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Universidade Rovuma

Faculdade de Educação e Psicologia


Curso de Psicologia Educacional 4° ano
Cadeira de Etnopsicologia
Altino Rolinho José Quelimane
Amarildo Benjamim Victor Valane
Isabel Januário Raimundo Matola Docente: MA. Sérgio Salatiel Huó

Traços Étnicos e comportamentais em Moçambique


1. Introdução
O presente trabalho, visa abordar etnologia do povo Moçambicano em geral e particularmente
do povo Macua. Visto que apartar da etnografia, a etnologia estuda todos os factos
documentados no sentido antropológico cultural e social, isto é, compara as culturas estudadas
pela etnografia. Basicamente, a etnologia era compreendida como o estudo das sociedades
primitivas; actualmente é considerada um estudo das características de uma etnia (grupos
humanos), falaremos das suas práticas culturais, sua organização social.

1.1. Cultura
Segundo Tylor, Pai da Antropologia Moderna (1871) Cultura – conjunto complexo que
envolve conhecimentos, crenças, arte, moral, leis, costumes e varias outras aptidões e hábitos
adquiridos pelo homem como membro de uma sociedade;
1.2. Povo
Conjunto de cidadãos de um pais ou seja, as pessoas que estão vinculadas a um determinado
regime jurídico, a um estado.
1.3. Etnia
Refere-se a um grupo de pessoas que consideram ter um ancestral comum e compartilham da
mesma língua, da mesma religião, da mesma cultura, das tradições e visão de mundo, do
mesmo território ou das mesmas condições históricas.
Actualmente o conceito de etnia estende-se a todas as minorias que mantêm modos de ser
distintos e formações que se distinguem da cultura dominante. Assim, os pertencentes a uma
etnia partilham da mesma visão de mundo, de uma organização social própria e apresentam
manifestações culturais que lhe são características (CASHMORE, 2000).
2. Conceitualização do povo Macua
2.1. Localização Geográfica dos Macuas

De acordo com MARTINEZ (2008:37) o povo Macua actualmente vive numa área de cerca
de 300.000km² a norte de Moçambique, que abrange as províncias de Cabo Delgado, Niassa,
Nampula e Zambézia, na Região conhecida tradicionalmente pelo nome de Macua ou WA-
AMPHULA, é delimitada a norte pelo rio Rovuma a leste pelo Oceano Índico ao sul pelo rio
Licungo nas proximidades do rio Zambeze, e a oeste pelo rio Lugenda.

Os Macua têm fronteira á norte com os macondes, os yaos e os Anynjas; ao sul com os senas
e os chuabos; e com grupos islamizados, no litoral Índico.

As fontes referem que devido a migrações existem Macuas, embora em número mais reduzido
do que em Moçambique, na Tanzânia e no Malawi e ainda em Madagáscar, nas ilhas
Seycheles e nas Maurícias, devido ao comércio de escravos nos séculos XVIII-XIX. O grupo
étnico Macua é considerado o mais representativo da província de Nampula, região conhecida
tradicionalmente por “macuana”.

2.2. A Expansão do povo Macua

Com a multiplicação do povo Macua, descobriram novas terras até que um dia a beira dum
grande rio, o Malema, que corre na região. Quiseram atravessa-lo e, para isso tiveram de
construir uma ponte rudimentar usando cascas de arvores para fazerem as cordas, que
serviram para o efeito preparada a ponte de cordas começaram, a passar todos os homens e
mulheres que podiam, animando se mutuamente. Porém, quando jamais de metade de grupo
tinha atravessado para outro lado do rio, as cordas não resistiram, cederam e, num abrir e
fechar do olho, a ponte ruiu, caindo também algumas pessoas no rio.

Aqueles que ainda não tinham atravessado o rio, assustados com o facto não quiseram
reconstruir a ponte, pois, para além do trabalho enorme necessário para o fazer, pensaram que
o aconteceria, tinha também outras causas mais profundas, motivo pelo qual tiveram medo e
decidiram ficar cada qual onde estava. O povo Macua é formado por vários grupos, sendo os
mais importantes:

• Grupo Macua do interior ou EMAKHUWA: nos distritos de Mucuburi, Muecate;


Meconta, Murupula, Mogovalas, Ribabwe e Lalawa, na província de Nampula; Mecanhelas,
Cuamba, Maua, Nipepe e Metarica, na província de Niassa e Pebane, na província de
Zambézia;

• Grupo Macua-neto ou EMEETTO: nos distritos de Montepuez, Balana, Namumo, Pemba,


Ancuabe, Quissanga, Meluco, Macomia e Mocímboa da Praia, na província de Cabo de
Delgado; e nos distritos de Marrupa e Maua na província de Niassa;

• Grupo Macua-lomwe ou ELOMWE: nos distritos de Gurué, Gilé, Alto Molocué e Ile na
província da Zambézia; nos distritos de Malema, Ribaué, Murupula e Moma na província de
Nampula; e Mecanhela na província de Niassa.

Há outros grupos mais pequenos sob divisões dos anteriores, como por exemplo:

• Grupo de Rovuma, perto da fronteira com a Tanzânia na província de Cabo Delgado;

• Grupo Chaca ou ESAAKA, nos distritos de Chiure e Mecufe, na província de cabo


delgado;e nos distritos de Erati, na Caroa e Memba na província de Nampula;

• Grupo Xirima ou EXIRIMA, nos distritos de Cuamba, Metarica e parte de Maua na


província de Niassa e zonas fronteiras de Nampula;

• Grupo Macua do litoral: EMAREVONE, em Mongicual, e Moma, na província de


Nampula; ESANKACI, e Angoche, na província de Nampula; e ENAHARA, em Mossuril,
Iha de Moçambique, Nacala-porto, Nacala-velha e Memba.

Todos estes grupos e sob grupos que formam o povo macua, pode afirmar-se que existe uma
unidade fundamental, com base nos seguintes factores:

Unidade original: as tradições que transmitem o mito sobre a origem do mundo e do homem,
recolhidos nos vários estudos feitos sobre os macuas nos últimos anos referenciam-se a
unidade original dos macuas, presente no mito do monte Namule, comum a todos os grupos.
todos os macuas se referem ao monte Namule como o centro e o lugar originário primordial.

Unidade Linguística: entre os vários grupos macuas, há sem dúvidas, diferenças dialectais,
mas todos os dialectos pertencem, como ramos de uma árvore, a mesma língua macua. Prova
desta unidade linguística são os nomes das pessoas, dos montes, dos rios, muitos deles
derivados de nomes de animais e plantas e toda a toponímia fundamental em todos estes
nomes.
2.3. Papéis de Género

Tradições específicas e normas consuetudinárias variam de uma região para outra. Apesar
desta variedade, a característica comum é a preponderância das relações de género de tipo
patriarcal, as quais restringem o acesso da mulher aos direitos de uso da terra e seus
benefícios, ao trabalho e aos recursos naturais na vida comunitária e privada. De facto, mesmo
nas sociedades matrilineares, as mulheres gozam dos direitos através dos seus parentes do
sexo masculino, nomeadamente irmãos ou tios maternos.

Nas províncias do Norte, como Nampula e Niassa, onde os principais grupos étnicos são
constituídos pelos Macua, Nyanja, Maconde e Kimwane e onde predominam as religiões
Católica e Muçulmana, a principal unidade social é a família matrilinear alargada. Nesse
contexto, o tio materno, conhecido como mwene, é o chefe da família matrilinear e do
agregado e é quem administra as terras da linhagem. A mulher, a irmã ou a sobrinha,
pyamwene, não se reveste nenhum papel senão o de ser uma ligação com a linhagem
ancestral.

A poligamia é largamente praticada, especialmente entre a vasta população muçulmana.

Os papéis relativos ao género são perpetuados através dos ritos de iniciação, os quais, de
acordo com a tradição, representam a passagem da adolescência para a idade adulta.
Efectivamente, os ritos de iniciação para raparigas são considerados como as formas mais
válidas de educação porque preparam as jovens ao seu papel de esposas e mães. Como
resultado desta situação, as jovens raparigas são forçadas ao abandono escolar e ao casamento
precoce. Os casamentos precoces continuam frequentes nas áreas rurais.

3. Conclusão
Durante a concretização do trabalho acabamos por perceber que o povo macua, tem uma
cultura diversificada e de longa data. É uma das culturas que, pouco foram influenciadas pela
presença colonial em Moçambique. Os Makhuwa, por vezes considerados como duas
entidades diferentes, constituem a etnia de Moçambique dispersa por um vasto território que
no passado se estendia, do rio Zambeze ao rio Messalo, a Sul e Norte, respectivamente, do
Oceano Índico, a Este, até à actual fronteira com o Malawi, a Oeste;
Na actualidade, com o centro em Nampula, os Makhuwa-Lomwe espalham-se para partes das
províncias de Cabo Delgado, Niassa e Zambézia. Importantes agrupamentos Makhuwa
encontram-se também no Madagáscar, no sul da Tanzânia e no Malawi, também a sul. Os
Makhuwa reclamam, segundo a tradição, uma origem mítica comum, como comuns são
também a sua organização sociofamiliar e a língua que falam.

4. Bibliografia
Aguirre baztán, Ángel. (2004). A identidade étnica, Barcelona: RAD.
Cashmore, Ellis. (2000). Dicionário de Relações Étnicas e Raciais. São Paulo: Summus.
Martinez, Lerma. (2008). O Povo Macua e a Sua Cultura.2ª edição. Maputo: Editora Paulinas.

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