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Índice
Prefácio
1. Pesquisando o personagem
7. Escrevendo diálogos
Epílogo
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Prefácio
Há alguns anos, fui chamada por uma produtora de
televisão que enfrentava um problema com um personagem
em seus roteiros. Um ator bem conhecido e respeitado já
tinha sido escolhido pro papel, mas era um papel limitado
na essência. Nós fizemos um brainstorm pra aprofundar a
camada emocional e dar mais dimensão, além de potenciais
transformações no personagem.
Mais tarde, o ator foi nomeado pro Emmy pela
performance.
Meses depois, fui chamada pra fazer uma consultoria
pra uma série em apuros. As avaliações estavam baixas,
a rede estava ameaçando cancelar. Apesar da atuação ser
excelente, e as linhas gerais dos personagens estarem bem
definidas, existia pouca expansão do personagem. Num
seminário matinal nós tentamos pensar em potenciais
conflitos, pontos na história que poderiam dar dimensões
pros personagens; relações dinâmicas que já existiam, mas
foram pouco exploradas na narrativa; e possíveis motivos
para a audiência se envolver com esses personagens
semanalmente.
Os produtores estavam entusiasmados e prontos pra dar
uma reviravolta no programa. Mas era tarde demais. A rede
já tinha decidido cancelar. Desde então, a estrela polivalente
e popular não conseguiu encontrar outra série, apesar de
inúmeros sucessos do passado.
Nas duas situações, personagens foram a chave de uma
história funcional. Personagens incríveis são essenciais se
você quer criar uma grande ficção. Se os personagens não
funcionarem, a história e o tema serão insuficientes pra
envolver a audiência ou os leitores. Pense na personagem
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1
Pesquisando o Personagem
Há algum tempo, uma das minhas clientes chegou com
um conceito incrível para um roteiro. Ela tinha trabalhado
e retrabalhado ele por um ano inteiro. Seu agente estava
empolgado e ansioso por uma nova história.
Apesar de ser avisada que alguns dos roteiros não
estavam fortes o suficiente pro mercado nacional, aquele
em questão estava empolgante e sólido. É o tipo de história
que muitos produtores chamam de “High-Concept” (com
um gancho forte e uma abordagem única pra história, um
conflito claro e personagens distintos uns dos outros).
Seu primeiro filme tinha acabado de ser produzido e ela
estava contando com esse roteiro pra chegar a um novo
patamar. Ela precisava finalizar rápido, mas os personagens
não estavam funcionando. Ela estava completamente
travada.
Quando analisei o roteiro, percebi que ela não tinha
conhecimento suficiente do contexto, do mundo daqueles
personagens. Algumas cenas se passavam num centro
pra desabrigados. Apesar dela ter passado um tempo
servindo sopa no lugar e conversado com desabrigados,
ela nunca tinha passado pela experiência de dormir lá ou
viver o stress do lugar. O resultado foi a perda de detalhes
e emoções. Era evidente que só havia um jeito de resolver
o problema dos personagens: ela tinha que voltar pra
pesquisa.
O primeiro passo na criação de qualquer personagem é
pesquisa. Já que a maior parte das obras são buscas pessoais
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O CONTEXTO
Personagens não existem no vácuo. São produtos de
seus entornos. Um personagem francês do século XVII é
diferente de um texano da década de 80. Um personagem
médico de uma cidade pequena em Illinois é diferente de
um patologista no Hospital Geral de Boston. Alguém que
cresce na pobreza, numa fazenda de Iowa será diferente de
quem cresceu na riqueza em Charleston, na Carolina do
Sul. Um negro, hispânico, ou euro-americano será diferente
de um sueco de St. Paul. Entender um personagem começa
por entender o contexto que o cerca.
Qual é o contexto? Há uma excelente definição no livro
de Syd Field “Roteiro, os fundamentos do roteirismo”. Ele
compara contexto com um copo vazio de café. O copo é
o contexto, o redor do personagem que será preenchido
com especificidades da história de outros personagens. Os
contextos que mais influenciam o personagem incluem a
cultura, período histórico, localização geográfica e profissão.
INFLUÊNCIAS CULTURAIS
Todo personagem tem contextos étnicos. Se você é
a terceira geração de americanos originários da suécia-
alemanha (como eu), a influência desse contexto talvez seja
mínima. Se você é a primeira geração de negros jamaicanos,
o contexto étnico pode determinar comportamentos,
posturas, expressões emocionais e filosofia de vida.
Todos os personagens tem experiências sociais prévias.
Existem diferenças entre alguém que veio da classe média
agrícola de Iowa e alguém de uma família rica de São
Francisco.
Todos os personagens possuem contextos religiosos.
São católicos, judeus, testemunhas de Jeová, agnósticos ou
ateus?
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O PERÍODO HISTÓRICO
É especialmente difícil situar uma história em outra
época. Geralmente a pesquisa é indireta. Um escritor não
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LOCALIZAÇÃO
Muitos escritores situam suas histórias em locais
familiares. Se você cresceu em Nova Iorque, muitas das suas
histórias ocorrerão lá. A indústria hollywoodiana produz
centenas de histórias sobre pessoas que chegaram para
conquistar seu espaço em Hollywood.
Escritores também situam suas histórias em lugares que
visitaram ou viveram por um período de tempo. Quanto
mais familiar for o local, menos pesquisa será necessária.
Contudo, escritores que conhecem o lugar, frequentemente
descobrem que precisam retornar para fazer pesquisas
específicas.
William Kelley vive em Lancaster County, na
Pensilvânia. Ele já tinha um bom começo para a pesquisa
de local para o filme “A testemunha”. Contudo, continuava
visitando a região para observar modelos para seus
personagens e expandir seu conhecimento sobre os Amish
(que serviriam para o projeto em questão).
James Darden, escritor de “Atração Fatal”, é britânico,
mas passou um tempo considerável em Nova Iorque (o
local da sua história).
Dois dos romances de James Bond “007 Contra o
Satânico Dr. Não” e “007 Viva e Deixe Morrer” e outras de
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O IMPACTO DA PROFISSÃO
Às vezes o contexto pode ser a profissão do personagem.
Uma pessoa de Wall Street tem um ritmo e um estilo
de vida diferente de um fazendeiro de Iowa. Um analista
de computador tem habilidades diferentes de um corredor
olímpico. Um jardineiro e um pediatra têm posturas,
valores e preocupações diferentes.
James Brooks se atraiu pela ideia que usou no filme “Nos
bastidores da Notícia” por ser um fã de notícias. Apesar do
tempo que passava nas redes de notícias, do seu contexto
ele ainda teve que se dedicar a um ano de pesquisa para
escrever o roteiro. Como parte de sua pesquisa, ele passou
um bom tempo conversando com âncoras e observando
estações de notícias.
“Me interessava pelo assunto”, ele relata “tive que
passar os primeiros meses me livrando desse interesse
(desaprendendo tudo que eu achava que sabia) para
conseguir ser o mais objetivo possível.
Comecei a pesquisa falando com muitas mulheres.
Com duas em especial: uma repórter de Wall Street e uma
repórter. Estava interessado nas mulheres que conquistaram
um lugar ao sol rapidamente, logo depois de sair da
faculdade. Com a boa educação de colégios prestigiados.
“De alguma forma, as perguntas que eu fazia se pareciam
muito com perguntas que se faria para vários estágios de
um relacionamento, mas parecia algo mais clínico.”
Além de falar com pessoas, James Brooks se instruía
academicamente. “Eu lia a longa biografia de Murrow,
alguns ensaios sobre noticiários e programas de rádio e
devorava tudo que me falavam que poderia ser interessante.
Passava muito tempo na cidade, conversando com
pessoas da área. E se você passa tempo suficiente
pesquisando, suas chances de estar no lugar certo e na hora
certa aumentam”.
James Brooks via muitos detalhes que poderia incorporar
no filme simplesmente “dando uma volta”. “Eu via alguém
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APLICAÇÃO
Enquanto você reflete durante a pesquisa, pense nas
seguintes questões sobre seus personagens:
■■ O que preciso saber sobre o contexto do meu
personagem?
■■ Eu compreendo sua cultura?
■■ Entendo o ritmos, a crenças, as atitudes que são parte
de sua cultura?
■■ Já conheci, conversei, e passei algum tempo com
pessoas dessa cultura?
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RESUMO
Quase todos os personagens exigem certa pesquisa.
Existe mais de uma razão para que escritores novatos
escrevam sobre o que conhecem. A pesquisa pode ser
demorada e onerosa. Muitos escritores iniciantes não
podem pagar por um mês na África, ou encontrar
um arrombador de cofres, ou fechar negócio com um
construtor de carroças Amish.
Entender a importância da pesquisa e entender o que
pesquisar são passos importantes no processo de criar
personagens fortes.
Quando os roteiristas vencem o medo de pesquisar,
muitos descobrem que pode ser a parte mais empolgante,
criativa e estimulante do processo de escrita. A pesquisa
facilita o caminho da imaginação e dá vida ao personagem.
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2
Definindo o personagem:
Consistências e Contradições
Pense numa pessoa que você goste muito – amigo,
esposo, professor, parente. As primeiras qualidades que
vierem a cabeça, talvez sejam o que existe de mais forte
em suas personalidades. Pode ser aquela amiga sempre
empática e compassiva, enquanto um outro adora uma
boa festa; talvez um professor conhecido por sua lógica
analítica, ou um parente movido por um senso de vitória
nos esportes e na vida.
Mas, os próximos pensamentos que você tiver sobre a
pessoa podem ser surpreendentes, ilógicos, contraditórios.
Seu amigo mais sensato adora vestir aqueles chapéus
horríveis. Ou aquele amigo mais emocional que lê livros
de astronomia no tempo livre. Sua amiga compassiva odeia
insetos e joga inseticida assim que ouve ou vê algum pela
casa.
O processo de definição de personagem é um processo
de vai e vem. Você faz perguntas; observa; pensa nas
suas experiências pessoais e cria as experiências dos seus
personagens. Você testa a consistência do seu personagem.
Pensa nos detalhes que são únicos e imprescindíveis.
Esse processo pode parecer banal e, de alguma forma,
ele é. Mas existem certas qualidades que são encontradas
em todos os personagens dimensionais. Quando seu
personagem se recusa a ganhar vida, entender essas
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COMO COMEÇAR?
Seja modelando um personagem usando como base
alguém que você conhece intimamente, ou em alguém que
você observa, ou usando a si mesmo, ou num conjunto
de características reunidas; criar um personagem começa
com um forte impacto. Aquela imagem impactante que
transmite a sensação de quem seu personagem é.
Talvez você o veja fisicamente: Como ele é? Como ele se
move? Talvez você queira explorar um personagem abatido
numa crise. Como ele irá se comportar ou reagir? Você
provavelmente começará com uma sensação visceral, com
algo que realmente importa praquela pessoa.
Existem estágios de criação do personagem. Apesar de
não necessariamente nessa ordem:
1. Ter a primeira ideia baseada em observação ou
experiência própria.
2. Criar as impressões mais gerais.
3. Encontrar o cerne do personagem para fazê-lo
coerente.
4. Encontrar as contradições do personagem para
torna-lo complexo.
5. Adicionar emoções, posturas e valores para dar
profundidade.
6. Adicionar detalhes para fazê-lo único, singular.
OBSERVAÇÃO
Muito do material usado para criar personagens virá de
pequenos detalhes.
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INTEGRANDO EXPERIÊNCIA
Não importa de onde você vai começar a criar seu
personagem, no final você vai ter que confiar na sua
própria experiência. Não existe outro lugar pra você saber
se acertou. Ninguém pode falar se você criou ou não um
personagem crível, realista, consistente. Você deve confiar
na sua percepção de como as pessoas são.
Escritor após escritor enfatiza esse aspecto da escrita:
“Seja lá o que eu saiba, eu sei através da minha própria
experiência”, afirma James Dearden. “No fim das contas, o
escritor desenha por cima de si mesmo. Eu tinha a Alex e o
Dan dentro de mim. Se você não vivenciou a experiência,
então vá lá e viva aquilo. Todos os personagens que escrevo
vêm de mim. Eu olho pra dentro de mim. Sempre penso
‘Como eu reagiria nessa situação?”
Carl Sauter concorda “Acho que você precisa achar o
elemento nos personagens que é você. Não é que todo
personagem seja autobiográfico, mas você deve se perguntar
‘Qual personagem eu gostaria de ser? Com qual eu
escolheria fugir?’ Quando você começa a escrever histórias
que só você poderia escrever, você eleva-se a um patamar
inédito. Portanto, não importa o que ele seja, mesmo que
seja um personagem de apoio, eu tento achar uma parte que
eu realmente me identifique”.
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DESCRIÇÃO FÍSICA
Leitores irão imaginar a aparência física dos personagens
que encontram nos romances. Muitos romances dão
descrições muito vivas dos personagens para que os leitores
tenham uma sensação imediata de como são.
Algumas vezes um romance, como “Ordinary People”,
evita descrições físicas, preferindo detalhes da vida pessoal
dos personagens. Mas os leitores ainda imaginarão algo,
transformarão os detalhes psicológicos numa aparência
visível.
Peças quase sempre dão uma ou duas linhas de detalhes
físicos importantes, para fisgar o leitor ou atores em
potencial.
O que faz uma descrição física? Antes de mais nada, ela
é evocativa; sugere outros aspectos do personagem. O leitor
começa a associar outras qualidades e imagina detalhes
adicionais das poucas linhas descritivas que o escritor deu
a ele.
Deixe a imaginação rolar na descrição a seguir, de um
roteiro chamado “Fire -Eyes” de um dos meus clientes, Roy
Rosenblatt: “Um doce rapaz que provavelmente trabalhou
por tempo demais”.
Que outras características vêm à sua mente?
Provavelmente você pensou no cansaço dele. Te passou a
suspeita dele ser pessimista? Provavelmente você o sentiu
simpático, por causa de seu rosto. Mas chegou a pensar se
ele tem conflitos no trabalho por ter trabalhado tempo
demais? Talvez ele sofra de Burnout, talvez você sinta pena
dele, ou até mesmo solidariedade. Consegue imaginar seu
jeito de andar ou falar?
Às vezes, em romances, os personagens
recebem características que os fazem reconhecíveis
instantaneamente. Veja a descrição de quatro detetives
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O CERNE DO PERSONAGEM
Personagens precisam ser coerentes. Mas isso não
significa que eles sejam previsíveis ou estereotipados. Mas
que, assim como pessoas reais, eles precisam ter um cerne
de personalidade que defina quem são e dê expectativas ao
público sobre como irão agir. Quando saem desse eixo, os
personagens podem parecer incríveis, incoerentes ou com
mais camadas.
Barry Morrow explica “Parte do apelo de um
personagem num filme é sua previsibilidade. Você entende
quem ele é, seu histórico, código de honra, ética e sua visão
de mundo. O personagem terá de fazer certas escolhas que
o público pode prever e gostar de presenciar.”
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ADICIONANDO CONTRADIÇÃO
A natureza humana é o que é, e um personagem sempre
será mais que um conjunto de coerências. As pessoas
também são ilógicas e imprevisíveis, fazem coisas que nos
surpreendem, chocam, que mudam tudo o que pensávamos
sobre elas.
Muitas dessas características nós só chegamos a conhecer
em pessoas que já temos contato há muito tempo. São
detalhes que não estão facilmente evidentes, mas que
atraem nossa atenção intensamente. Essas contradições
muitas vezes são a base para a criação de personagens
únicos e fascinantes.
Contradições não anulam as coerências, elas
simplesmente se somam a elas. Já tive um professor
de religião, por exemplo, que era especialista no novo
testamento. Ele era reservado, tímido, modesto, com um
grande conhecimento na sua área. Escreveu muitos livros e,
apesar de modesto em suas aulas, ele tinha uma boa noção
do próprio conhecimento. Ele tinha um posicionamento
enfático do que acreditava e não se importava em deixar
que os alunos soubessem de suas opiniões nas questões
religiosas. Ele seria um bom exemplo de personagem
consistente que mencionei.
Mas esse professor também foi um cowboy e era um
expert no laço. Uma vez a cada três ou quatro anos, alguém
pedia pra ele mostrar seus truques com o laço, que sempre
incluía laçar a perna de um voluntário. Além disso, também
foi conhecido por corridas de velocidade nas planícies
salgadas de Utah. Todas essas características faziam do
professor um personagem fascinante.
O romancista Leonard Tourney diz que as contradições
são a chave de personagens fascinantes: “Personagens
são mais interessantes se feitos de misturas, de elementos
contraditórios. Para criar elementos contraditórios, escolha
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MURPHY
Se nós duas escrevêssemos uma lista de
atividades favoritas, “fazer uma visita pra outra”
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RACHEL
John Book, enquanto estiver nessa casa, insisto
que respeite nossos valores.
JOHN
Certo. Tome. Coloque num lugar seguro onde
ele não encontre.
DETALHANDO O PERSONAGEM
Se você mergulha seu personagem numa vida emocional
com posturas e valores específicos, ele terá profundidade.
Mas existe outro passo que você pode dar para torna-lo
legítimo, único: adicionar manias e detalhes externos.
Comportamento (a maneira que as pessoas fazem
as coisas), traça a diferença entre duas pessoas que
talvez sejam semelhantes externamente. As pessoas têm
características que as distinguem. Pequenos detalhes que as
fazem especiais.
Se eu fizesse uma lista de detalhes que notei nos meus
amigos e conhecidos, ficaria assim:
■■ Uma pessoa que diz “entende?” e “claro que” em cada
frase.
■■ Uma mulher de trinta anos que leva dois animais
gordinhos na bolsa e presenteia as pessoas que
conhece com Origamis Tsurus.
■■ Uma mulher de quarenta anos com vive num clipe de
jazz.
■■ Uma mulher bem sucedida, conhecida pelos brincos
exóticos (que só usa entre amigos) de bananas,
flamingos, cacatuas e bumerangues.
APLICAÇÃO
Já que grande parte da criação de um personagem vem
da observação, um escritor está em treinamento constante.
Pra se exercitar, estude uma pessoa no mercado, na padaria,
no seu ambiente de trabalho. Faça as seguintes perguntas:
■■ Se eu tivesse que descrevê-la de forma rápida e
marcante, como seria essa descrição?
■■ Quais expectativas esse personagem inspira dado o
seu contexto? Consigo imaginar contradições que
possam torna-lo interessante?
RESUMO
Barry Morrow diz que o processo de criação de um
personagem é semelhante ao processo de modelgem: “é
como modelar um pedaço de argila ou talhar a madeira.
Não se pode chegar na coisa refinada sem antes tirar a casca
dura.”
Modelar seu personagem é um processo de seis etapas:
1. Através da observação e das suas experiências
vividas, você inicia a ideia do personagem.
2. As primeiras ideias gerais começam a defini-lo.
3. Você cria as coerências do personagem, para que ele
tenha sentido.
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3
Criando a História Pregressa
Quando você conhece alguém, você se interessa pelo
passado dessa pessoa? Já fez algumas dessas perguntas?
■■ De onde você veio? Por que se mudou pra cá?
■■ Por que decidiu trabalhar nessa função? Quais foram
seus outros empregos?
■■ Por quanto tempo você ficou casado? Onde se
conheceram?
Somos curiosos pelo passado, pois sabemos que existem
histórias interessantes por detrás de cada decisão.
Algumas podem envolver intrigas (“Ela foi forçada a
sair da cidade”), ou romance (“Eles se encontraram no
topo da torre Eiffel quando estudavam na França”), ou
corrupção (“O político usava dinheiro público pra pagar
sua casa em Bel Air”).
A situação atual é o resultado de acontecimentos do
passado e as decisões feitas no presente determinarão as
escolhas do futuro.
Toda obra de ficção foca no que chamamos de História
Principal. Essa é a história que o escritor realmente quer
contar. Porém, um personagem fez o que fez e é o que é
por causa do seu passado. Esse passado possui traumas
e crises, pessoas importantes que chegaram em sua vida,
coisas boas e ruins que recebeu, sonhos e objetivos e,
claro, influências culturais e sociais.
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MERTEUIL
Não tive escolha, não é? Sou mulher. Mulheres
são obrigadas a ser bem mais habilidosas que os
homens... Vocês podem nos deflorar a hora que
quiser. Tudo que conseguiríamos denunciando
seria aumentar o prestígio de vocês. (...) Então
é claro que preciso inventar, não só a mim mas
também maneiras de escapar que ninguém
jamais pensou, nem mesmo eu. Pois tive que ser
ligeira pra saber como improvisar. E consegui,
porque sempre soube que nasci pra dominar
seu sexo e lavar minha própria honra... Quando
cheguei na alta sociedade já sabia do papel que
eu estava condenada a estar. Ficar calada e só
falar quando permitida me deu a oportunidade
perfeita para prestar atenção: Não no que me
falavam, o que naturalmente era desinteressante,
mas tudo que eles pudessem estar escondendo.
Eu treinei a indiferença... Ensinei os moralistas
mais rigorosos a fazer pose; filósofos a encontrar
no que pensar, e romancistas a ver o que eu
poderia fazer passar desapercebido. E finalmente
estava bem acomodada para aperfeiçoar minhas
técnicas.
ESTUDO DE CASO
“Murphy Brown” série lançada em 14 de novembro de
1988. As primeiras palavras ouvidas sobre Murphy Brown
no episódio piloto foram todas sobre seu passado (a história
pregressa). Descobrimos que Murphy está voltando de uma
internação no Betty Ford Center. Numa entrevista recente,
Diane English explicou sua intenção com essa informação
do passado:
“Murphy ter ficado no Betty Ford Center, somando o
fato dela ter uma personalidade de uma viciada explica
muito sobre ela. Significa que ela será compulsiva, até
mesmo rabugenta às vezes. Ao conhece-la no dia que voltou
do Betty Ford Center, nós a vemos como uma interrogada
que está sendo testada, sem nada que pudesse se apoiar. Era
disso que se tratava o episódio piloto: a personagem estar
sendo testada e tentando redefinir a si mesma”.
Então a primeira informação sobre Murphy remete
imediatamente ao seu passado (a história pregressa). Essa
informação ambienta a situação, mas também ajuda a
expandir a personagem.
“Nesse primeiro episódio, descobrimos que ela era muito
bem-sucedida. Antes mesmo que ela entrasse na sala, eu
queria dar um pouco de informação pregressa sem que essa
informação saísse diretamente dela. Então ouvimos alguns
personagens falando sobre ela: certa vez deixou Warren
Beatty mofando; é uma ex-fumante e não bebia mais. Eu
queria causar a impressão de uma pessoa extremamente
famosa, mas que não aceitasse conselho de ninguém,
uma pedra no sapato de muita gente, mas uma pessoa
querida. Isso mostrava que ela era um personagem que
simpatizaríamos e torceríamos por ela.
“No piloto descobrimos que ela é filha única, que
não sabia compartilhar, que se garantia. Sentíamos que
precisávamos criar algo sobre os pais dela, já que todos
estávamos ansiosos por saber de onde essa pessoa veio.
Quando apresentamos a mãe dela, aquilo falou tanto sobre
Murphy e de onde veio aquele jeito dela. Sua mãe era um
personagem muito mais cheio de vida que ela. Murphy
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APLICAÇÃO
Faça as seguintes perguntas enquanto desenvolve a
história pregressa do seu personagem:
■■ Meu trabalho com a história pregressa é um processo
de descoberta? Estou tomando o cuidado de deixar a
história pregressa aberta ao invés de impor fatos que
não são relevantes pra história?
■■ Quando uso informações pregressas na história
central, estou tendo cuidado de contar apenas
o necessário, o que é de fato relevante? Estou
mesclando essas informações com camadas de
história central, pra não ficar cansativo?
■■ Estou contando a história pregressa da maneira mais
curta e concisa possível? Estou tentando resumir a
informação que importa numa frase só? Ela deve
revelar algo importante em termos de motivação,
postura, atitudes, emoções e decisões.
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RESUMO
Criar o passado de um personagem é um processo de
descoberta. O escritor precisa ir e vir nesse constantemente:
fazer perguntas sobre o passado para compreender melhor
o presente. O processo segue enquanto se escreve a história
central. A história pregressa enriquece e aprofunda
continuamente o personagem. É a chave para criar um
personagem consistente/crível.
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4
Entendendo o Psicológico
do Personagem
Não é preciso um psicólogo pra entender o que
influenciou seu personagem a fazer algo. Judith Guest é
uma romancista conhecida pela perspicácia psicológica,
mesmo tendo pouca base técnica na psicologia: “Minha
conhecimento formal em psicologia é mínimo. Fiz um
curso na faculdade sobre desvios sexuais e, como resultado,
fiquei fascinada pelo comportamento humano. Queria
observá-lo de todas as formas possíveis e encontrar o
motivo das pessoas fazerem o que fazem e o que pode
estimular esse ou aquele comportamento”.
Da mesma forma que construímos personagens com
características externas (aparência física e comportamento
prático), é igualmente importante que o escritor
compreenda o uninverso interno do personagem, o seu
psicológico.
Um escritor precisa entender como as pessoas
funcionam, entender por que fazem o que fazem,
desejam o que desejam. “Metade da escrita é psicologia”,
Barry Morrow afirma. “Existe um cerne coerente. As
pessoas não agem por mera aleatoriedade. Para criar um
comportamento humano consistente, é preciso saber o que
as pessoas fariam na maior parte das situações. As pessoas
não agem sem motivo. Toda ação tem uma motivação e
intenção.”
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APLICAÇÃO
Conhecer o universo interno do seu personagem pode te
ajudar a criar um personagem mais forte e compreensível.
Pra começar, pergunte a si mesmo
■■ Quais acontecimentos traumáticos do passado do
meu personagem podem afetar seu comportamento
presente? Existem boas influências no passado que
podem influenciar uma transformação no presente?
■■ Quais forças inconscientes influenciam meu
personagem? Como elas afetam as motivações, ações
e objetivos dele?
■■ Quais tipos de temperamentos usei de modelo para
o meu protagonista e coadjuvante? Criei contraste e
conflito no relacionamento deles?
■■ Será que criei personagens muito bonzinhos, muito
superficiais, muito normais? Existe algo anormal
neles? Como as anormalidades deles poderiam causar
conflitos com outros personagens?
RESUMO
As pessoas são mais que sistemas. Mas existem certos
padrões de comportamento e posturas que são governadas
pelo psicológico delas. Entender que as pessoas se parecem
em certos desejos básicos, mas são diferentes na maneira
de reagir à vida, pode ser a chave para criar personagens
dimensionais com riquezas de detalhes da vida externa e
interna.
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5
Criando
Relacionamentos entre Personagens
Raramente um personagem existe isoladamente, mas em
relacionamentos. Com exceção de uma história de apenas
um personagem (por exemplo, “A Última Gravação de
Krapp”, escrito por Samuel Beckett, ou “Encurralado” de
Steven Spielberg), muitas histórias são sobre a interação
entre pessoas. Em muitas obras, a dinâmica entre os
personagens pode ser tão importante quanto qualquer
qualidade individual de um personagem.
O romancista Leonard Tourney enfatiza que a mudança
é o foco do século XX. “Os casais têm se tornado cada vez
mais importantes na ficção. Existem inúmeras histórias
com parceiros (equipe policial ou de marido e mulher).
Isso introduz um tipo de química na história, cria uma
nova pessoa, uma nova identidade, algo novo. Quando
colocamos duas coisas ou pessoas juntas, você gera algo
novo. Casais acabam gerando algo diferente do que se
fossem duas pessoas separadas. Não é algo consciente, mas
casais tendem a se comportar de maneira diferente.”
Alguns dos filmes e séries de maior sucesso são
estrelados por duas pessoas, não uma.
Uma lista parcial incluiria: “Cheers”, “Kate and Allie”, “
A Gata e o Rato”, “Mork and Mindy”, “Starsky and Hutch”,
“Cagney and Lacey”, “Jogo Duplo”. Muitos filmes de sucesso
também enfatizam relacionamentos de personagens: “Uma
Aventura na Africa”, “Butch Cassidy”, “A Costela de Adão”,
“48 HRS.”, “Máquina Mortífera”, e Rain Man.
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DAVID
Eu estava pensando... Maddie Hayes... É um
nome que não ouço há algum tempo. Ela me
esbofeteou uma vez. Ela sabia dar um tapa...
Tinha algo, ela tinha classe, força. Eu a admirava,
de verdade.
FANTASMA MADDIE
Você admirava?
DAVID
Talvez tivesse sido ótimo nós dois.
FANTASMA MADDIE
Mas nós éramos ótimos juntos... não se lembra
daqueles casos? O disco jockey, o tocador de
piano, meu retrato idiota. Você me seguiu até
Buenos Aires... Te segui até Nova Iorque. Como
você se esqueceu disso? Você até me beijou uma
vez na garagem.
ALBERT
Não, ele não beijou, Maddie.
FANTASMA MADDIE
O quê?
ALBERT
Nada disso aconteceu
FANTASMA MADDIE
Hum?
ALBERT
Tudo que aconteceu depois que você fechou a
agência, esses dois anos, tudo se foi
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DAVID
Ah, que doideira. Olha eu aqui comparando a
Cheryl com uma mulher que eu nem conheço.
SAM
O que você quer Diane?
DIANE
Quero que você me diga o que você quer
SAM
Vou te falar o que quero. Quero saber o que você
quer
DIANE
Não vê? Esse é o nosso problema o tempo todo.
Nenhum de nós dois é capaz de se abrir e falar o
óbvio
SAM
Tá certo. Vamos falar o óbvio.
DIANE
Ok. Você primeiro.
SAM
Por que eu primeiro?
DIANE
Estamos fazendo de novo
SAM
Diane, só me fala uma coisa: por que você não
está com o Derek?
DIANE
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APLICAÇÃO
Os conceitos que abordamos podem funcionar em
qualquer tipo de relacionamento. Sejam personagens
principais ou secundários, criar uma dinâmica de
relacionamento forte pode trazer vida e empolgação a
sua história. Enquanto pensa em seus personagens faça as
seguintes perguntas:
■■ Existe conflito entre meus personagens? Isso é
expressado através de ação, posturas, valores?
■■ Contrastei meus personagens pra criar diferenças
entre eles?
■■ Existe potencial nesses personagens para que mudem
um ao outro? O público irá entender o motivo dessas
duas pessoas estarem juntas? A atração entre eles é
clara? O impacto que um tem sobre o outro também
é claro?
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RESUMO
Drama é essencialmente relacionamento. É raro que se
resuma a pessoas. São pessoas interagindo, influenciando e
sendo influenciadas. Sofrendo mudanças por causa dessas
interações.
Sem a dinâmica dos relacionamentos, os personagens
podem ficar desinteressantes. São os conflitos e contrastes
que geram drama entre os personagens, que provam que
relacionamentos podem ser tão cativantes e memoráveis
quanto qualquer personagem singular.
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6
Personagens Secundários
e Personagens Menores
Adicionar personagens secundários expande a paleta da
história. Assim como um pintor que continua adicionando
detalhes para aprimorar a pintura, o escritor adiciona
personagens secundários para dar mais profundidade, cor e
textura à história.
Muitos princípios para criar personagens principais são
usados nos personagens secundários. Eles precisam ser
consistentes, ter posturas, valores e emoções, além de ter
suas contradições.
Mas existem diferenças importantes. Imagine uma
fotografia de um casamento. Existem vários detalhes ao
redor das duas figuras principais (a noiva e o noivo). E
existem várias figuras, muitas delas são indistintas umas das
outras. Mas algumas delas são bem definidas na multidão:
uma jovem de vermelho, por exemplo, ao fundo, brincando
com um filhotinho que estava passeando pelo cenário;
o padre, com ar presunçoso. Na visão panorâmica, onde
o padre está ao topo da escadaria, a mãe da noiva em seu
vestido amarelo de laço, chorando de alegria, próxima à
filha.
Nessa cena, os personagens secundários são tão
memoráveis quanto os principais. Apesar de existir alguns
sem muita distinção (os convidados extras), existem outros
rondando a história, que expandem a premissa de amor e
matrimônio.
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A FUNÇÃO
Para começar, pergunte-se: Além do meu protagonista,
quem seria necessário para contar essa história? Quem
meu/minha protagonista principal precisa por perto?
Ao esclarecer isso, você evita criar personagens
desnecessários e começa a entender quem é necessário
de fato. O objetivo é achar o equilíbrio entre personagens
principais e personagens secundários, além de não deixar
a história confusa por excesso de personagens.
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PO
KJCM, Midnight Caller. Obrigado pelo contato.
Qual seu nome e de onde fala?
DEVON
Agora, sem mais demora, temos o prazer de
apresentar Jack Killian
KILLIAN
A ave noturna!
Devon lança um olhar pra Jack, mas continua sem perder a
pose.
DEVON
Nosso convidado no Midnight Caller.
(mais tarde)... O sinal “AO VIVO” se apaga. Devon vira-se
para Jack.
DEVON
A ave noturna?
KILLIAN
É. Você gostou?
DEVON
Não muito.
DR. SPIVEY
Comunidade terapêutica. Significa que essa
ala é uma sociedade em miniatura e, já que
a Sociedade decide o que é ou não sadio, é
preciso medi-la. Nosso objetivo aqui é uma ala
completamente democrática, governada pelos
pacientes – trabalhando para reintegrar vocês
na vida lá fora. O importante é não deixar que
nada apodreça dentro de vocês. Falar. Discutir.
Confessar. Se você ouvir algum paciente falar
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BOOK
Sou policial. Samuel, quero que me fale tudo que
viu quando estava lá.
SAMUEL
Eu o vi.
BOOK
Quem?
SAMUEL
O homem que matou ele.
BOOK
Certo, Sam. Pode me dizer como era a aparência
dele?
SAMUEL
Era igual a ele (Samuel aponta pra Carter, o
parceiro de John)
BOOK
Era um homem negro? De pele escura?
SAMUEL
Mas não era mirradinho.
BOOK
Não era o quê?
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RACHEL
Na fazenda, o menor porco da ninhada é
mirradinho. Pequenininho.
MALVIN
Espera. Não terminei de ler.
Jim pega mesmo assim. Olha com atenção, meio pelo
canto dos óculos fundo de garrafa.
JIM
Guerra termonuclear global... Isso não é da
Protovision.
MALVIN
Eu sei que não. Pergunta pra ele onde conseguiu.
DAVID
Já te disse.
MALVIN
Parece coisa militar. Definitivamente militar.
Provavelmente sigilosa.
DAVID
Se for militar, por que eles teriam jogos tipo 21 e
damas?
JIM
Talvez porque são jogos de estratégia básica.
Jennifer olha curiosa pro grupo de esquisitos.
MALVIN
Quem é ela?
DAVID
Ela tá comigo.
MALVIN
Por que ela tá ali? Ela tá perto do drive. Não
deixa ela tocar naquilo. Tô tendo um monte de
problema com aquela unidade.
JIM
Se você quiser mergulhar nisso, descubra tudo
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PREENCHENDO UM PERSONAGEM
Ao entender a função, adicionar cor e textura, você
estará perto de criar um personagem completo. Mas talvez
também seja necessário adicionar detalhes que você tire da
sua própria observação e experiência.
Às vezes isso pode significar se colocar na pele do
personagem. Seth Werner, criador dos comerciais da
California Raisins comenta “ Muitos dizem que os
personagens que coloco nos comerciais têm um pouco de
mim. Alguém disse que dá pra me achar na fila de uvas-
passas dançantes. É o jeito que eu ando e é o jeito que eu
dançaria. O comercial é um pouco fora do normal. E é
isso que gera um pouco de personalidade e magia. Mesmo
quando os animadores faziam as uvas-passas de modelar,
dava pra ver eles olhando para o espelho e copiando as
próprias expressões para o rosto das uvas-passas. Quando o
trabalho é feito com coração, as pessoas sentem isso. Isso as
toca. Talvez sejam esses pequenos detalhes, essas sutilezas
que deixam a coisa especial.
Robert Benton criou uma série de personagens do “Um
Lugar no Coração” usando lembranças e observações de
pessoas que já conheceu. “Eu tinha um tio-avô que era cego.
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CRIANDO O VILÃO
Tudo que já foi mencionado até aqui será útil para cria-
lo. Mas o vilão tem alguns problemas incomuns.
Por definição, ele é o personagem maligno que se opõe
ao protagonista. Vilões normalmente são antagonistas,
apesar de nem todos os antagonistas serem vilões. Por
exemplo: Antagonistas não são vilões quando se opõe ao
protagonista por mera função na história, sem que exista
alguma má intenção.
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APLICAÇÃO
Olhe para os personagens secundários no seu roteiro e se
pergunte:
■■ Meus personagens possuem uma função na história?
Qual é?
■■ De que forma cada um dos meus personagens ajuda a
expandir o tema da minha história?
■■ Tomei a devida atenção na criação dos meus
personagens menores? Caso eu tenha utilizado
“personagens-tipo”, me certifiquei de que não são
estereótipos?
■■ Contrastei os personagens? De que formas eles
adicionam cor e textura à história?
■■ Quais os traços gerais que usei para definir meus
personagens secundários e menores? Esses traços
têm relação com a história ou com o tema? (caso
contrário irão soar desnecessários ou forçados)
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RESUMO
Muitas das melhores histórias são memoráveis por
causa dos personagens secundários. Eles podem mover
a história, esclarecer o papel do personagem principal,
adicionar cor e textura, aprofundar o tema, expandir
a atmosfera, adicionar detalhes até na menor cena, no
menor momento.
James Dearden resume da seguinte forma: “Dentro
do plausível, sem exagerar, você pode deixar seus
personagens menores interessantes. Entretenimento é
o elemento mais importante numa história. Não num
sentido cabal, mas é sobre manter os olhos das pessoas
em movimento, suas orelhas em pé e seus cérebros
funcionando. São esses pequenos detalhes que dão vida
pra algo.
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7
Escrevendo Diálogos
Muitos escritores e professores de escrita têm me dito
“Não dá pra ensinar como escrever diálogos. Ou você
tem jeito pra isso ou não tem”. Concordo que diálogos
incríveis, assim como pinturas incríveis, músicas incríveis,
não podem ser ensinadas. Mas diálogos bons podem.
Existem métodos de pensar uma cena e um personagem
que podem melhorar o diálogo. Os escritores podem treinar
seus ouvidos pra ouvir ritmos e padrões de fala assim
como músicos podem treinar para ouvir melodias e ritmos
musicais.
Primeiro você precisa entender o que é um diálogo bom
e um diálogo ruim.
Um diálogo bom:
■■ É como uma boa música. Tem uma batida, um ritmo,
uma melodia.
■■ Tende a ser curto e econômico. Nenhum personagem
costuma falar mais que duas ou três linhas.
■■ É como uma partida de tênis. A bola vai e vem entre
os jogadores, representando a constante troca de
poder (sexual, físico, político ou social).
■■ Carrega conflito, posturas, intenções. Ao invés de
falar sobre o personagem, ele revela o personagem.
■■ É fácil de ser lido, graças ao seu ritmo. Ele transforma
qualquer um num grande ator.
Existem vários escritores incríveis de diálogos. Um
deles é James Brooks. Leia em voz alta e ouça os ritmos dos
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JANE
Não é um encontro. São apenas colegas indo a
um compromisso profissional.
Sem ser notada, Jane vai até a sacola de papel,
pega uma caixinha de preservativos, e deixa
escorregar para dentro da bolsa que irá usar pra
sair.
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O QUE É SUBTEXTO?
Subtexto é o que o personagem está dizendo
nas entrelinhas. Normalmente os personagens não
compreendem a si mesmos. Não costumam falar
abertamente aquilo que realmente querem dizer. Podemos
dizer que subtexto é todo o instinto e propósitos ocultos
que não são óbvios para o personagem, mas que ficam nas
entrelinhas para o espectador/leitor.
Um dos exemplos mais encantadores de subtexto é do
filme “Noivo Neurótico, Noiva Nervosa”, escrito por Woody
Allen. Quando Alvie e Annie se encontram pela primeira
vez, ficam se observando dos pés à cabeça. O diálogo é uma
discussão intelectual sobre fotografia, mas o subtexto deles
está escrito nas legendas do filme. Ela divaga no subtexto
se ela seria suficientemente inteligente pra ele. Ele divaga se
está sendo superficial, ela divaga se ele é um babaca igual
o outro homem que saiu, ele divaga sobre como ela seria
pelada.
Em “Noivo Neurótico, Noiva Nervosa”, tanto Annie
quanto Alvie entendem o subtexto daquela conversa.
Mas normalmente os personagens estão inconscientes do
subtexto. Não sabem o que realmente estão dizendo, o que
realmente estão querendo expressar.
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GARÇONETE
Dry Martini?
TOM
(um olhar malicioso) Você me pegou. Faça um
seis pra um.
(SUBTEXTO: Sou muito homem e vou beber um
Martini bem seco)
Do que você gosta, Gene? De um Dubonnet?
(SUBTEXTO: Na visão de Tom, Gene definitivamente
não é tão viril quanto ele. Por isso provavelmente não
beberia Martini; mas Dubonnet.)
GENE
Vou pegar um martini também, por favor.
TOM
Mas não vai ser seis pra um.
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GENE
Sim, será o mesmo!
(SUBTEXTO: Te desafio a achar que sou menos do que
você!)
TOM
Tudo bem!
(SUBTEXTO: Mas que arrogante!)
TOM
Mas o jantar é por minha conta, certo?
GENE
Não, eu te convidei.
TOM
Uh-uh, você já teve todo esse gasto para vir até
aqui.
(SUBTEXTO: Veja que pai justo e generoso eu sou!
Lembre-se, você não ganha o suficiente para pagar essa
viagem e ainda pelo jantar!)
GENE
Não, deixa comigo. E peça o que quiser. Não vai
ficar vendo o preço primeiro... Sempre que eu te
levo pra jantar você fica vendo o preço antes.
(SUBTEXTO: Deixa eu dar isso a você. Quero aproveitar
o jantar e eu posso pagar sim por ele.)
TOM
Não faço isso. Mas acho ridículo pagar, veja só,
$3,75 por um camarão ao curry.
GENE
Você gosta de camarão. Peça o camarão.
TOM
Se você me deixar pagar por ele.
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GENE
Não! Vai, vamos logo.
(SUBTEXTO: Pelo amor de deus, me deixa pagar esse
camarão pra você, por favor!)
TOM
Olha, eu admiro isso, Gene, mas no que você
trabalha...
(SUBTEXTO: Você não é tão bem sucedido quanto eu ou
o quanto eu gostaria que você fosse.)
GENE
Eu posso pagar. Não vamos discutir.
PRODUTOR
Bem, entre. É um prazer encontrar você. Sabe, eu
gostei bastante do roteiro, é algo tão bom.
JOVEM ESCRITOR
Oh, obrigado. É meu primeiro roteiro, eu estava
com muito medo de que você não gostasse
dele. Sou do Kansas, nunca estive numa cidade
grande, me sinto muito sortudo de encontrar
uma pessoa como você. Admiro seu trabalho há
muitos anos.
PRODUTOR
Ah, foi muito gentil da sua parte dizer isso.
Vamos conversar sobre fechar negócio.
PRODUTOR
Nunca conheci ninguém que andasse de ônibus.
(faz uma anotação pra si mesmo). Preciso
experimentar isso.
O PRODUTOR acende um cigarro, o que só deixa o
JOVEM ESCRITOR ainda mais enjoado pelo movimento
do mar.
PRODUTOR
Então, criança. O que posso fazer por você?
JOVEM ESCRITOR (surpreso)
É meu roteiro, senhor. Você pediu pra me ver.
PRODUTOR
Pedi?
JOVEM ESCRITOR faz que sim.
PRODUTOR
Qual é o nome?
JOVEM ESCRITOR
“Todos vêm correndo”, senhor.
O PRODUTOR vasculha pela escrivaninha.
PRODUTOR
Deixa-me ver... correndo... sarrento...
O JOVEM ESCRITOR vê seu roteiro e aponta.
JOVEM ESCRITOR
Aquele ali.
PRODUTOR
Ah é, o roteiro da corrida.
JOVEM ESCRITOR
Não é bem sobre corrida, Sr. Dinglemy. É sobre o
Kansas, sou de lá.
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PRODUTOR
Kansas, ein? Tipo milharal e coisa modesta?
(pensa por um instante) Pode começar uma
nova tendência. Gostei! Certo, garoto, você
conseguiu um acordo!
JOVEM ESCRITOR
Bom, são as pessoas que assistem seus filmes.
Deveria tentar um dia desses.
PRODUTOR
Não tô gostando dessa postura
JOVEM ESCRITOR (respira fundo) Não tô
vendendo minha postura, senhor! Tô vendendo meu
roteiro, então ou você compra ele ou eu vou voltar pra
fazenda.
PRODUTOR
Que fazenda? Que roteiro?
JOVEM ESCRITOR (exasperado)
O roteiro que você queria falar a respeito.
PRODUTOR
Eu queria? Como se chama?
JOVEM ESCRITOR
“Eles vêm correndo”
O PRODUTOR vasculha pela escrivaninha.
PRODUTOR
Já foi o tempo dessas histórias de corridas.
JOVEM ESCRITOR
Não é exatamente sobre corrida. Pelo amor de
deus, é sobre a situação do agricultor no Kansas.
PRODUTOR
Terra, ein? Quem se importa com terra?
JOVEM ESCRITOR (levanta a mão pro alto)
Eu desisto! Vou voltar pra casa...
PRODUTOR
Espera um pouco! (pensando alto), Terra,
planeta-terra... Simplicidade, gostei. Pode
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CORTA PARA:
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CORTA PARA
INT. SUITE 1201 – DIA
Moss entra hesitante na suíte. Passa do pequeno trocador
para a sala de estar. Está impecavelmente limpa, quase
como se não estivesse habitada. Nenhuma bituca de cigarro
ou jornal ao redor. Será o lugar certo?
MOSS
(fala suavemente) Com licença.... Moss Hart,
vim falar com Jed Harris.
VOZ
Sim, entre.
Ele segue a voz, hesitante. Atravessa a sala de estar para o
quarto.
CORTA PARA:
INT. QUARTO – DIA
Uma cama está bagunçada, sem os cobertores. A outra
está empilhada de roteiros. Dois cinzeiros cheios com
cigarros meio-usados. A persiana está abaixada, o lugar
está a meia-luz. Moss está bem confuso, assustado de ter
cometido algum engano.
MOSS
Olá?
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JAD HARRIS
A fofoca acabou sendo mais verdadeira do que
eu esperava.
Ele ri presunçoso para Moss. Moss tenta sorrir,
mas não consegue. Acaba saindo uma espécie de
tique facial.
APLICAÇÃO
O diálogo é a chave da escrita na dramaturgia, mas
também é essencial para qualquer tipo de obra de ficção,
seja drama, romance ou uma história curta.
Olhe pros seus personagens e pergunte-se:
■■ Eu defini o personagem usando ritmo de diálogo,
vocabulário, sotaque (se necessário), e até mesmo na
extensão das falas?
■■ Existe conflito nos diálogos? O diálogo contrasta a
postura dos personagens?
■■ Meu diálogo contém subtexto? Consegui expressar de
alguma forma o que meus personagens querem dizer,
mesmo diante do que realmente disseram?
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RESUMO
Um escritor está sempre em treinamento. Aprender a
escrever diálogos inclui: ouvir, escrever e declamar bons
diálogos para internalizar como soam e seus ritmos.
Alguns escritores fazem aulas de teatro para entender mais
profundamente o que um ator precisa deles.
Diálogo é a música da escrita de ficção (com ritmo e
melodia). É possível pra qualquer escritor desenvolver
um ouvido pra isso; escrever diálogos que transmitem
posturas e emoções, além de expressar as complexidades do
personagem.
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8
Criando Personagens
Não realistas
Até agora, discutimos personagens realistas: aqueles que
são como nós. Nos identificamos com eles por dividirem
as mesmas falhas, os mesmos desejos e metas. Eles não são
super-heróis, não têm características subumanas, ou falhas
exageradas.
Mas o mundo da ficção é também repleto de
personagens não realistas. Pense na grande variedade
de personagens que vieram de um mundo especial da
imaginação: E.T, Mr. Ed, sereias, monstros do pântano,
tomates assassinos, Super-homem e Batman, King Kong,
Bambi, Dumbo, Jolly Green Giant, California Raisins.
Nesse capítulo, veremos os quatro tipos diferentes de
personagens não realistas. Personagens que você, como
escritor, talvez crie. São eles: personagem simbólico,
personagem não-humano, personagem de fantasia e,
personagem mítico. Os personagens em cada categoria
são determinados por seus limites, contexto, associações e
respostas que o público pode trazer para cada um deles.
O PERSONAGEM SIMBÓLICO
Personagens realistas são os mais dimensionais, são
definidos por coerências/paradoxos, por seu psicológico
complexo, posturas, valores e emoções. Se você estiver
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O PERSONAGEM NÃO-HUMANO
Muitos de nós crescemos lendo histórias com
personagens não-humanos, como “Beleza Negra: A
Autobiografia de um Cavalo”, Lassie, A Teia de Charlotte,
Bambi, Dumbo, O Corcel Negro. Mas personagens
não-humanos não se limitam às histórias infantis. Nos
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O PERSONAGEM DE FANTASIA
Personagens de fantasia vivem num mundo romântico,
mágico, estranho. Habitado por criaturas como os duendes,
gigantes, goblins, trolls, e bruxas. Pode haver os sombrios e
malvados, mas nunca é algo cabal. Os personagens podem
ser perigosos, mais não horripilantes. Podem ser malvados,
mas o bem sempre triunfa. Personagens de fantasia podem
até mesmo se redimir no final.
Personagens com esse contexto mágico têm um número
limitado de qualidades. Às vezes são definidos por exageros
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O PERSONAGEM MÍTICO
Cada um dos três tipos de personagens não realistas que
discutidos possuem atributos enfatizados, contexto e/ou
associações. Para criar um personagem mítico usaremos
esses mesmos elementos, mas adicionaremos um outro: o
conhecimento do público.
A diferença entre uma história comum e um mito
depende de como a audiência irá se conectar com a obra.
A maior parte da ficção nos comove de alguma forma, seja
em lágrimas, risos ou nos fazendo pensar. Mas a maioria
dos filmes e romances terminam assim que a história acaba.
Talvez lembremos de uma cena ou um personagem por
algum tempo, mas não nos manteremos na experiência.
Porém, quando terminamos de ler ou assistir uma
história mítica, nós adicionamos um processo de reflexão
duradoura nessa experiência. A cena ou o personagem
retornam, nos perseguem. Não nos deixam ir embora.
Uma história mítica representa o significado das nossas
próprias vidas. Transmite uma história que pode nos ajudar
a entender melhor nossa própria existência, nossos próprios
valores e anseios. A maioria assiste um filme (ou lê um
romance) projetando sua própria história naquela que está
sendo contada.
Às vezes mitos e personagens míticos nos encorajam, nos
motivam ou nos empurram para novos comportamentos
ou compreensões. Nos tornamos, de certo modo, pessoas
melhores à medida que nos identificamos com o heroísmo
dos personagens míticos.
Histórias míticas são normalmente histórias sobre um
herói mítico, contendo uma figura heroica que supera
obstáculos e permanece em sua jornada para atingir um
objetivo ou tesouro. Como regra, o herói se transforma ao
longo da jornada. À medida que vemos o desdobramento
da história, talvez pensemos nas nossas próprias jornadas
heroicas. Pode ser aqueles obstáculos que um escritor
tem que superar para vender o roteiro ou o romance, ou
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APLICAÇÃO
Se o seu roteiro possui personagens não realistas,
pergunte-se:
■■ Qual ideia está sendo comunicada por esse
personagem?
■■ Que associações essa ideia inspira? Eu testei essas
associações para garantir que são coerentes com meu
personagem?
■■ Qual o contexto do meu personagem? Se eu mudar
ou expandir o contexto, isso ajudará a fortalecer o
personagem?
■■ De que maneira o personagem se conecta com a
história pessoal do público? Se o meu personagem é
mítico, eu explorei as várias dimensões do mito pra
deixa-lo claro?
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RESUMO
Os personagens não realistas estão determinados por
quatro critérios:
1. Até que ponto eles exemplificam uma ideia?
2. Como o contexto do meu personagem ajuda a defini-
lo (como o contexto o influencia)?
3. Quais associações o público faz com o personagem?
4. Esse personagem ajuda o público a entender o
significado de suas próprias vidas e histórias pessoais?
Personagens não realistas têm feito sucesso nos
romances, filmes e séries (“Alf ”, “Lassie”, “Rin Tin Tin”). Os
recentes sucessos de bilheteria (“Batman, Super-homem”,
“Uma Dupla Quase Perfeita” e “Fantasma da Opera”)
criaram mais mercado. Isso significa mais necessidade de
escritores que sabem escrever histórias com personagens
não realistas.
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9
Para além do Estereótipo
A ficção pode ser poderosa. Personagens podem afetar
nossas vidas em muitos níveis. Eles nos inspiram, motivam
comportamentos, ajudam a entender a nós mesmos e aos
outros, expandem nossa percepção da natureza humana,
e até mesmo são modelos para novas decisões em nossas
vidas.
Mas, assim como eles podem ser influências positivas,
também podem nos afetar negativamente. Existem
fortes evidências que comportamentos criminosos são,
algumas vezes, copiados de programas de televisão. Vários
estudos têm mostrado um elo entre violência televisiva e
violência entre crianças e adultos. Existem evidências que
estereótipos colaboram para uma visão negativa do público
a respeito de uma série de pessoas. Como escritor criando
personagens dimensionais, é sua obrigação entender o que é
estereótipo para desconstruí-lo.
Podemos definir estereótipo como uma representação
continua de certas pessoas, com o mesmo conjunto
superficial de características. Normalmente um estereótipo
é negativo, mostra um viés cultural preconceituoso,
pintando um personagem de fora da cultura dominante de
maneira limitada e até desumanizada.
Quem é estereotipado? Qualquer um diferente de nós.
Qualquer um que não entendemos. Podemos incluir
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SUPERANDO O ESTEREÓTIPO
Apesar das boas intenções de muitos escritores, os
personagens de ficção são predominantemente brancos e
não retratam a realidade. A população dos Estados Unidos
consiste de 12% de negros, 8.2% hispânicos, 2.1% de
asiáticos, 2% de índios, 20% de pessoas com algum tipo de
deficiência física. Porém, a maioria das histórias de ficção
retrata uma realidade um tanto diferente.
Numa análise recente de programas de televisão, um
estudo da Comissão De Direitos Civis Norte Americana
descobriu que apesar de 39% da população dos EUA ser
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APLICAÇÃO
Pense por um momento sobre as pessoas que você
conhece que são negras, hispânicas, índias, asiáticas, etc.
Pense em como a mídia costuma retratá-las e como difere
da sua própria experiência. Existe alguma pessoa desses
grupos que você nunca conheceu? O que você pensa sobre
elas é realmente verdade? Tente encontrar a verdade,
principalmente se você decidiu usar um desses grupos
étnicos na sua história.
Aplique o critério do estudo de caso em alguns filmes
que você assistiu ano passado. Onde cada filme errou?
Onde cada filme acertou? Como poderia melhorar sem
comprometer a história?
Pense na sua cidade natal. Quais diversidades existiam
entre as pessoas de onde você cresceu? Existiam pessoas
de certas culturas que você não tinha contato? Você tinha
ideias estereotipadas dessas pessoas? Como você começou a
desconstruir esses estereótipos?
Pense no contexto dos personagens do seu roteiro. Você
explorou a diversidade dentro da localidade de cada um?
Você precisa fazer pesquisas mais a fundo sobre algumas
dessas pessoas para retratá-las com precisão? Quem você
conhece de grupos minoritários que poderia ler seu roteiro
e dar sugestões para dimensionar melhor o personagem?
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RESUMO
Desconstruir estereótipos não é um processo que
o escritor precisa fazer sozinho. Todos os grupos
mencionados possuem materiais publicados que podem
ajudar a entender mais profundamente algum personagem
de alguma minoria específica. Muitos deles também
possuem outras fontes disponíveis para o escritor, tais
como pessoas para serem consultadas sobre personagens no
roteiro.
Adicionar representações positivas de mulheres e
minorias no seu roteiro pode expandir a paleta da sua
história, criar personagens mais fortes, definidos e
dimensionais.
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10
Resolvendo Problemas
no Personagem
Escritores ficam travados e personagens também.
Às vezes as ideias simplesmente não vêm. Às vezes o
personagem parece que não vai chegar a lugar nenhum, e
todas as perguntas básicas (O que o personagem quer?
Quem é o personagem? O que ele/ela está fazendo na
história) parecem não entregar nenhuma resposta. Para
alguns escritores, esses momentos os enchem de pavor.
Outros simplesmente veem como parte do processo.
Às vezes isso acontece por cansaço. Os escritores estão
tão exaustos que suas mentes não estão funcionando bem.
Às vezes é por falta de pesquisa. Se você não entende o
contexto do personagem, o personagem não vai funcionar.
Outro problema ocorre porque escritores passam tanto
tempo escrevendo, que não param pra viver. Carl Sautter
alerta, “Você precisa tentar ter uma vida, perceber que
é mais que um escritor e que existe um mundo lá fora. Se
você não estiver no mundo, não escreverá tão bem pois
você estará perdendo o que está acontecendo.”
Não existe nada de estranho em enfrentar problemas
com o personagem. Todo escritor passa por isso.
Normalmente os problemas estão nos seguintes tópicos:
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APLICAÇÃO
Quando você encontra um problema de personagem,
primeiro pense nos conceitos centrais abordados nos
capítulos anteriores. Se você conseguir apontar exatamente
onde está o problema (o personagem não ser consistente,
falta de dimensionalidade, sem vivacidade emocional,
valores pouco claros, etc), muitos dos exercícios que foram
passados até aqui podem ajudar a resolver o problema.
Se não funcionar, pergunte o seguinte:
■■ Meu personagem soa como uma pessoa específica, ou
ficou muito generalizado?
■■ Eu gosto dele, eu o compreendo?
■■ Meu personagem secundário está dominando a
história? Essa dominação prejudica ou existe algo
interessante se desenvolvendo? Estou com vontade de
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RESUMO
Escrever bons personagens é um processo complicado.
É natural encontrar alguns problemas pelo caminho.
Ficar travado é parte natural do processo. Acontece até
com os melhores escritores. Usar algumas dessas técnicas
de solução de problemas pode ajudar na sua frustração,
direcionando você para soluções que podem fazer seu
personagem funcionar.
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Epílogo
Escrever esse livro foi uma aventura. Falar com esses
escritores talentosos expandiu minha consciência sobre
as habilidades sutis necessárias para criar personagens
incríveis. Iniciei cada entrevista com respeito pelo trabalho
do escritor e terminei com um igual respeito pela pessoa
por detrás da obra. Ficou evidente pelas percepções,
apontamentos e eloquência que essas pessoas eram
especiais.
Muitos dos escritores enfatizaram os mesmos pontos:
■■ A importância de observar a vida
■■ Refletir a partir das próprias experiências para
melhor compreender seus personagens
Contudo, o que mais me impressionou é que cada um
deles pareceu ter encontrado sua própria voz interior. Cada
um possui algo valioso para dizer, uma certa perspectiva
sobre a vida que comunicam em seus trabalhos. Seja
falando do que é necessário para superar barreiras que
separam as pessoas, seja sobre redenção, ou pessoas
confrontando escolhas morais. Em todas existe certo ponto
de vista único que se enreda no meio de suas escritas.
Por meio do meu trabalho como consultora de roteiros,
vi que os escritores podem aprender a acreditar e a nutrir
essa voz interior. Apesar do talento ser parte importante
da escrita, raramente aparece de uma só vez na vida de
alguém. Talento normalmente inclui trabalho duro, algum
treinamento técnico, muita prática e aprender a acreditar e
articular um ponto de vista único.
Espero que esse livro te ajude a encontrar sua voz
interior e reconhecer que seu autoconhecimento é um bom
ponto de partida para qualquer criação de personagem.
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As personagens femininas
A. São multidimensionais e podem estabelecer uma
grande variedade de relações sociais e pessoais.
B. Refletem uma extensão de idades, raças, classes,
aparências físicas e profissões presentes na sociedade.
C. Ajudam a mover a história com posturas,
comportamentos e propósitos pessoais, afetando o
que irá acontecer.
D. Superam situações difíceis através da própria ação e
vontade.
A obra como um todo
E. Fornece ideias, modelos e novas formas de entender
aquelas mulheres (seja do passado ou do presente)
que contribuíram de forma exemplar para a
sociedade.
F. Reconhece a importância que certas questões (poder,
classe social, política e guerra) têm para as mulheres,
bem como as contribuições que elas tem dado a essas
questões com seus pontos de vista singulares.
G. Admite a importância universal de temas como
o planejamento familiar, o cuidado dos filhos e a
igualdade de oportunidades profissionais; como
também problemas sociais como o abuso sexual e
psicológico.
H. Demonstra que sexualidade e carinhos implicam
intimidade, afeto, preocupação. Que todas as
mulheres podem desfrutar disso.