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JUSTIÇA SOB O SOL

Desde o antigo Egito até os Andes, é muito importante, o astro-rei tem


importância fundamental no processo da vida. Além de fornecer toda a energia
canalizada, o Sol ilumina as plantas que consumimos e assim, nos alimenta
também e com o seu calor, sua energia faz com que haja chuva sobre a Terra.

— O rei voltou, o rei voltou! Veio reinar de novo, como Atma e Atom,
como Hélio e Desaron, Aram, Redencion, o grande onipotente voltou. Um
sonho ancestral acordava o líder xinguano Megaron.

Aquela música soava nos ouvidos do xamã, que dormia em sua terra
disputada, em que era mendigo num reino em perigo.

— Vou contar essa profecia no Conselho dos Sábios ainda esta noite -
disse preocupado o grande guerreiro.

Ali, do outro lado do rio, o círculo dourado, a ameaça vinha de tudo


quanto era vivente. De posse de arcos concêntricos, os brancos destruíam seu
cemitério sagrado, o rio Mirassolzinho, destino dos restos mortais dos seus
heróis, após cremação e depósito em cestas.

— O homem branco ocupou a margem do grande rio, nossos ancestrais


clamam por uma batalha. São poucos e mal alimentados, são amarelos,
parecendo despreparados. Sua arma redonda e engraçada não mata de longe
nossos jovens amados.

A exposição de Pearon Cisco, um dos destacados guerreiros da nação


Kamayurá, a respeito de peneiras e bateias, era convincente até aos anciãos
do Povo do Xingu.

— Tudo que se alumia recebe do sol sua vida, sua água e sua comida,
menos irmãs e irmãos do astro líder. A Terra se perpetua a partir da luz solar,
incluindo a movimentação da água no sentido do céu, os rios suspensos que
correm para o Sul.

A grande eloquência do sábio Mayaram Tura atingiu a todos que o


ouviam no Conselho.
— Somos filho do Sol, brancos também, portanto estamos cobertos pela
mesma luz e pelas mesmas sombras - explicou o mais velho do povo - por
isso, enquanto estiverem no território da margem de lá, vamos apenas
observar!

A decisão colegiada dos mais velhos do povo, criada por Dureé, deus da
Floresta, tem por objetivo a Justiça em tempos difíceis, mas há um tempo para
tudo naquela Nação, os jovens guerreiros do povo podem decidir num ímpeto e
se retratarem depois no Conselho dos Sábios.

— Se os jovens guerreiros, em seu Conselho, agirem contra homem


branco na margem, o castigo deverá ser a coluna do peixe pirarara no dorso,
pois este Conselho foi unânime.

A punição com a coluna do peixe no dorso do rebelde, consiste na


retaliação sob os braços e antebraços para sair sangue ruim, formando sinais
permanentes em xadrez com os ossos da costela. São cortes profundos e
dilacerantes, de modo a não permitir por meses dormir com os braços soltos ao
longo do corpo.

É a Justiça terapêutica indígena, sempre completa com horríveis


pesadelos e pisadeiras, pois os braços e mãos só podem repousar sobre a
cabeça, nos punhos das redes, tal a dor do contato das axilas com o dorso.

— A finalidade é tirar o sangue ruim e reparar o espírito que foi vítima -


garantiu o sentenciado Tim Kamayurá, mostrando as ranhuras na pele e
explicando que havia sido amarrado com as mãos para o alto, para a terapia de
mudança de atitude. Depois perdeu seus bens para a família do índio, que foi
atingido por ele não atropelamento fatal numa das trilhas na floresta.

— Até a velha Toyota Bandeirante "foi embora" - disse pesaroso.

Aquela "prisão" constituía na melhor das punições, pois lhe permitia


liberdade de recomeçar sem as amarras do vínculo material e lhe ensinou que
o apego, a raiva e a ignorância são os venenos deste mundo do fenômeno.
CAMINHO DA SOMBRA

Artigo mais vendido em garimpo, o jogo de garimpar é composto das


peneiras grossa, média, sururuca, fina ou indústria. A peneira grossa elimina o
mocororô ou pedras maiores, a média, libera apenas o material seguinte, de
pedriscos e pequenos detritos, a sururuca é intermediária para refino da busca
do xibio, já a peneira fina ou indústria somente deixa passar água e
micronutrientes da lama de fundo do rio.

Usar bateia fica como opção para diamante, mas exige perícia do
garimpeiro de ouro e a habilidade do ourives, equilíbrio nas mãos e excelente
acuidade visual.

O sentido de rodar a peneira sempre foi o horário, mas todos os


aventureiros bem-sucedidos rodavam anti-horário, o caminho da sombra, o
andar da espiritualidade revelada ao mais simples dos homens da Amazônia.

 As peneiras são o sol da vida garimpeira. Ao acordar sob efeitos do


sonho revelador, Megaron se lembrou daqueles instrumentos de juntar
preciosidades e a sua semelhança com o astro-rei, grande Espírito do Fogo,
Força, Calor e Luz. Fazia-se indispensável a interpretação desta visão no meio
do terreiro entre as ocas, como fizeram todos os ancestrais xinguanos.

— A profecia do rei Sol então será desvelada aos grandes - pontuou


Megaron - cabendo ao xamã a sua interpretação.

— Essa música sobre a volta do rei - revelou o mesmo líder Megaron -


significa tempos de prevalência do fogo, da verdade, do endurecimento dos
elementos, de pouca água, quase nenhuma chuva.

— As colunas de fogo formam o sol. Já foram quatro, agora são três,


mas são cada vez mais incandescentes. Gases interiores estão mais densos e
vagam com mais rapidez entre as três colunas restantes, o que diminui o
número de ciclos de quente, morno e frio do sol - explicou o sábio do povo.

—Tempos difíceis para esta posição da Terra. Estamos próximos


demais do cinturão do Equador, em que se sente primeiro os efeitos dos
humores deste sol, mais altos a ponto de não termos os piores momentos
destes novos humores - explicou Megaron, exímio conhecedor do formato da
tartaruga-terra, vagando no grande rio galáctico.

— Peneiras são camadas exteriores mais quentes do sol, que já


destruíram cinco céus sobre a Terra e cada vez mais diminuindo os seres, até
que só reste o espírito, como nos outros mundos, Marte, Mercúrio, Urano,
Vênus, Netuno, Júpiter e Plutão, além dos exoplanetas, anãs e luas - confirmou
o grande sábio Megaron.

— Nossos profetas e xamãs olhavam o céu enquanto atravessavam a


Terra, em que o mel jorra até em árvores - disse o velho guerreiro, mostrando
arbustos em que cachos de flor, com néctar doce, escorre e impregna os
parachoques das poucas e velhas Toyotas em circulação no Parque.
GRANDE FÓRMULA

Os sábios entendiam a importância de, na iminência da invasão, se


lembrarem da palavra mágica para criar a dimensão em que vivem incas,
mexicas, (ou astecas, do Rei Montezuma) maias e os últimos povos dos
Andes, Caral, Chavin, Tiahuanaco, e o esplêndido povo chimu, que já uitlizava
moedas em seu comércio antes do ano 1.500 da Era Cristã. O povo
chachapoya, povo nazca, nação Valdívia, povo tiwanako e povo ware e os
povos moches, do Vale Andino.

Aquele Império era a última entidade política soberana que emergiu das
civilizações andinas antes da chegada dos espanhóis. Império Inca era "colcha
de retalhos" de línguas, culturas e povos. Andinos se uniram no aguardo do
cumprimento da Profecia Inca, portanto não havia no Império uniformidade de
culturas, embora integradas no propósito de defesa.

Acredita-se que o Imperador Ataualpa (em quétcha, Ave da Felicidade,


ou seja, O Galo), os uniu no Equador, expandindo depois para altiplanos da
Bolívia de um lado e para os Andes de Argentina, Equador, Chile e até sul da
Colômbia. A indicação do início no centro é para segurança dos povos tão
díspares em sua cultura, depois na antiga capital, Cusco, alta e banhada de
sol, no seu berço de 3.400 metros de altitude, como nas montanhas.

— A grande explosão ou o rugido vociferante apagou da memória


ancestral, limitando tudo à volta a esta terceira dimensão - lamentou o velho
Zacarias Xirinemos, completando triste - a quarta dimensão e a quinta já não
nos é possível agora, pela falta da palavra primordial.

É tradição oral que os povos amazônicos sabiam a palavra de acesso,


trazida das montanhas andinas, a partir do Conselho de Aconcágua, mas
quando aportavam os espanhóis vistos na Profecia como Quetzoalcaal, palavra
Inca falada na língua quetchua significando "a serpente emplumada", fizeram a
grande magia do esquecimento na bruma do tempo, passando também a
esquecer as visitas dos grandes deuses e suas naves brilhantes como o sol.
— A escravidão do homem tem sido calendários - expôs Megaron - pois
este condicionamento ao ciclo a captura como se prende uma mosca no
açúcar. A rotina a um ciclo certo de acordar, comer, trabalhar, almoçar,
trabalhar, jantar, dormir e acordar novamente, tem sido espécie de droga
viciante.

— A palavra esquecida eliminaria a droga do tempo. Há uma


sincronicidade do tempo, pois tudo está acontecendo agora, neste instante -
completou.

Os outros anciãos olharam para Megaron e perguntaram:

— A palavra mágica não seria algo como "ramashiram"?

— Não sabemos nem mesmo se é palavra mesmo, ou se palavra aqui


está colocada como existência e atitude, como na tradição antiga de outras
tribos.

— O respeito ao tempo de cada coisa está condicionado à existência,


porém a ritualização da vida funciona como hospital para os males da alma -
lembrou o conselheiro Ko Ko Ti.

— Ritualização nada tem a ver com o condicionamento do tempo de


existência - advertiu o sábio - pois o mundo pode ritualizar procedimentos sem
se amarrar à senda perfeita do rei Sol.

— Ao sair a consciência do corpo físico, a primeira coisa que se nota é a


inexistência do tempo, a segunda é a falta de condicionamento de espaços -
lembrou a alma velha de nome Zacarias, que várias vezes atravessara o portal
da consciência corpórea nos rituais.

A terceira sensação tem sido a linguagem mente a mente, sem a


emissão vocal, mas sim por transmissão de pensamentos-forma, telepatia a
nível consciente, pois a toda hora nos comunicamos por telepatia ao nível  do
inconsciente.

Ataualpa (quéchua Ataw Wallpa, 30 de março de 1502 - Cajamarca, 26


de julho de 1533), décimo terceiro e o derradeiro Sapa Inca (imperador) de
Tahuantinsuyu, como era chamado o Império Inca. Governou de Quito por
cinco anos antes de conquistar o restante do Império Inca, de seu irmão
Huáscar.

No entanto, mesmo tendo à disposição 30.000 homens armados, confiou


no espanhol conquistador, Francisco Pizarro, com apenas 180 soldados, sendo
envenenado durante banquete oferecido pelo conquistador e depois de preso,
foi morto estrangulado, e todo o ouro de Quito, Equador, então sede do
Governo Inca, levado à Europa, para servir ao Rei de Espanha.
A VIBRAÇÃO ÉTEREA

Ninguém que banhe no Rio Mirassolzinho não tem aquela sensação de


paz espiritual. É o berço e o túmulo dos grandes guerreiros.

Ao chegar ao Posto Leonardo, o visitante vislumbra ao meio-dia, sol a


pino, o xamã Zacarias a iniciar ritual de dança no meio do grande círculo. A
dança do meio-dia é um ritual maravilhoso, dedicado ao Sol, aos ancestrais
deles e à saudação da vida.

Outro ritual importante tem sido a iniciação, para jovens de 16 anos de


idade ingressarem à vida adulta responsável. Nas duas casas sagradas, sem
entrada de luz do Sol, durante três meses ou treze ciclos de luas completas,
porque o calendário ali é o lunar, jovens são assistidos por seus líderes
xamânicos, com toda a assistência, para não saírem ao sol.

As casas sagradas têm um madeiramento reforçado, caibros travessões


em madeira-de-lei, mais as coberturas de oito camadas de palhas das
palmeiras do Xingu. Aqueles hábeis artesãos tecem cada uma das etapas de
cobertura, de modo a não deixar nem uma única brecha.

Ao final das treze semanas os neófitos, com a pele em louça, são


reapresentados e introduzidos na vida comunitária adulta, participando das
decisões do dia a dia, exceto no Conselho Noturno, formado apenas de
anciãos, do pajé e cacique.

Quarup para homenagem aos mortos está no outro extremo das festas
no Xingu. A ressurreição de um morto ilustre, o 'Adão" xinguano era, nos
primórdios daquela civilização, o objetivo central. Ainda hoje aquele rito é
centrado na figura de "Mawutizinin", o demiurgo, primeiro homem do mundo da
sua cosmologia, então Quarup teria sido um rito que objetivava trazer os
mortos de novo à vida.

As demais ritualizações se referem ao uso de plantas. Há muitas


conhecidas nos campos de transição do Cerrado/Mata do Xingu, como a planta
Bromiliad (terrestre espinhosa), Puya Parviflora, encontrada principalmente em
grandes áreas não florestadas, cujas sementes são adicionadas a ritual Wiska,
para difundir-se e explodir energias desintegradoras de fenômenos
condicionantes do espaço e tempo, como no ritual ayahuasca.

A puya paviflora é uma bromélia comum na América Central e na


América do Sul, especialmente nas regiões montanhosas do Peru e do Chile e,
também, ao longo dos grandes rios que descem dos Andes, na Amazônia.

A consciência é a mãe de todos os poderes. O uso de plantas pode


apenas estimular a consciência, mas nunca a substituir. Ser consciente dobra
todos os mágicos poderes, mesmo aqueles de pajés incandescentes.

Todo ser de consciência elevada respeita florestas, lagos, rios e mares,


recebe o sol toda manhã com rituais sagrados de gratidão, se sente terra e
brinca com o elemento primordial do ar, oxigênio, em respirações profundas, de
pura gratidão.

Exemplo intrigante envolvendo o poder vegetal ocorreu ao longo da


história de conquista das Américas, em que a Macieira da Morte matou
expedições inteiras, que comeram "maçãs" cheias de veneno da espécie
comum desde a Califórnia até o Caribe. A falsa macieira atraía os aventureiros
e estes ao saborearam as maçãs morriam envenenados.

Árvores existentes no cerrado do Mato Grosso, especialmente na região


de Cidade de Pedra tem o poder de fazer qualquer pessoa se perder ao passar
debaixo dela. Tem porte pouco maior que as demais e copa superior bastante
fechada. Não se sabe se, pelo próprio poder, ou se emprestado às
hospedeiras, faz interferência na bússola interna ou labirinto dos ouvidos
humanos.

A montanha também tem o poder de encanto, mas ali o que há é uma


superfície de lajeado em pedra vulcânica e frestas onde nascem as árvores
brincalhonas, as quinas e as árvore de resinas igual ovo, de onde as mulheres
faziam gemadas para as crianças nutrirem.

Mesmo sabendo que iriam se perder sob a árvore, cinco irmãos testaram
aquele poder de interferência, e, como teste, cada um passava sob a árvore.
Um dos que ficavam, retornava e trazia de volta o que havia transposto o
caminho da árvore. Todos se "perderam" e foram resgatados, graças ao
estratagema e prévio conhecimento do poder da árvore.

— Só explica isso o conhecimento deles do poder de desorientação


daquele vegetal. A estratégia adotada fez com que não se perdessem naquele
paraíso. Esse efeito pode estar descrito em contos de fadas, mas é fato
conhecido e testado entre caboclinhos da região de Casa de Pedra - como
explica o Sr. Dimas Gregório, morador do melancólico Vale Rico.

Ao contrário da Manzanillae, ou Maçã da Morte, a árvore mais perigosa


do mundo, por produzir "maçãs" envenenadas, a árvore do Vale Rico
desorienta os transeuntes que passarem sob a sua copa espessa.
PODER PESSOAL

— Vou parar esta serpente, meninos, apenas amarrando as pontas sem


botão de minha blusa ‐ anuncia Quitéria Mendes, enquanto andava na trilha
que a levava até ao Rio Moreiral.

— Este poder não é meu, mas de meu estado de gravidez - disse


humilde, enquanto a víbora se quedava inerte ao passar sobre pequeno tronco.

— Podem matar essa caninana, se quiserem, pois enquanto eu estiver


com a blusa amarrada na altura da barriga de grávida, ela jamais conseguirá
caminhar - provocava a cabocla nordestina.

— Ninguém quer matar? Afasta, então, que eu vou liberar a bicha


rastejante para ela ir embora - advertiu, ante olhares atônitos de todos os
presentes.

O poder pessoal é em si, uma vibração do ser, mas também tem


concerto com o meio ambiente, e seu uso altera o fluxo no entorno. Antônio
Farinha Boa e Velho Berto Zuza são exemplos vivos disso:

— Se você for ofendido de "cobra venenosa", não importa o tempo;


mesmo que eu já tenha ido para outra morada, é só chamar por meu nome,
"Antônio Farinha Boa", que este "homi véio" vem e te benze - dizia isso
calmamente, depois de ter curado centenas picadas por coral verdadeira,
cascavel, boca de algodão, jararaca, jararacuçu e tantas outras.

Se o chamavam, chegava sorrindo e logo dizia:

— Se for morrer eu digo logo e nem benzo. Se for escapar pra sofrer
nessa vida, eu também já falo logo - já desapeando de suas sandálias
franciscanas, que chamava de "precatas", numa abreviação de alpercatas de
couro cru e sola feita dos primeiros pneus de Fenemês (Ford National Motors,
traduzido do Inglês para o Português e do Português para o baianês).

Benzedor mais ativo no interior, Antônio Farinha Boa resolveu dar uma
festa surpresa aos 80 e tantos anos. Convocou filhos, afilhados, netos,
bisnetos, vizinhos e até os que não eram seus clientes de benzeduras. Almoço
pronto, todos sentados em mesas e bancos ou pranchas de madeira, anunciou
com voz possante:

— É a minha despedida, vou fazer aquela viagem às duas horas da


tarde, e quero me despedir de vocês. 

Às 14 horas, na velha casa, Antônio Farinha Boa partia para o Lar


Eterno, e todos fizeram seu velório e enterro. Já o Velho Berto era benzedor de
locais infestados de cobras e fazia outros encantos, como este:

— Seu Berto Zuza - reclamou o fazendeiro Tião Narciso - uma onça


parda pegou um bezerro na porta de casa, arrastou o bichinho e foi comer num
bosque perto da aguada, que abastece a represa; e agora, as crianças não
saem nem para ir estudar na vila por medo do ataque da fera. 

— Se é para acabar com o medo dos meninos e para que eles voltem à
educação na Vila, passando hoje e amanhã você pode procurar onça na sua
roça e não vai mais achar uma, a não ser a onça "marvada" já morta, com o
osso da pata do bezerro atravessado na garganta - sentenciou o velho Berto.

— Encontrei a bichana imensa deitada na moita - contou Tião Narciso -


mas fiquei temeroso de me aproximar. Porém, o enxame de moscas azuis
denunciava a presença de morte, e, me aproximando, fiquei extasiado pelo
quadro antevisto e dito pelo velho Zuza. Lá estava o osso, atravessado na boca
aberta da onça morta.
SABER VIVER

Assim como o maior segredo foi oculto nas profanas cartas de baralho,
para não ser revelado aos fanáticos e preconceituosos, ouvir e saber ouvir
foram as melhores bênçãos recebidas por todos os homens e mulheres,
exatamente porque quem escuta atentamente, não fala quase nada.

— Até madeira podre tem orelhas, mas saber ouvir está à disposição
apenas dos sábios e humildes de coração - explicava o incrível homem de
Deus, de nome João Bosco Penhido Burnier.

— Quem tiver ouvidos que ouça, porque felizes os que ouvem e põem
minhas palavras em prática - já dizia aquele avatar, na citação do Livro
Sagrado Cristão. 

Mahatman Gandhi disse a mesma coisa, na Índia, do ponto de vista


Hindu, quando asseverou que "o Cristianismo tem os ensinamentos mais
lindos, pena que não são colocados em prática".

Ouvir e ver são tão fundamentais que os humanos têm dois ouvidos e
dois olhos no alto, e todos os outros sentidos praticamente unificados; e mais
abaixo ou ocultos no corpo, o paladar, na boca; o olfato, no nariz; e tato, nos
dedos e pele; e em volta dele, o sexto; o insight ou intuição fica no observador
da consciência.

— Vinde como estás; entre em teu quarto e ore no oculto; vá e não


peques mais; o reino dos céus é semelhante às sementes de mostarda; vou
preparar-vos, de graça, uma morada - são vozes de dois mil anos, escritas,
repetidas, sussurradas, gritadas e inspiradas, mas nunca ouvidas.

Todo o Universo Multiverso vê com seus olhos e ouve com seus


ouvidos, mas você nunca ouve a sua própria suave voz interna, sempre
mandando você ouvir o seu corpo na hora de decidir. 

— Eu ouço meu corpo me mandar não ir, quando sinto dores no baixo
ventre, quase um frio, e aí já sei - confirma Ana Paula.
— Já eu, sinto na região do pescoço, como se fosse uma dor, aquela
sensação de calor geral, quando devo evitar contato com determinadas
pessoas tóxicas - explica Márcio Rigoberto.

A sensação varia de pessoa a pessoa, mas há avisos do Universo para


continuar a existência que está a serviço desta visão e audição ou sentir de
Deus. Nas derradeiras horas da vida, pessoas escolhem ver o cordão de prata
se desprender lentamente de seu corpo.

É uma sensação de êxtase imenso, como se o Universo estivesse


puxando o corpo espiritual da pessoa para o Todo quântico, espécie de manto
que nos une a todos e que no final se revela aos olhos dos que chegam em
Paz ao encontro com a Matriz Divina.
O DIÁLOGO POSSÍVEL

Você quer se transformar numa habitação sadia do espírito, corpo? É a


pergunta que se faz quando se quer um corpo saudável. Qual a sua real
necessidade corpo? É de espaço, conforto, aconchego, iluminação, paz ou
mais vigor físico? São perguntas que todos devem fazer ao avatar que se usa
neste momento e no planeta Terra.

Manoel Claro era um velho escafandrista de mergulho no golfo, estava


bastante enfermo devido à alta concentração de iodo e chumbo no organismo.
Vivia às turras com os poucos filhos que lhe restaram. Ficou muito tempo
internado num hospital, e ao retornar para sua velha casa, soube da parente
próxima, sra. Bertina, que seus filhos iriam colocá-lo num abrigo para idosos. 

— Chamei o senhor aqui para dizer que não vou para abrigo algum -
disse ao vizinho Romão - e quero pedir a gentileza de me levar até a margem
do Rio Buritirana, para me despedir, que vou me entregar.

Sem entender nada sobre a despedida, Ranulfo Romão levou Manoel


Claro, seu vizinho de chácara, às 18h50min, até o barranco do rio. E depois de
meia hora, foi chamado por aquela voz fraca:

— Pode vir me buscar, já me despedi.

Romão praticamente carregou Manoel Claro até a sua velha cama de


campanha. Ao deitar-se, o velho Manoel já estava morto. 

Dias antes, Manoel já havia confessado todos os seus pecados ao


vizinho, pedindo a este que se fosse do seu coração perdoar, o perdoasse em
nome de toda a humanidade, pois era de sua filosofia de vida o pedido do
perdão a um Deus que habitava todo o Ser, com ou sem o Véu da Ignorância. 

Praticante dos rituais da Ordem Mística de Brasília, viveu esquecido dos


seus e ligado aos mais nobres princípios do perdão, do cuidado extremo aos
animais menores e ao aprendizado da busca constante da Sabedoria que
realmente importa. 
— Ranulfo, você sabe como se sabe quando se morre ou se está vivo, já
que a consciência é para sempre? - perguntou Manoel Claro, enquanto bebia
café e assistia ao Jornal Nacional, como sempre, na casa do vizinho, pois não
tinha televisão.

— Seu Manoel, acredito que seja dando aqueles três pulinhos de São
Longuinho. Se ficar no chão, estarás vivo, mas sair voando é porque estará no
plano da consciência pura, sem o corpo físico - respondeu Ranulfo, para
aplausos e risadas de Manoel Claro.

— Vou tentar, vou conseguir e vou pular! - exclamou o velho Manoel,


antevendo seu voo nas asas do Condor. 

Isso ocorreu em agosto, no Alto Sucuriu, próximo ao Moreiral. Mas no


sítio que dá fundos para o Rio Buritirana, Seu Manoel se despediu em
setembro do mesmo ano, no sítio de sua propriedade.
DIA DA CATARSE

Joel Gomid Santo, como se fazia conhecer, cansou de levar pancada do


mundo. Foi malnascido em 8 de agosto de 1925, em Herval, e sua mãe morreu
das consequências do parto. Era bem-sucedido da parte do pai, um cidadão
que tinha bom comércio, excelente renda, mas um caráter deplorável. Logo
tratou de conseguir uma madrasta para Joel, não era a mulher do comerciante,
mas a tutora do menino. 

— Fui enfermeira na Alemanha - explicou Elga - portanto, sei mexer com


gente - declarou ao chegar ao lar do velho Jacob Santo.

A vida de Joel mudou, de "garoto levado da mãe" ao jovem calado e


sisudo do mundo. Não se ouvia mais a voz dele.

— Era o fogo de monturo, brasa queimando acima do chorume, abaixo


do esguicho d'água, quieto, mas avassalador, rumo à pólvora - como explicou
seu vizinho, choroso por se lembrar da primeira infância que compartilhou com
Joel.

— Até a mãe lhe faltar - disse Irenio Santucci - o Joel era uma
verdadeira estrela da rua, corria, pulava, brincava, cantava a Igreja de São
Genaro, banhava no rio da aldeia.

O interessante de Joel Gomid é que tinha dons especiais de manter


amigas e amigos sempre felizes, criando eventos festivos, contos engraçados e
músicas improvisadas. A enfermeira chamava tudo isso de mentiras ou
bruxarias do demônio, criando-se dúvidas profundas no coração de Joel.

— As dúvidas tornaram uma certeza do rumo que Joel deveria dar à sua
vida - narrou Irenio no dia do júri que condenou Joel, a quilômetros de sua
cidade natal, segundo confirmou seu amigo de infância. 

— Num daqueles dias de explosão e dor, Joel matou seis pessoas que
cruzaram a sua vida, num bar, fulminando a todos em volta a tiros certeiros,
porque, como a enfermeira e o pai atreveram a lhe impor silêncio, quando
cantava a música do rádio - finalizou Irenio Santucci, quase aos prantos por se
lembrar do fim trágico do amigo de infância - pois a visão do mundo, do ponto
de vista de Deus, lhe foi tirada.

O terrorista de hoje havia sido o melhor aluno do Colégio Redentorista


de Santo Cristo, naquela provinciana cidade do Sul. Sua visão de um mundo,
cheio de sonhos e alegria, foi abruptamente obscurecido pela tragédia da perda
de sua mãe e do colapso de um pai materialista, com uma tutora de visão curta
da realidade daqueles dias.

O homem branco tende a acreditar na impossibilidade de viver apenas


do uso dos recursos naturais. Em contrapartida se arrisca a ficar sem o mínimo
num futuro não muito longe.

As condições do clima nas terras quentes da Amazônia, sem substrato,


apenas de areia sustentando raízes das grandes árvores, tem feito aparecer o
estranho fenômeno do aumento dos transtornos, especialmente os da
oligofrenia fenilpirúvica, uma doença de predominância da raça de origem
ariana, assim como anemia falciforme de predominância entre pretos
afrodescendentes.

O povo autêntico, das florestas, com alta sensibilidade para


contaminação por vírus, como o Covid-19, tem se afastado cada vez mais do
convívio nas cidades. Está na dependência de atitudes firmes dos maiores
países consumidores a sobrevivência dos povos originários das florestas
tropicais.
POR QUE EXISTEM FARSANTES?

Os farsantes, impostores, falsos profetas e todos os tipos de


charlatanismos existem porque o próprio Universo etéreo os cria na realidade
humana, assim como existe a falsa coral, a maçã da morte e chupim no ninho
do cuco.

É um mecanismo de defesa, como existem os placebos entre os


remédios, com o fim de o próprio enfermo ter a produção de antígenos, corpos
etéreos e sistemas parassimpáticos.

O indivíduo se investe de falsos poderes de cura, por um chamado


interno, a partir do oportunismo, necessidade, sonho, mas também por
determinação de algo superior, pois é necessário que seja assim para
discernimento das massas.

A causa da morte das falsas religiões é a sua propagação em seitas


cada vez menores puxadas até não esticarem mais por charlatães que, após
enriquecimento, mostram-se avarentos e corruptos.

— “Se não é contra mim, deixe-os em paz." A recomendação é antiga,


mas sempre presente na vida dos verdadeiros profetas, como um sinal de
inércia e movimento constantes - explicava o mestre Jesuíta, que, bem
utilizando o ensinamento verdadeiro, afirmava que se há contenda ou
dissensão lá não estarei.

— Por que a divisão não pode conter a verdade? - perguntou certa vez o
Padre João Bosco.

— Porque a verdade não se divide em compartimentos estanques -


respondeu ele próprio - para completar - "a verdade é una na sua essência e
se molda perfeitamente ao tempo, como no caso do escravo ser fiel ao seu
dono", traduzido hoje como "ser fiel aos pactos negociais", em que não há mais
vassalagem e sim obrigações recíprocas.

A primeira evolução desse brocado latim "pacta sunt servanda" traduzido


ao juridiquês "os acordos devem ser mantidos", mas literalmente a tradução
seria a de "os pactos escravizam". Se houver submissão, que assim seja, pois
se servo se coloca a serviço e se rebela no cumprimento não pode esperar
outra sorte, se não a submissão.
A IDEIA DE CONTROLE

Os pioneiros amazônicos praticavam seleção para a depuração genética


a fim de perpetuar os corpos sadios no seu meio. Consideravam tanto a
importância do espírito sempre em evolução, na sua tradição, que sacrificavam
gêmeos por não distinguirem, ao nascer, quem era o impostor e quem era o
verdadeiro espírito habitando naqueles avatares.

A explicação dessa atitude de controle era de que uma pessoa assim,


que desce à mãe-terra, não pode mais depender física e mentalmente de outra.
As crianças não passavam pela fase de se arrastar ou "engatinhar". Para isso,
prevalecem, naquelas culturas, estímulos e exercícios, descendo do colo
materno para andarem, correrem, sob a atenção atenta, não apenas da mãe,
mas de todas as mães da oca comum.

A maternidade é coletiva, e o Rei Salomão não seria chamado naqueles


povos para decidir a posse da criança sob espada. A paternidade é individual,
apenas a um indivíduo se atribui, mas o sustento das famílias é atributo
coletivo.

— O conhecimento e não a ignorância podem levar o mundo novamente


à uma situação de confronto global. A paz é uma condição meio, e não um fim
em si mesma.

Somente interesses compartilhados por todas as pessoas e a sua busca


incessante com resultados reais, ainda que parciais, unirão a humana raça -
disse Megaron.

— Se juntas, mas sem atividades lúdico-ocupacionais, as crianças


brigam sem parar - afirmava o grande cacique - ensinando ainda mais que as
nações, povos, tribos, são como crianças, pois precisam de uma missão à
frente para não se ocuparem com guerras.
O ÚLTIMO RIO

Ao morrer, como se ensinava no Egito antigo, o espírito é conduzido


num barco, ao longo de um rio sob tochas acesas, até o Logus, de onde tudo
provém.

Eleusis, como os gregos concebia, é o lugar destino do rio. E depois do


grande lago, a mansão da espiritualidade, do outro lado do grande rio.

— Não se tem purgação, nem sofrimento, pois a vida é o momento de


provação, advindo esse sentimento da ignorância do que é a existência plena -
ensina Megaron - o Círculo Perfeito não tem começo, nem fim, como os sóis no
universo e no Multiverso.
A PALAVRA INVERTIDA

— Estamos dormindo e sonhando um sonho lúcido. Ao dormir, a gente


acorda, mas a memória da maioria não registra nada nessas horas de
realidade pura - explicava o xamã Megaron.

— Todos os povos existentes ou extintos, e já moldados a outros, tem


seu xamã, como ligação entre os mundos do fenômeno e da dimensão superior
- completou.

A realidade não revelada está na palavra perdida, que foi esquecida na


grande explosão. O sol, naquele dia, inverteu seu curso e os polos foram
trocados.

— As feras acordaram num meio-dia agitado, e a inversão da palavra


primordial fez-se necessária - finalizou o grande pajé. 

Na busca de uma terra prometida, a viagem se torna o fim, quando


passamos a nos apegar a bezerros de ouro e a "tábua da lei" tem o sentido da
salvação para a continuidade da jornada. É sempre a palavra emanada
sussurrante em todas as tradições.

A escrita da palavra passa a ser o Norte a ser perseguido, mesmo que


esta terra seja apenas o outro lado do rio Jordão ou do rio Mirassolzinho.

— Grito, brado, sermão, discurso, pregação aos brados maculam a


palavra, com a morte, pois ela deixa de ser sussurrante e próxima do original
para ser a expressão de um Ego ditatorial e dominante - projeta Megaron a
cada um dos iniciados ao Círculo de Aconcágua, a grande montanha andina,
símbolo da Cordilheira.

A transmissão da palavra sagrada original era por telepatia, no invólucro


do sonho. Aquele que recebeu a divulgou aos sussurros para não cair em
mãos ou cérebros errados. Não era longa nem complicada, por isso foi
conservada até a transmissão aos demais do Conselho, há mil anos, na
eminência da invasão.
TUDO É DISTRAÇÃO

— Você dorme acordado o tempo todo. Tudo é sonho lúcido. A distração


consome seu tempo de alguns minutos de consciência plena - explica o sábio
Megaron.

— Ao meditar, você está acessando a mente superior e se conectando


com a sua essência - completa o grande espírito benfazejo.

— A distração de tudo quanto eleva individualmente cada ser humano é


um propósito do Ego ditatorial, que age declaradamente contra propósitos
altruístas. As seitas, ordens, religiões, igrejas, organizações e grupos que se
organizam para vencer estas limitações, sem o saber, reforçam o poder deste
Ego coletivo - nos ensina o índio em ascensão espiritual.

— O conhecimento adquirido em grupo, envaidece o resultado


conseguido; com a união de esforços, subverte a ordem; e pelo orgulho da
vitória, destrói sua essência.

Como se diz no Zen Budismo: "Até a torneira pinga quando você


consegue o silêncio interno e, portanto, subjuga o ego por instantes ou
segundos de meditação".

A melhor história de distração que podemos presenciar e, por nós


mesmos, tirarmos conclusão desta força, é a do rei em sua trilha ou Senda
Perfeita.

Havia um príncipe, que, por ter nascido numa Família Real se faria rei,
mas nada tinha dentro de si que era projeto de poder. Era tão irreal para ele
substituir o pai no Trono Real, que, ao olhar para fora do palácio, somente
conseguia contemplar os catadores de lixo no pátio.

— Pai, por que essas pessoas precisam catar sujeira dos outros? Por
que nós mesmos não catamos?

E o rei, no seu trono, somente respondia:

— Assim é o que é!
A inquietação do principezinho, ultrapassava os limites da pura
curiosidade, e entrava no corpo-a-corpo com aquelas criaturas humanas
fragilizadas pela pobreza.

E antes de se tornar rei, tornou-se monge, saindo do palácio para um


recolhimento interior, levando um aprendizado ao mundo; o de que a Senda
Perfeita não é o poder ou a riqueza do palácio, a construção de ermidas ou
igrejas, mas sim, a meditação para se criar o templo mais incorruptível que
existe o eu superior, a transcendência e o autoconhecimento onde mesmo no
Deserto, o alimento que importa, nos é distribuído na forma daquele maná ou
daquela pedra única, monolítica preta caaba ou ainda como o rio que nasce de
dentro da pedra daquela montanha, tocada por Moisés.

Se houvesse chegado ao Reino do Pai, e, somente então distribuir


riquezas, o príncipe Sidharta Gautama teria criado distração e caos, mas a sua
escolha, pelo caminho do meio, criou algo permanente A Senda Perfeita do
Rei.

— Existem três venenos mortais neste mundo da forma - nos ensina


Sidharta - a aversão, o apego e a falta de conhecimento, trevas ou ignorância.
A ignorância é a mãe, porque todo medo nasce do desconhecimento de sua
autoridade de essência de Deus e a sua aversão, raiva ou ódio mortal vem
dessas trevas interiores, alimentadas por impostores externos, com paixão e
ofertas de falsas riquezas ou de rituais inofensivos e bezerros de ouro.

— Você não precisa de nada. Já é completo. A porta estreita, a luz do


candeeiro escondida no sótão, a semente de mostarda. Tudo é alegoria para
você entender que, tudo está aí, dentro de você. Os mestres vieram para
ensinar uma verdade eterna de quem você é na essência, e cada 500 anos,
relembram esses ensinamentos, pois conhecem a sua insegurança e sua falta
de memória, sempre se escravizando a bezerros de ouro, a cultos, dogmas e
ao ego coletivo, ao se juntar à multidão ávida de escravidão religiosa - concluiu
Sidharta.
O OUTRO É ESPELHO, NÃO FALA

A citação de ser semelhante aos lírios do campo, aves do céu ou


pardais, nada tem a ver com alimentação e nem com a vestimenta do corpo,
mas com as vestes e a nutrição da alma. Nutrir-se e vestir-se sozinho, sem
receber dos outros nada.

— Tudo quanto vem do outro, não alimenta o seu espírito, pois vem com
filtros de preconceituosos ensinamentos - ensina Megaron - e estes filtros são
semelhantes aos do cigarro, estão entupidos de substâncias cancerígenas para
a alma ou ânimo.

— Venho aqui no Brahmane Nasrallah, assinar um papel para a minha


convivente, Surya, ter direito de dispor de todos os bens da família, já que vou
fazer grande viagem - disse Bendit Armanni.

Bem-humorada e espirituosa, a notarial de Savanda, na Índia, advertiu o


comerciante de que, o documento de procuração dando poderes, não serviria,
caso estivesse o outorgante pretendendo dar fim à vida com solução, com
absinto ou outro veneno. A religião e o Estado se juntariam, no impedimento de
sucessão à cônjuge sobrevivente.

— Passados três dias, acharam Bendit sem vida - conta-nos Nasrudin -


alguém da investida criativa cristã, de Délhi, havia "profetizado" a Armani, que
ele morreria do mesmo mal que acometera a cuidadora dele anos atrás e
como, em retribuição, cuidou da anciã durante anos e sabendo de sua dor nos
momentos derradeiros da existência, havia resolvido acabar com a própria
existência antes da dor.

A autópsia revelou que Bendit jamais teria a doença de sua mãe, pois
todos sabiam, na província de Bash, que Patma Armani não era mãe biológica
de Bendit e que a tal profecia era apenas uma falsa demonstração do pregador
cristão, como centenas de outras feitas em Délhi durante aquelas investidas do
Cristianismo na Ásia.

— Ao exigir seus apóstolos pregarem pelo mundo inteiro, Jesus


mandava que se desviassem de algumas cidades e que nunca combatessem a
quem já estava profetizando em nome de Deus - homilia do padre Bosco, nas
diversas vezes que falava para "irmãos apartados" do rebanho católico.
MÁS PROFECIAS NÃO ACONTECEM

A simples escrita de uma profecia impede a sua ocorrência, pelo menos


do jeito previsto na visão do profeta. Vejam o caso do Apocalipse ou
Revelações. Dário, o Imperador, transformou em utopia os eventos que se
sucederiam de outra forma. A destruição de Jerusalém e do Grande Templo foi
um fenômeno trágico, porém, numa escala ínfima ante o previsto.

A tomada do acampamento dos arredores do garimpo de Boca da Mata,


poderia ser um banho de sangue, não fossem os prevenidos Adolfo Tavares,
Benedito Anastácio e o caçador Aprígio Sinfronio. Ao saírem para recolherem
provisões, capazes de matar a fome dos acampados na área pretendida pelos
coronéis, e agora fazendeiros de Boca da Mata, puderam surpreender os
atiradores pelo flanco traseiro, vigiado por eles, entre a Serra da Pedra Branca
e o Rio Pacu, devido ao sonho profético de Adolfo.

Já ao primeiro tiro contra o acampamento, os caçadores responderam


energicamente a ponto de desviarem a atenção dos pistoleiros plantados na
estrada principal.

— Meu sonho de que haveria um banho de sangue no acampamento,


fracassou para eles - vaticinou Adolfo - pois o fator surpresa acabou.

Do acampamento surgiram os primeiros disparos e entre os pistoleiros


as primeiras quedas.

— No final do tiroteio, 12 mortos estavam distribuídos ao longo da


estrada de acesso ao ponto, onde estavam mais de uma centena de pessoas,
entre homens adultos, mulheres e crianças, graças à profecia em sonho de
Adolfo - reconheceu o velho Raul, que protegia as famílias no acampamento
central.

Alguém que mande um profeta dizer ao povo antes, evidente que tem
amor incondicional e não queira que tragédia alguma aconteça, pelo menos
com quem está com o profeta escolhido. Profetas deixaram de existir pelo
descrédito e isto é injusto, porque o dever do profeta é avisar, de modo que
avisando não ocorra a profecia e o descrédito tem sido uma desgraça para
aquele homem de Deus e uma graça para as Nações que temem o Senhor
Deus Único.

Feliz foi o profeta Isaías, que apenas profetizou coisas boas para o
mundo da época, como a queda de império temerário e o nascimento de Jesus,
além de uma variedade de presságios sem grandes ameaças que pudesse
desacreditar suas assertivas, como aquela que diz: "O jejum que eu quero é
mudança de atitude". Profetizando, assim, o que viria a ser o pior rebanho e
sua maior fraqueza; querer mudar para melhor, o gargalo do Cristianismo desta
nova época, que faz tudo, menos evoluir para a perfeição.
SONHOS E PREDIÇÕES

Arnóbio Baumaster detinha um poder onírico, sonhando sempre com o


que aconteceria de imediato, mas para evitar o sofrer dos outros e não se
alegrar ante o fato acontecido, desenvolveu bloqueio da memória. Entretanto,
houve um tempo em que Arnóbio se recordava de tudo aquilo que sonhava:

— Pai, mãe, acordem, acordem, acordem, seu Jerônimo vem aí


para dizer que o afilhado de vocês, Arlindo, acabou de morrer.

— Menino que loucura é essa, se ninguém está acordado ainda -


exclamou o sr. Glauco, esfregando os olhos e já sentado na cama.

— Toc, toc, toc - às batidas rápidas na porta ouve-se a voz de Jerônimo


- compadre Glauco, comadre Teresa, vim avisar que o afilhado de vocês
morreu, precisamos batizar o menino antes do velório.

Após três eventos traumáticos como este e uns sem números de


situações sem comemoração pessoal, Arnóbio bloqueou a memória dos
sonhos, nas ficou com aquelas sensações de "dejavu" sempre que se vê ante
situações inesperadas para os outros.

Dúnia Mara Issa nasceu com o mesmo dom de Arnóbio, mas nos
primeiros anos de vida nunca percebeu, pois acordava muito tarde, sol alto, e
tudo que havia recebido no mundo onírico   dos sonhos mesmo, já se
desenrolava no tempo real dos fatos. Nunca teve problemas com isso, até
assumir seus próprios compromissos de vida pessoal, após o casamento com
Sesinando Bernardo.

Daí em diante foi uma aflição constante, pois via o marido em sonhos se
envolver nos mais complicados negócios e de riscos incalculáveis, ao comprar
tropas nas fazendas do Sul de Minas:

— Sofro por antecipação e por "póstecipação" - brincava a então


professora do ensino fundamental de Airuoca.

— Já o terceiro elemento periclitante com os poderes oníricos


desenvolvidos, Misantropo Moreno se debatia com os sonhos e com os filmes
no telão do cine Rialto e Alhambra, de Campo Grande. Amava cinema e os
filmes de ação, mas ao sair da sala de projeção, todos que viam eram iguais ao
Charles Bronson, ao David Carradine, ou a Sofia Loren, Marilin Monroe e aos
mocinhos e mocinhas de Hollywood.

Trágico que à noite reproduzia outros filmes no papel principal,


contracenando com tais artistas e personagens. Era de uma memória
fantástica, a ponto de ver em cena todos os ambientes fotografados durante
aqueles filmes maravilhosos dos anos de ouro.

Tinha a memória fotográfica, mas como não falava, se trumbicava,


passando a sofrer de insônia, tendo convulsões constantes e a perder
qualidade de vida, não porque era doente, mas porque tinha um dom especial
que o sistema não lhe apresentou como normal e digno de aceitação e
desenvolvimento.
HUMANO TEM MANUAL, MAS PRECISA LER

Há um Manual interno de como possuir recursos latentes no corpo e nos


sentidos periféricos. A leitura tem sido possível a alguns grandes nomes, os
mestres do leitor de Manual Humano, ou como os chamam por aí de gurus,
iogues, bruxos, pajés, pais de santo, mães de santo, hierofantes, xamãs,
brincantes, adivinhos do deserto, dervixes e ragas.

— Se você não conhecer o seu corpo, você fatalmente fará mau uso
dele ou nem fará uso benéfico do corpo - diz-nos os iogues indianos - para
início daqueles cursos salvadores de como respirar corretamente,
pausadamente, contando 33 segundos, entre expirar e inspirar.

— Você precisa adotar a política do corpo de se mover corretamente e


estar atento a ele enquanto caminha pela senda da vida. Sair do automático
representa 50 por cento das soluções para todo humano na Terra. Os outros
50 por cento é entender que tudo é biológico, nada é somente espiritual,
mesmo a morte é biológica e depois dela é biologia pura.

— Você estará aí, dentro de você, vendo tudo e sentindo tudo. O mestre
Jesus Cristo também disse isso várias vezes, ao chamar João Batista de
Profeta Elias, no momento da transfiguração.

Também foi dito no Livro Sagrado Cristão por evangelistas ao narraram


que está escrito “Os avarentos terão como castigo verem seus filhos
dissiparam seus bens após a própria morte”.

O Manual de Uso do Avatar Humano está no corpo e depois do corpo


estará ativo em todos os sentidos espirituais: intuição, percepção peri espiritual,
observação da consciência em vigília, vontade volitiva e no observador da
consciência.

— Eu vou preparar-vos uma morada pois Meu Pai, que está nos Céus,
tem muitas moradas - ensinou-nos o profeta maior.

No Livro Sagrado do Ghita está escrito: "Dois pássaros pousam numa


árvore, se um canta, o outo se cala, e se um cala o outro canta", significando a
necessidade de atenção nos aspectos físico e espiritual. no Livro Sagrado
Cristão está escrito: " Naquele dia, dois dormirão numa cama, um será tirado e
o outro será poupado", tendo o mesmo significado de equilíbrio entre o corpo e
a alma ou o ser espiritual em seus desdobramentos.
A BUSCA DO GALHO DE CIMA

O Bhagavad Ghita afirma que assim como o sol dissipa trevas ao


despontar no horizonte, o conhecimento do Self - si mesmo - dissipa ilusões de
quem não somos. Para ilustrar bem este fato, o Mundaka Upanishad utiliza
aquela bela imagem de dois pássaros que viviam na copa de uma árvore.

Um deles, num ramo perto do topo e o outro mais embaixo. Um comia


frutos amargos e o outro os muito mais doces. Na medida que o pássaro de
baixo, aquele que comia os frutos amargos, ia constatando a satisfação do
pássaro de cima buscando os frutos doces, mas por comodismo somente
encontrando e comendo frutos amargos, ia subindo, até que um galho abaixo
viu o reflexo do outro em sua plumagem.

Ao chegar no mesmo galho, viu que o pássaro de cima era ele mesmo,
passando a compreender a dualidade de seu ser e que tudo quanto buscava já
tinha, apenas não sentindo o sabor devido à busca de si mesmo e de suprir
suas necessidades avidamente.

— Você não precisa ir a lugar algum, melhorar em nada, esforçar-se até


a morte, dar dízimos, ajoelhar, implorar, orar, para ser igual a uma dessas
criancinhas.

— "Vinde a mim as criancinhas, porque delas é o Reino dos Céus" - já


afirmava Jesus. O pássaro de cima era o mesmo do primeiro galho e o gosto
dos frutos dependia de seu estado de espírito.

O iogue come o sabor de sua paz e sua ação de respirar tem a gratidão
de um fausto banquete real, pois seu estado de consciência depende do pulsar
interno. A mais fácil trilha do caminheiro está no sentir e ser presente,
conscientemente na caminhada.

Na loucura de buscar as riquezas mais e mais longe no meio da


Amazônia, abandonando terras indígenas massacradas para trás, numa
espécie de "política da terra arrasada", coronéis do agronegócio apontam o
indicador para a "indolência" do índio como forma de aliviar sua consciência. 
A verdade é o povo autêntico do cerrado e o povo sagrado das florestas
entenderam que tudo debaixo do céu é vaidade e perda de tempo. A mãe Terra
alimenta e provê sempre, mas não perdoa agressões sem dar respostas em
forma de redução das provisões. 

Há pouco mais de 100 anos atrás, tacapes e lanças atravessaram


cabeças e peito de xavantes, bakairis, cintas largas, xerentes, caiapós,
nhambiquaras, parecis, mas uma doença surgiu e muitos desses povos
praticamente desapareceram.

A sezão da febre era tão grande entre 1920 e 1940 que os guerreiros se
lançavam nus dos barrancos altos do Rio São Manuel e não mais voltavam,
morrendo nas águas rápidas e tempestuosa do grande rio.

A lição proveitosa acabou com ciclos intermináveis de guerras. Há


tempo para o branco aprender o valor da Paz e do respeito ao equilíbrio
harmônico com a natureza. O ciclo do Hemisfério Sul está se fechando.
ARMADURAS

Pertencer a uma cultura forte, como a judaica, a germânica, a cigana, a


mexicana, a nagô, a grega, espanhola, a dos puritanos Amish, a dos
japoneses, os irlandeses, é como ter toda a dentição e ainda ter a jaqueta de
aparência brilhante cobrindo-a, mas, logo no canino, ter aquela incômoda e
lancinante dor.

Se você tem aquele dente doendo a saúde dele compromete seu


rendimento totalmente, assim como comprometem as deficiências e as
mazelas culturais do berço, mesmo você não tendo as mesmas adversidades
de sua cultura, contudo se você se afasta, extraindo-se do convívio cultural,
fica o incômodo da falta daquela armadura que lhe apertava tanto, mas que
também lhe acariciava.

— Não é totalmente verdade dizer que você nasceu fora de um


arcabouço cultural, pois de todo jeito você pode ter nascido dentro do que
chamam de cultura judaico-cristã ou da cultura islâmica - explicava Megaron
sempre que a questão cultural alterava os ânimos na sua região de liderança.

O cigano, o índio e o beduíno, por não se fixar em um ponto territorial


único, por muito tempo, se sente livre, sadio, próspero e altivo dentro de seu
grupo racial. Já o alemão, o irlandês, o judeu, o russo e ucraniano, por seu
passado recente de escassez, lutam para fixação em lugares vastos, férteis,
bem regados por canais de água, cheios de abundância de frutos e colheitas.

— A vestimenta cultural te dobra em referência ao que nem mais


acredita em teu íntimo, como no muro das lamentações, onde cerca de 35%
que lá vão nem mais praticam religião alguma - explica em seus livros judeus
ortodoxos conscientes, mas outras fontes indicam que entre 15% e 37% dos
israelenses identificam-se como agnósticos ou ateus.

— Tudo que foi dito sobre cultura se adequa ao que está posto sobre a
comodidade de se apertar indivíduos dentro da estrutura, mas sem o esforço
de se dar condições para a mudança de toda o arcabouço cultural - ensina-nos
o sábio Megaron, para adiantar que um simples ajuste na sociedade,
diminuindo-lhe as tensões e as pressões fariam desaparecer, como numa
mágica, os índices de violência.

O processo seria de uma década, mas teria resultado por mil anos, no
mínimo, consistindo em distender os níveis de exigência do convívio, o fim de
condicionamentos éticos, culturais, religioso, aumento do grau de satisfação
com políticas de recreação, vivências em áreas replantadas com o verde das
florestas, maior distribuição de renda e fixação do ideal de felicidade como
meta para o aqui e o agora.
COMO CAI O IMPÉRIO

Todos perguntam, mas já imaginam a resposta “como caiu o Império


Romano?”

— Já na fase da monarquia, a divisão era entre patrícios, plebeus,


clientes e os escravo, e pressão destes servos sobre senhores preguiçosos, e
necessidade dos patrícios, foram constituídos cidadãos romanos, acomodando
ali como a menor classe da sociedade.

Estes escravos deram certo aporte, nas não contribuição direta, à


invasão Bárbara, por menores que fossem em número e importância social.

— O gigantesco Império, do Oriente ao Ocidente, primeiro se dividiu e


depois ruiu - ensina Megaron - porque à medida que crescia também perdia a
sua consistência interna. A importação de escravos trazia instabilidade ao
Império.

Havia terminado a era da expansão territorial, por não existirem mais


territórios, a não ser os de além-mar ao Norte, e ao Sul, a Leste, e a Oeste
existirem verdadeiros contrafortes de gelo e montanhas sólidas protegendo
terras vikings, russas e os territórios glaciais. Esta contenção do expansionismo
territorial romana afetou fortemente a economia.

O sucesso também traz incômodos. Iniciado o século II, em meio às


demandas da Igreja, o Império Romano passou a priorizar a defesa do
gigantesco território já conquistado. Isso afetou diretamente o sistema
escravista, que era sustentado a partir dos prisioneiros de guerra levados ao
Império como escravos.

A concessão de títulos de cidadãos aos escravos ampliava a crise


interna, na medida em que os povos conquistados para a atividade de serviçais
escravos recebiam o direito à cidadania romana e seus direitos tinham foro de
justiça contra plebeus e clientes, das classes superiores.

Tudo isso desencadeou uma crise econômica em razão da diminuição


da produção agrícola e do encarecimento dos alimentos. A carestia dos
alimentos aumentava a instabilidade, advindo distúrbios e por consequência a
fome em determinadas regiões. Para complicar ainda mais este cabo de guerra
social, a falta de alimentos afetou diretamente o "rancho", o paiol e as
provisões dos exércitos plantados nas fronteiras do Império.

Desdobrando-se em deserções e dispensas, a crise econômica resultou


na diminuição do contingente militar romano e, assim, as fronteiras tornaram-se
vulneráveis aos ataques estrangeiros.

As fronteiras sempre foram ameaçadas por povos estrangeiros, mas, a


partir do século II, essa ameaça acentuou-se e, no século V, tornou-se
insustentável com o fluxo migratório dos germânicos.

Os povos germânicos eram chamados de "bárbaros" pelos romanos por


não compartilharem a mesma cultura e por não falarem latim. Eles habitavam
regiões ao norte e leste das fronteiras do império, que eram chamadas de
Germânia pelos romanos. Além disso, parte dos povos germânicos, em sua
maioria, pagãos, converteram-se ao cristianismo arianista.

O arianismo da Igreja Germânica havia sido condenado pela Igreja


Católica como heresia, isso contribuiu para que a rivalidade entre romanos e
germânicos aumentasse. O arianismo era uma interpretação teológica do
cristianismo que negava a divindade de Jesus Cristo.

Jesus Cristo era Profeta, mas não Filho de Deus. As invasões bárbaras,
em geral, são explicadas pelo resfriamento climático e pelo aumento
populacional, o que criou uma necessidade por melhores terras para garantir a
sobrevivência. Por essa razão, partes do Império Romano (Gália e Península
Ibérica) já haviam sido invadidas desde o século III.

O principal motivo levantado pelos historiadores para explicar a grande


migração germânica do século V foi a chegada dos Hunos, povo nômade que
havia migrado desde as estepes da Ásia Central. Por onde chegavam, os
hunos traziam pânico, e muitos povos escolhiam fugir da presença huna. A
chegada dos hunos causou a migração de dois povos.

No ano de Nosso Senhor Jesus Cristo de 410, a cidade de Roma foi


saqueada pelos visigodos e, a partir daí, uma sucessão de povos invadiu essas
mesmas terras, anglos, saxões, hunos, vândalos, alanos, francos etc. Todos
esses povos, ao perceberem o enfraquecimento da parte ocidental do Império
Romano, instalaram-se nas terras e criaram reinos, depois repúblicas.

Muitos deles foram absorvidos por outros, a partir da guerra de


ocupação. O Império Romano do Ocidente desintegrou-se até o ano de 476
deste presente era, quando a cidade de Roma foi invadida pelos hérulos e o
último imperador romano foi destituído.
O SOL É A NAVE MÃE

Nosso destino é o Sol. Ainda que seja aterrissando ou chocando na


coroa do rei, a nossa convergência comum será este maravilhoso fogo
depurador alquímico. Nosso ouro será separado do vil metal, voltaremos à
essência do que somos.

— Há muitos anos iniciou-se a desconstrução do mundo. Assim como


demoraram milhões de anos para a sua construção, a Terra será desconstruída
por milhões de anos - ensinou-nos no Conselho dos Andes, em Aconcágua, o
Rei Universal.

— É um processo lento e seguro de recuos da desordem para o


estabelecimento de uma nova ordem - assegurou Megaron.

— Todos que um dia previram algo parecido com o fim da humanidade,


vivendo aqui e agora com o seu respectivo avatar, acertaram
precisamente, somente não acertando datas porque o tempo não existe na
escala universal. É um contínuo espaço-tempo, onde datas ou lugares estão
apenas colocadas como criações humanas, igual a quando você fala do vento
soprando nesta ou naquela direção, a partir desta ou de outra direção, pois o
tempo e o espaço são infinitamente inseparáveis - esclareceu o líder do
conselho de Aconcágua.

— Depois desta Terra, virão outras moradas tão "reais" quanto essa -
Tiamat está sendo desconstruída pelos mesmos construtores de mundos,
aqueles mesmos conhecidos dos povos da Babilônia, os Sumérios e de
habitantes anteriores a eles - finalizou Megaron.

A consciência evoluída sabe que toda a realidade depende da evolução


da consciência e que apenas pode mudar para todos quando todas as
consciências estarão mudadas, mudando-se então a consciência coletiva.

— O caminho da Religião é o caminho inverso da consciência,


propositadamente aí colocado como pedra de tropeço pelo Comando de seres
menos evoluídos, mas que há muito perdeu o comando de toda a Galáxia e
consequentemente da Terra - pontua Megaron no seu último conselho.
— A mensagem nos Andes, em Nazca, é clara quanto à evolução. Se
você consegue sair do corpo já não é mais religioso, pois viu a dimensão do
colibri, do condor, do beija-flor, porém se já viu do ponto de vista do Universo
Criativo, como os Xamãs, já não é mais um ser místico, ascenso, mas um ente
espiritualizado em comunhão com o próprio Universo.

— A evolução em escalas permite essa diferença de trilhas, uma de


ascensão e a outra da fixação apenas no aspecto visível e histórico, como se
humanos estivessem numa grande roda gigante, em círculo, enquanto todo
Universo estivesse subindo, desde o andar subterrâneo até o andar infinito -
concluiu o sábio do Conselho.
ATON, O REI VOLTOU COM ATMA

O Sol já foi o centro do Universo, naquele período de heliocentrismo, de


Amenhotep IV, Akhenaton e de seu filho, o faraó Tutancâmon, no Egito antigo,
onde o barro do oleiro era cozido e petrificado à luz do Deus Aton.

— Para a finalidade de acabar com abusos de sacerdotisas e


sacerdotes, cada vez mais opressivos e poderosos ante o uso de deuses para
subjugar o povo, confrontar o faraó, e aumentar as suas riquezas, exigidas da
plebe e nobres supersticiosos para acalmar os deuses, numa espécie de
"religiosidade de resultados", o faraó Amenofis IV acabou, de repente, com o
poder sacerdotal ou pastoral, erigindo Deus Único - descrevem estudiosos do
período. Ao mesmo tempo mudou o próprio nome para Akhenaton, que
significa "Espírito de Deus".

Na milenar Índia já havia a crença na existência de Atma, o espírito


vivificante em cada ser. Átma, ou Atman é no hinduísmo, a alma, princípio de
vida. A alma individual é semelhante à alma universal (Brahma), porque o que
está em cima é igual ao que está embaixo.

No hinduísmo contém aquilo que é imutável, indivisível e eterno, a


verdadeira natureza das coisas, tijolo de toda a existência, como o átomo de
hoje e seus anéis de elétrons, nêutrons, prótons e subpartículas de energia
pura. O princípio hermético da correspondência está presente na Índia e no
Egito, com Átma e Aton.

Na Amazônia, berço de Megaron, o espírito da floresta está impregnado


em todos que penetra nela, nos rios estão os espíritos condutores, os líderes
nascidos ali ou não. As águas que descem dos Andes e da montanha sagrada
Aconcágua trazem todos os xamãs até o encontro com o grande
Oceano Atlântico e as voçorocas são as vozes dos muitos guerreiros da luz.

O povo do Pantanal, por excelência, os Guaicurus, últimos


cavaleiros, têm como altar o grande rio, mas seus lindos cavalos pantaneiros
eram seus cordéis dourados. Kadiwéus-Guaicuru, entre tantos outros grupos,
viviam no Grande Chaco, região que compreendia o Paraguai, Bolívia
e Argentina, totalizando uma área de aproximadamente 700.000 km², que se
caracteriza topograficamente por ser uma planície. A sua própria denominação,
Chaco, de origem Quíchua, significa campo de caça.

No território do Grande Chaco paraguaio, composto pela região leste e


norte deste país até as margens ocidentais do rio Paraguai, viviam os
Guaicurus antes da colonização espanhola. O Pantanal era extensão Norte do
Grande Chaco. A guerra entre Paraguai e Bolívia, de 1932 até 1940, acabou
por definir limites do pântano na fronteira sul da grande inundação sazonal. O
termo "Libertadores do Chaco", muito usado no Paraguai, tem laureado nos
esportes o que foi esquecido nos livros de História Geral Mundial.

A batalha de "Boquerón” foi uma batalha travada de 7 a 29 de setembro


de 1932 entre os exércitos da Bolívia e do Paraguai dentro e ao redor da
fortaleza de Boquerón. Foi a primeira grande batalha da sangrenta Guerra. O
posto avançado de Boquerón, entre outros, havia sido ocupado por tropas
bolivianas desde o final de julho de 1932, seguindo as instruções do
presidente do Presidente Daniel Salamanca, o que levou à escalada do que
começou como um conflito de fronteira para uma guerra em grande escala.
Guerras à  parte, a história dos povos guaicurus, guarani, terenas e
principalmente do povo pantaneiro paiaguás foi destroçada por estes conflitos,
restando a sua cosmologia ancestral nas diversas manifestações espalhadas
no território baixo do Pantanal.
PENSAR SIMPLES

A ação deve seguir o pensamento, mas a meditação precisa nortear o


fazer com perfeição, pois o silêncio interior ajuda como prumo na construção. A
pedra desprezada tem sido de valia para a Ciência. Descobriu-se que a
meditação é cura, redenção e alimento para o coração, cérebro, corpo, mente e
para a saúde espiritual.

— Levar para a fase onírica, dos sonhos, os problemas têm sido a porta
para as soluções, das mais triviais às mais complexas questões da vida -
ensinou Megaron. Até a procriação indígena é levada para a fase dos
sonhos, segundo o xamã em Aconcágua no último encontro dos Bruxos de Sud
América.

As riquezas recebidas em sonho são como filhas de nossa criação


mental, pois passam pela gestação, multiplicam em células, criando um
conjunto perfeito e nascem, suprindo nossa necessidade e depois nos dão
aborrecimentos, na sua administração, na adolescência produtiva e no seu
término ou dissolução.

As redes de dormir o casal do Xavante, nas núpcias, e na fase de


procriação, são sobrepostas, de modo a permitir a cópula reprodutiva durante o
sonho inspirado por espíritos da floresta. A ideia do prazer no sexo não existe
como estímulo, mas como consequência.

Assim, todo o problema levado para a cama deve ter como Norte o
serviço à humanidade, nunca deleite ou luxúria. Atenção plena no período
último que antecede o sono parece ser a técnica de trazer à existência os
melhores espíritos às nações.

Igual valia e acerto tem a Atenção Plena no tangente à materialização de


objetivos materiais, mesmo nas conquistas mais simples, e na criação mental,
consonante o princípio de Hermes Trismegisto de que "Tudo É Mental". O
pensamento cria, a visualização emoldura num quadro mental claro e definido,
mas o que concretiza é a persistência nos hábitos de já viver a plenitude da
realização. Desde este livro até o robô que desceu em Marte, tanto o Jeep
quanto helicóptero "Ingenuity", da NASA, ativado com sucesso em Marte são
concepções do metalismo.

A criação mental sofre o mesmo processo da fecundação natural, pois


resulta da propulsão volitiva do desejo, da introdução incontrolável e
automática no triângulo valvular, pelo falo, na explosão interna, na perfuração
do ovo zigoto, pelo melhor projeto de vida e finalmente, na concepção da vida
nascida do desejo ou do amor.

A criação mental deve preceder toda a iniciativa que se queira com


sucesso. O acontecimento de improviso tende a não acabar em realização,
assim como nunca termina em casamento duradouro os relacionamentos
conflituosos.
TODA CRIAÇÃO BUSCA O SUCESSO

A simples observação da natureza melhora o padrão de sua


produtividade. Observe no seu quintal um pé de frutas, em árvore, como
Jabuticaba, ou seu equivalente mundo afora, como as cerejeiras, ou em rama,
rastejante, como melão de São Caetano. Verá a multiplicação acontecer assim
que seu plano mental for elaborando novos tamanhos ou números maiores de
frutos.

Rivadavia de Ambrósio cultivava uma gravidez aos 60 anos de idade. 


Acreditando que o pai era Arquimedes Mendes, de uma 40 anos, que vivia nas
terras de Vicente Barbudo, um místico, que recebia visitas e orientações de
extraterrestres. Além da gravidez longeva e tardia, Rivadávia cultivava uma
alegria contagiante e ingênua, mas também rosas vermelhas em profusão.

Arquimedes era o pai ausente, pouco vinha à cidade, pois acreditava


nos diamantes mais que no amor. Era um garimpeiro de lagoa, traduzido como
cachaceiro, endividado e irresponsável, saindo da cidade para escapar das
contas.

— Não adiantou "di nada" - constatou Rivadávia durante o velório de


Arquimedes Mendes, pois o Tiagão Silvestre foi lá e matou seu devedor a tiros
de mausa, uma bereta de mão, sob a alegação que munição da "parabélum"
andava à beira da morte, depois que o Lourenço passou a proteger só um
traficante de arma naquela praça.

Enterrado Arquimedes, Rivadavia continuou plantando e podando suas


lindas rosas, mas da gravidez o povo é que não esquecia. Já beirava 8 meses
quando o pai do nascituro morrera. Vish, o que vai nascer daquele ventre?
Contudo, a falsidade era tão grande que a grávida não era contrariada.

No aniversário de um ano da morte do marido, o mundo desabou para


Rivadávia das rosas, a criança não veio ao mundo, e a própria parturiente
exasperou-se com a situação. Foi procurar o médico e a notícia calou fundo na
alma dos viventes na Vila da Biquinha.
Estupor, medo, cisma e superstição em cada olhar, nos diálogos
desinteligentes, mas a verdade é que criança faleceu no mesmo dia que
Arquimedes e o feto não desintegração, nem diluía no líquido amniótico da
sexagenária.

Há uma matéria escura que não deixou o bebê diluir, como na lagoa em
que Arquimedes foi achado boiando com sal e em posição de decúbito frontal.
Mais crendices e mais dinheiro entrando nos bolsos religiosos. Era um tal de
orar com mãos postas sobre o velho útero de Rivadavia, com a cega intenção
de fazer a criança escurecida de CO2 nascer ainda, pelo fenômeno que
representava.

A vida, porém, tem brechas em busca de despontar e a grande senhora


mãos de fada para rosas acabou por fazer toda a diferença, consentindo que a
Ciência estudasse sua gravidez longínqua, descobrindo-se então que a
"criança" vista nos exames tinha constituição de carcinoma no útero, com a cor
escura e o formato alongado, nunca estivera grávida, o que permitiu uma
sobrevida de vinte anos felizes com suas rosas e seus amores à excepcional
mulher Rivadávia de Ambrósio. Era psicológica e real a existência do simulacro
fetal, portanto, sem culpa e nem mistérios do além, apenas coincidências. Se
não há coincidência houve similaridade.

AGRADECIMENTOS

Aos grandes espíritos da Floresta Úmida do Xingu. Ao amigo


Kokoti, Tim Kamayurá, Amanauá Seús, às mulheres e homens do povo
Wetti, Waurá, Kavapalo, Kuikuro, Mehinako, Awás Canoeiros, Tucanos,
Aruak- Apurinã; Bakairis, antigos moradores do Xingu, hoje em Nobres,
aos índios A`uwês - Xavantes, povo autêntico do cerrado, aos ancestrais
Xukurus, Fulni´ôs, Karijós, aos espíritos dos Tamoyos, Tupis, Cheyenes.
Aos amigos do povo Guarany, tanto no Xingu, quanto em São Paulo,
como no Paraguay, uma segunda Pátria amada.

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