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Como Escrever
Histórias
A Única coisa que você precisa saber.
de Raoni Marqs
Pra lidar como esse purgatório criativo eu fui estudar métodos de autores
diferentes que facilitam o processo de um jeito que, quem tá em casa
desde pequeno tentando espremer uma história até o final, nunca poderia
prever. E eu aprendi um monte dessas coisas – como a jornada do herói, a
função do diálogo numa narrativa ou a ideia de usar cartões para
desenvolver a trama de uma história –, mas tem uma coisa que pra mim
foi mais útil, eficiente e importante de aprender.
Por exemplo: se você pensar nos valores pra estrutura da história e decidir
que quer que a sua história termine com um final feliz – ou seja, um valor
positivo – e, na sua história, isso quer dizer que o herói vence a luta contra
um urso robô, você ainda precisa decidir como o herói vence o urso! Então
por mais que a Jornada do Herói diga "senhor de dois mundos", você
ainda precisa imaginar como aquilo vai tomar forma na sua história.
O que eu quero dizer é: você aprende essas ferramentas, essas dicas, esses
truques… mas na hora do vamo vê, é você, é a sua criatividade que vai ser
responsável por usar essa ferramenta pra criar a sua história.
Se você decide que o final da história é positivo, que isso significa que o
herói vai vencer o urso robô, mas precisa imaginar como isso acontece, o
processo pra chegar lá é "perguntar-se e obter respostas". É tomar uma
decisão sobre como vai ser essa sua história. e como vai ser o que
acontece depois disso. E depois disso. E depois disso. O caminho todo é
feito de decisões que só podem ser tomadas por você – o escritor.
E é disso que eu tô falando quando digo que a frase do Syd Field é genial.
O cardápio do Starbucks tem um monte de opções – vamos dizer que
sejam 20. Se uma pessoa chega lá sem saber o que quer, ela precisa
considerar 20 opções. Mas a pergunta sobre "quente ou frio" não só
elimina, vamos dizer, metade dessas opções, como ela é muito mais fácil
de responder.
O que essa pergunta faz é forçar a pessoa a visualizar o que ela quer – a
pessoa precisa se enxergar no futuro tomando alguma coisa e assim ela
descobre que ela já tem uma opinião sobre o assunto. "Eu estou com calor,
então vou tomar alguma coisa gelada" – ou o contrário.
Essa ideia tem muito a ver com o que a Viki King explora no que ela
chama do "Método do Filme Interno" – a ideia de que, dentro de você,
você já sabe como é a sua história e essa história vai ser toda visualizada
em etapas. Dessa forma, você consegue enxergar e tomar cada decisão de
um jeito tão fácil quanto escolher entre tomar alguma coisa quente ou fria.
No livro dela, “Como Escrever um Filme em 21 Dias”, ela diz:
Pra começar: como o herói vence o urso robô? Tentando visualizar essa
resposta, a gente pode não enxergar detalhes, mas você instintivamente vai
saber se o herói vence o urso robô com palavras, com um chute na boca,
ou se o herói vence o urso robô numa batalha judicial. Porque a pergunta
que a gente se faz pode gerar uma diversidade de respostas, mas a gente
automaticamente elimina milhões de outras respostas. Ninguém imaginou
o herói vencendo o urso robô numa batalha judicial. Porque "urso robô"
não leva a nossa imaginação pra uma cena num tribunal!
1: O herói vence o urso robô na porrada – porque não se pode discutir com
ursos, mesmo quando eles são robôs;
2: O herói vence o urso robô com palavras – porque agora que ele é
metade robô, ele é inteligente, mas isso fez dele um animal mesquinho que
fere os sentimentos dos outros e ele precisa encarar essa verdade sobre o
próprio caráter, então o herói faz um discurso emocionante que apela para
a sua natureza bondosa;