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FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE DIVINÓPOLIS – FUNEDI – UEMG

INSTITUTO SUPERIOR DE EDUCAÇÃO DE DIVINÓPOLIS - ISED


HISTÓRIA MEDIEVAL

HISTÓRIA SOCIEDADE E CULTURA NA ARÁBIA PRÉ-ISLÂMICA

IZAAC ERDER SILVA SOARES


DIVINÓPOLIS, DEZEMBRO DE 2009.

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HISTÓRIA SOCIEDADE E CULTURA NA ARÁBIA PRÉ-ISLÂMICA

INTRODUÇÃO

A Arábia é uma imensa “terra” que junta três distintos mundos (Ásia, África e Europa), é a
maior península do mundo, coberta por longos e secos desertos, pontuada por alguns
poucos oásis. Ao longo da história, a Arábia foi palco de imponentes impérios e reinos e
também de importantes acontecimentos, foi ali que nascera o Islã anunciado pelo profeta
Maomé, religião que viria a unificar a península e depois forjar um dos maiores e mais
poderosos reinos da era medieval, um reino que unificava fé e política, vindo a se tornar
uma das mais importantes religiões do mundo (o Islã). Aos árabes, devemos muito de
nossas tecnologias e arquiteturas (sobretudo no período medieval e moderno), sendo eles, o
elo que uni ocidente e oriente, foi ali, que séculos antes, advieram às tecnologias
necessárias para que portugueses e espanhóis se lançassem aos mares, rumo ao
descobrimento das Américas; foram eles que primeiro lançaram as luzes das
“universidades”, da medicina e da ciência; foram os guardiões de textos da era clássica, que
viriam a influir no pensamento renascentista e conseqüentemente para a implementação do
pensamento antropocêntrico e racional.

Contudo, muito pouco sabemos sobre essa região e seu povo, muito pouco sabemos sobre
sua história e sobre seus costumes. E antes de criticar, ou aceitar a crítica de quem quer que
seja, devemos procurar primeiramente entender e compreender alguns pontos desse povo
fantástico e guerreiro, que por mais que tenha sofrido fortes influencias culturais de vários
dos impérios que o cercou em diferentes momentos (seja os impérios da Mesopotâmia,
Grécia, Roma, Bizâncio, Persas e outros), esses se manterão fieis a suas mais antigas
tradições (ao modo Beduíno de vida), e mesmo incorporando muito dessas culturas a que
teve contato, nunca perdendo sua “personalidade” especifica, sua tradição mais pura e
verdadeira (como eles próprios consideram), a forma árabe de viver.

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O que esse trabalho pretende, é minimamente ilustrar alguns (poucos) traços sobre a Arábia
e sobre os árabes, lançar algumas luzes na intenção de tentar ao menos entender um pouco
mais sobre essa sociedade que ao longo da história veio se configurando como uma das
mais resistentes e “tradicionais” culturas de nosso tempo. Especificamente esse artigo
tratara das bases iniciais (sobretudo sobre os séculos IV, V e VI da era cristã) dessa
sociedade, o que a historiografia chama de Arábia Pré-Islâmica, ou seja, o mundo árabe
pouco antes do profeta Maomé e do Islã.

I – UM MAR DE AREIA E PEDRAS, UM LUGAR CHAMADO ARÁBIA.

A Arábia esta localizada numa das extremidades do continente asiático, forma uma
gigantesca península que tem área aproximada de dois milhões, quinhentos e noventa mil
quilômetros quadrados (a maior península do mundo), que se localiza quase que
estrategicamente “entre” três continentes, a Ásia, a África e a Europa, sendo por sua
natureza, uma encruzilhada desses três distintos mundos.

A Arábia é por excelência uma região desértica, de seu território, quase toda a extensão é
coberta por longos desertos, dentre esses, está o maior deserto arenoso do mundo, o Rub’ al
Khali (o “quarto vazio”), que se localiza ao centro-sul da península.

Talvez seja notório falar sobre os “desertos”, pois assim poderemos entender melhor o que
é a vida em meio a esse ambiente. Em síntese, desertos são severamente quentes ao dia, e
cruelmente frios durante a noite, são compostos quase que completamente por areia, rochas
e sal; sua flora, só se desenvolve em regiões que conseguem armazenar água, são em sua
maioria arbustos, e gramíneas, espaças e poucas; a fauna é em geral composta por pequenos
animais: serpentes, roedores, lagartos entre outros, que num geral só se expõe à noite, a fim
de preservar o liquido em seus corpos.

Poderíamos dividir a Arábia em três grandes regiões: a “Arábia Felix” a porção de maior
destaque, ao sul, também conhecida como Iêmen, onde se concentrava a maior parte dos
territórios férteis, onde se produzia preferivelmente: incenso, mirra e olíbano entre outros.

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Essa região, desde a antiguidade, se destacaria como local de produção agrícola, onde
residiam tribos sedentárias, tanto de pastoreio, agricultura e comércio, destacando também
ali, uma importante rota de comércio, principalmente por exportar mirra e olíbano para
várias nações importantes do mundo antigo (Grécia, Egito, Roma e Pérsia).

A “Arábia Pétrea” é uma região escarpada com colinas rochosas situada ao norte da
península, essa região é em si muito seca e pobre, contudo servia de “ponte” para as
caravanas que vinham do sul da península e mesmo da Ásia rumo às regiões do
mediterrâneo, foi sempre uma região de disputa, pois sua “posse” significava controle sobre
as caravanas e conseqüentemente sobre os produtos que por ali circulavam.

E por ultimo a região da “Arábia Desértica” (ou Arábia central), compreendendo a maior
parte de toda a Arábia, é essencialmente desértica, compõe toda parte central da Arábia,
pontuada por alguns oásis, é a região que “divide” as Arábias: Pétrea e Felix. Essa região
era habitada, e ainda é em certa medida, por homens nômades que viviam viajando pelo
deserto, esses são chamados de “beduínos”, que transpunham as areias do deserto para ir de
uma região a outra, cuidando de seus rebanhos praticando o comércio e por vezes
saqueando outras caravanas entre as diversas regiões da Arábia.

A Arábia é cercada por diferentes mares, a sudoeste o mar vermelho e o golfo de Aqaba, a
sudeste pelo mar da Arábia, e a nordeste pelo golfo pérsico e de Omã.

Dessa extensa porção de terra, muito pouco se destina a agricultura, em especial o sul,
devido suas altitudes elevadas e as costas do mar vermelho, protegidas do deserto pelas
montanhas hidjaz, na Arábia não a nenhum rio ou afluente fixo, apenas alguns lagos ou
poços nos oásis em meio ao deserto e das chuvas de que tanto depende a agricultura e a
criação de rebanhos, o que configura a Arábia como uma região “geograficamente” pobre,
onde somente a costa sudoeste, o sul e algumas poucas áreas de interior são relativamente
cultiváveis. (ver mapa anexo I)

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A própria geografia da região levava esses homens a se tornar nômades, a fundar cidades
estratégicas nas regiões das costas e nos oásis, e a se dedicar a muito mais ao comércio e ao
pastoreio nômade do que a agricultura. Comerciantes por “natureza” viviam divididos entre
suas próprias provisões, que eram escassas, e as provisões advindas do mundo exterior, das
caravanas que iam e viam em penosas travessias nos secos e impiedosos desertos da
Arábia.

II HISTÓRIA DA POPULAÇÃO DO DESERTO, ENTRE BIZANTINOS E OS


PERSAS.

A origem das populações primitivas da Arábia é algo que guarda muitos segredos, não
existem relatos ou estudos suficientes para disser como ocorreu à ocupação ao certo,
contudo muitas das referencias sobre os primeiros povos se encontram nas sagradas
escrituras da Torá (livro sagrado dos hebreus), o que talvez sejam apenas lendas, mas é
certo afirmar que essas populações são um ramo dos povos semíticos, e que segundo a
“lenda” das escrituras descendem da linhagem de Abraão. Os povos do norte (Maaditas ou
Nizaritas) acreditavam serem descendentes diretos de Ismael, e os do sul (Ieminitas) se
titulam descendentes de Noé.

A Arábia passou por vários momentos históricos, sendo palco do surgimento e apogeu de
diversos reinos e impérios, alguns descritos nas escrituras, como o poderoso reino da rainha
de Sabá (reino que se entendia para terras do leste africano) cuja rainha se encontrou com
Salomão (filho de Davi e rei de Israel), ou o reino Ma´in, ambos na rica região do Iêmen,
no sul da península; ou o misterioso e lendário “reino” Lihyanitas na Arábia central e
muitos outros; contudo, muito pouco se sabe sobre esses reinos (visto a pouca pesquisa
arqueológica dessas regiões), o que existe são apenas sombras de seus vestígios, numerosas
lendas, especulações e nenhuma certeza em absoluto.

Ao norte podermos notar a tribo dos “Edomitas”, povo de descendência semítica que
povoou o lugar em aproximadamente 1200 a.C, depois essa região é ocupada pelos
“Nabateus”, lugar este, que se tornaria importante ponto de passagem, e que seria

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sucessivamente dominado por vários impérios da antiguidade, desde os impérios
Mesopotâmios, o Egito, a Pérsia, o império Helênico, o império Arsácida (Partos), Roma
(sob o império de Trajano no século II), Bizâncio e por fim, novamente, a Pérsia
(Sassânida), que inclusive dominava todo o entorno do golfo pérsico e a região do Iêmen,
ao sul da península.

O grande histórico de “dominação” da parte norte da península, e visto que isso se deu pela
importância da região como “ponto de passagem” das inúmeras caravanas que ali se
abrigavam e reabasteciam, sendo um rico e próspero corredor de comércio vindo e indo
para o oriente, a região Pétrea, se estabeleceu desde cedo como um posto seguro para as
caravanas que faziam o comércio de luxo entre oriente e ocidente, e assim uma região
cobiçada, sempre objeto de disputa dos grandes “impérios”.

Já à região central, caracterizada especificamente por longos e áridos desertos, e visto as


imensas dificuldade naturais que oferecia para sua transposição e o pouco que podia
oferecer (financeiramente) a qualquer desses dominadores, a configurava como numa
região sem grandes importâncias para tais impérios da antiguidade.

Apenas o sul da península (a região do Iêmen) e as margens leste do golfo pérsico tinham
de fato fatores favoráveis aos dominadores, primeiro sua posição estratégica,
desembocando no mar da Arábia e, por conseguinte no oceano índico, visando um lucrativo
comércio com o mundo indiano e o rico “país” da China; além da rota alternativa que essa
região oferecia para a Europa, passando pelo nordeste Africano (Egito) e desembocando no
mediterrâneo, além de suas inúmeras especiarias, em especial as da região do vale do
Hadhramaut (produtora de mirra, que é um precioso ungüento; e olíbano, seiva leitosa de
arvore que se produz incenso, apreciado, sobretudo pelos romanos), muito apreciadas no
ocidente e também no extremo oriente.

No século V, poderíamos remontar o universo em que viva a Arábia: a região de


“passagem”, a Arábia Pétrea, estava sob domínio de Bizâncio, e as costas do golfo pérsico,
assim como as regiões do Iêmen viviam sob domínio das Persas Sassânidas, só a região

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central da Arábia e as costas do mar vermelho viviam sob relativa liberdade. Podemos
disser de forma bem sintética que de certo modo a Arábia vivia sob a tensão entre esses
dois poderosos impérios, de um lado os bizantinos e de outro os Sassânidas.

Os enfrentamentos (as guerras) entre sassânidas e bizantinos (sob a dinastia dos


Justinianos) viriam a configurar peso desfavorável aos persas, o que os obrigaria a recuar
para seus territórios (o atual Irã) e enfrentar por sua vez, violentas guerras civis que
enfraqueceriam o império persa.

Nesse momento, por volta dos séculos VI e VII, o império bizantino (sob comando de
Justiniano I) atingia seu apogeu, tanto em poderio bélico quanto em extensão territorial,
suas batalhas por territórios e também pela difusão do cristianismo (em suas diversificadas
formas de interpretações) deixariam marcas na história da Arábia pré-Islâmica. Depois que
vários cristãos (são expulsos dos territórios da cristandade por diferirem do pensamento
“oficial”) se estabelecem em regiões do império persa (inclusive na Arábia) e ali acabariam
por propagar sua fé num Deus único.

Não se pode remontar ao certo como foi a “história” dessa região, mas podemos intuir
alguns traços importantes da formação desse povo fascinante; primeiro, devemos lembrar
que a região central da Arábia é quase que inteiramente um seco e arenoso deserto, com
alguns poucos oásis e pequenas regiões que serviam de pastagem.

Visto isso, podemos entender a forma como esses povos viviam originalmente, em primeiro
momento, obrigados a procurar água, cruzando os desertos em busca de pastagens para seus
pequenos rebanhos, e vivendo em tendas, numa fantástica comunidade familiar, povo
nômade por excelência, criadores de uma cultura admirável, que acabariam por se tornar o
“elo” (pois seriam eles que guiariam as caravanas nos desertos ou as frotas mercantis nos
mares ao entorno da península) entre os ricos mercados da Índia e da China e o mundo
persa e mediterrâneo.

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Esses homens, chamados beduínos, que significa em árabe: al bedu (habitantes das terras
abertas) ou al beit (povo da tenda) e que formariam por sua vez, o mais “precioso” sistema
de organização de suas sociedades, o que eles consideravam (e em certa medida ainda
consideram) o “modo” de vida ideal dos Árabes, a vida nômade (originalmente o termo
“árabe” designava somente os beduínos).

Sua estrutura social máxima é a “tribo”, sendo essa, composta por indivíduos ligados por
parentesco (por sangue), geralmente por um ancestral comum, essa tribo, por sua vez, é
composta por clãs, e esses clãs, por famílias, todos conectados por linhas de sangue (por
parentesco), a chefia desses clãs é sempre masculina, e é passada sempre ao filho mais
velho, e esse por sua vez, passa ao seu filho mais velho (seu primogênito).

Eles se casam entre os membros da própria tribo, para que assim essa não se desfaça; a
“mulher” está preparada para o casamento já aos nove anos de idade (ver texto anexo I); o
“homem” aos quatorze, num geral, eles saem de sua unidade familiar e formam outra
(dentro da mesma tribo), contudo há aqueles que permanecem em suas antigas famílias,
para que possam cuidar de seus país na velhice.

Eles vivem entre grandes travessias, de um ponto a outro nos desertos, de oásis a oásis,
organizavam grandes caravanas, utilizando principalmente o camelo como meio de
transporte, visto que o camelo é um animal muito adaptado para esse tipo de travessia;
essas travessias eram (e ainda são) realizadas durante os invernos, eles se guiavam pelas
estrelas e iam de oásis a oásis, montando suas tendas em regiões prósperas para o pastoreio
e depois desmontando suas tendas e rumando para outras áreas. No verão, eles se
estabelecem nas “beiras” do deserto.

Os beduínos são desde muito tempo peritos nos desertos, sabendo interpretar os signos
dessa natureza tão árida e mortal, são capazes de se orientar pelo vento, saber para qual
rumo esta o próximo oásis, identificar pegadas na areia, saber quantas pessoas tinham a
caravana, quais animais eram, se certa pegada era de homem ou mulher, se esta estava
grávida ou se carregava uma criança ao colo.

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Suas tendas são feitas de peles de carneiro e camelo, fazem grandes tapetes e cordas de
fibra vegetal ou de pelos, suas tendas os protegem contra a areia, a chuva, o sol e o frio da
noite. Toda a vida do beduíno se dá na tenda (principalmente da Arábia pré-islâmica), ali
ele guarda seus objetos, as mulheres preparam os alimentos, tecem as roupas e cuidam dos
idosos e das crianças (meninos até os por volta dos sete anos, quando iam ajudar o pai e os
irmãos no pastoreio), enquanto os homens cuidam dos rebanhos ou recebiam seus
convidados em suas tendas.

A hospitalidade dos beduínos era tamanha, que certos relatos, nós contam que estes
chegavam a se endividar para cumprir a tradição de receber bem seus “hospedes”, se servia
três chás, o primeiro para o anfitrião, o segundo para o convidado e o terceiro para todos;
além dos chás, se serviam pratos tradicionais desse povo (na ocasião se serviam também
carnes).

Dentre os pratos da gastronomia árabe, pode-se destacar alguns em especial: iogurte e


manteiga de leite (de cabra ou camelo), pães com frutas, frutas secas (dentre essas,
principalmente as tâmaras), carnes de carneiro e camelo (contudo, apenas em ocasiões
especiais, festas de casamento, festas de nascimento, funerais ou ao receber visitantes),
entre outros. Podemos disser que a base alimentar dos beduínos era (e talvez ainda seja),
leite da cabra ou camelo, frutas, preferivelmente tâmaras (sobretudo na Arábia pré-
islâmica), carnes dos animais que pastoravam e alimentos advindos das trocas que esses
realizavam com os povos sedentários que aviam se estabelecido nos oásis.

Como lazer, esses homens organizam grandes corridas de camelo, em que apostam jóias,
rebanhos ou mesmo fortunas; nessas tradicionais corridas, os beduínos se empenham em
competições entre as famílias, os clãs e até mesmo entre diferentes tribos, até os dias de
hoje essas corridas representam um importante elo entre os árabes, sobretudo os árabes da
península arábica.

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Por ultimo, e talvez o mais importante traço vindo da cultura dos beduínos, é a forma como
esses contavam suas histórias, como passavam de geração para geração suas tradições, as
histórias de glórias ou de desgraças das famílias e mesmo da tribo. Ai temos a figura do
poeta, que em derredor de uma fogueira contava essas história, que mesclava tradição,
mitos, heroísmo e a essência da vida dos beduínos; a esses poetas era dado tratamento
especial e muita honra, pois eles eram na Arábia pré-islâmica, o maiores guardiões das
tradições e da religiosidade desse povo.

Para entendermos melhor, vale lembrar como esses homens valorizavam a oralidade, assim
como a entonação e a postura dos poetas, a forma como esses descreviam e interpretavam o
mundo ao seu redor, como criavam poemas de tal qualidade que esses seriam mesmo
recitados e memorizados na própria Kaaba (local sagrada mesmo antes da ascensão do
islamismo e também depois desse), segundo se conta, esses poemas seriam entre sete e dez.

Segundo Mamede Mustafa Jarouche (em seu texto: “Dois poemas árabes pré-islâmicos”
para a “revista de estudos orientais” n.5, pg159-170 2006), a qualidade e o rigor da
produção literal árabe nesse momento (no sentido da produção oral, visto que a produção
escrita é pouco comentada, ou até inexistente), seriam de extremo refinamento, e valeria-se
notar a importância que esses davam não só a estrutura do poema propriamente, mas
também a entonação e a própria postura do poeta ao contar esses poemas, esses poemas são
classificados como poemas do período “Jahilyiah” (que segundo a tradição árabe significa
período da ignorância, ignorância do islã), nesse mesmo texto, Jarouche traz a tradução de
dois desses poemas pré-islâmicos (ver texto anexo II).

Essa vida, esse meio de vida, essa cultura especifica, seria característica em toda região
central da Arábia (antes das conquistas islâmicas), e depois esse modo de vida ainda se
estenderia ao norte africano e em geral (posteriormente, com as conquistas islâmicas) a
todo o “mundo Árabe” (que se estenderia desde terras da Ásia, África e mesmo até a
península Ibérica).

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Não se sabe ao certo, por quanto tempo esses homens vivem dessa maneira (visto que
mesmo os mais antigos grupos humanos eram nomades), mas podemos disser com certeza
que muitos ainda hoje vivem assim, alguns árabes ainda preservam suas raízes culturais, e o
modo de vida dos beduínos, que eles próprios consideram ser a verdadeira forma “Árabe”
de viver.

Mas a Arábia não era só uma terra de beduínos, havia também aqueles que se estabeleciam
nos oásis ou em regiões estratégicas, fundando ali importantes cidades, essa população,
mesmo apesar de não ser considerada “Árabe”, formava uma importante parcela da região,
sobretudo em três importantes cidades mercantis: Meca, Ta´if e Medina (um prospero eixo
comercial na Arábia central a partir do século V, VI e VII).

A cidade mais importante na Arábia central nesse então era Meca, ali se concentrava um
vasto e prospero mercado (e também por onde importantes rotas comerciais passavam), era
também o centro religioso, onde estava a Kaaba, e onde se concentravam os ricos
mercadores. No entanto havia outras cidades na região da “Arábia central” e em cada uma
delas, mercadores que compunham uma prospera classe que de certa maneira se integrava
as tribos do deserto (os beduínos), pois os nômades eram responsáveis pelo transporte de
mercadores (ou pelo simples guiar das caravanas através do deserto), formando assim uma
simbiose onde ricos mercadores sedentários e beduínos nômades formava varias e
prosperas rotas de comercio internacional.

Os mercadores eram uma classe hegemônica dentro dessas cidades, tinham uma forma de
controle sobre os excedentes produzidos, sobre a passagem de viajantes dentro dessas
cidades ou mesmo sobre a peregrinação ao centro religioso (a Kaaba em Meca) aonde as
tribos iam para reverenciar seus ídolos e a “pedra negra”, era essa classe de mercadores
cobrava impostos sobre tudo isso e além do mais eram em medida influenciados por um
dos dois impérios (Sassânidas ou Bizantinos), seja por motivos religiosos ou comerciais.

O mais difícil talvez seja o de montar um paralelo sobre as relações diplomáticas que
permeavam essas atividades, importante notar que a Arábia Pré-Islâmica se encontrava em

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meio a dois poderosos impérios (os Persas Sassânidas ao leste e os Bizantinos ao oeste),
onde cada um desses impérios exercia certa influencia sobre algumas das tribos. Difícil
mensurar como foi isso ou em que medida se deu essa influencia, mas fica evidente como
essas cidades foram em medida invadidas por “referencias” culturais (na arte, arquitetura e
suntuosidade) e até mesmo religiosas advindas desses dois impérios.

III OS DJINNS E A RELIGIÂO NA ARÁBIA PRÉ-ISLÂMICA.

Antes de Maomé ser inspirado por Alá (Deus) a escrever e anunciar o Corão, a palavra
sagrada do Islã, a Arábia vivia numa outra perspectiva religiosa, muito diferente de nossos
dias. Talvez de maneira simples possamos dizer que as populações árabes eram idolatras e
politeístas, ou seja, idolatravam ídolos, representações de varias divindades (algumas fontes
afirma que essas variavam e poderiam chegar a até trezentas e sessenta), que algumas tribos
acolhiam um ou mais deuses como sendo seus “guardiões”, o politeísmo consistia na crença
em vários deuses, que essas tribos reverenciavam.

A religiosidade na Arábia era algo muito parecido com a própria estrutura política árabe de
então (pré-Islâmica ou dos beduínos), fragmentada e sem nenhuma centralidade política e
administrativa, isso quer disser que na maioria das vezes, assim como na estrutura política,
esses povos eram muito isolados, independentes, fechados em suas próprias tribos (algumas
fontes citam diferentes formas desse “entender a religião”, onde esses “entendimentos”
muitas das vezes divergiam entre si). Só havia um ponto em comum ou em medida
“centralizado” na religiosidade Pré-Islâmica, e isso era a Kaaba na cidade de Meca.

A Kaaba segundo se conta (pelos mulçumanos) foi construída por Abraão e seu filho
Ismael, que teria recebido a “pedra negra” (AL-Hajar-el-Aswad) diretamente das mãos do
anjo Gabriel. No entanto, talvez não seja correto associar essa história à esse tempo (Pré-
Islâmico), pois no então, essa crença ao Deus único se restringia a alguns mercadores
(Judeus e Cristãos). A Kaaba era o centro do mundo religioso e fazia alusão ao sol, e nela
eram adorados trezentos e sessenta ídolos, adoravam Deuses de toda as diversidade que
eram na maioria baseados em elementos da natureza ou que acreditavam fazer paralelo com

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os planetas e as casas zodiacais (prática religiosa, sobretudo da população da região sul e
algumas poucas tribos).

Manat, Uzaah, al-Lat e Hubal (um deus superior que seria pai dessas outras deusas) eram os
principais Deuses adorados por essas populações; suas imagens eram feita de cerâmica e
tinha forma antropomórficas. Meca era o centro religioso da Arábia, todas as peregrinações
e rotas comerciais passavam pela cidade, onde havia a liberdade de culto. A cidade era
controlada pelo clã dos comerciantes Quraish, que apoiados pelos sacerdotes, controlavam
as práticas religiosas na cidade incluindo suas festas, ritos e mesmo as feiras.

Já a população do norte e da região central, pouco se preocupava com os rituais religiosos


mais complexos ou com a peregrinação a Kaaba na cidade de Meca. Esses acreditavam na
existência dos Djjins (Gênios, que algumas traduções ligam com os anjos descritos na
cabala judaica e na própria bíblia cristã), entidades que diferentes dos homens, tem poderes
místicos, e diferem dos humanos em origem e forma, os Djjins são criatura de fogo (pele de
fogo e fumaça), que podem ser boas ou más (uma concepção maniqueísta), se dividem em
varias “classes” e em algumas oportunidades podem ser “capturados” pelos homens
(sobretudo se esse souber os ritos e formas de se fazer tal coisa), esse Djjins capturados por
homens são muito citados em contos (como em “As mil e uma Noites”). A mitologia árabe
nesse período é extensa e variada, alguns elementos dela se estenderiam para além desse
período (no caso dos próprios Djjins, que tem a existência reconhecida pelo Islã).

Vale notar que algumas fontes falam sobre a existência de oradores monoteístas que
precedem a Maomé, mas não é claro se esses são religiosos cristãos ou judeus, ou se de fato
precedem a religião que seria anunciada por Maomé (o Islã).

A região da Arábia viria a se tornar um importante “trajeto” de passagem de comércio (as


caravanas que atravessavam os desertos ou pelas rotas marítimas que faziam o entorno da
região), esse comércio estabeleceria um forte contacto entre diferentes mundos, o transito
não se restringiria ao de mercadorias e valores; passaria ao transito de idéias e de culturas, e
entre isso o contato religioso que possivelmente “geraria” um novo cenário em breve. Os

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cultos monoteístas (judaico e cristão) chegaram às cidades junto com mercadores que
cultuavam a fé num Deus único e de certo, a liberdade de culto que essas cidades permitiam
foram vetores para a propagação dessa fé e a preparação da Arábia para uma das maiores e
mais profunda transformação que a região passaria: o profeta Maomé e o Islã.

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ANEXOS

MAPA ANEXO I:

TEXTO ANEXO I:
Os Conselhos da Beduína
(Tradução de Helmi M. I. Nasr)

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Ó filhinha: estás para te separar do ambiente em que te criaste
E prestes a trocar o ninho em que engatinhaste
Por uma casa e um companheiro, para ti desconhecidos
Leva de minha parte estes dez conselhos, para ti, um tesouro:
1) Acompanha-o docemente (com sobriedade).

2) Convive com ele em suave obediência e respeito.

3) Esteja atenta ao lugar onde pousa, em ti, o olho de teu marido:


que não encontre em ti feiúra.

4-5) Não descuides da hora das refeições e não perturbes com


estrépito o seu sono, pois, certamente, a força da fome é como o
fogo e perturbar o sono, algo odioso.

6-7) Evita ostentar alegria, quando ele estiver triste, e mostrar-te


aborrecida, quando ele estiver alegre. Isso contrariaria o primeiro
de meus conselhos e angustiá-lo-ias com tua tristeza.

8) Sê, entre todas as pessoas, a que mais o respeita e, assim, ele será
o primeiro a honrar-te.

9) Não alcançarás o que gostas, se não antepões a satisfação dele à


tua, e a paixão dele à tua.

10) O mesmo farás para as coisas de que não gostas.

Procede assim e Deus te favorecerá.

(http://www.hottopos.com/videtur2/nasr.htm, em 07/10/2009 as 11:17)

TEXTO ANEXO II:

MU.ALLAQA DO POETA IMRU. ALQAYS


(Explicação das Sete Mu.allaqas)
(m. c. 540 D.C.)

01. .Alto! Choremos a memória de um amor e um acampamento


situado ao termo de sinuosas dunas, entre Daæūl e Hawmal,

02. e TūÅi¬ e MiqrāÐ, cujos vestígios não foram varridos


pela urdidura dos ventos sul e norte:

03. vê-se ainda excremento de gazelas, em seus recantos


e traçados, semelhando grãos de pimenta..

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04. É como se, na madrugada em que partiram,
eu, em meio às acácias da aldeia, mastigasse coloquinto,

05. e meus amigos, em seus camelos, inertes


me dissessem: .não morras de angústia; paciência..

06. Minha cura, porém, é a lágrima transbordante.


.De que adianta chorar ante evanescentes ruínas?

07. Assim sofreste antes por Umm Al¬uwayri£,


ou ainda por sua vizinha Umm Arrabāb, em Ma.sal:

08. quando passavam, seu almíscar se tornava


sopro do zéfiro com aroma de cravo..

09. Então minhas lágrimas desceram, abundantes,


pelo peito escorrendo até molhar-me a cintura.

10. [Pensei:] .quantos dias faustosos gozaste com elas,


sobretudo o dia de Dārat Juljul,

11. quando para as moças sacrifiquei meu camelo:


que assombro vê-las carregar-lhe as carnes,

12. pondo-se ao depois a atirar entre si os nacos


e a gordura, que parecia flocos de seda trançada;

13. o dia no qual adentrei a liteira de .Unayza,


que disse: .ai de ti, hás de me derrubar!.;

14. eis o que ela alegava enquanto passava o cortejo:


.assustaste meu camelo, Imru. Alqays; desce, portanto!.

15. Eu disse: .avança e solta-lhe as rédeas,


mas não me impeças de colher teus frutos, iguais

16. aos de tanta mulher a quem, mesmo prenha ou lactante, fiz noturnas
visitas,fazendo-a esquecer o bebê protegido por amuletos:

17. quando chorava, ela dele cuidava só mexendo


metade do corpo, pois debaixo de mim a outra metade imóvel ficava..

18. [E outra,] um dia, sobre uma duna, dispensou-me asperamente,


e rompeu comigo num juramento sem volta.
19. .Ai, Fatinha, devagar com essa negaça:
se for para romper, seja, mas com gentileza;

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20. estás assim iludida pensando que teu amor me mata, e tudo que ordenares meu
coração fará;

21. se em minhas maneiras algo te aborrece,


separa então tuas roupas das minhas: desnudos ficaremos.

22. Teus olhos só verteram lágrimas para atirares


tuas setas nos pedaços de um coração dilacerado.

23. Com quantas beldades mui ciosas em tendas inacessíveis


diverti-me em gozo não apressado,

24. e ludibriei vigias e familiares


cuidadosos, que em segredo me matariam,

25. quando as Plêiades no céu apareciam


como pedaços de um colar de intercaladas contas.

26. Cheguei, e ela, já desnuda para dormir,


salvo a roupa íntima, me aguardava.

27. Ela disse: .por Deus que não tenho como te impedir,
nem creio que esta atração desapareça..

28. Saímos juntos, ela arrastando atrás de nós


a cauda de sua sedosa camisola pintada.

29. Quando cruzamos os limites da aldeia, e tranqüilos ficamos,


num declive seguro, em rocha de arenito recostados,

30. tomei-a pelas têmporas, empolgando-lhe


a graciosa cintura e o grosso lugar do chocalho.

31. Elegante, clara a pele, sem gorduras,


pescoço liso como superfície de espelho;

32. primícia de alvura mesclada de leve amarelo,


regada por transparência de água intocada,

33. a face esconde ou só a furto exibe,


com olhares de vaca selvagem com cria,

34. delicado colo, como se fora de gazela branca,


quando se ergue, sem atavios,

35. e longa cabeleira negra ornando a espádua,

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densa como trançado cacho de palmeira,
36. as tiaras elevadas em seu cimo,
em suas melenas se extravia o pente.

37. Gentil o talhe, apertado como trança,


e pernas como tronco de frondosa palmeira.

38. O pó do almíscar lhe cobre o leito,


em que repousa ao meio-dia, leve a roupa,

39. estendendo os tênues e suaves dedos como se fossem


larvas de Ýabī ou palitos de dente da árvore .ishāl.

40. Ela ilumina as sombras do entardecer qual fora


lampião de noturno monge solitário.

41. São as iguais a ela que o prudente deseja com ardor,


quando surgem entre roupas adultas e infantis.

42. A escuridão [da velhice] faz o homem desdenhar a juventude,


mas meu coração jamais se apartará da paixão por ti.

43. De quanto adversário tenaz [de meu amor] recusei


os imperdoáveis conselhos e as censuras!

44. Quanta noite qual onda marinha soltou seus véus


sobre mim para afligir-me com vários pesares!

45. Eu disse à noite, quando a escuridão se dilatava,


espreguiçando-se, seu traseiro se afastando de seu peito:

46. .Ó longa noite, vira logo


madrugada, ainda que a aurora não seja melhor!

47. Noite, noite cujas estrelas parecem


cordas de linho em sólida rocha.

48. De quanto odre do povo pus os cabos


em minhas costas, obediente e esforçado!

49. Quanto vale tal bojo de asno, inóspito, cortei,


no qual uivavam lobos como um desterrado!

50. Eu disse ao lobo uivador: nosso caso


é o do desafortunado sem riqueza.

51. Ambos, mal conseguimos algo, perdemos;

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quem obra como eu e tu, está desgraçado.

52. Cedo madrugo, os pássaros inda no ninho,


e monto veloz corcel, perseguidor de feras, vigoroso,
53. que, indo e vindo, avançando e recuando,
semelha uma rocha de cima arrastada pela torrente;

54. é baio, e sua crina resvala pelo dorso


como desliza pela lisa rocha o granito da chuva;

55. nervoso e delgado, quando trota, impaciente, parece uma caldeira a ferver;

56. galopa mesmo quando outros, fatigados,


levantam poeira no duro solo pisado;

57. faz cair de seu lombo ao jovem ligeiro,


e até ao forte corpulento faz perder as roupas;

58. impetuoso como pedra por moleques girada


nas mãos e a uma corda amarrada;

59. de antílope são seus flancos, e de avestruz as patas,


de lobo as passadas e de raposa a corrida;

60. espadaúdo, se o olhas por trás cobre todo o espaço


com sua vasta cauda, quase arrastada ao chão, reta;

61. e seu dorso parece, quando avança,


mó de noiva ou de coloquinto;

62. e é como se já o sangue das primeiras presas, em seu peito,


fosse tinta de hena em cãs penteadas.

63. Avistamos caças cujas fêmeas pareciam


donzelas de Duwār com comprida túnica,

64. que se dispersaram como contas de ônix intercaladas


em pescoço de donzela de nobre origem.

65. Mas [o corcel] me fez alcançar as mais ligeiras,


deixando atrás, não dispersadas, as mais lentas;

66. veloz atacou então touros e vacas,


e os alcançou, sem que suor o molhasse.

67. E os cozinheiros, em largo espaço, preparavam


as postas de carne para o assado e para cozinhar.

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68. Naquela tarde, o olho mal podia segui-lo
mal se mirava a parte de cima, logo o olhar descia;

69. sua sela e rendas passaram a noite com ele,


que, de pé, ficou diante de mim sem se afastar.

70. Pois é, camarada: não vês o relâmpago cujo brilho te mostro,


semelhante ao de suas patas, entre densas nuvens?

71. É seu fulgor que resplandece ou serão lampiões de monge,


de retorcidas mechas em óleo empapadas?

72. Voltei a meus companheiros: entre Dārij


e .Uzayb, tudo puderam contemplar!

73. A tempestade parecia estender-se à direita, na direção de QāÐan,


e à esquerda, na direção de Sitār e a seguir Yazbul

74. Mas a água passou a refluir para os lados de Kutayfa,


precipitando-se, frontal, em troncos de grandes árvores,

75. e salpicando, de passagem, Alqanān,


ali desalojando de suas casas os bichos;

76. em Timā. não restou tronco de palmeira


nem construção que não fosse de pedra ou argamassa;

77. ¢abīra parecia, no início da tempestade,


um grande líder com túnica riscada;

78. o alto do desfiladeiro de Mujaymir amanheceu,


com a torrente e a enchente, como o cabo de um fuso;

79. e lançou, na depressão do deserto, sua carga,


semelhando chegada de mercador iemenita cheio de trouxas;

80. é como se os pássaros do vale, pela manhãzinha,


bebessem generoso néctar apimentado,

81. ou as feras, afogadas na véspera,


por toda sua extremidade, fossem raiz de cebola.

(JAROUCHE, Mamede Mustafa. Dois poemas árabes pré-islâmicos in revista de estudos


orientais. n.5, pg159-170 2006)

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BIBLIOGRAFIA

KARAM, Christian Da Camino. ”A Arábia pré-islâmica e o Oriente Próximo nos séculos


VI-VII d.C.: rumo a uma nova concepção de mundo”. in “História Viva - edição especial
Grandes Religiões n. 4: Islamismo”.São Paulo: Duetto, 2007.

HOURANI, Albert. Uma história dos povos Árabes. São Paulo: Companhia das Letras,
1994.

GULBENKIAN, Fundação Calouste. A História – Idade Média: Boletim informativo, série


II, nº 10, 1968.

FONTES VIRTUAIS

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http://br.answers.yahoo.com/question/index?qid=20080327150044AAx5pt4

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http://pt.wikipedia.org/wiki/Ol%C3%ADbano

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http://www.islam.org.br/a_arabia_pre_islamica.htm Acessado as: 11:13 de 07 de setembro
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http://www.emdiv.com.br/pt/mundo/asmaravilhas/402-arabia-historia-e-e-geografia.html
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http://www.kplus.com.br/materia.asp?co=94&rv=Direito Acessado as: 14:25 de 07 de
setembro de 2009.

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