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Capitulo IV: A Colonização do Continente Africano

4.1. Objectivos da Unidade

Neste capítulo pretende-se que o estudante compreenda a administração colonial em África e os


seus respectivos impactos.

4.2. Objectivos Específicos:

Diferenciar "zonas de influência" e "ocupação efectiva"

Caracterizar as diferentes formas de administração colonial em África

Avaliar as diferentes perspectivas teóricas sobre o impacto da colonização em África

4.3. Colonialismo em África

A colonização da África começou alguns séculos antes da Conferencia de Berlim ser proposta.
Ela foi motivada pela busca pelo controle de postos de matéria-prima e novos produtos,
desconhecidos, ou não produzidos na Europa.

A primeira etapa da colonização começa timidamente, com a conquista da cidade de Ceuta no


litoral africano em 1415 pelo povo lusitano que, no início do século XV, era o mais desenvolvido
em termos de tecnologia marítima.

A outra etapa começa em 1430. Houve diversas expedições com destino no continente africano.
Elas tiveram como meta, a busca de novos produtos a serem comercializados na Europa, e assim
de lucro. Isso foi feito, no começo, por Portugal e Espanha, que também tinha um grande poderio
marinho na época, e depois por diversos outros países.
Os primeiros começaram a montar pequenas feitorias (moradias provisórias no litoral, onde os
colonizadores viviam e realizavam escambo com os nativos) e a comercializar com as tribos
mais próximas.

As tribos africanas recebiam peças sem valor dos europeus, em geral tecidos, todos de seda com
cores vivas. Já os representantes da Europa conseguiam escravos negros. Assim começa o tráfico
negreiro, que permaneceu por mais de 300 anos e gerou lucros absurdos para diversas nações
europeias1.

No século XVI, a África era um centro desse tráfico, hoje proibido em muitas localidades. Em
1530, são retirados mais de quatro mil escravos afro-descendentes. Até 1800, aproximadamente,
é a actividade mais lucrativa a ser feita no continente africano.

Assim, a África se tornou um local perfeito para as potências europeias conseguirem matéria-
prima barata e um novo mercado consumidor para seus produtos. Depois de explorar as tribos
africanas do litoral os colonizadores avançaram cada vez mais para o interior e foram
descobrindo cada vez mais produtos, e assim maiores possibilidades de lucro. Isso não foi feito
por uma só nação, mas por diversos países que tinham os mesmos objectivos de lucrar. Essas
expedições foram feitas, principalmente, por ingleses e franceses 2.

Isso estimulou outras expedições para o centro da África, como a do escocês Mungo Park, que
passou mais de um ano longe de sua terra natal pesquisando a bacia do rio Niger.

Outras expedições ao vasto continente africano foram feitas pelo português Serpa Pinto. Elas
ocorreram entre Novembro de 1877 e Março de 1879, e ajudaram no mapeamento de muitas
regiões, antes desconhecidas, entre Angola e Moçambique.

No fim do século XIX, o continente africano se encontra recortado e dividido por diversas
nações diferentes de modo aleatório. Esse é mais um motivo para que a Conferência de Berlim
ocorra e refaça a divisão de África de modo mais organizado, criando fronteiras bem delineadas
entre as principais potências coloniais da altura.

1
KI-ZERBO,2009
2
IDEM
4.4. Os Sistemas de Administração Colonial em África

4.5. Administração Colonial Francesa

A França possuía em África um sistema de administração directa como forma de tirar maior
proveito possível das suas colónias.

Os territórios franceses em África localizavam-se:

1.Na África Ocidental, constituído essencialmente por Senegal, Alto Volta (Actual Burquina
Fasso), Maurutania, Costa do Marfim, Niger, Guine Conacry e Daomé.

2.Na África Equatorial, constituído por Congo, Gabão, Ubangui-Chari e Chade.

4.6. Sistema de Administração da França

O sistema de administração que a França adoptou para gerir as suas colónias estava ordenado em
forma de pirâmide, constituído por:

1.Ministro das colónias no topo que prestava contas a Assembleia Nacional Francesa

2.Subditos formado maioritariamente por indígenas.

Em cada uma das federações existia um Governador-geral que representava o ministro. O


Governador-geral era o chefe dos serviços administrativos centrais da federação. Era o
governador que preparava o orçamento da Federação. Um conselho consultivo constituído por
Secretário-geral da colónia, general chefe das forças armadas e o procurador-geral.

Por seu lado em cada território existia um governador, com o seu conselho consultivo. Era ele
que administrava o território através de uma rede de comandantes de círculos, secundados por
chefes de subdivisões. Este conjunto de estruturas era formado por funcionários franceses. As
unidades mais pequenas, os cantões e aldeias, eram administradas por africanos escolhidos
segundo a sua lealdade as autoridades coloniais.

Neste sistema de administração o comandante do círculo era a forca motriz do sistema. Cabia a
ele administrar directamente a comunidade africana por métodos não raras vezes violentos,
coadjuvado por funcionários africanos, este era o intermediários entre africanos e os funcionários
coloniais.

4.7. Sociedade Africanas

Esta era constituída por indígenas e os considerados de cidadãos. Os primeiros eram a maioria da
população sem direitos nem privilégios dentro do sistema. Com o sistema de educação e saúde
separado.

Os que eram considerados de cidadãos, eram assimilados, tinham os mesmos direitos políticos
que um francês na França. Tinha um representante na Assembleia Nacional em Franca. Dentre os
vários requisitos para ser considerado de cidadão era saber ler e escrever.

4.8. Sistema de Educação

Ao nível do sistema educativo também existia discriminação para os assimilados e indígenas. O


sistema de educação nas colónias francesas era responsável pela formação de uma elite
escolarizada, africana, que se ocupou de serviços administrativos, desempenhando fusões
diversificadas como professores e enfermeiros. Mais tarde foi esse grupo de elite que mais tarde
veio a colocar em causa o próprio sistema colonial.

4.9. Ao Nível Económico

A franca primava pelo esforço de tirar maior proveito das suas colónias em benefício da
metrópole. Para efeito as colónias francesas deviam ser auto-suficientes financeiramente. Nas
colónias francesas adoptou também o sistema de companhia como o caso de Portugal. Eram três
as companhias que dominavam o comercio nestas colónias, nomeadamente

Compagnie Francaise de L'Afrique Ocidentale.

Societe Francaise de L'ouest Africaine e

Unilevel
4.10. Privilegio das Companhias

As companhias eram privilegiadas no acesso ao crédito bancário. As companhias também


beneficiavam de diversas isenções aduaneiras na sua actuação.

O sistema francês exercia uma grande pressão nos camponeses para o pagamento do imposto.
Esta era uma maneira encontrada com vista a por os camponeses ao serviço das companhias,
apesar das várias resistências por estes oferecidos.

Por outro lado estas mesmas companhias tinham acesso as melhores terras que estes países
africanos possuíam.

4.11. Associações Sindicais

De uma maneira global o movimento sindical em África teve um inicio tardio. Este facto era
devido ao atraso económico e as politicas adoptadas pelos colonizadores, o que impedia a
industrialização.

Nas colónias francesa os sindicatos emergiram na década de 50 do século XX. Estes sindicatos
eram caracterizados essencialmente por estarem ao serviço do patronato. Tinham fraco poder
económico, grande parte dos seus membros eram poucos escolarizados o que em parte
fragilizava o seu funcionamento em pleno, o que os diferencia em grande modo os sindicatos das
colónias inglesas3.

Apesar de tudo os sindicatos lutavam pela melhoria das condições de vida da classe trabalhadora.
Estes sindicatos em algum instante punham em causa o sistema colonial, que era afinal de contas
a razão principal das mas condições dos trabalhadores naquela época.

4.12. Sistema de Administração Colonial Britânica em África

3
FERNANDES, 2005
Vários foram os Estados africanos colonizados pelos ingleses em Africa. São eles: África do Sul,
Egito, Sudão, Gana, Nigéria, Somália, Serra Leoa, Tanzânia, Uganda, Quênia, Malawi, Zâmbia,
Gâmbia, Lesoto, Maurícia, Suazilândia, Seicheles e Zimbábue.

A colonização britânica em África teve duas características distintas:

Descentralização Administrativa

Autonomia Financeira das colónias

Em cada colónia havia um governo responsável perante o secretário das colónias e que dirigia os
pais por intermédio de chefes distritais.

Após a conferência de Berlim na época da ocupação efectiva os britânicos destruíram por


completos as unidades políticas africanas preexistentes, no entanto aqueles líderes africanos que
eram reconhecidos pelo sistema e que com este colaboravam continuavam a exercer a sua
autoridade.

A cobrança de imposto era uma importante fonte de renda para o sistema colonial britânico, uma
forte medida com vista a compelir os africanos ao trabalho.

Questões ligadas administração local aos sectores da saúde, educação, agricultura transporte e
defesa estavam a cargo da Inglaterra, e a isto chamou-se "indirect rule" administração indirecta.

Nas colónias inglesas foi criado os Conselhos Executivos com função de coadjuvar o governador
e o Conselho Legislativos com função de legislar sobre as colónias, mas não era um parlamento.

O sistema de administração indirecta beneficiava a aristocracia não as populações.


Contrariamente o que aconteceu nas colónias francesas, nas colónias britânicas não houve
divisão entre a sociedade entre indígenas e cidadãos.

4.13. Sistema Educacional

O sistema de ensino vigente nas colónias britânicas era idêntico ao que era vigente na metrópole.
Os conteúdos abordados estavam de acordo com a realidade africana e com vista a não criarem
revolta contra o sistema colonial. Em termos educacionais, os britânicos contrariamente dos
portugueses e franceses preservaram a identidade e a cultura dos nativos, através do ensino em
língua materna entre outras práticas locais. 4

Há que destacar o forte apoio dos missionários neste processo. Estes fundaram na costa ocidental
de África em 1827 a primeira instituição universitária em Freetown e um século depois o colégio
de Achimoto. Na África oriental fundaram a Universidade de Makerere, no Uganda. Estas
instituições formaram vários quadros africanos que desempenharam papéis cruciais no processo
de independência dos países africanos. Destaque vai para Kwame Nkrumah no Gana, Julius
Nyerere em Tanzania, Jomo Kenyata no Quénia entre outros líderes africanos.

4.14. Ao Nível Económico

A essência da politica adoptada pelos Britânicos face as colónias em África assentava em três
pilares principais, a destacar:

As colónias deviam fornecer matérias-primas a metrópole a preços baixos

A metrópole devia exportar produtos manufacturados as colónias

As colónias deviam ser auto-suficientes financeiramente através dos impostos para pagar
despesas e realizar investimentos.

Em termos de tipo de colónias dos britânicos em África, temos a destacar dois tipos, colónias de
povoamento e colónias de exploração.

As colónias de povoamento eram aquelas que possuíam terras férteis e um bom clima para a
prática da agricultura, para o efeito muitos colonos da metrópole se dirigiram em massa para
aqueles territórios. Fazem parte do grupo desse tipo de colónias o Zimbabwe e Quénia. Por causa
deste cenário muitos africanos perderam suas terras a favor destes colonos.

4
KI-ZERBO, 2002
4.14. Administração Colonial Belga

A Bélgica colonizou em África a zona central nomeadamente o Ruanda, Burundi e a Republica


Democrática do Congo (Congo-Kinshasa). Na conferência de Berlim as potências coloniais
reconheceram o direito do rei Leopoldo II, sobre o Estado Independente do Congo.

O Ruanda e Burundi pequenos países de reduzida extensão geográfica tinham sido ex-colónias
alemãs que a Bélgica recebeu no contexto dos mandatos, depois da derrota alemã na primeira
Guerra Mundial.

Em termos gerais a administração colonial belga em África tem como exemplo a Republica
Democrática do Congo. Aqui o rei com apoio dos ministros da colónia efectuava a legislação
assistido por um conselho legislativo.

Ao nível da colónia havia um Governador-geral que dirigia através de decretos e diplomas.


Havia também uma comissão de Protecção dos Indígenas em que o presidente era o Procurador-
geral.

O pais era dividido em províncias em que a frente de cada uma delas estava um comissário e, por
sua vez estas eram divididas em distritos também dirigidos por comissários. Logo abaixo do
distrito estava o território tutelado por um administrador. O quadro administrativo estava
preenchido por funcionários belgas coadjuvado por africanos. No que tange a justiça, tinha em
conta o direito consuetudinário ou dos costumes locais.

4.15. Ao Nível Económico

Com vista a materializar os seus intentos de explorar de forma mais brutal os recursos do Congo
o rei Leopoldo II criou a Compagnie du Congo pour le Commerce et Industrie com vista a
financiar projectos de desenvolvimento e exploracao económica. Assim foi construída a linha
férrea que vai de Leopoldoville a Matadi, com base no trabalho forcado com vista a permitir o
rápido escoamento do marfim e da borracha.

As companhias que se encontravam dentro do território do Congo o seu maior accionista era
Leopoldo II incluindo o seu solo, produtos e recrutamento forcado de mão-de-obra.
As comunidades deviam apanhar borracha, marfim e produção agrícola para o Estado a preços
irrisórios. Os camponeses tinham uma quota obrigatória para entregar as companhias e este facto
impunha a fuga dos camponeses. Os salários das companhias onde os camponeses trabalhavam
eram bem magros e dava uma grande vantagem ao rei Leopoldo.

Numa fase posterior as companhias passaram a dedicar-se a exploração de cobre, diamante e


ouro incluindo expropriação de terras.

4.16. Sistema de Educação

O sistema de educação para os nativos estava nas mãos das missões católicas. O ensino
missionário era bastante elementar no que toca aos conteúdos abordados na sua maioria em
línguas locais, o que também contribuía para a sua valorização. O ensino oficial destinava-se aos
europeus. A segregação no ensino era proibida, por isso os africanos podiam frequentar em
escolas oficiais. Tal como nas colónias britânicas, a não discriminação assistida na educação
contribuiu muito para iluminar alguns africanos e posteriormente exigir a sua liberdade.

4.17. Impacto do Colonialismo em África

O impacto da colonização em África e um dos temas mais controversos na Historia da África


Contemporânea. Este tema divide opiniões de vários estudiosos. Há um grupo que defende que a
presença colonial em África trouxe benefícios e outros defendem que os colonizadores com a sua
presença em África pouco contribuíram para o desenvolvimento do continente. 5

Face a estes argumentos e legítimo afirmar que o colonialismo teve repercussões negativas e
positivas. O que e certo e que a instalação de infra-estruturas e edificação de cidades tinha
interesses de defender as necessidades coloniais porque na verdade não existiam planos
concretos para o desenvolvimento de África por parte do colonizador.

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KI-ZERBO,2002
4.18. Impactos Sociais

Aspectos Positivos

Em termos sociais assistiu-se aumento demográfico devido a relativa distribuição de alimentos e


assistência médica. Houve muitas migrações de camponeses para os centros urbanos por causa
da cobrança de impostos no campo.

Assistiu-se por outro lado o aparecimento de uma minoria africana elitizada e alfabetizada graça
ao ensino das missões. Foi esta minoria que posteriormente esteve a frente do processo de
exigência do fim do sistema colonial.

Aspectos Negativos

Difusão do cristianismo, islamismo e da educação ocidental. Este facto destrui por completo a
identidade africana. Antes dos contactos dos africanos com os brancos os seus deuses eram os
seus antepassados e "professavam" religiões eminentemente africanas. Introdução das línguas
metropolitanas em sociedades africanas. Discriminação dos africanos pelos europeus. Os
africanos ficaram privados das melhores terras e ocupando uma posição subalterna.

4.19. Impactos Económicos

Aspectos Positivos

Construcao de algumas infra-estruturas como estradas, linhas férreas, instalações telegráficas,


telefones, aeroportos e portos que são usados ainda hoje. E uma realidade que estas infra-
estruturas tinham em vista a satisfação dos interesses dos colonizadores e escoar riquezas
africanas a favor da Europa. Instituição de uma economia de consumo em África.

Aspectos Negativos

Pilhagem dos recursos económicos e humanos de África a favor da metrópole. Este facto
contribuiu em grande medida para o retardamento de África no conserto de outras nações do
mundo.
4.20. Impactos Políticos

Aspectos Positivos

A autoridade dos líderes africanos foi totalmente desmantelada consequentemente a perda da sua
soberania e independência.

Estabelecimento de fronteiras arbitrarias que dividiram povos com culturas similares e juntaram
povos com identidades adversas. Importa referir que este facto constitui principal foco de
conflitos entre muitos países africanos.

Aspectos Negativos

Surgimento de sentimento de cólera, frustração e de humilhação entre os africanos por causa das
praticas opressivas. Assistiu-se igualmente o aparecimento de vários problemas resultante do
carácter artificial das novas fronteiras africanas.

Assistiu-se igualmente a perda de soberania dos africanos, os africanos deixaram de se disporem


de si mesmo e de decidirem sobre o seu destino.
4.21. Exercícios de Consolidação - IV

1.Defina os seguintes conceitos:

Protectorado, Colónia de povoamento, colónia de exploração e administração indirecta

2.Diferencie a administração colonial francesa da britânica em África no que tange a:

a) Exploração de recursos económicos

b) Sistema de educação

c) Preservação de aspectos culturais dos africanos

3.Existe uma grande controvérsia sobre os impactos da colonização em África. Algumas


correntes advogam que a colonização em nada beneficiou a África e outros defendem o
contrário, sustentando que a colonização teve impactos positivos em África. Faca uma
apreciação critica sobre o impacto da colonização. Entre estes dois posicionamentos qual seria a
sua opinião? Apresente os seus argumentos.

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