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Índice

1. Introdução..............................................................................................................3
1.1. Objectivos...........................................................................................................3
1.2. Metodologia.....................................................................................................4
2. Civilizações do Sudão............................................................................................5
2.1. Gana.................................................................................................................5
2.1.1. Evolução politica.........................................................................................7
2.1.1.1. Organização política do império Gana.................................................7
2.1.2. Evolução económica....................................................................................8
2.1.3. Evolução social............................................................................................9
2.1.4. Evolução cultural.......................................................................................10
2.2. Mali................................................................................................................10
2.2.1. Evolução politica.......................................................................................12
2.2.2. Evolução económica..................................................................................12
2.2.3. Evolução social..........................................................................................13
2.2.4. Evolução cultural.......................................................................................14
2.3. Songai............................................................................................................14
2.3.1. Evolução politica.......................................................................................16
2.3.2. Evolução económica..................................................................................17
2.3.3. Evolução social..........................................................................................19
2.3.4. Evolução cultural.......................................................................................21
6. Conclusão.............................................................................................................23
7. Referencia Bibliográfica......................................................................................24
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1. Introdução

O presente trabalho da Cadeira de Historia de Africa do Século XV, debruçar-se-á


sobre a Evolução politica, económica, social e cultural das civilizações do Sudão.
Gana, Mali e Songai. Durante o período que chamamos de Idade Média (séculos V ao
IV poderosos Estados se desenvolveram na África Ocidental - e por sua enorme
riqueza, tornaram-se o principal eixo de comércio entre o mar Mediterrâneo e o
interior da África.

Embora se considere a África como o berço da humanidade, pouco se fala sobre sua
história. Uma visão negativa da África, criada para justificar o tráfico negreiro, fez
com que se estabelecessem preconceitos sobre esse continente e pouco, ou nada, se
ouve falar sobre as grandes civilizações que lá floresceram.

Algumas culturas africanas se desenvolveram e prosperaram a ponto de se tornarem


impérios e as civilizações desenvolvidas às margens dos rios Níger e Senegal,
conhecidas como Bilad Al Sudan (ou “terra dos negros”), tornaram-se muito ricas, em
decorrência de sua localização em importantes rotas comerciais e de suas enormes
reservas auríferas, mantendo comércio vigoroso com países islâmicos e com a Europa
por cerca de sete séculos, na Idade Média.

Por terem sido os árabes grandes comerciantes, foram também os grandes difusores
da história desses impérios e os responsáveis pelo conhecimento que hoje se tem
sobre eles. Esses impérios – Gana, Mali e Songai – são conhecidos como “reinos
sudaneses”, ou “impérios do Sudão Ocidental”

1.1. Objectivos

1.1.1. Geral
 Conhecer a evolução politica, económica, social e cultural das civilizações do
Sudão: Gana, Mali e Songai.
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1.1.2. Específicos
 Identificar as principais civilizações sudaneses;
 Descrever a evolução politica, económica, social e cultural do reino de Gana;
 Descrever a evolução politica, económica, social e cultural do reino de Mali;
 Descrever a evolução politica, económica, social e cultural do reino de Gana.

1.2. Metodologia

Na elaboração deste trabalho recorreu-se ao método bibliográfico que consistiu na


consulta de obras bibliográficas e internet, método descritivo que consistiu na
descrição de informações recolhidas nas diferentes obras onde cada autor está
devidamente referenciada no final do trabalho.
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2. Civilizações do Sudão

2.1. Gana

Gana foi o primeiro império do Sudão Ocidental de que se tem notícia. O geógrafo
árabe-andaluz Al Bakri deixou registrado em sua obra Book of Roads and Kingdoms
(Livro de Rotas e Reinos) muitos textos que tratam da grandeza do império Gana,
embora nunca tenha visitado a região.

O nome do império deriva de Ghana, que significa “chefe-de-guerra”, e foi,


inicialmente, a designação dada ao soberano desse povo. O império de Gana ocupava
uma grande extensão de terras que hoje corresponde à Mauritânia, ao sudeste do Mali
e ao norte do Senegal.

De acordo com Giordani (1985) segundo a tradição coletada no século XVII, Gana foi
governada por várias gerações berberes de raça branca até que, em 790, uma dinastia
negra foi fundada. Foi durante o reinado de três séculos dessa dinastia negra que Gana
atingiu seu apogeu.

De acordo com Lambert (2001) os povos da África Subsaariana produziam ouro em


grande quantidade, mas necessitavam de sal, que era produzido na África do Norte,
por sua vez, carente de ouro.

Gana se encontrava no meio desse caminho, em um ponto estratégico para servir de


intermediário nessas trocas e, assim, o desenvolvimento do comércio pelas rotas
transaarianas proporcionou o desenvolvimento de Gana, que comercializava tecidos,
cobre e, principalmente, ouro.

Foi o ouro que fez o império de Gana ficar conhecido e o projetou


internacionalmente. Giordani (1985) relata que, durante toda a Idade Média, Gana foi
o principal fornecedor de ouro para os países do Mediterrâneo.

As caravanas de camelos que cruzavam o deserto não apenas ligavam o império à


Europa e ao Oriente, como ajudavam a difundir a fama de Gana como “terra do ouro”.
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O rei de Gana controlava essas rotas cobrando impostos dos comerciantes.

Giordani (1985) afima que “O controle comercial de Gana não se limitava à rota
saariana: estendia-se para leste, ao longo do Níger, até o Sudão Central, e para o
oeste, até o Oceano Atlântico”.

De acordo com os relatos de Al Bakri, percebe-se que o império possuía métodos


sofisticados de taxação de mercadorias, grandes exércitos e o monopólio sobre as
minas de ouro.

No século X, o império foi dominado por Soninke, que estendeu a soberania de Gana
do Senegal à curva do Níger e à orla do Saara. A capital do império, Kumbi Saleh,
era, segundo Al Bakri, composta de duas partes: a cidade imperial, que incluía, além
do castelo real, as residências de grandes oficiais do governo, e a cidade comercial,
onde predominavam comerciantes árabes, com seus estabelecimentos de negócio, e
existiam mesquitas e centros de ensino. No século XI, um exército almorávida invadiu
e conquistou a capital do império.

Com isso, os mouros procuravam se livrar do peso dos impostos e controlar as minas
auríferas. Após a morte do líder almorávida e em decorrência de lutas intestinas, Gana
reconquistou sua independência, mas não conseguiu se reerguer à grandeza de
outrora. No século XII foi subjugado pelo povo Sosso e anexado, por Sundiata, ao
império Mali.

O legado de Gana, que durante sete séculos exerceu sua autoridade sobre um território
quase tão vasto quanto o da Europa Ocidental, ainda hoje é lembrado, sendo
homenageado pelo nome da República de Gana, embora o país atual não tenha
nenhuma relação histórica com o império de séculos atrás.
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2.1.1. Evolução politica

2.1.1.1. Organização política do império Gana


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2.1.2. Evolução económica


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2.1.3. Evolução social


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2.1.4. Evolução cultural

2.2. Mali

Segundo Costa e Silva (2006) o rei Sosso que havia conquistado Gana, Sumanguru
Kante, expandiu suas fronteiras e invadiu a região onde habitavam os povos
mandinga, massacrando a família do rei que estava no poder.

Apenas um filho do soberano, Sundiata Keita, escapou. Refugiado em regiões


vizinhas, depois de adulto organizou um exército e voltou para o Mali, derrotou
Sumanguru Kante e retomou o poder. Esse foi o marco inicial da ascensão do império
Mali e o estabelecimento de uma dinastia que reinou do início do século XIV ao final
do século XVI.

Para Coquery-Vidrovitch (2004) ao contrário de Gana, o poderio do Mali se assentava


no Islã, pois os mandingas já haviam se convertido há mais de cem anos. Com a
vitória de Sundiata, o Islã reaparece na história do Mali.

Com a morte de Sundiata, assassinado, seu filho assume o poder e traz para o controle
do império Mali as cidades de Ualata, Tombuctu e Djenné , mas sua falta de
habilidade para governar abriu caminho para que um escravo, chamado Sakura,
tomasse o poder. Esse permanece pouco no poder e, quando da sua morte por
assassinato, o sobrinho de Sundiata, Abubakari II, assume o governo. Assim a dinastia
Keita volta a reinar no Mali, mas foi o filho de Abubakari II que leva o Mali ao seu
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apogeu: Mansa Mussa.

De acordo com a tradição oral, Mansa Mussa foi o primeiro soberano de Mali a
abraçar verdadeiramente a fé islâmica. Ao fazer uma peregrinação à Meca, Mansa
Mussa passou pelo Cairo onde causou uma impressão tão forte que permaneceria nos
comentários dos locais por mais cem anos (Giordani, 1985)

Mansa Mussa gastou tanto ouro no Cairo que a moeda egípcia ficou desvalorizada. A
riqueza da caravana e a gentileza de Mansa Mussa repercutiram a ponto de aumentar a
influência islâmica no Sudão Central e Ocidental e de difundir o conhecimento do
império pela Europa.

A riqueza do Mali atraiu letrados árabes e contribuiu para a modernização de cidades


como Tombuctu que, na época, era comparável a Córdoba como grande centro
intelectual.

Enquanto a Europa mergulhava no caos da Guerra dos Cem Anos, as letras floresciam
em cidades como Tombuctu, Djenné e Ualata que, além de oferecer conforto e
segurança aos sábios, possuíam centros comerciais, religiosos e literários.

Mansa Mussa estendeu as fronteiras do Mali até sua expansão máxima e a conquista
de Gao levou o Mali ao seu apogeu econômico. Enquanto Gana tirava seu poder da
posição de intermediário entre os produtores de sal do norte e os mineradores de ouro
do sul, controlava as rotas caravaneiras e cobrava impostos, o Mali foi além,
estendendo seu controle às fontes de abastecimento e administrando todos os níveis
do comércio: produção, transporte e venda.

Segundo Lambert (2001), após a morte de Mansa Mussa, o império do Mali inicia seu
período de decadência que culminaria com a morte de Solimão (soberano do Mali,
irmão de Mansa Mussa).

Os sucessores de Solimão não foram capazes de derrotar os invasores de Songai, que


tomaram as cidades da curva do Níger; nem de acabar com a guerra iniciada por
tuaregues e mossis no norte e no sul do país.
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A chegada dos portugueses em 1450 ajudou na desorganização do oeste do império


Mali que, ao fim do século XV, depois de se dividir em pequenos reinos, tinha se
reduzido ao seu tamanho original. Apesar disso, décadas depois da morte de Mansa
Mussa, o viajante Ibn Battuta visitou o Mali e se impressionou com a paz e a justiça
que reinavam por todo o império. É importante lembrar que o império do Mali se
estendia por uma área maior que a Europa ocidental e consistia de inúmeros reinos e
províncias vassalos. Assim, entende-se o fascínio de Ibn Battuta pelo governo do
Mali.

2.2.1. Evolução politica

2.2.2. Evolução económica


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2.2.3. Evolução social


12

2.2.4. Evolução cultural

2.3. Songai

Previamente uma conquista mali, o reino de Gao, último grande império do Sudão
Ocidental, emergiu sob o reinado de Sonni Ali. Com o enfraquecimento do Mali,
Sonni Ali conseguiu conquistar muitos territórios que antes faziam parte desse
império em decadência.

Incorporou Tombuctu e Djenné ao seu território, trazendo para Songai, a cultura e o


comércio islâmico.

Lambert (2001) afirma que, em essência, nada mudou, apenas houve um


deslocamento do centro do poder para leste, mas o sistema político-comercial
estabelecido ao longo dos séculos por Gana e Mali foi mantido (sal, ouro, cobre,
controle das rotas e tributação).

Sonni Ali promoveu uma reforma no exército, que se tornou profissional, e criou uma
frota para o transporte de tropas a partir do Níger. Segundo a tradição, Sonni Ali era
animista e, por isso, tornou-se inimigo dos letrados muçulmanos.
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Segundo Giordani (1985) Sonni Ali fez um governo tão extraordinário no Songai que
Giordani faz a seguinte menção em seu texto:

“O rei João II de Portugal enviou-lhe uma embaixada. O nome do Sunni Ali


ainda hoje se ouve com freqüência, cinco séculos depois do seu reinado,
quando pessoas das savanas da África Ocidental falam do passado”

Com a morte de Sonni Ali, várias facções muçulmanas se rebelaram contra seu
sucessor e instalaram Askia Muhammad no poder. Foi durante a dinastia Askia que o
império Songai atingiu seu apogeu e as cidades de Tombuctu e Djenné floresceram
como centros de aprendizado e promoção do islã.

Para Sourdel (2001) Askia Muhammad fez uma peregrinação à Meca com grande
ostentação e voltou com o título de “califa do Sudão”. Ele estendeu seu domínio sobre
os estados haussás e os tuaregues e, assim, fez do Songai o maior império da África
medieval: seu território ia do Senegal ao Bornu (Chade) e de Segu ao Saara central.

A unificação de pesos e medidas, o aumento da produção agrícola e a boa


administração do império atraíam comerciantes a Tombuctu e Gao.

Embora mais extenso e rico que os impérios de Gana e Mali, o Songai, que parecia
destinado a ter um longo futuro, durou pouco mais de um século. À medida que o
império se aperfeiçoava, diminuía o respeito às tradições (como os conselhos de
família) que davam legitimidade aos reis.

Askia Muhammad, percebendo o perigo dessas mudanças, tentou apoiar-se no Islã,


mas isso não foi suficiente, e acabou deposto por seu filho, Askia Daoud. Este
consegue manter o império em prosperidade por mais alguns anos, mas com o perigo
de invasão dos marroquinos, que haviam se apoderado das minas de sal de Taghaza, o
império se enfraquece.

Segundo Lambert (2001) em 1591, exércitos do Marrocos invadem e destroem o


Songai. Apesar do curto período em que essas tropas permaneceram no território, o
império foi completamente desestruturado e abandonado à própria sorte. Tombuctu e
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Djenné ainda conservaram, por algum tempo, sua tradição de erudição.

2.3.1. Evolução politica


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2.3.2. Evolução económica


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Comercio
Para Lamebrt (2001) Em 1469 EC os Songai tinham controle do importante posto de
comércio de Timbuktu no Rio Níger.

Em 1471 EC os territórios Mossi ao sul da curva do Níger foram atacados, e em 1473


EC o outro grande centro de comércio da região, Djenne, também foi conquistado.
Infelizmente para Suni Ali, todo esse território ainda não lhe dava acesso aos campos
de ouro da parte sul da África Ocidental que ambos os governantes de Gana e Mali
tiveram para construir sua riqueza. Isto porque a frota portuguesa, financiada pelo
mercador de Lisboa, Fernão Gomes, tinha, em 1471 EC, navegado pela costa africana
do Atlântico e estabelecido presença comercial próximo a essas minas de ouro (na
moderna Gana).

A abertura de uma rota marítima para o Mediterrâneo, também significaria que as


caravanas transaarianas agora teriam que encarar forte competição como a melhor
maneira de transportar mercadorias para a África do Norte e para a Europa.
Entretanto, os portugueses não foram tão bem sucedidos quanto esperavam em
explorar os recursos africanos.

Certamente, os Songai conseguiram monopolizar de qualquer maneira o comércio das


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caravanas saarianas que traziam pedras de sal e artigos de luxo como tecidos finos,
vidraçaria, açúcar e cavalos para a região do Sudão em troca de ouro, marfim,
especiarias, nozes-de-cola, peles e escravos.

Timbuktu, com uma população de aproximadamente 100,000 em meados do século


XV EC, continuaria a se desenvolver como um posto de comércio e como centro de
conhecimento ao longo dos séculos XVI e XVII EC quando a cidade ostentava muitas
mesquitas e 150-180 escolas corânicas.

Centros comerciais, em particular, tornavam-se centros urbanos sofisticados com


moradias construídas em pedra, muitos tendo uma grande praça pública para
mercados comuns e pelo menos uma mesquita.

Ao redor desses centros havia uma população suburbana flutuante vivendo em tendas
ou casas de barro e cana. Comunidades rurais, por sua vez, permaneciam
completamente dependentes da agricultura, mas a presença contínua de mercados
rurais indica que normalmente havia excedentes de produção alimentícia. Certamente,
a fome foi um evento raro na primeira metade do reino Songai, e não há nenhum
registro de revoltas camponesas.

2.3.3. Evolução social

Governo
O governo Songai foi muito mais centralizado no que diz respeito aos arranjos
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federais em comparação aos predecessores Impérios de Gana e Mali. O governante


era um monarca absoluto, mas, apesar de ter cerca de 700 eunucos em sua corte em
Gao, os reis Songai nunca estiveram exatamente seguros em seus tronos.

Dos nove governantes da história do Império Songai, seis foram depostos por
rebeliões ou morreram violentamente, frequentemente por seus tios ou irmãos.

Se um rei governasse tempo suficiente para se beneficiar disto, havia um conselho


imperial de oficiais veteranos que incluía o ministro financeiro (kalisa farma), o
almirante (hi koy) da frota Songai, que também supervisionava governadores
regionais, o chefe do exército (balama), e o ministro da agricultura (fari mandzo).
Havia também ministros responsáveis pelas florestas, salários, compras, propriedades
e estrangeiros. Um secretário-chanceler lidava com papeladas oficiais.

Segundo Lambert (2001), em níveis locais, havia muitos oficiais encarregados de


tarefas específicas como o monitoramento do uso de pesos oficiais nos centros de
comércio, assim como chefes de associações de artesãos locais em grupos tribais. Um
oficial de quem ninguém escapava, apesar de que o rico deveria contribuir mais do
que o menos abastado, era o coletor de impostos, que também angariava recursos para
a coroa pagar o exército, a corte, e prover necessidades básicas aos pobres.

Rei Mohammad I

Rei Mohammad I (r. 1494-1528 EC), um ex-comandante do exército que arrancou o


trono do filho de Suni Ali, Sonni Baro, passou a usar o título dinástico Askiya ou
Askia (significando “governante” ou talvez até mesmo “governante usurpador”).
(Lambert, 2001).

O novo rei, formando um exército altamente profissional pela primeira vez, levaria o
Império Songai a sua maior expansão territorial, conquistando lugar como o segundo
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maior líder dos Songai depois de Suni Ali.

A perda do controle de uma fatia do comércio de ouro da África Ocidental para os


portugueses pode ter sido uma das razões pelas quais rei Mohammad decidiu expandir
os interesses do Império Songai para o sudeste. Três grandes cidades localizadas entre
o Rio Níger e o Lago Chad, foram, de acordo com o historiador Leo Africanus (d. c.
1554 EC), atacadas: Gobir, Katsina e Zaria. A quarta maior cidade da região, Kano,
foi obrigada a pagar pesados tributos ao rei de Songai.

Para Costa e silva (2006) a capital Gao neste período ostentava impressionantes
100,000 habitantes, e o império se estendia quase que do Rio Senegal no oeste até o
que hoje é Mali, no leste. Além disso, o território incluía as valiosas minas de sal de
Tagahaza ao norte.

O Império Songai dominou completamente quase toda a extensão do Rio Níger, a


super autoestrada do comércio da África Ocidental, de modo que agora o povo Songai
era um grupo minoritário em um estado que englobava grupos tão diversos como os
mande, fulbe, mossi e tuaregues.

2.3.4. Evolução cultural

Islã & Animismo

Segundo Costa (2006) a religião islâmica há muito estabelecida em outros impérios da


região sudanesa como Gana e Mali, teve uma existência um tanto precária no Império
Songai, pelo menos inicialmente.

Rei Suni Ali era veementemente anti-muçulmano, porém rei Mohammed I (como seu
nome sugere) era um convertido e ele chegou inclusive a fazer a peregrinação, ou hajj,
para Meca, onde recebeu o título honorário de Califa do Sudão. Mohammed impôs a
lei islâmica ao seu povo, apontou qadis (magistrados ou juízes islâmicos) como chefes
de justiça em Timbuktu, Djenne e outras cidades, e contratou os serviços de
Mohammed al-Maghili da África do Norte como seu conselheiro.
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Os trabalhos deste último se tornariam uma parte importante da reforma islâmica que
varreu a região a partir do século XVIII EC. Certamente, uma elite urbana se
desenvolveu e esta era predominantemente islâmica. Não somente constituída de
mercadores ricos, mas também surgia uma classe de acadêmicos religiosos que
produziam textos que não só analisavam a fundo a religião, como também estudavam
outros temas indo de ciência à história.

Rei Mohammad pode até ter tentado impor o Islã como religião oficial, mas, como os
predecessores de Songai na região do Sudão, o Islã era largamente limitado às elites e
populações urbanas, enquanto as comunidades rurais e a maior porção da população
se mantinham leais às crenças animistas tradicionais.

Nas crenças desta última religião, era comumente pensado que espíritos possuíam
certos objetos, especialmente fenômenos naturais impressionantes, árvores, cavernas e
características naturais proeminentes. Os dois espíritos mais importantes eram Harake
Diko e Dongo, ligados ao Rio Níger e á tempestade respectivamente, o que não chega
a ser surpreendente dada a importância fundamental do rio para o comércio e a da
chuva para a savana seca da África Ocidental. Esses espíritos, e outros (notadamente
aqueles pertencentes a ancestrais falecidos) tinham que ser mantidos em constante
bom humor, para este efeito eram feitas oferendas de comida e água, e em sua honra
havia apresentações de danças mascaradas e cerimônias.

Mais um sistema de crença do que uma religião formal havia, entretanto, sacerdotes
praticantes, os tierkei ou feiticeiros, que tinham a tarefa de minimizar a interferência
dos espíritos malignos nos assuntos das aldeias.

6. Conclusão

Chegados a esta linha reflexiva, de referirmos que a localização dos reinos do


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Sudão Ocidental, entre o sul e o norte africanos, cada qual produzindo aquilo de que a
outra região necessitava, propiciou o estabelecimento de rotas comerciais entre elas e
foram essas rotas que fizeram possível o desenvolvimento dos impérios sudaneses.
Estrategicamente posicionados, tiveram sua política e economia baseadas no controle
lucrativo do comércio de sal e de ouro entre o sul e o norte da África. A ascensão
desses impérios foi tão rápida quanto seu declínio: todos duraram poucos séculos e,
no início do século XVII, a glória do Sudão Ocidental já era coisa do passado.
Entretanto, embora diferentes entre si, Gana, Mali e Songai têm algumas
semelhanças: formaram impérios, tiveram limites geográficos similares, adotaram
formas de governo praticamente idênticas, estabeleceram controle da região a oeste do
Níger e desenvolveram culturas avançadas.
Deste modo, a chegada do Islã levou não apenas uma nova religião, mas as
desenvolvidas cultura e literatura árabes a essas regiões. Assim, a importância do
contato dos impérios sudaneses com o mundo islâmico não pode ser ignorada, pois ele
foi parte importante da formação da economia, da política e das sociedades de Gana,
Mali e Songai. Segundo Sourdel, a cultura árabeislâmica alcançou a África negra a
partir do Magreb berbere, profundamente arabizado de onde progrediu para o sul,
levada pelos berberes que se mostraram seus mais ardentes propagandistas, enquanto
a região do Chade era islamizada, no século XI, por árabes vindos do Egito, e o Sudão
era objeto de expedições militares mais lentas.
Contudo, a historiografia africana ainda pouco estudada, talvez devido aos
séculos de preconceitos com relação a tudo que venha da África, merecia mais
atenção, pois tais civilizações foram parte importante do desenvolvimento do
comércio entre o Oriente e a Europa e não deveriam passar quase despercebidas pela
história mundial, em especial em um país como o Brasil cuja população e cultura
tanto devem aos “povos negros.
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7. Referencia Bibliográfica

Giordani, Mario Curtis.(1985). História dos Povos Africanos. In: História da África.
(cap. 5). Petrópolis, Brasil: Editora Vozes.
Lambert, Jean-Marie. (2001). História da África Negra. Goiânia, Brasil: Editora
Kelps.

Coquery-Vidrovitch, Catherine. (2004). O Islão: mercadores e geógrafos. In: A


descoberta de África (cap. 2). Lisboa, Portugal: Edições 70..
Costa e Silva, Alberto. A enxada e a lança: a África antes dos portugueses (3. ed.). Rio
de Janeiro: Nova Fronteira, 2006

Enciclopédia Mirador Internacional. (1990). São Paulo: Encyclopaedia Britannica do


Brasil Publicações.

Sourdel, Dominique. (2001). História do Povo Árabe. Rio de Janeiro, Brasil: José
Olympio,

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