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AMÉRICA: ORIGEM
E COLONIZAÇÃO
Descrever a Mesoamérica.
Discutir as hipóteses sobre o povoamento e a demografia das
Américas.
Identificar aspectos geográficos e os povos que habitavam a América
do Norte.
Introdução
Existem diferentes teorias sobre o povoamento do continente americano.
Autores divergem quanto à origem, se exclusivamente ou não pelo Estreito
de Bering; quanto às datas, abrangendo um período entre 12 a 30 mil
anos atrás; e quanto ao número de ondas migratórias que se sucederam.
São muitas perguntas sem respostas, e que talvez jamais sejam respon-
didas, em função dos achados arqueológicos esparsos e das limitações
tecnológicas do presente. Contudo, as interpretações interdisciplinares
permitem que já saibamos muitos detalhes sobre a origem e sobre o
povoamento da América.
Neste capítulo, você estudará a região da Mesoamérica, local em
que inúmeras sociedades se desenvolveram durante o período pré-
-colombiano da história da América. Além disso, examinará as principais
teorias sobre a origem e o povoamento do continente americano. Por fim,
conhecerá alguns aspectos das populações que ocupavam o território
da América do Norte.
2 A origem dos povos da América
1 A Mesoamérica
Em sua definição estritamente geográfica, a Mesoamérica é uma região de-
limitada ao norte pelo rio Sinaloa e pelas bacias de Lerma e de Soto de la
Marina, no México, e delimitada ao sul pelo rio Ulúa, em Honduras, pelos
grandes lagos de Xolotlán e Cocibolca, na Nicarágua e pela Península de
Nicoya, na Costa Rica (Figura 1) (CABEZAS CARCACHE, 2005). Porém,
em sentido mais amplo, a Mesoamérica é uma área cultural que abrigou povos
que compartilhavam muitas características entre si.
Os povos que habitavam a América antes da chegada dos europeus tinham inúmeras
denominações para o território que posteriormente viria a ser chamado de América,
como Tawantinsuyu, nos Andes, Anáhuac, no México, e Pindorama, no Brasil. Atual-
mente, movimentos indígenas e outros movimentos sociais vêm reivindicando o uso
do termo “Abya Yala”, proveniente da língua e da nação Kuna, que vive no litoral do
Panamá, que significa “vida” ou “terra madura”, para designar o território americano,
em uma perspectiva descolonial (LISBOA, 2014, p. 516).
A comunidade científica e a ciência não são neutras. Os debates sobre a origem dos
povos ameríndios e o povoamento das Américas nos permitem compreender algumas
dinâmicas da comunidade científica e da ciência. As primeiras teorias sobre esse tema,
surgidas no século XX, foram formuladas a partir de achados arqueológicos em sítios
localizados nos Estados Unidos. A partir de então, firmou-se nesse país uma tradição
de rechaço às teorias que propusessem outras datações que não aproximadamente
11 mil anos atrás, com outros referentes, principalmente de outros locais na América.
Pesquisadores com conclusões alternativas a esses achados iniciais muitas vezes não
encontram reconhecimento na comunidade científica, nem conseguem publicar seus
resultados em revistas de impacto internacional. Esse é o caso, por exemplo, de algumas
descobertas feitas no Brasil, que, a partir de estudos que procuraram estabelecer sua
datação, encontraram culturas anteriores aos achados norte-americanos (PROUS, 1997).
A origem dos povos da América 7
A teoria asiática
Essa teoria defende que os primeiros habitantes do continente americano são
de origem mongoloide, e entraram na América através do Estreito de Bering,
no Pleistoceno, durante os períodos glaciais, quando os níveis dos oceanos
baixaram 100 metros, formando a chamada Ponte Terrestre de Bering, ou
Beríngia (PROUS, 1997).
De acordo com Meggers (1979, p. 24):
A mais antiga ponte terrestre existiu entre cerca de 50.000 e 40.000 anos [...]
e foi usada por várias espécies de mamíferos do Velho Mundo, incluindo o
caribu e o mamute peludo, para invadir as Américas. Após um intervalo de
submergência que durou uns 12.000 anos, a ponte reapareceu entre cerca de
28.000 e 10.000 anos atrás. [...] No decorrer de alguns milênios, antes que os
segmentos de Leste e Oeste se fundissem e um corredor se abrisse novamente,
a ponte terrestre foi transitável. Aproximadamente há 10.000 anos [...], o nível
do mar elevou-se suficientemente para cobrir o Estreito de Bering e desde
essa época o Novo Mundo tem sido atingido somente por água.
Outras teorias
As demais teorias para a origem e o povoamento do território americano levam
em consideração a migração oceânica. Trata-se de teorias de difícil investigação,
em função da limitação dos achados arqueológicos. Porém, segundo especialistas,
há fortes indícios de migrações transpacíficas mais tardias em nosso continente,
principalmente pelos achados parasitológicos. Foi encontrada nos intestinos de
uma múmia peruana e de corpos mumificados em Minas Gerais e no Piauí uma
parasitose que, em função de suas condições de sobrevivência, não poderia ter
sido introduzida no continente americano através do Estreito de Bering (SILVA;
RODRIGUES-CARVALHO, 2006). Além dos achados parasitológicos, pesquisa-
dores encontraram similitudes entre os crânios de antigos habitantes do Equador,
de Lagoa Santa, no Brasil, e da Polinésia. Contudo, os trabalhos arqueológicos
na região da Polinésia estimam que a ocupação daquela região não ocorreu antes
de 3 mil anos atrás, o que não é um empecilho para suas viagens até a América,
apenas torna essas possíveis ondas migratórias mais recentes (DA-GLORIA, 2019).
Nesse sentido, não se trata apenas de acrescentar novas rotas migratórias à
história da ocupação da América, mas pensar novos grupos como componentes
dos povos ameríndios:
Entre os inuits, havia uma divisão de gênero nas atividades a serem de-
sempenhadas, sendo as mulheres responsáveis pela elaboração de artefatos e
ferramentas de marfim ou ossos, como agulhas, facas, raspadores de peles,
etc. Além disso, os habitantes do Ártico usavam artefatos de pedras lascadas,
como pontas, lâminas e panelas. As vestimentas eram elaboradas com couros
e peles de animais caçados (KAVIN, 2006).
Com variações regionais, os povos do Ártico acreditavam que todas as
coisas, animadas ou inanimadas, possuíam alma ou espírito, que eram bastante
respeitados, a partir de uma moral e de um conjunto de regras compartilha-
das. O respeito às almas ou aos espíritos era necessário para a manutenção
do bem-estar geral, em uma noção de equilíbrio. Por isso, também usavam
amuletos e rituais de magia, existindo a figura de um xamã, que estava em
contato com esse mundo espiritual (KAVIN, 2006).
Os inuits possuem uma mitologia com diferentes relatos sobre a origem do mundo.
Vejamos um exemplo, registrado a partir do relato de uma xamã de nome Iqallijuq,
De acordo com esse relato:
AUSTIN, A. L.; MILLONES, L. Dioses del norte, dioses del sur: religiones y cosmovisión en
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Leituras recomendadas
BUENO, L. Arqueologia do povoamento inicial da América ou História Antiga da Amé-
rica: quão antigo pode ser um ‘Novo Mundo’? Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi.
Ciências Humanas, Belém, v. 14, n. 2, p. 477–495, maio/ago. 2019.
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