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INTRODUÇÃO ÀS SAGRADAS

ESCRITURAS
AULA 1

Profª Cristina Aleixo Simões


CONVERSA INICIAL

A palavra de Deus revelada aos homens foi antes de tudo uma


experiência que se deu dentro da história humana e no ambiente de um povo
concreto, o povo de Israel. Essa história, relatada nos textos bíblicos, aconteceu
num mundo muito diferente do atual, em uma região determinada, e que também
recebeu influência de outros povos e suas culturas.
Por isso, o objetivo desta aula é nos inserir no mundo bíblico e,
especificamente, no ambiente onde nasceram os textos. Para isso, é muito
importante para uma correta interpretação. Mais do que isso, possibilitar um
melhor conhecimento da Palavra de Deus evita leituras errôneas, isoladas e
alienadoras da Bíblia.
Apresentamos esta aula de acordo com a seguinte estrutura: primeiro,
trazemos a geografia do mundo bíblico; em seguida, mencionamos a diversidade
de povos e culturas que, por sua proximidade, influenciaram a vida de Israel;
depois, referimo-nos especificamente ao povo da bíblia; então, abordamos a
experiência desse povo com o Deus único; por último, debatemos a questão da
mensagem teológica dos fatos narrados na Bíblia. O estudo termina com
indicações de estudo e uma conclusão.

TEMA 1 – O MUNDO BÍBLICO E SUA GEOGRAFIA

A história bíblica acontece – tem seu início e desenvolvimento – em um


determinado lugar geográfico. É uma história concreta inserida num contexto
peculiar; assim, conhecer suas características é essencial para a compreensão
e interpretação da Bíblia:

A maior parte da história bíblica se desenvolve em um território estreito


e longo, com menos de cem quilômetros de largura, entre o mar
Mediterrâneo os grandes desertos da Síria e da Arábia. Essa franja de
terra foi berço de várias civilizações e é ponto de encontro de três
grandes continentes: Ásia, África e Europa (Bíblia, 2012, p. 45).

Nessa importante região, que tanto contribuiu para a história da


humanidade, se localiza ao sul o país de Canaã, região conhecida também pelo
nome de Palestina, nome que foi dado “por um dos seus povos ocupantes, os
filisteus ou ‘pelistin’” (Bíblia, 2012, p. 45). Mais tarde, a região ficou conhecida
como Israel, nome que recebeu por conta do patriarca Jacó (Gn 32, 29). Na
época em que Roma era o grande império, a região era chamada de Judéia.

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“Hoje, abrange o Estado de Israel, onde predomina a população judaica, e o
Estado Palestino, onde se concentra a população palestina e árabe. A capital é
Jerusalém” (Koningns, 2000, p. 27).
Foi para a terra de Canaã que o povo do êxodo se dirigiu, a fim de
conquistá-la e lá se estabelecer, pois essa era a terra da promessa feita ao povo
eleito: a “Terra Prometida”! No entanto, não se trata de um grande pedaço de
terra, mas de um território que compreende uma pequena e estreita região,
localizado entre o mar mediterrâneo e dois grandes desertos, o deserto da Síria
e o deserto da Arábia, fazendo parte de um conjunto geográfico maior, chamado
“Crescente Fértil”.

1.1 Início da história – o Crescente Fértil

Antes de obtermos mais informações sobre a terra que Israel recebeu


como promessa de Deus, é necessário entender que ela se localizava num
território muito disputado, que é apresentado pelos estudiosos com o desenho
de uma meia lua, assim relacionada à definição da região como Crescente Fértil.
Mais interessante é que, nessa região, mais necessariamente onde tem início
seu espaço geográfico, se encontra a história do patriarca Abraão! A Bíblia situa
Abrão e sua família em dois lugares: Ur e Harã. Brown, Fitzmyer e Murphy (2011,
p. 1181) descrevem a posição dessas localidades da seguinte maneira:

Os topônimos mais antigos identificáveis na Bíblia são ligados a


Abraão em Gn 11,31, a saber, Ur e Harã. Ur está próximo ao sul e Harã
próximo ao norte de um de um extenso arco traçado pelo vale do
Eufrates. Podemos completar o mesmo arco de Harã em direção ao
oeste até a costa síria, e depois para o sul até o Egito. Isto nos dá o
desenho em forma crescente com as pontas repousando nos golfos
Pérsico e de Suez, e o meio passando ao longo da fronteira atual da
Turquia. Esta faixa estreita é chamada de Crescente Fértil porque
coincide com uma franja de fontes de água que torna possível a
produção de alimentos ao redor da extremidade de um vasto deserto
(2011, p. 1181).

Foi a presença dessas fontes de água que determinaram as migrações,


os centros sedentários, as explorações agrícolas e as importantes rotas de
comércio que eram “usadas para deslocar de um das grandes áreas de
exportação para outra” (Brown; Fitzmyer; Murphy , 2011, p. 1181).
Canaã se encontrava na direção sudoeste do importante Crescente Fértil.
Uma região pequena, mas ponto central e estratégico para as grandes
caravanas de nações rivais, como Arábia, Egito e Babilônia. O povo da Bíblia

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esteve sempre cercado por grandes impérios, ora também dominado por eles,
ou oprimidos por seus sistemas econômico-sociais. Podemos lembrar aqui do
êxodo dos hebreus que estavam no Egito, não como caso isolado, mas como
momento fundante da história de Israel com Deus.
De fato, a posição geográfica em que se desenrola a história da Salvação,
mais especificamente a região de Canaã, fez dela centro importante de todo
mundo conhecido por muito tempo na história, desde Abraão, chegando até o
grande império grego.
Além da importante influência que o povo da Bíblia sofreu por causa do
espaço que ocupou, não podemos deixar de falar das várias nações que também
exerceram influência sobre Israel. É o assunto da seção seguinte.

TEMA 2 – O MUNDO BÍBLICO E SUA DIVERSIDADE CULTURAL

Os povos vizinhos a Israel influenciaram profundamente a história do povo


da Bíblia. A localização estratégica da “Terra prometida” acarretou tanto um
intercâmbio de ideias, culturas e religiões, como frequentes conflitos.
Grandes impérios, como Mesopotâmia, Egito e outros, se ergueram
sucessivamente durante os séculos estendendo seu domínio sobre o mundo
Antigo; dessa maneira, desempenham papel decisivo em sua história.
A Mesopotâmia foi o “berço” das grandes civilizações, como os sumérios,
os acádios e os amorreus. Foram esses povos que deram origem aos impérios
Sírio e Babilônio. O Egito também esteve sempre por perto. O livro do Êxodo
narra a opressão que os hebreus sofreram no Egito e a miraculosa libertação
sob a liderança de Moisés.
Ao redor da Terra Prometida, encontravam-se outros povos conhecidos
como “goiyn”, que significa nações ou gentes – daí vem o nome “gentios”
(Koningns, 2000, p. 29). Conheceremos um pouco sobre eles a seguir.

2.1 Os povos semíticos

Conforme Koningns (1998, p. 30), “entre o Mar Mediterrâneo e as


planícies da Baixa Mesopotâmia movimentavam-se, no período do quarto ao
segundo milênio a.C., povos semíticos ocidentais”. O autor explica que esses
povos eram muito difíceis de se distinguir, o que só era possível por meio da
identificação de suas localizações e pela diversidade cultural existente,

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consequência da organização de cada um desses povos nas esferas econômica
e social.
Em um período em que não existiam delimitações de territórios como se
tem hoje, esses grupos deslocavam-se por toda região e recebiam vários nomes.
Em alguns momentos, eram chamados de amorreus, e em outros de cananeus.
Mas também foram chamados de fenícios aqueles que ocuparam a região norte
da palestina.
Muitos desses povos alcançaram um alto nível cultural. Koningns (2000,
p. 30) explica que os cananeus praticavam uma “religião de tipo sedentário”,
compreendendo sacrifícios humanos e rituais de prostituição sagrada. Foi entre
eles que surgiram os hebreus, termo que deriva de hapȋru e significa migrantes
ou nômades (Koningns, 2000, p. 30). Estes são conhecidos principalmente por
meio das narrativas do livro do Êxodo, sendo mais tarde chamados “filhos de
Israel”. Os filhos de Israel compreendem as doze tribos de Israel, e são distintos
por duas características:

Tinha[m] dois componentes principais, um vindo do nordeste, da Síria,


e outro vindo do sul, das fronteiras do Egito. Não eram homogêneos
culturalmente. O elemento que vem do sul é mais marcado pelo estilo
nomádico-pastoril, enquanto o ‘amorreu’, do norte, é mais propenso à
vida agrícola e sedentária. O que os une é a oposição às cidades-
estado dos cananeus, que eles conseguem parcialmente submeter,
substituindo inclusive o seu sistema econômico escravagista por uma
economia agrária mais comunitária e tribal. (Koningns, 2000. p. 30-31).

Alguns dos povos semitas eram identificados por Israel com um


parentesco mais ou menos próximo. São eles os moabitas, amalecitas,
edomitas, amonitas, inclusive os ismaelitas (também chamados árabes,
descendentes de Ismael, filho de Abraão com a escrava Agar, cf. Gn 16; 21,8-
10). Os edomitas são considerados descendentes de Esaú, irmão de Jacó (Gn
25,29-34; 27,1-45). Israel se achava no direito de exercer domínio sobre esses
povos, o que realmente fez algumas vezes.
No Livro do Deuteronômio (Dt 26,5), os arameus são admitidos como
ancestrais de Israel, embora os textos bíblicos não os apontem com
descendência direta, mas os coloque num grau de inferioridade, tanto na relação
com Israel, como com o edomitas (Aram é sobrinho de Abraão, cf. Gn 22,21).
Contudo, os mesmos arameus recebem o nome de caldeus, quando
encontrados no sul da Mesopotâmia. O caldeu, como linguagem, era conhecido
também como aramaico, e exerceu influência tanto no império neobabilônio
como no persa, que se apropriaram da língua nos campos administrativo e
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comercial. Por muito tempo, essa “será a língua franca do Oriente Médio [...] era
a língua da Palestina na época de Jesus” (Koningns, 2000, p. 32).
Também os elamitas fizeram parte dos povos semitas. Esse grupo é
mencionado no Livro dos Reis, assimilados aos samaritanos pelo império assírio
(2Rs 17,6.30-31). Os textos bíblicos mencionam igualmente os árabes, os
nabateus e os madianitas, que habitavam a região da Arábia e do Sinai.

2.2 Israel e os povos de cultura não semita

Entre alguns povos que faziam parte da vizinhança de Israel encontrava-


se uma enorme distância cultural, isto porque não pertenciam à cultura semita.
Desses grupos, fazem parte: os culchitas, que viviam no Egito, ao sul; os hititas
ou heteus, que dividiram com o Egito, por um período, o domínio sobre a região
de Canaã; os filisteus, conhecidos também como “povos do mar”, que
dominavam a tecnologia do ferro e, assim, possuíam melhores armas de guerra
– são o povo do personagem Golias, que é derrotado por Davi, no livro dos Reis;
os medos, incorporados mais tarde ao reino persa; e os povos que habitavam as
ilhas da das penínsulas mediterrâneas: cretenses, cipriotas, gregos e outros.

2.3 Israel e os grandes impérios

Para entender a história bíblica, é imprescindível saber um pouco dos


grandes impérios que exerceram domínio também sobre Israel e se sucederam
na supremacia do Antigo Oriente (Koningns, 2000. p. 33).
O primeiro grande império que marcou a vida do povo da Bíblia é o império
egípcio. Entre os anos 1500 e 1070 a.C., o Egito estendeu seu domínio por várias
regiões, chegando também a Canaã. O êxodo das tribos israelitas é situado
nessa época. A influência egípcia e sua força como grande império diminuiu com
o passar do tempo e o surgimento de outros impérios. Porém, o Egito deixou
uma importante marca no povo eleito: sua influência cultural, tanto no campo da
tecnologia como no campo literário e filosófico. A sabedoria egípcia, por
exemplo, também foi assimilada pelos Israelitas.
Por volta do ano 900 a.C., a Assíria apareceu no horizonte dos grandes
dominadores e se impôs tanto ao Egito como à Canaã. O que caracterizava o
governo assírio não era sua cultura, mas seu imperialismo e sua crueldade. A
Assíria foi a responsável pelo fim do Reino do Norte, Israel, que tinha como

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capital a Samaria, entre os anos 722-721 a.C. O domínio assírio perdeu sua força
em 625 a.C.
Depois foi a vez do império babilônico, entre os anos de 605-562 a.C. A
Babilônia foi responsável pela destruição do Templo e da cidade de Jerusalém,
levando para o exílio “a Elite de Jerusalém” (Koningns, 2000, p. 35). A
experiência da derrota e do exílio foi devastadora para o povo, mas Israel nutria
a esperança do retorno (cf. Ez 37). A partir dessa época, o aramaico, língua dos
babilônicos, também conhecidos como caldeus, passou a ser a língua oficial do
Oriente Médio.
O rei Ciro venceu a Babilônia, em 539 a.C.; chegou então a vez dos
persas. Com uma estratégia de administração descentralizada, alicerçada na
colaboração dos povos subordinados, a Pérsia manteve-se no poder por vários
séculos. Assumiram a língua aramaica e mantiveram “intensos contatos
administrativos e comerciais com o povo judeu” (Koningns, 1998. p. 36).
Os gregos assumiram o cenário imperial em 490 a. C.: Alexandre Magno
dominou a Grécia inteira e os Impérios da Mesopotâmia e do Egito. Em 330 a.C.,
Alexandre conquistou também a Palestina. Houve uma política de helenização
dos povos conquistados, e Alexandria passou a ser a grande capital do
helenismo. O povo de Israel sofreu a influência da cultura helênica, tanto na
diáspora quanto na Palestina. No séc. II a.C., como consequência de várias
situações impostas pela dominação grega, aconteceu a insurreição conhecida
como “Revolta dos Macabeus” (cf. narra os livros de 1 e 2 Macabeus).

TEMA 3 – A FORMAÇÃO DO POVO DA BÍBLIA

De acordo com o relato bíblico, a história da formação do povo de Israel


tem início com a migração de Abrão e sua família; saindo de Hur, se
estabeleceram em Harã (Gn 11,31b), e depois em Canaã (Gn 12,5). Porém,
devido a um período de seca, migraram para o Egito e se transformaram num
povo numeroso, conhecido então como hebreus, nome “equivalente a hapîru,
população estrangeira, migrante e sem organização estatal” (Konings, 2000, p.
52).
O ápice de toda história do Israel antigo é sua formação por meio do
processo do êxodo, durante o qual Moisés liderou o povo, antes escravos do
faraó, para a sua libertação e o cumprimento da promessa da terra feita aos

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patriarcas. Moisés, nome egípcio com significado incompleto: “filho de...” –
segundo Konings (2000, p. 52), parece-lhe faltar o nome de alguma divindade –
cresceu e foi educado na corte do faraó, mas se casou com uma mulher do reino
árabe, de Madiã (Ex 2,11-22). Um personagem de “personalidade extraordinária,
certamente em termos culturais e religiosos” (Konnings, 2000, p. 52).
Seja como for, Moisés, nas narrativas bíblicas, foi o mediador entre o povo
escravizado no Egito, os hebreus, e Deus, que os escolheu como povo
consagrado e estabeleceu uma Aliança que os uniu à divindade que revelou a
eles seu nome. E esse é o ponto fundamental dessa história: o conhecimento do
Deus que age e está com o povo, Yahweh (Manucci, 1985, p. 43).
Durante o processo da caminhada no deserto e da conquista da terra,
outros grupos se uniram ao grupo liberto do Egito, e juntos deram origem ao
povo de Israel. A realidade em que se encontrava a “terra Prometida” também
era de exploração e opressão; por isso, “a libertação maravilhosa da escravidão
egípcia insere-se no contexto histórico mais amplo da revolta da população
camponesa contra as cidades-estado da terra em Canaã” (Koningns, 2000, p.
52). Dessa maneira, a saída do Egito só se conclui com a ocupação da Terra
Prometida, e o êxodo é tido como símbolo de várias libertações, de grupos que
se identificam.
Assim, a beleza dessa história de união e constituição está exatamente
na proposta de vida que a experiência do Deus da vida e da libertação tinha para
todos aqueles que quisessem aderir a esse povo. Uma experiência
transformadora e pedagógica! A constituição do povo da Bíblia é também o
conhecimento de uma divindade diferente de todas as outras conhecidas no
mundo antigo.

TEMA 4 – A EXPERIÊNCIA DE UM DEUS ÚNICO

O povo de Israel é o povo de Yaweh, e isso faz toda a diferença, afinal, é


da experiência com o Deus libertador que nasce o povo da Bíblia. Trata-se das
tradições do Deus da promessa dos patriarcas, do Deus libertador com Moisés
e da experiência conjunta de quem vivia a opressão das cidades-estado
egípcias; nesse contexto, tomou forma uma identidade (religiosa) que deu
origem ao povo de Israel.
Diferente dos cananeus com seus cultos à fertilidade, ritos de prostituição
e até sacrifícios humanos (Konings, 2000, p. 30), os israelitas fizeram a
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experiência de um Deus sensível à realidade humana. Foi algo muito importante,
que ensinou e despertou, por meio da experiência da revelação, “uma evolução
da consciência da dignidade do ser humano” (Artuso; Catenassi, 2017. p. 15).
Na experiência fundante do povo eleito, na narrativa bíblica apresentada
no livro do Êxodo (3,7-11), tem-se um Deus que vê a miséria do povo, que ouve
seu grito oprimido, que conhece as angústias dos hebreus e que desce para
trazer libertação. O estudioso Manucci (1985, p. 34) expressa muito bem a
proposta de Yahweh ao ser humano quando menciona como uma proposta DE
“comunhão de vida”, que as Escrituras sagradas chamam de Aliança.
Mais do que isso, Israel vai aprender que Iahweh é o único Deus
verdadeiro, e que da constituição do povo emerge uma grande missão: primeiro
experienciar a revelação amorosa de Deus, e depois levá-la a todas as nações
(Gn 12,3b; Jl 3,1a, 5a; Mt 28,19; At 1,8; 15,16-17). A revelação se fundamenta
na relação humana e divina: Deus que se revela, povo que acolhe a revelação.
Por isso, um conceito a ser destacado é a compreensão do “conhecer a
Deus”, que para o povo hebreu é “encontrar uma realidade pessoal, e uma
pessoa não é conhecida a menos que se conheça o seu nome” (McKenzie,
citado por Brown; Fitzmyer; Murphy, 2011, p. 1389). Para o povo de Israel, o
nome é que confere a identidade a um indivíduo, não apenas com a finalidade
de distingui-lo dos outros. Assim, “conhecer o nome é conhecer a realidade
mencionada [...] Por isso, o conhecimento de Deus é manifestado em seu nome”.
E já que “Deus se fez conhecer por meio da experiência histórica da sua
presença” (Manucci, 1985. p. 43), tal experiência aponta para Iahweh como único
Deus. Ou, melhor explicando, mesmo que os textos bíblicos mencionem outras
divindades – “elohin” = deus ou deuses; “Iahweh é elohin de um modo pelo qual
nenhum outro ser é” (McKenzie, citado por Brown; Fitzmyer; Murphy, 2011, p.
1393).
Assim é o Deus único de Israel. A questão para os Israelitas é que não há
outro deus como Iahweh, mais do que uma explicação de monoteísmo contida
no Antigo Testamento. Com seu povo, Deus estabeleceu um relacionamento
único por meio da Eleição e da Aliança, relação não existente como nenhuma
outra divindade. Não havia qualquer deus diferente a quem se devesse temer ou
pedir algo, e essa é a profissão de fé mais explícita do monoteísmo de Israel,
considerando com total insignificância qualquer outra divindade.

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TEMA 5 – O MUNDO BÍBLICO E SUA MENSAGEM

A Bíblia é uma coleção de livros que narram fatos históricos, experiências


reais de um povo. Contudo, ela não pretende ser um livro de história ou ciência,
mas um livro de mensagem teológica. Ou seja, cada um dos livros compostos
em tempos diferentes, por autores diferentes, antes vividos e só mais tarde
redigidos, e ainda, atribuídos de uma ou várias outras redações posteriores,
trazem em si uma mensagem divina que salva e liberta o ser humano.
O material que conhecemos como Pentateuco, para Konings (2000. p.
83), é o “portão de entrada da Bíblia, é uma monumental narração teológica das
origens do mundo”. O livro do Gênesis, narrativa da criação do mundo, nos
insere na “palavra eficaz” de Deus que cria, gera. O livro do Êxodo nos transporta
para a realidade do Deus que liberta e faz caminho junto com o povo, dá as
coordenadas para uma vida digna e plena: a Lei no Sinai.
Os temas da promessa e a Aliança, apresentados no Pentateuco, são
fundamentais em toda a história do povo e serão recorrentes em toda literatura
bíblica.
As mensagens de anúncio e denúncia contidas na literatura profética
ganham tom de “reconforto” no período do exílio babilônico (Koningns, 2000, p.
94), e recomeço no retorno dos exilados.
Os textos pós-exílicos de 1 e 2 Crónicas e Esdras e Neemias sublinham
os grandes temas do Templo, do culto e da raça, assim como a idealização de
um Messias, novo Davi. E esses são apenas alguns exemplos de como se
caracteriza a mensagem bíblica.
Assim, inseridos nessa dinâmica reveladora, vamos compreendendo a
mensagem teológica por trás dos fatos narrados. Importante é ter consciência
que não poucos elementos foram assimilados de outros povos, como por
exemplo a sabedoria egípcia e ao longo do tempo, elementos da religião persa.
O que difere Israel de todas essas outras nações, mesmo assimilando
componentes estrangeiros, é a progressão teológica que o conhecimento do
Deus da vida dá a todas essas realidades.

NA PRÁTICA

Com base na aproximação geográfica e do conhecimento dos povos que


ocupavam a região onde se desenrolou a história da salvação narrada nos textos

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bíblicos, desenvolva um pequeno texto (uma ou duas páginas) sobre o que essas
informações ensinaram a você.

FINALIZANDO

A revelação de deus aos seres humanos aconteceu num determinado


tempo histórico, numa certa região geográfica, a homens e mulheres reais.
Como essa história aconteceu em situações concretas e reais, ela não
ficou livre da influência cultural, social e religiosa de outros povos que estavam
próximo ao povo de Israel ou que exerceram sobre eles algum domínio, como
os grandes impérios antigos. Essa situação só demonstra mais ainda que o Deus
único que se revelou e elegeu como seu um povo, o fez dentro da nossa
humanidade e não fora dela, de maneira que o encontro com Ele e sua Palavra
misericordiosa e libertadora é acessível a todos os homens e mulheres que se
abrem à revelação.
O saber teológico como fé que pensa e questiona-se, com a finalidade de
aproximar-se de Deus, entende que a Sagrada Escritura, no passado, foi antes
experienciada e só depois escrita; hoje, é leitura que traz experiência para a
prática.
A cada aproximação dos textos, seus autores, sua mensagem... nos
aproximamos do Deus que fez e faz história com seu povo.

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REFERÊNCIAS

ARTUSO, V.; CATENASSI, F. Z. Tolerância e Intolerância no Antigo Testamento.


In: PERONDI, I.; NETO, A. Intolerância e Tolerância religiosa: análise e
perspectivas., organizadores. 1. ed. São Paulo: Edições Fons Sapientiae, 2017.
p. 13-32.

BÍBLIA. Português. Bíblia Católica do Jovem. São Paulo: Editora Ave-Maria,


2012.

BÍBLIA. Português. Bíblia de Jerusalém. São Paulo: Paulus, 2002.

BROWN, R. E.; FITZMYER, J. A.; MURPHY, R. E. Novo comentário Bíblico


São Jerônimo: Novo Testamento e Artigos Sistemáticos. Santo André (SP):
Academia Cristã; São Paulo: Paulus, 2011.

KONINGS. J. A Bíblia nas suas origens e hoje. Petrópolis, RJ: Vozes, 2000.

MANNUCCI, V. Bíblia, palavra de Deus: curso de introdução à Sagrada


Escritura. São Paulo: Ed. Paulinas, 1985.

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