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Instituto Superior Mutasa

Licenciatura em Ensino de Historia e Geografia


Módulo de História Geral de África

Turma I – Semestre I – Ano 2023

Tema: A Escravatura em África: Origens e Consequências

Objetivos de Aprendizagem nesta aula:

 Explicar as origens da escravidão na África e como ela se desenvolveu ao longo do tempo;

 Analisar as diferentes formas de escravidão na África e as condições de vida dos escravos;

 Apresentar as consequências da escravidão na África para a sociedade, economia e cultura


africanas.

1. Noção de escravatura/escravidão

A escravatura/escravidão é um sistema social e econômico que se baseia na posse e controle de seres


humanos por outros seres humanos. Historicamente, a escravidão foi praticada em muitas sociedades em
todo o mundo, em diferentes formas e graus de intensidade.

No sistema de escravidão, as pessoas são consideradas propriedade de outras pessoas e são forçadas a
trabalhar sem remuneração ou com remuneração insuficiente, muitas vezes em condições desumanas. A
escravidão pode ser praticada em diferentes contextos, como a escravidão doméstica, a escravidão por
dívida, a escravidão por guerra e a escravidão de pessoas capturadas em expedições ou comércio de
escravos.

Docente: Tomás Bonda/04.2023


A escravidão é considerada uma das maiores violações dos direitos humanos, pois viola o direito
fundamental das pessoas à liberdade e à dignidade humana. Muitas sociedades aboliram oficialmente a
escravidão, mas em muitos lugares do mundo ainda existem práticas semelhantes à escravidão, como
trabalho forçado e tráfico humano.

Aprenda o que alguns autores entendem sobre a escravatura:

 Aristóteles - Filósofo grego que escreveu sobre a escravidão em sua obra "Política". Ele defendia
que a escravidão era uma instituição natural, em que algumas pessoas nasceram para serem
escravas e outras para serem senhores.

 Friedrich Engels - Filósofo e teórico político alemão, que escreveu sobre a escravidão em sua
obra "A Origem da Família, da Propriedade Privada e do Estado". Ele argumentou que a
escravidão era um produto da evolução social, em que a classe dominante controlava a produção
e os meios de subsistência da classe subordinada.
 Karl Marx - Filósofo alemão, que escreveu sobre a escravidão em sua obra "O Capital". Ele
argumentou que a escravidão era uma forma extrema de exploração capitalista, em que os
trabalhadores eram tratados como mercadorias.

 Orlando Patterson - Sociólogo jamaicano-americano, que escreveu sobre a escravidão em sua


obra "Escravidão e Socialização na África". Ele argumentou que a escravidão era um sistema
social de dominação que incluía não apenas a opressão econômica, mas também a opressão social
e cultural.
 David Brion Davis - Historiador americano, que escreveu sobre a escravidão em suas obras "The
Problem of Slavery in Western Culture" e "Inhuman Bondage: The Rise and Fall of Slavery in the
New World". Ele argumentou que a escravidão era um sistema social que não só afetou os
escravos, mas também moldou a cultura e a identidade das sociedades escravistas.

2. Origens da Escravatura em Africa

A escravidão tem uma longa história na África, e suas origens remontam a períodos anteriores ao início
do comércio transatlântico de escravos. A seguir, apresentarei algumas informações sobre as origens da
escravidão na África e seu desenvolvimento ao longo do tempo, citando alguns autores renomados.

 Origens da escravidão na África: A escravidão na África pré-colonial era diferente daquela que
ocorreu na América e na Europa. Geralmente, a escravidão era resultado de guerras entre tribos
ou clãs, onde os capturados eram escravizados. No entanto, o número de escravos era

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relativamente pequeno, e a escravidão era considerada apenas uma das possíveis formas de
punição. Segundo Basil Davidson, em seu livro "African Civilization Revisited", a escravidão na
África pré-colonial era geralmente uma forma de punição por crimes cometidos, como adultério,
roubo ou traição.

 Comércio transatlântico de escravos: Com o comércio transatlântico de escravos, iniciado no


século XVI, a escravidão se intensificou na África. Os europeus compravam escravos de reinos
africanos que faziam incursões em outras regiões para capturar pessoas e vendê-las aos europeus.
Segundo Walter Rodney, em seu livro "How Europe Underdeveloped Africa", o comércio
transatlântico de escravos teve um impacto significativo na África, pois resultou em um
esvaziamento da população em muitas regiões, além de ter contribuído para a desestruturação das
sociedades africanas.

 Escravidão no período colonial: Durante o período colonial, a escravidão foi abolida em muitos
países africanos pelos colonizadores europeus, mas ainda era praticada em algumas regiões.
Segundo Martin Klein, em seu livro "Slavery and Colonial Rule in French West Africa", a
escravidão foi abolida na África francesa em 1848, mas a abolição não foi bem-sucedida em
todos os lugares e a escravidão continuou sendo praticada em algumas áreas.

 Abolição da escravidão: A escravidão foi abolida oficialmente em todo o continente africano


durante o século XX, após um longo período de lutas pela independência e pelos direitos
humanos. No entanto, muitas formas de trabalho forçado e tráfico humano ainda existem em
algumas partes da África. Segundo Kevin Bales, em seu livro "Disposable People: New Slavery
in the Global Economy", a escravidão moderna ainda é uma realidade em muitas partes do
mundo, incluindo a África.

Em resumo, a escravidão na África teve origens antigas, relacionadas a guerras entre tribos ou clãs. Com
o comércio transatlântico de escravos, a escravidão se intensificou e teve um impacto significativo na
África. Durante o período colonial, a escravidão foi abolida em muitos países africanos pelos
colonizadores europeus, mas ainda era praticada em algumas regiões.

3. Características da escravatura Africana

 Práticas pré-coloniais de escravidão: Em muitas sociedades africanas, a escravidão já existia


antes da chegada dos europeus. Ela era praticada como uma forma de punição criminal, como
uma forma de pagamento de dívidas ou como uma forma de integração de prisioneiros de guerra
na sociedade.

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 Demanda por escravos no comércio transatlântico: Com a expansão do comércio
transatlântico de escravos, a demanda por escravos africanos aumentou. As potências europeias
estabeleceram fortalezas na costa africana para capturar e transportar os escravos para as
Américas. Isso criou um incentivo econômico para as sociedades africanas capturarem e
venderem escravos.

 Expansão do comércio transaariano: O comércio transaariano, que conectava as regiões do


Saara e do Mediterrâneo com o oeste e o centro da África, estimulou a demanda por escravos.
Escravos africanos eram vendidos para serem usados como trabalhadores, soldados e servos em
outras partes do mundo.

 Conflitos e guerras entre sociedades africanas: Conflitos e guerras entre sociedades africanas
levavam à captura e escravização de indivíduos. Algumas sociedades africanas também usavam a
escravidão como uma forma de punição para membros de grupos rivais.

 Fatores culturais e religiosos: Em algumas sociedades africanas, a escravidão era vista como
uma forma legítima de integração de estrangeiros na sociedade. Algumas religiões africanas
também permitiam a escravidão.

3. As diferentes formas de escravidão na África e as condições de vida dos escravos

A escravidão na África assumiu diversas formas ao longo do tempo, variando de acordo com as práticas
sociais, culturais e econômicas de cada região. Algumas das principais formas de escravidão incluem:

Escravidão doméstica: Essa forma de escravidão envolvia a escravização de indivíduos para


trabalhar em casas de famílias ricas ou nobres. Os escravos domésticos geralmente eram
responsáveis por atividades como limpeza, cozinha, cuidados pessoais e educação dos filhos dos
seus senhores. Segundo o historiador Paul E. Lovejoy, a escravidão doméstica foi uma das formas
mais difundidas de escravidão na África pré-colonial.

Escravidão por dívida: Essa forma de escravidão envolvia a escravização de indivíduos que não
conseguiam pagar dívidas ou multas. Segundo o antropólogo Richard L. Roberts, a escravidão
por dívida era uma forma de coerção legalmente aceita em muitas sociedades africanas.

Escravidão de guerra: Essa forma de escravidão envolvia a captura e escravização de


prisioneiros de guerra. Segundo o historiador John K. Thornton, a escravidão de guerra era uma
forma comum de aquisição de escravos na África pré-colonial.

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Escravidão por hereditariedade: Essa forma de escravidão envolvia a escravização de
indivíduos que eram filhos ou netos de escravos. Segundo a historiadora Suzanne Miers, a
escravidão por hereditariedade era uma forma comum de escravidão em muitas sociedades
africanas.

As condições de vida dos escravos africanos variavam de acordo com a forma de escravidão e a região em
que viviam. Em geral, os escravos enfrentavam condições precárias de vida e trabalho, com pouco acesso
a recursos básicos como alimentação, abrigo e cuidados médicos. Muitos eram sujeitos a abusos físicos e
psicológicos por parte de seus senhores. Alguns autores que tratam das condições de vida dos escravos
africanos incluem John K. Thornton, Suzanne Miers e Paul E. Lovejoy.

A obtenção de escravos na África ocorreu de várias formas ao longo da história, sendo as principais:

1. Comércio interno de escravos: a escravidão já era uma prática existente em muitas sociedades
africanas antes do contato com europeus e árabes. Neste comércio interno, os escravos eram
obtidos por meio de guerras entre tribos, dívidas, crimes ou capturas em territórios inimigos.

2. Comércio transatlântico de escravos: com a chegada dos europeus, a demanda por escravos
africanos cresceu exponencialmente. O comércio de escravos transatlântico era uma rede
complexa que envolvia a captura de africanos pelos traficantes, a sua venda em grandes centros
comerciais como Luanda e Salvador, o seu transporte em navios negreiros e a sua venda nas
colônias americanas.

3. Trocas de escravos por bens materiais: em muitas sociedades africanas, o comércio de escravos
era utilizado como forma de obtenção de bens materiais, como tecidos, armas e pólvora, que eram
utilizados para fortalecer a posição das elites locais.

4. Comércio de escravos por dívida: em algumas sociedades africanas, a escravidão era uma
forma de quitação de dívidas e multas.

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Essas formas de obtenção de escravos na África variavam de acordo com a região, o tempo e as práticas
sociais e culturais locais. Alguns autores que tratam das formas de obtenção de escravos na África são
John K. Thornton, Paul E. Lovejoy e Richard L. Roberts.

1. Fragmentação e desorganização das sociedades africanas: a captura e venda de escravos gerou


instabilidade e desorganização em muitas sociedades africanas, levando à fragmentação de
comunidades inteiras e à perda de habilidades e conhecimentos que eram passados de geração em
geração.

2. Perda de mão de obra e diminuição da produtividade: o comércio de escravos causou uma perda
significativa de mão-de-obra em muitas áreas da África, o que prejudicou a produtividade e o
desenvolvimento econômico do continente.

3. Desenvolvimento de sistemas políticos e econômicos baseados na escravidão: em algumas


regiões, a escravidão tornou-se uma parte central do sistema político e econômico, o que levou a
uma maior desigualdade e exploração.

4. Mudanças culturais e perda de patrimônio: a escravidão também teve um impacto significativo na


cultura africana, com muitas tradições e práticas sendo perdidas ou modificadas devido à captura
e venda de escravos.

Alguns autores que abordam as consequências da escravidão na África incluem Walter Rodney, em seu
livro "How Europe Underdeveloped Africa" (1972), que analisa o impacto da escravidão na economia e
desenvolvimento do continente; Joseph E. Inikori, em seu livro "Africans and the Industrial Revolution in
England" (2002), que explora as consequências da escravidão para a economia global; e Catherine
Coquery-Vidrovitch, em "Africa and the Africans in the Nineteenth Century: A Turbulent History"
(1997), que analisa o impacto da escravidão na sociedade e cultura africanas.

4. Lições importantes a extrair do tema sobre escravatura Africana

A escravidão africana é um tema complexo que oferece várias lições importantes para a compreensão da
história e das relações sociais e econômicas globais. Algumas das principais lições a serem aprendidas
com a escravidão africana incluem:

 Reconhecer a centralidade da escravidão na história da África e do mundo: a escravidão


africana foi um dos capítulos mais significativos da história do continente e teve impactos

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duradouros na economia, política e cultura globais. É importante reconhecer essa centralidade e
estudar a escravidão de forma aprofundada e crítica.

 Combater o racismo e a desigualdade: a escravidão africana é uma das raízes históricas do


racismo e da desigualdade que ainda existem hoje em dia. É necessário combater essas estruturas
e trabalhar em direção à justiça social e à igualdade.

 Refletir sobre a responsabilidade histórica: a escravidão africana envolveu várias partes,


incluindo comerciantes africanos, europeus e árabes, bem como elites locais. É importante refletir
sobre as responsabilidades históricas de cada uma dessas partes e como isso pode afetar as
relações contemporâneas.

 Valorizar a diversidade cultural: a escravidão africana envolveu uma ampla gama de


sociedades e culturas, cada uma com sua própria história e tradições. É importante valorizar e
preservar essa diversidade cultural.

Alguns autores que abordam essas lições incluem Robin Blackburn, em seu livro "The Making of New
World Slavery: From the Baroque to the Modern, 1492-1800" (1997), que analisa a escravidão como uma
força global; Eduardo Galeano, em "As Veias Abertas da América Latina" (1971), que explora as
consequências históricas da escravidão e do colonialismo na América Latina; e Chinua Achebe, em "Um
Homem de Povo" (1966), que examina as complexidades da sociedade africana pré-colonial e como a
escravidão afetou essas estruturas sociais.

Exercício de aplicação

Elabore uma síntese de no máximo duas páginas sobre a escravatura africana e anexe na plataforma ate na
próxima 6ª feira, data 21.04.2023.

Docente: Tomás Bonda/04.2023

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