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HISTÓRIA

ANTIGA

Caroline Silveira Bauer


Povos mesopotâmicos:
babilônicos, assírios
e caldeus
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Analisar as características geográficas e ambientais do local onde


viviam os povos mesopotâmicos.
 Relacionar os aspectos políticos marcantes dos povos babilônicos,
assírios e caldeus.
 Descrever elementos culturais e religiosos dos povos mesopotâmicos.

Introdução
Na região entre os rios Tigre e Eufrates, atual território do Iraque, surgiram
as primeiras cidades-estados de que se possui registro. Na história da
Antiguidade, esse é um fato notável, pois demonstra as transformações
culturais, econômicas, políticas e sociais que foram necessárias para que
os agrupamentos humanos que compartilhavam um mesmo território
se tornassem mais numerosos, levando ao desenvolvimento de novas
formas de convívio e coexistência.
Neste capítulo, você vai estudar algumas características ambientais
e geográficas do território onde viviam os povos mesopotâmicos.
Você também vai verificar de que maneira essas características in-
fluenciaram a organização cultural, econômica, política e social dessas
sociedades. Como você vai ver, diferentes povos ocuparam essa re-
gião, mas aqui o foco está nas organizações políticas dos babilônicos,
assírios e caldeus.
2 Povos mesopotâmicos: babilônicos, assírios e caldeus

Origens dos povos mesopotâmicos


Antes de você conhecer as principais características do ambiente e da geogra-
fia do local onde surgiram os povos mesopotâmicos, deve ter em mente que
existe uma relação entre o espaço físico e os elementos culturais, econômicos,
sociais e políticos das sociedades. Contudo, é preciso ter cuidado com expli-
cações deterministas, isto é, que estabelecem que o ambiente ou a geografia
condicionam os povos a serem como são. Aqui, está em jogo a noção de que
o ambiente e a geografia colocam desafios aos grupos humanos, que tomam
decisões para enfrentá-los, modificando a natureza.
A partir de agora, então, você vai conhecer melhor a região que deu
origem aos povos mesopotâmicos (Figura 1). O processo de ocupação da
região entre os rios Tigre e Eufrates, localizada no território dos atuais
países do Iraque, da Síria e da Turquia, começou por volta de 4 mil anos a.C.
A partir da sedentarização de alguns grupos, surgiram aldeamentos que se
dedicavam a atividades agropastoris. A partir do desenvolvimento desses
aldeamentos, formaram-se 12 cidades, que passaram a subordinar as aldeias
menores. A região do Crescente Fértil, assim conhecida pela fertilidade
do solo, devida às cheias sazonais dos rios, foi a primeira a desenvolver o
processo de urbanização.

Figura 1. Mapa da região da Mesopotâmia.


Fonte: Emir Kaan/Shutterstock.com.
Povos mesopotâmicos: babilônicos, assírios e caldeus 3

“Mesopotâmia” é uma palavra que, em grego, significa “terra entre os


rios”. Assim, a Mesopotâmia compreendia, como você já viu, as planícies e
os vales irrigados pelos rios Tigre e Eufrates. É possível dividir a região da
Mesopotâmia em duas áreas, em função de distintos aspectos climáticos: ao
norte, a Alta Mesopotâmia, uma região mais elevada, com maiores dificulda-
des para a irrigação, mas com abundantes recursos florestais; ao sul, a Baixa
Mesopotâmia, uma região de poucas chuvas, mas com grande facilidade de
implementação de irrigação.
Veja o que afirma Cardoso (1986, p. 29–30):

Enquanto o povoamento da Alta Mesopotâmia deu-se desde tempos pré-


-históricos muito antigos, a Baixa Mesopotâmia — potencialmente fértil,
mas pouco adequada à agricultura primitiva de chuva — não parece ter
sido ocupada em caráter permanente antes do V milênio a.C., durante a
fase de Ubaid, talvez entre aproximadamente 5000 e 3500 a.C. — basica-
mente neolítica, ou, mas exatamente, calcolítica, pois objetos de cobre já
aparecem em pequeno número a partir de 4500 a.C. A fase arqueológica
seguinte, a de Uruk (aproximadamente 3500–3100 a.C.), viu os primórdios
da urbanização e da escrita, inovações que se consolidaram no Período
Inicial do Bronze (3100–2100 a.C.), iniciado com a fase de Jemdet–Nasr
(aproximadamente 3100–2900 a.C.), considerada como a época da verda-
deira revolução urbana.

As cheias dos rios Tigre e Eufrates fertilizavam a terra e permitiam as


atividades agrícolas, mas eram violentas e precisavam de controle. Por isso,
diferentes sociedades construíram diques e canais de irrigação, permitindo
o plantio, protegendo as plantações e propiciando o armazenamento de água
para as estações mais secas.
Quais povos ocupavam essas regiões? Cardoso (1986, p. 31–32) traz mais
informações sobre os grupos étnico-linguísticos da Baixa Mesopotâmia:

Do ponto de vista etnolinguístico, o povoamento da Baixa Mesopotâmia,


no período histórico, esteve marcado por dois grupos iniciais: os sumérios,
que se julgava terem migrado por mar para a região, mas arqueologica-
mente se vinculavam ao sudoeste do Irã (o Elam, ou Susiana), e falavam
uma língua aglutinante; e os acádios, que falavam uma língua de flexão
do grupo semita, e provavelmente vieram do oeste. O elemento sumério
predominava ao sul (país de Sumer, ou Suméria) da Baixa Mesopotâmia,
e o acádio ao norte (país de Akkad, ou Acádia). A verdade, porém, é que,
quando começamos a ter mais informações, em meados do III milênio a.C.,
esses grupos estavam já bastante mesclados. No milênio seguinte, a fusão
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se completou; predominaram, desde então, as línguas semitas: o acadiano,


o babilônio dele derivado e, por fim, o aramaico. Com o tempo, o mapa
etnolinguístico se complicou devido a sucessivas migrações — que às vezes
desembocavam em invasões violentas — de nômades semitas vindos do
oeste através do deserto da Síria (amorreus, ou amoritas, arameus, caldeus)
e de montanheses do leste (gútios, elamitas, cassitas; estes últimos, prova-
velmente dirigidos por um reduzido grupo de língua indo-europeia) ou do
norte (os assírios, que representavam um velho povo da Alta Mesopotâmia,
posteriormente semitizado).

Tais condições geográficas levaram essas civilizações a desenvolverem


sistemas de diques e de irrigação. Ao mesmo tempo, fizeram com que a
organização do cultivo e da prática agrícola fosse coletiva, já que:

[...] as obras de proteção e de irrigação exigiam [...] um esforço coletivo; e o


seu uso devia ser regulamentado e disciplinado pela lei. A dependência para
com os diques e instalações de irrigação era tão grande que há casos histo-
ricamente comprovados de reversão à vida nômade, devido à sua destruição
local (CARDOSO, 1986, p. 33).

As sociedades mesopotâmicas
Como você viu, os povos mesopotâmicos eram agricultores e dependiam
de um sistema de diques e irrigação para organizar o plantio. Esses povos,
que iniciaram a ocupação do território em pequenos aldeamentos, deram
origem a diversas cidades-estados. Nessa forma de organização política,
desenvolveram aparatos burocráticos e militares e, para tanto, utilizaram
a escrita e a matemática. Nessas sociedades, os reis exerciam os poderes
econômico, político e religioso, e as esferas política e religiosa estavam
intimamente relacionadas — não havia uma separação formal entre ambas,
porque essas sociedades acreditavam que a religião estava em toda parte
(CARDOSO, 1986).
Assim, as cidades-estados eram gerenciadas por uma monarquia de caráter
divino, em que o soberano se relacionava diretamente com os deuses. O rei
governava auxiliado por uma estrutura burocrática e militar.
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Na Mesopotâmia, as mulheres não constituem uma classe homogênea. A sua situação


depende das épocas, dos lugares, dos estatutos jurídicos e sociais, etc. Em alguns casos,
as mulheres se tornam mais autônomas quando os homens estão ausentes. É o caso
de filhas que herdam bens imobiliários, de esposas cujos maridos viajam muito e de
viúvas. Por outro lado, pouco se sabe a respeito das mulheres “comuns”, que vivem
com marido e filhos. Contudo, elas parecem ter certa influência: podem partilhar com
seus maridos a autoridade parental e, nas sucessões, beneficiam-se de uma proteção
particular. Apesar desses dados, você deve considerar que a documentação relativa às
mulheres não foi explorada por inteiro. Ainda é possível analisar diversos indícios do
passado, por exemplo, os ofícios femininos; ao que parece, as mulheres mesopotâmicas
foram parteiras, amas de leite, taberneiras e até escribas (LION; MICHEL, 2005).

De acordo com Pozzer (2010), uma série de transformações levou à forma-


ção das cidades-estados e ao desenvolvimento dos impérios mesopotâmicos:

O sul mesopotâmico foi palco de inúmeras disputas militares entre os vários


centros urbanos pela hegemonia política de territórios vizinhos por volta de
2800 a.C. O resultado dessas guerras transformou o desenvolvimento dessas
cidades: as revoltas no interior do país levaram a uma migração significativa
do campo para a cidade, fazendo com que a maioria da população se tornasse
urbana; maciças fortificações foram construídas para garantir a segurança
destas cidades, definindo assim a diferença entre o espaço urbano e o rural
e restringindo o acesso às cidades através dos portões das muralhas. As
necessidades de guerra exigiram um maior desenvolvimento da autoridade
política e militar, induzindo a criação da segunda principal instituição urbana: o
palácio. As cidades mesopotâmicas passaram, então, a contar com dois centros
de poder: um político e militar — o palácio —, e outro econômico e religioso
— o templo —, um espaço profano, outro sagrado (POZZER, 2010, p. 14–15).

Diferentes sociedades ocuparam o território da Mesopotâmia. A seguir,


você vai conhecer melhor os babilônicos, os assírios e os caldeus.

Os babilônicos
Por volta de 2000 a.C., um grupo nômade de amoritas estabeleceu-se em uma
cidade chamada Babila (ou Babel), às margens do rio Eufrates. Seu líder,
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Sumuabum, iniciou uma disputa pela hegemonia com as cidades vizinhas,


empreendendo uma expansão de seus domínios pela região. O sucessor de
Sumuabum, Sumula’el, consolidou o poder do grupo na região e deu início a
uma dinastia que perdurou por cerca de 300 anos. Entretanto, o líder babilônico
mais conhecido foi Hamurabi, que chegou ao poder em 1792 a.C. (ROUX, 1987).
Hamurabi estabeleceu alianças entre cidades-estados e conquistou ter-
ritórios. Ele possuía habilidades administrativas, mas também um exército
muito poderoso. Realizou obras hidráulicas para melhorar a irrigação das
plantações e facilitar a navegação. Contudo, Hamurabi costuma ser recordado
pela implementação de um sistema legal que ficou conhecido como “Código
de Hamurabi”.

Por meio do Código de Hamurabi, o legislador babilônico consolidou a tradição


jurídica, harmonizou os costumes e estendeu o direito e a lei a todos os súditos. O
Código estabelece regras de vida e de propriedade, apresentando leis específicas
sobre situações concretas e pontuais. Ao todo, ele reúne 281 preceitos baseados na
lei de talião, “olho por olho, dente por dente”.
O Código de Hamurabi foi encontrado sob as ruínas da acrópole de Susa por uma
delegação francesa na Pérsia, sendo depois transportado para o Museu do Louvre, em
Paris. Ele foi talhado em dura pedra negra e cilíndrica de diorito (ESTANTE..., [201-?]).

O sistema administrativo dos babilônicos era centralizado. Eles geriam


a economia por meio da posse de terras, da cobrança de impostos e taxas e
do controle de determinados preços. Não existem muitas informações sobre
a dissolução do Império Babilônico. Sabe-se que, por volta de 1700 a.C.,
iniciou-se uma série de movimentos migratórios na Mesopotâmia; alguns dos
povos que chegaram à região poderiam ter causado uma desestabilização da
correlação de forças locais.

Os assírios
Os assírios constituíam um povo que se estabeleceu na Alta Mesopotâmia,
na região leste, e posteriormente expandiu seus domínios, chegando ao ápice
no governo de Sargão II (722–705 a.C.). Em função de sua localização, cobi-
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çada por muitas sociedades, os assírios desenvolveram uma forte inclinação


para a guerra, estruturando um exército permanente. Isso lhes possibilitou
uma série de conquistas militares sob os reinados de Sargão II, Senaquerib
e Assurbanípal.
Os registros existentes atestam que a violência era uma marca das cam-
panhas militares assírias, cercadas de destruições, escravizações, mortes
e torturas. Durante o reinado de Assurbanípal, foi construída a Biblioteca
de Nínive, que abrigou uma quantidade muito grande de tabletes de argila,
fundamentais para que se conhecesse a história da Mesopotâmia.
Aproximadamente em 612 a.C., os caldeus, juntamente com os persas,
destruíram as principais cidades assírias, inclusive sua capital, Nínive. Eles
impuseram o fim do Império Assírio, fato comemorado pelos povos que
sofreram com a sua dominação.

Os caldeus
Com o término do Império Assírio, a cidade da Babilônia recuperou o seu
prestígio, agora ocupada pelos caldeus. Ela deu origem ao chamado Império
Caldeu ou Império Neobabilônico, sob o comando de Nabopolossar.
Veja o que afirma Pozzer (2010, p. 16):

Sob a dinastia neobabilônica (625-539 a.C.), a cidade tornou-se a capital do


mundo oriental e recebeu enormes riquezas arrecadadas com os tributos pagos
pelos reinos conquistados, possibilitando a construção de obras monumentais
como a muralha, os palácios e os templos, que tanto encantaram os viajantes
antigos. Sob Nabucodonosor II (604–562 a.C.), Babilônia tinha cerca de
mil hectares de extensão e sua muralha, com oito portas, possuía 18 km de
comprimento e 30 m de largura.

Seus principais inimigos eram os egípcios, com quem os caldeus travaram


batalhas para a manutenção do território do Império. A derrota definitiva dos
egípcios ocorreu durante o reinado de Nabucodonosor, período do apogeu da
sociedade caldeia. Iniciou-se uma expansão em direção a Jerusalém, que foi
conquistada e destruída pelos caldeus. Durante o reinado de Nabucodonosor,
foram construídas inúmeras obras públicas, como templos e palácios, além
dos mitológicos jardins.
Em 539 a.C., a Babilônia foi conquistada pelos exércitos dos persas. A
vitória foi facilitada pelo apoio dos sacerdotes e comerciantes babilônicos,
que se aliaram aos invasores em troca da manutenção de seus privilégios.
8 Povos mesopotâmicos: babilônicos, assírios e caldeus

Cultura e religiosidade na Mesopotâmia


Os aspectos culturais e religiosos dos povos mesopotâmicos evidenciam as
relações de poder internas e externas existentes naquelas sociedades. Se você
interpretar a cultura como uma manifestação dessas relações, pode compre-
ender, por exemplo, a descoberta da escrita: por meio dessa forma de registro,
foi possível organizar a produção agrícola e pastoril, gerenciar o Estado a
partir da cobrança de impostos, instituir as bases do direito e expressar uma
visão de mundo.
Cardoso (1986) destaca a indissociabilidade entre a cultura e a religião
para os povos mesopotâmicos. Para o autor, uma das características comuns
àqueles povos:

[...] é o caráter fortemente monárquico da cultura mais intelectualizada da


época. Tal cultura erudita dos grupos dominantes é a única que, devido à
documentação disponível — em sociedades nas quais aprender a ler e escrever
era privilégio reservado a poucos —, podemos conhecer melhor, embora
sejam perceptíveis certos impactos da cultura popular sobre a oficial, em
especial em matéria de religião. [...] Os templos eram partes integrantes do
Estado. O rei, por suas atribuições e por concentrar os recursos necessários,
era construtor por excelência de santuários e outros edifícios importantes, o
patrono maior do artesanato e das artes — domínios, aliás, indistinguíveis,
não havendo, então, a noção de que um artista fosse algo distinto de um
artesão [...] As épocas de forte centralização monárquica foram, também,
as de florescimento artístico, e a cultura em suas diversas manifestações
fala-nos mais dos deuses e dos reis do que de qualquer outra coisa (CAR-
DOSO, 1986, p. 57).

Os vestígios arqueológicos e a cultura material, tais como palácios, templos,


esculturas, cidades ou tabletes de argila, têm possibilitado que arqueólogos e
historiadores conheçam mais sobre a cultura mesopotâmica. A arquitetura, a
escultura e a pintura mural possuíam uma importância bastante grande nessas
sociedades, pois estavam vinculadas a ritos ou comemorações de eventos
significativos.
Como você já sabe, é impossível, na Antiga Mesopotâmia, considerar a
religião um elemento afastado das demais esferas da sociedade, como a política.
A religião estava presente em todos os âmbitos, inclusive como explicação
para a origem e o funcionamento das coisas e dos fenômenos naturais.
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Considere o que afirma Rede (2006, p. 167):

Assim como a astronomia, a medicina e demais formas de conhecimento,


a cultura jurídica mesopotâmica jamais foi completamente autônoma em
relação ao universo do sobrenatural. Suas representações e práticas sempre
estiveram marcadas por uma íntima conexão com as concepções sobre o sa-
grado e as práticas rituais e mágicas: uma vez que as leis eram consideradas
o instrumento dos deuses para assegurar a convivência ordenada no plano
social, a esfera jurídica consistia dos mesmos preceitos e procedimentos que
caracterizavam todas as demais formas de contato com o universo do divino
e que propiciavam a correta manifestação da vontade dos deuses acerca dos
conflitos entre os homens.

De maneira geral, os povos da Mesopotâmia eram politeístas, ou seja,


acreditavam na existência de vários deuses. Esses deuses relacionavam-se
diretamente com os humanos, beneficiando-os ou punindo-os de acordo
com seu comportamento. Eram deuses que representavam os elementos da
natureza, mas tinham forma antropomorfa, sendo apresentados como figuras
femininas ou masculinas, em tamanhos gigantes, para representar seu poder
superior ao dos humanos.
Cada cidade-estado poderia possuir seu próprio panteão, mas alguns deu-
ses eram considerados os “deuses principais”: An ou Anu (deus do céu e pai
dos deuses), Enlil (deus do ar, guerreiro e legislador) e Enki (deus da água).
Nesse sentido:

Os mitos sublinham a origem divina das cidades e, ao mesmo tempo, re-


latam que suas realizações foram obras dos reis e seus súditos, onde cada
divindade do panteão possuía sua residência principal, sua cidade predileta.
[...] O universo mesopotâmico é um mundo onde tudo é sagrado (POZZER,
2010, p. 16–17).

Considere ainda o seguinte:

As divindades possuíam nomes, funções, estado civil, atributos específicos


e estavam vinculadas a uma cidade onde exerciam seu poder e proteção. No
mundo mesopotâmico existiram tantos panteões quantas mitologias e cidades.
As divindades estavam organizadas em uma sociedade hierarquizada, onde
cada uma tinha seu campo de atuação, suas competências, seus privilégios,
seus saberes e poderes (POZZER, 2010, p. 18).
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Na religião mesopotâmica, os templos ou zigurates (Figura 2) possuíam


muita importância. Essas pirâmides de degraus, ou escalonadas, foram cons-
truídas pelos sumérios, babilônicos e assírios como casas para os deuses. De
acordo com Pozzer (2010, p. 14), “[...] os templos foram responsáveis pelo
desenvolvimento de vários aspectos da sociedade, como a escrita, o Estado,
o sistema jurídico, a arte e a arquitetura, entre outros”.

Figura 2. Zigurate da cidade de Ur.


Fonte: Homo Cosmicos/Shutterstock.com.

Além de morada dos deuses, os zigurates abrigavam atividades econômicas,


vinculadas à agricultura e a pequenas oficinas. Eram espaços onde ocorria,
também, a observação dos céus: os mesopotâmios realizavam cálculos e
formulavam teorias sobre o movimento das estrelas e dos planetas, desen-
volvendo princípios astronômicos e de astrologia. A partir da observação dos
céus, elaboraram o calendário anual de 12 meses e a semana de sete dias. Para
além da astronomia e da astrologia, os mesopotâmios também se destacaram
por princípios da matemática, como a álgebra.
Povos mesopotâmicos: babilônicos, assírios e caldeus 11

CARDOSO, C. F. Sociedades do antigo oriente próximo. São Paulo: Ática, 1986.


ESTANTE virtual: o código Hamurabi. [S. l.: s. n., 201-?]. Disponível em: http://www.nepp-
-dh.ufrj.br/anterior_sociedade_nacoes10.html. Acesso em: 1 ago. 2019.
LION, B.; MICHEL, C. As mulheres em sua família: mesopotâmia, 2º milênio a.C. Tempo,
v. 10, n. 19, dez. 2005. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1413-
-77042005000200010&script=sci_abstract&tlng=pt. Acesso em: 1 ago. 2019.
POZZER, K. M. P. Babel e a representação do sagrado na cidade antiga. In: CORNELLI,
G. (org.). Representações da cidade antiga: categorias históricas e discursos filosóficos.
Coimbra: Universidade de Coimbra, 2010.
REDE, M. Aspectos simbólicos da cultura jurídica na antiga Mesopotâmia. Locus, v. 12, n.
2, 2006. Disponível em: https://periodicos.ufjf.br/index.php/locus/article/view/20649.
Acesso em: 1 ago. 2019.
ROUX, G. Mesopotâmia: historia política, económica y cultural. Madri: Akal, 1987.

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