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1.

AULA 28 – FORMAS DE EXPLORAÇÃO ECONÓMICA E CONSEQUÊNCIAS


DA OCUPAÇÃO EFECTIVA

1.1. Formas de exploração económica: o papel das companhias monopolistas

Depois de ser instalada a administração colonial em África passou-se para a


fase seguinte: o aproveitamento dos espaços, a exploração da riqueza, e a utilização
da mão-de-obra africana nos projectos coloniais.
A fase mais avançada do capitalismo fez-se sentir em África pelo domínio de
poderosos grupos económicos que dirigiam as companhias monopolistas, que
detinham o monopólio de certos produtos, tinham muito dinheiro, e pretendiam investir
para aumentar os seus lucros.
Os governos europeus usaram as companhias monopolistas para explorar as
suas colónias. Por esse sistema, as companhias privadas eram concedidas partes de
territórios africanos para explorarem os seus próprios recursos em nome das potências
colonizadoras.
Desse modo, as companhias contribuíram para a estabilização do sistema
colonial porque asseguraram a pacificação nos seus domínios e ao mesmo tempo
exploraram os recursos minerais e a força de trabalho. Essa foi uma tentativa de os
europeus explorarem de forma barata o continente africano.

1.2. Particularidades do colonialismo português: caso de Moçambique

Portugal não acompanhou o crescimento económico tal como outras potências


europeias. Nos finais do século XIX e princípios do século XX, aquele país aproveitou
as ambições e as rivalidades das principais potências imperialistas para se aliar e fazer
acordos através dos quais recebia grandes apoios.
Portugal, nação de fraco poder económico, não conseguiu ocupar e administrar
Moçambique sozinho. Por isso, acabou por conceder poderes a algumas companhias
majestáticas/monopolistas de outras superpotências.
Em Moçambique existiram dois tipos de companhias a saber:
 Companhias majestáticas – gozavam de muitos poderes nos territórios
arrendados. Cobravam impostos, recrutavam a mão-de-obra, faziam a
manutenção da defesa e segurança no território, e desenvolviam actividades
económicas. São exemplos: a Companhia de Moçambique1, e a Companhia
de Niassa2;
 Companhias arrendatárias – tinham poderes reduzidos nos territórios
arrendados. Apenas exerciam actividades económicas. Essas aceleravam a
ocupação efectiva e por outro lado, Portugal esperava ver seu território
desenvolvido no final do contrato. Exemplo: a Companhia da Zambézia3.
Em Moçambique, a penetração colonial, na sua maior parte, foi feita através do
uso das companhias, às quais ocupavam 2/3 do território moçambicano.
Portugal não conseguia sozinho administrar um território tão vasto quanto
Moçambique. Assim, entre 1891-1892 deu, aos capitalistas ingleses, franceses,
alemães e belgas, alguma parte de Moçambique que compreende as regiões entre os
rios Zambeze e Save: a Companhia Majestática de Moçambique (Manica e Sofala), a
Companhia Majestática do Niassa (Niassa e Cabo Delgado), e a Companhia da
Zambézia (Tete e Zambézia).
Nampula, Gaza, Inhambane e Maputo foram territórios directamente
administrados por Portugal, isto é, ela montou a administração directa. E mais na
região Sul de Moçambique, o particularismo português consistiu no capital agrícola e
mineiro sul-africano, sustentando a sua economia através da venda da força de
trabalho para a África do Sul, da qual obtinha ganhos, não só no processo de venda,
como também, através da cobrança de impostos.

1.3. Consequências da ocupação efectiva para Europa, África e Moçambique

Conflitos como a Guerra Franco-Prussiana e a Guerra Russo-Japonesa, que


espelhavam bem os sentimentos imperialistas dos Estados dessa época, levaram a
uma nova demanda por outros continentes, em especial pelo continente africano.

1
Ver mais em § 60.1.
2
Ver mais em § 60.4.
3
Ver mais em § 60.5.
O avanço tecnológico dos europeus permitiu-lhes ocuparem e dominarem os
territórios que pretendiam. O sector industrial dos países europeus obteve novos
mercados entre os países ocupados, novas fontes de produção. Houve um
enriquecimento por parte dos países dominantes à custa do trabalho das populações
nativas.
A ocupação incentivou as tensões pelo domínio do território africano e asiático,
como por exemplo, a Guerra Anglo-Bóer, as rivalidades entre Portugal e Inglaterra
devido à intenção portuguesa de conquistar o território entre Moçambique e Angola
(Mapa Cor-de-Rosa) contra a penetração britânica de construir uma linha férrea ligando
Cabo a Cairo.

1.4. Consequências da ocupação efectiva para África

A nível económico
A actuação da economia colonial permitiu a construção de infra-estruturas
físicas: aeroportos, portos, estradas, pontes, hospitais, escolas, vias-férreas, instalação
do telégrafo e do telefone, que, por sua vez, tiveram impacto positivo nas colónias.
No plano agrícola, foram introduzidas as culturas de exportação: cacau, café,
tabaco, algodão, sisal, borracha, chá. Houve a estagnação da tecnologia africana
devido ao abate das actividades artesanais e à alteração dos hábitos alimentares
devido a introdução da monocultura.

A nível político
Durante o período da ocupação colonial efectiva não se desenvolveram as
guerras étnicas. A partilha e a conquista de África reformularam as fronteiras e
alteraram o mapa político desse continente.
Fez-se a introdução de um novo sistema jurídico e o uso de línguas europeias
na justiça. Houve o surgimento de uma nova classe de funcionários administrativos
africanos. Houve também a destruição das monarquias africanas, assim como o
enfraquecimento das autoridades e do poder dos africanos. Por fim, houve a perda da
soberania e da independência.
1.5. Consequências da ocupação efectiva para Moçambique

A nível económico, em Moçambique intensificaram-se as trocas comerciais, a


produção agrícola para o mercado, o recrutamento da mão-de-obra para o sector
mineiro e plantações na África do Sul e na Rodésia, a integração da população na
economia capitalista mundial, a criação de uma economia orientada principalmente
para a produção de mercadorias procuradas no mercado internacional e para a
manutenção da mão-de-obra, a introdução do trabalho forçado (xibalo), e a exportação
da mão-de-obra generalizada da população.
A nível político, modificaram-se as estruturas e os espaços da comunidade
camponesa. Moçambique foi dividido em circunscrições e postos de fiscalização nas
áreas onde as populações indígenas estavam organizadas e pacificadas, e nas
restantes regiões do país onde os nativos mostrassem rebelião, foram criadas
capitanias-mor, divididas em comandos militares.
A nível social e cultural verificou-se o abalo dos valores culturais; a aculturação
do povo moçambicano com a aquisição da língua, hábitos e costumes do povo
colonizador; a proliferação das igrejas cristãs pelo país; ao atraso dos níveis de
escolaridade para os moçambicanos da época; e ao desenvolvimento do sistema de
segregação racial e as leis para os indígenas.

As cinco minibalas desta aula

1. Quais são as companhias que existiram em Moçambique e de que tipo era


cada uma?
2. Quais são as províncias que cada uma das companhias ocupava?
3. Quais são as províncias que Portugal administrou de forma directa em
Moçambique?
4. Para qual país é que era vendida a força do trabalho do sul de Moçambique?
5. Fala de uma das consequências da ocupação efectiva para Moçambique.

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