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As terras do Atlântico interligadas pela escravidão

Tema 1 Trabalho escravo e trabalho servil

Formas de trabalho compulsório


A pessoa escravizada Em praticamente todo o
era considerada uma mundo antigo, uma pessoa
propriedade do senhor; podia não era escravizada por sua
ser utilizada na agricultura, cor ou etnia. A escravidão
nas minas, nos serviços era imposta aos estrangeiros
Escravidão
domésticos, além de ser capturados em guerras e às
trocada, vendida ou alugada. pessoas que não quitavam
O escravizado podia ter suas dívidas. Eles podiam ser
perdido sua liberdade ou já oriundos da Europa, África
ter nascido nessa condição. e Ásia.
Trabalho
compulsório
Os servos estavam
Diferentemente do
submetidos a diferentes
escravizado, o servo possuía
condições de trabalho. Alguns
algum grau de liberdade
trabalhavam nos campos
pessoal e não era uma
do senhor (“servos dos
Servidão propriedade do senhor.
domínios”), outros tinham
Contudo, estava preso à terra
pequenos arrendamentos
e devia-lhe lealdade,
(“fronteiriços”) e havia quem
obediência e o pagamento
trabalhasse em troca de
de vários impostos.
comida (“aldeões”).
As terras do Atlântico interligadas pela escravidão
Tema 1 Trabalho escravo e trabalho servil

O tráfico negreiro e a escravidão moderna

Os europeus Os africanos
Expansão criaram feitorias escravizados foram Início da
marítima na África, onde transportados nos escravidão
portuguesa trocavam armas, navios negreiros moderna
fumo e pólvora e comercializados
por escravos nas Américas.
fornecidos pelos A partir do final
chefes africanos. do século XV,
Em geral, a venda de escravos
os cativos eram tornou-se uma
prisioneiros de atividade comercial Diferencia-se da
guerra, criminosos intercontinental escravidão antiga por
ou endividados. e lucrativa. causa de seu critério
racial, do elevado
número de pessoas
escravizadas,
A escravidão era praticada por de sua abrangência
algumas sociedades africanas, mas territorial e de
a venda de escravizados não era a sua importância
atividade central desses povos. econômica.
As terras do Atlântico interligadas pela escravidão
Tema 2 O tráfico transatlântico

O tráfico transatlântico
• Os portugueses foram pioneiros no comércio de
pessoas escravizadas da África para a América.

Criação de rotas diretas entre a África


e a América, transformando o tráfico
negreiro em um negócio transatlântico.
Criação de feitoria na África
Necessidade
(1443)
de um grande
A Coroa portuguesa
contingente
estabeleceu a primeira feitoria Fundação das colônias de Luanda
de trabalhadores
no Arquipélago de Arguim, e Benguela e formação de uma
e busca por mais
usada para a obtenção de ouro, sociedade colonial portuguesa voltada
mão de obra para
goma arábica e escravizados, à captura e venda de escravizados.
trabalhar em
e como base para a expansão
plantações na
portuguesa em direção ao
América.
Atlântico Sul.
Aumento das guerras entre reinos
africanos, voltadas à captura de
pessoas para serem comercializadas
com os europeus.
As terras do Atlântico interligadas pela escravidão
Tema 2 O tráfico transatlântico

O funcionamento do tráfico negreiro


• O tráfico transatlântico de escravizados e a exploração do trabalho escravo na América
foram responsáveis pelo maior deslocamento forçado de pessoas da história:
a diáspora africana.
• Entre o início do século XVI e mais da metade do século XIX, cerca de 12,5 milhões de
africanos foram escravizados e obrigados a embarcar, em sua maioria, em direção
às colônias americanas.
• Do número total de pessoas retiradas à força da África ao longo desse período,
80% foram levadas para grandes propriedades monocultoras de cana-de-açúcar
na América (plantations).
• Nesses quase quatro séculos de tráfico negreiro, a maior parte dos escravizados partiu
da região centro-ocidental da África.
As terras do Atlântico interligadas pela escravidão
Tema 2 O tráfico transatlântico

O discurso que justificava a escravidão

Do ponto de vista moral e


jurídico, basearam-se em
pensadores da Igreja,
nos textos de Aristóteles
Para justificar o ato e no direito romano.
de escravizar pessoas
e legitimar o lucro
gerado por essa Um dos discursos criados
Leis foram criadas para
prática, os europeus pelos europeus para
regulamentar o tráfico e
buscaram retratá-la justificar a escravidão
a escravidão, definindo
como justa, natural consistia em associar os
a extensão do poder do
e necessária. negros aos descendentes
senhor, as condições de
compra e venda, os castigos de Caim, personagem
toleráveis e as situações em bíblico que assassinou seu
que os escravos poderiam irmão Abel e por isso foi
obter a alforria. amaldiçoado por Deus.
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Tema 2 O tráfico transatlântico

Os agentes do tráfico

África
Europa
• Havia traficantes locais, que
• No século XVI e na primeira metade do século XVII,
poderiam ser até mesmo
portugueses e espanhóis dominaram o tráfico de
ex-escravizados e europeus
africanos escravizados. A partir da expansão da economia
estabelecidos na África.
açucareira no Caribe, participaram também franceses,
ingleses, holandeses, dinamarqueses, suecos e alemães. • Os soberanos e chefes
africanos monopolizavam
• No século XVIII houve domínio dos ingleses no Atlântico
o fornecimento de cativos
Norte e de comerciantes portugueses e luso-brasileiros
e promoviam guerras e
no Atlântico Sul.
expedições contra vilas,
• Essa grande rede de comércio de pessoas era financiada por aldeias e reinos rivais para
banqueiros europeus e composta de uma elite mercantil, aprisionar e escravizar
comerciantes, capitães, marinheiros, entre outros. pessoas.

Em troca dos cativos, os europeus ofereciam


mercadorias às autoridades africanas. Depois,
negociavam os africanos escravizados no
Caribe e na América, e partiam para a Europa
levando açúcar, tabaco e rum. Esse circuito
ficou conhecido como comércio triangular.
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Tema 2 O tráfico transatlântico

A dimensão humana da travessia atlântica


• Do total de africanos escravizados que

BIBLIOTECA SAVERY, TALLADEGA


foram embarcados em navios com destino
às Américas, quase 2 milhões sucumbiram
às precárias condições de viagem, como a
superlotação, as doenças e os castigos físicos.
• Para aumentar o fornecimento de escravos
aos europeus, as elites africanas criaram
mecanismos para escravizar cada vez
mais pessoas. Como resultado, regiões
foram despovoadas, reinos tornaram-se
instáveis e diferentes povos sofreram com a
desagregação social de suas comunidades.
• Os africanos resistiram com frequência, Detalhe de O motim no Amistad, pintura mural
de Hale Woodruff, 1938.
promovendo motins, rebeliões nos navios,
fugas, formação de comunidades de
fugitivos etc.
As terras do Atlântico interligadas pela escravidão
Tema 3 A escravidão africana no Brasil

Os africanos trazidos para o Brasil


Escravização de povos africanos
variados, classificados em dois grandes
grupos linguísticos: banto e iorubá.

Chegada dos africanos


ao Brasil e interação com
indígenas e europeus.

Construção de uma
Reflexo na composição
cultura afro-brasileira, que
demográfica do Brasil:
inclui expressões culturais
hoje temos a segunda
relacionadas a culinária,
maior população negra
música, danças, cerimônias
do mundo.
religiosas, entre outras.
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Tema 3 A escravidão africana no Brasil

Os iorubás e seus reinos

Grupo étnico-linguístico
Indícios arqueológicos indicam
da África Ocidental, ainda
que seus reinos se originaram e
presente na Nigéria, no Togo,
floresceram ao sul do Rio Níger
no Benin e em Serra Leoa.
por volta do século IX, a partir
Sua cultura foi levada para
de uma população centrada
a América, onde tem forte
na cidade de Ifé.
presença no Brasil e em Cuba.

Os povos
iorubás

Seus reinos estavam No século XVI, Ifé entrou em


organizados em cidades- declínio com a chegada dos
-Estado independentes, que europeus. Cidades iorubás
faziam comércio entre si. mais próximas ao litoral,
A cidade de Ifé, considerada no entanto, foram favorecidas
sagrada, era uma referência com o comércio de ouro e
política e funcionava como de escravizados com
entreposto comercial. os estrangeiros.
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Tema 3 A escravidão africana no Brasil

Os bantos e o Reino do Congo


• O termo “banto” designa cerca de quatrocentos
grupos étnicos africanos cujas línguas têm uma
origem comum.
O mani congo se converteu ao
• O Reino do Congo surgiu por volta dos séculos XIII catolicismo e foi batizado com o nome
e XIV na África Centro-Ocidental. de D. João. A capital do reino passou a
se chamar São Salvador do Congo.

Primeiros contatos Iniciou-se uma parceria comercial


Reino do Congo com portugueses e política centrada no comércio de
(século XV) pessoas escravizadas.

Os portugueses forneciam armas ao Reino


do Congo, que se impôs sobre os povos
• Estava dividido em províncias e aldeias, e vizinhos. Em contrapartida, a captura
era controlado pelo rei (mani congo). de escravizados para o tráfico atlântico
• Fazia comércio com os cuxitas, os nilotas e aumentava cada vez mais, beneficiando os
com mercadores árabes vindos do norte. portugueses com os lucros dessa atividade.
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Tema 3 A escravidão africana no Brasil

Escravidão e resistência no Brasil


• Em mais de três séculos de tráfico negreiro,
Assassinato de
cerca de 10,5 milhões de africanos conseguiram feitores, capitães do
sobreviver às viagens marítimas. Desse total, mato e familiares dos
quase 5 milhões entraram no Brasil. senhores.

Fuga para as matas e


Os africanos eram Grande parte dos cidades distantes,
encaminhados ao cativos resistiu à e formação
trabalho nas lavouras, escravidão, agindo de comunidades de
nas minas, nos serviços de forma violenta escravos fugidos,
domésticos e nas ou utilizando chamadas quilombos.
atividades urbanas. métodos pacíficos.
Evitavam ter filhos
ou entravam em um
estado de profunda
Senhores e capatazes geralmente puniam os melancolia, chamado
escravizados com extrema violência física, levando banzo, que muitas
a uma alta taxa de mortalidade de africanos no vezes levava à morte.
Brasil. Por esse motivo, o tráfico negreiro era a
principal forma de reposição da mão de obra.
As terras do Atlântico interligadas pela escravidão
Tema 3 A escravidão africana no Brasil

Uma nova identidade cultural


• No Brasil, os africanos resistiram,

TUCA VIEIRA/FOLHAPRESS
procurando preservar suas tradições e os
laços culturais que os uniam à terra natal.
• Nos espaços de trabalho e convívio no
Brasil, no entanto, foram obrigados a se
relacionar com outros grupos e a criar
novas identidades, saberes e tradições.
• Associaram, por exemplo, entidades
religiosas africanas a santos católicos,
criando um sincretismo religioso, Abdias do Nascimento (1914-2011), sociólogo e
que se manifesta ainda hoje na ativista do movimento negro no Brasil. Salvador,
Bahia, julho de 2006.
religiosidade popular.
• Outra expressão da cultura afro-brasileira criada nesse período é a roda de capoeira,
ténica de combate que mistura luta, dança e jogo.
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Tema 4 A escravidão no Caribe e nos Estados Unidos

Tráfico negreiro e escravidão no Caribe


• As ilhas do Caribe estiveram sob domínio espanhol, inglês, francês e holandês.
• Cerca de 4,8 milhões de africanos escravizados aportaram nas ilhas do Caribe durante
o período em que vigorou o tráfico negreiro.
• “Pérola das Antilhas”: no século XVIII, São Domingos era grande produtora de açúcar,
cacau e café e também o segundo maior centro de desembarque de cativos no Caribe.
• Os ingleses dominaram o tráfico na O Caribe em 1700
região até 1807, quando o Parlamento

CATHERINE A. SCOTTON
britânico proibiu o tráfico negreiro OCEANO

entre a África e as colônias inglesas CÓRNI


O
ATLÂNTICO

E CAPRI
na América. TRÓPICO D
HISPANIOLACUBA
SÃO SANTO
PORTO RICO
GUADALUPE
DOMINGOS DOMINGO
• No final do século XVIII, a introdução (HAITI) (REPÚBLICA
DOMINICANA)
MARTINICA
BARBADOS

da plantation açucareira em Cuba


JAMAICA

aumentou o fluxo de cativos para a ilha NO


O
NE
L
MAR DAS
ANTILHAS
ARUBA
CURAÇAO Possessões inglesas

e dificultou a mobilidade social dos


SO SE Possessões holandesas
S
Possessões francesas
270 km Possessões espanholas

libertos, antes possibilitada pela baixa


80° O

Fonte: CAMPOS, Flavio de; DOLHNIKOFF, Miriam. Atlas: história do Brasil.


migração de espanhóis. São Paulo: Scipione, 1993. p. 13.
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Tema 4 A escravidão no Caribe e nos Estados Unidos

A escravidão nos Estados Unidos


• O comércio regular das treze colônias com a costa africana
começou no final do século XVII e se prolongou após a
independência dos Estados Unidos.

Independência dos Crescimento da população


Treze
Estados Unidos de escravizados
colônias
(1776) Resultado da
A escravidão maior participação
• Ao sul, as colônias de Maryland, persistiu, tanto no sul de comerciantes
Virgínia, Carolina do Sul e quanto no norte. estadunidenses no tráfico de
Geórgia receberam a maioria escravizados e do incentivo
dos africanos escravizaddos. dos senhores para que os
Os cativos trabalhavam no cativos tivessem mais filhos.
cultivo de tabaco, algodão,
anil e arroz.
• Nas colônias do norte,
africanos e seus descendentes
trabalharam principalmente
como criados, artesãos e na
construção de obras públicas.
As terras do Atlântico interligadas pela escravidão
Tema 4 A escravidão no Caribe e nos Estados Unidos

A resistência à escravidão
Após a insurreição em São
Domingos, que levou à
abolição da escravidão e
Caribe à independência do Haiti,
escravos e libertos de outros
países também promoveram
rebeliões e conspirações.

Resistência
das pessoas
escravizadas
As revoltas, a sabotagem,
as fugas e a formação de
quilombos foram constantes.
Estados No século XIX, os movimentos
Unidos abolicionistas cresceram,
criaram sociedades de ajuda
mútua e divulgaram sua
causa por meio de jornais.
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Tema 4 A escravidão no Caribe e nos Estados Unidos

A música como resistência


• Nas Américas, cantos africanos eram entoados nas senzalas, nas plantações,
nas cidades e nos locais de trabalho e de confraternização.
• A música, traço forte da cultura e da tradição oral africana, criava a noção de
pertencimento a uma comunidade e era um importante instrumento de resistência
à escravidão.

A partir do século XIX Década de 1950 Década de 1960 Década de 1970

• Os músicos negros do A música negra As canções


O rap surgiu nas ruas dos
sul dos Estados Unidos incorporou outros populares
bairros pobres de Nova
adicionaram instrumentos e gêneros musicais do movimento
elementos musicais europeus York, onde grupos de
estadunidenses, por direitos
às canções de matriz africana, jovens negros se reuniam
como o country e civis inspiraram
criando o blues. para ouvir música e
o gospel, e assim a criação do
dançar. Aos poucos, a eles
• Em Nova Orleans, onde nasceram o R&B e soul, uma nova
se juntaram os MCs, que
os negros tinham forte o rock’n’roll. expressão
cantavam sobre o racismo
conexão com a música musical que
e a situação de exclusão
feita no Caribe, eles buscava valorizar
social em que viviam.
desenvolveram o jazz. o orgulho negro.

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