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Os 

ajauas  (WaYao, ou Yao) são um dos principais grupos étnicos e linguísticos do extremo sul
do lago Niassa, que desempenharam papel importante na história da África Oriental durante os anos
1800. Falam a língua ajaua (ou Yao). Os ajauas são predominantemente grupo de
povos muçulmanos com cerca de dois milhões de falantes espalhados por três
países, Moçambique , Malawi e Tanzânia. O povo ajaua tem forte identidade cultural que transcende
fronteiras nacionais.

De acordo com Manuel Gomes da Gama AMARAL, na sua obra intitulada “O povo Yao (Mtundu
Wayao): subsídios para o estudo de um povo do noroeste de Moçambique”, os Yao são um povo
Bantu que se fixou na região entre Rovuma e Lugenda.
Persiste neles, ainda de acordo com Amaral, a tradição, também comum a muitos povos desta parte
do continente, de filiarem a sua origem num acidente geográfico, normalmente uma montanha ou
cadeia de montanhas. Os Yao fixam a sua origem no monte Yao, situado a sul do Rovuma.
Não têm a menor ideia da data provável dessa origem nem das circunstâncias que a determinaram;
basta-lhes saber que são oriundos do monte Yao o que os satisfaz e enche de orgulho. Quando se
pergunta a um notável Yao em que época teve início o seu povo no monte Yao, responde apenas:
"Ciikala ca pasi mnope", isto é, "em tempos pré-históricos", e muda de assunto, não manifestando a
mínima curiosidade, com o que, aliás, mostra sentido da realidade pois um povo cuja história assenta
apenas na tradição oral, não pode reter factos velhos de muitos séculos.

O r g a n i z a ç ã o S o c i a l
Os yao estavam organizados em muitos reinos como "Mwembe, Mtalica, Mataka,
Makanjila, Jalazi, Mponde, Caunga e Matipwiri. As linhagens orgulhavam-se localmente na base
de um grupo de irmãos, pois eram linhagens matrilineares chamados Mbumba, de suas filhas casadas
sobre chefia de um irmão mais velho. Este irmão mais velho era designado Asyene Mbumba
(guardião da linhagem).

Para o exercício do cargo manadava a sua residência e das suas mulheres para aldeia do grupo
sororal.
Os maridos continuavam ligados por fortes acções de parentesco ao seu próprio grupo, para junto do
qual viajavam com frequência. O mesmo acontecia com os irmãos casados que viviam longe.
Uma das estratégias políticas dos ASYENE Mbumba, consistia em atrair para as suas unidades
residenciais dos parentesco aliados.
O poder político do povo Yao, sucedia-se pelo número de pessoas que controlavam. O poder dos
chefes eram nos séculos XVII e XVIII muito limitado e não conseguiam romper definitivamente
com as estruturas familiares. Dai a tendência a fragmentação e reconstituição de pequenas unidades
familiares independentes, manteve-se ate ao século XIX. Com o desenvolvimento do comércio de
marfim no século XVIII, do comércio de escravos no século XIX, com as transformações
económicas, políticas e familiares ocorridas, permitiram o aparecimento de Estados centralizados e
fortaleceu o poder dos chefes.
Os chefes territoriais deixaram de ser apenas os guardiões das pequenas unidades familiares e
passaram a comandar parentes, aliados, clientes e escravos. As fronteiras territoriais eram definidas
pelo raio de acção militar e poder funda-se na for nos termos ideológicos.
Os grandes Estados Yao eram os das dinastias Mataka, Mtalica, Macanjila e Jalas.

Organização política administrativa


O Estado Mataka e dos outros Estados Yao tinham uma organização político-administrativa bastante
complexa. A capital do Estado funcionava como centro do poder político. O aparelho administrativo
estava nas mãos dos homens da linhagem reinante, segundo a respectiva posição no sistema de
parentesco. Todos aqueles que podiam rivalizar no acesso aos principais cargos do poder central
eram afastados para os distritos distantes da capital.
Estas regiões eram relativamente autónomas e serviam de tampões a eventuais invasores militares,
nestes territórios administrativos existiam chefes regionais (Jumbas) e a nível das aldeias eram os
chefes das linhagens (Senhoras de Terra) que detinham o poder. O Chefe da povoação era o Mwene
Muzi, o chefe do distrito era o Mwene, mas também este passou a usar o título honorífico de
"Sultão" com a islamização dos Yao.
A imitação dos árabes, os chefes yao usava o "Kofió" e a caboia (kanzu) que pelas cores garridas os
distinguiam os homens do comum. As mulheres do Mwene vestiam de modo diferente das outras,
quem se metesse com elas, era pena de morte certa. As pessoas comum nem sequer falar com elas,
era perigoso.
A autoridade e o poder quer o regulo tinha dava-lhe também o direito a dispor de 30 ou mais
mulheres numa só povoação. Estas mulheres viviam numa espécie de "Harém", num cercado onde
havia algumas palhotas. Ninguém podia aproximar-se a este lugar. O tributo era pago aos chefes
menores e depois era transferido em cadeia ate ao riqueza, significava também obediência e
submissão dos seus súbditos.
A nível do poder central existiam um chefe do comercio que controlava as caravanas, um chefe
militar que organizava a defesa e a expedições de razia ou punitivas e um chefe da justiça, os cabos
de guerra eram designados pelo titulo honoroso de "Nduna" palavra nguni, isto por influencia dos
guerreiros Angoni. os chefes dos Ndunas usavam como distintivos um pano encalpado em volta da
cabeça. Todos eles levavam ao pescoço ou em volta do braço colares que seguravam envolvidos em
panos brancos, pequenos remédios e amuletos que o curandeiro tinha fornecedo.
A todos eles e ao Mwenye era de devida a obediência mais absoluta. Quem não cumprisse esta regra
era expulso da hostes guerreiras e obrigado a regressar aa própria povoacao onde por toda a vida
haveria de sofrer o despreso de todos, perdendo o direito de participar nas reuniões. Quase sempre
era ensultado, batido, maltratado e considerado como mulher ou escravo. Os fugitivos eram
condenados aa pena capital. O Mwenye devia assistir a batalha fixando a própria residência no
acampamento principal. Como vestimenta própria vestia uma especiede batina preta, longa e
ricamente bordada.
Quando uma linhagem reinante duma povoacao não existia um herdeiro varão iam geralmente
busca-lo (procura-lo) aa mesma linhagem numa outra povoacao.
As povoacoes eram aglomerados urbanos muito povoados, urbanisticamente bem organizados e com
um traçado geométrico das suas ruas e uma dsiposicao alinhada das casas. Para o controlo sanitário e
distribuicao da agua existiam em Mwembe, por exemplo, diversos canais que atravessavam a
povoacao assim como um sistema rudimentar de esgotos.
No termo da guarnicao da Companhia do Niassa, em 1929, os principais Mwenyes Yao com o título
de "sultão" eram os seguintes:
 Kandulo, os montes Cimoso na região do Rovuma, entre o rio Lucilingo e o rio Luabala e
Luanga;
 Catur, em Lupalani, Lichinga, monte Liwone, entre o rio Liwisa e rio Alto Lugenda;
 Ciwaula, nas vizinhanças de Metonia;
 Mponda, na região norte do Lago;
 Makanjila, em frente a região central do Lago Niassa;
 Napulo, na região de Madimba e Cuamba.
Com as reformas administrativas que se seguiram no estado colonial todos estes chefes foram
transformados em régulos com jurisdição sobre os territórios menores. De todos eles, Catur
foi o que manteve um território e poder consideráveis.

Actividades económicas do povo yaho


Agricultura, Pesca e Caça
Antes das Grandes mudanças económicas e políticas surgidas durante os séculos XVII e
XIX com o comercio de marfim e dos escravos a sociedade Yao era
caracterizada por uma economia agricola dos cereais, onde as linhagens matrilineares (Mbumba)con
stituíam o Quadro da existência das unidades de produção.
a maior parte dos trabalhos agrícolas (sementes, sacha e colheita) eram feitos pelas mulheres e
filhos solteiros. Os homens adultos dedicavam-se a caça e a pesca em grande escala bem
como a metalurgia. a caça e a pesca não permitiam relações de produção duráveis mas
possibilitavam com o desenvolvimento do comercio de marfim a emergência de grandes
chefes caçadores cujo prestigio e poder se afirmaram mesmo para fora do parentesco linhageiro.

A Metalurgia
para alem da agricultura, da cacca e de pesca, os Yao de antes dos grandes Estados
desenvolveram o fabrico de instrumentos de ferro como enxadas, machados, armas, pois o metal
abundava no territ6rio. A tecnica metalurgica foi apropriada pelos A-chisi (ferreiros) que
constituiram um clã
e desenvolveram o comercio regional e a longa distancia tendo sido os pri
m e i r o s   a estabelecer contactos com a costa.

O comércio
o seculo XVI ao seculo XIX os Yao estabeleceram contactos comerciais com Quiloa, com
Zanzibar, Col Ibo e com a Iha de Moçambique para o interior com a margem ocidental do Lago
Niassa, com o Vumbo e com o Kazembe da Zambia. 
Nas viagens a Costa do Indico os Yao trocavam tabaco, artefactos de ferro, peles e marfim por
sal tecidos e missangas.
Uma parte destas mercadorias era utilizada para adquirir o gado nas terras a sul do Lago Niassa. Mas
socialmente as mercadorias serviam para consolidar o poder dos chefes caravaneiros dentro das
respectivas linhagens.
As  trocas  mercantis   com  a costa  incrementavam  uma  maior  divis ao  social  de
trabalho. Os Yao foram grandes fornecedores de escravos para os mercados de
Quelimane,Angoche, Mussuril, Ilha de Mocambique, Lurio, Quissanga, Ibo, Tungu e para
os mercados. Zanzibarila a norte de Rovuma como Kilwa, Zanzibar, Mikindani e outros.
Tornou-ee  neces sario  que  houvess em  grupos es pecializados  de caccadores  e no per
iodo de escravos, de caçadores de escravos. A partir dessa chefatura a organização do comercio a
longa distancia era feita pelo chefe do território. Era ele que acumulava as riquezas ,
que controlava e distribuía
os  produtos vindos da costa, o que lhe possibilitava estabelecer novas aliancas e angariar novos
clientes.
A partir de 1840/50 os grandes Estados Yao como Mataka, Mtalica, Manjila e Jalasi
tinham no comercio de escravos em Mocambique, como pilar da economia e fonte de sua dominacao
de classe. durante as trocas comerciais os Yao seguiram algumas rotas com o seguinte trajecto. uma
rota seguia-se em direccao do Vale do Zambeze particularmente Quelimane.
a segunda segfuia pelo vale do rio Lugenda ate a má confluencia com o Rovuma que depois
orientava-se em direcaoo ao litoral onde existiam dois entrepostos comerciais: Kilwa, Kirinje e
Kilwa Kisawani.
a segunda rota seguia pela Macua-Meto entre Namuno e Montepueuez que atingia
Quissanga e outros portos do litoral do Norte de Cabo Delgado.

DECADENCIA de império a Yao

Para a decadência deste Estado contribuiram entre outros, os seguintes factores:


a)      As lutas pelo controlo das rotas dos escravos entre os macuas e os ajaua;
b)      As invasões nguni;
As campanhas de pacificação levadas a cabo por portugueses (a Companhia do Niassa desempenhou
importante papel); britânicos e alemães.
O rei Mataka, foi convencido a converter ao cristianismo, o que teria um impacto económico
negativo sobre o seu povo. O sistema de dominação política e ritual dos chefes, implicava a
conversão de seu povo à sua mesma religião. No caso do Islão, que adoptaram, não terá sido um
islão ortodoxo, como encontrado alhures, no Irão, Iraque, Arábia Saudita, mas um sistema de
crenças muçulmanas misturado as suas tradicionais de animistas. Daqui resultou em algo muitas
vezes referido como "Folk Islam" (Islão popular ou folclórico
O Yao havia mudado o seu papel na sociedade local de comerciantes de escravos e proprietários de
escravos para trabalhadores agrícolas ao abrigo do Estado Português

MADEIRO, Eduardo da Conceição. História de Cabo Delgado e do Niassa  (c. 1836 – 1929),


Maputo, 1997
PEREIRA, Luis Filipe, at all, História da Minha pátria , 5ª Classe
INDE, Editora Escolar, 1986.
S ER RA , Carlos, His toria de Moçambique, vol I, Primeiras S ociedades S edentárias
e Impacto dos M ercadores (200/300-1886), Departamento de H is toria da U EM,
M aputo 1988

 Clyde Mitchell, The Yao Village: A Study in the Social Structure of a Malawian Tribe Manchester:
Manchester University Press, 1956, 1966, 1971.

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