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AMÉRICA:
ORIGEM E
COLONIZAÇÃO
Introdução
Quando os conquistadores espanhóis chegaram ao atual Peru em 1532,
os incas dominavam um território que se estendia dos Andes à planície
costeira, cuja fronteira, ao norte, encontrava-se na Colômbia e, ao sul,
na Argentina e no Chile. Sua influência ultrapassava essa delimitação
territorial, chegando ao Panamá e até mesmo ao Brasil. Contudo, os incas
não foram os únicos a ocuparem a região andina, que é marcada por uma
longa história de ocupações ao longo do tempo. Há discrepâncias em
relação às datas do aparecimento dos incas na região do vale de Cuzco,
mas se sabe que são bem mais recentes em relação a outros povos.
Neste capítulo, você conhecerá a geografia da região dos Andes e os
povos que habitavam esse território no período pré-incaico. Estudará as
formas de organização econômica e política dos incas e seu expansio-
nismo na região. Por fim, analisará componentes culturais e religiosos do
povo incaico e o sincretismo estabelecido com cultos de outros povos
dos Andes.
2 Sociedades andinas
1 Os Andes
Em comparação com os estudos de outros povos pré-colombianos, a histo-
riografia das sociedades andinas apresenta algumas dificuldades. Como os
povos andinos eram ágrafos, conhecemos detalhes sobre seus componentes
culturais, econômicos, políticos e religiosos somente por meio da cultura
material e dos relatos dos conquistadores europeus. Com as devidas ressalvas
aos componentes etnocêntricos das narrativas europeias, aliadas aos estudos
arqueológicos da cultura material, é possível compreender como essas socie-
dades se organizavam em um ambiente tão particular como os Andes.
A região chamada de “Andes” corresponde não somente às terras da Cordilheira
dos Andes, mas a um espaço que congrega a costa do Oceano Pacífico, as serras
e as matas. Em função dessa variedade geográfica, o clima também é bastante
diversificado, influenciando na disponibilidade de recursos e na produção.
Em relação às populações que ocupavam esse vasto território, ainda que os
incas e seus domínios autodenominados Tawantinsuyu sejam o povo e a unidade
política mais lembrados, nas últimas décadas os arqueólogos e os historiadores
têm realizado estudos que permitem distinguir diferentes formações políticas
de multiplicidade étnica nos Andes quando havia uma autoridade central tanto
para as terras altas quanto para a costa, além de períodos intermediários de
fragmentação e separação étnica (BETHELL, 1990). De acordo com Favre
(2004, p. 7), “[...] os arqueólogos pouco a povo nos revelam toda a complexidade
deste passado andino, na alternância de suas grandes épocas de unidade com
períodos não menos brilhantes de diversificação regional”.
Acredita-se que a ocupação dos Andes tenha se iniciado por volta de 14
mil anos atrás, por grupos de caçadores-coletores que se movimentavam entre
as montanhas e o litoral de acordo com a época do ano e a disponibilidade de
recursos (FAVRE, 2004). Posteriormente, com o desenvolvimento da agricultura,
houve profundas transformações nesses grupos, e os povoados multiplicaram-
-se e aumentaram suas dimensões, algumas alcançando mil habitantes, em
espaços urbanos “[...] compostos de centros cerimoniais, dominados por uma
elite sacerdotal e formados por terraços, pirâmides e templos” (FAVRE, 2004,
p. 9). Nesse processo, surgiu um povo cujo templo se localizava em Chavín, a
3.135 metros de altitude, que é considerado por diversos pesquisadores como
matriz das sociedades andinas, tendo influenciado outros assentamentos nas
montanhas, bem como a cultura dos povos costeiros (BETHELL, 1990). “Apesar
da distância dos obstáculos do relevo que as isolavam, as novas sociedades
agrárias adquiriram, sob a direção dos sacerdotes de Chavín, uma unidade pelo
menos ideológica que conservaram durante muitos séculos” (FAVRE, 2004, p. 9).
Sociedades andinas 3
A waka residia em uma montanha próxima, onde era cultuada em local assi-
nalado por uma árvore, uma fonte ou um rochedo, para que fizesse crescer o
gado e garantisse a colheita. Os mortos eram sepultados nas fendas rochosas
dessa montanha sagrada, no interior da qual se reuniriam ao ancestral divi-
nizado (FAVRE, 2004, p. 31).
Cada ayllu deveria cultivar as terras que o kuraka detinha em seu território em
virtude dos direitos que lhe haviam sido concedidos. Nessas terras de extensão
variável, a limpeza, a semeadura e a colheita eram feitas antes das dos lotes
individuais pela coletividade de homens adultos que se mobilizava durante
o ano na época de tais operações. Por outro lado, cada ayllu deveria colocar
à disposição permanente do kuraka um certo contingente de trabalhadores,
que este utilizava para assegurar a guarda de seu rebanho, fiar e tecer a lã
de seus animais e realizar todas as tarefas referentes ao atendimento de seu
grupo doméstico. Esses trabalhadores revezavam-se nos trabalhos que lhes
eram designados, de forma a prestar ao kuraca um serviço contínuo. Todos
os homens adultos do ayllu eram obrigados rotativamente a esse serviço,
conhecido como mita, que lhes cabia a intervalos regulares e cuja duração
oscilava frequentemente de três meses a um ano.
são provenientes dos relatos dos colonizadores, que podem ser criticados e,
desta forma, referendados ou refutados a partir da cultura material incaica.
De acordo com Favre (2004), aqueles que mantinham a tradição e di-
fundiam os relatos lendários e mitológicos eram chamados de amawata. O
imperador estava cercado de diferentes amawatas e outros profissionais das
artes, como feiticeiros, músicos e poetas, para celebrar sua grandeza e, dessa
forma, conservar sua memória para as gerações futuras.
Mesmo que os incas não tenham nos legado registros de seus saberes, a
partir de sua cultura material e do registro feito pelos colonizadores sabemos
que eles possuíam conhecimentos astronômicos e matemáticos, que foram
utilizados em diferentes momentos, como na determinação de seu calendário,
que se iniciava no solstício de verão. Cada um dos meses era marcado por
rituais que ocorriam em Cuzco e por outras atividades econômicas que eram
desenvolvidas nas províncias (FAVRE, 2004).
Os incas também se destacavam pela arquitetura e pelo urbanismo, cujas
ruínas atualmente podem ser observadas em diversas cidades do Peru, com
construções em pedra, características das regiões altas, ou de tijolos de terra
seca ao Sol, típicas da área litorânea. As construções em pedra chamam a
atenção pela perfeição do encaixe das pesadas peças. A partir desses métodos,
construíram casas, fortalezas, palácios e templos, além de outras obras de
infraestrutura, como aquedutos, canais de irrigação, estradas e pontes (FAVRE,
2004). Os incas também eram exímios ceramistas e tecelões. Em relação ao
têxtil, eram fabricados diversos tipos de tecelagens, utilizadas para roupas do
dia a dia ou em trajes cerimoniais.
A religião incaica pode ser caracterizada como politeísta, tendo se formado
a partir de um sincretismo entre as crenças quíchuas e outras crenças pré-
-incaicas que foram assimiladas por esses povos. Portanto, podemos dizer que
é uma religião henoteísta, que cultua apenas um deus (o sol), mas não nega a
existência de outras divindades, como a Deusa-Mãe de cultos pré-incaicos.
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Leituras recomendadas
FERNANDES, R. L. O império Inca e a economia da América pré-colombiana. 2010. 71 f.
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de Ciências Econômicas, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre,
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Disponível em: http://www.repositorio.ufc.br/bitstream/riufc/14821/1/2007_art_amu-
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VAINFAS, R. (org.) América em tempo de conquista. Rio de Janeiro: Zahar, 1992.
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