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Reinadinho dos kamburekos:

infância, magia e reparação da ferida colonial


BÁRBARA ALTIVO*

Resumo: Este artigo tem como fundamento o trabalho de campo que realizei por
três anos junto à irmandade de Reinado “Os Leonídios” e ao coletivo de crianças
negras que formam o chamado reinadinho, na cidade de Oliveira-MG. Tendo em
mente as bases africanas do universo reinadeiro sondado, apresento algumas práticas
de criatividade mágica das crianças que, além de enfrentar duras e perversas
adversidades racistas e de preconceito religioso, driblam as lições sobrecodificadas
pelo mundo adulto institucional e seus lugares impositivos de poder. A ocupação de
uma casa abandonada que se transforma em templo das crianças e a sensibilidade
infantil aos seres de outros mundos são acionadas para dar sentido ao fazer de cura,
(re)estabelecimento de alianças, atualização e produção de ancestralidade que é o
Reinado.
Palavras-chave: Reinado; Infância; Ancestralidade.
Reinadinho” of “Kamburekos”: childhood, magic and repair of the colonial
wound
Abstract: This article is based on the field work that I did during three years with
the brotherhood of Reinado “Os Leonídio” and the collective of black children so-
called “reinadinho”, in Oliveira-MG. Bearing in mind the African foundations of the
Reinado, I present some practices of children's magical creativity that, in addition to
facing harsh and perverse racist adversities and religious prejudice, circumvent the
lessons overcoded by the institutional adult world and its imposing places of power.
The occupation of an abandoned house that becomes a children's temple and the
child's sensitivity to beings from other worlds are triggered to make sense of the
Reinado as healing, (re) establishing alliances, updating and producing ancestry.
Key words: Reinado; Childhood; ancestry.

*
BÁRBARA ALTIVO é Doutora em Comunicação Social pelo PPGCOM/UFMG; é jornalista,
antropóloga e pesquisadora no CORISCO - Coletivo de Estudos, Pesquisas Etnográficas e Ação
Comunicacional em Contextos de Risco, que integra o departamento de Comunicação Social da UFMG.

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Abertura A cidade de Oliveira está situada no
sudoeste de Minas Gerais, há cerca de
Pesquisar o Reinado em minha tese de
cento e sessenta quilômetros de Belo
doutorado1, ter a convicção de que
Horizonte. Colonizada no século XVIII e
começava a entender o lugar e as ações
situada no que foi o “Caminho de Goiás”
das pessoas, dos cantos, dos artefatos e
ou a “Picada de Goiás” no período
dos ritos, foi um processo repetidamente
escravocrata, único acesso ao centro-
perfurado e colocado em torção nos
oeste do Brasil, a região de Oliveira foi
encontros com as crianças. Enquanto
território do Quilombo do Ambrósio,
anotava algo no caderninho, fazendo
para onde fugiam muitos dos negros
cara de séria e ajeitando os óculos,
sempre aparecia alguma menina ou escravizados em Minas (FONSECA,
1961). Lá acontece a festa de Nossa
menino que pegava na minha mão, fazia
trança nos meus cabelos, falava2 em Senhora do Rosário, também chamada
espíritos, ou mesmo só me olhava com de Reinado, Congado ou Festa do
intensidade. Os kamburekos3 me Congo, desde a época da escravidão, cuja
data de início não se pode precisar, sendo
cobriram com o mistério, o não
explicado, com o que resiste aos esforços o primeiro registro encontrado de
de sistematização exigidos no universo estatuto da Irmandade de Nossa Senhora
acadêmico. E me chamaram a ser uma do Rosário do ano de 1860 (RUBIÃO,
pessoa, inteira, com elas. Pela irmandade 2010).
“Os Leonídios”4 e as suas crianças, A festa já teve diferentes formatos,
conheci o Reinado como um grande e modificados pelos conflitos dos
complexo trabalho espiritual, subjetivo, reinadeiros em relação às elites
social e político de reparação das religiosas e políticas da cidade.
relações, corpos e territórios de Atualmente, durante nove dias, na
existência dilacerados pela escravidão e primeira semana de setembro, as guardas
pelo racismo. de vilão, massambique, catopé e congo5

1
ALTIVO, Bárbara Regina. "Rosário dos massambique de Nossa Senhora do Rosário, sob
kamburekos: espirais de cura da ferida colonial a capitania de Katia Aracelle Leonídio (congo),
pelas crianças negras no reinadinho (Oliveira - Washington Luis Santos de Oliveira e Carlos
MG)". Tese de doutorado defendida no Programa Tadeu Sabino (massambique). O termo
de Pós-Graduação em Comunicação Social da massambique é como a capitã Pedrina nomeia as
UFMG. Belo Horizonte, 2019. guardas comumente chamadas de Moçambique,
2
Todas as expressões nativas, próprias do tipo de terno responsável por guarnecer os reis e
universo reinadeiro e dos terreiros de umbanda e rainhas coroados no Reinado. Segundo ela, o
candomblé, serão marcadas em itálico e termo Massambique é o mais adequado porque
explicadas em nota de rodapé ou no corpo do deriva da matriz linguística quimbundo,
texto. significando “dança sagrada que vem de
3
Expressão de origem bantu referente aos Angola”.
5
espíritos de crianças (no plano dos vivos e dos Tipos de guardas, agrupamentos de dançadores
mortos) muito utilizada nos terreiros de umbanda e tocadores, que cultuam os santos de acordo com
e candomblé ligados à tradição angola. as especificidades de seu estilo ritual: cada um
4
A irmandade “Os Leonídios” é assim nomeada desses três possui um modo próprio de cantar,
em homenagem ao seu capitão fundador, tocar, se vestir e adorar, como um todo, os santos
Leonídio João dos Santos. Conta com três da festa. A cidade de Oliveira conta com
guardas de Reinado: o massambique de Nossa dezessete guardas de Reinado, sendo um vilão,
Senhora das Mercês, capitaneado pelos irmãos um congo, seis moçambiques e dois
Pedrina de Lourdes Santos e Antônio Eustáquio massambiques (nomenclatura assumida
dos Santos (filhos do capitão fundador da casa, unicamente pelos Leonídios) – estilos de canto,
Leonídio João dos Santos), o congo e o

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percorrem as ruas de Oliveira com seus e demais elementos litúrgicos
instrumentos, fardas coloridas, constituidores de sentidos e identidades.
bandeiras, bastões e espadas, fazendo o Contudo, considero aqui o Reinado
deslocamento das majestades. Os reis e como culto dedicado ao chamado
rainhas congos e perpétuos, muito “trabalho espiritual” ligado à matriz
respeitados pelas comunidades africana da festa, como afirma Pedrina
reinadeiras, são a presença negra dos de Lourdes Santos, de forma a tomar em
santos cultuados: N. Sra. do Rosário, N. consideração não só as formulações
Sra. das Mercês, São Benedito, Santa acadêmicas, mas também e
Efigênia e N. Sra. Aparecida. Além principalmente as teorias dos
deles, há os reis e rainhas de promessa e especialistas reinadeiros, interlocutores e
de ano, que mudam a cada festa e são por referências bibliográficas desta pesquisa.
vezes brancos, vestidos ao modo Pedrina de Lourdes Santos é uma ilustre
europeu. Cada guarda ou terno é regido
sacerdotisa e teórica do universo do
por um santo, que vai na frente em forma Reinado, além de muzenza (filha de
de bandeira, anunciando a chegada do
santo no candomblé), intelectual da
grupo, varrendo a passagem dos maus cultura e língua de origem bantu,
agouros, guiando na cabeceira do fluxo o
rezadeira e benzedeira, liderança
caminho por onde dançam, tocam e espiritual e política da irmandade “Os
cantam os membros da guarda, de acordo Leonídios”. Aos onze anos de idade, com
com a condução da capitã ou do capitão. a permissão do pai Leonídio João dos
Uma estrutura ritual que faz a travessia Santos, antigo capitão da guarda de
das coroas contando a história da massambique das Mercês, Pedrina entra
travessia dos negros, desde as terras como dançadora no Reinado, posto que
africanas até o Brasil. Relembrando, até então era ocupado apenas por
descrevendo e trazendo à tona o terror meninos. Herda a capitania, juntamente
das viagens nos navios negreiros, as com o irmão Antônio dos Santos, em
violências sofridas, a fé inabalável e o 1980, com a morte do pai. Ela é
brado de libertação: “levanta minha considerada uma das primeiras capitãs
gente, cativeiro acabou!”. É a mulheres de massambique de Minas
“instauração de um império, cuja Gerais, e assim enfrentou dificuldades
concepção inclui variados elementos, para ter acesso aos conhecimentos
atos litúrgicos e cerimônias e narrativas tradicionais e firmar a sua liderança na
que, na performance mitopoética, comunidade reinadeira (SOARES,
reinterpretam as travessias dos negros de 2016). Com quarenta e sete anos de festa
África às Américas.” (MARTINS, 1997, do rosário e trinta e sete de capitania,
p. 28). Pedrina é uma verdadeira guardiã dos
fundamentos africanos no Reinado de
Vale destacar que são vários os trabalhos
acadêmicos que analisam os cortejos de Oliveira, lutando contra as constantes
investidas de origem colonial que se
Reinado (situados em Oliveira e outras
manifestam enquanto vetores de
localidades de Minas Gerais) a partir de
embranquecimento, catolicização e
sua densa simbologia materializada nas
bandeiras, fardas, objetos sagrados, espetacularização mobilizados pela
igreja, mídia e elite da cidade6.
instrumentos musicais, letras das toadas

6
dança e toque que integram os cortejos O doutorado da presente autora contou com a
reinadeiros (SOARES, 2016). co-orientação de Pedrina enquanto mestra de
saber tradicional.

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O povo do rosário, segundo Pedrina, Santa Efigênia; sábado > Nossa Senhora
elaborou uma festa assentada em Aparecida; Domingo > descimento dos
matrizes cosmológicas africanas, em mastros e encerramento da festa.
toda a sua complexa efetivação ritual
No encerramento da primeira festa que
pelo canto, toque e dança. Assim, dentro
participei, em 2016, ao final do café de
e fora de sua irmandade, ela ressalta os
São Benedito, depois do descimento dos
fundamentos reinadeiros calcados nas
mastros e de muita gente chorar pelo
realezas e divindades africanas, tratando
fechamento do ciclo do rosário, O.
abertamente dos processos estratégicos
(menino, 10 anos) e C. (menino, 12
constituídos pelos negros para cultuar os
anos)7, me presentearam com o convite
seus mi’nkisi através dos santos que deu caminho a esta pesquisa. “Você
católicos. Na perspectiva da capitã, o
tem de vir para o nosso reinadinho! Eu
Reinado realiza o cortejo dos mi’nkisi de sou rei congo e ele é capitão! Temos a
África: Nossa Senhora do Rosário,
nossa sede, a nossa guarda! E o
também chamada de Santa Manganá, é reinadinho não é brincadeira!”, disse C.
Kaiaia; Nossa Senhora das Mercês é
Dandalunda, São Benedito é Um grupo de cerca de 20 crianças e
Mutakalambô; Santa Efigênia é adolescentes que moram no alto do
Matamba e Nossa Senhora Aparecida, bairro São Sebastião, periferia de
por sua vez, não consta nas bases de Oliveira, ocupavam desde 2014 uma
devoção do rosário dos negros, por ter casa abandonada em ruínas e ali
sido incluída na festa apenas no ano de constituíram a sede da guarda do
1976. A festa começa no sábado à noite reinadinho até 20178. São meninas e
com a saída do Boi do Rosário, o que meninos que participam de diferentes
Pedrina considera enquanto despacho irmandades reinadeiras do bairro, sendo
para exu que abre a interlocução com os a maioria dançadores e tocadores das
mi’nkisi, permitindo – assim como na guardas dos Leonídios. Juntos, elas e eles
umbanda e no candomblé – a produzem os instrumentos musicais,
comunicação com o mundo dos mortos e roupas e espaço ritualístico através de
das divindades. Na mesma noite, depois materiais advindos dos restos, dejetos do
do boi, acontece o kandombe, ritual de mundo adulto. As caixas são feitas de
fundação do Reinado em que toca, canta galão de plástico, os bastões de canos e
e dança para as almas dos ancestrais cabos de vassoura, as bandeiras
através de tambores centenários. De desenhadas em papel. Após a festa
domingo em diante acontecem os oficial da cidade, que acontece em
cortejos dos reis e rainhas pelas ruas da setembro, as crianças saem às ruas do
cidade, na seguinte ordem: domingo e alto do São Sebastião, em cortejo de seus
segunda > Nossa Senhora do Rosário; reis e rainhas mirins, na semana do dia
terça e quarta > Nossa Senhora das
Mercês; quinta > São Benedito; sexta >

7 8
Todas as referências às crianças e adolescentes A casa e o lote ocupados pelas crianças
que insiro neste trabalho prezam pelo cuidado em passaram a ser cada vez mais visadas pelo tráfico
manter o anonimato dos mesmos. No escopo do de drogas, o que tornou o local inseguro para a
texto, omito os nomes, mantendo apenas as presença infantil. Atualmente o reinadinho não
iniciais, gênero e idade. Além disso, a orientação conta mais com essa sede. A casa da capitã
deste trabalho se guia pela manutenção das Pedrina tornou-se o principal ponto de encontro
marcas da oralidade infantil como forma de das crianças para a realização de seus rituais
afirmação da variação linguística e coabitação reinadeiros.
dos regimes de conhecimento.

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12 de outubro, em celebração à Nossa reinadeira, cuja composição familiar é
Senhora Aparecida e ao dia das crianças. caudatária – em última instância – de
processos de aliança e parentesco
As crianças que realizam o reinadinho,
eminentemente filiados à resistência
em sua maioria, integram famílias
negra contra o esfacelamento
chefiadas por mulheres jovens e
genealógico imposto pela escravidão
solteiras, moradoras do bairro periférico
(DAS NEVES, 1994; FANON, 1980;
do Alto São Sebastião, havendo em
MBEMBE, 2018). O desafio aqui está
menor parte experiências familiares
em não resumir a existência dessas
biparentais. Estudam em escola pública e
crianças às condições sociais de pobreza
passam boa parte do dia fora de casa, nas
calçadas e ruas da região. Sofrem e violência, mas também não perder de
vista tal contexto de agudo racismo e
diariamente agressões racistas e de
preconceito religioso no ambiente desigualdade social. Trata-se de
construir um nexo relacional entre duas
escolar. Algumas famílias têm
envolvimento com tráfico e consumo de coisas: o trauma e o trabalho de
elaboração, o dano e a memória, a
drogas, alcoolismo, roubo e prostituição.
Em geral, passam por sérias dificuldades violência e a criação da cura.
financeiras. Essas crianças encontram A casa de “tudo, tudo, tudo”9
nas guardas de reinado uma rede de Desde 2014 um grupo de crianças e
apoio material, psicológico e espiritual. adolescentes, com idades entre 3 e 17
O modo como as crianças festejam o anos, sai às ruas do bairro São Sebastião,
Rosário, desde um estilo criativo ligado periferia de Oliveira, com o reinadinho,
à agência mágica das coisas e dos seres liderados pelo capitão mor H. (menino,
espirituais, cativou a minha atenção e me 17 anos). Em um lote amplo – cerca de
levou a constituir um trabalho instigado 700 m² -, fica a ruína de uma pequena
por essas relações inventivas de casa velha de quatro cômodos ocupada
comunicação entre as crianças e o pelo reinadinho há três anos e localizada
sagrado, o que escapou dos meus planos na conhecida “Rua da Favela”.
iniciais e redirecionou o constructo Orientadas pelo capitão mor, elas
metodológico da pesquisa. Juntamente capinam periodicamente a “mata” que
com a vastidão de formas, cores e cresce no lote, como gostam de chamar o
texturas das artesanias infantis do entorno da construção. Pintaram as
sagrado, não pude deixar de considerar o paredes internas da casa de azul,
cenário assombroso e assombrado de consertaram o telhado, fizeram os
uma realidade social e política que é móveis (mesas, sofás, cadeiras) com
fruto, em todos os sentidos, das relações diferentes materiais que encontraram no
escravocratas de expropriação dos lixo, em casa e nos arredores.
corpos, subjetividades e saberes negros, Desenvolveram pela casa uma relação de
que se atualizam em novos formatos de afeto, cuidado e respeito.
miséria, violência, marginalidade e É preciso descer um barranco de terra e
racismo. passar por uma pequena trilha aberta
É importante, destarte, trazer as pelas crianças para chegar até a
singularidades de um ser criança construção. O primeiro ponto de força
profundamente ligado à comunidade basilar da estrutura da casinha enquanto

9
Esse foi o modo como uma das crianças me a gente tem cruzeiro, tem santo, tem tudo. Aqui
apresentou a sede do reinadinho. Ela disse: “Aqui tem mata, aqui tem tudo. Tudo, tudo, tudo.”

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sede de Reinado é o cruzeiro das almas. contas. A base é de tijolos e pedras, com
A cruz é feita de dois pedaços finos de um pequeno espaço para colocar a vela e
madeira, ligados por um cordão de o café destinados aos pretos velhos.

Figura 1: Entrada da sede do reinadinho pela lateral da casa. (Foto da autora)

A sala principal da casinha, que conta estão a casa de preto-velho e a firmeza


com telhado restaurado pelas crianças, para Cosme e Damião. É também onde
abriga o altar (que está sempre sendo repousam os bastões e chapéus sagrados,
rearranjado, recomposto), um sofá as guias de contas, os objetos ligados aos
improvisado com cadeiras quebradas mi’nkisi (como a flecha de Mutakalambô
cobertas por almofadas e colchões. Ali é e o leque de Matamba) bem como o boi
o Reino, como na sede oficial dos das crianças feito de papelão. O pequeno
adultos, o ponto de onde parte e para ambiente, separado do Reino por uma
onde retorna a guarda, principal lugar de cortina, conta com uma atmosfera
concentração para oração e reunião de própria, caracterizada pelo clima dos
organização da festa das crianças dentro bastidores de produção do culto, espécie
do imóvel. Atrás do Reino, onde antes de cozinha do sagrado, por onde passa o
teria sido um pequeno banheiro, fica o segredo.
que elas chamam de “camarinha” ou Diversos elementos são fixados nas
“centro”. Lá elas construíram uma mesa paredes da sede, como correntes,
que ampara diferentes materiais usados desenhos, rosários, penas, conchas,
nos cultos que realizam (velas, pedras. Dentre eles, há muitas folhas –
defumadores, incensos, folhetos, colares, verdes e secas -, nos umbrais das portas,
cachimbos). É o cômodo dos entre os cômodos e em contato com
assentamentos, das magias de imagens de santos, bandeiras, ao lado de
fundamento do reinadinho – entre elas,

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rosários e nos assentamentos das nos contextos da umbanda, do
entidades e mi’nkisi. Há uma afeição candomblé e do Reinado, é colocado em
especial pelo universo vegetal, respeito e prática, movimento e invenção a favor da
cuidado ritual advindos, em boa parte, da experiência de templo que as crianças
experiência de candomblé angola das desenvolvem na sede. Elas
crianças e adolescentes. Há também consubstanciam ali, dessa forma, uma
pedras e conchas em diferentes locais, estética híbrida, que conjuga
como em cantos de cômodos, altares, singularmente disposições espaciais e de
bandeiras (trabalhados em bordado, por objetos presentes em igrejas católicas,
exemplo) e nos móveis arquitetados e terreiros e guarda de Reinado, de
construídos por elas. O conhecimento umbanda e candomblé, tendo como
das ervas, pedras e outros elementos principal referência de organização as
recolhidos na natureza que as crianças cosmologias de matriz africana.
aprendem na relação com os mais velhos

Figura 2 Altar das crianças em detalhe. (Foto da autora)

No centro do peito de K. (menino,13 Contava-me também os seus sonhos,


anos), luzia um pentagrama prateado. principalmente com entidades e orixás,
Ele gostava muito do colar improvisado em detalhes. “A Oxum brilhava na beira
com um barbante escuro, amarrado na nas águas, tinha cabelos longos e um
parte de trás do pescoço, sustentando o colar de ouro, era toda dourada...”; “a
único pingente redondo. Em especial, cigana me deu um cristal lilás”;
aquela criança por diversas vezes me “encontrei uma concha na praia, no meio
presenteou com pulseiras e gargantilhas das pedras”; “a gargalhada de um
feitas de restos de velhas bijuterias, malandro me arrepiou, bem em uma
acopladas a pedras, sementes e plantas. encruzilhada”. Sempre sonhos com

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paisagens multiformes e coloridas, pagãos e panteístas de Alberto Caeiro,
densas em camadas de acontecimentos defensor ferrenho da natureza
cósmicos. Sempre muita gente, quase emancipada das projeções humanas.
nunca gente humana. Era gente-pedra, Como tantos outros alquimistas da
gente-ouro, gente-concha, gente-arco- palavra, Barros e Caeiro – heterônimo do
íris, gente-cachorro, gente-flor, bruxo Pessoa - mergulham na fonte
divindades. telúrica do que é simples e imediato,
encharcando os versos de experiência,
Ver mais tarde o mesmo pentagrama no
nos devolvendo aos bichos, conchas,
centro do cruzeiro das almas, na entrada
pedras, rios, mares, astros, cacos, restos,
da casinha, me surpreendeu. Como pode
gambiarras, ao universo de coisas
um objeto tão especial para a criança ser
miúdas e graúdas que nos espreitam.
tranquilamente transportado para um
Criativas, íntimas do vir-a-ser das coisas,
espaço de devoção coletiva? Pergunta de
fazedoras de magia, as crianças podem
quem não acessou a dimensão da vida
sacralizar os objetos e momentos, podem
das coisas, por certo. É um caminho
perfurar a falta de sensibilidade de um
pensar que o pentagrama e a cruz se
certo mundo adulto que se quer único –
encontraram por vontade própria, sentida
desencantado, colonizado, capitalista.
e manifesta no gesto do menino. Por ser
tão querido, o pingente foi colocado no “Tem espírito aí!”
ponto de intersecção - o foco da cruz -, Dei Salve Maria e entrei na sede das
território entremundos direcionador das crianças. Do quartinho escutei uma voz
almas nos dias de festa. Um encontro de rouca. J. (menina, 16 anos) falou
materiais vibrantes em afeto cardíaco, de preocupada: “tem um trem aí... baixou
pulsação e circulação de fluxos, aí... Coisa de entidade”. Pedi licença e
bombeamento de energia vital – ngunzo, cheguei na porta. Vi H. (menino, 14
na tradição angola – para todas as partes anos) sem camisa, com uma boina preta
do corpo e do templo das crianças, em na cabeça, guia cruzada no peito, olhos
evidente contiguidade. Pelo pentagrama fechados e levemente encurvado. Estava
da criança, alcançamos o cruzeiro das incorporado. L. (menino, 15 anos), que
almas como um coração, uma ria da situação com certo ar de medo,
encruzilhada de alternância entre vida e batia num galão de plástico aos modos
morte, que regula e mantém aquecido o do atabaque. Pedi a bênção à entidade,
motor de transformação do trabalho que pegou na minha mão e me
espiritual das crianças. Atuam objetos cumprimentou. L. perguntou quem
em complexos arranjos móveis por todo estava ali entre nós. O espírito respondeu
o templo das crianças, passando dos que era um exu-mirim. Pediu para L.
corpos ao espaço e vice-versa, tocar uma zuela que o levasse embora.
carregados de desejo e agência. Sentei na sala com as outras crianças.
“Com certeza, a liberdade e a poesia a Estavam todas um pouco assustadas.
gente aprende com as crianças” Alguns diziam que era mentira, que H.
(BARROS, 1999, s/p). Bamboleio da estava imitando as entidades. Já eu tive
infância, esse de deixar-se participar, ser certeza: era viração.
afetado e transformados nas relações, O som do galão-atabaque foi ficando
honrando as coisas em sua coisidade, mais forte, mais rápido. Veio a risada de
longe do vício antropocêntrico. É a graça um espírito de criança que chegava pelo
do gosto pela “alma que está feita com o corpo de H.. Faísca batia palmas e os
corpo” (PESSOA, 2006), nos versos meninos que estavam ao meu lado me

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contaram das façanhas do kambureko. florido na cabeça, na frente de uma casa.
“Tem dia que ele vem e puxa o cabelo de “Quem é ela?”, eu pergunto. “Essa é a
todo mundo, come terra e sai pela rua vovó Chiquita. Está na frente da paioça
correndo!” Perguntei se Faísca vinha dela, esperando o vô Benedito.” “E onde
muito, eles responderam que não. Ele sai ele está?”. Faísca balança a cabeça e abre
do quartinho andando agachado, ainda mais o sorriso, mostrando os
segurando uma imagem pequenina de dentes e continuando o desenho. “Ele
Cosme e Damião. “Oi gente! Eu quero está na mata. Vovô adora a mata!”
saber o nome d’ocês! Qual o seu nome? Eu perguntei para Faísca onde ele
E o seu? E o seu? E o seu?”. Quando gostava de ficar, no que ele pegou o lápis
chegou na minha vez, Faísca me pediu a de escrever e fez uma cruz e depois outra,
benção. “A bença, tia!”. Ele sentou no ambas com um rosário no centro.
meio da sala, no chão, onde C. (menino, Rabiscou com rapidez uma grama verde
12 anos) desenhava uma pomba-gira com a caneta e me contou que ali era o
vestida de preto e vermelho com uma cruzeiro onde permanecia. Que ali
taça na mão esquerda e na outra uma rosa estavam muitas, muitas almas, e os
vermelha. Era a Sete Saias, senhora vovôs e vovós também. Pedi para ele
amada por todos, que vinha na matéria falar das almas. “Aqui tem todo tipo de
do pai-de-santo Pedro. Faísca gostou do alma, até aquelas que precisa de
desenho e pediu para fazer também. Eu salvação. A vovó reza muito por elas.”
mostrei para ele os papeis e os lápis de Os outros meninos prestavam atenção.
cor. “Vou desenhar essa menina!” Ele continuou: “Atrás do cruzeiro tem
Apontou para a K. (menina, 7 anos). “E uma cachoeira da mamãe Oxum. E aqui
erê desenha?”, perguntou L., rindo. no lado uma pedra grande, uma casinha,
Faísca traçou um círculo, que formou a onde fica o vovô.” Aceno que estou
cabeça com olhos bem redondos e entendendo com um meneio de cabeça e
sorriso aberto. O corpo da menina fez continuo a conversa: “E você pode
com uma única linha, que ramificou chegar aí?”. Ele nega: “Não, eu não vou.
braços e pernas. O especial veio das Eu fico esperando os vovôs aqui do lado
marias chiquinhas volumosas que saíam do cruzeiro, neste toco aqui” [desenha
das laterais da cabeça. “Olha lá, parece um menino sentado ao lado da cruz]. Eu
que tomou um choque!”, comentou J. às pergunto se tem caboclo por aí, seguindo
gargalhadas. K. colou as mãos nos minha intuição.
cabelos arrepiados e riu também. Abaixo
da figura, Faísca escreveu “MININA”. “Ah, aqui atrás, em cima, tem uma
floresta, cheia de árvores. [Enquanto fala
Aproveitei para conversar com ele. vai traçando]. As árvores têm uns panos
“Você costuma vir no reinadinho?”. Ele amarrados, uns panos coloridos. E fica
balança a cabeça com vontade: “venho um povo batendo tambor e fazendo
tia, fico aqui. Danço com eles. Acho assim [faz gesto de bater na boca e emitir
muito bonito!”. “E os vovôs e as vovós, um som agudo, comumente relacionado
vem também?”, faço referência aos aos indígenas]. É a terra de Oxóssi. E
pretos e pretas velhas. “Eles tá tudo aqui! aqui em cima [desenha um círculo na
Tem uma vovó do seu lado, outra do lado parte alta e direita da paisagem, nesta
dele, uma atrás dela...”. “Uai, desenha hora achei que seria o sol], aqui está
pra gente então!” Proponho. Vai Oxalá, que é o pai dos pretos-velhos!”.
surgindo na folha a silhueta de uma Eu me lembro que tenho uma sacola
senhorinha (que parece uma vovó e ao cheia de pé de moleque na mochila e
mesmo tempo uma menina), de chapéu

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ofereço a ele e às outras crianças. Coloco
um pedaço no altar, de frente para a
imagem em miniatura de Cosme e
Damião. Ele se despede e vai embora.

Figura 3 Criança do reinadinho em momento de brincadeira na oficina de desenho. (Foto da autora)

Os espíritos e as divindades se para si a presença em terra através dos


manifestaram desde o primeiro instante corpos disponíveis. Enquanto falam em
que pisei em Oliveira. Muitos, espíritos, os olhos das crianças emitem
diferentes, de várias origens e com um brilho diferente, as palavras ganham
diversos estilos performáticos e ênfase afetiva, surgem expressões
compleições emocionais, os seres do imantadas de mistério, espanto e certo
lado de lá, como dizem os reinadeiros, medo – como “oua”, “creio em Deus pai”
não se furtam a capturar os corpos dos e “cruz credo”. Senti com elas o apreço,
vivos em intensos e inesperados transes. respeito e maravilhamento pelos agentes
Nos banheiros, nas salas e quartos da espirituais que, a qualquer momento,
sede dos Leonídios e das crianças, nos podem surgir e tomar a dianteira do
quintais, nas ruas, em qualquer ambiente, processo, explícita ou implicitamente,
as pessoas consideradas médiuns, aproveitando das inúmeras brechas entre
muzenzas ou girantes, podem “virar na mundos percebidas e instauradas pelas
entidade”, serem arrebatadas pelas crianças.
forças bruscas de espíritos que tomam

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Repovoamento cósmico e necrópole em transe - trajetos de cura

Figura 4 Vela acesa em arranjo improvisado pelas crianças. (Foto da autora)

Perspectivadas pelas coisas, como imediatamente dado, a fim de


acontecimentos, imagens, pelos espíritos experimentar o contato com os outros
e divindades (e por outras tantas agências lados de coisas que não sentimos
insondáveis) as crianças são abertas, diretamente, com os aspectos ocultos ou
desdobradas em experiências de invisíveis do sensível”, (STENGERS,
encontro transformador. Ao passo que 2017, p. 13), como defende o mago
elaboram agenciamentos, instauram David Abraham, com quem Isabelle
cosmicidade. As crianças estão atuando, Stengers se alia a favor de uma
junto aos materiais, no mundo das coisas, reativação do animismo como
estão instaurando um encontro modalidade de resistência política
transversal de universos, deslocando o contemporânea.
centro de gravidade das existências. Eis Reativar significa reativar aquilo de
a perspicácia da criança: dispor, que fomos separados, mas não no
organizar, conectar as coisas em uma sentido de que possamos
rede de relações, formando uma unidade simplesmente reavê-lo. Recuperar
sistemática, compondo uma história que significa recuperar a partir da
as liga em numa arquitetura cheia de própria separação, regenerando o
virtualidades invisíveis aos olhos dos que a separação em si envenenou.
adultos distraídos. A perspectiva da Assim, a necessidade de lutar e a
criança “vê pelo sentimento” a vida das necessidade de curar, de modo a
coisas e as manipula magicamente. evitar que nos assemelhemos
àqueles contra os quais temos de
Assim também faz o feiticeiro e a bruxa lutar, tornam-se irremediavelmente
que “se lançam além do que se apresenta aliadas. (STENGERS, 2017, p. 8)

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É preciso, nesse ponto, trazer à tona as psíquicas e espirituais do sujeito negro.
especificidades e críticas de uma Se para a psicologia ocidental branca a
compreensão afrocentrada das possessão é uma espécie de anomalia
subjetividades em constituição nas redes psiquiátrica, forma de histeria ou ilusão,
de relações colonialistas e racistas que nas cosmologias africanas trata-se da
vigoram até hoje. Franz Fanon (1980), a maior expressão de resgate do auto-
partir de sua experiência como amor, cuja potência de aquilombamento
psiquiatra, militante político ativista na e descolonização do inconsciente
luta de libertação argelina e intelectual (VEIGA, 2018) muito incomoda ao
negro com formação na Europa, já colonizador.
ressaltou os perversos mecanismos O transe místico representa
coloniais de adoecimento psíquico das oportunidades nas quais diferentes
pessoas negras. concentrações de energia
Desde a mais tenra infância, a criança (ancestrais, orixás, e assim por
diante) se manifestam e, assim
negra é colocada diante de relações
fazendo, partilham e participam da
sociais que a inferiorizam e a comunidade humana. A chamada
desautorizam enquanto agente implicada possessão, ou transe espiritual, é
em dinâmicas afetivas de troca e mais bem compreendida como uma
reciprocidade. Os estragos estruturais reunião, uma reconexão ou
operados pela escravização nas concretização do axé de diferentes
subjetividades das pessoas negras domínios da realidade.
desencadeiam efeitos de negação de si Consideremos o perigo representado
que colocam o colonizado numa posição (na visão dos portugueses) por
neurótica, num confronto psíquico centenas de quilombos em que
contra si próprio e como consequência africanos viviam esse encontro com
espíritos conscientes e cognoscíveis.
nasce nele um “complexo de
(NOBLES, 2009, p. 296).
inferioridade” constantemente
apropriado e alimentado pelas forças O encontro com os mortos via transe é
coloniais. Tal complexo, na medida em fundamental para a provocação de uma
que há uma grande divergência entre o revolta vitalizadora da vasta necrópole
universo infantil das referências colonial, poço sem fundo de ossadas
familiares negras e o universo público, humanas (MBEMBE, 2018). Ao mesmo
começa na infância. tempo é caminho para elaboração
subjetiva e coletiva dos traumas
A colonização instaura uma fissura
específicos de ser negro no Brasil através
psíquica: o descentramento primordial
de uma psicologia afrocentrada
entre o eu e o sujeito no cerne da pessoa
(NOBLES, 2009; VEIGA, 2018). Trata-
colonizada. A violência colonial assim
se da constituição de uma comunidade
também se faz intrusa no campo do
negra intermundos, que reconecta
inconsciente, na economia do desejo das
vínculos rompidos pela diáspora
subjetividades subalternizadas pelo
escravocrata cruzando o plano dos vivos
racismo. Os efeitos de auto-ódio são
e dos mortos, e permite, assim, a
marca desse desmembramento do sujeito
circulação de saberes e afetos pelas
pela qual o eu autêntico teria tornado um
linhagens de matriz africanas no Brasil.
outro (MBEMBE, 2018, p. 188).
Pela experiência do transe abre-se um
Na psicologia afrocentrada, o transe
portal temporal por onde retorna, transita
ocupa um lugar central nos processos
e se multiplica uma série de relações,
terapêuticos de costura das rupturas

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conhecimentos, técnicas, sentimentos e Horizonte: Mazza Edições, 1997.
emoções fundadas em um passado MBEMBE, Achille. Crítica da razão negra.
recontado e reescrito nos cantos, danças Tradução de Sebastião Nascimento. São Paulo:
e toques do Reinado. Memória elaborada n-1 edições, 2018
via corpo. As crianças são campo NOBLES, Wade. Sakhu Sheti: retomando e
sensível a essas presenças e lastros reapropriando um foco psicológico afrocentrado.
experienciais de dor e sofrimento Afrocentricidade: uma abordagem
epistemológica inovadora. São Paulo: Selo
advindos das atrocidades escravagistas Negro, p. 277-297, 2009.
que se perpetuam em agudos riscos
sociais por elas vivenciados, ao passo PESSOA, Fernando Antonio Nogueira. Poemas
completos de Alberto Caeiro. Coleção a obra
que consubstanciam, na ponta da cadeia prima de cada autor. São Paulo: Martin Claret,
da ancestralidade, as possibilidades de 2006.
sua atualização e transformação. RUBIÃO, Fernanda Pires. Os negros do
rosário: memórias, identidades e tradições no
congado de Oliveira (1950-2009). Dissertação
Referências (Mestrado em História Social) - Instituto de
ALTIVO, Bárbara Regina. “Rosário dos Ciências Humanas e Filosofia da Universidade
kamburekos: espirais de cura da ferida colonial Federal Fluminense, Niterói, 2010. Disponível
pelas crianças negras no reinadinho (Oliveira - em:
MG)”. Tese de doutorado defendida no Programa http://portal.iphan.gov.br/uploads/ckfinder/arqui
de Pós-Graduação em Comunicação Social da vos/Os%20negros%20do%20ros%C3%A1rio.p
UFMG. Belo Horizonte, 2019. df. Acesso em: 25 mai. 2019.

BARROS, Manoel. O menino que carregava SOARES, Dalva Maria. 2016. “Muita religião
água na peneira. Exercícios de ser seu moço!” Os caminhos de uma congadeira”.
Tese de doutorado defendida no Programa de
criança. Rio de Janeiro: Salamandra, 1999. Pós-Graduação em Antropologia da UFSC;
DAS NEVES, Maria de Fátima Rodrigues. A Florianópolis, 2016.
família escrava brasileira no século XIX. STENGERS, Isabelle. Reativar o animismo.
Journal of Human Growth and Development, Tradução Jamille Pinheiro Dias. Belo Horizonte:
v. 4, n. 1, 1994. Chão de Feira, 2017. (Caderno de Leituras n.
FANON, Frantz. Pele negra, máscaras 62)
brancas. Rio de Janeiro: Fator, 1980. VEIGA, Lucas. As diásporas da bixa preta: sobre
FONSECA, Gonzaga L. História de Oliveira. ser negro e gay no Brasil. Tabuleiro de Letras,
BH: Ed. Bernardo Alves, 1961. v. 12, n. 1, p. 77-88, 2018.

MARTINS, Leda Maria. Afrografias da


memória. São Paulo: Perspectiva; Belo Recebido em 2020-06-01
Publicado em 2020-11-13

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