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asiáticas e europeias
entre os séculos X e XV 01
metas
Caracterizar as sociedades africanas, asiáticas e europeias entre os séculos X e XV e
analisar as relações econômicas, políticas e socioculturais estabelecidas entre elas.
objetivos
Esperamos que, ao final desta unidade, você seja capaz de:
Introdução
Quando um livro ou uma aula de História são elaborados, seus autores fazem um recorte: es-
colhem um objeto de estudo e definem onde e quando esse objeto se localiza. Nesta unidade
não é diferente: iniciamos nossos estudos pelas sociedades africanas, asiáticas e europeias
dos séculos X a XV. Começamos, assim, num período que faz parte da chamada Idade Média.
Para você se localizar, reproduzimos abaixo a divisão tradicional da História:
Você pode estar se perguntando: por que não começamos pela Antiguidade, sobretudo pelas so-
ciedades grega e romana, já que escutamos tanto que elas criaram conceitos que são fundamen-
tais até hoje? Para justificar nossa escolha, é importante destacar que o número de aulas que
temos no PVS é pequeno. Por isso, foi necessário selecionar os conteúdos. Mas fique tranquilo!
Esses conceitos vão surgir ao longo das unidades em diálogo com os conteúdos apresentados.
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Nesta unidade, nossa meta é discutir as sociedades africanas, asiáticas e europeias durante
os séculos X e XV, buscando caracterizar a diversidade desses povos e suas interações política,
econômica e sociocultural. Discutiremos, também, aspectos ligados à religiosidade. Propomos
aqui uma abordagem conectada, dando destaque às interações entre as sociedades. Veja no
mapa abaixo as regiões que vamos conhecer melhor nas próximas páginas:
Os povos da África
Você já deve ter ouvido falar do Deserto do Saara, que se localiza ao norte do continente afri-
cano e possui uma importância única para a história dos povos dali. Mas o que berberes
um deserto tem de tão importante?
“homens livres” ou
Desde o século V a.C., os egípcios usavam uma rota que ligava o Vale do Nilo ao “homens nobres”. Refere-se
ao conjunto de povos do
porto de Elim, no Mar Vermelho. Essa e muitas outras rotas cortaram o deserto norte da África que falam
ao longo dos séculos, dando origem às chamadas rotas comerciais transaaria- línguas berberes, da família
nas. A partir do século III d.C., os tuaregues, grupo berbere, intensificaram esse de línguas afro-asiáticas.
comércio, passando a utilizar camelos como animais de carga. Entre eles, estão os tuare-
gues, povos nômades
Um primeiro aspecto que destacamos sobre os povos da África, portanto, é do Saara. A conquista
árabe e a conversão dos
a existência permanente de contatos e trocas econômicas. A partir do século
berberes ao islamismo
VII, houve um amplo desenvolvimento do comércio entre diferentes regiões, o ocorreram, completamente,
que resultou na interação entre as sociedades do norte e centro do continente. no século XII.
Alguns dos produtos trocados eram ouro, cobre, sal, marfim, pessoas escraviza-
das, camelos e cavalos.
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O Império de Gana foi descrito nos registros O reino do Mali passou a controlar impor-
do geógrafo e historiador hispano-muçul- tantes centros do intenso comércio tran-
mano conhecido como Al-Bakri, que publi- saariano, enriquecendo-se muitíssimo. Essa
cou no século XI uma obra intitulada Livro de riqueza atraiu para suas cidades muitos co-
estradas e reis. Nela, há relatos de viajantes merciantes, artistas e estudiosos do mundo
que descreveram a opulência do reino e o muçulmano. Geógrafos, escritores e estu-
sistema de controle que o monarca exercia diosos da religião islâmica foram para Tom-
sobre a economia local, especialmente so- buctu, uma das mais importantes cidades
bre as riquezas geradas pelas minas de ouro. do Mali e um grande centro intelectual da-
O reino também enriqueceu explorando o quele tempo. Os livros eram uma das mer-
comércio de marfim e homens escravizados, cadorias mais valorizadas no local.
além de desenvolver a produção agrícola, a
Mas o reino do Mali acabou se desagregan-
tecelagem e a metalurgia, utilizada para a
do, no século XV, por não conseguir manter
manufatura de armas e ferramentas.
o controle sobre suas fronteiras. Nesse pe-
Nos séculos X e XI, diferentes grupos ataca- ríodo, um novo reino se formava e acabou
ram as populações do reino de Gana, culmi- conquistando boa parte do antigo Mali.
nando com a invasão de povos islamizados, Era Songhai, que formou um império ainda
que impuseram sua religião. Nesse proces- maior que o reino do Mali.
so, as caravanas de comércio foram dire-
O Império de Songhai era dividido em vice-
tamente afetadas, e as principais cidades
-reinados e províncias e tinha um exército
de Gana foram saqueadas em diferentes
profissional para garantir sua estabilidade
momentos. O enfraquecimento do reino se
e dar segurança ao comércio. Os soberanos
aprofundou com revoltas internas até o sé-
desse reino, entre outras iniciativas, investi-
culo XIII, quando Gana teve suas possessões
ram em melhorias na agricultura, buscando
incorporadas ao reino do Mali.
especialistas estrangeiros, e unificaram pe-
O reino do Mali surgiu por volta do século sos e medidas dentro de suas fronteiras.
XIII, na fronteira entre a Guiné e o atual Mali,
O mapa da Figura 1.4 indica a localização
sob o comando do povo “malinquê” – co-
dos três reinos do Sahel que estudamos e
nhecido também como povo mandinga. O
suas posições estratégicas nas rotas comer-
povo mandinga praticava o animismo e era
ciais transaarianas, mostradas na Figura 1.5.
tido como formado por valentes guerreiros.
Assim como Gana, tinha sido islamizado,
mas muitos rituais animistas foram man-
tidos, demonstrando as diferentes adap-
tações que a religião islâmica sofreu entre
os povos africanos. Os soberanos apresen-
tavam-se como muçulmanos, mas também
eram vistos como feiticeiros.
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O reino do Congo
Agora, se você observou com atenção os ma-
pas anteriores, viu que as rotas comerciais O reino do Congo ocupava um extenso ter-
ligavam os reinos do Sahel às áreas de sava- ritório e era governado pelo manikongo
nas e florestas. Aliás, era nessas regiões que (título de seus reis), tendo o povo bakon-
se localizavam as minas de ouro e diversos go como sua base. No século XV, esses reis
ampliaram as fronteiras do reino através de
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Os povos islâmicos
Você sabia que o islamismo é, atualmente, a religião com o segundo maior número de adeptos
no mundo? Analise com atenção as informações que o mapa e o gráfico a seguir apresentam:
No mapa, vemos que a religião islâmica é predominante no Oriente Médio, na Ásia e no norte e
centro da África, além de pequenas áreas em sua porção oriental. Isso não quer dizer que não
existam fiéis do Islã em outros continentes, inclusive no Brasil, onde o Censo de 2010 regis-
trou cerca de 35 mil muçulmanos, mas que sua maior força está nas regiões indicadas acima.
A questão é: como essa religião, surgida no século VII na Península Arábica, se expandiu pelo
mundo e se consolidou como a segunda religião monoteísta em número de fiéis? Como ela
originou Estados bastante poderosos politicamente e ricos em termos culturais?
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Dois pilares do islamismo são a crença na existência de um só Deus e que Muhammad é seu
profeta. Outras regras são a realização de cinco orações diárias, que devem ser feitas em dire-
ção à cidade de Meca, a ajuda aos pobres, o jejum no mês sagrado (Ramadã) e a peregrinação
a Meca pelo menos uma vez na vida. O livro sagrado do Islã é o Alcorão, ou Corão, no qual o
profeta Muhammad teria registrado as revelações que recebeu do anjo Gabriel.
Em meados do século VII, logo após sua fundação, o Islã já contava com muitos seguidores. De
uma religião, transformou-se num Estado chefiado por Muhammad, que dominou a cidade de
Meca e iniciou uma expansão pela Península Arábica através de guerras e conversões religio-
sas, unificando os povos árabes sob uma só autoridade política.
Nos 120 anos seguintes à morte de Maomé, sob novas lideranças islâmicas, os árabes continua-
ram o processo de expansão através das armas e do Corão por todo o norte da África, sudoeste
da Europa e Oriente próximo, como mostra o mapa da Figura 1.7.
Nessa expansão, os árabes levavam sua religião e, também, sua cultura – língua, artes, conhe-
cimentos – para povos não árabes, criando um espaço geográfico, político e cultural comum.
Mas não só isso. Também tomaram para si elementos culturais e conhecimentos dos povos que
dominaram e estabeleceram um intenso comércio com sociedades da Europa, Ásia e África,
como os reinos do Sahel e da África Oriental.
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#lá na plataforma
Sobre a presença árabe na Europa entre os séculos VIII e XV, confira o material virtual que sele-
cionamos para você.
O Império Turco-otomano
Como vimos, após a morte de Muhammad, os Estados islâmicos se expandiram por vastas
áreas, impondo-se e convertendo ao islamismo outros povos. Um desses povos que se islami-
zaram foram os turcos, que se destacaram pela atividade guerreira e pela defesa da religião
islâmica, declarando-se guerreiros da fé – soldados do Islã.
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A expansão territorial do Império Turco-otomano inseriu esse Estado nas rotas comerciais
de longa distância das quais falamos várias vezes nessa unidade. As regiões da Ásia Oriental
desempenhavam um importante papel nesse comércio. Da China vinham o papel e a tinta, a
pólvora, a bússola, a seda e a porcelana – produtos de luxo na época. Da Índia foram trazidos
e adaptados pelos árabes os números que utilizamos no cotidiano, muito mais práticos para
os cálculos que os algarismos romanos. De lá também saíram as especiarias. Vamos conhecer
melhor algumas dessas sociedades localizadas na Ásia.
A China
O século XIV foi marcado pela ascensão de um governo centralizado na China, a Dinastia Ming,
que iniciou suas ações reforçando a defesa do país (término da construção da Grande Muralha
com seus 5.000 km) e buscando retomar territórios chineses no norte do país. Esses gover-
nantes também implementaram uma política de expansão comercial, estabelecendo trocas
comerciais com distintas regiões asiáticas.
No mesmo período, grandes expedições marítimas, com até mais de 50 barcos cada uma, es-
palharam o nome do imperador chinês na África Oriental, na Arábia, na Índia, no Ceilão (atual
Sri Lanka) e no sudeste asiático. O fortalecimento da China levou ao estabelecimento de auto-
ridade sobre outras sociedades asiáticas, que deviam pagar tributos.
Uma das mais antigas rotas internacionais de comércio no mundo ficou conhecida como a Rota
da Seda, que perdurou do século VII ao XIII. Estendeu-se da China ao Mediterrâneo e incluía tre-
chos terrestres e marítimos. O produto mais valioso era a seda, extremamente cobiçada pelos
ocidentais. Dois portos eram fundamentais nessa rota: Bagdá, então capital do império islâ-
mico, e Xi’an, capital da China. Além da seda, as caravanas carregavam papel, chá e cerâmicas.
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Então, vamos voltar à pergunta que fizemos e à Igreja Católica, o que deixava as pessoas
na introdução desta unidade: o que havia nas frágeis diante das doenças, colaborando
chamadas Índias de tão precioso que leva- para os altos índices de mortalidade.
va navegantes da Europa a se arriscarem em
O comércio de longa distância nunca desa-
viagens longas e perigosas? Acreditamos que,
pareceu, mas podemos dizer que se con-
agora, você já saiba a resposta. Resta, por fim,
centrou em produtos de luxo direcionados
conhecer essa sociedade europeia, entre os
a uma minoria da população. Os centros
séculos X e XV, e saber como ela se inseriu
urbanos também perderam muito em ha-
nessa intensa dinâmica econômica e cultural
bitantes e importância, mas permaneceram
que conectava africanos, árabes e asiáticos.
existindo como locais para atividades arte-
sanais, administrativas e religiosas.
A sociedade feudal Os laços entre camponeses e nobres se or-
na Europa Ocidental ganizavam através da servidão, relação de
trabalho que estabelecia obrigações entre
ambos. Tornando-se servo de um nobre, o
camponês conseguia o direito de cultivar
recebia parte da terra era conhecido como um rico comerciante que se transformava em
vassalo, que jurava defender as terras do se- nobre –, as possibilidades de mobilidade so-
nhor feudal. Essa relação de fidelidade era cial eram pequenas.
juramentada sob a tutela da Igreja Católica.
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ideias que indicamos no início do material século VII, estabelecendo um espaço islâ-
didático: as conexões econômicas e cultu- mico em regiões da Europa, África e Ásia; a
rais entre povos e regiões, a importância de importância da religião e cultura islâmicas
compreender as influências entre diferentes como elemento de conexão entre povos
sociedades sem dar protagonismo a uma diferentes e distantes; o fortalecimento de
delas e os diversos sujeitos que fazem a His- um comércio de longa distância, fundamen-
tória. Agora, vamos ao resumo dos pontos tal para a riqueza dos Estados islâmicos; o
principais que abordamos nesta unidade. desenvolvimento da produção intelectual,
científica e artística em cidades como Bagdá
e Tombuctu; a formação do Império Turco-
Resumo -otomano a partir do século XIII, com a con-
quista da cidade de Constantinopla (1453) e
o controle sobre o comércio com o Oriente.
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C ⇒ Religiosidade
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