Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Introdução: Por muito teve-se, e ainda muitos têm, a noção de que a escravidão e
todas suas consequências foram acontecimentos necessários, derivados naturais e
espontâneos do descobrimento. Todos os antecedentes, interesses e as circunstancias
particulares que ditam as normas ficam escondidas por trás dessa noção de construção
extremamente pobre.
Para se entender como chegamos aos séculos de escravidão, tratando homens como
mercadorias substituíveis, retirando-lhes simbólica e literalmente seus respectivos
costumes e o porquê de o tráfico empreendido pelos europeus ter se tornado assim tão
cruel e expansivo, é preciso voltar as bases, ver quais os precedentes tanto na Europa
quanto na África.
Com a ajuda de referências selecionadas o proposto ensaio será divido em três tópicos
de desenvolvimento na tentativa de melhor responder e discutir o tema em pauta,
sendo o primeiro para expor os parâmetros de escravidão que Europa e África
possuíam, o seguinte apresentara o caminho trilhado desde o solo africano até o
americano e o ultimo para tentar evidenciar os motivos pelos quais a nossa escravidão
se tornou uma das mais cruéis e uma marca em tons escuros de vermelho na nossa
história.
Sobre Roma e Grécia sabemos que poderiam se tornar escravos aqueles que
contraíssem dívidas e fossem incapazes de honrá-las ou ainda caso fossem vencidos de
guerra. O escravo poderia comprar sua liberdade de volta através do acumulo de
pecúlio, o que na Grécia era raro e mesmo livre o individuo continuava sem direitos
garantidos, em Esparta o número de escravos de guerra era tal que era permitido a
militares em formação matar escravos como parte do treinamento. Bem mais comum
para escravos urbanos romanos era reaver sua liberdade, este era considerado cidadão
quando o garantisse, seus filhos também seriam livres, podendo ainda ser tratado como
parte da família de seu antigo dono e herdando seu nome. Em ambas sociedades mau
comportamento era digno de castigos podendo ser mantido acorrentado, marcado a
ferro, sofrer mutilações e ate ser condenado a morte. Havia também mercados para a
compra e venda dos feitos escravos, o que é possível de atestar em artes sepulcrais3.
3
http://www.scielo.br/img/revistas/vh/v25n41/a02fig02.jpg
http://www.scielo.br/img/revistas/vh/v25n41/a02fig03.jpg
4
Curador de Arqueologia e Diretor do Centro de Estudos do Ártico do museu de História natural
Smithsonian.
Essas informações são importantes nesse ensaio pois é preciso que tenhamos
conhecimento, mesmo que breve, sobre como outros povos lidaram com a escravidão,
pois esta será a herança escravista que os europeus que colonizaram a américa
receberam, para podermos compreender os motivos pelos quais a escravidão negra na
colônia americana chegou aos pontos que conhecemos e qual sua importância.
Dentro da sociedade africana, assim como nas já citadas a cima, era até certo ponto
comum que guerras acontecessem, que um povo fosse subjugado por outro e que os
que saíram vitoriosos fizessem alguns escravos. A escravidão encontrada aqui era do
tipo doméstico, ou seja, aprisionava-se alguém para se utilizar da sua força de trabalho
nas agriculturas familiares, também para aumentar o número de pessoas empregadas
no sustento de uma família/grupo. A fertilidade aumentava e garantia o grupo, de
modo a ser legitimo que escravas se tornassem concubinas e então, deste modo era
comum que aos poucos o escravo fosse incorporado na família e perdesse sua
condição inicial.
5
ALBUQUERQUE, Wlamira R. de; FILHO, Walter Fraga,2006, página 15.
6
ALBUQUERQUE, Wlamira R. de; FILHO, Walter Fraga,2006, página 16.
Esse comercio começa se intensificar com a ocupação árabe no Egito e o norte da
África, estes organizaram e desenvolveram o trafico de escravos como
empreendimento comercial de grande escala. Na escravidão islâmica se tornava cativo
aquele que era considerado infiel e se recusasse a professar a fé em Alá.
Por isso, não se pode entender a prosperidade do tráfico de escravos sem levar
em consideração a combinação de interesses entre europeus e africanos. É
bem verdade que as nações europeias tentaram manter o controle sobre as
regiões produtoras de escravos, mas o tráfico africano era um negócio
complexo e envolvia a participação e cooperação de uma cadeia extensa de
participantes especializados, que incluía chefes políticos, grandes e pequenos
comerciantes africanos. Há estimativas de que 75 por cento das pessoas
vendidas nas Américas foram vítimas de guerras entre povos africanos. 9
No Kongo foram feitos vários acordos com os europeus por interesse em seus
conhecimentos, logo a cultura europeia havia sido absorvida e a procura pelos
produtos vindos de lá aumentado exponencialmente, o comercio de escravos foi a
saída para saldar as dividas feitas por este crescente consumo. Os portugueses que até
7
ALBUQUERQUE, Wlamira R. de; FILHO, Walter Fraga,2006, página 20.
8
ALBUQUERQUE, Wlamira R. de; FILHO, Walter Fraga,2006, página 25.
9
ALBUQUERQUE, Wlamira R. de; FILHO, Walter Fraga,2006, página 27.
então pretendiam conquistar aquele meio concluíram que a empreitada não valia a
pena e focaram seus esforços no comercio de escravos. A escravidão foi também a
solução encontrada pelas potencias europeias para povoar e explorar as novas
colônias, que tinham demanda constante principalmente em épocas de crescimento
econômico.
Em território brasileiro eles eram mais uma vez presos em galpões para serem
preparados para os leilões. Eram obrigados a comerem mais e mais para parecerem
fortes aos compradores, o terror desse momento nos cabe apenas imaginar já que,
como citado antes, acreditavam que os europeus fossem canibais que comeriam suas
carnes e usariam seu sangue para tingir tecidos. Após chegarem aqui era preciso
aprender a conviver com o trauma do desenraizamento das terras ancestrais e a falta de
amigos e parentes que ficaram do outro lado do Atlântico.
No decorrer deste texto encontra-se trechos longos sobre a ministração desses castigos
que justificam o ato do senhor Manoel Cardoso como o seguinte:
Cronistas sempre comentavam sobre dada crueldade dos senhores em relação à seus
escravos mas jamais contestavam o castigo já que este mantinha os escravos nos eixos
e cientes de seus lugares garantindo a ordem. Essa exploração que o senhor exercia
sobre o trabalho escravo é a base da chamada exploração colonial pois, se cabe ao
escravo o trabalho é então o sistema escravista que garante a produção de riquezas que
a metrópole zela em acumular.
12
Graduada em História pela USP, doutora em História Social pela mesma universidade.
13
LARA, Silvia Hunold. Campos da Violência. Paz e Terra, 2007. Página 59.
também interveio em outros aspectos da economia que assegurava a
exploração colonial, salvaguardando a exploração senhorial.14
O dramático deslocamento forçado, por mais de três séculos, uniu para sempre o
Brasil à África15.
Com as informações obtidas até agora é notável que as bases antes do começo desse
trafico estavam lançadas há séculos sendo assim unidas a interesses e eventos que a
tornou possível. Mesmo assim existem alguns pontos que destacam os acontecimentos
nas colônias americanas aos no resto do mundo.
A presença dos portugueses reforçou o poder de chefes dispostos a fazer guerra apenas
para conseguir cativos e por conta disso redimensionou a vida das populações que
viviam no litoral que, encontraram uma atividade corriqueira em capturar cativos,
ganharam assim uma importância política e econômica desconhecidas até então.
Existia sim uma combinação de interesses entre europeus e africanos.
14
LARA, Silvia Hunold. Campos da Violência. Paz e Terra, 2007. Página 34.
15
ALBUQUERQUE, Wlamira R. de; FILHO, Walter Fraga,2006, página
16
BICALHO, Maria Fernanda, apud Luiz Felipe de Alencastro 2000.
Em segundo levanta-se a justificativa religiosa à escravidão, a missão de evangelizar
os infiéis africanos. Para o padre Antônio Vieira o trafico poderia ser considerado um
grande milagre já que ao tirar os negros da África pagã dava-os a chance da salvação
no solo brasileiro cristão.
Por terceiro e mais importante: “A escravidão foi muito mais do que um sistema
econômico. Ela moldou condutas, definiu desigualdades sociais e raciais, forjou
sentimentos, valores e etiquetas de mando e obediência.” 17
Portanto tinha-se uma sociedade escravista e não uma que possuía escravos, e aqui
está um de seus principais destaques. É correto dizer também que era (e é) uma
sociedade racista já que negros, mestiços e escravos livres ou libertos eram colocados
como inferiores aos brancos europeus ou mesmo os nascidos no Brasil. Cria-se
simultaneamente ao escravismo o racismo, “a escravidão foi montada para a
exploração econômica, ou de classe, mas ao mesmo tempo ela criou a opressão racial.”
Conclusão
De modo geral, é possível notar a bagagem europeia em relação a escravidão que deu
apoio aos acontecimentos debatidos neste ensaio teórico. A partir desse ponto, unindo
a como os africanos estavam acostumados com esse sistema, pode-se começar a
enxergar o potencial tido para levar todo um continente a um quase colapso.
Referências
https://novaescola.org.br/conteudo/2372/existe-alguma-diferenca-na-forma-como-os-
escravos-eram-tratados-na-grecia-e-roma-antigas 16:15 18/11/2018
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-
87752009000100002&lang=pt 16:22 18/11/2018
https://www.nationalgeographicbrasil.com/historia/vikings-mais-suaves-e-gentis-nao-
de-acordo-com-seus-escravos 16:34 18/11/2018