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escravos e o desenvolvimento
do capitalismo mercantil
1. O trabalho escravo
1.1. Origens
A escravidão existiu desde tempos imemoriais em todos os
quadrantes do globo, tanto no Ocidente como no Oriente. Desde a
Antiguidade Clássica, todas as grandes religiões monoteístas contri-
buíram, cada uma a seu modo, para justificar a escravidão, legiti-
mando a captura e a comercialização de escravos. Com o passar do
tempo contudo o foco da justificação foi-se estreitando aos infiéis, ao
mesmo tempo em que crescia a preocupação com a situação dos cati-
vos. Factualmente, nem a Bíblia nem o Corão condenam a escravidão
como tal e muito menos preconizam a sua abolição.
A civilização ocidental e cristã, em que muitos vão buscar os fun-
damentos da democracia, do direito e do amor ao próximo, praticou a
escravidão como algo natural. O próprio cristianismo, em seus albores,
condescendia frente à existência do trabalho escravo. São Paulo exor-
tava candidamente os escravos a obedecerem aos seus “senhores” e a
estes, que tratassem bem os seus escravos, associando a escravidão
ao pecado. Com base nisso, Santo Agostinho elaborou a doutrina
justificatória de que a escravidão seria uma punição de Deus pelos
pecados dos homens. Com a transformação do cristianismo em reli-
gião oficial do Império Romano por Constantino em 313, a própria
Igreja, como instituição, foi-se transformando rapidamente em gran-
de proprietária de terras e escravos, opondo-se à sua alforria, mesmo
quando o movimento abolicionista viria a ganhar força.
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Isso não impediu a Igreja Católica, sob Leão 13, no final do sécu-
lo XIX, quando a escravidão já havia sido abolida em todas as partes,
de defender uma “cruzada negra”, felizmente nunca concretizada, cujo
objetivo seria o de extirpar a África do flagelo da escravidão, apre-
sentada como obra dos muçulmanos. Na verdade, embora a escravi-
dão seja considerada hoje, universalmente, como um atentado intole-
rável aos direitos mais elementares do ser humano, foi praticada em
toda a cristandade por dois mil anos, sob a legitimação da religião e
da filosofia que lhe serviam de fundamento.
Filósofos da Antiguidade, como Platão e Aristóteles, apesar de
sua grandeza, não escaparam aos limites humanos e intelectuais que a
existência do trabalho escravo colocava sobre seu pensamento. Marx,
no capítulo primeiro d´O Capital referendava o gênio de Aristóteles,
que desvendara a condição de igualdade na troca de mercadorias, po-
rém sem lograr entender o conteúdo de trabalho no valor dessas mer-
cadorias trocadas, uma vez que a sociedade grega repousava sobre o
trabalho escravo. Para o direito romano, a escravização era conside-
rada uma condição legal, quando de prisioneiros de guerra se tratasse.
Assim, quando os colonizadores ibéricos chegaram às Américas,
traziam em sua bagagem um capital de crenças, saberes e práticas
acerca da escravização de seres humanos, que haviam sido acumula-
das pelos europeus desde a Antiguidade, prolongando-se pela Idade
Média e chegando até o século XV, fundado em particular no comér-
cio de escravos que, ainda que em escala reduzida, tinham praticado
entre as costas da África e do Mediterrâneo. Foi assim inteiramente
“natural” que se pusessem a escravizar os indígenas do Novo Mun-
do, logo à sua chegada.
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escravo reside no fato de ser uma pessoa, embora seu valor como
pessoa dependa do fato de ser propriedade. Ou seja, seu valor, como
propriedade de alguém, não pode ser dissociado do fato de sua condi-
ção de ser humano, portador de consciência, inteligência e todos os
atributos que possam qualificá-lo como tal, e, portanto, radicalmente
distinto da propriedade da terra ou de qualquer outro bem e o valor
material que possa possuir.
É o que diz Claude Meillassoux:
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Referências bibliográficas
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Notas
1
Bittar e Almeida, 2010.
2
Bittar e Almeirda, 2010.
3
Os neoliberais, que desprezam e ignoram a história, além de idéias
requentadas, apresentam a globalização como uma grande novidade, quan-
do na verdade se trata de um fenômeno cujas origens remontam aos albores
do capitalismo.
4
Apud Alencastro, 2000, citado na contracapa.
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