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Escravidão moderna
Chamamos de escravidão moderna a que se desenvolveu nos períodos da história
conhecidos como Idade Moderna e Idade Contemporânea. Ela é, certamente, a forma
de trabalho escravo que mais conhecemos na atualidade.
A escravidão moderna foi parte f undamental da expansão marítima europeia ini-
ciada no século XV, integrando o primeiro movimento de mundialização do comércio,
pois o tráfico de escravizados pelo Atlântico era fundamental para as redes comerciais
que interligaram a Europa, a África e a América, bem como outras partes do g lobo.
A escravidão foi também a base para a formação das economias e sociedades colo-
niais na América, enriquecendo c omerciantes de seres humanos em vários locais ligados
pelo Oceano Atlântico. Isso significa que o comércio de escravizados foi essencia l para
a geração de lucro na etapa da economia mundial regida por um sistema que ficou
conhecido como capitalismo comercial ou mercantilismo.
Diferentemente da escravidlão antiga, a escravidão moderna foi racializada, isto é,
baseou-se na fa lsa ideia de que haveria desigualdades inerentes às "raças" humanas,
criando estereótipos e reforçando preconceitos a fim de justificar a sujeição de deter-
minados grupos humanos a outros. A construção desses argumentos em termos pseu-
docientíficos ocorreu sobretudo no século XIX. Antes disso, a escravidão era legitimada
principa lmente por argumentos de ordem teológica.
No século XV, com o apoio da Igreja Católica, os europeus alegavam que a escra-
vidão era uma forma de lutar contra os infiéis que viviam na África e convertê-los ao
cristianismo. Ao mesmo tempo, difundiu-se a ideia de que a escravização dos africanos
seria decorrência de uma maldição original. Amparando-se em textos bíblicos do Velho
Testamento, os europeus diziam que os africanos eram os descendentes de Cam, o filho
de Noé condenado a ser "servo dos servos• por ter surpreendido seu pai embriagado
e nu e revelado o fato aos irmãos. Por sécu los, tais argumentos foram utilizados para
legitimar o comércio de seres humanos e sua migração forçada à América, bem como sua
sujeição ao trabalho e a diversas formas de violência, livrando os europeus de qualquer
comprometimento moral relacionado a essas prát icas.
No Brasil, as consequências de mais de trezentos anos de escravidão são perceptí-
veis, por exemplo, nos índices q ue apontam a desigualdade econômica entre negros e
brancos e nas diversas manifest ações de racismo nas ruas e nas redes sociais.
A escravidão na África antes dos europeus
A África é um continente geográfica e culturalmente muito diverso. Antes da chegada
dos europeus, havia escravidão nesse continente, assim como em outras partes do mun-
do, como vimos neste capítulo. Contudo, é um erro dizer que os africanos escravizavam
uns aos outros. Isso porque naquela época não havia um sentimento de identidade
africana como conhecemos hoje. O texto a seguir ajuda a entender essa questão.
#Os africanos não escravizavam africanos, nem se reconheciam então como
africanos. Eles se viam como membros de uma aldeia, de um conjunto de al-
deias, de um reino e de um grupo que falava a mesma língua, tinha os mesmos
costumes e adoravam os mesmos deuses. Eram [... ] mandingas, fulas, bijagós,
axantes, daomeanos, vilis, iacas, caçanjes, Iundas, niamuézis, macuas, xonas -
e escravizavam os inimigos e os estranhos.n
SILVA, Alberto da Cosia e. A África explicada aos meus filhos.
Rio de Janeiro: Agir, 2008. p. 88-89.
Razia: conflito promovido com o Nas aldeias que se desenvolveram na região ao sul do Deserto do Saara, conheci-
objetÍIIO específico de obter cativos.
da como África Subsaariana, o trabalho escravo era reduzido, como no oikos grego.
Os escravizados, na maioria mulheres, atuavam principalmente nos serviços domésticos
e na agricultura, realizando tarefas como a busca de água, o corte de lenha e os cuida-
dos com o cultivo de produtos agrícolas. Havia também escravizadas que se tornavam
concubinas de seus senhores. Nesse caso, seus filhos não eram escravizados, embora
tivessem menos direitos que os nascidos de mães livres.
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...... • Região do Sahel N
A imagem acima é uma representação do trabalho de indígenas nas minas de Potosí, na atual Bolívia, em gravura
de Theodore de Bry, 1597.
Escravizad os africanos na América Nas cidades, sobretudo do Brasil a partir do século XVIII,
foram implementadas outras formas de exploração do
Em algumas regiões da América, como no Brasil, trabalho escravo. Havia, por exemplo, o emprego dos
no Caribe (especialmente os territórios correspondente s escmvos de ganho e dos escravos de aluguel. Na primeira
aos atuais Haiti, Jamaica e Cuba) e nas colônias do sul do modalidade, o trabalho dos escravizados era utilizado no
que seriam os Estados Unidos, a escravidão de africanos comércio ambulante: aguadeiros, quituteiras e vendedores
prevaleceu sobre outras formas de trabal ho. Nessas áreas, de frutas, entre outros, saíam às ruas para comercializar
desenvolveu-se um sistema agrícola, conhecido como seus produtos ou serviços e assim ganhar algum dinheiro.
p/antation, que se baseava na monocultura, realizada em Alguns deles negociavam uma renda preestabelecida
grandes propriedades de terra, com a utilização de mão com seu senhor, podendo ficar com o dinheiro restante.
de obra escrava e com a produção voltada para o mercado Na segunda modalidade, escravizados especializados, como
externo. Entre os principais produtos cultivados destaca- barbeiros, marceneiros, carpinteiros, pedreiros e cozinhei-
ram-se a cana-de-açúcar e o tabaco, a partir do século XVI,
ros, eram arrendados por seus senhores a outras pessoas.
e o algodão e o café, a partir do século XVIII.
Em tese, os escravos de ganho e de aluguel podiam
Nessas propriedades, de dezenas a centenas de africanos
andar "livremente" pela cidade. No entanto, eles eram
escravizados trabalhavam cotidianamente em atividades
vigiados institucionalme nte (por meio do policiamento
que iam desde o trabalho na lavoura e serviços domésticos
e da punição a pequenos crimes) ou informalmente (por
até tarefas mais especializadas relacionadas à produção
meio de denúncias, por exemplo). De qualquer forma,
agrícola. Havia ainda escravizados empregados nas plan-
esses escravizados podiam juntar algum dinheiro e assim
tações de alimentos em propriedades menores, nas quais a
comprar sua liberdade, outra forma comum de estabelecer
produção era voltada para o consumo da população local.
brechas no sistema escravista.
O cotidiano dos escravizados era marcado pela vio-
lência, pelo trabalho exaustivo, pelos castigos físicos e
pela precariedade da alimentação, das vestimentas e das Nomenclaturas da escravidão
condições de morad ia. No entanto, também havia espaço No Brasil. criou-se o hábito de classificar os escravizados de
para negociações. Os escravizados algumas vezes conse- acordo com o tempo de chegada ou a identificação com a
nova terra. Na linguagem daquele tempo, os escravizados
guiam, por exemplo, negociar o plantio de roças para sua
nascidos aqui eram os "criolos"; os que haviam chegado da
subsistência e a eventual venda do que não consumissem.
Africa e já dominavam os códigos locais eram chamados
Tal prática era uma das formas de resistência à imposição "ladinos•; e aqueles recém-chegados, q ue mal dominavam
do trabalho e ajudou os escravizados a conquistar alguma a língua e os códigos locais, eram denominados "boçais".
autonomia no interior do sistema escravista.
d) No dia da apresentação, cada grupo deverá entregar um resumo sobre suas pesquisas,
com os principais tópicos da discussão (uma lauda, em pdf, enviada para o grupo de
WhatsApp da turma);
e) Serão sorteados dois membros de cada grupo para a apresentação, momentos antes da
apresentação;
1. O que pode ser entendido por escravidão moderna? Descreva suas principais características.
2. Destaque as principais características da escravidão na África, antes da chegada dos europeus
(analise o mapa Reinos e Impérios do Sahel – séc. X-XVI explorando a estrutura social da região
e a organização do trabalho).
3. Explique as principais mudanças na escravidão com a chegada dos europeus no continente
africano.
4. Descreva e diferencie as formas de trabalho tanto na América Portuguesa, quanto na América
Espanhola (elabore um quadro comparativo entre as duas áreas geográficas). Na apresentação
do grupo, procure demonstrar, por meio de imagens, os resultados dessas formas de
exploração do trabalho.