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Introdução

Moçambique possui uma rica e longa tradição cultural de coexistência de diferentes raças,
grupos étnicos e religiões, ora isto reflecte a diversidade de valores culturais que em conjunto
criam as identidades do Moçambique moderno. Apesar de possuir uma diversidade cultural e
religiosa diferente de outros lugares raramente serve de razão para gerar conflitos entre os
povos de Moçambique.

Niassa
Niassa é uma Província com extraordinária beleza natural acrescida de tradições,
monumentos, esculturas e pinturas rupestres que fascinam pelo seu aparato, majestade,
riqueza de detalhes e magnificência.

Em cada localidade, vila, município ou distrito ocorrem elementos naturais e culturais que
servem de pontos de referência incontornáveis.

A identificação desses elementos tem sido tarefa fundamental para vários sectores, em
particular, o sector da cultura e educação devido a importância que lhes é atribuída para a
promoção dos valores históricos.

No entanto, a experiência demonstra que num cenário com vários elementos que enaltecem a
identidade dos povos, torna-se pertinente a priorização de apenas um número representativo,
que sirva de guia no processo dos debates tendentes a identificação, selecção e aprovação das
bandeiras.

A manifestação da cultura do norte de Moçambique


A constituição da República de Moçambique estabeleceu o princípio segundo o qual o estado
promove o desenvolvimento da cultura e personalidade nacional e garantiu a livre expressão
das tradições e valores da sociedade moçambicana.

Efectivamente, a cultura deve ser entendida como um componente determinante da


personalidade dos moçambicanos e considera-se a sua valorização como um elemento
fundamental para a consolidação da unidade Nacional, da identidade individual e do grupo.

Os povos que habitam actualmente Moçambique são incluídos no grande grupo dos Bantu,
que povoa quase toda a África a Sul do Sahara. Dentro deste grupo há muitas sub-divisões, ou
etnias. Vejamos algumas noções elementares das principais etnias de Moçambique, divididas,
segundo muitos autores, em mais de oitenta sub-grupos.

Os Yaos
Os Yao, também conhecidos por Ajaua, ocupam a região junto ao lago Niassa e o norte da
província com o mesmo nome. Os Yao também se encontram no Malawi e no sul da
Tanzânia. Fontes históricas revelam que os Yao eram bastante activos o comércio à longa
distância, ligando as regiões do interior com a costa do Índico: Quílua, na Tanzânia, e Ilha de
Moçambique. Antes dos finais do século XVIII eram os principais fornecedores de marfim.

Segundo Ferreira (1982, p.124) os Ajaua transitaram para as formas de comércio


internacional com Quílua e Ilha de Moçambique de uma forma gradual, a partir de trocas
regionais restritas e regionais de peles, produtos agrícolas e utensílios de ferro até atingir o
nível de uma florescente e bem organizada exportação de marfim, nos finais do século XVIII.

Ferreira diz ainda que no primeiro quartel do século XIX os Ajaua tinham-se transformado
nos maiores fornecedores de escravos exportados para Mossuril (ibid.:285).

Dado o seu contacto regular com a costa de influência muçulmana, os Ajaua islamizaram-se
mais cedo que os outros povos do interior. Entretanto, uma islamização significativa viria a
acontecer depois de 1890, em resposta à pressões trazidas pela ocupação colonial.

Ritos de iniciação da rapariga Yao (unyago wa nʼsoondo)


Os Wayao de Niassa, para a mudança do estatuto e integração social do indivíduo, realizam os
ritos de iniciação da rapariga e do rapaz, localmente designados unyago e jaando,
respetivamente. Podendo ser unyago wa n’soondo, unyago wakusoongona e unyago diitiwo12
para o sexo feminino.

Estas cerimónias desenvolvem-se em 3 fases. A seguir, descrevo os aspectos mais relevantes


para esta abordagem.

Fase 1: Antes dos ritos


Os ritos realizam-se após a colheita, a partir de Agosto a Dezembro e, nunca durante o jejum
islâmico.
Na sociedade Yao, quando uma rapariga atinge os 7 anos de idade, e estão organizadas as
condições económicas para as despesas relativas à cerimónia, os pais reúnem-se com ela e
informam-na que deve ir aos ritos. Na ocasião, os pais explicam-lhe que os ritos são práticas
milenares que devem ser cumpridas como forma de perpetuação da tradição e da cultura.
Reparese que a ida da rapariga aos ritos gera o que Immanuel Kant designou por heteronomia,
quando o indivíduo se sujeita à vontade de terceiros ou de uma colectividade, para manter a
coesão do grupo.

Antigamente, os ritos decorriam fora da povoação, mas, actualmente, realizam-se na


povoação. Qualquer família que tenha filha(s) em idade de ser(em) iniciada(s) comunica às
famílias ao seu redor o desejo de realizar o ritual em sua casa, assim como a sua total
disponibilidade para receber no seu seio familiar raparigas provientes de outras famílias
(vizinhas ou não) para a iniciação.
Antes da partida da rapariga para o acampamento (cigwiisyo), sob a orientação da mulher
mais velha13 da linhagem matrilinear, realiza-se na sua família uma cerimónia tradicional de
pedido de protecção à rapariga e de invocação dos espíritos dos antepassados designada
sadaka. Normalmente, nessa cerimónia, serve-se a todos os presentes papas de arroz, de
farinha de milho, sumo de mapira (wutóbwa).

Depois, a rapariga parte com a mãe à casa do régulo, onde irá receber m´bopeesi (unção na
testa da rapariga, feita com mistura de farinha branca e remédios). Daqui, as duas vão para o
acampamento.

Fase 2: Durante o rito


A cerimónia no acampamento desenvolve-se em várias etapas, que passo a descrever:
Ritual de entrada no acampamento - Quando chegam ao acampamento, a anciã da família
de acolhimento, à qual se confiam os ritos, unge a rapariga na testa. Posteriormente, ela é
entregue à matrona pela mãe, efectivando-se, assim, o ritual de entrada para kuwuumbala (ser
iniciada). Contudo, existem outras formas de entrada: a voluntária e a por curiosidade.

Ida ao rio e educação para o trabalho - Na madrugada do dia seguinte, as iniciandas vão ao
rio para tomar o banho que simboliza ruptura com o passado.
De regresso ao acampamento, elas são ungidas na testa pela matrona, cantando kapeemba
kadi machamba e mbuduweri rabanoxa, traduzidas em “vamos aplicar a farinha que está na
peneira” e “preparem-se já amanheceu”, respectivamente.
Instrução sobre a sexualidade no mato - No mato, a matrona apresenta às iniciandas
missangas (cuma) de várias cores. Destas, destaca-se a missanga vermelha que serve de alerta
ao marido quando a mulher está no período menstrual. Diferentemente da vermelha, as
missangas de cor branca, amarela-branca e preta simbolizam o corrimento vaginal que indica
os períodos fértil, não fértil e alguma infecção que pode levar a mulher à esterilidade,
respectivamente.

Regresso ao acampamento
A partir desse dia, as iniciandas ficam com a face pintada com barro, sem banho, apenas de
calcinha, sentadas de pernas estendidas, caladas e cabisbaixas. Sobre o andar cabisbaixa,
equivocamente e excessivamente relativista, Signe Arnfred (2011) considera um código de
conduta e não forma de submissão.

Primeira aparição pública


Antes da saída do confinamento, as madrinhas e as iniciandas pintam-se as caras com o
carvão, farinha e areia. As iniciandas vestem saias, missangas, lenços ou chapéus, tapam os
seios e amarram lenços nos braços. Saem à rua lideradas pela matrona que segura o cisaasii
(cabaça contendo remédios). Esta aparição é uma apresentação oficial à sociedade das novas
integrantes da etnia.

Fase 3: Depois do rito


No dia da saída do acampamento, pela madrugada, as iniciandas dirigem-se ao rio para o
banho. Vestem-se de roupa nova e perucas, pintam-se-lhes as unhas e a face. Saem de lá
segurando nas mãos flores e guarda-chuvas.

Ao chegarem às proximidades das suas residências, as jovens são recebidas em grande festa.
Nesta reinserção, elas podem receber um novo nome, dependendo da decisão dos pais.
Recebem dos pais uma nova casa, na qual poderão morar com os seus futuros esposos.
Durante um mês de reinserção familiar, não entram nos aposentos dos seus pais, porque já
quebraram os tabus sexuais.

N´Ganda
Na nortenha província do Niassa, n´ganda é uma dessas danças cuja riqueza em significado
histórico e cultural é ainda hoje celebrada pelo povo em diversas ocasiões e situações, tais
como cerimónias civis ou outros momentos julgados oportunos pela comunidade.

Em nyanja ou chewa – um dos idiomas falados no Niassa, o termo n´ganda tem duplo
significado: o primeiro é que a palavra quer dizer “gule wa malipenga” (dança das cabaças) e
o segundo tem a ver com a designação da dança propriamente dita e o rufar do principal
tambor de n´ganda, o bombo ou ng´oma.

N´ganda é uma dança de expressão da alegria da população pelos sucessos na colheita e no


campo de batalha. O seu valor cultural, no entanto, excede o mero aspecto comemorativo.

N´ganda é um património artístico-cultural por meio do qual são promovidos e fortalecidos


valores benéficos na sociedade, como o espírito de comunhão, unidade étnica, hospitalidade,
familiaridade e amizade.

Através da dança são do mesmo modo veiculadas mensagens de desestímulo de algumas


práticas sociais condenáveis, nomeadamente o roubo e maus tratos às mulheres por parte dos
homens.

Conclusão

Com a pesquisa foi possível concluir que Moçambique oferece uma diversidade histórico-
cultural rica e invejável, esse cenário pode ser testemunhado em parte na Província do
Niassa, pois, fora de ser uma região que viu nascer, crescer e formar várias individualidades
de referência na história do país,tem um forte potencial na cultura. As belas danças, crenças e
línguas tornam o nosso país como um potencial destino turístico, acti-vidade essa que pode
ser conjugada com o turismo de sol e praia, o ecoturismo e o turismo gas-tronómico que
temos como referência no país.

Referenciaas Bobliograficas

FERREIRA, R. (1982). Agrupamento e Caracterização Étnica dos Indígenas de


Moçambique. Disponível em: http://www.malhanga.com/flipbook/estudos.documentos/

IVALA. Adelino Zacarias. O ensino de História e as relações entre os poderes autóctone e


moderno em Moçambique, 1975-2000. Doutorado em Educação/Currículo. Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo. São Paulo. 2002.

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