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INSTITUTO SUPERIOR DE CIÊNCIAS E EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS DE EDUCAÇÃO


LICENCIATURA EM ENSINO DE HISTORIA

Estado de Mwenemutapa

Amélia Geremias Dunhe

Maxixe, 20 de Março de 2020


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INSTITUTO SUPERIOR DE CIÊNCIAS E EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA


DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS DE EDUCAÇÃO
LICENCIATURA EM ENSINO DE HISTORIA

Estado de Mwenemutapa

Trabalho de campo entregue ao Departamento de Ciências de educação, para


efeitos de avaliação.

Amélia Geremias Dunhe

Maxixe, 20 de Março de 2020


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Índice

Conteúdo Página
1.Introdução .................................................................................................................. 5

1.1.Objectivos ............................................................................................................... 5

1.2.Metodologia ............................................................................................................ 5

2.Estado de Mwenemutapa ........................................................................................... 6

2.1.Processo de formação do estado .............................................................................. 6

2.1.Limites do Estado Muenemutapa............................................................................. 6

2.2.Organização política e administrativa ...................................................................... 7

2.3.A comunidade aldeã ................................................................................................ 7

2.4.Aristocracia dominante ........................................................................................... 8

As Mushas .................................................................................................................... 8

2.5.Obrigações das Mushas ........................................................................................... 8

2.6.Obrigações da Classe dominante ............................................................................. 9

2.8.Causas da decadência do império de Muenemutapa ............................................... 10

3.Conclusão ................................................................................................................ 11

4.Bibliografia ................................................................................................................ 0
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1.Introdução

O Império Mwenemutapa (que era o título do seu chefe), foi um império que floresceu entre os
séculos XV e XVIII na região sul do rio Zambeze, entre o planalto do Zimbabwe e o Oceano
Índico, com extensões provavelmente até ao rio Limpopo. O território desse Império
corresponde a boa parte dos actuais território de Moçambique e Zimbabwe.
Este Estado africano era extremamente poderoso, uma vez que controlava uma grande cadeia
de minas e de metalurgia de ferro e ouro, cujos produtos eram muito procurados por
mercadores doutras regiões do mundo. É importante notar que, ao contrário dos soberanos de
muitos reinos actuais ou recentes, os Mwenemutapas não formavam uma cadeia de
descendentes, o sucessor de um Mwenemutapa falecido (ou deposto) era escolhido pelo
conjunto dos seus conselheiros e dos chefes seus aliados, guiados por um ou mais "chefes
espirituais" que interpretavam os "sinais" enviados pelos espíritos ancestrais da tribo. A
situação política deste povo era verificada através de exploradores e explorados tal como
aconteceu com muitos outros estados que floresceram em Moçambique, em que os explorados
trabalhavam uns 7 dias para o Mwene.
1.1.Objectivos
Geral
 Compreender o processo de formação e decadência do estado do Mwenemutapa

Específicos

 Explicar o processo de formação do estado de Mwenemutapa;


 Descrever a organização política administrativa do estado de Mwenemutapa;
 Caracterizar a penetração portuguesa no estado de Mwenemutapa;
 Identificar as caudas do declínio do estado de estado de Mwenemutapa

1.2.Metodologia

Para a elaboração do presente trabalho baseou-se em consultas bibliográficas devidamente


citadas no texto e na bibliografia geral, análise de informações consultadas tendo culminado
coma compilação de informações e produção final do trabalho.
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2.Estado de Mwenemutapa

2.1.Processo de formação do estado


Por volta de 1450, o Grande Zimbabwe foi abandonado pela maior parte dos seus habitantes. O
Estado de Muenemutapa é formado a partir de um movimento migratório do Grande
Zimbabwe, dos povos Caranga-Chona, para a região do vale do Zambeze, na sequência da
invasão e da conquista por exércitos dirigidos por Nhatsimba Mutota, ocorrida por volta de
1440-1450. Desenvolveu-se entre, os rios Mazoe e Luia, o centro de um novo Estado chefiado
pela dinastia dos Muenemutapa, que dominou e subordinou a população pré-existente. A
capital do império era Dande (SENGULANE, 2013).
O grosso dos efectivos do grupo invasor deu origem no vale do Zambeze a uma etnia
denominada pelos povos locais por Macorecore. Constituíram excepção da subordinação os
Tonga, matrilineares porque não falavam a língua Chona.

2.1.Limites do Estado Muenemutapa

 Norte – rio Zambeze;


 Sul – Rio Limpopo;
 Este – Oceano Índico;
 Oeste – deserto de Kalahari (SOUZA, 2007).

O núcleo central que a dinastia governava directamente entre, os rios Mazoe e Luia, era
circundado por uma cintura de Estados Vassalos cujas classes dominantes constituídas por
parentes dos Muenemutapas e opor estes a rebelar-se quando o poder central enfraquecia. Entre
os Estados vassalos do Estado de Muenemutapa encontravam-se Sedanda, Quissanga, Quiteve,
Manica, Bárrué e Maungwe. Os seus chefes pagavam tributo ao Muenemutapa reinante e eram
confirmados por este quando subiam ao poder.

Os Muenemutapas dominaram a sul do Zambeze até finais do século XVII, perdendo depois a
sua posição em favor da dinastia dos Changamires, cujo papel no levante armado contra a
penetração mercantil portuguesa.
Segundo SOUZA (2007) nos seus traços mais gerais, a sociedade Chona caracterizava-se pela
coabitação no seu seio de dois níveis sócio-económicos distintos: de um lado a comunidade
aldeã, designada por Musha ou Incube, relativamente autárquica e estruturada pelas relações de
parentesco; do outro lado a aristocracia dominante (que se confundia com a família que
Reinava e esta com o Estado), que controlava o comércio a longa distância e dirigindo a vida
das comunidades.
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2.2.Organização política e administrativa

O Estado do Mwenemutapa estava muito bem organizado. As populações viviam nas aldeias
sub a direcção de um chefe. Um conjunto de aldeias formava uma chefatura dirigida por um
chefe chamado Fumo.
Na comunidade Karanga-shona, um conjunto de chefaturas formava uma região, governada por
um mambo ou Nkozi. O Mwenemutapa o chefe supremo tinha poderes absolutos; isto é, tudo
lhe pertencia. Na direcção do estado era auxiliado por 9 altos funcionários, os conselheiros.
Entre estes conselheiros. Entre estes conselheiros havia um chefe religioso, um chefe de justiça
e um chefe do exército. (SENGULANE, 2013, p.14)
O Mwenemutapa tinha ainda outros funcionários que eram os Mutumes e os Enfices. Os
Mutumes eram mensageiros dos Mwenemutapas e os Enfices aplicavam a justiça. Todos estes
funcionários e chefes pertenciam à classe exploradora, deviam obediência as ordens do
Mwenemutapa e eram mudados quando este queria.
Os trabalhadores, que formavam a classe exploradora dedicavam-se a agricultura, a pastorícia e
a mineração (SENGULANE, 2013, p.15).

2.3.A comunidade aldeã

SENGULANE (2013, p.19), explica que a actividade produtiva essencial das comunidades
aldeãs Chona baseava-se na agricultura. Os principais cereais cultivados eram a Mapira, a
mexoeira, o naxemim e o milho. Ao longo dos rios e sobretudo na zona costeira e solos
aluvionares, cultivava-se o arroz, usualmente para venda. O nível das forças produtivas ainda era
baixo. Nos trabalhos agrícolas utilizavam a enxada de cabo curto e a agricultura praticava-se
sobre queimadas. A pecuária, a pesca, a caça, bem como o artesanato surgiram como apêndices
complementares da agricultura, submetendo-se aos imperativos do ciclo agrícola.
O trabalho nas minas aparecia como imposição do exterior (da aristocracia dominante ou de
comerciantes estrangeiros), não fazendo parte integrante da actividade produtiva normal.
Com o decorrer do tempo, a penetração árabo-persa e portuguesa trouxe novas necessidades
(bens de prestígio), as quais voluntária ou coercivamente levavam a população das
comunidades a praticar a mineração do ouro em escala considerável. O ouro localizava-se nas
regiões como: Chidima, Dande, Butua e Manica.
As Mushas que integravam no geral uma família no sentido lato ou um grupo de famílias com
o mesmo antepassado, o muri, viviam num regime de auto-subsistência e estavam
fundamentalmente orientadas para a produção de valores de uso. Todas as relações entre os
membros da sociedade Chona, ao nível das Mushas, eram fundadas no parentesco. Acima das
Mushas, como entidade superior erguia-se a aristocracia dominante.
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2.4.Aristocracia dominante

Segundo SENGULANE (2013). Na sociedade Chona, o Estado era personificado na pessoa do


soberano, o Mambo, que devia desligar-se da sua origem terrena para conferir à realeza, um
carácter sagrado. Tornava-se assim o representante supremo de todas as comunidades, o
símbolo da unidade de interesses dessas comunidades. Para quebrar todas as ligações com a sua
linhagem, e se tornar representante de toda a sociedade, indiferente às rivalidades familiares, o
Mambo cometia no momento da sua entronização, o incesto com uma parente próxima,
infringindo desse modo o mais absoluto interdito. Daí que a principal mulher do Monomotapa
era a sua própria irmã.
A autoridade efectiva do Mambo processava-se através dos seus subordinados territoriais que
integravam um complexo aparelho de Estado. Esquematicamente a estrutura político
administrativa pode ser representada da seguinte maneira:
Mambo: chefe supremo.

Mazarira, Inhahanca e Nambuiza: três principais esposas do soberano com importantes


funções na administração.
Nove altos funcionários: responsáveis pela defesa, comércio, cerimónias mágico- religiosas,
relações exteriores, festas, etc.
Fumos ou Encosses: chefes provinciais
Mukuru ou Mwenemusha: chefes das comunidades aldeãs ou das Mushas.

As Mushas

O mambo possuía alguns funcionários subalternos: Mutumes (mensageiros) e os Infices


(guarda pessoal do soberano – Mambo).
Há que notar aqui que elegia-se Fumo a quem tivesse maior riqueza material. Depois que ficara
pobre, a comunidade destituía-o através de uma cerimónia pela qual lhe eram atribuídos certos
símbolos de prestígio (um bordão e um chapéu de palha). O fumo deposto passava a pertencer
ao grupo dos “grandes” por mérito.
Salientar que semelhante controlo não operava ao nível dos Mambos, geralmente oriundos da
aristocracia invasora descendente de Mutota, na qual a transmissão do poder se fazia por via
hereditária.

2.5.Obrigações das Mushas

 Prestar 7 dias de trabalho mensais nas machambas do Mambo;


 Construção de casas para os membros da classe dominante (ZUNDE);
 Mineração do ouro para alimentar o comércio a longa distância que garantia a
importação de produtos para a sociedade Shona, os quais ascendiam a categoria de
bens de prestígio (missangas, tecidos, louça, porcelana, vidros, etc).
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 Pagamento de imposto em primícias das colheitas (tributo simbólico) e uma parte da


produção agrícola (regular);
 Entrega de marfim, peles de animais e penas de algumas aves;
 Entrega de materiais de construção de residências da Classe dominante, como pedras,
estaca, palha, etc
2.6.Obrigações da Classe dominante
 Orientar as cerimónias da invocação da Chuva;
 Pedir aos Muzimos reais (espíritos dos antepassados reais) a fertilidade do solo, o
sucesso das colheitas;
 Garantir a segurança das pessoas e dos seus bens;
 Assegurar a estabilidade política e militar no território;
 Servir de intermediário fiel entre os vivos e s mortos;
 Orientar as cerimónias mágico-religiosas contra as cheias, epidemias e outras
calamidades.
Os mambos eram garantes da fecundidade da terra e depositários da ordem do território e
constituíam os antídotos mais eficazes contra o caos. A sua morte significava a perda da
estabilidade. Quando morria um Mwenemutapa e até a eleição do novo mambo, o poder era
exercido por um personagem que usava o nome de Nevinga. Sem ser portador de qualquer
atributo régio, era morto logo após a eleição de um mambo de direito.
A eleição do verdadeiro mambo, constituía motivo de festa porque se acreditava ter a ordem
sido reposta com o importantíssimo papel de mambo vivo, que tamanha admiração e
entusiasmo causa aos seus crédulos adoradores (ANASTANCIO, 2011).

2.7.Penetração portuguesa
NHAPULO, (2011), explica que na sua penetração, os portugueses utilizaram a religião cristã
católica, organizando assim em 1561 uma expedição missionária a corte do Mwenemutapa
reinante chefiada pelo padre Jesuíta Gonçalo da Silveira com o objectivo de converter a classe
dominante à religião católica tendo conseguido baptizar o Mwenemutapa e a sua família com o
nome de D. Sebastião. Para os portugueses ter o Muenemutapa e a sua família baptizados
serviria de trampolim para a concretização dos seus planos:
 Marginalizar os mercadores asiáticos;
 Influenciar as decisões políticas do imperador em seu benefício;
 Monopolizar o comércio do ouro;
 Promover manobras no sentido de se alargar o período que os camponeses dedicavam
á produção de valores de troca (ouro) em detrimento da produção de valores de uso e
consumo (agricultura).
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O padre Gonçalo da Silveira é acusado de feiticeiro e é morto e como retaliação aos


acontecimentos de 1561, os portugueses enviam uma expedição militar chefiada por Francisco
Barreto em 1571 com o objectivo de conquistar as zonas produtoras do ouro e punir o
imperador reinante
O processo do comprometimento do novo imperador culminou com a assinatura no mesmo ano
(1629) do tratado, designado por tratado de Mavura que transformou o império num estado
vassalo de Portugal. Por este tratado, a aristocracia de Muenemutapa ficou obrigada a:

 Permitir a livre circulação de homens e mercadorias isentas de qualquer tributo;


 A obrigatoriedade de o Muenemutapa consultar o capitão português antes de tomar
qualquer decisão importante;
 Não exigir aos funcionários e mercadores portugueses a observância das regras
protocolares quando recebidos por autoridades e altos dignatários da corte (descalçar
os sapatos, tirar o chapéu, bater palmas, ajoelhar, etc);
 Não obrigar os mercadores portugueses a pagarem impostos inerentes a sua
actividade;
 Aceitar uma força constituída por 50 soldados portugueses na corte;
 Expulsar os mercadores asiáticos do império;

O imperador com o tratado de vassalagem deixou de representar e executar a vontade dos


antepassados para agir como um simples intermediário entre os interesses do capital mercantil
português e as comunidades aldeãs. Os camponeses das muchas eram obrigados a trabalharem
mais tempo na mineração do ouro em prejuízo da agricultura. A fome, as epidemias, a morte de
mulheres e crianças nas minas passaram a caracterizar a sociedade Shona.
O fim da presença portuguesa no império de Muenemutapa deu-se em 1693 quando
Changamire Dombo, chefe de Bútua levou a cabo a uma expedição militar contra os
portugueses, tendo em dois anos expulsado os portugueses e obrigando-os a atravessar o rio
Zambeze e se fixarem na margem esquerda, marcando assim o fim da fase do ouro e início da
fase de marfim

2.8.Causas da decadência do império de Muenemutapa

 Fixação dos mercadores portugueses na costa;


 Lutas pela sucessão;
 Falta de um exército permanente;
 A interferência dos estrangeiros, sobretudo dos portugueses nos assuntos internos do
estado;
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3.Conclusão

Depois de feitas as abordagens em relação ao trabalho chega-se as seguintes conclusões: As


origens da dinastia governante no seio dos Mwenemutapas, remontam à primeira metade do
século XV. De acordo com a tradição oral, o primeiro"mwene" foi príncipe guerreiro de um
reino Shona ao sul, chamado Nyatsimba Mutota, enviado para encontrar novas fontes de sal, ao
norte.

O Príncipe Mutota encontrou o sal entre os Tavara, uma subdivisão dos Shonas, que eram
notórios caçadores de elefantes. Por meio dos comerciantes árabes e dos primeiros exploradores
lusitanos, também souberam que havia um grande reino a noroeste do rio Zambeze, governado
por um chefe muito poderoso, a quem chamavam de Mwenemutapa ou mwene mutapwa.

O ouro que viam chegar aos portos de Sofala, Angoche e Quelimane vinha desse reino, e não
mais da região dos zimbabués. Mas a grandeza do que ficou conhecido nos textos portugueses
antigos como o reino do Mwenemutapa é fruto da vontade que tinham de encontrar ali um
estado poderoso ao qual se aliar, ou mesmo dominar.

Nas descrições portuguesas, tentou-se por algum tempo fazer crer que essas aldeias constituíam
um império poderoso, montado em jazidas de ouro, que afinal eram bem menos ricas do que o
sonhado. Tudo indica que o que realmente existiu foram chefias unidas por laços de parentesco,
casamento ou identidade religiosa, subordinadas à autoridade ritual de um chefe, o mwene
mutapwa, e frequentemente entrando em conflito com chefias vizinhas.

Alianças eram feitas e desfeitas. Confederações cresciam e desapareciam. E a presença de


comerciantes árabes e portugueses no interior do continente querendo controlar o comércio de
ouro e marfim aumentou os conflitos e as tensões existentes entre os diferentes grupos. A
queda deste império deveu-se a falta de união dos mutapas reinantes, a infiltração dos
portugueses na política do estado assim como a invasão do povo Ngunis.
4.Bibliografia

ANASTANCIO, K. (2008). História de Moçambique: primeiras sociedades sedentárias e


impacto dos mercadores (200/300-1886). Vol. I, Maputo.

NHAPULO, Telésfero (2011). Atlas histórico de Moçambique. Maputo, Plural editores.


SENGULANE, Hipólito (2013). História das instituições do poder político em Moçambique.
Maputo, Diname.

SOUZA, Marina de Mello (2007). África e Brasil Africano. São Paulo: Ática

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