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Capitulo VI: As Resistências a Ocupação de África

3.1. Objectivos da Unidade

Neste capítulo pretende-se que o estudante compreenda a reacção dos africanos face a tomada
das suas terras pelas principais potências imperialistas.

3.2. Objectivos Específicos:

Caracterizar os primeiros contactos entre africanos e europeus

Explicar a mudança da atitude dos africanos face aos europeus

Analisar a razão do fracasso das resistências africanas

3.3. Atitude dos Africanos Face a Perda da sua Soberania

Ate 1880, grande parte do continente africano era governado pelos seus próprios reis, rainhas,
chefes de tribos e linhagens, em impérios, reinos, comunidades de natureza diversificada.

O domínio colonial limitava-se a algumas regiões localizadas essencialmente ao longo da costa,


Ilhas no Senegal, cidade de Freetown e Cabo, baia de Sofala, Maputo, Ilha de Moçambique e
outras áreas.

O período que vai de 1880 a 1914 foi um período de muitas revoluções em África. Neste período
todos os reinos, impérios e povos com excepção da Libéria e Etiópia foram conquistados e
submetidos a autoridade colonial.

Mapa de África depois da partilha entre as grandes potências


Fonte: www//http:cartasdemocambique.co

A literatura colonial advoga que antes da presença europeia em África havia uma espécie de
vazio político, anarquia, miséria e selvajaria e os europeus eram considerados como agentes da
civilização. Outra ideia difundida de acordo com Ki-Zerbo era a ausência de sentimento de
pertença entre africanos.

O primeiro contacto dos africanos com europeus nunca foi agressivo. A agressividade pode ter
sido ocasionado quando estes se aperceberam do tráfico de escravos.

Contudo vários viajantes europeus são unânimes em afirmar a elevada hospitalidade dos
africanos face a sua presença nas suas terras.

Mas a partir da segunda metade do século XIX, os africanos descobrem que a presença dos
europeus para as suas terras não eram normais, começam assim a hostilizar-se sob as diversas
maneiras, desde a fuga ate a sublevação armada.

3.4. A Resistência no Senegal


Ki-Zerbo sustenta que o Senegal era colónia francesa assim como em outras colónias francesas
na África Ocidental, foram confiadas a Marinha de Guerra Francesa, que levou a cabo acções
militares a partir de 1854. O processo foi bastante violento, porque, para um muçulmano a
imposição de um domínio branco significava submissão ao infiel, situação intolerável. 1

Em 1864, os franceses conquistaram Cayor e expulsaram Lat Dyor o seu rei, porém este
continuou a luta a partir dos territórios vizinhos, tendo obrigado os franceses a assinar um acordo
em que reconhecia a uma autoridade sobre Cayor.

Em 1879, os franceses pediram autorização a Lat Dyor para construir uma estrada que ligasse
Dakar e S. Luís, com a intenção de incrementar o comércio e preparar as bases políticas para
posterior ocupação. Lat Dyor, no princípio, autorizou a realização do projecto, mas, quando
soube que se tratava de linha férrea, recusou a aceitar, porque compreendeu que o projecto seria
uma passagem para domínio francês pelo seu território. Este tomou medidas com vista a travar
este projecto enviando a 17 de Novembro de 1882 uma carta a governador Francês, proibindo a
realização do projecto. Em contrapartida mandou emissários para estados vizinhos, convidando-
os a organizarem uma aliança para lutarem contra os franceses. Do mesmo modo proibiu seus
súbditos a cultivar o amendoim, principal mercadoria procurada pelos franceses. Obrigou
aqueles que viviam perto dos postos franceses a mudarem mais para interior de Cayor, de modo
a não prestar qualquer ajuda aos franceses 2.

Em Dezembro de 1882 as tropas francesas compostas maioritariamente por africanos, recrutados


anexados, entraram em Cayor e Lat Dyor ciente da sua fragilidade, refugiou-se no seu território
vizinho de Jalof os franceses entregaram o poder a Samba. Este autorizou Lat Dyor a regressar a
Cayor , em 1885. Em 27 de Outubro de 1886, Lat-Dyor, a frente de 300 homens, infringiu uma
pesada derrota aos franceses, em Dekle e ele morreu nesse combate, terminando assim a
resistência a Senegal.

3.5. A Resistência na Tanzânia

1
Ki-Zerbo,2002.
2
MAZRUI,2010
O sultanato de Zanzibar exerceu uma grande influência política e económica sobre o continente,
chegando a rivalizar com comerciantes árabes-swahilis fixados na costa oriental de África. O
comércio de marfim e escravos fez surgir na costa da Tanzânia, a cidade de Kilwa, dominada
pela cultura swahili. A chegada dos alemães nos finais do século XIX ameaçava os negócios dos
árabes, por isso, trataram de organizar a resistência.

Os Tanzaniano em 1891 assassinaram 290 alemães. Os alemães responderam em 1894 com forte
ataque e os principais lideres conseguiram fugir.

Os povos da costa organizaram a sua resistência contra alemães, em volta de Abushiri,


descendente de um dos primeiros colono árabes. Em 1888, as tropas de Abushiri incendiaram um
navio de guerra alemão em Tanga e deram dois dias aos alemães para abandonares a costa de
Tanzaniana.

Depois de Tanga, as forcas de Abushiri atacaram Kilwa, tendo morto os dois alemães que ali
estavam e depois assaltaram Bagamoyo.

Em 1889, as tropas alemães atacaram Abushiri tendo-se obrigado a refugiar-se e Uzigua, onde
foi traído e entregue ao inimigo aos 15 Dezembro de 1889 e posteriormente enforcado.

3.6. A Resistência Ndembele

Entre 1870 a 1880, Lobengula, rei do Ndebeles, seguiu uma politica de alianças constantes, em
que soube atirar países e empresas uns contra os outros. Não abriu as portas do seu pais a
estrangeiros para caçar e tirar proveito dos tantos minérios que o seu pais ostentava.
Lobebengula aspirava estabelecer uma aliança militar com a Inglaterra obter desta os estatutos de
protectorado, distanciando-se assim de ambições dos portugueses, alemães e afrikaners.

A política de colocar uns contra outros terminou em 1888, quando Cecil Rhodes, dono da British
South África Company (BSAC), com fortes ambições pela região, persuadiu o alto-comissário
britânico a apoiar os esforços do reverendo John Moffat de cristianizar os Ndebeles e destruição
do seu estado. John Moffat, que se tinha apresentado a Lobengula como Homem de Deus, sem
muitas ambições de ganho pessoal, conquista o Estado Ndebele. Foi nesta qualidade que ele
aconselhou o rei a aliar-se aos britânicos e afastar-se dos portugueses, alemães e afrikaners.
Lobengula assinou no dia 11 de Fevereiro de 1888, com os britânicos, a Convenção Moffat, em
que ele se comprometia a não assinar com qualquer outra potência nenhum tratado, com vista a
vender, alienar tudo ou parte do seu território, sem consentimento do alto-comissário e de sua
Majestade a rainha3.

Segundo o direito internacional europeu do século XIX, Lobengula tinha-se submetido, ao abrigo
deste acordo, ao colonialismo britânico. Na sequência deste acordo afluíram a Rodésia
associações e concessionários e que procuravam direitos territoriais ou mineiros.

Rhode, preocupado com avalanche de concessionários, enviou para a Rodésia seus emissários,
que assinaram em nome da British South África Company, com Lobengula, a 12 de Setembro
uma Convenção, sob mediação de Moffat que pressupunha a pagar a sua renda perpétua mensal
100 libras esterlinas, a Lobengula e seus herdeiros e outros benefícios.

O rei colocou verbalmente as seguintes condições:

O beneficiário não devia empregar mais de 10 brancos de uma vez em trabalhos de mineração no
território.

Os mineiros não deviam fazer perfurações nos limites das cidades.

Os barcos estariam sujeitos as leis do pais e seriam considerados súbditos do rei.

Os mineiros contribuíram, caso fosse necessário para a defesa do território, sob comando
Ndebele.

Estas clausulas não foram incluídas no texto definitivo do tratado, pelo que não tiveram força
para aplicação legal.

Lobengula e os seus indunas (conselheiros) não sabiam escrever nem ler, por isso não
compreenderam o conteúdo do texto, ficaram a saber que tinham entregues a soberania da Nação
Ndebele a British South África Company, isto é, a soberania britânica. Num forço desesperado

3
KI-ZERBO,2002
Lonbegula fez publicar uma nota de repúdio ao tratado, em Fevereiro de 1889, e enviou a
Londres, os seus indunas, para junto do governo britânico conseguir a anulação do tratado aos
que lhes foi recusado. Em contrapartida, Rhodes obteve uma carta real que lhe dava monopólio
da colonização na Rodésia.

A Matabelelandia foi invadida em 1863 com 1200 soldados brancos e mil auxiliares africanos.
Lobengula preferiu levar o seu povo para Rodésia do Norte (actual Zâmbia) do que confrontar-se
com forças de Rhodes e morreu durante a marcha.

A BSAC confiscou 280 mil cabeças de gado e as terras, que foram distribuídas aos colonos.

Em 1895 foi estabelecida a administração, incluindo o imposto de palhota, como forma de coagir
os africanos a trabalharem para colonos. Mas a resistência não tinha terminado e os africanos
inconformados com esta nova realidade.

3.7. A Revolução Ndembele-Shona

Em Março de 1896, iniciou uma resistência armada contra o colonialismo, na Matabelelandia e


em Junho na Mashonalandia. Os Shonas e Ndebele estavam munidos fusis mosquetes, flecha e
azagaias. Eles deram esta resistência o nome de Chimurenga (libertação).

O primeiro ataque ocorreu a 22 de Março, tendo causado a morte de 7 brancos e dois


colaboradores africanos. E, em menos de uma semana, a resistência tinha-se alastrado a toda a
Matabelelndia e Mashonalandia e 130 brancos tinham sido mortos.

A Resistência recebeu reforços de polícias africanos que se juntaram a ela com o respectivo
armamento.

Cecil Rhodes mobilizou rapidamente uma forca num total de 2 mil homens brancos, mais de 300
africanos recrutados na África do Sul e em outras colónias.

A resistência provocou enormes prejuízos a companhia, o que fez com que Rhodes estivesse na
disposição de negociar, amnistiar os revoltosos ou então permitir a intervenção do governo
britânico, o que tornaria a Rodésia num protectorado britânico. Assim em Agosto de 1896,
Rhodes negociou com os Ndebeles o fim da resistência. Atribuiu-lhes terras e ofereceu-lhe 2300
toneladas de cereais e prometeu intervir em diferendos que lhes opusessem a companhia.4

A táctica foi de resolver o problema individualmente com cada reino ou, então, aliar-se a uns
para aniquilar outros. Assim, um por um foram abatidos.

3.8. Reflexão Sobre o Fracasso das Resistências Africanas

Os africanos resistiram de forma tenaz no processo da ocupação das suas terras pelas potências
estrangeiras. Contudo o processo da ocupação efectiva foi quase inevitável, pelas seguintes
razoes:

- Durante o século XIX as potências europeias por meio de missionários e exploradores tinham
conhecimentos económicos, aspectos físicos e geográficos sobre o continente. Estes tinham
noções sobre a força, estabilidade e debilidade dos estados e sociedades africanas, o que lhes
nutria uma enorme vantagem.

Melhoria em termos da tecnologia medica e especialmente devido a descoberta da quinina contra


a malária, o que fez com que a tenebrosidade dos europeus sobre a África diminuísse que nos
períodos anteriores.

Os europeus eram superiores em termos materiais e financeiros que africanos, e estes não
estavam em condições de sustentar um conflito prolongado.

Os europeus eram ainda superiores em termos de tecnologia militar 5. Este facto era resultado da
Revolução Industrial que já era uma realidade na Europa.

Conflitos inter-linhageiros, interestatais e intraestatais entre africanos eram um outro forte


elemento que condicionava a derrota dos africanos. Por exemplo Mandinga contra Tukolor,
Ashanti contra Fanti, Baganda contra Banyoro, Mashona contra Ndembele etc.

4
SUMBANE,2009
55
E importante destacar que no âmbito da Convenção de Bruxelas (1890) as potências europeias tinham se
comprometido em não vender armas aos africanos. Os africanos usavam na sua maioria armas obsoletas como
espingardas de carregar pela boca, arcos e flechas, enquanto os europeus usavam metralhadoras, forcas navais e ate
mercenários.
Alianças tácticas de alguns líderes africanos com europeus com vista a satisfação de interesses
individuais.

3.9. Exercícios de Consolidação - III

Defina Resistência Africana

Em sua opinião quais foram as principais razoes que fizeram com que a tamanha hospitalidade
dos africanos face ao homem branco fosse transformada numa hostilidade brutal?

Em que medida o elemento "falta de unidade" entre tribos, reinos e estados africanos seria
determinante para o fracasso das resistências africanas.

O conhecimento que os europeus tinham sobre os territórios africanos facilitou em certa medida
a sua afirmação a posterior como colonizadores. Comente esta afirmação.

Descreva as principais características de Lobengula que o tornem imemorável no âmbito dos


homens que lutaram contra a dominação estrangeira do continente africano.

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