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CENTRO UNIVERSITÁRIO ÍTALO-BRASILEIRO

Curso de Licenciatura em História

Disciplina: Teoria da História e Historiografia

Unidade 1) Que é História? História e memória. História não é


ciência exata.

Prof. Dr. Armando Alexandre dos Santos

Tópico C - A História não pode ser entendida como uma ciência exata

Se a memória humana é tão variável, e se a História, em última análise, se baseia na


memória humana, forçoso é concluir que a História não é, nem poderia ser, uma ciência exata.
O próprio das ciências exatas é independerem de fatores humanos variáveis. São ciências exatas
a Matemática, a Física e a Química, ou as que de certa forma derivam dessas três ou utilizam
elementos delas, tais como a Astronomia, a Engenharia, a Ciência da Computação, a Geologia,
a Meteorologia, a Oceanografia etc.

Atualmente, tudo isso é sem dúvida muito claro. Mas já houve no passado quem
pretendesse fazer da História uma ciência exata e acreditasse seriamente que tal coisa era
realizável. Veremos isso mais adiante, ainda nesta disciplina, quando estudarmos a
historiografia do século XIX. Também há historiadores pós-modernos que de tal forma
descreem das possibilidades de a História atingir a verdade objetiva, que praticamente reduzem
a História a um mero discurso descompromissado e em promíscua confusão com o campo da
literatura ficcional...

Nem tanto ao mar, nem tanto à terra! Nem oito, nem oitenta!

Como historiadores, devemos procurar, com seriedade, fazer uma análise conscienciosa
das fontes e dos documentos disponíveis, tentando, em toda a medida do possível, nada dizer
que saibamos não ser verdade e nada omitir que nos pareça ser verdade. Nossa meta, pois, será
observar sempre o conselho do jurista e orador romano Marco Túlio Cícero (106-43 a.C.) acerca
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da História, conselho esse que o Papa Leão XIII lembrou aos historiadores de todas as crenças
quando, no início de seu pontificado, lhes abriu os arquivos do Vaticano:

Quis nescit primam esse historiae legem ne quid falsi dicere audeat, deinde ne
quid veri non audeat? ne quae suspicio gratiae sit in scribendo? ne quae
simultatis? (De orator. II, 15)
Quem pode ignorar que a primeira lei da História é nada ousar dizer que seja
falso, e, em seguida, nada deixar de dizer que seja verdade, de tal modo que não
haja parcialidade favorável ou maliciosa no que se escreve?

Para se atingir essa meta, é indispensável que a História seja livremente estudada, mas
com critérios acadêmicos rigorosos, de modo frio e isento, sem paixões e sem condicionamentos
preconcebidos. Bem sabemos que a plena imparcialidade não é atingível por nós, seres
humanos, mas devemos sincera e conscienciosamente nos empenhar para atingi-la, de acordo
com a frase imortal do literato espanhol Miguel de Cervantes (1547-1616):

(...) debiendo ser los historiadores puntuales, verdaderos y nonada apasionados, y


que ni el interés ni el miedo, el rancor ni la afición no les hagan torcer del
camino de la verdad, cuya madre es la Historia, émula del tiempo, depósito de
las acciones, testigo de lo pasado, ejemplo y aviso de lo presente, advertencia de
lo por venir (...).

(...) devendo os historiadores ser objetivos, verídicos e pouco apaixonados, de


modo que nem o interesse, nem o temor, o rancor ou a afeição lhes façam torcer
o caminho da verdade, cuja mãe é a História, êmula do tempo, depositária dos
feitos, testemunha do passado, exemplo e aviso do presente, advertência do
futuro) – Miguel de Cervantes Saavedra, Dom Quixote.

Dica do professor:

Repasse os três tópicos desta primeira unidade. Procure reter no seu espírito os pontos
principais desses tópicos. Ame-os profundamente... para não esquecê-los. São conhecimentos
que deverão acompanhar você no seu dia-a-dia, em toda a sua carreira, tanto nos estudos
universitários como mais tarde, na sua atividade profissional, como historiadores ou professores
de História.

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