do ABC iniciaram o maior ciclo de greves
da história do Brasil.

Diversos setores da sociedade começaram a se mobilizar


e denunciar as atrocidades cometidas pelo governo, a
situação ficava ainda mais insustentável para a
manutenção da Ditadura Militar no Brasil. Diante da
pressão da população e do surgimento de movimentos
contrários ao regime, em 1978, o presidente revogou
diversos decretos-lei, inclusive o AI 5.

Em termos de investimento, no governo do Geisel, foram


registradas os mais altos aportes em infraestrutura e
industrialização desde o início da ditadura militar,
atingindo 23,3% do PIB. Esse é um valor alto se
considerado o investimento no início do regime – de
15%. Alguns dos exemplos desses investimentos foram a
Transamazônica, a Ponte Rio-Niterói, as Usinas
Nucleares de Angra e a hidrelétrica de Itaipu.

Figueiredo e a Lei da Anistia


O Governo de Figueiredo (1979-85) durou 6 anos e
colocou fim ao período ditatorial. Em 1979, foi
promulgada a Lei de Anistia. Aos poucos, presos
políticos foram sendo libertados e os exilados voltaram
ao país.

Uma polêmica sobre a Lei de Anistia é que ela excluía


os guerrilheiros condenados por atos terroristas, mas
incluía os agentes de repressão policial e militar,
responsáveis por violações aos direitos humanos, como
torturas e mortes.

A partir desse momento, tornou-se possível a criação de


novos partidos políticos, muitos desses existem até
hoje. Mas essa abertura do final do regime não era
aceita por todos os militares, algumas alas desejavam
manter a ordem vigente. Considerado um ato de
terrorismo, militares contrários à abertura explodiram
uma bomba num centro de convenções no Rio de Janeiro
durante uma comemoração ao dia do trabalho, em 1981.
Neste caso também não houve investigações ou punições.
Ao final do mandato de Figueiredo, a população
mobilizou-se pela realização das eleições diretas, pois
segundo a Constituição, o sucessor seria eleito pelo
Congresso. As demandas, no entanto, não foram
atendidas. Tancredo Neves foi eleito por voto indireto
e somente em 1989 a população brasileira teve o direito
de votar diretamente para a presidência.

Para saber mais, confira nosso texto sobre eleições


diretas e indiretas!

A resistência armada na ditadura militar brasileira

Durante a ditadura militar, motivados por ideais


socialistas, foram criados grupos armados de esquerda
que acreditavam que outro sistema poderia resolver as
injustiças sociais geradas pelo capitalismo. Esse não
foi um movimento exclusivo do Brasil, as revoluções
armadas aconteceram ao longo da história, especialmente
quando “pegar em armas” se mostrava como o único
caminho possível para lutar contra o autoritarismo do
regime militar.
Esses grupos agiam na clandestinidade e muitos
guerrilheiros afastaram-se da vida civil para planejar
e executar suas ações. Para combater a luta armada, os
militares utilizaram inúmeros recursos jurídicos,
políticos e militares. A tortura no período ditatorial
brasileiro foi uma das formas utilizadas para conseguir
informações sobre esses grupos e suas estratégias e
enfraquecer sua atuação.

A cultura como resistência à ditadura militar

Nós já falamos sobre os grupos armados que lutavam


contra a Ditadura Militar no Brasil e da Passeata dos
100 mil, uma mobilização que contou com apoio de
diversos setores da sociedade. Mas não podemos deixar
de lado que o período da ditadura foi de grande
importância cultural e artística no país.

Apesar das restrições à liberdade de imprensa e de


expressão – impostas pela censura – muitos artistas,
músicos e cineastas manifestavam seu posicionamento
contrário ao regime, ainda que de maneira metafórica –
para não serem condenados como opositores ao regime.
Tom Jobim, Vinícius de Moraes, Chico Buarque, Gilberto
Gil e Veloso são exemplos de cantores e compositores
que utilizaram a música para manifestar sua opinião. O
Tropicalismo, por exemplo, foi um movimento forte de
oposição à ditadura e de construção da identidade
cultural brasileira. Diversos artistas, músicos e
escritores foram exilados durante o período ditatorial.

Um dos exemplos de música que se referia (contra) a


ditadura era “Apesar de você” de Chico Buarque. No
princípio, os militares não perceberam que a letra era
uma mensagem a eles e liberaram a canção, mas a
população entendeu o recado e logo em seguida o governo
militar proibiu a execução da música e destruiu os
discos.

Ditadura Militar no Brasil


A Ditadura Militar foi iniciada em 1964 e encerrada em
1985. Nesse período, o autoritarismo, a censura e a
tortura foram práticas comuns do governo.

Na imagem estão Humberto Castello Branco (1964-67) e


Ernesto Geisel (1974-79), dois presidentes militares
durante o período da ditadura.*
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Ditadura Militar foi o período da história brasileira


que se estendeu de 1964 a 1985. Esse regime foi
instaurado no poder de nosso país por meio de um golpe
organizado tanto pelos meios militares quanto pelos
civis. Esse golpe visou à derrubada do presidente João
Goulart e deu início a um período de 21 anos marcado
pelo autoritarismo e pela repressão realizada pelo
Estado. Encerrou-se em 1985, quando Tancredo Neves foi
eleito presidente do Brasil.
Acesse também: Entenda como funcionou uma das operações
de repressão da Ditadura Militar

Tópicos deste artigo

• 1 - Golpe de 1964

• 2 - Presidentes militares

• 3 - Mapa Mental: Ditadura Militar
• 4 - Principais acontecimentos
• → Repressão
• → Tortura
• → Economia
• → Resistência à ditadura

• 5 - Abertura democrática

Golpe de 1964

A Ditadura Militar, no Brasil, foi instaurada por meio


de um golpe — organizado pelos militares, a partir de
31 de março de 1964, e concluído por meio do golpe
parlamentar, que se deu em 2 de abril de 1964. Esse
golpe, orquestrado não só por militares mas também pelo
grande empresariado do Brasil, com o apoio dos Estados
Unidos, visava à derrubada de João Goulart e do projeto
trabalhista — um projeto político voltado para o
desenvolvimentismo e para a promoção de bem-estar
social.

João Goulart, presidente do Brasil a partir de 1961,


foi deposto pelo Golpe de 1964. (Créditos: FGV/CPDOC)

João Goulart (Jango), vinculado ao Partido Trabalhista


Brasileiro (PTB), assumiu a presidência do Brasil em
setembro de 1961 após um processo tenso que ficou
conhecido como “campanha da legalidade”. A posse de
Jango aconteceu porque o então presidente Jânio Quadros
renunciou a presidência em agosto de 1961. Pela
Constituição de 1946, o vice-presidente (na ocasião, o
Jango) deveria assumir, mas militares e conservadores
em geral não aceitavam a posse de Jango, o que resultou
na citada campanha da legalidade, a qual garantiu a
posse de Jango.

Após o risco de uma guerra civil, a solução encontrada


foi permitir a posse de João Goulart em um regime
parlamentarista, isto é, com poderes políticos
reduzidos. A partir de janeiro de 1963, o sistema
presidencialista retornou ao Brasil, e Jango deu início
a sua agenda reformista. O projeto de reformas
estruturais de seu governo ficou conhecido como
Reformas de Base.
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As Reformas de Base organizavam reformas profundas em


áreas essenciais do Brasil, tais como as áreas de
habitação, bancária, agrária, educacional etc. Dentro
das Reformas de Base, a única que foi amplamente
debatida e que gerou grande desgaste para o governo de
Jango foi a reforma agrária, principalmente porque ela
mexia com os interesses dos grandes proprietários de
terra.

O debate pela reforma agrária foi crucial para o


destino de Jango, uma vez que, a partir de setembro de
1963, os políticos do Partido Social Democrático (PSD)
que faziam parte da base de governo começaram a se
transferir para a oposição coordenada pela União
Democrática Nacional (UDN). Mas não eram somente as
Reformas de Base que se desgastavam. Uma lei de 1962,
chamada Lei de Remessas de Lucro, também repercutiu
fortemente e desagradava aos interesses americanos no
Brasil, uma vez que proibia suas empresas de enviarem
mais que 10% dos lucros obtidos para fora do país.

Sendo assim, já temos um breve quadro para entendermos


a raiz do golpe. João Goulart era um político que tinha
um forte relacionamento com sindicalistas, e isso lhe
dava a fama de comunista. Além disso, seus projetos
para o Brasil visavam a transformações radicais que
tinham como objetivo combater as desigualdades para
gerar mais desenvolvimento ao país.
Essas medidas de João Goulart desagradavam,
primeiramente, ao grande empresariado, grupo que se
beneficiava do estado do país e que via as reformas de
Jango como prejudiciais aos seus interesses. Além
disso, a política trabalhista de Jango, no auge da
Guerra Fria, era entendida como parte da doutrina
comunista, o que desagradava aos EUA (além da Lei de
Remessas de Lucro). Por fim, em oposição ao trabalhismo
no Brasil, a UDN buscava retomar o poder no Brasil de
todas as formas.

Assim, esses grupos começaram a se articular visando à


derrubada do presidente. A partir de financiamentos
realizados pela CIA, surgiram duas instituições no país
cujo objetivo era ampliar o desgaste do presidente e
preparar o caminho para o golpe — o Instituto
Brasileiro de Ação Democrática (Ibad) e o Instituto de
Pesquisa e Estudos Sociais (Ipes).

A Ibad, por exemplo, realizou maciço investimento em


candidatos conservadores para as eleições realizadas em
1962, e mais de 800 candidatos receberam financiamento
dela. Já o Ipes era uma instituição de fachada que
produzia materiais informativos a respeito do Brasil e
da sociedade brasileira, mas que, secretamente, reunia
o grande empresariado do país com os militares para
organizar o golpe contra Jango e a democracia. O
envolvimento americano, além do apoio financeiro,
ocorreria também em auxílio militar, caso o golpe
contra Jango não tivesse sucesso.
O caminho para o golpe consolidou-se por meio de uma
decisão do presidente comunicada no comício da Central
do Brasil. Nesse comício, o presidente afirmou que as
Reformas de Base seriam realizadas de toda maneira, o
que alarmou os grupos que conspiravam contra o
presidente, que entenderam a ação dele como uma guinada
definitiva à esquerda.

Acesse também: Diferença entre direita e esquerda

Em resposta à ação do presidente, foi organizado, para


dias depois, a Marcha da Família com Deus pela
Liberdade, realizada em São Paulo e que reuniu milhares
de pessoas. Nesse momento, ficava patente que existia
uma parcela considerável da população adepta à pauta
conservadora. O desgaste do governo Jango, aliado à
conspiração golpista, levou a uma rebelião militar
iniciada em 31 de março de 1964.

Essa rebelião foi iniciada na 4ª Região Militar,


localizada em Juiz de Fora e comandada por Olímpio
Mourão Filho. Nos dias seguintes, a rebelião cresceu e,
como não houve reação do presidente, os parlamentares
reuniram-se de forma extraordinária e consolidaram o
golpe contra Jango, ao declararem vaga a presidência do
Brasil, em 2 de abril de 1964.
Congressistas reunidos em 1º de abril de 1964, dia do
golpe militar. (Créditos: FGV/CPDOC)

Com o golpe civil-militar que derrubou João Goulart,


Ranieri Mazzilli foi nomeado presidente provisório. No
dia 9 de abril, foi emitido o Ato Institucional nº 1,
dispositivo de lei que estabelecia o aparato de
repressão da ditadura. Humberto Castello Branco foi
escolhido, em eleição indireta, como o presidente da
ditadura, que se estendeu por 21 anos.

Presidentes militares

Ao longo dos 21 anos da Ditadura Militar, o nosso país


possuiu cinco presidentes, todos eleitos por meio de
eleições indiretas, isto é, sem a participação da
população. Os cinco presidentes militares foram:

• Humberto Castello Branco (1964-67)


• Artur Costa e Silva (1967-69)
• Emílio Gastarrazu Médici (1969-74)
• Ernesto Geisel (1974-79)
• João Figueiredo (1979-85)

Mapa Mental: Ditadura Militar


*Para baixar o mapa mental em PDF, clique aqui!

Principais acontecimentos

→ Repressão

A Ditadura Militar ficou marcada por ser um período de


exceção, no qual todo tipo de arbitrariedade foi
cometido pelo governo em nome da “segurança nacional”.
A ditadura ficou marcada pelas prisões arbitrárias,
cassações, expurgos, tortura, execuções,
desaparecimento de cadáveres e até mesmo por atentados
com bombas.

O aparato de repressão da ditadura deu-se por meio de


diversos mecanismos. O primeiro mecanismo foram os Atos
Institucionais, o suporte jurídico que possibilitava
aos militares perseguir e aprisionar todos os que eram
considerados opositores do regime. Exemplificando, o
AI-1 permitiu à ditadura aprisionar pessoas,
indiscriminadamente, em locais como navios e estádios
de futebol, e a expurgar pessoas do serviço público.

Por meio do AI-1, 4841 pessoas perderam seus direitos


políticos, e 1313 militares foram colocados na reserva.
Além disso, dezenas de juízes foram expurgados, e 41
deputados tiveram seus mandatos cassados.|1|
Sindicatos, como a Liga Camponesa, e instituições
estudantis, como a UNE, também sofreram com a repressão
governamental.

Com o tempo, o direito da população de escolher seu


presidente foi retirado por meio do AI-2, decretado no
final de 1965, e o AI-3 estabeleceu um sistema
bipartidário no Brasil. Os dois partidos que existiam
era:

• Aliança Renovadora Nacional (Arena): partido do


regime;
• Movimento Democrático Brasileiro (MDB): oposição
consentida (ou seja, não toda e qualquer oposição).

O período 1964-68 é entendido por muitos como o período


da “ditadura branda”, mas, na verdade, esse período foi
utilizado pela ditadura para criar o aparato de
repressão. O aparato jurídico da repressão dos
militares teve seu auge durante o AI-5, decretado
durante o governo de Costa e Silva. Esse decreto
ampliou os poderes dos militares e determinava o
seguinte:

• O presidente teria direito a fechar o Congresso;


• O presidente poderia intervir nos estados e
municípios se achasse necessário;
• O presidente poderia cassar políticos e demitir
funcionários públicos;
• Suspendia-se o direito a habeas corpus para crimes
contra a “segurança nacional” etc.

→ Tortura

A tortura também foi um dos mecanismos da repressão e


do autoritarismo da Ditadura Militar. A tortura era
realizada, principalmente, contra opositores do regime,
pessoas que, na ótica dos militares, eram vistas como
subversivas. A tortura realizada por agentes de governo
não se deu apenas contra pessoas envolvidas na luta
contra a ditadura, mas também contra pessoas sem
ligação direta, como aconteceu com milhares de
indígenas e com Carlos Alexandre Azevedo, que, com 1
ano e 8 meses, foi vítima de tortura por agentes da
ditadura.

A respeito da ditadura, as historiadoras Lilia Schwarcz


e Heloísa Starling afirmam:

No Brasil, a prática da tortura política


não foi fruto das ações incidentais de
personalidades desequilibradas, e nessa
constatação residem o escândalo e a dor.
Era uma máquina de matar concebida para
obedecer a uma lógica de combate: acabar
com o inimigo antes que ele adquirisse
capacidade de luta.|4|

As formas de tortura realizadas pela ditadura foram


inúmeras, e os métodos de tortura utilizados pelos
agentes do Exército e do governo foram ensinados pelo
exército francês. Dentre as formas de tortura, podem
ser destacados as seguintes:

• Pau de arara: método no qual a pessoa era pendurada


em uma barra de ferro, que passava entre os punhos
amarrados e as dobras dos joelhos. A vítima presa
no pau de arara era colocada sob outros métodos de
tortura, como o uso de choques elétricos.
• Choques elétricos: eram dados por meio de fios que
eram ligados ao corpo da pessoa. Os locais mais
atingidos durante as sessões de choque eram as
partes íntimas, mas outras partes do corpo também
eram submetidas aos choques elétricos.
• Geladeira: a vítima, totalmente nua, era colocada
em uma sala com a temperatura baixíssima, e lá era
emitido um som estridente.
• Palmatória: a vítima era submetida à tortura por
meio do uso de palmatória, em locais como as
nádegas. A palmatória era usada até deixar a região
em carne viva.
• Uso de animais: muitas vítimas eram colocadas em
recintos junto de animais selvagens e perigosos,
como cobras.
• Afogamento: a pessoa no pau de arara era submetida
a sessões de afogamento, por meio da introdução de
água na boca e nas narinas. As sessões de
afogamento poderiam vir intercaladas com sessões de
choques elétricos.
Além dos métodos de tortura, alguns casos de pessoas
torturadas são dignos de menção:

• Carlos Alexandre Azevedo: como citado


anteriormente, Carlos Alexandre tinha apenas um ano
e oito meses quando foi preso e encaminhado ao
Departamento Estadual de Ordem Política e Social
(Deops), lugar no qual foi torturado na frente de
seus pais, em janeiro de 1974. Na ocasião, Carlos
teve um dente quebrado e levou choques elétricos.
Cresceu com problemas psicológicos e fobia social,
e, em 2013, cometeu suicídio.
• Inês Etienne Romeu: Inês tinha 29 anos quando sua
prisão aconteceu, em 1971. Inês sofreu torturas
físicas e psicológicas, foi obrigada a ficar nua na
frente de seus torturadores e foi também estuprada.
• Maria Auxiliadora Lara Barcelos: foi presa em 1970,
quando tinha 25 anos. Sofreu tortura com palmatória
e choques elétricos nos seios e vagina. Seus
torturadores estupraram-na por meio da simulação de
atos sexuais e de carícias indevidas feitas em seu
corpo. Exilada em 1971, Maria Auxiliadora cometeu
suicídio na Alemanha Ocidental.
• Stuart Angel: foi preso, em 1971, com 25 anos. Foi
torturado e amarrado, pela boca, no cano de
escapamento de um jipe e então arrastado pela Base
Aérea do Galeão. Stuart Angel foi morto, e seu
corpo nunca foi encontrado. A mãe de Stuart, Zuzu
Angel, denunciou abertamente o desaparecimento de
seu filho na época e acabou morrendo em um acidente
de carro, que aconteceu em 1976 e que nunca foi
devidamente esclarecido.

Imagem de Stuart Angel, filho de Zuzu Angel, que foi


preso, torturado e executado durante a ditadura.
(Créditos: FGV/CPDOC)

Outros casos, como a morte e o desaparecimento de


Rubens Paiva e a morte do jornalista Vladimir Herzog,
são exemplos emblemáticos dos horrores da tortura.

Acesse também: Conheça a história de um atentado a


bomba organizado pelos militares

→ Economia

A economia na ditadura teve fases distintas, cada qual


com suas peculiaridades. No final do período de 21
anos, a ditadura deixou um saldo de endividamento,
inflação elevada e uma grande desigualdade social. As
distintas fases da política econômica, segundo o
historiador Marcos Napolitano, durante a ditadura
foram|3|:

• Uma fase voltada para a contenção de gastos, da


qual se destacam o desaquecimento do consumo e o
arrocho do salário dos trabalhadores. Ocorreu entre
1964-67.
• O período do “milagre econômico”, marcado por
expansão do crédito, do consumo, pela realização de
grandes obras públicas e crescimento econômico
notável e acelerado. Ocorreu entre 1968-73.
• Continuidade da política desenvolvimentista do
período do milagre, mas voltada para a
diversificação da matriz energética do país e o
desenvolvimento de indústria de base, com forte
endividamento do governo. Ocorreu entre 1974-80.
• Tentativas de controlar os efeitos da crise
combatendo a inflação e a dívida externa. Ocorreu
entre 1980-85.

→ Resistência à ditadura

Ao longo dos 21 anos de ditadura, diferentes formas de


resistência foram organizadas na sociedade brasileira.
Primeiramente, é importante mencionar o papel das
manifestações populares que aconteceram entre 1964 e
1968. O Rio de Janeiro, por exemplo, foi palco de
manifestações gigantescas que sofreram dura repressão
da ditadura.

Aconteceram também demonstrações de resistências nos


meios políticos, das quais duas destacaram-se. Nos
primeiros anos da ditadura, existiu a Frente Ampla,
movimento político criado por Carlos Lacerda — político
conservador que apoiou o golpe, mas rompeu com o regime
quando a eleição presidencial de 1965 foi cancelada.

Outra demonstração de resistência política deu-se em


1968, quando os deputados brasileiros recusaram-se a
punir Márcio Moreira Alves, deputado que acusou o
Exército de ser um “valhacouto de torturadores”. A
intensificação das oposições contra a ditadura foi uma
das justificativas usadas pelos militares para
endurecer o regime por meio do AI-5.

Por fim, com o endurecimento do regime, a partir de


1968, uma nova forma de resistência à ditadura surgiu
no Brasil: a resistência armada. O grupo que se lançou
à resistência armada era composto, em maioria, por
membros da classe média e estudantes que não
concordavam com o autoritarismo do regime e que não
viam outra solução — já que o regime não os permitia
manifestar-se pacificamente — senão lançar-se à
resistência armada.

A resistência armada realizou uma série de ações, como


atentados com bombas, como o ocorrido contra a
embaixada americana, em 1968. Houve, também, assaltos e
sequestros realizados por membros desses grupos como
formas de luta contra a ditadura. Entre os nomes de
destaque da resistência armada estão Carlos Marighella
e Carlos Lamarca. A repressão da ditadura contra esses
grupos que atuavam no início da década de 1970 fez a
resistência armada praticamente desaparecer do país.
Abertura democrática

João Figueiredo (de branco) foi o último presidente


durante a Ditadura Militar. (Créditos: FGV/CPDOC)

A partir do final da década de 1970, a ditadura começou


a caminhar para uma abertura, mas se, à primeira vista,
essa abertura parecia ser uma democratização da
ditadura, ela era, na realidade, uma abertura
controlada que buscava manter os governos alinhados aos
interesses do Exército sem a necessidade de se ter
presidentes militares.

Esse processo, no entanto, falhou drasticamente, uma


vez que as forças de resistência contra a ditadura
ganharam nova vida e anteciparam o fim da Ditadura
Militar no Brasil. O fortalecimento das oposições e o
descontentamento popular com a grave crise, que atingiu
a economia brasileira a partir da década de 1980,
fizeram com o projeto de abertura controlada da
ditadura fracassasse.

A partir de 1979, uma série de medidas foi tomada no


sentido de promover maior abertura da política
brasileira. Foi decretada a anistia, lei que permitia a
todos os exilados retornarem ao Brasil e perdoava todos
os crimes cometidos durante a ditadura. Houve também o
retorno do pluripartidarismo, que levou ao surgimento
de novos partidos no Brasil. Os partidos que surgiram
foram:

• Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB)


— conversão do MDB;
• Partido Democrático Social (PDS) — conversão do
Arena;
• Partido dos Trabalhadores (PT);
• Partido Democrático Trabalhista (PDT);
• Partido Trabalhista Brasileiro (PTB).

Outra medida notável desse processo de abertura


controlada foi a revogação do Ato Institucional nº 5,
que aconteceu em 1979. Na década de 1980, o último
presidente da ditadura, João Figueiredo, fracassou no
projeto dos militares de realizar a abertura
controlada. A mobilização popular, aliada com a
mobilização política, fez com que a ditadura chegasse
ao fim.

A transição para a democracia no Brasil, por sua vez,


ficou marcada pela cautela. Essa transição foi
realizada de maneira conservadora, e isso é perceptível
pelo fato de o primeiro presidente civil, após 21 anos
de ditadura, ter sido escolhido por eleição indireta,
já que a Emenda das Diretas Já tinha sido derrotada.
Até hoje, os agentes do governo que cometeram crimes e
todo tipo de violação contra os Direitos Humanos não
foram julgados e condenados. Isso se atribui-se,
principalmente, à Lei da Anistia, que perdoou os crimes
cometidos pelos agentes na ditadura.

A ditadura civil-militar de 1964: os impactos de longa


duração nos direitos trabalhistas e sociais no Brasil

1964's civil-military dictatorship: the lasting effects


on labor and social rights in Brazil

Ricardo LaraMauri Antônio da


SilvaSOBRE OS AUTORES

• Resumos
• Text
• Introdução
• 1. A ditadura civil-militar e as ofensivas ao
trabalho
• 2. A retomada do sindicalismo classista
• 3. O movimento grevista nos anos 1990
• 4. A reciclagem do capitalismo dependente com
Lula e Dilma
• Considerações finais
• Referências bibliográficas
• Datas de Publicação
• Histórico

Resumos

O artigo apresenta abordagem sócio-


histórica dos impactos da ditadura civil-
militar nos direitos trabalhistas e
sociais no Brasil. O declínio dos direitos
sociais e o avanço do poder político e
econômico das classes dominantes serão
analisados de acordo com o contexto
histórico, no qual se localizam três
períodos nos últimos quarenta anos.
Pretendemos demonstrar que a
flexibilização e a degradação das
condições de trabalho e vida dos
trabalhadores foram reforçadas após o
golpe civil-militar de 1964 e se estende
até a atualidade, sendo extremamente
funcional às necessidades da acumulação
capitalista.

Palavras-chave:

Trabalho; Direitos sociais; Ditadura


The article presents a social-historical
approach to the effects of the civil-
military dictatorship on labor and social
rights in Brazil. The decline of the
social rights and the progress of the
ruling classes' political and economic
power will be analyzed according to the
historical context, in which three periods
can be found in the last 40 years. We
intend to show that the easing and the
degradation of the workers' labor
conditions and lives were reinforced after
the civil-military coup in 1964, and they
extend to the present, for they are
extremely functional to the necessities of
the capitalist accumulation

Keywords:

Labor; Social rights; Dictatorship

Introdução

As refrações das dinâmicas conflituosas da


luta de classes na vida do trabalhador
brasileiro se evidenciam com os avanços e
recuos na legislação do trabalho de 1964
aos dias atuais. Nesta perspectiva, é de
fundamental importância compreender a
atual e intensa desregulamentação dos
direitos do trabalho em consonância com as
dinâmicas de desenvolvimento da economia
capitalista mundial, principalmente sua
relação com as economias capitalistas
dependentes, como é o caso brasileiro.

A importância da análise dos impactos da


ditadura civil-militar nos direitos
trabalhistas e sociais no Brasil reside na
ênfase da ação coletiva dos trabalhadores
na conjuntura que levou ao golpe de 31 de
março/1º de abril de 1964. Abordaremos a
ditadura civil-militar através das várias
formas de resistência da classe
trabalhadora, bem como a dinâmica dos
conflitos sociais para o entendimento dos
fenômenos políticos e econômicos
relacionados às conjunturas internas e
externas.

O declínio dos direitos trabalhistas e


sociais e o avanço do poder e do lucro
capitalistas serão observados de acordo
com o contexto histórico, no qual se
localizam três períodos nos últimos
quarenta anos: o de reação (1964-78); o de
avanço (1979-89); e o de retirada (1990-
2000). Pretendemos demonstrar que a
flexibilização e a degradação das
condições de trabalho e vida dos
trabalhadores foram reforçadas após o
golpe civil-militar de 1964, sendo
extremamente funcional às necessidades de
acumulação do capital. O último período
referido por Petras (1999), de acordo com
nossa análise, tem continuidade até a
presente conjuntura histórica, pois o que
houve nos últimos governos eleitos pelos
critérios da democracia liberal foi uma
reciclagem do capitalismo dependente
brasileiro, ampliando sua subordinação aos
países capitalistas hegemônicos.

1. A ditadura civil-militar e as ofensivas


ao trabalho

Os direitos trabalhistas e sociais


sofreram retrocessos com a implantação da
ditadura civil-militar no Brasil em 1964.
O golpe de 1º de abril, apoiado pelo
imperialismo norte-americano, pelos
setores conservadores da alta hierarquia
da Igreja Católica, pela burguesia
internacional e nacional (industrial e
financeira, os grandes proprietários de
terras),1 conteve o avanço das forças
populares que vinham num crescente nível
de organização e mobilização em torno das
lutas pelas reformas de base.
O presidente João Goulart (PTB)
desenvolvia um governo voltado para a
promoção da justiça social e da soberania
nacional. Sua política de valorização dos
direitos trabalhistas, de defesa das
reformas de base - agrária, tributária,
urbana, educacional e eleitoral2 - e de
independência nas relações exteriores,
juntamente com a tentativa de limitar a
remessa dos lucros do capital estrangeiro
para fora do país, desagradou aos
interesses da burguesia brasileira
associada ao capital imperialista.

O golpe civil-militar foi a resistência


capitalista às possibilidades de reformas
e avanços sociais. Por meio da violência,
os setores reacionários atuaram com
prisões de lideranças, torturas,
assassinatos, expulsão de líderes
esquerdistas do país e intervenção em
sindicatos.3 Sob o contexto da Guerra Fria
e em nome do anticomunismo, as forças
reacionárias do país instituíra uma
ditadura civil-militar que objetivou
promover a internacionalização da economia
e a reconcentração de renda, poder e
propriedade nas mãos de corporações
transnacionais, monopólios estatais e
privados e grandes latifundiários,
aprofundando sua integração com o mercado
mundial e suas ligações com o capital
financeiro e industrial internacionais
(Petras, 1999).

Ao tomar posse, o ditador marechal Castelo


Branco estabeleceu um regime de completa
arbitrariedade. Só nos dois primeiros
meses de presidência, com base nos poderes
que lhe conferia o artigo 10 do Ato
Institucional n. 1, "ele cassou os
direitos políticos de 37 pessoas, entre as
quais três ex-presidentes, seis
governadores estaduais e 55 membros do
Congresso Nacional. Dez mil funcionários
públicos foram demitidos e cerca de 5 mil
inquéritos sumários que envolveram 40 mil
pessoas foram abertos" (Guisoni, 2014, p.
28).

A ditadura civil-militar atuou


radicalmente para barrar as pretensões de
conquistas econômicas e sociais do governo
João Goulart. A primeira medida do governo
de Castelo Branco foi revogar a Lei de
Remessa de Lucros, que impedia as empresas
estrangeiras de fazer remessa de lucros
exageradas para o exterior. Ele
estabeleceu o arrocho salarial, revogou o
decreto que desapropriava terra às margens
das estradas para a reforma agrária,
revogou a nacionalização das refinarias
particulares e o decreto que congelava os
aluguéis, restringiu o crédito às pequenas
e médias empresas, deu as mais amplas
garantias ao capital estadunidense que
foram estabelecidas pelo Acordo de
Garantia dos Investimentos Norte-
Americanos no Brasil.

No campo trabalhista houve grande


retrocesso, com o fim da lei que garantia
estabilidade aos trabalhadores após dez
anos de trabalho na mesma empresa. Ela foi
substituída pelo Fundo de Garantia por
Tempo de Serviço (FGTS), criado pela Lei
n. 5.107, de 1966, que estimulava a
rotatividade da força de trabalho. Os
recursos arrecadados foram aplicados no
sistema habitacional, que seria financiado
pelo Banco Nacional da Habitação (BNH). O
trabalhador, ao ser demitido sem justa
causa, passava a receber uma indenização
sobre o saldo do fundo que é composto por
depósitos mensais efetivados pelo
empregador, equivalentes a 8% do salário
pago ao empregado, acrescido de correção
monetária e juros.

O FGTS foi uma das primeiras


flexibilizações do direito do trabalho
brasileiro que vinha se ampliando desde a
década de 1940 com a Consolidação das Leis
do Trabalho (CLT). Quanto à política de
reajustes salariais, limitou-se à revisão
anual com base na média do salário dos 24
meses anteriores, acrescido do "resíduo
inflacionário" projetado para os próximos
doze meses e da produtividade do ano
anterior.

O arrocho salarial foi a política


efetivada pelo ciclo ditatorial. O caráter
de classe do regime ditatorial pode ser
percebido como o Executivo federal tratou
os reajustes salariais. A fixação dos
reajustes foi utilizada como instrumento
de maximização da exploração da força de
trabalho, um meio para realizar a
"acumulação predatória" (pagamento de
salários abaixo do valor da força de
trabalho). "Tratou-se de uma política
salarial dirigida abertamente contra a
massa da classe trabalhadora, em especial
a classe operária, sobre a qual se
descarregou o custo decisivo da
'estabilização econômica': com o arrocho,
garantiu a superexploração dos
trabalhadores4 para a multiplicação dos
lucros capitalistas" (Netto, 2014, p. 92).

Para manter a política do arrocho, o


caminho legislativo encontrado foi a lei
antigreve. A lei de greve de 1º de julho
de 1964 (Lei n. 4.330) proibiu a greve no
serviço público, nas empresas estatais e
nos serviços essenciais. A greve só seria
considerada legal quando os empregadores
atrasassem o pagamento ou quando não
pagassem salários conforme as decisões
judiciais.

As medidas tomadas pela ditadura civil-


militar relatadas acima foram algumas das
ações providenciadas pelo regime
ditatorial para atuar na exploração e
repressão de classe no Brasil,
repercutindo diretamente nos direitos do
trabalho e nas condições de vida dos
trabalhadores.

2. A retomada do sindicalismo classista

Assassinatos, exílios, desaparecimentos,


muito sofrimento para a sociedade
brasileira estiveram presentes na história
do Brasil durante a ditadura civil-
militar. Fatos e acontecimentos trágicos
marcantes dos anos 1964-84 ainda
necessitam ser esclarecidos e apurados com
as devidas doses de justiça política,
social e ética.

No âmbito do trabalho e dos direitos


sociais, as principais consequências foram
as medidas que resultaram no arrocho
salarial, mas em fins dos anos 1970 o
movimento sindical toma novo fôlego no ABC
paulista. Foi o momento da retomada do
sindicalismo classista que se encoraja
para enfrentar o regime ditatorial.

Com o ressurgimento do movimento sindical


combativo, principalmente em São Bernardo
do Campo, na região da Grande São Paulo,
onde se desenvolveu o parque
automobilístico brasileiro, forma-se uma
nova classe operária que passa a contestar
o modelo econômico concentrador de renda
da ditadura civil-militar e a lutar por
liberdades democráticas e direitos
sociais.

Os sindicalistas passam a exigir autonomia


e liberdade sindical, fim do arrocho
salarial e melhores condições de vida.
Propicia assim no refluxo da ditadura, um
novo avanço dos trabalhadores entre os
anos 1979 e 1989. Esse avanço ocorre em
duas fases: um avanço social baseado nas
lutas pela terra, pelas greves massivas de
sindicatos, e lutas urbanas, em
organização e ação entre 1979 e 1985, e um
período subsequente de avanço político e
econômico (1986-89), com progressos na
legislação social através da Constituição
Federal de 1988 e aumento do poder
eleitoral dos trabalhadores por intermédio
do Partido dos Trabalhadores (PT).

As principais conquistas dos trabalhadores


foram: o reconhecimento da liberdade de
organização sindical que, no entanto,
ainda ficou limitada pela unicidade
sindical, diminuição da jornada de
trabalho em turnos ininterruptos para seis
horas diárias; redução da jornada de
trabalho de 48 para 44 horas; elevação do
adicional de horas extras para o mínimo de
50%; aumento em 1/3 da remuneração das
férias; ampliação da licença-maternidade
para 120 dias; criação da licença-
paternidade de cinco dias; elevação da
idade mínima para admissão no emprego para
catorze anos; instituição da figura do
representante dos trabalhadores nas
empresas com mais de duzentos empregados;
estabilidade de dirigentes sindicais,
membros de Comissões Internas de Acidentes
do Trabalho (Cipas) e das trabalhadoras
gestantes (Brasil, 2000).

Na década de 1980, o sindicalismo


brasileiro vive um momento de ascensão das
lutas sociais do trabalho, com o avanço
das greves, a criação da Central Única dos
Trabalhadores (CUT), em 1983, as
tentativas de organizar os trabalhadores
nos locais de trabalho, o avanço do
sindicalismo rural e do sindicalismo no
setor público, o aumento da sindicalização
em contratendência ao movimento de
dessindicalização que vinha ocorrendo em
nível internacional (Antunes, 1991). Assim
mesmo, as taxas de sindicalização no
Brasil continuavam baixas se comparadas
com outros países.

Enquanto nos países europeus o movimento


sindical apresenta declínio, o movimento
sindical brasileiro na década de 1980 vive
um dos maiores ascensos da sua história.
São criadas centenas de sindicatos
oficiais e associações livres do
funcionalismo público; os trabalhadores
das classes médias urbanas e os
trabalhadores agrícolas são incorporados e
demonstram grande capacidade de luta e
mobilização. Esse processo fica evidente
pelo crescente número de greves ocorridas.

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Quadro 1

Greves e grevistas nos anos 1980

Do ponto de vista das reivindicações e


greves, os principais motivos são a
centralidade da luta contra a exploração
do trabalho e a reposição das perdas
salariais.

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Quadro 2

Percentual das principais reivindicações dos


movimentos grevistas em relação ao total de
greves. Brasil, região urbana (1978-86)

Antunes (1991) avalia que apesar dessa


causalidade econômica, motivadora desse
enorme volume de greves desencadeadas no
período, elas são permeadas pela dimensão
política, anticapitalista na medida em que
ao reivindicar melhores condições de
salário e trabalho, bem como o fim do
arrocho, assume uma forma de confronto com
as bases da política econômica a serviço
do capital.

No final desse período, a luta dos


trabalhadores desloca-se do plano das
lutas diretas e de classes para o terreno
da luta eleitoral, que é hegemonicamente
controlado pela burguesia através do poder
econômico e da mídia. O candidato operário
Lula da Silva, do PT, é derrotado por
Fernando Collor de Mello, do Partido da
Reconstrução Nacional (PRN), o candidato
da burguesia, nas primeiras eleições
diretas desde o golpe de 1964.

3. O movimento grevista nos anos 1990

A partir de 1989, com a eleição do


presidente Collor, iniciou-se um período
de retrocessos sociais com altíssimas
taxas de desemprego. A hegemonia burguesa
se manteve com o apoio internacional do
capital, a desmobilização interna dos
trabalhadores, a separação entre lutas
eleitorais e as lutas urbanas de massa, e
a liderança política e vontade da
burguesia liberal para quebrar
decisivamente o contrato social dos anos
1980, primeiramente com Collor, que acabou
sendo deposto por um vasto movimento
social e político de massas, desencadeado
ao longo de 1992, e mais tarde, de forma
mais contundente, com Cardoso, em seus
oito anos de neoliberalismo (Petras, 1997;
Matos, 2010; Antunes, 2011).

Quanto aos sindicatos, estes foram


envolvidos pelas políticas de pacto com as
elites, não sendo capazes de contra-
atacar. Na CUT, isso ficou evidenciado
pela postura de seu presidente Vicentinho,
quando, em janeiro de 1996, negociou
acordo de reforma da Previdência com o
governo Cardoso, retirando direito
histórico dos trabalhadores, trocando a
aposentadoria por tempo de serviço pela
aposentadoria por tempo de contribuição.
Outras políticas nesse sentido foram
desenvolvidas, como as câmaras setoriais
com participação tripartite entre
empresários, governo e sindicalistas, e as
políticas de formação profissional do
governo em conjunto com as centrais
sindicais.

Para Antunes (1995), os setores


hegemônicos do sindicalismo brasileiro
ingressavam em uma fase defensiva, marcada
pela postura participacionista e de
negociação, abandonando o sindicalismo de
classe dos anos 1960-80. As perspectivas
emancipatórias, a luta pelo socialismo e
pela emancipação do gênero humano entravam
numa onda de aceitação acrítica da social-
democratização.

Após o impedimento de Collor por corrupção


em 1992, seguiu-se a posse de Itamar
Franco, que, tendo Fernando Henrique
Cardoso à frente do Ministério das
Relações Exteriores e em seguida do
Ministério da Fazenda, concluiu acordo com
o Fundo Monetário Internacional (FMI) que
previa pagamento rigoroso dos juros da
dívida externa e interna, nos termos do
Plano Brady, para a qual foi necessário
rigoroso ajuste fiscal junto com o
compromisso de venda das empresas públicas
(Chossudowsky, 1999; Petras, 2001).

Fernando Henrique Cardoso, no seu governo,


congelou o salário dos servidores
públicos, cortou direitos trabalhistas e
diminuiu a participação dos salários no
Produto Interno Bruto (PIB), que caiu de
45% em 1992 para 36% no final da década de
1990, aumentando a participação do lucro
das empresas, que passou de 35% para 44%
nesae período. A concentração de riqueza
aumentou ainda mais, agravando a "questão
social" no país. O resultado final desse
governo foi uma enorme diminuição do
número de empregos, miséria crescente,
arrocho salarial, desindustrialização e
desnacionalização da economia (Cano,
2000).

Os processos de terceirização,
flexibilização, cooperativização,
informalização, entre outras estratégias
de precarização das relações de trabalho,
encontraram eco na política governamental
com a quebra da estabilidade dos
servidores públicos, permitindo-se a
demissão por "excesso de despesas". Dentre
as principais ofensivas ao trabalho e aos
direitos sociais, destacam-se: o projeto
de lei de contratação temporária de dois
anos com redução de encargos sociais; a
livre negociação salarial, que entrega os
trabalhadores às garras do capital,
dispensando-se a proteção do Estado ao
poder de compra dos salários; a revogação
da Convenção n. 158 da Organização
Internacional do Trabalho (OIT), que
garantia fatores inibidores da demissão
sem justa causa; a criação do banco de
horas extras; a flexibilização da
legislação em ataque aos direitos
estabelecidos na Consolidação das Leis do
Trabalho; e a criação do Fator
Previdenciário (Cano, 2000).5

Com a introdução dos planos de


estabilização a partir dos governos
Collor, Itamar e Cardoso, ocorre
redirecionamento da ação sindical diante
da nova realidade econômica e política de
profundas mudanças marcadas por dois
fatores centrais: o fim da inflação e a
elevação das taxas de desemprego. Em
períodos de recessão econômica e crise
ideológica do movimento sindical, as
bandeiras de luta são mais voltadas para a
realidade imediata. Conforme análise do
Dieese (1999): "Apesar de o número de
greves total continuar elevado (e até
crescente) até 1996, a enorme alta nos
níveis de inadimplência das empresas e a
crescente taxa de desemprego já indicavam
dificuldades para a mobilização dos
trabalhadores, retratada pelo aumento na
luta pelo cumprimento de direitos".

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Quadro 3

Número de greves, grevistas, média de


trabalhadores por greve e reivindicações (em
números absolutos)

Os anos 1990 são marcados por lutas


imediatas e poucas conquistas substantivas
que travassem os processos de
flexibilização e precarização do trabalho.
As contrarreformas nas políticas sociais
(retiradas de direitos históricos, como no
caso da Previdência) e a privatização do
patrimônio público foram as principais
causas que colocaram o movimento sindical
na defensiva.

4. A reciclagem do capitalismo dependente


com Lula e Dilma

Com o desgaste do governo Cardoso em


função das baixas taxas de crescimento da
economia mundial e brasileira, nas
eleições de 2002 foi eleito o presidente
Luiz Inácio Lula da Silva, despertando a
esperança do povo brasileiro por mudanças.
No entanto, entre suas primeiras medidas
destacam-se a retirada de direitos
previdenciários dos servidores públicos
exigida pelo Banco Mundial, instituindo a
cobrança de contribuição para servidores
aposentados, estabelecendo o teto do
regime geral da Previdência para as
aposentadorias e a criação de um fundo
privado de pensão para os futuros
servidores que quiserem complementar sua
aposentadoria, além da continuidade da
política macroeconômica conservadora com
base nos mesmos pressupostos neoliberais
de Collor e Cardoso.

A estratégia acomodatícia aos limites do


capitalismo foi consolidada com a chegada
ao poder do presidente Lula, vinculado
historicamente à criação da Central Única
dos Trabalhadores. Lula e o PT aliaram-se
ao capital para vencer as eleições e
adotaram na campanha um discurso de
compromisso com o Fundo Monetário
Internacional (FMI) na intitulada Carta ao
Povo Brasileiro, que na verdade era uma
Carta aos Banqueiros. O colaboracionismo
com o capital foi consagrado com a
participação das centrais sindicais no
Conselho de Desenvolvimento Econômico e
Social (Codes), um organismo consultivo de
políticas públicas com representantes do
empresariado, de personalidades da
sociedade civil, das centrais sindicais de
trabalhadores e do governo.

A política econômica de Lula da Silva foi


de incentivo ao grande capital financeiro
e produtivo. Com nova ascensão da economia
mundial, a partir de 2004 houve no Brasil
a retomada do crescimento com melhoria na
distribuição de renda, incremento real do
salário mínimo e ampliação de empregos,
dando assim sólida base de apoio social a
Lula para reeleger-se em 2006 e em 2010
eleger sua sucessora, Dilma Rousseff. Foi
dada continuidade à política que combinava
rigoroso equilíbrio fiscal nos moldes
preconizados pelo FMI com políticas
sociais compensatórias para aliviar a
pobreza. Quanto à distribuição de renda, o
Dieese afirma que houve queda no índice de
Gini de 0,596, em 2001, para 0,593, em
2009, e que a partir de 2003 a melhoria da
distribuição de renda foi acompanhada de
elevação da renda média dos brasileiros,
porém o Brasil continua a ter elevada
concentração de renda (Dieese, 2012b, p.
332).

A parceria do trabalho com o capital não


rompeu com a histórica exploração dos
trabalhadores do campo e da cidade. A
superexploração da força de trabalho
continua presente como traço estrutural da
formação capitalista dependente brasileira
(Fernandes, 2006; Marini, 2000), apesar do
anúncio de melhorias pelo governo federal.
Nas conjunturas de recuperação econômica
que ocorrem a partir de 2004 até 2008, um
estudo do Departamento Intersindical de
Estatísticas e Estudos Socioeconômicos
(Dieese) afirma que houve conquista de
ganhos salariais acima da inflação para a
maior parte das categorias, embora em
grande parte do período analisado os
indicadores sejam bastante modestos: de
0,01 a 1% acima do INPC-IBGE (Dieese,
2012b, p. 294). Em estudo mais recente
sobre as negociações de 2011, verifica-se
aumento real médio de 1,68%, em 2010, e
1,38%, em 2011 (Dieese, 2012a, p. 26).
Um fator que demonstra a permanência da
precariedade do trabalho no Brasil é a
alta taxa de rotatividade no mercado de
trabalho. De acordo com o Dieese, na
primeira década deste século, a
rotatividade apresentou taxas que variaram
entre 43,6%, em 2004, e 52,5%, em 2008,
chegando em 2010 a 53,8% (DIEESE, 2012b,
p. 284).

Quanto à positiva retomada de geração de


empregos na última década, cabe ressaltar
que o maior saldo líquido das novas
ocupações abertas concentram-se na faixa
dos 1,5 salário mínimo: "Dos 2,1 milhões
de vagas abertas anualmente, em média 2
milhões encontram-se na faixa de até 1,5
salário mínimo mensal" (Pochmann, 2012, p.
22).

Outro fator que rebateu sobre as relações


de trabalho foi a tentativa de
flexibilizar os direitos trabalhistas
assegurando que o negociado prevaleça
sobre o legislado iniciado com o PL n.
5.483/2001, durante o governo Cardoso,
sofrendo forte oposição das centrais
sindicais, principalmente da Central Única
dos Trabalhadores (CUT). Em 2003, o
presidente Lula solicitou ao Senado a
retirada e o arquivamento do projeto. Eis
que dez anos depois surge a proposta do
Acordo Coletivo de Trabalho com Propósito
Específico (ACE), forjado no Sindicato dos
Metalúrgicos de São Bernardo do Campo, o
berço da Central Única dos Trabalhadores
(CUT), que flexibiliza direitos
trabalhistas, autorizando que o acordado
entre patrões e empregados prevaleça sobre
o legislado (Druck, 2013).

Para agravar a situação, a Confederação


Nacional da Indústria (CNI) apresentou
ainda no final do ano de 2012, em
Brasília, documento intitulado "101
propostas para modernização trabalhista",
que prevê nova rodada de ataques aos
direitos do trabalho. Os empresários
informam que há 52 milhões de
trabalhadores informais no país, brandindo
o argumento de que há excesso de leis
trabalhistas que aumentam o "custo
Brasil", impedindo-os de formalizar as
contratações e ter competitividade no
mercado mundial. A argumentação dos
empresários é falaciosa, pois o custo da
força de trabalho no Brasil é dos menores
no mundo. De acordo com o Dieese (2009), o
custo da hora-salário nas indústrias
estadunidenses em valores de 2007 era de
24,59 dólares, enquanto no Brasil era de
5,96 dólares.

Entre as propostas, podemos destacar o fim


das férias integrais, podendo ser esta
parcelada ao longo do ano; o fim do turno
de seis horas nas fábricas que funcionam
ininterruptamente; o banco de horas passa
a ser negociado com o sindicato da
categoria hegemônica na empresa; a adoção
de negociações individuais com cargos de
direção e gerência; o fim da hora noturna
de 52,5 minutos; não computação do
deslocamento do trabalhador entre o cartão
de ponto e o posto de trabalho como tempo
de trabalho; o fim da ultratividade das
normas do contrato coletivo enquanto não
se firma novo acordo por meio de
negociações; o fim dos salários mínimos
regionais etc. (CNI, 2012).

Para Druck (2013), "a ideologia


empresarial brasileira, herdeira da
experiência escravocrata no país, fez de
sua resistência e desobediência à
legislação trabalhista um fato que se
reproduz na história do país". A autora
destaca que foi assim antes de 1930, após
a promulgação da CLT, em 1943, e continua
nos dias de hoje marcados pela ascensão do
neoliberalismo.

Neste momento histórico, a ideologia do


"negociado sobre o legislado" passou a ser
predominante e vem se expressando nas
práticas da maioria dos sindicatos e
centrais sindicais, nas instituições do
direito do trabalho e no empresariado
brasileiro, que orientam sua atuação em
defesa da negociação como recurso primeiro
e principal, quando não quase exclusivo,
das disputas entre capital e trabalho.

Além dessa ofensiva da CNI, o Departamento


Intersindical de Assessoria Parlamentar
(Diap) informou que existem cerca de
quarenta projetos de lei em tramitação no
Congresso Nacional com tentativas de
retirada de direitos. No caso daqueles que
trabalham no setor privado, há proposta de
regulamentação da terceirização em bases
precarizantes (PL n. 4.330/2004),
propostas de revisão da CLT (PL n. 1.463),
projeto que impede reclamatória
trabalhista exceto para as parcelas
expressamente ressalvadas na quitação da
rescisão (PL n. 948/2011), entre outros
(Diap, 2013).

Para os trabalhadores, a agenda positiva


inclui desde a regulamentação da Convenção
151 da OIT, em elaboração pelo Poder
Executivo; a redução da jornada para 40
horas, sob exame da Câmara, e o fim da
contribuição dos inativos, além do projeto
de lei que ameniza os efeitos perversos do
fator previdenciário.

O fato de as organizações sindicais e


partidárias de esquerda terem adotado a
linha de menor resistência durante a época
neoliberal significou derrotas
significativas para a alternativa
socialista. Símbolos da classe
trabalhadora, como a CUT e o PT, foram
abalados por serem incapazes de romper com
a dominação do capital sobre o Estado
brasileiro.6

O aprofundamento da crise obriga os


trabalhadores a se organizarem
sindicalmente para defender seus direitos.
Funcionários públicos lutam por melhores
salários e planos de carreira;
trabalhadores da iniciativa privada lutam
por mais direitos, por garantia de
manutenção das cláusulas dos acordos
coletivos e contra a retirada de direitos,
somando um total de 518 greves em 2009 e
446 em 2010 (Dieese, 2012c). Em 2012,
ocorreram 873 greves no Brasil, num
aumento de 58% em relação a 2011, e o
maior número desde o ano de 1997 (Dieese,
2013).7 Uma grande onda de manifestações
populares por direito à moradia, à saúde,
à educação e aos transportes públicos de
qualidade eclodiu em junho de 2013,
demonstrando que as insatisfações dos
trabalhadores não foram silenciadas pelas
negociações de cúpulas realizadas entre as
centrais governistas, governo e
empresários (Maricato, 2013). Empurradas
pelo movimento das ruas, as centrais
sindicais foram obrigadas a convocar um
Dia Nacional de Mobilizações, Paralisações
e Greves em 11 de julho de 2013, em defesa
de uma plataforma de lutas trabalhistas e
sociais: reduzir o preço e melhorar a
qualidade dos transportes públicos; mais
investimentos na saúde e educação pública;
fim do fator previdenciário e aumento das
aposentadorias; redução da jornada de
trabalho; fim dos leilões das reservas de
petróleo; contra o PL n. 4.330 da
terceirização; reforma agrária.

Para Antunes (2014), o crescimento das


greves que vem sendo registrado nos
últimos anos pelo Dieese se relaciona a
três movimentos que caminhavam em paralelo
e se entrecruzaram, produzindo um choque
social e político profundo. Em primeiro
lugar, as lutas globais do trabalho contra
o capital vêm crescendo desde 2008; em
segundo, um novo impulso a partir das
jornadas de junho de 2013 que questionou o
modelo econômico que mantém a degradação
do trabalho e a precarização das políticas
públicas, e, em terceiro, o
descontentamento popular com os gastos
exorbitantes da Copa do Mundo.
Considerações finais

A trajetória dos direitos trabalhistas no


Brasil, a partir de 1964, passou por
momentos de retirada, avanço e recuo. As
primeiras medidas flexibilizadoras
começaram com a ditadura civil-militar,
passaram pelo período de resistência nas
lutas classistas do novo sindicalismo nos
finais dos anos 1970 e durante os 1980,
mas nos anos 1990 e 2000 foram retomadas
na era neoliberal com os presidentes
Fernando Collor de Mello, Fernando
Henrique Cardoso, Luiz Inácio Lula da
Silva e Dilma Rousseff.

A reciclagem do capitalismo dependente no


interior da transição lenta, gradual e
segura gestada pelos ideólogos do regime
ditatorial manteve a superexploração do
trabalho no Brasil que se estende até os
dias de hoje. A ressurgência de greves e
manifestações das classes trabalhadoras na
atualidade é bastante animadora para o
movimento sindical classista que se ancora
na perspectiva da transformação social,
pois as conquistas da economia política do
trabalho possibilitam o processo de
avanços substantivos dos trabalhadores.

Parece-nos que diante da mundialização do


capital está ocorrendo uma mundialização
das lutas sociais, mas muitas
reivindicações são para garantir
conquistas históricas dos trabalhadores
que estão em processos de perdas e
retiradas, ou seja, os direitos sociais
estão em subtração. As conquistas do
trabalho ao longo do século XX que se
configuraram em verdadeiras reformas estão
sofrendo ataques e, na conjuntura das
primeiras décadas do século XXI, os
movimentos sociais estão na defensiva e
lutam para preservar direitos sociais, com
poucas conquistas inéditas.

Movimento indígena elabora plano com suas pautas para


os 100 primeiros dias do governo Lula
A Apib propõe participação no governo, demarcações e a
revogação de atos normativos que atacam direitos
indígenas

Gabriela Moncau
Brasil de Fato | São Paulo (SP) | 10 de Novembro de
2022 às 17:56

Com seis eixos temáticos, o plano traçado pela Apib pretende


orientar a reconstrução da política indígena do governo
federal - Wilson Dias

A partir de um encontro com 60 lideranças, de um


documento elaborado pelo Observatório do Clima e uma
carta entregue a Lula (PT) durante a campanha, a
Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib)
elaborou um plano de governança indígena para os
primeiros 100 dias do governo petista.

A participação de representantes do movimento no


governo, o avanço nas demarcações e a imediata
revogação de atos normativos que atacam os povos
originários são algumas das demandas. Entre as normas
que a Apib defende anular, está um parecer da Advocacia
Geral da União (001/2017) que restringe a demarcação de
terras indígenas com base na tese do marco temporal e
uma instrução normativa da Funai (09/2020) que facilita
a sobreposição de empreendimentos e propriedades
privadas em terras indígenas.

Leia também: Equipe de transição sinaliza criação de


ministério dos Povos Originários; veja os cotados

"Após o fim do processo eleitoral, há uma avaliação


super positiva do movimento indígena. Tivemos em pauta
durante a campanha e agora é essencial que o próximo
governo entenda a importância de ter um diálogo próximo
do movimento", avalia a Kleber Karipuna, coordenador
executivo da Apib.

A Articulação entregou uma carta para Geraldo Alckmin,


vice-presidente eleito e coordenador da comissão de
transição do governo Lula, indicando três lideranças
indígenas para compor a equipe dedicada a essa troca de
comando do Planalto. O conteúdo do documento ainda não
foi tornado público.

Além disso, o Fórum Nacional de Lideranças Indígenas,


realizado na primeira semana de novembro em Brasília,
destacou um grupo de trabalho com 10 integrantes para
acompanhar o processo de transição. O objetivo é que o
grupo subsidie, com propostas do movimento, a
constituição do novo governo.

:: Movimentos negro e indígena defendem demarcação de


terras e luta contra o racismo na COP27 ::

Os eixos prioritários

Com seis eixos temáticos, o plano traçado pela Apib


pretende orientar a reconstrução da política indígena
do governo federal, no intuito de recuperar e
fortalecer direitos atacados durante os quatro anos
Jair Bolsonaro (PL) na presidência.

São eles: direitos territoriais indígenas: demarcação e


proteção; reestabelecimento e criação de instituições e
políticas sociais para os povos originários; criação de
instituições e espaços de participação e controle
social; agenda legislativa: interrupção de iniciativas
anti-indígenas no Congresso e ameaças no Judiciário;
agenda ambiental; e, por último, articulação
internacional.

"Durante os últimos quatro anos vimos a política


indígena e ambiental brasileira ser desmontada.
Queremos a revogação das leis e a paralisação dos PLs
que nos atacam e incentivam a invasão dos territórios
ancestrais", destaca Eunice Kerexu, também coordenadora
da Apib. "Queremos ser ouvidos e consultados, algo que
está previsto na Convenção n. 169 da Organização
Internacional do Trabalho (OIT) e não foi respeitado
por Bolsonaro", completa.
Século XXI
No Século XXI, além de guerras civis regionais, uma
nova forma de guerra está em ascensão: o terrorismo
islâmico.

Soldados americanos na Guerra do Iraque ou Segunda


Guerra do Golfo (2003-2011)

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Tópicos deste artigo

• 1 - Século XXI: a Era do Terror



• 2 - Medidas contra o Terror

• 3 - Efeitos colaterais das medidas contra o Terror

• 4 - Importância da Primavera Árabe

• 5 - A singularidade do Estado Islâmico

• 6 - Outros conflitos

Século XXI: a Era do Terror

Se, para alguns autores, o século XX teve início


efetivo em 1914, em razão da Primeira Guerra Mundial;
para outros, o século XXI começou, de fato, em 11 de
setembro de 2001, com o ataque terrorista às torres
gêmeas do World Trade Center, em Nova Iorque, e ao
prédio do Pentágono (sede do Departamento de Defesa dos
estadunidenses), em Washington (capital dos Estados
Unidos).

Esses ataques foram planejados e executados pela rede


terrorista islâmica, de atuação internacional, Al-
Qaeda, que, à época, era comandada pelo saudita Osama
Bin Laden. Esse acontecimento revelou não apenas uma
nova forma de ataque terrorista, maior e bem
coordenado, como também uma nova concepção de guerra.

Medidas contra o Terror

O fato é que, após os ataques de 11 de setembro, a


primeira medida decididamente bélica dos EUA foi
procurar e atacar os centros de treinamento da Al-
Qaeda. Na época, a Al-Qaeda estava sediada no
Afeganistão e recebia apoio do Talibã, um grupo
fundamentalista islâmico atuante no Paquistão e no
Afeganistão.

A procura por Bin Laden e outros membros da Al-Qaeda


desencadeou a Guerra do Afeganistão, em 2002, cujo
momento mais expressivo foi a Batalha de Tora Bora.
Essas ações de retaliação aos ataques de 11 de setembro
de 2001 configuraram o que o governo do presidente dos
EUA, George W. Bush, chamou de Guerra ao Terror.

Bombardeio em Tora Bora,


onde se esconderam membros do grupo terrorista Al-Qaeda

A “Guerra ao Terror” foi o modelo de guerra que mais


ficou em evidência na primeira década do século XXI.
Isso aconteceu, especialmente, em razão da Guerra do
Iraque (ou como nomeiam alguns autores, “Segunda Guerra
do Golfo”), que teve início em 2003 e só cessou em
2011. A Guerra do Iraque constituiu uma extensão da
política da “Guerra ao Terror” dos Estados Unidos, só
que com ênfase em regimes autoritários islâmicos que
representavam um perigo internacional por conterem
armas de destruição em massa. Era o caso do Iraque, que
possuía armas químicas que haviam sido utilizadas, nos
anos 1980, para dizimar milhares de pessoas da etnia
curda. A questão da posse desse tipo de arma foi a
principal justificativa para a deflagração da guerra em
solo iraquiano.
Efeitos colaterais das medidas contra o Terror

O grande problema enfrentado no território iraquiano


pelas tropas americanas não foi exatamente a
resistência das forças armadas ligadas a Saddan
Hussein, mas as guerras internas entre grupos
jihadistas*, que também estavam interessados na
derrubada de Saddan e no controle do território
iraquiano. Entre esses grupos, estava uma facção da Al-
Qaeda. A administração do governo de Barack Obama,
eleito após o fim do mandato de Bush, decidiu por
retirar as tropas americanas do Iraque e confiar o
controle do país a um governo provisório. A retirada
completa das tropas ocorreu em dezembro de 2011.

Nesse mesmo ano, muitos dos focos de insurreição contra


o governo provisório começaram a ganhar mais força. Nos
anos que se seguiram, o Iraque viu-se imerso em uma
guerra civil generalizada, que dura até os nossos dias.
Um dos grupos jihadistas que mais se aproveitaram dessa
situação foi o Estado Islâmico, do qual falaremos mais
adiante. Antes, precisamos falar um pouco da chamada
“Primavera Árabe”, um acontecimento que mudou a
situação do mundo islâmico e que pode ser o centro de
inúmeras guerras futuras.

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Importância da Primavera Árabe


A “Primavera Árabe” foi uma sucessão de levantes
insurrecionais ocorridos em países do norte da África e
do Oriente Médio nos anos de 2011 e 2012. Quando
ocorreram os primeiros levantes em 2011, muitos
jornalistas e especialistas no mundo islâmico diziam
que a “Primavera Árabe” tinha como objetivo derrubar as
ditaduras dos países em questão e estabelecer um regime
democrático.

Acontece que, com o tempo, foi verificada a presença


maciça da ideologia radical islâmica nos rebeldes, haja
vista que boa parte deles é defensora da implementação
da Sharia, a lei islâmica, e da jihad. Essa ideologia
penetrou nesses grupos de rebeldes por meio da
Irmandade Muçulmana, uma organização fundada na década
de 1920, no Egito, que tem sido uma das maiores
propagadoras das ideias matrizes do terrorismo
islâmico.

Países como Egito, Líbia e Tunísia tiveram a sua


estrutura política, econômica e social completamente
transformada com a Primavera Árabe. O risco de guerras
civis é iminente nesses países, que também podem sofrer
com ações de grupos terroristas, como é o caso da
Síria, um dos alvos da “Primavera Árabe”.

A Síria, comandada pelo ditador Bashar Al-Assad,


enfrenta uma guerra civil desde 2011 contra vários
focos jihadistas que procuram derrubar Assad. Ao
contrário do caso iraquiano, citado acima, a Síria não
sofreu interferência direta dos EUA, mas alguns dos
grupos de rebeldes atuantes em seu território receberam
armas, treinamento e dinheiro americano. O problema é
que muitos desses rebeldes são mercenários e lutam para
quem oferecer maior quantia. Um dos grupos terroristas
mais poderosos da atualidade, o Estado Islâmico, é quem
mais se beneficia disso.

O ditador da
Síria, Bashar Al-Assad, procura preservar-se no comando do
país **

A singularidade do Estado Islâmico

O Estado Islâmico originou-se de uma ruptura entre o


grupo que representava a Al-Qaeda no Iraque e o próprio
comando central da Al-Qaeda. Esse grupo iraquiano
decidiu atuar também na Síria por volta de 2011. Na
Síria, já havia outro grupo patrocinado pela Al-Qaeda,
o Al-Nusra, o que levou a um choque entre os dois
projetos. O líder do grupo iraquiano, Abu Bakr Al-
Bahgdadi, elevou a condição do grupo jihadista à
categoria de Estado, chamando-o de Estado Islâmico do
Iraque e na Síria (ou Levante, como também é conhecido
o território sírio onde eles atuam), cuja sigla em
inglês é ISIS. Três anos depois, em agosto de 2014,
esse mesmo líder autodeclarou-se califa do Estado
Islâmico. A partir daí o nome do grupo ficou conhecido
apenas como Estado Islâmico. Muitos oficiais do
exército iraquiano, antes leais a Saddam, passaram a se
aliar ao califa Abu Bagdhadi, como salienta o
investigador Patrick Cockburn:

“Abu Bakr al-Baghdadi começou a surgir das


sombras no verão de 2010, quando se tornou
o líder da Al-Qaeda no Iraque, depois que
seus antecessores foram mortos num ataque
conduzido por tropas desse país e dos
Estados Unidos. A Al-Qaeda no Iraque
andava mal das pernas, já que a rebelião
sunita, em que havia antes desempenhado um
papel de liderança, estava sucumbindo. Foi
reavivado pela revolta dos Sunitas na
Síria, em 2011, e, nos três anos
seguintes, por uma série de campanhas
cuidadosamente planejadas, tanto nesse
país quanto no Iraque. Não se sabe até que
ponto al-Baghgdadi foi diretamente
responsável pela estratégia militar e
táticas da Al-Qaeda no Iraque e,
posteriormente, do ISIS. Ex-funcionários
graduados do exército e inteligência
iraquianos, à época de Saddan Hussein,
desempenharam um papel central, mas estão
sob a liderança geral de al-Bahgadadi.”
[1]

Além de ser um grupo abertamente terrorista (o caso


mais emblemático de terrorismo assumido pelo Estado
Islâmico foi o dos atentados de 13 de novembro, em
Paris) e jihadista, o Estado Islâmico tem uma proposta
de, efetivamente, construir um Estado, isto é, uma
nação islâmica jihadista com base na sharia***. Esse
Estado não se limitaria à região do Iraque e da Síria,
mas teria o objetivo de conquistar todo o território
que, entre a Idade Média e a Idade Moderna, pertenceu à
civilização islâmica.

O grande risco que o Estado islâmico e sua nova forma


de guerra, que não é apenas convencional e terrorista,
mas também cultural e religiosa, representam para o
século XXI é o fascínio que provocam em jovens do mundo
inteiro, que se voluntariam para lutar nas guerras do
“califado” e para fazer atentados terroristas em
quaisquer partes do mundo. Outro perigo, maior,
inclusive, é o de, se alcançado o objetivo da fundação
de um Estado (com sistema de saúde, educação etc.), o
Estado Islâmico passar a ser reconhecido como tal. É o
que argumenta a especialista Loretta Napoleoni:

“Independentemente da forma pela qual os


enfrentarmos, o nascimento do Califado
serve para nos advertir que aquilo que os
políticos confundiram com uma nova espécie
de terrorismo pode ser, na verdade, um
novo modelo de terrorismo. Em outras
palavras, o Estado Islâmico pode romper
com a tradição e resolver o dilema do
terrorismo sendo bem-sucedido na criação
de uma nação, conquistando para membros de
uma organização armada o status de
inimigos e, para as populações civis, o
status de cidadão. Mesmo sem
reconhecimento diplomático, a simples
existência do Califado levaria a
comunidade internacional a encarar o
terrorismo com outro olhar.” [2]

Outros conflitos

Além desses conflitos no Oriente Médio e dos riscos que


representa o Estado Islâmico, o século XXI também tem
apresentado outros focos de tensão. Na região
subsaariana do continente africano, há a guerra civil
no Quênia e na Nigéria, onde também há a atuação de um
grupo terrorista, o Boko Haram. Na região do Cáucaso,
houve uma insurgência da Chechênia contra a Rússia, que
só foi devidamente controlada em 2006. Houve também uma
tensão entre Rússia e Ucrânia, em razão da região
estratégica da Crimeia, no início do ano de 2014. Aos
poucos, muitas transformações geopolíticas vão se
acentuando nessas regiões do mundo, sobretudo na
África, Oriente Médio e Leste Europeu. Os focos de
guerras atuais estão dispostos nessas regiões.

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