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A EC0ll0I]1iA
AÇUC~!AA
José Antônio Gonsalves de Mello
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R I 50 Anos
R ESTAL
A ECONOMIA AÇUCAREIRA
I
O Anos
8
JOSÉ ANTÔNIO GONSALVES DE MELLO
A ECONOMIA AÇUCAREIRA
I
za edição
Ap{esent;ação
DORANY SAMPAIO
GOVERNO DE PERNAMBUCO
RECIFE I 2004
Copyright© J. A. Gonsalves de Mello
Marcelo Maciel
Presidente
A/tino Cadena
Diretor de Gestão
Rui Loepert
Diretor Industrial
Samuel Mudo
Gerente da Gráfica e Editora
Equipe de Produção:
Elizabete Correia, Emmanuel Larré, Geraldo Sant'Ana,
jose/ma Firmino, josilene Corrêa, Ligia Regis, Lourdes Duarte,
Luiz Arrais, Norma Baracho, Roberto Bandeira e Zenival.
F683 Fontes para a história do Brasil holandês : a economia açucareira I [tex·
tos editados por] José Antônio Gonsalves de Mello ; organização e
estudo introdutório Leonardo Dantas Silva ; apresentação Dorany
Sampaio. - 2. ed.- Recife : CEPE, 2004.
v.l- (Série 350 anos. Restauração pernambucana ; 8)
v
1 - WATJEN, Hermann. O domínio colonial holandês no Brasil-
Um Capítulo da história colonial do século XVII. Tradução de
Pedro Celso Uchoa Cavalcanti.
2- CALADO, Frei Manoel. O Valeroso Lucideno e triunfo da li-
berdade. (2 volumes)
3 - BOXER, Charles Ralph. Os holandeses no Brasil. Tradução de
Olivério Mário.
4 - RICHSHOFFER, Ambrósio. Diário de um Soldado da Compa-
nhia da Índias Ocidentais. 1629-1632. Tradução de Alfredo de
Carvalho.
5 - SANTIAGO, Diogo Lopes. História da Guerra de Pernambuco.
Edição integral segundo apógrafo da Biblioteca Municipal do
Porto. Inclui índice onomástico.
6 - MELLO, José Antônio Gonsalves de. Fontes para História do
Brasil Holandês- Economia Açucareira e Administração da
Conquista. (2 volumes)
Dorany Sampaio
Secretário Chefe da
·Assessoria Especial do Governador
VI
COMISSÃO ORGANIZADORA DOS FESTEJOS DO 350º
ANIVERSÁRIO DA RESTAURAÇÃO PERNAMBUCANA
Dorany Sampaio
Presidente
Valdênio Porto
Presidente da Academia Pernambucana de Letras
VII
Preâmbulo
IX
Gonsalves de Mello e Maria Dulce Gonsalves de Mello, filhos do
professor José Antônio Gonsalves de Mello, para os quais reservo os
meus agradecimentos pela continuidade da divulgação da obra de
tão importante figura de nossa historiografia contemporânea.
Recife,
Nossa Senhora do Rosário da Torre,
·19 de agosto de 2004.
X
Estudo introdutório
O Açúcar,
no Brasil Holandês
XI
O Engenho
XII
Escravidão: o açúcar amargo
XIII
Na estimativa de Vitorino Magalhães Godinho3 , citado por
José Ramos Tinhorão, foram importados como escravos berberes,
árabes e negros africanos, entre 1448 e 1505, de 136.000 a 151.000
indivíduos. 4
Em Portugal, foram os escravos, inicialmente, destinados aos
serviços domésticos e logo em seguida passaram a ser usados na
florescente lavoura da cana-de-açúcar nas ilhas da Madeira, Açores e
Cabo Verde.
Na América, a escravidão foi introduzida pelos espanhóis com
os descobrimentos, havendo indícios de que nas naus comandadas
por Cristóvão Colombo, em 1492, já houvesse escravo; 5 com
regularidade, porém, a importação de negros só foi introduzida pelos
espanhóis, a partir de 1501, em São Domingos. No Brasil, se comprova
a existência de escravos a partir de 1531, na Capitania de São Vicente.
Em Pernambuco, em carta escrita em 1539, dirigida ao rei D.
João III, o donatário Duarte Coelho Pereira solicita autorização para
a importação direta da costa da Guiné de 24 negros, a cada ano,
quantidade que seria aumentada por D. Catarina, em 1559, para
120, mediante o pagamento de uma taxa reduzida, nada impedindo
que outros negros aqui chegassem por outros caminhos. No
testemunho dos jesuítas Antônio Pires (carta de 4 de junho de 1552)
e José Anchieta (1548), era comum a existência de escravos negros
e índios em Pernambuco; a escravidão dos índios durou até o século
XVII, quando foi extinta pela Bula do Papa Urbano VIII, de 22 de ·
abril de 1639.
Toda a economia açucareira veio a ser sustentada por braços
cativos, introduzidos pelo colonizador com o beneplácito dos Reis de
Castela e da Igreja Católica. Os escravos eram todos vistos como
mouros e, como tais, "infiéis", para os quais o Papa Eugênio IV
autorizou o "direito" de cativar. Justificava a Igreja de então, através
de seus teólogos, que sobre os africanos de todas as raças recaía o
preceito bíblico que, descendendo de Cã, estariam condenados à
escravidão; como acentua o padre Manuel da Nóbrega: Nasceram
com este destino "que lhes veio por maldição de seus avós, porque
estes cremos serem descendentes de Cã, filho de Noé, que descobriu
XIV
as vergonhas de seu pai bêbado, e em maldição e por isso ficaram
nus e têm outras mais misérias". 6
Em 1570, calculava-se que viviam no Brasil entre 2000 e 3000
negros trabalhando na lavoura da cana-de-açúcar. O número de
escravos cresceu assustadoramente, quando, segundo alguns autores,
se constata no final do século XVI a importação de 30.000 negros da
Guiné para servirem nas lavouras da Bahia e de Pernambuco. No
apogeu da produção do açúcar, no século XVII, foram importados
cerca de 500.000 negros, em sua maior parte, antes de 1640.
A escravidão do negro, na observação de Pedro Calmon, era
só questão de começo:
6 - NÓBREGA, Manuel da. Diário sobrr? a conversão do gentio; ed. do padre Serafim
Leite. Lisboa 1954.
7- CALMON, Pedro. História do Brastl. Rio, 1979. v. 11. p. 346.
XV
No Brasil Holandês
XVI
comércio negreiro, conquistando as fortalezas de São Jorge da Mina
(1637) e São Paulo de Luanda (1641), em Angola, onde adquiriam os
seus escravos na maioria das vezes em troca de gêneros e utensílios
diversos.
Entre 1630 e 1654, a importação de negros da costa da África
passou a ser monopólio exercido pela Companhia das Índias
Ocidentais.
Segundo Hermann Watjen, in O Domínio Colonial Holandês
(1938) 10 , citado por José Antônio Gonsalves de Mello, os negros
eram comprados na Guiné por quantias que variavam entre 12 e 75
florins e em Angola entre 38 e 55 florins, sendo vendidos no Brasil
por 200 a 300 florins por peça - alguns por vezes alcançavam o
dobro desses preços -; acrescentando ainda, o autor de Tempo dos
Flamengos, uma informação deveras curiosa:
XVII
23 de julho de 1643, dos quais 1.524 faleceram;
aproximadamente uma quarta parte dos embarcados.
Resultado das más acomodações e da falta que se deve
considerar indíspensdvel. 13
XVIII
algumas ocasiões atingir o valor de 100 libras esterlinas, é possível
montar uma equação entre o preço do negro e a produção dos
engenhos. Segundo a mesma fonte, essa importação de mão-de-obra
escrava teve um custo estimado em 40,9 milhões de libras esterlinas,
para uma produção açucareira de 400 milhões de libras esterlinas, no
período de 1600 a 1850.
Temos assim a verdadeira africanização do Brasil, herança
que nos foi imposta por Portugal, que, no dizer de Joaquim Nabuco,
"é uma nódoa que a mãe pátria imprimiu na sua própria face, na sua
língua, na única obra nacional verdadeiramente duradoura que
conseguiu fundar".
Sobre a escravidão comenta com muita propriedade o
historiador Alberto Vieira:
XIX
A inadaptação do holandês
XX
muito acostumados ao trabalho e os holandeses de negros
inexperientes".
O próprio Conde de Nassau, em parecer ao Conselho dos
XIX, em 1646, recomenda para os devedores um edital de perdão
geral, "porque a conquista do Brasil sem os portugueses trará poucas
vantagens para a Companhia":
XXI
O Senhor-de-Engenho
Na sociedade colonial açucareira, mesmo durante o Brasil
Holandês, era o senhor-de-engenho a figura de maior destaque,
verdadeiro senhor feudal transplantado da Europa e adaptado às
condições dos trópicos, onde integrava a chamada nobreza da terra.
Eram os da sua classe possuidores de privilégios, concedidos pelos
reis de Portugal e Espanha, com tratamento especial dentro das
Ordenações do Reino, como demonstra a carta da Câmara de Olinda
dirigida ao conde João Maurício de Nassau em 1637.
Para Antonil, em Cultura e opu/Oncía do Brasil por suas drogas
e minas, livro clássico publicado em 1711, "ser senhor de engenho é
título a que muitos aspiram, porque traz consigo ser serotdo, obedecido
e respeitado por muitos'.
XXII
em lavrador de canas, o pastor Daniel Schagen, veio a ser objeto das
críticas do reverendo Vicente Soler; em vez de cultivar os campos do
Senhor, deles retirando às ervas daninhas, cultivava as terras dos seus
campos.
Um desses senhores tornou-se fundador de uma das famfiías
de Pernambuco, Gaspar van Niehof van der Ley. Adquiriu ele o engenho
Algodoais, no Cabo, seguindo-se depois dos engenhos Utinga de
Cima e Utinga de Baixo, então arruinados com a guerra. Seduzido
pela terra, quase não se ausentava do seu engenho Algodoais e
"raramente aparecia no Recife, onde, aliás, era pessoa acatada". Foi
casado com uma pernambucana, filha de Manuel Gomes de Mello,
senhor do engenho Trapiche e descendente do tronco da famfiia dos
Mello. Desse matrimônio, surgiu em Pernambuco a família Wanderley.
Outro holandês que criou raízes em Pernambuco foi o médico
Servaas Carpentier (Aachen, 1599- Recife, 1646) que, apesar de figura
de destaque no Conselho Político e membro influente do governo do
Recife, abandonou tudo para dedicar-se à vida de senhor do engenho
Três Paus, em Goiana. Obrigado a voltar ao Recife, pela insurreição
de 1645, vem a falecer no ano seguinte, sendo sepultado na igreja do
Corpo Santo.
Em meio da classe dos senhores-de-engenho surge o nome de
uma mulher, Dona Anna Paes (1612-1678), que em 1630 era casada
com o capitão Pedro Correia da Silva, morto quando da defesa do
Forte São Jorge, por ocasião da invasão, em fevereiro de 1630. Viúva
ainda jovem, Anna Paes veio novamente a casar com o capitão
holandês Charles de Tourlon, oficial da guarda pessoal do conde de
Nassau, continuando a residir em seu engenho em Casa Forte. Em
1643, acusado de crime de traição, foi Charles de Tourlon preso e
remetido de volta à Holanda, tendo falecido na Zelândia em 18 de
fevereiro de 1644, sem jamais rever sua mulher e filhos. Novamente
viúva, Anna Paes toma a casar com o conselheiro Gisbert de With, do
Conselho de Justiça, em companhia de quem se transfere para a
Holanda e onde vem a falecer em 1672.
Mulher instruída, dela se conhece uma carta endereçada ao
Conde de Nassau, na qual oferece a dádiva de "seis caixas de açúcar
branco"; cada caixa de açúcar pesava em média 20 arrobas, ou seja,
300 quilos. Divulgada pela primeira vez por José Higino Duarte Pereira,
no n. 11 30 da Revtsta do Instituto Arqueológtco Pernambucano (Recife,
1886), a carta em questão, devidamente traduzida para o português
em uso nos nossos dias, teria o seguinte teor:
XXIII
limo. Snr. - Como nós devemos toda a obediência a
nossos superiores tanto mais a vossa excelência de
quem temos recebido tantas honras e mercês, assim
que este ânimo me faz tomar atrevimento de pedir a
vossa excelência queira aceitar seis caixas de açúcar
branco, perdoando-se vossa excelência o atrevimento
(que meu ânimo é de servir a vossa excelência) e fico
pedindo que Deus aumente a vida e estado de vossa
excelência para amparo de suas cativas. De vossa
excelência a muito obediente cativa Dona Anna Paes.
XXIV
Em poucos anos, tornou-se Vieira proprietário de cinco
engenhos (1645): do Meio, Sant'Ana, Ilhetas, Nossa Senhora do Rosário
(depois mudado para São João) e Santo Antônio.
Até 1638, fora ele o feitor-mor dos três primeiros engenhos,
até então pertencentes ao conselheiro Jacob Stachhouwer em sociedade
com Nicolaes de Rideer. Retornando Stachhouwer, naquele ano para
Holanda, ficou Vieira "como seu procurador bastante", vindo depois
assumir os débitos contraídos pelos dois sócios quando da compra
das propriedades à Companhia das Índias Ocidentais.
Casou-se em 1643, com Dona Maria Cezar, uma menina de
pouco mais de treze anos, filha do lavrador de canas Francisco
Berenguer de Andrade e da sua primeira mulher D. Joana de
Albuquerque, descendente pelo lado materno da união do primeiro
Jerônimo de Albuquerque, o velho, com a índia tabajara Maria do
Espírito.
Em 1642, a dívida de Vieira para com a Companhia era estimada
em 219.854 florins; depois do tratado de paz entre Portugal e a Holanda
(1661), ele figurava em segundo lugar na lista de devedores dos
brasileiros à Companhia das Índias Ocidentais, com o débito de 321.756
florins. Na verdade João Fernandes Vieira nada pagou aos seus
credores, afirmando no seu Testamento que os chefes holandeses
"são devedores de mais de 100 mil cruzados [. .. ] de peitas e dádivas a
todos os governadores [. .. ] grandiosos banquetes que ordinariamente
lhes dava pelos trazer contentes". Ao faleçer, em O linda, a 10 de
janeiro de 1681, era ele proprietário de 16 engenhos e muitos currais
de gado.
Em 1642, eram os senhores-de-engenho os grandes devedores
da Companhia, segundo informa o próprio Conde de Nassau,
estimando a dívida global em 75 tonéis de ouro, o que representava
7,5 milhões de florins; dois anos depois, a dívida já alcançava a
elevada importância de 130 tonéis de ouro, correspondentes a 13
milhões de florins. Mas a Companhia continuou a ajudá-los
financeiramente, facilitando a construção dos engenhos Aratangi, de
Miguel Fernandes de Sá; Sibiró de Baixo, de Francisco Soares Cunha;
ou pagando dívidas particulares de alguns senhores, como Jorge
Homem Pinto, da Paraíba, João Carneiro 'de Mariz, de Ipojuca, e
Dona Catharina de Albuquerque, do engenho Santo Antônio da
Muribeca. 17
17 MELLO, José Antônio Gonsalves de. Tempo dos Flamengos. Op. cit. p 169
XXV
O Conde de Nassau, em cujo governo a produção do açúcar
ascendeu de 65.972 arrobas (1637) para 282.286 arrobas (1643), chegando
até a 447.562 arrobas em 1641, concedeu, no seu governo, especial
apoio aos produtores. Compreendendo o risco para a segurança do
Estado, aconselhava ele em seu Testamento Político (1644) que "convém
proceder com brandura em relação aos lavradores e aos senhores-de-
engenho", antevendo assim a revolta que começava a fermentar no
âmbito da indústria do açúcar.
Foi dessa classe, liderada por João Fernandes Vieira e André
Vidal de Negreiros, que partiu o movimento, por eles denominado de
Insurreição Pernambucana, para pôr ftm expulsar por fim ao Brasil
Holandês. Tal movimento, iniciado no engenho São João da Várzea,
em 13 de junho de 1645, tinha por senha a palavra açúcar.
Reunidas às forças luso-brasileiras, formadas pelos terços de
Vieira, André Vidal de Negreiros, os índios de D. Antônio Filipe Camarão
e os negros de Henrique Dias, os luso-brasileiros foram à luta contra as
tropas holandesas. Seguiram-se das vitórias dos nossos em Tabocas e
Casa Forte, respectivamente a 3 e 17 de agosto de 1645, epopéia depois
coroada nas duas batalhas dos Montes Guararapes, 1648 e 1649,
antecedendo a rendição do Recife em 27 de janeiro de 1654.
Constata, porém, José Antônio Gonsalves de Mello que "a
insurreição de 1645 foi preparada por senhores-de-engenho na sua
maior parte devedores a flamengos ou a judeus da cidade. Foi
nitidamente um levante de elementos rurais, no qual tomaram parte,
negros escravos, lavradores, pequenos proprietários de roças,
contratadores de corte de pau-brastl, e outros". 18
Com a rendição dos holandeses, em 1654, ficaram as capitanias
de Pernambuco, Itamaracá e Paraíba com a sua agroindústria açucareira
abalada por uma guerra sem tréguas, que destruiu os seus engenhos,
provocou a fuga de grande parte da escravaria e até de algumas
famílias que tiveram de buscar abrigo em terras da Bahia.
Em contraponto, porém, os preços do açúcar alcançaram a
sua melhor fase, na praça de Amsterdã, entre os anos de 1650 e 1659.
A partir da{, com a entrada no mercado internacional do açúcar
produzido pelos engenhos localizados nas ilhas do Caribe, alguns
deles oriundos de Pernambuco, o preço do produto foi decaindo,
chegando a valer apenas um terço do que fora antes no decênio
compreendido entre 1680-89. No decênio seguinte (1690-99) registra-
XXVI
se uma recuperação modesta, ficando os preços do açúcar equivalentes
a dois quintos dos obtidos entre 1650-59.
É desta época o surgimento, dentro da classe dos senhores de
engenho, de uma doutrina nativista gerada no calor das lutas contra
os holandeses. Segundo o discurso da chamada "nobreza de Olinda",
nos anos que vieram anteceder a chamada Guerra dos Mascates (1710),
a Restauração Pernambucana fora conquistada à custa do nosso
sangue, vida efazendas sendo Pernambuco, juntamente com as demais
capitanias ocupadas pelo Domínio Holandês, entregue ao Rei de
Portugal debaixo de certas condições.
Na interpretação de Evaldo Cabral de Mello, passou a ser
doutrina entre os pernambucanos, ao longo dos séculos que se
sucederam, o entendimento de que "a gente da terra deveria à Coroa
não a vassalagem 'natural' a que estariam obrigados os habitantes do
Reino e os demais povoadores da América Portuguesa, mas uma
vassalagem de cunho contratual, de vez que restaurada a capitania,
haviam-na espontaneamente restituído a suserania portuguesa" .19
XXVII
José Antônio Gonsalves de Mello, em Castelo de Vide, segundo fotografia tomada
pelo escritor Leonardo Dantas Silva, quando das suas viagens a Portugal em
companhia do historiador.
FONTES PARA A HISTÓRIA
DO BRASIL HOLANDÊS
A ECONOMIA
AÇUCAREIRA
Introdução .................................................................... 7
Documento 1 Introdução ................................................. 15
Documento 1 Lista do que o Brasil pode produzir
anualmente. (1623) ................................... 19
Documento 2 Introdução 21
Documento 2 Açúcares que fizeram os engenhos
de Pernambuco, Ilha de Itamaracá
e Paraíba - ano de 1623 ........................... 28
Documento 4 Introdução 47
Documento 4 Inventário, na medida do possível,
de todos os engenhos situados ao
Sul do rio da Jangada até o rio Una,
feito pelo Conselheiro Schott. .. ................ 51
7
É certo, ainda, que vários textos básicos estão publicados
muito defeituosamente, fato do conhecimento de quem se
empenhou em reunir em uma série intitulada - Documentos
para a História do Nordeste, editada pela Universidade Federal
de Pernambuco - e em outras publicações avulsas, textos até
então publicados com graves erros de leitura paleográfica (o
caso das cartas de Duarte Coelho), ou incompletos (o caso dos
Diálogos das Grandezas do Brasil e da História da Guerra de
Pernambuco de Diogo Lopes de Santiago) ou a necessitar de
crítica e de reconstituição textuais (o caso do foral de Olinda). A
enumeração de textos defeituosos aqui feita está longe de
completa e não se limita apenas à história pernambucana e
nordestina.
Os documentos agora publicados foram escritos, na quase
totalidade, em língua holandesa e foram traduzidos para o
português em épocas diversas; em todos os casos foram essas
traduções revistas, visando-se sobretudo a fazê-las o mais fiel
possível à redação original, pois que com a mais exat4
equivalência ao texto original pode a tradução ser utilizada como
fonte segura de informação histórica.
A documentação aqui incluída revela o interesse holandês
pela produção açucareira, o qual explica em larga parte a
iniciativa holandesa da conquista do Nordeste. Desde fins do
século XVI iniciou-se e ampliou-se no começo do seguinte a
participação holandesa no transporte do açúcar do Brasil para o
Norte da Europa, depois de beneficiado nas refinarias que
começaram a surgir em número avultado nos Países Baixos. Essa
participação crescente do açúcar brasileiro na economia holandesa
explica a ação militar da Companhia das Índias Ocidentais contra
a Bahia e Pernambuco. A Trégua dos Doze Anos (1609-21)
permitiu considerável aumento no comércio direto da Europa
do Norte com o Brasil, ou indireto, via Portugal; e desse aumento
dá testemunho o número de refinarias instaladas em cidades
holandesas, em especial na de Amsterdã. Certo documento dessa
origem, a "Exposição relativa ao inicio e progresso da navegação
e comércio do Brasil" (sem data, mas que se conserva entre
papéis de 1622, logo após o fim da Trégua) recorda:
8
"Durante os referidos doze anos ampliou-se
tanto a navegação e o comércio que, anualmente, mais
de 10, 12 e 15 navios eram aqui construídos e
aparelhados para isso e conduziam de Portugal para
cá, todos os anos, 40 a 50.000 caixas de açúcar, além
do pau-brasil, gengibre, algodão, couros e outros
gêneros que, em grande quantidades, procediam do
Brasil, com destino às cidades de Viana e do Porto; e
calcula-se que mais de três quartas partes (sendo a
metade de Lisboa) dali foram trazidos para cá em navios
nossos, durante a Trégua, sendo que agora {fmda ela}
é conduzido para cá nos mesmos navios, mas sob
disfarce de nomes franceses, ingleses e hanseáticos.
E tudo se passou com tanta felicidade para
nós que, no dito tempo dos doze anos, todas as
caravelas portuguesas que costumavam conduzir os
açúcares deixaram de fazê-lo pela comodidade dos
nossos navios e incorporamos a metade senão três
quartas partes dessa navegação, tudo sob a direção
dos nossos correspondentes em Portugal, sob disfarce
de nomes portugueses, os quais tinham conosco
participação nesse comércio. {. ..}
E o que sobretudo se deve considerar, como o
mais notável proveito que este país retirou desse
comércio, foi a refinação do açúcar, que de 3 ou 4
que existiam há 25 anos são agora 25 refinarias
somente na Cidade de Amsterdã, uma em Delft, duas
em Midelburgo e uma no interior, na aldeia de
Wormer, as quais refinam muitas mil caixas de açúcar,
sendo 1.500 caixas apenas em uma delas." 1
1-J.W. Ijzerman , ]oumael van de reis naar Zuld-Amerika 1598-1601) door Hendrik
Ottsen (Haia, 1918) pp. 100 e 103.
9
com sua reconhecida competência na história desse período,
resume assim o problema e a decisão das autoridades
holandesas:
10
Holanda para a fundação daquela Companhia. Evaldo Cabral
de Mello, com sua autoridade conquistada em livro fundamental
neste campo, escreveu que "as guerras holandesas foram
inegavelmente guerras do açúcar".
Evidência do interesse holandês pela produção de gêneros
exportáveis pelo Brasil para o mercado europeu- e, muito em
especial, pelo açúcar - é a que se recolhe de um cálculo do
rendimento daqueles gêneros e da capacidade de produção de
açúcar pelos engenhos do Nordeste em 1623, publicado em uma
folha impressa nos Países Baixos por volta dos anos de 1636-37.
Segundo aquele cálculo aqui existiam, em 1623, 137 engenhos,
que produziam 700.000 arrobas de açúcar: ver o documento I.
Do mesmo ano de 1623 é uma relação do número e da
produção por unidade dos engenhos de Pernambuco, Itamaracá
e Paraíba, organizada por um Judeu português estabelecido em
Amsterdã, mas com experiência brasileira, a qual confirma o
número de 137 engenhos (embora relacione 135) e uma produção
de 659.069 arrobas. Essa relação encontra-se anexa a um memorial
apresentado aos Estados Gerais dos Países Baixos, sem data,
mas que a evidência interna permite atribuir aos últimos meses
do ano de 1636: é o documento li deste volume.
Depoimento valioso acerca do Nordeste ao tempo da
invasão holandesa e redigido no próprio ano de 1630 é a Memória
oferecida ao Conselho Político (que era o órgão máximo de
governo da região conquistada) pelo "belga" Adriano Verdonck,
aqui residente desde 1618: documento III. As referências acerca
da área açucareira, quer do ponto de vista da localização
geográfica, quer do da história social, merecem atenção.
O desembarque holandês em Pernambuco e a
conquista dos dois núcleos urbanos de Olinda e do Recife
foram facilmente conseguidos. Mais lenta e difícil foi a ocupação
da zona da mata, somente alcançada na sua maior e melhor
parte em 1635, após a rendição do Arraial Velho e do Forte de
Nossa Senhora de Nazaré, no Cabo Santo Agostinho. Vencida
essa resistência, os holandeses exploraram a vitória, estendendo
seu domínio ao sul da Capitania até Porto Calvo. A guerra deixou
essa área assolada: casas-grandes abandonadas, "cobres" fur-
11
tados ou transportados para longe, canaviais incendiados, escravos
fugidos. O Conselheiro Político Willem Schott, designado para
dirigir aquela área, percorreu-a toda, visitando os engenhos e
fixando as condições em que encontrou cada um. São valiosos
os informes que nos deixou em um relatório de 1636, ainda
inédito, aqui publicado como documento IV.
Desde 1636 o governo holandês de Pernambuco iniciou
a restauração da economia açucareira, arrendando engenhos e
animando possíveis candidatos a senhor de engenho e a lavrador
de cana a retomar as atividades agrícolas e industriais. Somente
no ano seguinte, com a presença do Conde de Nassau, é que se
deu início à venda das propriedades abandonadas por seus
proprietários e por isso confiscadas pela Companhia das Índias
Ocidentais. Como o açúcar encontrava em Amsterdã preços
excepcionalmente favoráveis, não foram poucos os holandeses,
Judeus e luso-brasileiros que se apresentaram como compradores
de engenhos e de partidos de cana; os mercadores facilitaram
créditos para a recuperação das propriedades. Em 1637 procedeu-
se ao primeiro levantamento regional dos engenhos e das
condições em que se encontravam. Informações que constam
do primeiro relatório geral organizado na administração do
Conde, datado de 14 de janeiro de 1 638, mais conhecido pelo
título que recebeu de seu próprio redator, "Breve Discurso",
documento V.
O levantamento regional dos engenhos prosseguiu e, de
1639, é o mais importante relatório elaborado ao tempo do
governo do Conde, o qual, embora apresentado às autoridades
da metrópole por Adriaen van der Dussen e no seu nome
individual, é claramente o resultado de um trabalho da
administração pública: documento VI. Aqui estão relacionados
121 engenhos, ao passo que o "Breve Discurso" registrou 106.
Para uma visão final do período de ocupação, que
vai de 1630 e 1654, o Traslado ou relação dos engenhos,
elaborado em 1655, nos deixa ver a situação das fábricas
de açúcar ao fim da guerra. Embora não inclua senão as
propriedades situadas da Várzea do Capibaribe para o sul
da Capitania, contém referência a 109 engenhos, dois a
12
menos que os registrados na área pelo relatóiro de Van der
Dussen. É o documento VII desta coletânea.
Outros documentos e informações, visando a
complementar os textos publicados, foram incluídos como
Apêndices: o 1º contém a tabela de preços do açúcar no Recife e
em Amsterdã na primeira metade do século XVII e a cotação em
bolsa das ações da Companhia das Índias Ocidentais; o 2Q, uma
avaliação de 1637, do rendimento da economia açucareira ao
tempo da sua "antiga florescência", isto é, antes da invasão; e o
3Q onde se inclui o regimento dado aos feitores-mores dos seus
engenhos por João Fernandes Vieira em 1663.
13
DOCUMENTO I
15
ções relativas ao ano de 1623- provavelmente as únicas dispo-
níveis ao autor- o folheto não pode ter sido impresso em 1625,
devendo ser atribuído ao ano de 1635 pelo menos, pois no
último parágrafo do texto está referido não só que aquelas
Capitanias estavam conquistadas pelas armas da Companhia das
Índias Ocidentais, como indicava a conveniência de proceder-se
à restauração dos engenhos arruinados em decorrência da guerra
e ao povoamento da terra "com gente destes países", prosse-
guindo-se ainda com a guerra ofensiva.
Não é de estranhar que uma publicação de cerca de 1635
utilize informações em relação à produção econômica do Brasil velhas
de mais de dez anos; a mesma cousa ocorreu com o memorial de
José Israel da Costa, escrito por volta de 1636 e que utiliza igualmente
informações relativas ao ano de 1623: ver doc. li desta coletânea.
Segundo o autor anônimo da Lista, nas três Capitanias de
Pernambuco, Itamaracá e Paraíba (ele menciona apenas as de
Pernambuco e da Paraíba, omitindo, certamente por descuido, a
que estava situada entre uma e outra) os 137 engenhos de açúcar
aí existentes produziram no ano de 1623 os seguintes totais:
16
novos direitos: sobre 20.000
caixas
de açúcar branco
florins 280.000
sobre 10.000 caixas
de mascavado 105.000
sobre 5.000 caixas
de panela 35.000 " 420.000
imposto de comboio: não cal-
culado
17
DOCUMENTO 1. TEXTO.
19
o que calculadame nte produz o seguinte: (•)
por 20.000 caixas de açúcar
branco, a 14 florins por caixa
florins 280.000
por 10.000 caixas de masca-
vado, a 10 florins e 10 stuivers
(•) por caixa florins 105.000
por 5.000 caixas de panela, a
7 florins por caixa florins 35.000
(•) O groot (ou grootje) equivalia a um e meio stuiver; stuiver é a vigéssima parte
do florim.
20
DOCUMENT02
21
povoamento daquelas terras. A respeito da economia açucareira
e dos engenhos refere: 3
"As justiças da terra eram e são recomendadas do Rei
para que não molestem aos moradores, nem os apertem pelos
pagamentos, para com isso terem mais largueza para o muito
que se há mister para os que houverem de fazer engenhos ou
canaviais de açúcar.
"Com todos estes favores ditos e com se haver aumentado
de grã maneira dito Brasil, são as terras tão largas e seu distrito
que, sem encarecimento, é praça bastante para se fazerem Reinos,
por onde se deixa ver o que com a liberdade do negócio geral
poderá com o tempo seguir.
"Os engenhos de Capitania de Pernambuco até o ano de
1623 são 137, como parece da memória dos nomes deles. Para a
fábrica de cada um se há mister muito dinheiro, assim para
casas, tanto do engenho como de purgar, aonde se recolher os
açúcares que fazem, como para cobres, madeiras, ferragens,
carpinteiros, pedreiros, fôrmas, carros, servidores brancos, a quem
se dão bons salários e de comer cada ano, quantidade de lenhas
para arderem, caixões, bois, vacas, mantimentos, como se poderá
ver do rol que destes gastos se deu {não foi encontrado}, além
do custo de 70 escravos que deve ter cada engenho para o
serviço do açúcar e suas dependências e faltas dos que adoecem.
Isto se entende, tendo cana e tudo o mais necessário para moer
o tempo que se costuma, que são oito meses, começando em
julho e agosto. Estes negros são cativos e os compram dos
mercadores, que os mandam buscar a Angola por florins 200,
pouco mais ou menos, cada um; e se morrem muitos, por mais
açúcar que se faça, não podem levantar a cabeça. O serviço destes
é cousa incrível, porque o engenho bota a moer às 4 horas da
tarde a tarefa da cana (que assim se chama a ·quantidade que
deve moer naquele dia) e, sem parar toda a noite, vai cqntinuando
o serviço até o outro dia às 1O horas da manhã e logo se vão
limpando os vasos e, depois de descansarem quatro horas, tomam
a continuar e assim se vai seguindo toda a semana; e como o
trabalho está repartido, cada um acode ao seu; em acabando vão
dormir, a qualquer hora que seja, o pouco tempo que podem aven-
22
çar. E quem tivesse possibilidade para se revezarem seria do
proveito para os poupar, mas são poucos os cabedais que
alcancem ao que se há mister.
"De uma tarefa destas de cana, quando está madura e o
engenho é bom, se fará 70 arrobas de açúcar, que são 2.000 libras e
daqui para baixo, conforme as comodidades dos engenhos e terras.
Depois de cozido nas caldeiras se leva em fôrmas à casa de purgar,
onde estão 3, 4 meses, e depois se seca ao sol, apartando o branco
do mascavado e do xarope, que, purgado, se fazem os panelas.
"Por fazer este açúcar leva o senhor de engenho 1/2 do
rendimento dele e o xarope todo e o dono da cana outra metade;
e quando a cana é de partido do mesmo engenho, leva 3/5 e o
lavrador 2/5 ou 1/3, conforme os acordos; o xarope para os
senhores dos engenhos. 4•
"É tão grande o trabalho que se chama a um engenho
destes inferno e somente gente, como são estes negros, o podem
aturar, os quais também andam nus; pois se formos à comida
que lhes dão para passarem é uma pequena de farinha de pau
bem seca e algumas vezes por regalo uma sardinha, que é menos
que um arenque, e custa um-de-oito, um bocado de bacalhau e
a bebida não é outra que água. E naquelas poucas horas que
lhes ficam [aos negros] se querem mais buscam alguns cangrejos
do mato a legumes e não bastante tudo isto os castigam
rigorosamente, para que acudam a seu trabalho e como andam
nus os magoam demasiadamente e dizem é necessário assim,
porque de outro modo não seguiria a obra, nem eles teriam o
temor do branco que se requer, pois em um engenho destes quando
haja 8, 10 brancos é o mais e, muitas vezes, em uma fazenda de
canaviais, um só branco e 30, 40 e 50 escravos que lhe obedecem
e se não for este cruel serviço feito por eles e nessa forma e de
pouco gasto de mantimentos e nenhum vestido nem salários e
houvesse de ser por brancos valeria uma libra de açúcar três
vezes mais para se poder fazer. A cana que mói cada engenho,
tendo bom aviamento, serão 180 até 200 tarefas cada ano.
"Os lavradores também hão mister partida de
escravos; estes não têm ocasião de trabalhar de noite. Têm
cuidado de plantar a cana e três vezes no ano limpá-la e
ordinariamente visitar as faltas e enchê-las de novas plan-
23
tas, cortá-las ao tempo de se moer, fazer mandioca, que é a
farinha, e outros serviços semelhantes que nunca lhes faltam.
No tratamento e mantimentos deles é como os mais ditos. A
cana depois de plantada se vem a cortar dali a 19 meses e
assim para um lavrador haver de moer cada ano 50 tarefas é
mister que tenha praça para plantar 100, porque a que se corta
um ano não vem a servir senão para o outro, com que cada
engenho fica havendo mister 400 tarefas de praça para tirarem
as 200. Com os negros se tem particular cuidado, como cousa
que tanto lhes doa e têm tal natureza que se emperram e querem
morrer o fazem, se depressa lhes não acodem com fogo a abrir
a boca."
O autor, José Israel da Costa, diz e repete que viveu algum
tempo no Brasil, mencionando especificamente a Bahia: "na
Bahia aonde estive" e "diversas vezes vendi fazendas e
mantimentos naquelas partes". Talvez tenha obtido então a
relação dos engenhos de Pernambuco, Itamaracá e Paraíba do
ano de 1623, valioso documento que é o mais antigo do gênero
que existe sobre o Nordeste açucareiro.
A relação permite um estudo da produção dos engenhos,
levando em conta a observação dos Diálogos das Grandezas
do Brasil, cuja autoria é atribuída a Ambrósio Fernandes
Brandão, aliás citado na relação como senhor de três engenhos
na Paraíba. É certo que o ano de 1623 já revela os efeitos da
crise de 1619-22, estudada por Ruggiero Romano, e que se
reflete na queda do montante do contrato do dízimo do açúcar
da safra 1623-24. 5 Mesmo admitindo uma produção
planejadamente reduzida, vale a pena considerar o fato pois
quando se trata da economia açucareira fica esquecida essa
variedade de condições de engenho para engenho; que, ao
lado de casas grandes como a de Megaípe, por exemplo, quase
uma fortaleza de alvenaria, ou da do Engenho Noruega, um
"Escurial rústico", havia outras construídas de taipa, não de
pilão, mas de "sopapo", como nos revela uma tela de Frans
Post. Observação que já fiz ao comentar um livro valioso e
raro do século passado, a Estatística dejaboatão (Recife, 1857).
Lê-se nos Diálogos:
24
"Nos engenhos de fazer açúcares há muito grande
diferença dos bons aos maus, porque aqueles que gozam de
três cousas, quando seus senhores têm fábrica bastante, são
sumamente bons; as quais três cousas consistem em ter muitas
terras e boas para a planta dos canaviais, água bastante que não
falte para a moenda e lenhas em grandes matas também em
quantidade ... E quando os tais engenhos são desta qualidade,
não lhes faltando, como tenho dito, a fábrica necessária,
costumam a fazer em cada um ano a seis, sete, oito e ainda a
dez mil arrobas de açúcar macho {isto é, branco e mascavado},
afora os meles, que são retames e batidos, que sempre chegam
a três mil arrobas; ... E os outros engenhos de menos porte
costumam a fazer a cinco e a quatro e ainda a três mil arrobas
de açúcar, e os tais são de pouco proveito para seu dono." 6
Classificando, nos termos dos Diálogos, os engenhos de
Pernambuco e Itamaracá (total de 117 enumerados e não 119
como indicado na relação) em "sumamente bons" (produção
igual ou superior a 6.000 arrobas de açúcar macho), em "de
menos porte" (de 3.000 a menos de 6.000 arrobas, idem) e em
uma terceira categoria, não mencionada nos Diálogos (de menos
de 3.000 arrobas, idem), teremos:
25
sé Israel da Costa, ou com a do 'Breve Discurso' {doc. V desta
coletânea} salta à vista a intensa transferência da propriedade
açucareira em Pernambuco entre 1594 e 1630. A impressão que
se tem está longe de confirmar a imagem tradicional de uma
sociedade estável do ponto-de-vista da composição da sua classe
privilegiada, recrutada entre pequenos fidalgos da província e
atuada por valores rotineiramente agrários, isto é, o grupo restrito
de colonizadores, vindos com Duarte Coelho ou ao tempo do
governo da sua viúva ou dos seus filhos, o qual teria mono-
polizado as oportunidades econômicas e sociais proporcionadas
pelo açúcar. Nada disto: estão quase ausentes os nomes de
famílias que se tem convencionalmente associado à colonização
da capitania, como a indicar que o grupo duartino não chegou a
obter, ou se obteve não pôde deter, o controle da propriedade
açucareira. Em 1594, em 61 nomes de senhores de engenho,
acham-se apenas 8 que sugiram esse primeiro 'Who is Who' da
história brasileira, que foram os pequenos fidalgos da colonização
da Nova Lusitânia: um Paes Barreto, um Lins, um Sá, um Holanda,
dois Bezerra, dois Albuquerques. Os restantes são todos nomes
obscuramente plebeus. Aos Albuquerques, menos de cem anos
após a chegada a Pernambuco do fundador da família, Verdonck
se refere depreciativamente como sendo 'grandes fidalgos
segundo se julgam, mas na realidade gente pobre e indigente'
{ver doc. IV desta coletânea}. Surpreendentemente, é na relação
de 1623 ou no 'Breve Discurso' que se vão encontrar nomes de
famílias da chamada 'nobreza da terra', o que sugere terem seus
membros se beneficiado do processo de transferência da
propriedade açucareira provocado pela crise da segunda e terceira
décadas de seiscentos". 7
A relação de José Israel da Costa foi pela primeira vez
publicada na Revista do Museu do Açúcar vol. 1 (Recife, 1968)
pp. 32-36.
1- O Dr. E. van den Boogaart atribui o memori~l aos anos de 1637-38, tempo em
que se debatia nos Países Baixos a questão do monopólio ou do comércio livre
do Brasil: Zo Wijd de Wereld Strekt (Haia, 1979) p. 250. O ano de 1636 parece-me
preferível, pois o autor se congratula com a "boa eleição que tomou para se ha-
26
ver de ir o bem nascido e piedoso Conde de Nassau ... para com seu maduro
conselho as inquietações do Brasil poder aquietar e pôr as causas em tal
ordem que não haja mais que desejar".
2 - Sobre o vocabulãrio dos judeus ibéricos nos Países Baixos ver, de B.N. Teensma,
o "Philological Commentary" à publicação do texto de David Franco Mendes,
"Memórias do estabelecimento e progresso dos judeus Portugueses e Espanhóis
nesta famosa Cidade de Amsterdam", em Studia Rosenthaliana vol. IX n11 2
(Assen, 1975) pp. 185-204.
4- Veja-se a segunda edição integral dos Diálogos (Recife, 1966) pp. 87r88.
27
DOCUMENTO 2. TEXTO.
28
2
20 - Pedro da Lauz 1.600 120
21- Luiz Dias Barroso 2.949 460
22 - Gregório de Barros Pereira no
engenho de Antônio de Bulhões 9.021 1.500
23- O Licenciado Manuel Nunes 2.700 500
24- Antônio Rodrigues Moreno 4.700 1.000
25- Salvador Jorge 2.100 400
26 - Filipe Diniz de Paz 5.840 1.770
27- Salvador Soares 3.400 600
28 - Baltasar Gonçalves Moreno 6.060 1.000
29- João de Barros Rego 4.820 1.043
30- Francisco do Rego Barros 7.420 300
31 - Gabriel de Pina 5.917 1.050
32 - Manuel Rodrigues Nunes 7.117 1.500
33- Manuel Rodrigues o mouco 1.100 260
34 - Diogo da Costa Maciel 2.870 500
35- Antônio Nunes Ximenes 5.400 500
36- Diogo Soares da Cunha 6.423 800
37 - Filipe Dias Vale em Grojaú 4.330 344
38- Gomes Martins · 3.545 420
29
55- O engenho do dito da Bertioga 4.882 1.115
56 - Margarida Álvares 1.885 480
57 - Manuel de Mesquita da Silva 5.287 820
58 - Antônio Ribeiro de Lacerda no
engenho do Maranhão 3.095 560
59 - Manuel Vaz Viseu 4.300 800
60 - Gaspar Fragoso 4.460 1.042
61- Cosmo Dias de Afonseca 3.500 646
62 - O dito no Salgado 5.877 608
63 - Bastião Coelho 3.600 690
64 - Gaspar da Fonseca Carneiro 4.000 680
65 - Ana de Crasto 2.220 300
66- Manuel de Navalhas 6.550 700
67 - Alexandre de Moura 2.010 165
68 - Pedro Fragoso 4.213 1.102
69 - Francisco de Taíde 920 170
70 - Francisco Rodrigues do Porto 2.840 410
71 - Vicente Campelo no engenho
de Filipe de Albuquerque 6.368 2.260
72- Jaques Peres 7.928 1.981
73 -Jerônimo Albuquerque 5.278 1.231
74 - Pedro Lopes de Vera, 22 engenho 4.815 2.274
75 -Miguel Ferreira 4.919 1.336
76- Manuel Gonçalves 3.670 240
77 - Diogo Paes Barreto 5.159 1.390
78 - Jaques Peres resoado 1.555 330
79 - Rodrigo de Barros 4.259 630
80 - Manuel Camelo 2.740 440
81 - Manuel Ramalho 920 70
82 - Baltasar de Almeida Botelho 2.815 360
30
89 -Tomé da Rocha 430
90- João Gomes d'Andrada 1.380 450
91- Francisco Gomes Flores 2.400 600
92 - André Coelho 100
93 - Julião Peixoto 540 140
94 -Jerônimo da Rocha não moeu
95 - Francisco Coresma 3.520 400
96 - Pedro da Rocha Leitão 2.200 647
97 - Rui Colasa 2.080 596
98 - Gonçalo Novo 1.320 225
99 - Francisco Correia 3.076 420
100- Domingos de Oliveira 4.800 800
101 -André da Rocha no Ubu 2.739 708
102 - Miguel Álvares Soares 1.780 400
103- Baltasar Rodrigues Mendes 1.260 400
104 - Polociano Brandão 1.800 444
105- Gonçalo Novo 3.091 1.213
106- Duarte Ximenes 3.108 500
107- Domingos da Costa B {randão} 5.627 1.435
108-Jorge Rodrigues Porto em Musupe 2.930 622
109- Pedro Fernandes Porto 4.036 1.104
110 -Jerônimo Couto 10.317 2.170
111 - O dito nos Três Paus 4.644 683
112- Gaspar de Figueiredo 4.640 1.339
113 - Francisco Homem d 'Almeida 1.256
114- Antônio d'Olanda 9.000 700
115- Diogo de Paiva 5.977 1.644
4
116 - Antônio Cavalcanti de Bojari 5.377 1.093
117 - Cosmo da Silveira 3.470 1.080
31
124- João de Souto 4.570 16.018
125- O engenho dos Padres de São
Bento não moeu
126- Manuel Pires Correia 6.140
127 - Fernando Camelo 5.500
128- Pedro Candena 5.000
129 -André da Rocha 1.420
130- João Rabelo de Lima 6.078
131- Domingos Carneiro 3.590
132 - Domingos Fernandes em Tibiri 3.824
133 - Francisco Álvares 753
134-135- Duarte Gomes da
Silveira 2 engenhos 7.618
32
DOCUMENT03
33
ras heráldicas, da sua mandioca, do seu fumo, este sempre tão
dependente da pecuária - e no Rio Grande, de onde vinham os
bois de talho e de trabalho e mais mandioca e milho; além dos
limitados campos de pequena agricultura, situados aqui e ali na
Capitania.
A região do açúcar começava nas Alagoas e tomava corpo
em Porto Calvo e em Serinhaém; o centro localizava-se nos vales
dos rios Ipojuca, Jaboatão e Capibaribe, onde estavam os
principais engenhos. A produção era transportada em barcos,
que podiam conduzir de 100 a 110 caixas de açúcar e as
entregavam nos "passos" para o embarque.
A "Memória" é conservada em cópia contemporânea no
Arquivo Geral do Reino, na Haia, cartório da Companhia das
Índias Ocidentais (Companhia Velha) maço 49, folhas 40/44,
entre as Cartas e Papéis do Brasil do ano de 1630. Foi traduzida
para o português por Alfredo de Carvalho e publicada sob o
título "Descrição das Capitanias de Pernambuco, Itamaracá,
Paraíba e Rio Grande .... por Adriano Verdonck", na Revista do
Instituto Arqueológico e Geográfico Pernambucano vol. IX n 2
55 (Recife, 1901) pp. 215-27; nova tradução por quem escreve
estas linhas, "Dois Relatórios Holandeses", Revista do Arquivo
Público Estadual de Pernambuco ano IV n2 6 (Recife, 1949) pp.
613-28, a qual sofreu revisão para a presente coletânea.
34
DOCUMENTO 3. TEXTO.
35
e não se pode duvidar da existência ali de grande quantidade
de prata, à vista das muitas experiências que foram feitas em
diferentes viagens àquele sítio; mas o rei da Espanha nunca quis
permitir a exploração da mina; para chegar-se ao povoado tem-
se de subir o mesmo rio cerca de cinco milhas e a mina da prata
fica a 4 ou 5 milhas para o interior.
§ 2Q- ALAGOAS- Perto do Rio São Francisco existe um
lugar chamado Alagoas, onde há dois rios, um situado ao norte
e outro ao sul; no mesmo lugar há um povoado de poucos
habitantes e nas imediações 5 ou 6 engenhos, mas fazem pouco
açúcar e anos há em que alguns não moem; ainda nesse lugar
existe grande quantidade de bois e vacas, por causa do excelente
pasto, de sorte que por esse motivo os moradores possuem muito
gado, que é a sua principal riqueza e constitui a melhor
mercadoria destas terras e com a qual mais se ganha devido à
sua rápida multiplicação; o povoado está situado sobre ambos
os rios e dista do mar umas cinco milhas.
Os moradores plantam ali grande quantidade de mandioca
e a maior parte da farinha que vem para Pernambuco é dessa
procedência; outrossim planta-se nesse lugar muito fumo e
prepara-se considerável porção de peixe seco, que todo é trazido
para aqui e prontamente vendido; além desses víveres produz a
terra muitos outros gêneros alimentícios, sem os quais dificilmente
poderiam manter-se os seus habitantes, tanto os da cidade como
os de fora; os moradores dessa região penso que são mais
afeiçoados aos holandeses do que à gente da sua nação, porque
quase todos são criminosos e gente insubordinada.
§ 3Q- PORTO CALVO- Próximo a Alagoas há um povoado
denominado Porto Calvo que também conta poucos habitantes;
na mesma região existe igualmente muito gado, principal riqueza
dos seus moradores, que o trazem de ordinário para Pernambuco;
plantam ali muito fumo, fazem bastante farinha e pescam muitos
peixes, na maior parte tainhas, que trazidos para Pernambuco
são logo vendidos; ainda nessa região existem 7 ou 8 engenhos
alguns dos quais fazem um pouco de açúcar.
Esse povoado também dista umas cinco milhas da praia e
é banhado por um rio de 9 a 10 braças de fundo, pelo qual se
pode subir do mar para o povoado.
36
§ 4º - UNA - Não longe de Porto Calvo está situado um
povoado de nome Una, em cujos arredores se encontra também
muito gado, e os moradores plantam muita mandioca e milho,
como em todos os outros lugares já citados; também muito fumo,
feijão, favas e outros cereais e muitas outras frutas; pescam
igualmente muito, e tudo trazem para vender aqui em
Pernambuco.
Nas vizinhanças há 4 ou 5 engenhos que fazem algum
açúcar; o povoado está a 3 milhas da praia e pode subir-se até
ele em uma chalupa; os moradores também não são numerosos,
de sorte que penso que do rio São Francisco até aqui, no espaço
de umas 20 milhas, podem morar cerca de 500 a 600 homens,
quase todos mamelucos e gente muito má.
§ 5º- SERINHAÉM- Próximo a Una encontra-se um grande
povoado chamado Serinhaém, pobre de gado porque os
moradores ali se ocupam de preferência na cultura de canas, de
modo que na jurisdição do mesmo povoado há 12 ou 13
engenhos, que ordinariamente fazem grande quantidade de
açúcar, a saber, 6 ou 7.000 arrobas cada engenho e quase que é
o melhor açúcar que se fabrica nesta terra; está a 2 milhas da
praia e as barcas sobem o rio para carregar açúcar, de 100 a 110
caixas em cada barca; o mesmo rio é pouco profundo na foz,
onde não tem mais de 7 a 8 pés d'água.
No mesmo povoado e nas proximidades moram muitos
Albuquerques, e grandes fidalgos, segundo se julgam, (•) mas
na realidade gente pobre e indigente, e ao todo pode ali haver
uns 500 habitantes, que plantam muita mandioca, fumo e toda a
casta de cereais e pegam muito peixe; há também ali algum
pau-brasil e a mesma jurisdição de Serinhaém é um sítio muito
aprazível para morar-se.
§ 6º - IPOJUCA- Perto de Serinhaém há um povoado
de nome Ipojuca onde pode haver uns 600 habitantes
em toda a jurisdição e muita gente rica, sendo um
lugar muito agradável para morar-se; nas cercanias há
13 ou 14 engenhos que fazem grande quantidade de açú-
(•) Ver Padre Jácome Monteiro, "Relação da Província do Brasil em 1610", em Padre
Serafim Leite, História da Companhia de]esus no Brasi4 10 vols. (Lisboa, Rio de
Janeiro 1938-50) VIII p. 405.
37
car; farinha, fumo e peixe vem pouco desse lugar porque disto
não fazem alimento; para chegar-se ao primeiro desses engenhos,
junto ao qual há um armazém para onde é levado o açúcar de
quase todos os engenhos próximos, tem-se de subir o rio Ipojuca,
situado logo adiante do Cabo Santo Agostinho por espaço de 2
milhas; junto à foz do rio há 2 ou 3 canhões a fim de impedir a
entrada ao inimigo e na mesma foz não há mais de 7 ou 8 pés
de água; aí vão as barcas carregar de 100 a 110 caixas de açúcar
para transportá-las ao Recife, como o fazem em todos os outros
lugares.
§ 72 - CABO SANTO AGOSTINHO- SANTO ANTÔNIO-
Não longe de Ipojuca está o Cabo Santo Agostinho, onde existe
um povoado chamado Santo Antônio do Cabo; nessa jurisdição
deve haver cerca de 20 engenhos ou mais, porque é uma grande
extensão de terra. Há ali alguns engenhos excelentes, que
fabricam muito e bom açúcar; quanto a cereais, farinha, fumo,
gado e peixe quase nada vem dali porquanto os habitantes apenas
plantam, fabricam, criam e pescam o necessário ao seu consumo,
dedicando-se principalmente à cultura da cana; todavia há ali
alguns plantadores de mandioca que fazem farinha para vendê-
la na mesma região aos moradores.
Em todos esses lugares atrás mencionados há grande
quantidade de toda a casta de peixe e abundância de camarões
e caranguejos que, principalmente no inverno, os mouros com
pouco trabalho sabem achar e pegar para o sustento dos seus
senhores, havendo também muita caça de toda a qualidade,
que, com a mesma facilidade e sem trabalho, é diariamente
apanhada e constitui um alimento muito delicado; além disto há
muito boas frutas e verduras para comer-se, de que em todos os
lugares os moradores têm grandes e belos pomares e hortas, nos
quais há de tudo.
O mesmo povoado de Santo Antônio do Cabo dista
duas milhas do mar e não havendo rio para subir-se até
os engenhos, quase todo o açúcar tem de ser transportado
por terra até às barcas e algum é levado para outro lugar
e chega à foz de um rio chamado jangada, junto a Nossa
Senhora da Candelária, umas 3 milhas ao norte do Cabo;
38
a mesma regtao é um lugar belo para morar-se, pois com
facilidade criam-se muitos carneiros, cabritos, bodes, porcos, perus
e galinhas e há também caça de toda a espécie, muitas frutas, de
sorte que não há falta de comestíveis.
§ 8 2 - NOSSA SENHORA DA CANDELÁRIA -
CURCURANAS - Próximo ao Cabo Santo Agostinho há na praia
uma igrejinha chamada de Nossa Senhora da Candelária, como
acima foi referido; logo junto a essa igrejinha, para o norte,
existe um caminho na extensão de um tiro de mosquete, pelo
qual se chega sem tardança a um grande e belo lugar de nome
Curcuranas, onde habitualmente os portugueses tinham, e é difícil
que ainda tenham, para mais de 1.300 a 1.400 cabeças de gado
e algumas vezes ainda mais, que para ali vinham dos
mencionados e doutros lugares para o consumo da cidade de
Pernambuco e onde os marchantes iam comprá-lo quando tinham
necessidade, bem como ali conservavam gado por causa de um
muito bela e grande pastagem, na qual há espaço para mais de
3.000 bois e água em abundância; nesse lugar e nos arredores
devem morar 60 ou 70 homens.
§ 92 - OS GUARARAPES- JABOATÃO- MURIBARA-
CAMASSARIM - VÁRZEA DO CAPIBARIBE - Das Curcuranas à
cidade de Pernambuco há umas cinco milhas e contando para a
jurisdição o território na extensão de cinco milhas também para
o interior, notam-se ainda outros lugares, a saber: os Guararapes,
Jaboatão, Muribara, Camassarim e Várzea do Capibaribe; deve
haver em todos esses lugares bem 24 ou 26 engenhos, dos
quais 13 ou 14 numa bela planície denominada Várzea do
Capibaribe, a 2 ou 3 milhas da cidade, e onde está a melhor e
mais bela moradia, melhor do que em qualquer dos lugares
atrás mencionados e é o principal deles, de onde vem a maior
e melhor parte do açúcar; esta Várzea é muito habitada, tem
muitas e muito belas casas, residindo ali muita gente de
qualidade e várias pessoas ricas, de sorte que das Curcuranas
até Pernambuco, numa largura de 4 a 5 milhas, deve haver mais
de 800 homens; ali fazem também muita farinha, que
ordinariamente é a melhor da terra e quase toda consumida
pelos próprios habitantes, que possuem igualmente toda a casta
39
de animais domésticos em abundância, como bois, vacas,
carneiros cabritos, etc., que tanto ali como em todos os lugares
atrás mencionados são sempre encontrados em quantidade,
porque todos os moradores os criam juntos às suas casas, de
modo que não experimentam dificuldade quando acontece
aparecer num dia, inesperadamente, 10 ou 12 hóspedes,
porquanto possuem à mão todo o necessário, tanto animais como
muito peixe de rio, quantidade de camarões e alguns de tamanho
que 5 ou 6 bem podem pesar uma libra, caranguejos, muita
caça, toda a sorte de legumes de suas hortas e toda a sorte de
guloseimas de que este povo é muito amante; têm, outrossim, os
seus pescadores, que saem ao mar até 2 e 3 milhas da costa, de
modo que nunca lhes falta carne fresca nem peixe fresco e tudo
o mais acima referido, fora outras cousas que presentemente
não me vêm à memória.
§ 10º- MATA DO BRASIL- Além dos que acabamos de
mencionar, há ainda um lugar muito grande e habitado chamado
Mata do Brasil, o qual está situado a cerca de 9 ou 10 milhas ao
sul de Pernambuco para o interior: ali moram muitos camponeses
que fazem considerável porção de pau-brasil com os seus mouros
e brasilienses, sendo ali livre o corte do pau-brasil e cada um
pode tirá-lo aonde quiser; depois de limpo é trazido em carros
para um lugar de nome São Lourenço, ao qual adiante teremos
que nos referir, onde é vendido aos contratantes do rei, que dão
por cada 128libras ou 4 arrobas, ordinariamente, de um cruzado
a 450 ou 480 réis, e ainda assim o pagamento é quase sempre
feito em mercadorias, por preços 100% acima do seu valor, sendo
que o negócio só pode ser feito desse modo, porque ninguém
pode comprá-lo, sob grandes penas, senão unicamente eles.
O pau-brasil que anualmente vem dessa Mata do Brasil é
em grande quantidade e ali há também em abundância gado,
carneiros, bodes, muitos porcos, perus, galinhas e tanta caça que
causa admiração, afora toda casta de animais que ali se dão
muito bem, pelo que há ali muitos víveres, porque é uma terra
muito produtiva e aonde os portugueses semeiam e plantam num
espaço de 20 milhas de comprido sobre tantas de largo. Nessa Mata
do Brasil podem morar ao todo 150 a 200 homens, pouco mais ou
40
menos; ali também fazem muita farinha e colhem fumo, grande
quantidade de milho, feijão, favas e toda a sorte de frutos.
§ 11º - SÃO LOURENÇO -Há, ainda, um povoado
próximo a essa Mata do Brasil chamado São Lourenço, situado a
cinco milhas de Pernambuco para o interior, onde existem 7 ou
8 engenhos fazendo muito e bom açúcar e também é muito bela
e aprazível moradia; encontra-se ali de tudo, exceto peixe fresco,
devido à distância do mar, o mesmo que acontece na Mata do
Brasil; porém, em vários sítios pegam com pouco trabalho toda
a casta de peixe de rio, alguns do tamanho de um braço.
Por todo este país os portugueses empregam um processo
especial quando querem pegar grande porção de peixe sem
trabalho; dirigem-se para o rio que lhes parece oferecer melhor
oportunidade e tomam umas certas varas, que para isto vão
buscar ao mato; depois de bem batidas lançam-nas ao rio, de
sorte que o peixe com isto fica embriagado e vem boiar à flor
d'água, podendo ser pegado à mão; o efeito de tais varas sobre
os peixes faz-se sentir dentro de três ou quatro horas; dias houve,
em que vi fazer isto, serem apanhados de 6 a 7.000 peixes de
todas as qualidades e tão gordos e de delicado sabor quanto se
pode desejar. Essas pescarias são ordinariamente feitas no verão,
quando os rios não têm muita água; o pau com que embriagam
os peixes é chamado timbó.
É para notar que nesta terra não se recebe dinheiro dos
viajantes pela sua hospedagem; venham de onde vierem, sejam
conhecidos ou desconhecidos, dá-se-lhes imediatamente agasalho
e são muito bem tratados de tudo.
Nesse lugar de São Lourenço fazem também muito pau-
brasil, além do que para ali é levado para ser transportado em
outros carros para o Passo do Fidalgo, distante de Pernambuco
cerca de 2 milhas, e para onde se vai em barcas que sobem o
rio; em São Lourenço e na sua jurisdição pode haver de 250 a
300 habitantes.
§ 12º ALDEIAS DE BRASILIENSES- Do rio São Francisco
até aqui, segundo a minha estimativa, deve haver 11 a 12 aldeias
de brasilienses, todas distantes da praia 3 ou 4 milhas; essas
aldeias podem ter cerca de 200 hábeis flecheiros, além das
mulheres e crianças.
41
§ 132 - PERNAMBUCO- Até aqui temos mencionado
todos os lugares que se acham sob a jurisdição de Pernambuco,
isto é, do rio São Francisco até à cidade; agora vamos falar da
mesma cidade, referindo como dentro dela se encontra um muito
belo, grande e forte convento de Jesuítas; logo junto, outro de
Franciscanos e adiante ainda outro chamado de São Bento,
também bonito, forte e grande; além destes há, ainda, um convento
de freiras denominado Conceição e nestes 5 (•) conventos podia
haver bem 130 pessoas religiosas, sem contar 50 ou 60 padres
que moram na cidade; afora esses há, ainda, bem uns 100, que
residem fora da cidade e quase que em cada engenho um.
Além dos citados existe um convento de Franciscanos
no povoado de Ipojuca, outro da mesma ordem no povoado
de Igarassu e, ainda, um dos mesmos frades no outro lado do
Recife, de modo que só na jurisdição de Pernambuco são
mantidos cerca de 400 religiosos; tem a mesma cidade de
Pernambuco duas igrejas paroquiais chamadas do Salvador e
de São Pedro, e ainda outra de nome Misericórdia, onde tamb~m
está o hospital, assente sobre um monte no centro da cidade;
logo ao descer o pendor próximo chega-se a um templo
chamado de Nossa Senhora do Amparo e adiante a outro de
nome de São João e mais afastado vê-se a igrejinha de Nossa
Senhora de Guadalupe; no cimo de um elevado oiteiro ergue-
se a igreja de Nossa Senhora do Monte e a dois tiros de mosquete
da cidade há a igrejinha de Santo Amaro. Ordinariamente vêm
a Pernambuco todos os dias, por terra, de distâncias de 1 a 6
milhas, 350 a 400 mouros, antes mais do que menos, todos
bem carregados com comestíveis, a fim de vendê-los para os
seus senhores, e isto além das barcas que diariamente chegam
ao Recife, de todos os lugares atrás mencionados e ainda de
outros, e que também trazem mantimentos; todos os dias vão
mais de 200 negros a uma ou duas milhas da cidade só a pegar
caranguejos, e voltando à tarde para casa, carregados, vendem-
nos todos; havia igualmente aqui cerca de 100 negros que
diariamente saíam a pescar no mar, além de muito peixe
apanhado na praia com redes e de uma grande barca de pes-
42
caria que ia até 4 a 5 milhas da costa e sempre voltava carregada;
na minha opinião devia haver na cidade de Pernambuco mais
de 800 homens e bem 4.000 ou mais mouros e ainda outras
tantas mulheres e crianças.
§ 14º- RECIFE- Na entrada do recife, onde está o Poço,
há ordinariamente 19 pés d'água e num banco que existe dentro,
e por cima do qual têm de passar os navios, há 14 pés.
§ 15º- ILHA DE ITAMARACÁ- GOIANA- ARARIPE- A
cinco milhas ao norte de Pernambuco está situada uma ilha
chamada Itamaracá, a qual tem um bom rio, em que podem
entrar navios de 14 pés de calado: há nessa ilha, em cima de um
monte na entrada do rio, um pequeno reduto com 5 ou 6 peças
que podem lançar balas de 6 a 7 libras e são chamadas meios-
sacres.
Na jurisdição dessa ilha, que se estende até 14 ou 15
milhas de Pernambuco, pode haver cerca de 20 engenhos, que
uns pelos outros fazem muito açúcar, e o melhor lugar que existe
próximo a esses engenhos é chamado Goiana, sítio muito
agradável, grande, belo e fértil, tendo em abundância toda a
sorte de peixe, carne, frutas e outros víveres; ali reside gente rica
e muitos nobres, e os habitantes, tanto de Itamaracá quanto de
Goiana e de Araripe, devem ser mais de 300.
A mesma ilha com toda a sua jurisdição pertence ao Conde
de Monsanto, que mora em Lisboa, e os habitantes devem pagar-
lhe anualmente a renda de 2.500 a 3.000 ducados em dízimos
de açúcar e outros impostos. Há ali um capitão-mor sem soldados
e a justiça é ali também independente, conquanto o governador
intervenha na sua distribuição quando necessário; da mencionada
Goiana vem grande quantidade de pau-brasil, que é feito de 5 a
8 milhas para o interior e ali carregado em barcas para ser
transportado para o Recife.
§ 16º- IGARASSU- A uma milha de Itamaracá há ainda um
povoado de nome Igarassu, distante 5 milhas de Pernambuco, onde
os habitantes são todos gente pobre, como também na ilha de
Itamaracá, e vivem principalmente de seus ofícios ou para melhor
dizer do trabalho dos seus escravos; nas imediações desse povoado
há também 5 ou 6 engenhos ou talvez mais, contando com 2
43
ou 3 que distam dali 2 ou 3 milhas, em um lugar à margem dum
rio que é preciso passar-se para chegar até ele; esse rio, chamado
Paratibe, é ali muito largo, porém adiante estreita-se e fica água
morta com cinco palmos ou mais de fundo.
§ 17Q - PARAÍBA OU CIDADE FILIPÉIA- De Goiana vai-
se à cidade da Paraíba, por outro nome Filipéia, e passa-se por
duas aldeias de brasilienses que podem ter de 300 a 350 flecheiros;
a mesma cidade da Paraíba está a 25 milhas de Pernambuco e
na sua jurisdição existem 18 ou 19 engenhos, que anualmente
produzem perto de 150.000 arrobas de açúcar e que é muito
bom; a essa cidade chega um rio de 4 milhas de extensão e 14
pés de fundo, de modo que os navios que ali vão recebem os
carregamentos de 600 a 700 caixas de açúcar junto à cidade e,
estando carregados, descem de novo o rio, voltando para o mar;
na foz desse rio há um forte em mau estado, com 11 ou 12
peças de ferro, chamado Cabedelo.
Há pouco negócio nessa cidade, que é pequena e situada
numa planície; os principais habitantes residem na maioria fora,
no campo, a 3 e 4 milhas da cidade; ali plantam mandioca e
cereais, mas cousa de pouca consideração.
§ 18º - BAÍA DA TRAIÇÃO - CAMARATUBA - ALDEIAS
DE BRASILIENSES - Acima da Paraíba 7 ou 8 milhas está a
Baía da Traição, porto muito cômodo para muitos navios,
como é sabido dos holandeses; adiante desta baía há um
engenho situado num lugar denominado Camaratuba, o qual
faz pouco açúcar e a umas cinco milhas para o interior;
segundo penso, não há ali nenhum rio para subir-se até
Camaratuba.
Esse engenho está ainda sob a jurisdição da Paraíba e
nos arredores podem morar uns 40 homens; antes de chegar-se
a esse lugar, e nas vizinhanças da Baía da Traição, encontram-se
algumas aldeias de brasilienses, a maioria das quais têm sido
queimadas pelos portugueses e mortos ou escravizados os
brasilienses, porque há mais de 5 anos auxiliaram os holandeses
na mesma Baía da Traição e foram por estes enganados, donde
provém estarem ainda hoje, segundo dizem os portugueses, muito
irritados contra a nação holandesa.
44
§ 19º- CUNHAÚ- Três milhas acima de Camaratuba
existe ainda um engenho, no lugar chamado Cunhaú, o qual faz
anualmente de 6 a 7.000 arrobas de açúcar; esse lugar está sob a
jurisdição do Rio Grande e ali moram uns 60 ou 70 homens com
suas famílias; meia milha distante desse engenho corre um rio,
de três milhas de longo e meia milha de largo, onde as barcas
iam carregar açúcar, de 100 a 110 caixas cada barca, e traziam
dali também comestíveis; há ali, também, muito gado, farinha e
milho que ordinariamente é trazido para Pernambuco com o
açúcar.
§ 20º- CIDADE DO RIO GRANDE CHAMADA DO NATAL
-ALDEIAS DE BRASILIENSES- De Cunhaú à cidade do Rio
Grande, chamada cidade do Natal, há 17 milhas contadas ao
longo da costa; para o interior e em muitos lugares o terreno é
improdutivo; a gente que ali vive não mora a mais de 4 a 5
milhas da costa; nessa região do rio Grande há gado em
quantidade e abundância, em muitos lugares porcos e em geral
muitas galinhas.
As pastagens são ali excelentes e os habitantes não têm
outra riqueza senão o gado, como que fazem muito dinheiro;
entretanto, a maioria do povo é miserável, mal tendo de que
viver; pegam ali muito peixe, plantam grande quantidade de
mandioca para fazer farinha e também muito milho, o que tudo
é trazido aqui para Pernambuco; há igualmente abundância de
caça e de frutos silvestres.
Nessa jurisdição do Rio Grande pode haver ao todo 5 ou
6 aldeias de brasilienses, que, juntas, devem contar 750 a 800
flecheiros, e a principal destas aldeias é chamada Mopobu e está
situada a 7 milhas ao sul do Rio Grande e a 4 ou 5 milhas para o
interior; nessa jurisdição há também 2 engenhos que fazem pouco
açúcar; a cidade tem cerca de 35 a 40 casas de palha e barro,
mas os habitantes mais abastados dos arredores vivem
habitualmente nos seus sítios e vêm apenas à cidade aos
domingos e dias santificados para ouvir missa; os habitantes de
toda essa jurisdição, num raio de 6 a 9 milhas, não excedem de
120 ou 130 homens, na maioria camponeses ignorantes e
grosseiros; ali se encontra freqüentemente muito âmbar na praia.
45
§ 212 - O FORTE DO RIO GRANDE CHAMADO DOS
TRÊS REIS MAGOS - Da cidade do Rio Grande ao forte chamado
os Três Reis Magos há apenas a distância duma pequena meia
milha, e esse forte é o melhor que existe em toda a costa do
Brasil, pois é muito sólido e belo e está armado com 11 canhões
de bronze, todos meios-canhões, muitas colubrinas e ainda 12
ou 13 canhões de ferro, estes porém imprestáveis; na entrada do
mesmo forte há também 2 peças e daí chega-se ao paiol da
pólvora; as muralhas podem ter de 9 a 10 palmos de espessura e
são dobradas, tendo o intervalo cheio de barro; ordinariamente
há poucos víveres no forte, porque entre esses portugueses não
reina muita ordem; a guarnição consta habitualmente de 50 a 60
soldados pagos e com a maré cheia o forte fica todo cercado
d'água, de modo que ninguém dele pode sair nem nele pode
entrar.
Junto ao mesmo forte, para o lado do norte, fica o rio
chamado Rio Grande, uni muito grande e belo lugar; por esse
motivo e porque os franceses e ingleses ali aportavam
freqüentemente com os seus navios, onde os reparavam e faziam
provisão d'água, frutas, carnes e outros refrescos, mandou o rei
construir aquele forte a fim de impedi-lo, porquanto também
iam ali traficar com brasilienses e adquiriam muito pau-brasil, do
qual agora já não há tanto, e ainda outras mercadorias.
Quando ali há falta de sal, o capitão-mor do dito forte do
Rio Grande manda uma ou duas barcas, de 45 a 50 toneladas, a
um lugar 60 milhas mais para o norte, onde há grandes e extensas
salinas que a natureza criou por si; ali podem carregar, segundo
muitas vezes ouvi de barqueiros que dali vinham com
carregamentos de sal, mais de 1.000 navios com sal, que é mais
forte do que o espanhol e alvo como a neve. É um lugar deserto,
em cujas imediações ninguém mora, aparecendo apenas ali alguns
tigres com os quais é preciso ter cautela.
Estas salinas estão rentes à praia completamente cheias
de sal; mas os navios que tiverem de ir ali, segundo penso,
devem conservar-se um tanto ao largo, porquanto aquela costa
é muito periosa.
46
DOCUMENT04
47
ra. O açúcar prometia fortunas: no primeiro trimestre de 1637
(portanto, da safra de 1636-37) ele atingiu em Amstedã o preço
mais alto das décadas anteriores (ver o Apêndice 1). Em
conseqüência disso, chefes militares, funcionários civis, inclusive
vários Conselheiros Políticos, afora comerciantes holandeses e
alguns Judeus fizeram-se senhor.es de engenho, adquirindo
propriedades confiscadas pela Companhia. 2
O autor do "Inventário" foi um deles. Em 1636 há
referência a que ele ocupava um engenho na freguesia da
Muribeca, que não foi possível identificar; consta apenas que
naquele ano o engenho foi incendiado pelos campanhistas. 3
Em 6 de junho de 1637 adquiriu o Engenho Três Reis, na
Várzea do Capibaribe, o qual havia pertencido a Ambrósio
Machado de Carvalho (e, mais tarde, ficou conhecido como
do Cordeiro e é o atual bairro recifense desse nome); o preço foi
de 20.000 florins, a ser pago em quatro prestações anuais, a
primeira das quais devida em 1 de janeiro de 1639. Não ficou aí
o Conselheiro: em 21 de agosto do mesmo ano comprou um
pedaço de terra de 600 braças ( = 1.320m) em ·quadra, situado
no Arraial, ao sul do Rio Beberibe, com 14 negros entre velhos e
crianças, com roça e pastos, terra boa para plantar mandioca,
por 7.000 florins, a serem pagos em três prestações, de 8 em 8
meses. 4 Pretendia ele dedicar-se à vida agrícola e solicitou
demissão do cargo de Conselheiro. 5 Em carta datada do Recife
em 25 de agosto de 1637, dirigida aos Diretores da Câmara da
Zelândia, referiu que o Conde de Nassau e o Alto e Secreto
Conselho haviam posto à venda vários engenhos confiscados:
"o desejo que tenho de procurar minha fortuna pela
prosperidade da Companhia, levou-me à resolução de também
comprar um engenho, embora os negros necessários para tal
levem-me ao extremo, mas não obstante isso espero colher os
frutos do meu trabalho". 6 A propósito de negros diz, na mesma
carta, o que se refere também no "Breve Discurso" (doc. V), que
os de Ardra "são de natureza tão selvagem que se comem uns
aos outros, mas não se dispõem ao trabalho e fogem, do que
temos exemplos diários"; os que provinham de Angola eram os
preferidos e eram vendidos por 20 a 30 "peças de oito" mais
48
caros do que aqueles? Dos compromissos assumidos com essas
compras pouco pagou, pois seu nome consta da lista dos
devedores da Companhia, datada de 31 de dezembro de 1645,
com o montante de 22.040 florins. 8
Os Conselheiros Políticos daquela década de 1630 foram
apontados como interessados apenas em juntar dinheiro,
empregando quaisquer meios para isso. Um deles, Hendrik Schilt,
chegou ao extremo de torturar e matar o capelão do Engenho
Ubu, de Goiana, Padre Antônio Mendes de Elvas, para que disesse
onde estavam escondidos os objetos de ouro e prata do serviço
da capela; outro, Jan Robberts, embora negasse as acusações
que se lhe faziam, foram elas confirmadas ao serem examinados
seus papéis depois da sua morte no Cabo; e do próprio Schott se
diz que "também contra ele parecem pesar algumas culpas" .9
Schott não alcançou a demissão solicitada e, em maio de
1638, regressou à pátria por expiração do seu contrato. 10 Do ano
seguinte está datada uma "Breve Relação e Descrição Sumária
das terras, vilas e fortalezas conquistadas no Brasil, com a bênção
misericordiosa de Deus, pelas armas dos meus Senhores os
Diretores da Companhia Geral Privilegiada das Índias Ocidentais"
etc., de sua autoria, entregue aos membros da Câmara da Zelândia
em 24 de setembro de 1639. 11
O "Inventário", que aqui se divulga pela primeira vez,
não está datado, mas se encontra entre as "Cartas e Papéis do
Brasil" do ano de 1636 no Arquivo Geral do Reino (Haia), cartório
da Companhia das Índias Ocidentais (Companhia Velha), maço
51. O mesmo ano pode ser aceito como o da redação do
documento. Particularmente importante, pelas informações que
presta acerca das propriedades agrícolas e da situação em
que se encontravam após a campanha do ano anterior para o
domínio da área pelas armas holandesas: engenhos destruídos,
canaviais abandonados, "cobres" roubados, escondidos ou
lavados pelos fugitivos; pelo que se diz acerca do material de
construção das casas dos engenhos (a confirmar o documentário
esclarecedor que são as telas de Frans Post); pelo que
informa acerca da produção de açúcar de cada um deles,
a confirmar a variedade de capacidade produtiva das fá-
49
bricas de açúcar. E indica, ainda, engenhos localizados em áreas
pioneiras, a revelar o avanço do povoamento e a conquista da
floresta litorânea.
Observe-se que uns engenhos estão relacionados no
"Inventário" obedecendo uma ordem numérica e outros não. A
numeração incide apenas sobre os que foram abandonados pelos
seus senhores e confiscados pela Companhia; os demais estão
mencionados fora da seqüência. Aqueles são 31, estes 15, ao
todo 46 engenhos situados nas freguesias do Cabo, Ipojuca,
Serinhaém e Una.
2-]. A. Gonsalves Mello, Tempo dos Flamengos, 21 ed. (Recife, 1978) p. 131.
3-]. de Laet, Jaerlyck Verbael van de Verricbtingen der G. WI.C., 21 ed., 4 vis. (Haia,
1931-37) IV p. 231. Certamente como senhor de engenho é que insistia pela
remessa para o Brasil de uma "boa quantidade de negros", em carta datada do
Pontal do Cabo 25 de julho de 1636. Arquivo e Cartório cit., maço 51.
4- Arquivo e cartório dt., maço 68, dag. notu/en de 6 de junho e 21 de agosto de 1637.
5- Arquivo e cartório cit., maço 52, generale missive do Recife 6 de maio de 1637.
6- Arquivo e cartório cit., maço 52, carta de W. Schott aos Diretores da Câmara da
Zelândia, Recife, 25 de agosto de 1637.
7 - Arquivo e cartório cit., e carta cit. Não obstante sua opinião em contrário, os
negros de Ardra (Aliada) continuaram a ser importados em número elevado
C4.828 no período 1637-45): Henry A. Gemery e Jan S. Hogendom, The Uncommon
Market (New York, 1979) p. 360. Ver a respeito a obseervação de Philip D.
Curtin, The Atlantic Slave Trade (Madison, 1969) p. 186 e o histórico de Aliada
em La Traite des Noirs par I'Atlantique (Paris, 1976) pp. 256.60. Uma "peça de
oito" valia então 9 scbellingen que correspondiam a 2 florins e 14 stuivers:
Arquivo e cartório cit., generale missivedo Recife 6 de maio de 1637 cit.; portanto,
as 20 a 30 peças de oito equivaliam a cerca de 50 a 80 florins.
8- Arquivo e cartório cit., maço 62: "Balance der Boeken. Litera E".
9 - Arquivo e cartório cit., maço 52, genera/e missive datada do Recife, 1637 e
"Articulen" de acusação a Schilt, Recife 12 de agosto de 1637.
10- Arquivo e cartório cil., maço 53 generale missive do Recife 23 de maio de 1637.
50
DOCUMENTO 4. TEXTO.
Engenhos do Cabo
51
Manuel de Medella, tem um partido perto do citado, tem
obrigação de fornecer.
João Correia, tem um partido situado um pouco mais ao
norte, junto ao outro, tem obrigação de fornecer.
Antônio Vieira, tem um partido junto ao acima men-
cionado, tem obrigação de fornecer.
Jerônimo de Albuquerque, tem um partido igual situado
um pouco mais ao sul do de Luís de Paiva, tem obrigação de
fornecer.
Um lindo partido, pertencente ao senhor do engenho João
Paes Barreto mesmo, situado junto ao citado de Jerônimo de
Albuquerque, fornece anualmente 80 tarefas.
As caldeiras deste engenho foram encontradas jogadas
no mato.No mesmo engenho foram encontradas 29 caixas de
açúcar pertencentes a João Paes Barreto, com a marca PB, como
também 3 caixas de Antônio Vieira, com a marca AV e na casa
de purgar 1.503 fôrmas de aç_úcar, que foram purgadas e
encaixadas por Matias Gomes, e que, segundo sua conta, firmada
sob juramento, renderam 1.595 arrobas de açúcar branco e 350
arrobas de açúcar mascavado, das quais 514 fôrmas competem
ao lavrador Luís de Paiva, mas porque, tanto pelos soldados do
inimigo como pelos nossos muitas fôrmas estavam quebradas,
foi feito um acordo com o mesmo de 480 fôrmas, que, a 10 por
cento de avanço, renderam 422 arrobas de açúcar branco e 106
arrobas de açúcar mascavado, tirado disto a décima parte para a
Companhia de sua recognição, a sabeer, 42 e 1/2 arrobas de
açúcar branco e 10 arrobas de açúcar mascavado, ficam 379 e V2
arrobas de açúcar branco e 96 arrobas de açúcar mascavado.
Destes a terça parte pertence ao lavrador, segundo o acordo
feito com João Paes, ou 126 e 1/2 arrobas de açúcar branco e 32
arrobas de açúcar mascavado; restam para a Companhia 253
arrobas de açúcar branco e 64 arrobas de açúcar mascavado.
Ao lavrador João Correia competem 580 das acima
mencionadas fôrmas, sendo feito, pelas razões já antes
explicadas, um acordo de 560 fôrmas que renderam 496
arrobas de açúcar branco e 124 arrobas de açúcar
mascavado, tirando-se o direito do dízimo para a Companhia
49 e 1/z arrobas de açúcar branco e 12 arrobas de açúcar
52
mascavado, ficam 446 1h arrobas de açúcar branco e 112 arrobas
de açúcar mascavado, sendo destas, segundo o contrato do citado
lavrador Correia com João Paes, a terça parte dele, ou 148 e 1h
arrobas de açúcar branco e 38 arrobas de açúcar mascavado;
restam para a Companhia 298 arrobas de açúcar branco e 74
arrobas de açúcar mascavado. Fica um saldo líquido para a
Companhia de 1.320 arrobas de açúcar branco e 280 arrobas de
açúcar mascavado, que foram encaixados em 74 caixas e, com a
marca da Companhia, mandadas para o Pontal.
2 - Engenho da Guerra, pertencente ao citado João Paes
Barreto, fica a menos de meia milha ao sudoeste do seu men-
cionado engenho Velho; este engenho mói com bois, tem duas
moendas que anualmente moem 6.000 a 8.000 arrobas de açúcar;
as canas crescem nos vales em redor do engenho, tendo a terra
destinada para isto a extensão de uma milha; a casa de purgar tem
paredes de taipa, como também um lado da casa das caldeiras, nas
quais foram encontradas as caixas, fôrmas de açúcar e caldeiras
abaixo mencionadas. Aqui não havia casa de morada para o senhor
do engenho. Paga de recognição 30 arrobas de açúcar encaixado.
Na casa de purgar foram encontradas 58 caixas pertencentes ao
senhor do engenho, as quais, com a marca da Companhia, foram
mandadas para a Barreta, Rio da Jangada e o Pontal.
As 1.955 fôrmas purgadas por Matias Gomes renderam,
segundo sua conta, 1.910 arrobas de açúcar branco e 1.421
arrobas de açúcar Il).ascavado, encaixados em 107 caixas, que,
com a marca da Companhia, foram mandadas para o Pontal e
a Barreta. Na casa das caldeiras foram encontradas 5 caldeiras
grandes, 4 tachos, 1 parol, 1 bacia, 3 tachos; na casa de purgar
5 escumadeiras, 4 pombas e mais algumas outras ferramentas
de cobre e de ferro quebradas.
Engenho Trapiche, ou Nossa Senhora da Conceição,
pertencente a Dona Adriana, viúva de Manuel Gomes de
Melo, fica uma pequena milha ao sudoeste do citado
engenho da Guerra, mói com água, tem um lindo açude,
mas difícil de manter; pode anualmente fazer 4.000 a 5.000
arrobas de açúcar. A casa de purgar tem paredes de taipa e
o telhado é muito velho, como também a casa das cal-
53
deiras, mas a citada viúva, graças ao seu passaporte, obtido em
Porto Calvo, consertou este engenho à própria custa e fê-lo
novamente moer; paga como recognição 1 e Yí por cento. O
canavial está em redor do engenho e o restante da terra que lhe
pertence consiste de matas e não serve para plantação de cana.
Na varanda da casa de purgar foram achadas 8 caixas de
açúcar branco e 3 de açúcar mascavado, marcadas GWC, 30
caixas do senhor do engenho; outras 53 caixas, pertencentes ao
mesmo senhor, foram escondidas na mata sob uma coberta de
palha, cerca de três tiros de mosquete distante da casa, somando
ao todo 94 caixas.
Na casa de purgar: 108 fôrmas feitas pelos Cavalcantis
de Goiana e 565 fôrmas trazidas para o engenho por Antônio
da Rocha, e 474 fôrmas trazidas para o engenho por Antônio
Correia no total de 1.147 fôrmas. As 565 fôrmas de Antônio da
Rocha renderam, segundo a conta do feitor Antônio Dias, 536
arrobas de açúcar branco e 122 arrobas de açúcar mascavado,
das quais o dízimo pertence à Companhia e a metade ao
lavrador, conforme o contrato que me foi mostrado, ou 241
arrobas de açúcar branco e 55 de açúcar mascavado; ficam
para a Companhia 295 arrobas de açúcar branco e 67 arrobas
de açúcar mascavado. As 474 fôrmas de Antônio Correia
renderam, segundo a conta, 418 arrobas de açúcar branco e 92
arrobas de açúcar mascavado, das quais o dízimo é da Companhia
e fica a terça parte pertencente ao referido Antônio Correia, como
mostra o acordo que fez com o senhor do engenho, sendo 27 Y2
arrobas de açúcar mascavado e 125 arrobas de açúcar branco;
ficam parra a Companhia 293 arrobas de açúcar branco e 64 e Y2
arrobas de açúcar mascavado. As mencionadas 108 fôrmas feitas
pelos Cavalcantis renderam 84 arrobas de açúcar branco e 24
arrobas de açúcar mascavado, que todas ficam pára a Companhia,
que deste modo obtém um total de 672 arrobas de açúcar branco
e 155 e Yí arrobas de açúcar mascavado, as quais o citado
feitor Antônio Dias fez encaixar em 33 caixas, que, com a
marca da Companhia, foram mandadas para o Cabo e a
Barreta, sendo deduzidas 50 caixas que à referida senhora do
engenho em Porto Calvo foram concedidas pelos Senhores
54
{Conselheiros} ali e depois pelo Conselho, sendo 30 que, por
conta do resgate de Pedro da Cunha, tinham sido pagas e 20
caixas para a viúva consertar o engenho.
3 - Engenho Novo de Cristóvão Paes, que fugiu com
Albuquerque, está situado um quarto de uma pequena milha
mais ao sul do engenho da referida Dona Adriana, tendo toda
sua cana plantada em redor do engenho. A terra que lhe pertence
foi calculada em meia milha; mói com água e tem um açude
muito difícil, cortado do rio Pirapama, e que deve ser mantido
com grande despesa. A casa de purgar tem paredes de taipa,
como também a casa das caldeiras; a moenda e a casa do senhor
de engenho tem um lado desmoronado. Para não perder o belo
canavial que lhe pertence, foi este engenho com não pouco
trabalho e com despesas razoáveis tão recuperado que atualmente
mói para a Companhia, podendo fornecer anualmente 5.000 a
6.000 arrobas de açúcar, se não acontecer algo inesperado; paga
como recognição 3 Vz por cento dos açúcares que nele são feitos.
Na casa de purgar foram encontradas 17 caixas do senhor
do engenho, 11 caixas do lavrador Antônio Lopes, ausente, 6 e
1/z caixas sem marca, no total de 34 e Vz caixas GWC; 255 fôrmas
55
açúcar mascavado. Tirado o dízimo disto, pertencem ao
lavrador, pelas suas duas quintas partes, 20 e 1/z arrobas de
açúcar branco e 9 e 1/z arrobas de açúcar mascavado; restam
para a Companhia 37 1/z arrobas de açúcar branco e 15 arrobas
de açúcar mascavado. As 478 fôrmas do senhor do engenho e
do lavrador, ambos ausentes, renderam líquido 345 arrobas
de açúcar branco e 136 arrobas de açúcar mascavado, o que
junto com as outras arrobas faz para a Companhia um total
de 635 e Vz arrobas de açúcar branco e 227 arrobas de açúcar
mascavado, que foram encaixadas pelo citado Antônio
Gonçalves em 37 caixas, e com a marca da Companhia,
mandadas para o Pontal.
Engenho BomJesus, pertencente ao senhor Pedro Lopes
de Vera (que atualmente ele próprio mói e está sob passaporte),
fica meia milha mais ao oeste do engenho da Guerra de João
Paes, tem meia milha de terra cujas várzeas são plantadas com
cana, sendo o restante de matas; mói com água e pode
anualmente fornecer 5.000 a 6.000 arrobas de açúcar e paga 4
por cento como recognição.
4 - Engenho São João, pertencente a João Paes de
Castro, fugido com Albuquerque, fica um quarto de milha
ao oeste do acima referido do senhor Pedro Lopes; a casa
de purgar e a casa das caldeiras são muito velhas e estão em
muitos lugares desmoronadas e arruinadas. Nelas foram ainda
encontradas as caixas e fôrmas de açúcar abaixo men-
cionadas; tem uma milha de terra, cujas várzeas são plantadas
com cana, mas tudo muito abandonado; pode anualmente
fazer 4.000 a 5.000 arrobas de açúcar e paga 3 por cento
como recognição.
Na casa de purgar foram encontradas 3 caixas de açúcar
branco em más condições, pertencentes ao senhor do engenho;
284 fôrmas de açúcar, segundo a conta do purgador Domingos
Dias, renderam 269 arrobas de açúcar branco e 59 arrobas de
açúcar mascavado, das quais tirado o dízimo ficam para o lavrador
Melquior Pires 80 arrobas de açúcar branco e 18 arrobas de
açúcar mascavado; restam para a Companhia 189 arrobas de
açúcar branco e 41 arrobas de açúcar mascavado, que foram en-
56
caixados em 9 caixas e com a marca da Companhia mandadas
para o Pontal.
5 -Engenho Pirapama, pertencente ao referido João Paes
de Castro, fugido com Albuquerque, situado uma milha mais ao
sul do citado engenho São João, tem uma milha de terra, cujas
várzeas são plantadas com cana; mói com água e tem um bom
açude. Pode anualmente fornecer 5.000 arrobas de açúcar e
paga como recognição 3 e Vz por cento; na casa de purgar, que é
cercada com um muro de alvenaria, como também a casa das
caldeiras, foram encontradas os seguintes açúcares: 9 caixas de
açúcar do senhor do engenho, parte das quais em más condições:
638 fôrmas de açúcar que, segundo a conta do purgador
Domingos Dias, renderam 561 arrobas de açúcar branco e 82
arrobas de açúcar mascavado, das quais tirado o dízimo, ficam
para o lavrador suas duas quintas partes, ou 202 arrobas de
açúcar branco e 29 arrobas de açúcar mascavado; restam para a
Companhia 359 arrobas de açúcar branco e 48 arrobas de açúcar
mascavado, que foram encaixados em 20 caixas e, coma marca
da Companhia, mandadas para o Pontal e a Barreta.
7 - Engenho de Três Paus, (•) pertencente a João
Rodrigues Caminha, fugido com Albuquerque, situado um quarto
de uma milha ao sul do citado engenho Pirapama; mói com
bois e tem apenas uma moenda; a casa de purgar e a casa das
caldeiras têm paredes de taipa e os telhados são velhos; nelas
foram encontradas os açúcares abaixo especificados. A terra a
ele pertencente foi calculada em meia milha, sendo a maior
parte montes e matas. Da cana que cresce numa parte desta
terra pode este engenho anualmente fornecer 1.100 a 1.200
arrobas de açúcar; paga como recognição 1 e 1/z por cento.
Na casa de purgar foram encontradas 21 caixas de açúcar
pertencentes ao senhor do engenho e mais 552 fôrmas que,
segundo a conta do purgador, renderam 617 arrobas de açúcar
branco e 61 arrobas de açúcar mascavado. Tirado o dízimo, ficam
para o lavrador 222 arrobas de açúcar branco e 22 arrobas de
açúcar mascavado, e restam para a Companhia 394 arrobas de açúcar
branco e 39 arrobas de açúcar mascavado, dos quais foram feitas
57
19 caixas que, com a marca da Companhia, foram mandadas
para o Cabo e a Barreta.
6- Engenho Marapatigipi, pertencente a Gaspar de Mere,
agora por ele abandonado; está situado uma milha mais para o
interior ao oeste do referido engenho de Três Paus. Tem meia
milha de terra, na maior parte de montes e matas, sendo a cana
plantada em alguns montes e, além disto, nos vales. Mói com
água e pode anualmente fornecer 2.000 a 3.000 arrobas de açúcar;
paga como recognição 60 arrobas de açúcar branco, que devem
ser entregues encaixadas no Recife.
A casa de purgar, como também a moenda, tem poucas
cousas quebradas e nelas foram encontradas 9 caixas do senhor
do engenho, 72 fôrmas da pensão, as quais, segundo a conta do
lavrador João Rodrigues, renderam 42 arrobas de açúcar branco
e 26 arrobas de açúcar mascavado, que foram encaixados em
três caixas e meia, que, com a marca da Companhia, foram
mandadas para a Barreta. Além disto os negros: João, Manuel,
Malemba, Maria, Esperança, Catarina, Susana, Adriana, sendo 3
negros e 4 {sic} negras muito idosos e incapazes. Na casa das
caldeiras foram encontradas 4 caldeiras, 5 tachos e 1 parol.
8 - Engenho São José, de Julião Paes de Altro, fugido
com Albuquerque. Situado uma pequena milha ao oeste do
referido engenho Marapatigipi. Mói com bois e tem apenas uma
moenda; a casa de purgar e a casa das caldeiras têm paredes de
taipa e o telhado é muito velho; tem cerca de meia milha de
terra, consistindo na maior parte de montes nos quais está a
maior parte dos canaviais; pode anualmente produzir 1.000 a
1.500 arrobas de açúcar e paga como recognição 1 e Vz por
cento. Na casa das caldeiras foram encontradas 2 caldeiras grandes .
e 3 tachos, um velho negro com uma negra.
9 - Engenho Utinga, pertencente ao citado Julião
Paes, situado meia milha ao sul do já referido engenho. A
casa de purgar e a casa das caldeiras são feitas de taipa e
nelas foram encontradas o que abaixo está especificado.
Mói com água mas tem um açude difícil; a terra que lhe
pertence é calculada em uma milha e tem muitas matas
e poucas várzeas; pode anualmente moer cerca de 2.000
58
a 3.000 arrobas de açúcar e paga como recognição 3 por cento.
Na casa das caldeiras foram encontradas 3 caldeiras, 3 tachos, 3
negras velhas com uma criança.
10- Engenho Nossa Senhora da Paz, pertencente a um
Domingos da Costa, agora abandonado; está situado meia milha
mais para o interior ao oeste do último mencionado engenho;
mói com água. A casa de purgar e a casa das caldeiras têm
parec_:ies de alvenaria, mas os telhados já são bastante velhos.
Nelas foram encontradas as cousas abaixo especificadas. Tem
cerca de uma milha de terra com muitos montes e matas; dos
seus canaviais podem anualmente ser fabricadas 4.000 a 5.000
arrobas de açúcar e paga 3 por cento de recognição. Na casa
do senhor do engenho e na casa de purgar foram encontradas
83 caixas cheias e também 1.055 fôrmas que, segundo a conta
do purgador Bento Dias, renderam 1.123 arrobas de açúcar
branco e mascavado.
Das citadas fôrmas competem 511 aos lavradores Gaspar
de Aguiar e Bento Dias Pinto, as quais renderam 420 arrobas
de açúcar branco e 114 arrobas de açúcar mascavado, das
quais tirado o dízimo ficam para o lavrador 151 arrobas de
açúcar branco e 21 arrobas de açúcar mascavado, restando
para a Companhia 269 arrobas de açúcar branco e 93 arrobas
de açúcar mascavado, que, com as mencionadas fôrmas,
representam para a parte da Companhia 858 arrobas de açúcar
branco e 93 arrobas de açúcar mascavado, dos quais foram
feitas 37 caixas que, com a marca da Companhia, foram
mandadas para o Pontal e Barreta.
11 -Engenho Cajubusu, pertencente a Fernando Gomes,
que está sob passaporte, e fica duas milhas ao oeste do engenho
acima mencionado de Domingos da Costa. Mói com água e tem
cerca de uma milha de terra, da qual muita consiste de montes.
Pode anualmente produzir 1.000 a 2.000 arrobas de açúcar e
paga 3 por cento de recognição.
Engenho São Braz, pertencente a Antônio d' Ahilda
{sic}, que está sob passaporte. Fica situado uma milha ao
oeste do citado engenho Cajubusu, tem cerca de uma mi-
59
lha de terra, na maior parte montes e poucas várzeas; pode
anualmente produzir 1.000 a 2.000 arrobas de açúcar e paga
com recognição 3 por cento. Mói com água.
Engenho Santo Agostinho, pertencente a Antônio Nunes
Ximenes, que recebeu nosso passaporte; está situado uma
pequena milha mais ao oeste das matas do acima mencionado
engenho e tem cerca de meia milha de terra, sendo parte da
cana plantada nas várzeas, outra parte nos montes. Mói com
água e tem um bom açude e pode anualmente fornecer 1.000 a
2.000 arrobas de açúcar. Paga 3 por cento de recognição.
19 - Engenho Jurisac, pertencente à viúva de Dom Luís
de Sousa, chamada Dona Catarina, fugida com Matias de
Albuquerque. Está situado uma pequena milha ao leste do
mencionado engenho Trapiche e tem cerca de uma milha de
terra, com belas várzeas, bem plantadas com canaviais; mói com
água e pode produzir 5.000 a 6.000 arrobas de açúcar; paga 3 e
:Y2 por cento de recognição. As paredes da casa de purgar e da
casa das caldeiras são de alvenaria, ainda com bons telhados,
mas dentro foram apenas encontradas algumas jarras quebradas
e os lugares onde estavam assentadas as caldeiras.
13 - Engenho Espírito Santo ou Garapu, pertencente a
Filipe Paes, está situado uma milha mais para o interior ao oeste
do citado engenho; tem cerca de uma milha de terra, e nela
umas belas várzeas, bem plantadas; mói com água e pode
anualmente fazer 5.000 a 6.000 arrobas de açúcar e paga 3 e :Y2
por cento como recognição. A casa de purgar e a casa das
caldeiras são de alvenaria, mas dentro estava tudo quebrado e
os lugares onde estiveram assentadas as caldeiras estavam vazios.
14 - Engenho Algodoais, pertencente a Miguel Paes,
situado meia milha distante do citado engenho Espírito Santo,
em direção Sul no passo do Ipojuca; tem cerca de meia milha de
terra, com poucas várzeas e canaviais; mói com água e pode
anualmente fazer 1.500 a 1.600 arrobas de açúcar; paga de
recognição 3 e Y2 por cento. A casa de purgar e a casa das
caldeiras são feitas de alvenaria, mas o telhado é muito velho e
tudo dentro estava quebrado e as caldeiras foram retiradas.
60
Engenhos de Ipojuca
61
moronadas, mas a casa na qual estão as moendas ainda é
nova. Este engenho tem duas milhas de terra, com muitos vales
e lindos canaviais, como também madeira e pastos para os
animais. Pode anualmente fazer 9.000 a 10.000 arrobas de açúcar
e paga de recognição 30 arrobas de açúcar branco encaixado.
Na casa de purgar foram encontradas 172 fôrmas, das quais
algumas quebradas, as quais renderam 155 arrobas de açúcar
branco e 155 arrobas de açúcar mascavado, que foram
encaixados em 14 caixas. Numa barraca cerca de uma milha e
meia distante foram ainda encontradas 9 caixas de um particular
que tinha fugido.
19- Engenho Nossa Senhora da Conceição, situado meia
milha distante do engenho anterior do Bom Jesus, pertencente a
Dom Fernando de Queiroz que mora na Galiza. Este engenho
foi arrendado pelo tempo de nove anos a João Carneiro de
Mariz, como se vê dos documentos apresentados ao Conselho.
Essa pessoa recebeu nosso passaporte e o engenho foi preparado
para moer, sob condição que pagará o arrendamento à
Companhia, até que haja outra resolução. Este engenho mói
com água e tem um bom açude e meia milha de terra com
lindas várzeas cheias de canas e matas, que fornecem toda a
madeira de que se precisa. Pode anualmente moer 3.000 a 4.000
arrobas de açúcar e paga 3 por cento de recognição. A casa de
purgar e a casa das caldeiras são de taipa e nelas foram
encontradas, antes da chegada do dito João Carneiro, 2 caixas
pertencentes a L. Dolvero {sid e 17 caixas provenientes, segundo
ele, de algumas fôrmas purgadas por João Gonçalves.
20 - Engenho Bertioga, situado a um quarto de milha
distante do citado engenho de Nossa Senhora da Conceição;
pertence a Luís Lopes Tenório, que fugiu com Albuquerque;
tem uma milha de terra com várzeas razoáveis e, além disto,
matas; mói com água e o açude está bem situado e nunca tem
falta d~água. Pode anualmente fazer 3.000 a 4.000 arrobas de
açúcar e paga 3 por cento de recognição. A casa de purgar e a
casa das caldeiras são de alvenaria, mas o telhado é muito
velho; nelas foram encontradas 20 caixas de açúcar de várias
pessoas ausentes e mais 5 que pertencem a Leonardo de Oliveira,
62
ao todo 25 caixas, que, com a marca da Companhia, foram
mandadas para o Salgado.
Este referido engenho ficou, pela partida do senhor do
engenho, sem meios e impossibilitado de moer e por isto, para
não deixar que os canaviais fossem destruídos totalmente e para
ainda obter algum lucro para a Companhia, foi feito um acordo
com o principal lavrador, pelo qual ele, com seus negros e outros
que pudesse arranjar para este serviço, se obrigava a fazer com
que o engenho recomeçasse a moer, para o que lhe seriam
reembolsadas todas as despesas, sendo-lhe além disto prometido
um bom salário pela sua fiscalização, se ele desse fielmente
conta de tudo. Este trabalhou tanto que já está pronta uma boa
quantidade de fôrmas e diariamente são feitas outras.
Engenho de Três Reis, pertencente a Manuel Vaz Viseu, que
recebeu passaporte, fica meia milha mais ao sudoeste do referido
engenho Bertioga, mói com água e tem cerca de meia milha de
terra, de muitos montes e poucas várzeas. Pode anualmente fazer
2.000 a 3.000 arrobas de açúcar e paga 3 por cento de recognição.
21 - Engenho Maranhão, situado meia milha distante do
referido engenho Três Reis, pertencente a um certo castelhano
João Tenório, que fugiu com Albuquerque; tem cerca de meia
milha de terra de muitos montes e ruim. Mói com água e pode
anualmente produzir 2.000 a 3.000 arrobas de açúcar e paga 3
por cento de recognição. A casa de purgar e a casa das caldeiras
são de alvenaria e nelas foram encontradas 198 fôrmas, que
renderam 170 arrobas de açúcar branco e 42 arrobas de açúcar
mascavado, dos quais foram feitas 9 e 1h caixas; e 13 caixas
velhas de açúcar mascavado pertencentes ao senhor de engenho,
2 a Leonardo de Oliveira, 1 de um comerciante em Portugal, 6
caixas de açúcar branco pertencentes ainda a algumas pessoas
ausentes. Todas elas foram, com a marca da Companhia,
mandadas para o Pontal.
22 - Engenho Santo Cosme, pertencente a Antônio
Gonçalves da Paz, que fugiu com Albuquerque, situado a
meia milha do mencionado engenho Maranhão, tem cerca
de três quartos de uma milha de terra, com poucos mon-
tes, mas porque fica tão no interior das matas a terra é
63
ruim; dos canaviais anualmente pode moer, com água, 2.000 a
3.000 arrobas de açúcar. A casa. de purgar e a casa das caldeiras
têm paredes de alvenaria, mas totalmente desmoronadas e vazias.
Paga 3 por cento de recognição.
Engenho Pindoba, situado duas milhas distante de Ipojuca,
pertencente aos órfãos de Gaspar da Fonseca, dos quais o filho
mais velho se encontra aqui e as filhas estão num convento em
Portugal. Tem uma moenda de água e outra de bois, um belo
açude e cerca de meia milha de terra, na qual está uma várzea
tão bem plantada que anualmente o engenho pode fornecer
3.000 a 4.000 arrobas de açúcar; paga de recognição 50 arrobas
de açúcar branco e 30 arrobas de açúcar mascavado encaixados.
De uma barraca, situada em torno deste engenho, foram
conduzidas para a Companhia 17 caixas de açúcar branco e
mascavado.
23 - Sibiró de Riba, pertencente a Manuel de Navalhas,
fugido com Albuquerque; situado uma milha distante do referido
engenho Pindoba; tem duas milhas de terra muito montuosa,
mas bem plantada de canaviais. Mói com água e tinha começado
a construção de uma moenda de bois. Pode anualmente
produzir 5.000 a 6.000 arrobas de açúcar e paga a recognição.
A casa de purgar e a casa das caldeiras são de taipa e nelas
foram encontradas, a saber, embaixo de um telhado da moenda,
100 caixas de açúcar mascavado e retame velho, das quais
algumas com mais da metade dele derramado, nelas pôs-se a
marca de Companhia; 3 negros velhos e algumas vacas bravias
e 2 bois velhos. Cerca de meia légua da casa, escondidas nas
matas, foram encontradas quatro barracas cheias de açúcar,
cuja quantidade não se pôde saber porque elas estão cobertas
de tábuas.
Engenho Sibiró de Baixo, pertencente a Francisco
Soares Canha, que desde o início tem ficado sob nosso
passaporte; está situado a uma boa milha ao sudoeste do
citado engenho Sibiró de Riba e tem cerca de 2 milhas de
terra, na qual está uma várzea razoável, mas a maior parte
consiste de pastos. Mói com água e pode anualmente
fornecer 3.000 a 4.000 arrobas de açúcar e paga de re-
64
cognição 80 arrobas de açúcar branco, encaixado, levado para o
passo do engenho.
Engenho Aratangil, pertencente a Miguel Fernandes de
Sá, que está sob nosso passaporte; situado uma milha ao sul do
referido engenho Sibiró de Baixo, tem cerca de uma milha de
terra, mói com água e pode anualmente produzir 4.000 a 5.000
arrobas de açúcar e paga de recognição 80 arrobas de açúcar
branco encaixado. No dito engenho foram ainda encontradas
para a Companhia, entre as caixas que pertenciam aos habitantes
que estão sob passaporte, 5 caixas de açúcar, sendo 4 mascavado
e 1 de branco, as quais com a marca da Companhia foram
mandadas para Sirinhaém.
65
porte; fica perto do engenho por nós antes citado; tem pouca
cana e mói com bois e pode anualmente produzir 1.400 a 1.500
arrobas de açúcar, paga 2 em cada mil de recognição. A casa de
purgar e a casa das caldeiras são de alvenaria e desmoronadas e
nelas foi encontrado para a Companhia.
Engenho Camaragibe, pertencente a Franco Rodrigues do
Porto, que está sob o nosso passaporte; fica 3 milhas mais para o
interior de Serinhaém em direção ao oeste, tem cerca de uma
milha de terra, na maior parte matas e montes e poucas várzeas.
Mói com água e pode anualmente produzir 2.000 a 3.000 arrobas
de açúcar, paga com pensão 2 arrobas em cada mil. Neste engenho
encontramos apenas açúcares pertencentes a particulares que
estão sob o nosso passaporte.
25 -Engenho Cocaú, situado mais três milhas em direção
às matas, ao oeste do mencionado engenho Camaragibe; pertence
a um certo Dom Francisco de Moura, residente nas Índias
Ocidentais, a serviço do rei da Espanha. Tem cerca de uma
milha de terra, da qual a maior parte são matas. As várzeas estão
plantadas com canas e pode produzir 3.000 a 4.000 arrobas de
açúcar; mói com água e o açude é razoável, mas muitas vezes
falta água de modo que o engenho não pode moer. Também
no inverno dificilmente os açúcares podem ser transportados,
porque as estradas ficam intransitáveis; paga de recognição 2
arrobas em cada mil. A casa de purgar e a casa das caldeiras são
de taipa e nelas foram encontradas para a Companhia o seguinte;
4 caldeiras grandes, 4 tachos novos, 4 escumadeiras, 2 ditas
pequenas, 4 pombas, 2 reminhóis, 2 repartideiras, 2 tachas velhas,
8 bois, 2 vacas e 2 novilhos.
66
Calita Marquita o 2 1
Manuel Mulato 1 o o
Manuel Mamaluco 1 o o
Augieg o o 1
6 6 6
67
robas de açúcar e paga de recognição 2 arrobas em cada mil. A
casa de purgar e a casa das caldeiras são de taipa mas totalmente
desmoronadas e nelas nada foi encontrado.
Engenho ................ , pertencente a Catarina, viúva de ]aques
Peres, está sob nosso passaporte e fica a um quarto de uma milha
ao oeste de Sirinhaém. Tem cerca de uma milha de terra, com
uma boa várzea. Mói com bois e pode anualmente produzir 4.000
a 5.000 arrobas de açúcar e paga de recognição 2 arrobas em
cada mil. Neste engenho nada foi encontrado para a Companhia.
Engenho Veajier Dios {sic} pertencente a Francisco
Fernandes Anjo, que recebeu passaporte. Foi pelo mesmo
arrendado a Sebastião Vaz e está situado perto do rio Sirinhaém,
cerca de meia milha distante da cidade. Mói com água e tem
cerca de uma milha de terra, na qual há várzeas razoáveis; pode
anualmente produzir 2.000 a 3.000 arrobas de açúcar e paga de
recognição 2 arrobas em cada mil. Neste engenho nada foi
encontrado que pudesse ser tomado para a Companhia. ·
28- Engenho Nossa Senhora da Palma, pertencente a
Dona Madanela, viúva de Filipe de Albuquerque. Ao fugir com
Matias de Albuquerque deixou apenas o que não podia levar.
Este engenho está situado a um quarto de milha distante de
Sirinhaém, mói com água e tem cerca de meia milha de terra,
com uma boa várzea bem plantada, que, porém, está decaindo
cada dia mais, como tudo que pertence ao engenho. Produz
anualmente 2.000 a 3.000 arrobas de açúcar e, como os outros,
paga de recognição 2 arrobas em cada mil. Na roça, perto do
engenho, foram encontrados um negro velho e uma negra.
Engenho Nossa Senhora do Rosário, pertencente a Pedro
Lopes de Vera, que ficou sob nosso passaporte. Situa-se à margem
do rio Sirinhaém, cerca de uma milha e meia distante da cidade;
tem cerca de uma milha e meia de terra com uma várzea
razoavelmente boa; mói com água e pode anualmente fornecer
5.000 a 6.000 arrobas de açúcar e paga de recognição 2 arrobas
em cada mil.
Engenho Sembras, pertencente ao citado Pedro Lopes
de Vera, situado ao sul do rio Sirinhaém, cerca de uma
milha e meia da cidade; tem aproximadamente uma mi-
68
lha de terra com uma várzea razoavelmente boa. Mói com água
e pode anualmente produzir 5.000 a 6.000 arrobas de açúcar;
paga de recognição 2 arrobas por mil.
29 - Engenho São Jerônimo, situado em Taserusu, cerca
de duas milhas distantes da cidade, ao sul do rio. Pertence a
dona Catarina Camela, que fugiu com Albuquerque; tem cerca
de uma milha de terra com poucas várzeas e muitos montes.Mói
com água e pode anualmente produzir 3.000 a 4.000 arrobas de
açúcar e paga de recognição 2 arrobas por mil. A casa de purgar
e a casa das caldeiras são de taipa mas estão muito arruinadas e
nelas nada foi encontrado para a Companhia.
Na freguesia de Una
69
- Em baixo do telhado de Antônio da Rocha: 11 caixas de
açúcar velho pertencentes a Pedro da Cunha.
- Na casa de Gabriel Baracho: 5 caixas.
Na casa de Baltasar da Costa: 3 caixas.
Na casa de Duarte Leão: 9 caixas.
Numa barraca de Antônio Gomes: 12 caixas.
Na casa de Vicente Vaz: 15 caixas.
Na casa de Francisco Vaz: 3 caixas.
Numa barraca perto do engenho Utinga: 15 caixas de açúcar
branco e mascavado.
- Item, ainda 2 caixas na casa de Monso Gomes, pertencentes
a Manuel da Costa.
Numa barraca pertencente a Dona Isabela: 9 caixas.Na casa
de Antônio Luís: 9 caixas.
Na casa de Sousa: 2 caixas.
Na casa de Antônio Sirgueiro: 2 caixas.
Na casa de Braz Barbalho e numa barraca perto dela: 18
caixas pertencentes a alguns ausentes.
No engenho de Álvaro Barbalho e na casa no alto do monte
estão 79 caixas de açúcar mascavado e branco, das quais
algumas são muito velhas e meio vazias, 8 caldeiras grandes e
velhas, 2 tachas , 1 fonde. (?)
Na barraca de Luís Marreiros, situada uma légua distante da
Muribeca, foram encontradas 57 caixas, que foram enviadas
pelo rio de Jangada.
Igualmente 3319 toros de pau-brasil, com peso líquido de
29.400 libras, tomados no rio Jangada por uma barca, à noite,
e deixados em terra.
Item, 36 caixas de açúcar branco e 4 caixas de açúcar
mascavado.
Especificações dos engenhos que foram confiscados para
a Companhia no distrito ao sul do rio Jangada até o rio Una:
1- Engenho Velho, de João Paes Barreto
2 - Engenho da Guerra, do dito João Paes Barreto
3- Engenho Novo, de Cristóvão Paes
4 - Engenho São João, pertencente a João Paes de Castro
5 - Engenho de Pirapama, pertencente ao mesmo de Castro
70
6 - Engenho Marapatigipe, de Gaspar de Mere
7 - Engenho de Três Paus, de João Rodrigues Caminha
8- Engenho São José, de Julião Paes
9 - Engenho Utinga, do mesmo.
10- Engenho Nossa Senhora da Paz, de Domingos da Costa
11 - Engenho Cajabusu, de Fernando Gomes
12 - Engenho Jurisac, de dona Catarina
13 - Engenho Espírito Santo, de Filipe Paes
14 - Engenho Algodoais, de Miguel Paes
15- Engenho Santa Luzia, de Cosmo Dias
16- Engenho dos Salgados, do mesmo.
17 - Engenho São Paulo, sob o feitor Pedro da Grand.
18- Engenho Bom Jesus, de dona Isabela.
19 - Engenho Nossa Senhora da Conceição, de Dom Fernando
de Queiroz
20 - Engenho Bertioga, de Luís Lopes Tenório
21 - Engenho Maranhão, de João Tenório
22 - Engenho Santo Cosme, de Antônio Gonçalves da Paz
23 - Engenho Sibiró de Riba, de Manuel Navalhas
24 - Engenho Taperusu, de Pedro Fragoso de Albuquerque
25 - Engenho Cocaú, de dom Fernando de Moura
26 - Engenho Sangua, de Manuel Pinto
27 - Engenho de Rio Formoso, de dona Catarina de Fontes
28 - Engenho Nossa Senhora da Palma, de dona Madalena
29 - Engenho São Jerônimo de Dona Catarina Camela
30 - Engenho Nossa Senhora da França, pertencente a Diogo
Paes
31- Engenho .......... , pertencente a Estevão Paes.
71
DOCUMENTOS
73
e Geográfico Pernambucano volume VI número 34 (Recife, 1887)
pp. 139-196. A tradução de José Hygino foi revista para a presente
coletêna, visando-se, tanto quanto possível, à equivalência textual
com o original.
Aqui está o primeiro levantamento dos engenhos existentes
nas quatro Capitanias conquistadas, deficiente ainda, como o
próprio redator o reconhece, mas ainda assim valioso, podendo
ser comparado com o documento que aqui a este se segue. Um
de 1637 (pois datado de 14 de janeiro de 1638), o outro de
1639; este último documenta o progresso do esforço de
informação acerca da base da economia da área dominada.
Tanto um quanto o outro, incluídos numa coletânea de
documentação sobre a economia açucareira do Brasil holandês,
abrangem outros aspectos do passado nordestino e são ricos de
informação para a história econômica e social geral do período
e não apenas para a da agricultura e indústria do açúcar;
considerei preferível publicar os textos integrais e não apenas os
trechos relativos ao tema escolhido para este volume.
Este "Breve Discurso" contém uma rara apreciação de
observar holandês acerca do tipo físico e dos hábitos dos
moradores luso-brasileiros: o modo como as senhoras recebiam
as suas visitas; a frugalidade e a modéstia do dia-a-dia das classes
abastadas, em especial a dos senhores de engenho; a inexistência
de pinturas a decorar os interiores das casas, são algumas dessas
observações. Em relação às fortificações e à arquitetura militar
são valiosos os informes aqui oferecidos.
O Conselho dos XIX e os acionistas da Companhia das
Índias Ocidentais estavam sempre interessados nos rendimentos
do Brasil e, naturalmente, em primeiro lugar, no do açúcar. O
"Breve Discurso" oferece um cálculo do que era de esperar "este
ano ou safra atual" (isto é, na safra de açúcar de 1637-38), cálculo
que vale a pena comparar com outros aqui também apresentados:
em 1623, segundo a "Lista" (doc. I) 123
engenhos produziam ao todo arrobas 700.000
no mesmo ano, José Israel da Costa (doc.
II) refere que 137 engenhos produziam
arrobas 659.069
74
em 1637 a Memória dos Escabinos (apêndice 2)
atribui ao tempo da "antiga florescência" a
a produção de arrobas 500.000
no mesmo ano este "Breve Discurso" calcula
que 99 engenhos produziram
arrobas 346.500
Esses números parecem indicar não só que a produção
açucareira do Nordeste estaria em declínio na altura mesmo da
invasão holandesa, como demonstram como foi vultosa a sua
redução em decorrência da guerra de conquista que vai de 1630
a 1635.
75
DOCUMENTO S. TEXTO
PERNAMBUCO
77
PORTOS DE PERNAMBUCO
RIOS DE PERNAMBUCO
(•) Medida de comprimento, da qual as mais comuns na época eram: roede renano
= 3,7674m e roede de Amsterdã - 3,6807m.
78
milha e meia adiante o Tatuamunha; e outro tanto sempre para
o Norte o rio das Pedras, onde fica a povoação de Porto do
Calvo.
A 5 milhas daí se encontra o rio Una, demorando entre
este e o rio das Pedras a bela baía da Barra Grande, e 2 milhas
ao Norte do Una o rio Formoso. Uma milha e meia depois vem
o rio Sirinhaém; 2 milhas daí o Marcuípe; milha e meia adiante o
rio de Pojuca, e daí uma milha o rio do Cabo, os quais ambos se
lançam no mar pela barra do Cabo Santo Agostinho.
O rio das Jangadas fica 2 1/z milhas ao Norte do Cabo; 3
1h milhas depois segue-se o Capiguaribe que corre pela Várzea,
JURISDIÇÕES DE PERNAMBUCO
79
Sirinhaém; a quarta, que nunca teve câmara, sendo dirigida pro
libitu do mais poderoso do lugar, começa ao sul da jurisdição
de Sirinhaém e se estende até o rio São Francisco.
Começando ao sul, temos a primeira jurisdição, que se
estende do rio São Francisco ao rio Pirasununga e, como dissemos,
nunca teve uma forma regular de governo. As suas principais
povoações são: Penedo, Alagoa do Sul, Alagoa do Norte (cada
uma com uma povoação ou aldeia), e Povoação do Porto do
Calvo. Além das outras povoações menores e lugarejos, existem
aí alguns engenhos, a respeito dos quais não temos podido obter
até o presente informações completas; contudo declaramos aqui
o que veio ao nosso conhecimento.
ENGENHOSDEPERNAMBUCO
Em porto Calvo
1, de Manuel Ramalho;
2, dos Alpões;
3, de Rodrigo de Barros Pimentel;
4, do mesmo Pimentel, recentemente feito;
5, de Manuel Camelo;
6, de Cristóvão Botelho;
7, outro engenho do mesmo, ultimamente feito;
8, de João Lins;
9, de Cristóvão Dias Delgado.
Nas Alagoas
Na Alagoa do Norte:
10, o engenho de Sebastião Dias;
11, de Antônio Martins Ribeiro;
12, de Lucas de Abreu.
Na Alagoa do Sul:
13, de Gabriel Soares;
14, de Henrique de Carvalho,
No rio de São Miguel:
15, do Barbalho.
80
Existem, pois, nesta primeira jurisdição pelo menos 15
engenhos, alguns dos quais foram confiscados, e destes alguns
têm sido vendidos e outros estão por vender. Se são engenhos
movidos por água ou por bois, e se moerão este ano e quais
moerão ou não, são particularidades a respeito das quais até o
presente não temos podido haver notícia. Não devem, porém,
ser muitos os que moerão, porquanto em razão da guerra e de
terem por aí passado recentemente os exércitos de um e outro
lado, estão sem dúvida muito arruinados.
A principal atividade em que os moradores costumam
empregar-se é a criação de toda sorte de gado, sobretudo bois e
vacas, que aí existem em grande quantidade e em numerosos
currais, e é deste distrito que toda a parte setentrional do Brasil
tira quase todo o gado de que necessita, tanto para o corte,
como para o trabalho de engenhos e carros.
Segue-se a jurisdição de Sirinhaém, que se estende do
Pirasununga ao Sul até o Rio Marcaípe ao Norte, e está perfei-
tamente extremada com marcos e pedras fmcadas. A esta jurisdição
pertence uma parte da freguesia de Pojuca, desde os currais de
Marcaípe, compreendendo os engenhos de Francisco Soares Canha
e de Miguel Fernandes de Sá, e a freguesia de Una.
Aí existem a cidade chamada Vila Formosa de Sirinhaém
e a povoação de São Gonçalo de Una, além de alguns outros
lugarejos.
Em Sirinhaém
81
4. Engenho Tapicuru de Baixo, sob a invocação de Santo
Antônio. Pertence a Álvaro Fragoso Toscano, que ficou conosco;
moerá este ano.
5. Engenho de D. Catarina Camela, viúva de Jerônimo da
Taíde, situado no rio Iguaré. Por causa da ausência do dono, foi
confiscado mas ainda não vendido, e por não ter dono e estar
muito arruinado, este ano não moerá.
6. Engenho Camaragibe, sob a invocação de Santo Antônio,
pertencente a Francisco Rodrigues do Porto. Até o presente tem
sido possuído por sua mulher, que ficou sob a nossa obediência:
há-de moer este ano.
7. Engenho Aracuara, que Vicente Campelo começou a
levantar, e conquanto já tivesse uma boa quantidade de canas,
foi confiscado, porque Vicente Campelo foi preso e remetido
para a Holanda. Está pois sem dono, e não moerá.
8. Engenho Cocaupe, sob a invocação de Nossa Senhora
da Penha de França. Pertenceu a Dom Francisco de Moura, que
reside em Portugal ou nas Índias. Este engenho foi incendiado,
está destruído e sem dono nem moradores.
9. Engenho Enaxagoa, sob a invocação de Nossa Senhora
da Apresentação. Pertence a Manuel Pinto Pereira, que ficou
conosco e o prepara para moer ainda esta safra.
10. Engenho do Rio Formoso, sob a invocação de São
José. Pertenceu a Catarina de Fontes e, em razão de sua
ausência, foi confiscado e vendido a Rodrigo de Barros Pimentel;
mói.
11. Engenho Trapiche, sob a invocação de Santo Antônio.
Pertenceu a Jacques Pires, que faleceu, e é possuído por sua
mulher e herdeiros; este ano não moerá.
12. Engenho de Sirinhaém, sob a invocação de Todos os
Santos. Possuía-o Sebastião Vaz Ferreira, falecido, e sua mulher
o tem de entregar a Francisco Fernandes Anjo, como sendo seu;
não moerá este ano.
13. Engenho de Sirinhaém, sob a invocação de Nossa
Senhora da Palma. Pertenceu a D. Madanela Pinheira, e lhe foi
confiscado por estar ausente. Não tem canas nem dono; não
moerá.
82
14. Engenho de Sirinhaém, sob a invocação de Nossa
Senhora do Rosário. Pertence a Pero Lopes deVera, que ficou
conosco; não moerá este ano.
15. Engenho da invocação de São Braz, pertencente ao
mesmo Pero Lopes de Vera; moerá este ano.
16. Engenho Jaseru, sob a invocação de São Jerônimo.
Pertenceu a D. Catarina Camela, viúva de Pero de Albuquerque,
e em razão de sua ausência foi confiscado. Ainda não tem dono,
e este ano não moerá.
17. Engenhos das Ilhetas, sob a invocação de Nossa
Senhora de Guadalupe. Pertenceu a Estevão Paes Barreto, e em
razão de sua ausência foi confiscado. Está situado na freguesia
de Una; não tem dono e não moeerá.
18. Engenho de Una, sob a invocação de ~ossa Senhora
da Guia. Pertenceu a Diogo Paes Barreto, e lhe. foi confiscado
por estar ausente. Não foi vendido, e este ano não moerá.
Contam-se, pois, 18 engenhos nesta jurisdição de
Sirinhaém, dos quais 11 não moerão, e entre estes há sete que
ainda não foram vendidos.
A esta jurisdição de Sirinhaém segue-se ao Norte a da
cidade de Olinda, de que fazem parte as seguintes freguesias, a
começar do sul: Pojuca, Cabo Santo Agostinho, Santo Amaro do
Jaboatão, Muribeca, Várzea, São Lourenço, Olinda; ao todo sete,
onde existem estes engenhos:
83
5. Engenho Caroaçu, pertencente a Manuel Vaz Viseu,
que ficou conosco. É d'água e moente.
6. Engenho Bartioga, confiscado e vendido a seu
proprietário João Tenório, por ter vindo do inimigo para o nosso
lado. É d 'água e mói.
7. Engenho Nossa Senhora do Rosário, confiscado e
vendido a João Carneiro de Mariz. É d 'água e moente.
8. Engenho Bom Jesus, chamado Trapiche; confiscado e
vendido a Duarte Saraiva. É d'água e moente.
9. Engenho Guerra. Sete nonas partes deste engenho foram
confiscadas e vendidas ao Sr. Hendrick Schilt. É movido por
bois e mói.
10. Engenho São João Salgado. Pertenceu a Cosme Dias,
que reside entre o inimigo. Confiscado e vendido a Mateus da
Costa; é de bois e não mói.
11. Engenho Pindoba. Pertencente a Gaspar da Fonseca
Carneiro, e seu filho ainda o possui. É d 'água e moente.
12. Engenho Santa Luzia, confiscado e vendido a Amador
de Araújo. É d'água e moente.
Engenhos da freguesia do Cabo Santo Agostinho
13. Engenho Santa Luzia. Pertenceu aJulião Paes d'Altro,
que morreu entre o inimigo. Este engenho foi vendido a seu
filho João Paes; é de bois e mói.
14. Engenho Utinga, sob a invocação de São Francisco.
Pertenceu ao mesmo Julião Paes. Foi confiscado mas não vendido
por estar muito arruinado e sem canas, e pois não moerá.
15. Engenho Marapatagipe, sob a invocação de São
Marcos. Pertenceu a Gaspar de Mere, ausente; confiscado e
vendido a Miguel van Merenburch e Martinus de Coutre. É
d'água, mas não moerá.
16. Engenho que pertenceu a João Rodrigues Caminha.
Confiscado e arrendado a Antônio Vieira para levantá-lo; é
engenhozinho de bois e mói.
17. Engenho Pirapama, sob a invocação de Santa Apolônia.
Confiscado e vendido a Diogo Dias Brandão. É d 'água e moente.
18. Engenho Novo, invocação de São Miguel. Con-
84
fiscado e vendido a Duarte Saraiva. Engenho d~água e
moerá.
19. Engenho Garapu, sob a invocação do Espírito Santo.
Pertenceu a Filipe Paes. Confiscado e vendido ao mesmo Paes,
por ter voltado do inimigo. É d ~água e mói.
20. Engenho Algodoais, invocação de São Francisco.
Pertenceu a Miguel Paes, que voltou a nós. Confiscado e ainda
não vendido, porque, tendo estado aí o nosso exército por ocasião
do cerco do Cabo, ficou muito destruído. Não moerá.
21. Engenho Jurissaca, invocação de São João; confiscado
e vendido a Moisés Navarro. É d~água e moente.
22. Engenho Nossa Senhora da Conceição, pertencente a
D. Adriana, que ficou conosco; é d ~água e mói.
23. Engenho Velho, sob a invocação da Madre de Deus.
Pertenceu a João Paes Barreto, ausente. Confiscado e vendido
ao Sr. Nicolaes de Ridder; é d ~água e mói.
24. Engenho Guerra, também de João Paes, igualmente
confiscado e vendido a de Ridder; é de bois e moente.
25. Engenho Bom Jesus pertencente a Pero Lopes deVera,
que ficou conosco; é d~água e mói.
26. Engenho São João, que pertenceu a André de Couto.
Confiscado e vendido a Pero Lopes deVera; é d ~água e não moerá.
27. Engenho São Braz, pertencente a Antônio da Silva,
que ficou conosco; engenho d ~água e moente.
28. Engenho Nossa Senhora das Candeias pertencente a
Fernando Gomes, que ficou conosco; é d~água e moente.
85
e vendido ao Sr. Servaes Carpentier; é d~água e moente.
33. Engenho São João Batista, pertencente a Antônio de
Bulhões, presente; é d~água e moente.
34. Engenho Suassuna, pertencente a João de Barros
Correia, presente; engenho d~água e mói.
35. Engenho Sant~Ana. Pertenceu a Manuel de Sousa
d~Abreu, ausente; confiscado, mas não vendido por estar muito
arruinado; é d~água e não mói.
36. Engenho Nossa Senhora da Guia. Há muitos anos
que não é engenho, e não tem senão as terras e matas; era
movido por água.
37. Engenho Camaçari. Está também arruinado há longos
anos; não tem cana, era movido por água.
86
47. Engenho que pertenceu a Luís Ramires, ausente;
confiscado e vendido a Jacques Hack; é de bois e não mói.
48. Engenho de Pedro da Cunha de Andrade, presente; é
de bois e mói.
49. Engenho São Paulo, pertencente a Henrique Afonso
Pereira, presente; é de bois e mói.
50. Engenho de Antônio Fernandes Pessoa, presente; é
de bois e não mói.
51. Engenho de Maria Barrosa, presente; é d~água e mói.
52. Engenho que foi de Carlos Francisco, falecido,
confiscado e vendido ao Sr.Jacob Stachhouwer; é d~água e mói.
53. Engenho de Marmos André, presente; é de bois e não
mói.
54. Engenho de João de Mendonça, presente; é de bois e
mói.
55. Engenho de Luís Braz Bezerra, presente; é d~água e
mói.
56. Engenho de Francisco de Brito, presente; é de bois e
mói.
57. Engenho de Gaspar de Mendonça, presente; é d água,
mas não mói.
58. Engenho de Francisco Monteiro Bezerra, presente, está
muito arruinado; é d~água e não mói.
59. Engenho que foi de D. Catarina, há longos anos em
ruínas, não se vêem mais do que as suas terras.
87
64. Engenho Maciape, sob a invocação das Chagas de
Cristo. Pertenceu a Francisco do Rego Barros. Confiscado e
vendido a Elbert Chrispynsen; é d~água e mói.
65. Engenho de São Bento de Masurepe. Pertencente à
Ordem dos Beneditinos que ainda o possui; é d~água e mói.
66. Engenho de Diogo da Costa Maciel, muito arruinado;
há anos que não mói. É de bois, e o dono se acha presente.
JURISDIÇÃO DE OLINDA
JURISDIÇÃO DE IGUARASSU
88
Engenhos de Iguarassu
ITAMARACÁ
que, como fica dito, com ela se limita pelo Sul a meio-rio
diante da pequena cidade Schkoppe, e nos Marcos, na
altura de 7°50', corre a linha diretamente ao ocidente; do
lado do Norte extrema com a capitania da Paraíba, sendo
89
a linha divisória assinalada por marcos de pedra fincados ao
norte do Capissura, na altura de 7°10', os quais em uma das
faces tem gravado a palavra Itamaracá, e na outra a palavra
Paraíba. Esta Capitania de Itamaracá tem, pois, de costa somente
11 milhas.
E tendo sido a capitania doada pelo rei (que também fez
doação da de Pernambuco), a sua extensão é limitada não só
no litoral como no interior ou para o ocidente, e, tanto quanto
podemos saber, não se dilata mais de 25 milhas terra a dentro.
O único porto capaz que esta capitania tem, para abrigar
navios grandes, é a barra do Sul, porto da ilha de Itamaracá; e
para barcos tem a barra de Catuama, ou barra do Norte da dita
ilha, o rio de Goiana, além de alguns pequenos arrecifes, o
porto dos Franceses e Pedra Furada.
O seu principal rio é o Capiguaribe de Goiana, onde
existem os principais engenhos e onde deságuam diversos
pequenos rios, entre outros e Tracunhaém; e no Sul tem o rio
Araripe, que despeja por trás da ilha de Itamaracá.
A sua única cidade, que foi a sua antiga capital, onde a
câmara costumava reunir-se, está situada na ilha de Itamaracá,
da qual a capitania tomou o nome que tem; é a pequena cidade
agora denominada Schkoppe.
Engenhos de Goiana
90
4. Engenho Tracunhaém de Baixo, sob a invocação do
Anjo São Miguel, pertencente a Rui Paz Pinto, que ficou conosco;
não moerá.
5. Engenho Mariuna, pertenceu a Francisco Homem de
Almeida, que fugiu com Camarão. Confiscado e ainda não
vendido; é de bois e não moerá.
6. Engenho Três Paus, invocação de Nossa Senhora da
Encarnação, pertenceu a Jerônimo Cavalcante, que fugiu com
Albuquerque. Confiscado e vendido ao Sr. Carpentier; mói.
7. Engenho Tracunhaém de Cima, chamado Mossombu.
Pertenceu a Jerônimo Cavalcante. Confiscado e vendido ao dito
Carpentier; é de bois e mói.
8. Engenho Santos Cosme e Damião, que pertenceu a
Cosme da Silveira, ausente. Confiscado e vendido a Helmech
Fereres; moerá ainda este ano.
9. Engenho Bujari que pertenceu a Jerônimo Cavalcante.
Confiscado e vendido ao mesmo Helmech Fereres; não moerá.
91
Engenhos de Tejucupapo
Engenhos de Araripe
. PARAÍBA
ENGENHOS DA PARAÍBA
93
10. Engenho Santo Antônio, de Antônio de Valadares,
presente; é de bois e mói.
11. Engenho Santa Luzia, pertencente a João de Souto,
que ficou entre nós: é de bois e mói.
12. Engenho de Maria da Rosa, viúva de Fernão Dalvos
Romão, falecido entre nós; mói.
13. Engenho Santo Antônio, pertencente a Ventura Mendes
Castelo, que ficou; mói.
14. Engenho São Gonçalo, pertencente a Antônio Pinto
de Mendonça, presente; é engenho de bois, duplo, e mói.
15. Engenho Salvador no Inhobi, pertencente a Duarte
Gomes da Silveira, presente; mói.
16. Engenho Santos Cosme e Damião, pertenceu a Luís
Brandão, ausente. Confiscado e vendido a Isaac de Rasiere; mói.
17. Engenho do Meio, pertenceu a Francisco Camelo
Brandão. Confiscado e vendido ao mesmo Isaac de Rasiere;
mói. ·
18. Engenho Gargaú, pertenceu a Jorge Lopes Brandão,
que fugiu. Confiscado e vendido a Isaac de Rasiere; não moerá
este ano.
19. Engenho Camaratuba, pertencente a Antônio Barbalho,
que mora entre nós; mói.
20. Engenho Mireri de Francisco Álvares da Silveira; muito
arruinado e não tem cana.
Tem, pois, esta capitania vinte engenhos, dos quais
somente dois não moem, cada um com seu dono.
RIO GRANDE
94
Tem somente uma cidade, denominada do Natal, sita a milha e
meia do Castelo Ceulen, rio acima, a qual agora se acha muito
decaída.
A câmara desta capitania está em Potigi com licença de S.
Ex. i e dos Altos e Secretos Conselheiros, trabalhando por agregar
aí uma população que dê começo a uma cidade; dará aí suas
audiências, e para este fim levantará uma casa pública, com a
contribuição dos moradores, cada um conforme suas posses.
Até onde é povoada, terá esta capitania cerca de 25 a 30
milhas de litoral. Assim, estas quatro capitanias conquistadas se
dilatam por um litoral de. pouco menos de 100 milhas.
95
GOVERNO HOLANDÊS
96
Assembléia dos Dezenove, sejam enviados outros conselheiros
políticos que preencham esses lugares; e esta escusa não lhes
pode ser recusada senão até que outros venham. E, pois, para
ficar completo o dito colégio Vv. Ss. facilmente entenderão o
que se faz necessário aqui.
Como as principais funções do Colégio dos Conselheiros
Políticos dizem respeito à justiça, é da mais alta conveniência
que as exerçam alguns juristas, que não somente tenham
aprendido a teoria na Academia, mas também, se for possível,
tenham freqüentado os tribunais durante alguns anos e sejam
instruídos na prática e com experiência nela.
Os colégios subalternos de justiça são aqui providos por
eleição em todas as capitanias e jurisdições, do modo prescrito
nas nossas instruções, isto é, nos lugares onde há holandeses
idôneos para servirem como escabinos com os portugueses,
elegem-se cinco escabinos, sendo dois holandeses e três
portugueses, e nos outros lugares temos de regular-nos conforme
as circunstâncias. Assim nas jurisdições de Olinda, Itamaracá e
Paraíba o Colégio dos Escabinos se compõe de cinco membros
cada, e em Sirinhaém, Igarassu e Rio Grande de três e não são
mais numerosos porque os mesmos moradores o pediram,
alegando que, como são poucos, não devem ser muito
sobrecarregados com o serviço, até que os holandeses ali se
estabeleçam, e se ache gente apta que sirva com os portugueses,
posto que já entre três escabinos de Sirinhaém um holandês foi
eleito.
Há alguns meses que os Colégios dos Escabinos se acham
instalados e funcionam, mas até o presente não tem sido possível
que procedam conforme as ordenações e o estilo da Holanda
e Frísia Ocidental, primeiro porque é coisa muito grave fazer
com que um povo inteiro mude de leis, ordem e estilo, e
aprenda um novo estilo; e segundo, por causa da diferença da
língua, e por ser difícil verter as nossas ordenações do holandês
para o português, no que entretanto estamos muito
empenhados, e em breve lhes daremos traduzidas em português
as ordenações sobre coisas de justiça, tanto quanto forem
concernentes a esses colégios.
97
Além desses Colégios de Escabinos, há, também, em cada
distrito um outro, o colégio dos tutores ou administradores dos
órfãos, que é eletivo e se compõe de dois portugueses e um
holandês, e um secretário. É constituído segundo a ordenação
dos administradores dos órfãos da cidade de Amsterdã, a qual
mutatis mutandis é traduzida em português a fim de que por ela
se regulem.
Temos mais o colégio da Misericórdia de Olinda para
reger e administrar o patrimônio dos bens, casas, terras e negros
da mesma Misericórdia. Funciona na cidade de Olinda, e se
compõe de 7 membros, três holandeses e quatro portugueses
escolhidos dentre os irmãos da Misericórdia.
RELIGIÃO REFORMADA
98
tação desses ministros. A isto os holandeses estarão muito
inclinados, e os de Goiana já representaram espontaneamente
isto mesmo, pois pesa-lhes viver por mais tempo, como há
muito vivem, sem ouvir a palavra divina, sem terem sequer um
consolador de enfermos, com o que os portugueses se
escandalizam, dizendo que nós nos chamamos a comunidade
reformada, e entretanto os nossos vivem em tais lugares sem
freqüentar a igreja ou uma ermida, e sem praticar os atos do
culto.
RELIGIÃO CATÓLICA
99
tas, entre outras a ilha onde está o forte Restinga. Em Pernambuco
esta ordem tem um bom engenho denominado Massurepe, com
extensas terras, o qual atualmente mói.
Afora estas ordens, há ainda muitos clérigos que eles
chamam padres. Estes dizem missa, e vivem com o dinheiro que
ganham como retribuição da missa, ou com o que lhes dão os
doentes, ou com o que de outro modo granjeiam. Os padres
tem terras e rendas que fazem o seu patrimônio próprio e
particular, e, além do serviço divino, ocupam-se em plantações
que cultivam com os seus negros. Em cada capitania ou em
certo distrito estão subordinados a um vigário, e há mais um
vigário geral que costumava residir em Olinda, e era o superior
de todo clero destas quatro capitanias do norte.
Além dos que pertencem á religião reformada ou seguem
a superstição católica, há aqui na terra entre os moradores muitos
judeus e judaizantes, que antes, com medo da justiça ou da
inquisição, ocultavam as suas crenças e simulavam ser cristãos,
mas depois da conquista começaram eles a declarar-se: juntaram-
se aos judeus que vieram da Holanda e com eles praticam as
suas superstições.
JUDEUS
100
fidelidade, pois bem sabemos que, como eles fazem pública
profissão de judaísmo, por modo algum quereriam ou poderiam
voltar ao domínio dos espanhóis, mas antes, pelo contrário,
haviam de envidar esforços por manter e defender este Estado,
ao passo que os portugueses papistas têm mostrado que nos são
inteiramente infiéis, e na primeira mudança nos abandonariam.
CATÓLICOS
LIVRES E ESCRAVOS
101
HOLANDESES
102
como bons soldados, por já terem trazido armas muitos deles
como oficiais ou soldados, ficando a Companhia muito aliviada
do encargo de ter pesadas guarnições, que, a não ser assim, se
há-de manter para a defesa de tão extensas costas. Teria então
somente que cuidar do inimigo que viesse de fora, e poderia ser
socorrida {por gente} da terra, ao passo que agora, dado um
lance perigoso, se há-de providenciar logo contra os inimigos de
fora e os de dentro.
Releva, porém, atender que não é indiferente a gente
que se há-de enviar para cá ou as condições em que venham,
porquanto mandar colonos segundo o modo do velho regu-
lamento é, a nosso ver, inconveniente e antes danoso do que
proveitoso à Companhia. Com efeito, não convém dar aos colonos
as terras confiscadas e cultivadas, com o privilégio de ficarem
isentos durante cinco anos de todos os dízimos ou outros direitos,
uma vez que essas terras podem ser vendidas por bom dinheiro,
arrecadando-se logo os direitos. Também não se pode dar aos
colonos terras que pertençam a algum dos moradores portugueses.
Por conseqüência, só se lhes pode dar terras incultas, não
trabalhadas, que até o presente não tiveram senhor particular,
mas essas se acham situadas muito para o interior, acima de
todos os lugares habitados e dos currais, e duvidoso é que os
colonos ficassem assim bem servidos. Habitando eles tão longe
do mar, como nos poderiam socorrer, quando o inimigo viesse
do mar? E sucedendo que salteadores viessem pela retaguarda,
rompendo pelos bosques, os colonos seriam, na verdade, boas
guardas avançadas, mas o primeiro assalto recairia sobre eles.
Seria este o único proveito a esperar, pois se tivéssemos essas
guardas avançadas holandesas contra os bandidos e salteadores
das matas, o inimigo não poderia vir tão encoberto ao campo
nem atravessar a terra em parte alguma.
Também há de ser muito penoso aos colonos abater com
suas mãos tão grossas matas, limpar e cultivar a terra. O trabalho
não agrada à maior parte dos holandeses do Brasil, que procuram
somente manter-se com uma ocupação fácil; o mesmo sucederá
aos colonos, prindpalmente porque a gente mais laboriosa não é a que
costuma vir entre tais colonos, mas uma gente miúda inútil, apa-
103
nhada aqui e acolá, homens na pátria muito preguiçosos para se
dedicarem ao trabalho. E se tais colonos vierem com as mãos
vazias, tanto menos servirão à Companhia, por ser necessário
assisti-los com víveres e materiais, como os que vieram com
]ohn Harrison, e como os outros que os Srs. Delegados
estabeleceram como colonos na ilha de Itamaracá: o resultado
dessa colonização foi ficarem devendo grandes somas aos
armazéns, que nunca pagarão; a agricultura nenhum particular
adiantamento teve e os colonos, reduzidos à miséria, se fizeram
pela maior parte soldados.
Releva, também, notar que é de mau efeito mandar
colonos, aos quais, segundo o regulamento, se dêem terras e
casas gratuitamente, pois muita gente que tem comprado aqui
engenhos (alguns dos quais não são muito melhores do que
terras bravias) com poucas casas, começa depois a murmurar e a
sustentar que têm o mesmo direito que os colonos, e que como
colonos devem ser considerados, e receber grátis as suas terras e
engenhos; e o que mais é, os moradores do Recife entendem
uns que, por força desse regulamento, se lhes deve dar
gratuitamente os terrenos, e outros, que têm comprado casas, as
mesmas casas, e assim muito transviadas andariam as finanças
da Companhia. Queira, pois a Assembléia considerar no futuro
o que lhe cumpre fazer nesta matéria.
Os que quiserem tirar proveito da cultura no Brasil, não
devem vir com as mãos vazias; devem, pelo contrário, juntar
algum cabedal para mandar fazer a fábrica de que precisam
(pois não podem ser trazidas da Holanda como são aqui
necessárias) e para comprar alguns negros, sem os quais nada
que proveitoso seja se pode fazer no Brasil. Os portugueses
dizem, em forma de adágio: "quem quiser levar o Brasil do
Brasil, traga o Brasil para o Brasil", isto é, quem quiser fazer
fortuna e granjear um bom capital no Brasil deve trazer um
vultoso cabedal para o Brasil.
Não convém, pois, que se mande gente pobre para
povoar o Brasil, salvo se os colonos tiverem pelo menos um
chefe que possa contribuir com alguma coisa, e todos os
dias estamos vendo que os mesmos soldados velhos, que
bem conhecem a terra e a ela se habituaram, tornando-se
104
paisanos, não podem medrar, a menos que se sujeitem a um
senhor de engenho ou a alguma outra pessoa que lhes dê a
mão, isto é, referimo-nos àqueles soldados que pretendem viver
da agricultura.
Os colonos que mais convém são os indivíduos que
vierem com algum cabedal e poderem comprar alguns escravos,
e assim se estabeleçam com o que é seu, até que os frutos
produzidos os reembolsem; esses tais podem obter aqui grandes
proveitos.
Entretanto, os holandeses que começaram a estabelecer-
se no Brasil e têm comprado engenhos esforçam-se muito para
de novo cultivar as terras e reconstruir os engenhos, no que
grande capital se emprega, e à força de diligência e de despesas
tantos engenhos são postos em estado de moer ainda este ano;
ou, pelo menos, são tão bem plantadas de canas as terras que
parece incrível, de onde a Companhia tirará este ano, e sobretudo
no vindouro e seguintes, grande rendas.
PORTUGUESES
105
BRASILIANOS
106
sem pessoas capazes que instruíssem os brasilianos, e sobretudo
os meninos, a fim de aprenderem eles a nossa língua e no
decurso do tempo receberem os fundamentos da religião cristã,
e nisto pretendemos empregar o mestre-escola espanhol recém-
chegado.
Eles mesmo pedem com instância a presença dos nossos
predicantes; e dizem que lhes agradaria que um ou dois
predicantes conversassem com eles, os instruíssem, batizassem
seus filhos e casassem os seus jovens. Nas aldeias da Paraíba o
predicante Doreslaer faz diligência por aprender-lhes a língua
e instruí-los na religião, e já está tão adiantado que pode
conversar com eles em português,e de algum modo fazer a sua
prédica e admoestação, o que os predicantes esperam será de
grande efeito.
ESCRAVOS
107
Sem tais escravos não ~ possível fazer alguma coisa no
Brasil: sem eles os engenhos não podem moer, nem as terras ser
cultivadas, pelo que necessariamente deve haver escravos no
Brasil, e por nenhum modo podem ser dispensados: se alguém
sentir-se nisto agravado, será um escrúpulo inútil.
Como o Brasil não pode ser cultivado sem negros e sendo
necessário que haja um grande número deles (porquanto todo
o mundo se queixa da falta de negros), é muito preciso que
todos os meios apropriados se empreguem para o respectivo
tráfico na costa da África, e nisto tem a Companhia o mais alto
interesse, pois, além de vendê-los por bom dinheiro, a Companhia
goza ainda anualmente da terça parte do trabalho de cada negro,
de modo que o escravo fica trabalhando tanto para o seu senhor
quanto para a Companhia.
Quanto aos escravos do Maranhão, esses são aí traficados
pelos portugueses, como eles traficam em Angola.
Havia uma terceira espécie de escravos, os brasilianos
destas terras, a maior parte dos quais se achava na baía da
Traição ao tempo em que aí esteve Bouwen Heynsen {sic} e
foram escravizados pelos portugueses; mas nós os temos
restituídos à sua liberdade, onde temos podido achar algum deles.
108
cobertas, e são carregadas em uma rede, sobre a qual se lança
um tapete, ou encerradas em uma cadeira de preço, de modo
que elas se enfeitam para serem vistas somente pelas suas amigas
e comadres. Quando vão visitar, primeiramente mandam
participar, a dona {da casa} senta-se sobre um belo tapete turco
de seda estendido sobre o soalho e espera as suas amigas, que
também se sentam a seu lado sobre o tapete, à maneira dos
alfaiates, tendo os pés cobertos, pois seria grande vergonha deixar
alguém ver os pés.
No tocante a quadros e outros ornatos para cobrir as
paredes, os portugueses são destituídos de toda a curiosidade, e
nenhum conhecimento têm de pinturas.
Não há profusão nos seus alimentos, pois podem sustentar-
se muito bem com um pouco de farinha e um peixinho seco,
conquanto tenham galinhas, perus, porcos, carneiros e outros
animais, de que também usam de mistura com aqueles
mantimentos, sobretudo quando comem em casa de algum amigo.
Têm belíssimas frutas, como laranjas, limões, melões, me-
lancias, abóboras, pacovas, bananas, ananases, batatas, maracujá-
aço, maracujá-mirim, araticum-apê e o belo e o mais delicioso
dos frutos, a mangaba e ainda vários legumes, milho, arroz e
outros mais, de que fazem diversidade de confeitados. Estes são
muito sãos, e deles comem em quantidade.
A bebida dos portugueses é principalmente água da fonte,
que é muito boa e agradável; nela ensopam um pedaço de pão
de açúcar e vão chupando, o que é muito são e refrescante.
Também fazem garapa de mel, que é o que os negros mais
bebem, assim como os brasilianos fazem uma beberagem de
cajus, que eles tomam com muito gosto.
Encontram-se muitos portugueses que não bebem vinho;
há outros que, pelo contrário, bebem muito, e se diz costumam
vir anualmente ao Recife 5.000 pipas que na terra se consomem.
Entre as mulheres, poucas são as que bebem vinho, e há muitas
que em sua vida nunca provaram dele.
Os homens e as mulheres portuguesas pouco têm de
bonito: são secos de rosto e corpo, e a pele é escura. De
ordinário as mulheres, ainda moças, perdem os dentes e,
109
pelo costume de estarem de contínuo sentadas, não são tão
ágeis, como as holandesas, e andam sobre os seus altos chapins
como se tivessem cadeias nas pernas.
Os homens são muito ciosos de suas mulheres, e as trazem
sempre fechadas, reconhecendo assim que os de sua nação são
inclinados a corromper as mulheres alheias.
COMÉRCIO
OFÍCIOS
110
A gente que não serve nos engenhos, ocupa-se, além do
seu ofício, se algum pode ter, com o plantar mandioca ou outros
frutos da terra, tabaco ou coisa semelhante. Outros começam a
estabelecer-se nestes arredores para plantar legumes e toda a
sorte de sementes holandesas, algumas das quais se desenvolvem,
como alface, rábano, pepino, nabo, agrião, e todos os vegetais
indígenas, como abóboras, melões, melancias, milho, etc. Sendo
o mantimento geralmente mais caro no Brasil, e sobretudo no
Recife, do que algum outro lugar do mundo, serve isto de maior
estímulo ao povo para tudo semear e plantar.
EMPREGADOS DA COMPANHIA
PRODUÇÕES
111
a construção de casas e navios, exceto ferro, breu, alcatrão,
betume; visto como, para a construção de casas, pode obter-se a
pedra de cantaria que se tira dos montes e arrecifes, ou tijolo,
que aqui se coze, e toda a sorte de madeira de construção abunda
nestas conquistas; é porém muito dispendioso o cortá-la e lavra-
la onde se a quer ter.
Há, também, aqui caieiras, onde se pode queimar tanta
cal quanta for necessária. Faz-se, também, bastante carvão, pois
os ferreiros portugueses não usam senão do carvão vegetal; para
as grandes e pesadas obras, porém, que os nossos ferreiros têm
de fabricar, não se podem servir do carvão vegetal. E embora se
faça muito carvão vegetal, para o fabrico de pólvora faltam salitre
e enxofre. Faziam-se aqui cabos das mesmas entrecascas das
árvores de que se fazem os murrões portugueses; e aqui têm
sido construídos vários navios e caravelas, nos quais os materiais
vindos de fora da terra são somente as velas, as ferragens, o
betume, breu e alcatrão.
GUERRA NO BRASIL
112
saber, e é que Luís Barbalho havia chegado, segundo eles diziam,
com 4.000 homens; mas nós bem sabemos que os terços
portugueses não constam de mais de 300, 400 ou 500 homens, e
sem dúvida o dito terço não será mais numeroso, pois soubemos
que vieram em três caravelas. Também faziam muito alarde em
Sergipe da grande armada que esperavam, na qual viriam muitos
mil homens; mas como Barbalho chegou com um terço, supomos
que isso é o que eles têm a esperar, e somente à defesa da Bahia
se há-de atender, e corria o boato de que a Barbalho fora confiado
o comando da milícia na Bahia. Não obstante isso, sua mulher
pediu com instância que a não quisessem obrigar a partir, pois
não acreditava que seu marid<Yfiou~sse chegado à Bahia, e
que, se fora assim, ter-lhe-ia escrito; de sorte que ela ficou, até
ordem ulterior.
Aqui corre que o Conde de Banjola se retirará até a torre
d~Ávila, que fica a 15 milhas deste lado da Bahia ou São Salvador,
e o capitão Antônio de Freitas ordenou a sua mulher que de-
sembarcasse aí, para ir ter com ele; portanto, se a retirada não é
um fato consumado, não se pode duvidar que se efetuará tanto
que os nossos se aproximem.
Passando agora às nossas coisas, dissemos em uma carta
(cuja cópia vai junto), dirigida a Vossas Senhorias e enviada por
intermédio de um inglês que de São Tomé foi aqui trazido, o
que nos movera a empreender a facção contra o castelo da
Mina, bem como que o Senhor Deus a favoreceu com próspero
sucesso, a qual esteve sob a direção do muito nobre Senhor
Coronel Hans van Koin, e do Sargento-mor John Goodlad,
chamado Bongarçon, e que todos os navios e tropa, que não
deixaram lá ficar de guarnição, chegaram aqui no devido tempo,
e assim levaram eles a cabo aquela empresa sem descuidar-se
da coisa alguma; e para que Vossas Senhorias sejam informados
de todos os pormenores, vão juntas as cópias das cartas do
general da costa e da relação da artilharia, munições de guerra e
de tudo o que ali se achou.
Na mesma carta demos também notícia da expedição
que mandamos ao Ceará, sob a direção de George Gartz-
man, e do Sargento-mor o bravo capitão Hendrick van
Haus, os quais seguiram com dois iates e 150 soldados;
113
mas a este respeito nada podemos acrescentar acerca do que ocorreu
posteriormente, porque de então para cá nada temos sabido.
Sem embargo destas expedições, não deixamos de armar-
nos para acometer o inimigo em Sergipe d~El-Rei. A perigosa
moléstia de S. Ex.ª não lhe permitindo ir pessoalmente, designamos
para isso o Sr. Johan Ghijselin e o muito nobre Sr. Sigismundo
von Schkoppe; os navios, a tropa, as provisões de boca e de
guerra, com que se foram à procura do inimigo, tudo encontrarão
Vossas Senhorias bem declarado nas atas, deste Conselho.
FORTIFICAÇÕES
De Pernambuco
114
navios e termos um pé em terra nesse lugar. Está situado em um
pântano.
Estes fortes estão sofrivelmente providos de artilharia, de
munições e víveres, e neles se acham atualmente 300 homens.
As despesas com a fortificação, que já está concluída,
monta a cera de 20.000 florins. Propõe-se agora que o mesmo
forte {Maurício} seja revestido de argamassa, o que custará outro
tanto, e por isso nos achamos embaraçados, e ainda nada
pudemos resolver. Veremos depois o que convém fazer.
O forte que se segue é o de Porto Calvo. Depois da
conquista foi muito fortificado, mas ficou tal como era antes,
muito irregular, e se faz mister cercá-lo de uma contra-escarpa
com uma sólida paliçada. Este forte conserva ainda toda a sua
artilharia e quase toda a munição que nele foi encontrada, apenas
fez-se retirar algumas peças que não eram necessárias e estavam
desmontadas. Está pois bem provido de tudo, e guarnecem-no
duas companhias de soldados. Este forte está assentado sobre
um monte alto e isolado, e não há na vizinhança outros montes
altos que o dominem; correm rios ao longo de dois dos seus
lados. No forte há um poço com 18 braças de profundidade,
construído com pedras de cantaria quadradas que se elevam
desde o fundo até a borda, e fornece água excelente.
Seguindo de Porto Calvo para o norte, a primeira
fortificação que se encontra é a do Cabo Santo Agostinho.
Não temos aí nenhuma obra de defesa. A que o inimigo
levantou em torno da igreja de Nossa Senhora de Nazaré, sita
sobre o monte mais alto do Cabo, há muito foi arrasada por
imprestável.
O reduto do Pontal, que mantivemos sempre contra toda
a força do inimigo, está agora de tal modo destruído pelo mar,
que um dos lados caiu e o mar o levou, e todo o esforço que se
tem feito com a construção de sapatas para conservá-lo tem sido
inútil.
O forte Ghijselin, que fica defronte, sobre uma ilha,
tem sido também de tal modo minado pelo mar que, apesar
das fortes sapatas que existem diante dele, e têm sido
sempre renovadas, a bateria e toda a frente caíram. Como,
115
depois da conquista de todo o Cabo, não tínhamos mais
necessidade deste forte, e somente servia para ser inutilmente
guarnecido e trazer gente ociosa, resolvemos por último esbulhá-
lo de tudo e deixar que o mar o consumisse a sua vontade.
Para ter em nosso poder o dito porto, é necessário levantar
um forte sobre o Pontal, porém situado mais para dentro do que
se achava o reduto, com o que se evitará que fique exposto ao
mar, e ao mesmo tempo servirá para dominar o porto, segurá-lo
melhor do que antes estava, e manter também a bateria sobre a
barra, que aí sempre existiu. É verdade que esta bateria não
poderia ser defendida, se algum inimigo desembarcasse com
bastante poder; é aberta por trás e não pode ser fechada, de
modo que o inimigo poderia chegar até aí encobertamente,
porque esta bateria fica abaixo de dois montes altos, donde se
pode fazer fogo com mosquetes diretamente contra ela, e não é
possível livrá-la deste perigo por meio de uma muralha, por
muito alta que se a faça. Par~efender a mesma bateria há
somente um reduto, que fica ;§obre o mais meridional daqueles
dois montes, donde se faz fogo contra o outro, e assim se defende
de algum modo a bateria da barra.
Entretanto, é isto de tal importância que, tendo nós um
forte no Pontal, o porto ficará sendo inútil aos nossos inimigos, e
nós poderemos sempre socorrer o forte do Pontal, provendo-o
de víveres, munições e tropas, seja pela barra grande ou pela
barreta, se as mantivermos em nosso poder.
É fora de dúvida que, se tivermos um forte no Pontal, o
inimigo não tentará acometer o porto, pois que este não é tão
cômodo que valha a pena empregar nisso grande poder, uma
vez que nele não podem entrar navios de grande calado, e a
sua entrada ou saída é perigosa.
Depois do Cabo Santo Agostinho, segue-se o Recife de
Olinda com os seus fortes.
O primeiro deles é o Príncipe Willem, situado nos
Afogados. É um forte de quatro pontas com quatro
baluartes, e está muito bem colocado, porque nos assegura
o caminho da Várzea e de toda a terra, e defende a
passagem da ilha de Antônio Vaz para os Afogados. Está si-
116
tuado em uma planície e na sua parte mais elevada, dominando
assim o campo até onde o canhão pode alcançar. Para o lado
do noroeste tem fossos fundos; ao sudeste porém, os fossos não
são fundos, e o solo é mais alto, pelo que o inimigo pode
aproximar-se por meio de aproches. É necessário que este forte
seja cercado de uma contra-escarpa, pois não sendo assim, faltar-
lhe-á fortaleza. É construído de uma terra singular, que, de verão,
quando seca, é tão dura como pedra, e de inverno, quando
chove, é mole como argamassa, sulcando-a as águas de modo
que é necessário grande dispêndio para repará-lo e conservá-lo.
A este seguia-se o forte Emília, situado na Ilha de Santo
Antônio, construído diante dos hornaveques do forte Frederik
Hendrik, mas foi também abandonado por inútil e mandou-se
arrasá-lo.
O forte Frederik Hendrik, chamado das Cinco Pontas,
que agora se segue, tem cinco baluartes regulares. Está situado
em uma ponta da ilha de Santo Antônio, de onde se descobrem
totalmente os navios surtos no porto do Recife, e por isto serve
este forte para defesa do mesmo porto. Acha-se edificado sobre
um solo alto, que é o único caminho que poderia proporcionar
ao inimigo o ensejo de aproximar-se do grande alojamento de
Antônio Vaz, e protege também as cacimbas, as únicas que podem
fornecer água ao Recife e Antônio Vaz em ocasião de necessidade
e cerco.
A princípio as muralhas deste forte não tinham mais de
12 ou 13 pés de altura, e, quando S. Ex.ª e os Conselheiros
Supremos aqui chegaram, estavam tão arruinadas que um
cavaleiro com todas as suas armas poderia galgá-las; a estacada
e as paliçadas se achavam de todo podres e derribadas, toda a
obra muito aluída, os fossos bastante secos pelo movimento das
areias. Mandamos alargar e aprofundar os fossos e alargar e
elevar as muralhas até a altura do velho parapeito, e construir
por cima delas um novo parapeito; também mandamos cercar o
lado exterior do fosso com uma contra-escarpa, e construir uma
sólida sapata sobre o lado do mar, com o que este forte se acha
agora fortalecido e defensável, o que todo custará à Companhia
uns 20.000 florins, somente quanto ao que se novo se faz.
117
Este forte teve mais, ao lado sul, um sólido hornaveque,
que se estendia para o lado do antigo forte Emília, e em frente
ao mesmo hornaveque um outro pequeno, que seguia a mesma
direção, e é daquele dominado, o que tudo se acha ainda em
sofrível estado.
A um tiro de arcabuz do forte Frederik Hendrik, para o
lado do noroeste, fica, junto ao Capibaribe, um reduto, que
setve de guerra avançada para se descobrir se o inimigo tenta
atravessar o rio.
Apresenta-se agora o grande alojamento de Antônio Vaz,
onde reside S. Ex.ª. Está cercado de uma muralha muito alta
que, ao ocidente e ao noroeste tem dois baluartes inteiros, e se
vai prender ao fosso do forte Ernestus por uma linha que a
fecha. No sul, contra a praia, tem um meio baluarte, de onde
surge uma asa ou linha que, correndo ao longo do rio e passando
por diante do alojamento de S. Ex.ª, vai terminar também no
fosso do forte Ernestus, diante do qual fica em aberto.
Este lugar está dividido em ruas e terrenos, onde muita
gente tem começado a edificar, e muitas casas já estão acabadas;
as ruas são alinhadas de modo que todas se abrem diante do
forte Ernestus, que as domina, bem como as muralhás.
O forte Ernestus está situado em torno do convento de
Santo Antônio; seria (se estivesse concluído) um forte
quadrangular com quatro baluartes. No lado do norte, sul e
ocidente está acabado; quanto ao lado oriental porém, se acha
somente fechado pelo velho muro do convento, o qual ameaça
agora desabar. Discutimos se convinha derribar e fechar o forte
com uma muralha de terra em forma de tenalha, mas, por causa
'das despesas foi a obra adiada, porque o forte não está nesta
parte sujeito a perigo algum, e porque é muito necessário
aprofundar os fossos tanto do grande alojamento quanto do
forte Ernestus (pois de pouco valem) e com a terra tirada dos
fossos construir uma contra-escarpa em volta de ambas estas obras.
Ao norte do Ernestus fica o forte Waerdenburgh
em um terreno que avança a partir do continente; é qua-
drangular, mas a escassez de terreno não permitiu que
tivesse mais de três baluartes, a saber, no norte, ocidente e ori-
118
ente, faltando o do sul. Um fosso o separa da terra firme, está
cercado de água, e sofre forte embate do rio, pelo que se faz
necessário conservá-lo dispendiosamente por meio de sapatas.
Como não parece que este forte seja necessário, e se entende que
basta um reduto para guardar aquele terreno, resolveu-se deixar
que o rio o vá destruindo, e reduzi-lo à forma de um reduto.
Segue-se o Recife de O linda, lugar da residência dos Altos
e Secretos Conselheiros e dos Conselheiros Políticos, e principal
porto dos navios grandes em toda a capitania de Pernambuco.
Aí tem a Companhia fixado também a sua sedem belli; e neste
lugar estão encerrados todos os armazéns gerais de víveres,
artilharia, munições de guerra e mercadorias.
Este porto está disposto de um modo admirável: tem uma
rocha contínua, como um molhe ou dique de 40 passos ou mais
de largura e mais de uma milha de comprimento, desde a Barreta,
e, correndo por diante do Recife, faz no interior um porto capaz
para abrigar muitos navios.
Trabalha-se em cercar e fechar este lugar {do Recife} com
uma forte e bem flanqueante paliçada, já que a escassez de
terreno não permite que, quer contra o lado do mar, quer contra
o do rio interior, seja cercado por uma muralha. Esta paliçada há
de custar seguramente de 8 a 10.000 florins, que esperamos
obter das casas, terrenos, armazéns existentes aqui no Recife,
tanto dos particulares quanto da Companhia.
Na frente, sobre o caminho para a cidade de Olinda e
contra o mar, há uma bateria murada de pedra, e contra o rio
interior um reduto de terra, cujo sopé sai do rio e é formado de
pedras soltas sem cal. Estas duas obras estão ligadas uma a outra
por uma forte paliçada de madeira, e aí é a saída.
Fora do Recife encontra-se primeiro o velho castelo
denominado São Jorge. Achando-se este castelo muito
arruinado, os administradores do hospital pediram-no para
servir de enfermaria, com promessa de o repararem inte-
riormente e conservarem-no a sua custa, utilizando-se dele
até que seja necessário ao serviço militar e à defesa do
Recife, o que resolvemos conceder-lhes para poupar
despesas à Companhia, e porque este castelo é atualmente
119
inútil, e sê-lo-á talvez também para o futuro. Contudo ficaram aí
todas as peças.
Defronte do Castelo de São Jorge, sobre o arrecife de
pedra, (•) no mar e na entrada da barra, fica um outro belo
castelo de pedra, por nós denominado Castelo do mar. Este tem
sido algum tanto danificado pelo mar, que, batendo nele com
toda força e em todas as marés, tem arrancado na parte inferior
algumas pedras. Tratamos com o mestre, que foi o seu primitivo
construtor, para que, com o auxílio de pedreiros portugueses,
tape o rombo e o segure contra o mar, o que é indispensável
para prevenir futuros danos.
Adiante do Castelo de São Jorge, sobre a praia de areia
que vai ter à cidade de Olinda, está o forte de Bruyne. É
quadrangular, tem do lado do mar somente meios baluartes
~ "\pequenos, e do lado do rio baluartes inteiros e acabados. Acha-
se em boa ordem e em perfeito estado, mas não tem fosso nem
as necessárias paliçadas. Há diante dele um homaveque que
está um tanto estragado. A tiro de mosquete deste homaveque
fica um reduto que serve de guarda-avançada.
Todos estes forte e obras estão bem providos de artilharia
e munições, conforme a situação de cada um, e bem guarnecidos
de soldados conforme as nossas forças. Temos, porém, grande
necessidade de carretas e baterias, o que remediamos, quanto
nos é possível, fazendo os portugueses cortar madeira apropriada
nas matas, mediante pagamento, com o que se fazem muito
boas carretas, e são mais baratas e mais duradouras do que as
holandesas, por não precisarem de ligaduras de ferro.
De Itamaracá
(-) Na época distinguia-se o arrecife de pedra e o arrecife de areia, que era o istmo
de Olinda.
120
diante dele a tiro de arcabuz. É quadrado, com quatro baluartes,
e ultimamente foi elevado e reparado, mas quase não tem fossos,
nem estacada ou paliçada, o que é necessário se faça, bem
como convém aprofundar o fosso e cercar o lado exterior com
uma contra-escarpa. Diante deste forte, do lado do Norte, por
onde o inimigo se pode aproximar, há um hornaveque.
A pequena cidade Schkoppe, sita na mesma ilha, está
fortificada desde velhos tempos, como foi fortificada quando
nós a tomamos. O extenso parapeito feito pelos portugueses,
que não havia tropa que o guarnecesse, tinha necessariamente
de ser abandonado, e nós deixamos que se arruinasse; a igrejinha
que fica ao sul da cidade, foi ligada à bateria que flanqueia o
rio, ficando assim a salvo de algum súbito acontecimento do
inimigo ou então da tropa que havia na terra; mas não é isto
bastante contra o inimigo que, com notável poder, vier de fora,
encontrando-se ainda tudo ao modo antigo. No extremo norte da
pequena cidade, na entrada do passo de Tapessima, há um
redutozinho que serve de guarda avançada, e não é grande defesa.
Na extremidade setentrional da mesma ilha, na entrada
da barra do norte, há também um reduto com uma bateria que
domina a dita entrada. Está assentado sobre um solo alto e
pedregoso, pelo que não pode ter fossos fundos, mas está cercado
de uma paliçada. Este reduto se acha inteiramente arruinado, e
é forçoso que seja reconstruído.
Da Paraíba
121
de terra tem um bonito baluarte, cujas cortinas correm para a
praia do mar, tendo de um e de outro lado um meio-baluarte
que se fecham por uma tenalha; a sua circunferência é bastante
espaçosa, e as suas muralhas belas e elevadas; mas, por causa
das areias movediças, como sucede em todas as praias, não
pode ter fossos profundos; de qualquer modo é de grande
resistência. Antes do nosso governo foi este forte empreitado,
estando muito adiantada a construção dele; mas fomos nós que
pagamos a maior parte das despesas. Custou 31.000 florins .
O forte do norte, denominado Santo Antônio, é
quadrangular com quatro baluartes e está ainda no estado em
que o tomamos ao inimigo, exceto que, como era muito
escarpado, quando o levantaram, e, por isso, ameaçava cair, foi
necessário adelgaçá-lo por fora, para dar-se-lhe mais forma.
A velha obra dos portugueses na Restinga, que fica ao
meio do rio, foi destruída, e substituída no mesmo lugar por um
bom reduto com meios-baluartes, tendo uma beba bateria na
cortina que dá para o lado do canal do rio, por onde os navios
devem passar. Este lugar é tão forte como nenhum outro no Brasil;
está quase a um tiro de colubrina da ilha, e é cercado d~água.
Na cidade Frederica fortificou-se ligeiramente o convento
dos Franciscanos, para servir de defesa e refúgio aos moradores,
quando sucedesse molestá-los bandidos e salteadores, como já
aconteceu.
Do Rio Grande
122
dos pés aos do castelo. Quando nós o cercamos, assentamos a
nossa artilharia sobre as dunas, e fizemos um fogo tal que ninguém
podia permanecer na muralha. Mas este defeito foi remediado,
levantando-se sobre a muralha da frente, contra o parapeito de
pedra, um outro de terra a prova de canhão, e com isto todo o
forte da parte de cima está coberto e resguardado.
E como de maré cheia este forte fica cercado de água, e
tem de resistir ao embate do mar, está um pouco danificado na
parte inferior, o que se reparará construindo-se de pedra e cal
uma nova base.
O Castelo está bem provido de artilharia: além das peças
que nele foram tomadas, puseram-lhe mais duas de calibre 4,
que estavam as caravelas que achamos no rio, quando o fomos
cercar. Em geral todas as obras, fortes e castelos acima descritos
estão bem providos de artilharia e munições.
Muito conveniente seria declarar aqui quantas peças
existem em cada forte, seja de ferro ou de bronze, e qual o seu
peso e calibre, bem como apresentarmos uma relação completa
de todas as munições e objetos do trem; mas por agora não
podemos coligir todos os dados, e cumpriremos este dever com
a possível brevidade.
Todos os fortes estão sofrivelmente guarnecidos de tropa.
Mas para levar a campo nosso exército com o poder necessário,
levantamos de toda a parte tanta gente quanto nos era possível
levantar, e, contudo, não podemos mobilizar mais de 3.000 a 3.300
homens, de modo que começamos a sentir grande falta de tropa.
ASSUNTOS MILITARES
123
defender, resistir à invasão dos salteadores e proteger os campos
e os moradores. Ora, se tivermos aqui os ditos 1.350 soldados
como recrutas, ainda assim não poderemos pôr em campo
mais de 3.000 soldados, pois a tropa diminui quotidianamente
de um modo incrível, quer em razão dos que se recolhem à
pátria ou adoecem, se estropiam ou morrem, quer em razão
dos que se fazem paisanos. Esperamos, pois, que a Assembléia
dos Dezenove, que se seguiu, haja atendido ao nosso mais
recente pedido e resolvido enviar todos os recrutas que
reclamamos, bem como ordenará às câmaras remissas que
enviem o restante dos soldados, cujo número foi fixado na
resolução anterior, que achamos ser conforme ao que consta
da memória junta.
Cumpre, também, providenciar para que recebamos boa
provisão de toda a sorte de munições de guerra, e para este fim
temos por vezes enviado aos nobres senhores deputados à
Assembléia dos Dezenove as listas do que mais nos falta aqui, e
agora vai a lista que pedimos seja satisfeita quanto antes,
deduzindo-se o que acaso já tenha sido remetido.
Junto vai, também, uma lista de navios que presentemente
se acham nesta costa, os quais pela maior parte regressarão, por
não os poder conservar aqui por mais tempo; e pois Vv. Ss. os
irão recebendo sucessivamente com sua carga de açúcar.
Deve ser tomado na devida consideração que nós
ficaremos com muito poucos navios nesta costa, e entretanto,
sucedendo vir de Portugal um armada inimiga, seria de desejar
que no mar pudéssemos oferecer-lhe resistência e batê-la, antes
que dela o inimigo desembarcasse em alguma parte; pois se
pudéssemos desfechar um tal golpe, a Companhia ficaria firme
e segura para sempre, e o inimigo jamais ousaria incomodar-nos
outra vez nesta costa.
Sabemos que as câmaras resolveram que cada nona
parte enviaria um navio. Queiram, porém Vv. Ss. atender
que no fim do verão todos os navios, que presentemente
aqui estão, terão partido com o seu carregamento de
açúcar; pelo que nos parece que Vv. Ss. deviam dobrar o
número fixado por aquela resolução, e nos enviassem 18
124
navios grandes e 9 iates capazes de resistência, descontando os
que Vv. Ss. virem que se acham nesta costa; e venham estes
navios e iates não somente bem providos de artilharia e munições,
como de víveres e, sobretudo, de tropa e marinheiros, de que
tem havido grande falta, visto como os tripulantes têm de fazer
os trabalhos nos navios, e por bons e bem aparelhados que
estes estejam, de nada servem, se não tiverem gente bastante
para mover os instrumentos e fazer o serviço que de tais navios
se espera. Vv. Ss. sabem quantos malogros há um ano se têm
dado nesta costa, porque os capitães de navios se desculpam
com a pouca gente que têm. Convém muito prover nisto, para
que não possam mais vir com tais desculpas.
Antes de tudo cumpre ter em atenção que os navios sejam
bem acabados e bem providos de tudo, o costado bem pregado,
todo o navio bem calafetado e bem provido de velas, âncoras,
cabos, etc., a fim de que possam conservar-se o tempo devido
nesta costa, sem carecerem de que se lhes faça aqui grandes
reparos; porquanto nós contamos que o que o espanhol tiver de
empreender, há-de ser empreendido neste tempo, e se nós
dispusermos de tais navios e destroçarmos o inimigo, depois
poderemos haver-nos com um menor número de barcos e os
deixaremos voltar para Holanda com a sua carga de açúcar.
RENDAS DA CONQUISTA
125
estado de quase completo florescimento, haverá nestas capitanias
conquistadas os seguintes engenhos:
126
cálculo não pode ser elevado a mais de 2.500 arrobas de açúcar
macho, isto é, branco e mascavado juntamente, dando o mel
dos mesmos açúcares mil arrobas de panela em cada engenho;
o que dá o seguinte resultado:
Engenhos ....................................................... 99
Cada um mói 2500
49500
198
222750
219410 "
47222 "
127
que ficam para os mercadores para serem embarcados, hão-de
pagar de frete, avaria, etc., terão Vv. Ss. em grosso a renda
provável deste ano.
Lista de contratos arrematados, imposições de diversas
passagens, passos, pescarias, abate de gado, balança, vinho e
outras bebidas, gêneros secos, dízimos, miuças etc., que são
arrematados no Brasil por tempo de doze meses e o foram por
prazo maior ou menor, mas aqui reduzidos a doze meses:
128
,
Recife .................................................... 27.400
,
Idem em Itamaracá ................................ 1.800
,
Idem no Cabo ........................................ 500
,
Idem na Paraíba ..................................... 2.500
O dízimo do açúcar no Recife e na
,
Capitania de Pernambuco ................... 85.000
,
Idem na Capitania de Itamaracá ........... 13.000
,
Idem na Paraíba ..................................... 26.000
O dízimo das miúças no Recife e em
,
Pernambuco ......................................... 7.765
,
Idem em Itamaracá ................................ 1.350
,
Idem na Paraíba ..................................... 2.600
]. Maurice Conte
de Nassau
M. van Ceullen
Adriaen Vander Dussen
129
DOCUMENTO 6
131
tório que escreveu e aqui vai publicado, provavelmente o seu
nome não teria projeção maior na história do período, inclusive
porque não deixou no Brasil a fama de ser um terrível
conquistador de mulheres, como consta ter sido no Oriente.
Datado de 10 de dezembro de 1639, este relatório se
conserva em duas cópias, uma existente no Arquivo da Casa
Real, da Haia, códice 1454, folhas 1 a 131, códice que contém
papéis do arquivo pessoal do Conde João Maurício; outra, no
Arquivo Geral do Reino, também da Haia, cartório da Companhia
das Índias Ocidentais (Companhia Velha), códice 46, em 130
páginas. José Hygino Duarte Pereira copiou ele próprio o primeiro
destes textos e Samuel Pierre L ~Honoré Naber, tradutor, editor e
anotador da História de Gaspar Barlaeus acerca do governo do
Conde (Haia, 1923), trascreveu grande parte do segundo deles
3
(pp. 150-199). Com base principal na cópia de José Hygino,
mas utilizando também a transcrição de Naber, foi feita por quem
escreve estas linhas a tradução para a língua portuguesa deste
documento, publicado pelo Instituto de Açúcar e do Álcool, na
"Série História", como terceiro volume, sob o título Relatório
sobre as Capitanias conquistadas no Brasil pelos holandeses
(1639) . Suas condições econômicas e sociais (Rio de Janeiro,
1947).
Para a presente publicação a tradução foi revista,
como todas as demais deste volume, procurando-se trazê-
la o mais possível à concordância textual com o original
holandês.
O "Breve Discurso" (doc. V), de 1638 (também assinado
por Van der Dussen) e este relatório, de 1639, são os dois textos
mais importantes acerca do Brasil - e, em especial, acerca da
economia açucareira - produzidos durante os 24 anos de
ocupação holandesa do Nordeste.
A relação dos engenhos deste relatório é mais completa
do que a do "Breve Discurso" e amplia sua informação, para
incluir os nomes dos lavradores de canaviais que colaboravam
com os donos dos engenhos no cultivo das suas terras.
O estudo desse grupo, o dos lavradores de canaviais,
não tinha sido realizado por motivo da dispersão e do
132
desconhecimento das fontes de informação histórica. A edição
integral dos Diálogos das Grandezas do Brasil realizada pela
primeira vez em 1962, trouxe esclarecimentos preciosos a respeito,
assim como a documentação relativa ao Engenho de Sergipe do
Conde, na Bahia, por iniciativa benemérita de Gil Maranhão, no
Instituto do Açúcar e do Álcool, em 1956-63.4 O viajante Louis-
François de Tollenare (1780-1853), que esteve em Pernambuco
em 1816-1817, oferece importantes indicações sobre o assunto,
que finalmente encontrou em Alice P. Canabrava e em Stuart
Schwartz a competência de notáveis historiadores. 5
Tollenare afirma que os lavradores cultivavam parcelas
das terras do engenho sem a garantia de um contrato - embora,
cauteloso, declare que se refere apenas às terras que visitou no
Sul de Pernambuco. É certo que são raros os documentos que
esclarecem as relações contratuais entre o senhor do engenho e
o lavrador; para contribuir para esse esclarecimento são aqui
publicados, pela primeira vez, dois contratos entre o senhor do
Engenho Suassuna, João de Barros Correia, e dois lavradores,
em 1638 e 1656.6
Essa categoria, a dos lavradores, merece atenção, pois a
visão de um engenho é sempre a da dualidade senhor-escravo.
A realidade é diversa: num engenho, abaixo do proprietário, da
família deste e do capelão, havia um grupo variado de
profissionais especializados no fabrico do açúcar; um outro de
agricultores, os lavradores, também com suas famílias e com
seus capitais representado em escravos, bois de carro, canaviais
plantados nos "partidos" etc.; Tollenare menciona, também, a
existência de certo número de "moradores" livres, autorizados
pelo senhor a permanecer no engenho, onde faziam pequenas
plantações e prestavam serviços. A documentação do período
holandês permite perceber a existência desses "mora~ores" na
área açucareira. Abaixo desses grupos estavam os índios
engajados e os escravos negros. Portanto, vários níveis sociais e
não apenas dois.
Eis os documentos:
133
cumpridas e acabadas virem, que no ano do Nascimento de
Nosso Senhor Jesus Cristo de 1638 anos, aos 25 dias do mês
de outubro do dito ano, nos limites de Suassuna, no Engenho
e fazenda da invocação de Nossa Senhora da Assunção, de
que é senhorio João de Barros Correia, e sendo ele aí presente
de uma parte e da outra Jorge Saraiva, lavrador de canas do
dito Engenho, e por eles ambos me foi dito a mim Tabelião,
presentes as testemunhas ao diante nomeadas, a saber, disse
ele senhorio que ele dá, como de fato dado tem, ao dito
lavrador, um partido de canas em que ele senhorio plantou
agora cinqüenta e cinco tarefas de cana, que está junto ao
Rio Suassuna Maricujé, com obrigação de que ele lavrador
plantará a mais cana que for necessária, para que dê em
todas as safras quarenta tarefas quantas o dito Engenho possa
moer, posta à sua custa nele, o qual partido lhe dá por tempo
de nove anos e nove safras e dois mais para despejo , e o
primeiro ano e safra começará em 1641 e assim irão correndo
todas as mais safras sucessivamente, até se perfazerem e
acabarem as ditas nove safras e os ditos dois mais para despejo
e acabadas elas o dito partido ficará a ele senhorio livremente,
com todas as benfeitorias, e o deixará melhorado e não piorado,
e o açúcar que Deus der se partirá de quinto, a saber, três
pesos para ele senhorio e dois para o dito lavrador, sem outra
obrigação a ele lavrador mais que, como dito tem, trazer a
cana ao dito engenho, a qual ele senhorio será obrigado a
lhe moer tanto que estiver sazonada e para isso ter o dito
engenho moente e corrente e aparelhado de todo o necessário
para se fazer açúcar e poderá ele lavrador plantar nas terras
do dito engenho suas roças e legumes os. que lhe forem
necessários e fará seus pastos donde mora para fazer seus
bois e cavalgaduras e as mais que tiver e se as quiser trazer
nos pastos do dito engenho os poderá ele lavrador trazer e,
por esta maneira, se houveram por concertados e havidos e
cada qual se obrigou a cumprir esta escritura como nela se
contém e é declarado e para o todo e melhor cumprir obrigam
suas pessoas e bens, em especial ele senhorio o dito seu engenho
e a pagar ao dito lavrador todas as perdas e danos que o dito
lavrador receber e , pelo conseguinte, ele lavrador se obriga
134
também a pagar as perdas e danos que o dito senhorio receber,
faltando-lhe com a sua obrigação. Em fé e testemunho da verdade
assim outorgaram e me mandaram fazer este instrumento nesta nota,
donde assinaram, que pediram e aceitaram e dela dar os traslados
necessários e eu Tabelião o aceito em nome dos ausentes como
pessoa pública estipulante e aceitante, sendo testemunhas presentes
Manuel da Cunha de Andrade e Pedro do Rego, que aqui assinaram,
o qual instrumento eu Simão Varela, Tabelião do público, judicial e
notas da Vila de Olinda e seu termo, Capitania de Pernambuco etc.,
em meu livro de notas tomei e com ele o concertei a que me reporto."
Segundo documento:
"Dizemos nós João de Barros Correia, senhorio do
Engenho Suassuna, invocação Nossa Senhora da Assunção, e
Antônio de Sousa Ferreira, morador na freguesia de Santo Amaro,
que nós estamos concertados para um partido de canas que,
com o favor de Deus, o dito Antônio de Sousa Ferreira quer
plantar em suas terras que possui junto às do senhorio do dito
engenho, na maneira e forma seguinte: que o senhorio do dito
engenho se obriga por este papel a lhe dar toda a cana que for
necessária, posta nas terras onde plantar, enquanto o dito Antônio
de Sousa Ferreira a não tiver de sua lavoura para dela poder
plantar o mais que for continuando; e assim mais se obriga
o dito senhorio do engenho a lhe dar a terça parte de todos
os carros que carrearem a cana para a moenda, de que
partirão o açúcar de quinto, a saber, de dez partes tirar-se-á
uma para o dízimo e as demais que for continuando três
pesos para a fazenda e dois para o lavrador; e assim se obriga
o dito senhorio a lhe moer todas as safras toda a cana que for
capaz de moer, todas as vezes que o dito lavrador quiser; e o
dito Antônio de Sousa Ferreira se obriga a lhe dar toda a cana
que plantar em ditas suas terras com as obrigações acima ditas.
E porque de conformidade e vontade de ambos nos concertamos
deste modo ambos e pedimos ao Padre Domingos Coelho Diniz
fizesse este papel de obrigação e mais outro do mesmo teor,
para cada qual de nós ter o seu, e lhe pedimos assinasse
como testemunha com as mais abaixo assinadas, que
135
é Luís da Silva e Manuel Moreira. Feito hoje 7 de junho de 1656
anos. João de Barros Correia, Antônio de Sousa Ferreira, o Padre
Domingos Coelho Diniz, Luís da Silva, Manuel Moreira."
No primeiro caso, o partido pertencia ao senhor do
Engenho Suassuna e o lavrador Jorge Saraiva está incluído na
relação dos lavradores constante deste relatório (ver engenho n 2
36); no segundo caso, o partido era livre, de propriedade do
lavrador, podendo ele moer suas canas onde melhor lhe
conviesse. Entretanto, sem capitais, ao que parece, ou apenas
iniciando sua atividade agrícola, o lavrador aceita uma divisão
de "quinto", que não era a normal no caso de partido livre.
Aspectos vários da economia açucareira podem ser
estudados nas páginas deste relatório, como aliás outros da
história econômica e social do Brasil holandês, já que ele não se
limita à agroindústria do açúcar.
136
DOCUMENTO 6. TEXTO
137
cem milhas de costa, quinze milhas correspondendo a um
grau.
Entre as seis Capitanias há somente quatro habitadas e
povoadas, a saber: Pernambuco, Itamaracá, Paraíba e Rio Grande.
SERGIPE
CEARÁ
PERNAMBUCO
138
PORTOS DE PERNAMBUCO
139
RIOS DE PERNAMBUCO
JURISDIÇÕES DE PERNAMBUCO
140
A quarta é a jurisdição de Porto Calvo, abrangendo cerca
de 10 milhas ao longo da costa, desde o Pirasunenga até
Paripueira.
A quinta é a jurisdição das Alagoas que vai de Paripueira
até o rio São Miguel inclusive, cerca de 6 milhas de litoral.
A sexta jurisdição é a do rio São Francisco, que se inicia
no rio São Miguel e se estende por 13 milhas de costa até o rio
São Francisco, que é o limite Sul da Capitania de Pernambuco.
CIDADES DE PERNAMBUCO
ENGENHOS DE PERNAMBUCO
141
Na freguesia de !pojuca
95 tarefas
142
9) Engenho da Guerra, pertencente a]acobus Corderus e
Baltasar Wijntgens, é engenho de bois e mói. São lavradores:
Major Hinderson ...
40 tarefas
143
Bartolomeu Gomes .................................. 18
Pero Fernandes ........................................ 18
Tomás Paminga .......................................... 6
87 tarefas
70 tarefas
96 tarefas
Samuel Halters
144
23) Engenho Jurissaca, pertencente a ... mói. São lavra-
dores:
Luís Gomes .............................................. 25 tarefas
André Lopes de Leon .............................. 25
Antônio da Cunha ................................... 15
Duarte de Figueiredo ............................... 10
Nuno Dias de Sousa ................................ 10
Estevão Fernandes ................................... 15
Maria Taves da Costa ................................ 6
Pedro Alves o Marra .................................. 6
118 tarefas
120 tarefas
145
29) Engenho São Braz Coimbero (?),pertencente a Antô-
nio da Silva, é engenho d'água e mói. São lavradores:
94 tarefas
88 tarefas
146
Gerard Carpentier .................................... 15 tarefas
Gaspar Francisco d~Oliveira .................... 30
Dois partidos da fazenda ........................ 50
95 tarefas
103 tarefas
103 tarefas
147
38) Engenho Nossa Senhora da Guia, está arruinado há
muitos anos.
Na freguesia da Muribeca
50 tarefas
128 {sid
tarefas
4.500 arrobas
120 tarefas
148
43) Engenho São José ou Engenho Novo, pertencente a
Gaspar Dias Ferreira, é engenho de bois e mói. São lavradores:
135 tarefas
65 tarefas
2.500 arrobas M.
165 tarefas
149
Diogo Barbosa ........................... ·................ 5
Jácome da Silva Ribeiro ........................... 6
95 tarefas
4.000 arrobas M.
130 tarefas
72 tarefas
Na freguesia da Várzea
40 tarefas
150
51) Engenho Nossa Senhora do Rosário, pertencente a
jacques Hack, é engenho de bois e mói. São lavradores:
João Peres Correia ................................... 15 tarefas
Simão Martins ........................................... 15
jacques Hack ............................................. 5
Nicolaes Hack .......................................... 35
70 tarefas
Além de 1 ou 2 partidos livres.
62 tarefas
54) Engenho São Timóteo, pertencente a Antônio
Fernandes Pessoa, é engenho de bois e mói. São lavradores:
60 tarefas
151
Além de alguns partidos livres que dão cana para moer aí.
36 tarefas
135 tarefas
103 tarefas
152
59) Engenho São Jerônimo, pertencente a Luís Braz Be-
zerra, é engenho d~água e mói. São lavradores:
Partido da fazenda .................................. 8 tarefas
Domingos Mix. Dinis ............................... 13
] oão Álvares ...... ....... .. ...... .. .. .................... 3
Francisco Gonçalves Barreto ................... 12
Breatis Cala (?) .......... ................................ 16
Maria de Lisboa ......................................... 3
55 tarefas
60) Engenho Santo Antônio, pertencente a Francisco de
Brito Pereira, é engenho de bois e móis. São lavradores:
Manuel Branquo Gaifar ........................... 40 tarefas
Miguel Dias de Sá .................................... 25
Cosmo de Abreu Pereira ......................... 12
77 tarefas
61) Engenho Apipupos, pertencente a Gaspar de
Mendonça, é engenho d~água e mói. São lavradores: (não indica).
62) Engenho São Pantaleão, pertencente a Francisco
Monteiro Bezerra, é engenho d~água e parece que este ano não
moerá.
63) Engenho de Dona Catarina, está arruinado.
72 tarefas
153
65) Engenho Martitu (?), pertencente a Charles de Tourlon,
que o construiu e agora moerá. É engenho de bois. São
lavradores: (não indica).
101 tarefas
54 tarefas
154
73) Engenho Nossa Senhora de Monserrate, pertencen te
a Antônio Rodrigues Moreno, é engenho de bois e mói. Tem 5
lavradores não indicados; terá ao todo 100 tarefas.
70 tarefas
155
Na jurisdição de Igarassu
56 tarefas
71 tarefas
68 tarefas
156
82) Engenho Tabatinga, pertencente a Pieter Marissingh,
cum sacio, é engenho d'água e mói. São lavradores:
Vicente Siqueira ....................................... 20 tarefas
Leonardo Dias .......................................... 25
Paul Anthony Daems ............................... 30
75 tarefas
95 tarefas
50 tarefas
86 tarefas
157
87) Engenho Paratibe de Riba e o
88) Engenho Paratibe de Baixo, são dois engenhos muito
arruinados e de todo destruídos durante a guerra.
Ao todo há na jurisdição de Igarassu 1O engenhos dos
quais 8 moem.
E como na Capitania de Pernambuco ainda nos falta o
que referir, voltemos atrás, em direção ao Sul, começando na
jurisdição de Sirinhaém, na qual há os seguintes engenhos:
Na jurisdição de Sirinhaém
89) Engenho Aratangil, pertencente a Miguel Fernandes
de Sá, é engenho d~água e mói. São lavradores:
Partido da fazenda ...................................... 20 tarefas
João Machado ............................................. 40
Francisco Ferreira Sam (?) .......................... 5
65 tarefas
90) Engenho Itapurucu, pertencente a Daniel de Haen, é
engenho d~água e mói. São lavradores:
Partido da fazenda ...................................... 12 tarefas
Dona Maria ................................................. 25
Ma teus Vaz .................................................. 20
Heindrick de Orgel ..................................... 12
69 tarefas
91) Engenho Waca {sic}, pertence a Álvaro Fragoso
Toscano, é engenho d~água e mói. São lavradores:
Dona Catarina Favilha ................................ 35 tarefas
Gil Lopes Fegeira ........................................ 12
47 tarefas
48 tarefas
53 tarefas
90 tarefas
16 tarefas
159
100) Engenho Nossa Senhora da Palma, destruído.
74 tarefas
40 tarefas
33 tarefas
160
Na jurisdição de Porto Calvo
43 tarefas
49 tarefas
23 tarefas
111) Engenho de Cristóvão Botelho, arruinado.
112) Engenho Novo, do dito Botelho, arruinado.
113) Engenho de Bartolomeu Lins d'Almeida, mói. São
lavradores:
161
Baltasar Leitão de Holanda ........................ 25 tarefas
Francisco de Sousa Falcão ......................... 20 tarefas
Salvador Pereira ... ....................................... 6
Partido da Fazenda ..................................... 12
63 tarefas
42 tarefas
57 tarefas
41 tarefas
162
118) Engenho que foi de Lucas de Abreu, está arruinado
e foi confiscado.
Nas Alagoas do Sul
119) Engenho Novo Nossa Senhora do Rosário,
pertencente a Gabriel Soares, mói. São lavradores:
Rodrigo Pereira ........................................ 30 tarefas
Antônio de Carvalho ............................... 20
Antônio Rodrigues da Costa .................... 20
Santos Ferreira .......................................... 12
Manuel da Fonseca .................................... 7
Partido da Fazenda .................................... 6
95 tarefas
120) Engenho Velho, pertencente a Domingos Rodrigues
d'Azevedo, mói. São lavradores:
Gonçalves Pereira .................................... 35 tarefas
Simão André ............................................ 20
Manuel da Fonseca .................................. 35
Baltasar Gonçalves ................................... 1O
100 tarefas
163
seqüência do tempo desfavorável ou por outros acontecimen-
tos, os lavradores venham a moer menos do que esperavam e,
por isto, tenham querido informar-nos pelo mínimo, devendo
haver uma variação de, pelo menos, uma terça parte do total.
ITAMARACÁ
164
- - -----~-------
189 tarefas
162 . · tarefas
165
Manuel Lopes d~Elvas
Antônio Álvares
Jantem Berch (?)
Baltasar Pereira
Jan Bos
Pedro Sasodo (?)
150 tarefas
140 tarefas
68 tarefas
166
Na freguesia do Abiaí
47 tarefas
120 tarefas
77 tarefas
167
Hendrick Haus ............................................ 10 tarefas
Valentim dos Santos .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. 5
Caterina Lopes .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. 15
Amaro d;Azevedo ....................................... 8
João Soares Ramires ................................... 30
Hans Brugel .. .. .. ...... .. .. .. .. .. .. .. .... .. .. .. .... .. .. .. .. 6
74 tarefas
56 tarefas
76 {sic} tarefas
51 tarefas
168
Na freguesia de Araripe
Araripe e a Ilha de Itamaracá têm os seguintes engenhos:
139) Engenho Obu, pertencente a Francisco de Lugo Brito,
é engenho d/água, mas não mói.
140) Engenho Araripe de Baixo, pertencente a Francisco
Lopes de Orosco, mói. São lavradores:
Pascoal de Barros ........................................ 1O tarefas
Pedro de Freitas ........................................... 10
Manuel Mascarenhas ..................................... 8
Manuel Soares ................................................ 8
Isabel Velho ................................................. 1O
Braz Dias Mascarenhas .................................. 8
Partido da fazenda ....................................... 1O
64 tarefas
141) Engenho Haerlem, pertencente a Pieter Seulyn de
]onge, é engenho de bois e mói. São lavradores: (não indica).
PARAíBA
169
O principal rio desta Capitania é o Paraíba, do qual a
região recebeu o nome; é transitado por navios que demandam
14 e 15 pés d'água. Ainda tem o rio Mongoangabe, navegável, e
baías onde navios podem carregar, como atrás da Ponta de
Lucena ou a Terra Vermelha, cerca de 2 milhas ao Norte da
Paraíba, onde os navios de grande porte completam o
carregamento que não pôde ser embarcado no Paraíba. Também
há baías onde os navios podem ficar resguardados, como a Baía
da Traição, capaz de abrigar navios do mais alto porte.
A Capitania de que tratamos só tem uma cidade, que se
chamava antigamente Filipéia, depois da conquista rebatizada
de Frederica. Não há divisão em freguesias, mas em regiões,(•)
como em Stad em Lande, (••) compreendendo Praia (litoral),
Goramama, Tibiri, Inhobi, Una, Itapoã, Gargaú, Mereri,
Mangoangape, Camaratuba.
ENGENHOS DA PARAÍBA
A Capitania da Paraíba tem os seguintes engenhos e
lavradores:
145) Engenho das Barreiras, pertence a]os ias Marischal,
é engenho d'água e mói. São lavradore,;;:
Partido da fazenda ...................................... 20 tarefas
Os frades de São Bento .............................. 40
Francisco de Sousa ..................................... 15
75 tarefas
(•) Barlaeus, História do Governo, ed. in 4 da tradução portuguesa, pp. 128 e 378 ng
120, usa lugares em vez de regiões.
(••) Assim eram designadas então a cidade de Groninga e a região de Ommeland.
170
Manuel d ~Almeida o 00 o o o o o o o o o o 00 o o o o o O o o o o o o 000 o o o o o o o 000 o o o o o o o .
. 25
Pero Fernandes Sarzedas ooooooooooooooooo ooooooooooooooooo ooooo 15
Antônio do Canto 15
ooooooooooooooooo ooooooooooooooooo oooooo
Baltasar Fernandes 13
0000 ooooooooooooooooo ooooooooooooooooo o
Pero Carvalho 15
o o o o o o o o o o o o o 000 00 o 00 o o o o o 00 o o o o 000 o o 00 o o o 00 o o
Francisco Vaz 12
ooooooooooooooooo ooooooooooooooooo oooooOooooooo
147 tarefas
148) Engenho Santo André, pertencent e ao mesmo Jorge
Homem Pinto, é engenho d~água e mói. São lavradores:
Manuel Queiroz de Siqueira 50 tarefas o o o o . . o o o o o o o 00 o . . . 000.
140 tarefas
149) Engenho de Jerônimo Cadena, é engenho d~água e
mói. São lavradores:
Partido da fazenda 50 tarefas
o o o o o o o o o o o o o o o o o o o o o o o o o o . . . . . . o o o o. o o
Antônio Fernandes 15
o o o o o o o o o 00 00 o o o o o o 000 o o o o o o o o o o o o o o o o o
Domingos Pires 7
o o o o o o o o 00 o o o o o o o 00 o o o o o . o o . o o o 00 o o• o o o o o o o o . .
157 tarefas
171
Ambrósio Vieira ............................................... 20 tarefas
Domingos Barreiros ......................................... 15
Domingos Valcáçar de Morais ......................... 40
Luís Mendes ..................................................... 40
123 {sic}
tarefas
123 tarefas
165 tarefas
119 tarefas
(•) Aqui teria ocorrido um engano: o Engenho Santo Antônio, Tapoã ou Itapoã era
de Antônio Correia de Valadares (de bois e mói): ver o "Breve Discurso" (doc. 5)
e a "Descrição da Paraíba" de E. Herckmans, Rev. do Instituto Arqueológico e
Geográfico Pernambucano nll 31 , (Recife , 1886) p . 256.
172
154) Engenho Santa Luzia, pertencente a João do Souto,
é engenho de bois e mói. São lavradores:
Partido da fazenda ....................................... 15 tarefas
João de Morais Valcáçar .............................. 25
Bento de ....................................................... 30
Manuel de Pina ............................................ 20
90 tarefas
{Falta o número 155}. (..)
50 {sid tarefa
157) Engenho São Francisco, pertencente a Ventura
Mendes Castelo, é engenho de bois e mói. São lavradores:
Manuel Tavares ................... ...................................... 8 tarefas
Geraldo Mendes ...................................................... 30
Manuel Filgueira ...................................................... 35
Francisco Gonçalves ................................................ 10
Manuel Barreiros ..................................................... 35
118 tarefas
173
Partido da fazenda .............. :...................... 100 tarefas
Jorge Rodrigues Pinto ................................ 50
Bento Rodrigues......................................... 30
Matias Ferreira............................................ 5
Miguel Gomes ............................................ 35
Jorge Rodrigues Pinto ................................ 40
260 tarefas
123 {sic}
tarefas
115 tarefas
174
163) Engenho Camaratuba, pertencente a Antônio Carva-
lho, é engenho d 'água e mói.
RIO GRANDE
175
165) Engenho Potigi, está totalmente arruinado e aban-
donado.
110 tarefas
ENGENHOS
176
LIVRES E ESCRAVOS
HOLANDESES
177
terrenos do lado externo das paliçadas, até o forte Frederik
Hendrik, também chamado das Cinco Pontas, nos quais as
construções estão sendo feitas em ritmo mais lento devido ao
pouco movimento dos negócios e aos boatos que há muito tempo
vêm sendo divulgados a respeito de uma anunciada esquadra
espanhola; como estes começam agora a diminuir e o ânimo a
se reanimar um tanto, e é de crer que ainda mais quando
consideráveis socorros chegarem e recomeçarem os negócios,
serão então reiniciadas as construções. Quando o local se tiver
transformado em um importante centro de comércio e para maior
estímulo, resolveu-se que o Recife e Antônio Vaz seriam unidos
por meio de uma ponte de pilares de pedra; a título de experiência
levantou-se um pilar no meio do rio, o qual se mantém em boas
condições e firme há já um ano, mas parou-se aí, em
conseqüência das despesas, embora tenham surgido propostas
para fazer a ponte sem gastos para a Companhia, somente com
a contribuição da população; mas até agora não foram
encontrados meios convenientes para isto.
COLONOS
178
ras com facilidade, de vez que todas já têm dono e as terras
virgens incultas estão situadas muito no interior do país, pelo
que talvez não interessem a eles ou não lhes sirvam; enquanto
isto teremos de alimentá-los e fazer despesas com eles, as quais
nunca serão ressarcidas.
É necessário pois encontrar um meio pelo qual se
concedam aos holandeses alguns privilégios, além dos que se
concedem aos demais, especialmente àqueles que construírem
novos engenhos ou plantarem novos canaviais: desta maneira
procedeu o Rei da Espanha com o fim de incrementar o
povoamento e o cultivo, concedendo, a todos os que construíssem
novos engenhos ou plantassem novos canaviais, isenção do
imposto do dízimo dos açúcares obtidos das novas terras, sendo
que nos primeiros dez anos a isenção era completa e daí por
diante os lavradores não pagavam senão meio imposto, julgando-
se melhor deixar cultivar as terras e povoá-las e com o correr do
tempo recolher a metade, do que obter com grande ganância o
valor inteiro do imposto. Esse privilégio, pensamos, fez com que
as terras fossem ocupadas, provocando interesse; agora, porém,
todas as boas terras já têm proprietários e a maioria com
construções, de modo que não é possível obter novas senão
muito para o interior, para onde os moradores não querem ir
pelas dificuldades e grandes gastos daí decorrentes, porque tudo
teria de ser levado e trazido, por terra, em carros; por isto não
podemos imaginar que providência possa contribuir de maneira
efetiva para o povoamento, apesar de ser muito necessário
encontrar meios para atrair povoadores para aquelas regiões,
qualquer que seja a maneira proposta para isto.
Artífices como ferreiros, carpinteiros , pedreiros,
caldeireiros, alfaiates, sapateiros, marceneiros, fabricantes de
cadeiras, vidraceiros, oleiros de louças e tijolos, picheleiros,
seleiros e outras mais profissões, chegando aqui com os seus
instrumentos tornar-se-ão ricos, porque muitos desses artífices
percebem um bom salário; um mestre carpinteiro ganha 6 florins
por dia, um menos habilitado que trabalhe com ajudante recebe
3 a 4 florins por dia; os que sabem lidar com utensílios dos engenhos
ganham os maiores salários. Há na Pátria artífices em grande
número e ainda com mulher e filhos e que não sabem o que
179
fazer para obter o sustento, alguns vivendo de esmolas, os quais
podem ser estimulados a embarcar para cá, com o que os
esmoleres ficariam aliviados e este país povoado. Este meio é
muito superior ao usado pelo Rei da Espanha, que enviava os
malfeitores acusados de toda a espécie de abusos - em vez de
castigá-los com a justiça- para degredo no Brasil, com o fim de
povoá-lo; os quais deram origem a uma raça de gente até agora
não faz distinção entre o bem e o mal.
Esses artífices tendo com seu ofício conseguido reunir algum
pecúlio, costumam dedicar-se à agricultura, compram alguns negros
e arrendam terras para cultivar cana-de-açúcar no engenho que
mais lhes convém, como já hoje se vê. Solicitaram eles que os
habitantes fossem garantidos dos bandos de campanhistas inimigos
e que o Alto e Secreto Conselho e o Conselho Político continuassem
a ser providos de membros respeitáveis e piedosos, onde a justiça
e o direito fossem exercidos sem simulação, a corrupção afastada
e cada qual mantido no seu direito, correndo os negócios o seu
caminho, dentro do regulamento; com isto o povoamento iniciar-
se-á e progredirá. Mas gente que nada traz da Pátria ou que não
conhece ofício e que abre aqui uma taverna, se fracassa, então
fica em estado de desespero.
Por três espécies de homens é que deve o Brasil ser
povoado: a primeira, a dos que trazem dinheiro da Pátria, isto é,
os que são negociantes ou empregados deles e que aqui tendo
prosperado compram engenhos, partidos de cana ou outra coisa
qualquer no interior; a segunda, a dos que vindos da Pátria
exercem uma boa profissão e, tendo sido bem sucedidos, se
fixam também na terra; a terceira, a dos que vindo a serviço da
Companhia e decorrido o prazo dos respectivos contratos, aqui
empregam o dinheiro amealhado dos salários percebidos,
dedicando-se a qualquer cultura, e por isto o ajuste final de
contas para pagamento dos empregados deve ser feito no Brasil.
Assim os que pretendem fixar-se no país devem
trazer alguns bens e, para serem bem sucedidos, devem
comprar alguns negros, porque sem negros nada se pode
cultivar aqui, e nenhum branco - por mais disposto ao
trabalho que tenha sido na Pátria- se pode dedicar no Bra-
180
sil a trabalhos tais, nem mesmo ·c onsegue suportá-los; parece
que o corpo, em conseqüência da mudança tão extrema de
clima, perde muito do seu vigor; isto não sucede somente com o
homem, mas com tudo o que venha da Europa para o Brasil,
inclusive o ferro, o aço, o cobre, etc., e não me refiro às coisas
sujeitas a deterioração.
Os holandeses que até agora se têm dedicado a engenhos,
canaviais e outras culturas, qualquer que seja o lugar onde se
fixaram, têm restaurado a agricultura e um grande número de
engenhos e canaviais destruídos, tomando-os de novo valiosos,
com o que o Brasil se engrandece notavelmente e continuando
assim no prazo de um a três anos chegará a um ponto de
progresso jamais atingido no tempo do Rei com a condição de
que o preço do açúcar volte ao que era, visto que há pouco
decaiu.(•)
PORTUGUESES
181
Os portugueses são também zelosos no cultivo dos seus
canaviais e graças a eles a agricultura do país progrediu, se bem
que, a não ser poucas vezes, se veja algum deles fazer por suas
próprias mãos algum trabalho; sabem, porém, fazer trabalhar os
seus negros, com a vantagem de empregar negros ladinos e
experientes e os holandeses negros boçais e inexperientes, o
que representa grande vantagem em favor dos primeiros.
Os portugueses senhores de engenho, em conseqüência
da guerra, perderam muitos dos seus bens, empobrecendo e
incapacitando-se para restaurar os seus engenhos, mas graças
aos créditos liberais facilitados pelos mercadores holandeses
puderam levantar-se, com o que se beneficiou a Companhia;
pagam sem pontualidade, sendo necessário que os comerciantes
insistam pelo pagamento.
Os portugueses, de um modo geral (com muito poucas
exceções), são pouco favoráveis aos holandeses e à nossa Nação
e só devido ao temor são mantidos em obediência; mas quando
encontram qualquer pequena ocasião demonstram a sua
inclinação.
BRASILIANOS
Os brasilianos, que são mais antigos moradores e os
primitivos senhores deste país, não vivem juntamente com os
portugueses, mas separados, em suas aldeias, em casas feitas de
palha ou pindoba, quarenta ou cinqüenta deles em uma só
palhoça comprida, com as suas mulheres e filhos; aí permanecem
dia e noite, deitados em suas redes. Uma família não está separada
das outras, nessas cabanas, mas sob as vistas de todos os que as
habitam. Não possuem objetos domésticos, a não ser as redes onde
dormem, algumas cabaças onde bebem, algumas.panelas de barro
onde cozinham e, fmalmente, as suas armas, que são arcos e
flechas. Em volta das aldeias plantam suas roças de mandioca e
de favas nativas com que se alimentam, além do muito que
conseguem caçar, como sejam veados, porcos selvagens, tatus e
outros animais. Comem também muitos frutos que encontram
nas matas. São todos muito dados a bebedeiras: fazem uma
beberagem com raiz da mandioca mascada e água, a qual, estando
182
azeda, é servida. Também preparam uma bebida com o caju, na
época da safra.
Não se mostram interessados em reunir riquezas ou outros
bens e por isso não trabalham nem para si próprio nem para
outrem, a fim de ganhar algum dinheiro, a não ser para ter o
que beber e para adquirir um pouco de pano para fazer camisas
para as mulheres; os homens usam roupa de algodão sobre a
pele, geralmente sem camisa. Dinheiro de nada valeria para
eles, se não fosse possível adquirir com ele aguardente e vinho
de Espanha; somente o pano de algodão, mas, sobretudo, a
bebida, os faz trabalhar. Por outra coisa não trabalhariam, mas
fazem-no pelo pano de algodão. Vão para o trabalho como
forçados e de má-vontade, mas com aguardente consegue-se
tudo deles. Têm em cada aldeia um capitão brasiliano e em
cada casa um principal, a quem obedecem de boa vontade, e
que se estão satisfeitos poucas ordens lhes dá. Além do capitão
brasiliano, foi posto em cada aldeia um capitão holandês que os
regem a eles e aos seus principais; a sua maior atribuição é
animá-los para o trabalho e dirigi-los na melhoria das plantações
e conceder-lhes permissão para trabalhar para senhores de
engenho, verificando que não sejam vítimas de enganos e que
o seu trabalho lhes seja pago. Empregam-se eles por períodos
de 20 dias, de cada vez, recebendo por isso 8 1h varas de pano;
terminado o prazo é muito difícil mantê-los no trabalho. A
ocupação na qual são geralmente empregados é a de cortar
lenha para os engenhos, a saber, cada um deles 20 medidas -
aproximadamente, outras tantas vadem (•) - o que eles nunca
conseguem fazer no prazo de 20 dias, mas apesar disto recebem
as suas 8 1h varas de pano.
Entretanto, como os negros são poucos agora no país, os
indígenas são mais procuradores para o trabalho do que
anteriormente, o que eles bem percebem e não querem aceitar
trabalho algum se não se lhes paga adiantadamente, e tendo
ocasião fogem e o senhor perde o seu pano.
(•) Como medida de volume usada para madeira, o vadem correspondia a 3,5 x
0,80 x 0,20m. Medida de lenha usada em engenhos de Pernambuco em 1663
está citada no documento do apêndice 3 nesta coletânea.
183
Em parte alguma estão os índios mais satisfeitos do que quando
vão à guerra, mas não têm escrúpulo de, quando têm vontade,
desertar das fileiras como velhacos.
Reunimos uma tropa numerosa, de diversas aldeias, mas
quando era preciso marchar, se esquivavam aqui e ali da tropa,
voltando para suas casas. Não nos foi possível mantê-los na
mesma firme disciplina dos nossos soldados, se bem que
recebessem soldo e ração, mas em quantidade menor que a dos
nossos soldados. Eles podem prestar no nosso exército diversos
serviços a contento e se bem que não sejam violentos com o
inimigo eles se fazem temer, visto que são cruéis e não concedem
quartel; e quando o inimigo, pelo esforço dos nossos, é forçado
à fuga são eles os mais valiosos e temíveis perseguidores;
entretanto entre eles se encontram muito bons soldados.
Há pouco conhecimento de Deus e do nosso Salvador
entre os brasilianos, e não sabem senão nomear Deus e Jesus
Cristo e sua Nossa Senhora, como chegaram a aprender com os
padres; sabem, entretanto, o Padre Nosso e o Credo e recitam-
nos em sua língua, e nada mais. São poucos os que dão as
razões da sua fé e em que fundamentam a Salvação.
Para instruir essa gente simples e ignorante, era desejo
que se apresentasse alguém que aceitasse estudar a língua usada
por eles: a isto decidiu-se finalmente o predicante David
Doorenslaer, para aplicar-se inteiramente ao estudo e tomar a
seu cargo o ensino dos brasilianos, tendo sido designado para
predicante deles. Fixou residência nas Aldeias Jaocque e Pindaúna,
situadas próximas uma a outra, Aldeias que agora se chamam
Maurícia, na Capitania da Paraíba, a qual é a mais importante de
toda esta região. Dedica-se ele com toda a diligência a aprender
a língua dos brasilianos, no estudo da qual já conseguiu muito
progresso, realizando boa obra educativa e dirigindo-os. Vai de
tempos em tempos de aldeia em aldeia, visitando-as e ensinando
as crianças, batizando e casando. E ainda estão em princípio as
seguintes aldeias, onde se encontram 1923 homens, tanto velhos
quanto jovens, aptos para a guerra ou inaptos, excluídas as
mulheres e crianças, as quais estão em proporção, com relação
aos homens, de, no mínimo, 3 para 1.
184
ALDEIAS DE PERNAMBUCO
Homens
Aldeia em Alagoas, Capitão Heindrick Taffel ..... 53
Aldeia em Una, Capitão Pieter Michielsz ............. 44
Aldeia São Miguel, próxima a São Lourenço, na
jurisdição de Olinda, Capitão Duynckercker.. 90
Aldeia próxima à casa de S. Ex.ª, chamada Nassau .. 50
ALDEIAS EM GOIANA
ALDEIAS NA PARAÍBA
185
Daí se verifica que, no mínimo, podem ser reunidos para
a guerra 1.000 homens; o restante ou são velhos e incapazes ou
precisam ficar de guarnição nas aldeias, onde permanecem as
mulheres e meninos, se bem que muitos levem consigo as
mulheres para a guerra. Entretanto, muitas ficam nas aldeias e
nas roças, para cuidar delas e plantar, porque, do contrário, de
volta da guerra, não encontrariam o que comer.
ESCRAVOS
186
cem a nações diferentes. Por isto no tráfico em Ardra devem ser
bem considerados, porque esse ramo mau faz os Ardras pouco
procurados. Além disto, revoltam-se contra os que os dirigem e
muitos fogem para as matas e fazem muitas maldades; são
audaciosos e valorosos, não respeitam ninguém. Os Calabares
ainda são menos estimados do que os Ardra, de vez que deles
não se consegue nem interesse, nem coragem, nem trabalho. Os
negros da Guiné até Serra Leoa e do Cabo-Verde não são muito
trabalhadores, mas são limpos e vivazes, especialmente as
mulheres, pelo que os portugueses os compram para fazê-los
trabalhar em suas casas. Os negros que até agora têm vindo de
Sonho têm sido muito bons e é aconselhável incrementar o tráfico,
tanto quanto possível, com essa região, por intermédio de Dom
Paulo, Conde de Sonho, e também com o Reino do Congo,
porque disto a Companhia tirará muita vantagem.
Os produtos das terras do Brasil que são exportados além-
mar, são principalmente açúcar, pau-brasil, também algum tabaco,
peles, doces, diversas espécies de belas madeiras para trabalhos
artísticos. Poderá produzir, também, bom algodão quando alguém
se dedicar ao seu cultivo. Ali também se encontra a tinta
alaranjada chamada Oreliana, mas pouca atenção se lhe dá.
FABRICAÇÃO DO AÇÚCAR
187
pouco, quando não parece de todo e então tem de ser inteira-
mente replantado. Além disto o lavrador tem de zelar pelo seu
canavial e limpá-lo 2, 3 e 4 vezes por ano, porque se deixar
crescer ao lado da cana mato daninho, toda a plantação fenece;
também, se ele não tiver cuidado e deixar de retirar do canavial
as ervas em tempo oportuno, ou deixá-las abafar as socas, então
o canavial não produzirá um bom açúcar branco, mas muito do
mascavado e pouco ou nenhum panela. O lavrador obriga-se
ainda a mandar cortar, por sua gente, a cana e a conduzi-la em
seus carros para a moenda. O açúcar produzido é dividido com
o senhor do engenho, segundo o caso: os lavradores que
possuem terras e partidos próprios e que podem moer a sua
cana onde melhor lhes convier, a divisão do açúcar geralmente
é feita metade e metade; os que plantam em terreno pertencente
ao senhor do engenho, dividem alguns na proporção de 1/3
para o lavrador e 2/3 para o senhor do engenho, quando as
terras são férteis e próximas do engenho e por isto o lavrador
tem pouca despesa; para a maioria, a divisão faz-se na base de
2/5 para o lavrador e 3/5 para o senhor do engenho.
O lavrador necessita para o trato de um partido - com o
que se obriga a levar à moenda 40 tarefas por ano - de 20
negros com os seus utensílios (enxadas, foices, machados), 4, 6
ou 8 carros conforme o canavial seja longe ou próximo do
engenho (e, sendo muito longe, ainda aluga comumente alguns
carros); para cada carro são necessários, pelo menos, 4 bois,
para 2 carros, 6 bois (a fim de que se possa revezá-los). Tendo o
lavrador recebido a sua parte do açúcar fabricado, ainda tem
que despender com panos para secá-los e com caixas, pregos e
carpinteiros para encaixá-lo e ainda com o frete para levá-lo
para o mercado ou para o lugar conveniente.
O senhor do engenho tendo feito com muita despesa a sua
moenda movida a água ou a boi, para onde a cana é levada; tendo
feito a casa das caldeiras (onde se acham 4, 5 ou 6 tachos grandes
de cobre e 3 ou 4 menores) com os seus apetrechos: colheres,
escumadeiras, bicas, bacias, etc.; a casa de purgar ou de refinar
(onde o açúcar é separado do mel) com as suas andainas, lanças e
correntes, tanques, bicas ou grandes tachos onde o panela é posto a
188
ferver, e muita ferragem mais adquirida a alto preço (como já foi
dito), o senhor de engenho, dizíamos, recebe a cana na moenda
e fá-la funcionar com a sua própria gente, leva o caldo a ferver
na casa das caldeiras até o ponto conveniente, expurgando-o o
mestre do açúcar, com cuidado, fazendo-o temperar e beneficiar
por outros oficiais, até que tome consistência e se transforme em
açúcar.(•) Passando dos tachas grande para os pequenos e já
com consistência, é posto no tacho frio, até que a sua elevada
temperatura diminua, a fim de ser posto em formas de barro já
prontas para isso e onde é muito misturado; depois de frio e
solidificado o açúcar, essas formas são levadas no dia seguinte,
para a casa de purgar. No espaço de 24 horas produz um engenho
de bois 20 a 30 fôrmas; em um engenho de bois duplo, 40, 50
ou 60; num engenho d'água 40, 50, 60 ou 70 e mais formas ,
desde que o engenho seja capaz de moer muita cana e se esta
for rica em açúcar, o que depende, como já ficou dito, do tempo
e dos cuidados no cultivo. A fôrma comporta uma arroba de
açúcar se este for mais ou menos bom; se for inferior, menos. O
melhor açúcar pesa mais e uma fôrma chega a ter 40 e mais
libras, até 50 e 60.
Na casa de purgar encontram-se as prateleiras onde as
fôrmas se adaptam e ficam em descanso. Em cada prateleira
colocam-se de 10 a 12 formas, havendo 8 a 10 prateleiras uma ao
lado da outra, debaixo de cada um das quais estão os receptáculos
para o mel. A esse conjunto chama-se andaina. Assim, cada andaina
comporta cerca de 100 fôrmas e na casa de purgar há 20, 25 e 30
andainas, permitindo o depósito de 2.000 a 3.000 fôrmas.
Aí fica depositado o açúcar de 6 a 8 dias em descanso,
após o que é batido com um martelozinho até que fique macio,
derramando-se por cima argila muito fina, a qual infundindo
vagarosamente a sua umidade e atravessando o açúcar, faz com
que o açúcar de qualidade se vá formando e o mel vá escapando
mais facilmente por baixo, através de um furozinho existente na
parte inferior da fôrma. Quando a argila se solidifica é retirada,
colocando-se uma segunda, sendo que alguns açúcares exigem uma
(•) Sobre essas expressões ver André João Antonil Ooão Antônio Andreoni), Cultura
e Opulência do Brasil (várias edições).
189
terceira para ficar inteiramente alvo; livre o açúcar do seu mel é
trazido para fora da casa de purgar e, retirado das fôrmas, é
posto a secar ao sol sobre panos estendidos, separando-se então
o açúcar que ainda se encontra misturado ao mel. A isto chamam
os portugueses "mascavar", com o que querem dizer que tiram a
máscara parda do pão-de-açúcar, e daí chamarem também o
açúcar pardo de "mascavado". Separado o açúcar alvo do
mascavado, cada um sobre o seu pano, são pilados em pequenos
pedaços para secar melhor e estando seco (o que se dá com a
exposição durante o tempo em que brilha o sol num só dia) o
lavrador, o senhor de engenho e o contratador da cobrança do
dízimo tratam de pesar rapidamente o que compete a cada um e
colocam-no em caixas bem secas. O mel que escorre desse
primeiro açúcar é todo de propriedade do senhor de engenho e
também o sumo que provém de canas fortes e sumarentas, com
o que prepara ainda algum açúcar branco, o chamado blanco
mellís; além disso ainda obtém bom açúcar panela.
O mel que resta do blanco mellis e do panela é entregue
aos negros para fazer garapa, quando o engenho não está
moendo, porque quando o engenho está moendo eles fazem
garapa da escuma. Dá-se, também, garapa para os cavalos, ao
gado e aos porcos, que engordam com isso, de modo que do
sumo da cana nada se desperdiça.
O senhor de engenho tem que construir à sua própria
custa todos os prédios do engenho, a saber: a casa de moenda,
a casa das caldeiras, a casa de purgar, a olaria, etc.; tem que
pagar o salário dos mestres que dirigem a moenda, a plantação,
os negros e os bois; necessita ainda ter 40, 50, 60 ou 70 negros e
30 a 40 bois, 10 a 12 carros, todos os utensílios e muitas outras
coisas que seria longo referir aqui; o que fica acima é a parte
principal. Além disto precisa ter as terras de cana necessárias,
mata para fornecer lenha, pastagens, barreiros para o trabalho
de olaria, etc.
PAU-BRASIL
190
interior, mas não forma bosques, achando-se, nas matas fecha-
das, uma árvore aqui outra ali, onde são mandadas cortar pelos
portugueses, quando os seus negros têm tempo vago e não têm
em que os empregar. Lá se arranca a casca branca que recobre o
tronco e que tem quase 3 dedos de espessura, e às vezes mais,
pois somente o miolo da árvore é vermelho e possui valor corante,
além da casca superficial, como têm todas as árvores, e que nela
é nodosa e áspera. Tem muitas folhas, que são pequenas e
pontudas, em galhozinhos delgados, verde-escuras, insertas com
regularidade. Não dá flor nem fruto, parecendo que se reproduz
por meio das raízes.
MERCADORIAS
As mercadorias mais procuradas no Brasil são o pano de
linho de toda espécie, menos os panos de linho fino, não muito
o de Rouen, mas sobretudo os panos de linho de Ossenburg e
de Hamburgo. E isto porque, há tempos, os comerciantes tendo
obtido alguns lucros com fazendas de Rouen e outros panos de
linho, remeteram tamanha quantidade de Rouens, Chatelaroux,
Steinfurt e outros que tais, que os negociantes aqui estão abastecidos
deles e nem tão cedo poderão desfazer-se de toda essa mercadoria,
principalmente enquanto for possível obter Ossenburgs.
Ainda são procurados aqui cobre, ferro, aço, breu, óleo
de peixe mas sobretudo os seguintes gêneros alimentícios: vinhos,
cervejas, azeite, manteiga, queijo, farinha de trigo fina, bacalhau,
toucinho, presunto, línguas, carnes de fumeiro, peixes da Terra-
Nova, sardinhas e tudo de bom que aparece; a carne salgada é
pouco procurada, quase nenhuma ervilha, favas ou aveia, bem
entendido por parte dos moradores dos engenhos e dos seus
aderentes, porque só nos referimos aqui ao mais procurado por
eles. Muito procurados são também tecidos para roupas,
principalmente perpetuamas, semtranas, mesulanas, picotinos,
panos de cor, de todas as cores claras, tafetás, especialmente os
cinzentos e de outras cores, panos de seda para coser e bordar
de todas as cores, botões variados e muitos outros tecidos que tais
e mercadorias outras, de cuja procura os comerciantes no Brasil têm
pleno conhecimento. Mas as que foram referidas são as principais.
191
Tendo me referido à situação do país, aos seus moradores
e à sua produção, passarei agora a informar sobre o seu governo.
GOVERNO FLAMENGO
192
com a morte do Sr. Sebastiaen van Hoogeveen e com a partida
do Sr. Jóhannes Bodecherus Banning, sete, a saber: os Srs.
Elias Herckmans, Nonno Olpherdi, Balthazar van der Voorde,
Pieter Morthamer, Gijsbert de With, Pieter Jansz Bas e Daniel
Alberti.
Faltam, assim, dois Conselheiros para completar o número,
sendo que essas vagas precisam ser preenchidas porque é muito
necessário que um dos Conselheiros resida na região do Rio São
Francisco, para dirigi-la, inclusive até a região de Alagoas (no
que, de algum tempo para cá, vem sendo empregado o Sr. Nunno
Olpherdi); que um segundo dirija os distritos de Porto Calvo e
Sirinhaém, (para onde já foi designado o Sr. Pieter Jansz Bas);
que um terceiro dirija a Capitania de Itamaracá (para onde foi
designado o Sr. Pieter Morthamer) e, finalmente, que um se
encarregue dos interesses da Companhia na Paraíba (para onde
foi designado o Sr. Daniel AlbertO; de modo que no Recife residem
somente três Conselheiros Políticos, a saber: os Srs. Elias
Herckmans, van der Voorde e Gijsbert de With. Destes, os Srs.
Herckmans e van der Voorde dirigem, como tesoureiros, a
Contadoria de Finanças e nessa qualidade assistem a todos os
pagamentos das guarnições próximas, com cujo serviço estão
sempre tão ocupados que os casos de justiça não são despachados
com a presteza que eles desejam e que é necessária. Do mesmo
modo, é necessário, ainda, que os armazéns de víveres secos e
molhados, de mercadorias e de artilharia estejam sob fiscalização
de um dos Conselheiros; podem verificar assim V. Ex.illi quão
necessário é que, no mínimo, o número de Conselheiro seja
completado, visto que o Sr. de With ou outro Conselheiro Político
não pode fiscalizar tudo isto.
Para as referidas vagas de Conselheiros Políticos
apresentaram-se respeitosamente e f<_x am propostos a V. Ex.illi
por S. Ex.ª e pelos Altos Conselheiros meus colegas, o Sr. Jacob
Alrichs, Contador-geral, o Sr. Willem Piso, doutor em medicina e
Theodosius l'Empereur, comerciante no Recife, pessoas de cuja
capacidade estão perfeitamente informados e são merecedores
de confiança; visto o contrato do Sr. Jacob Alrichs com os .Srs.
Diretores, celebrados em Amsterdã antes de sua partida para
193
o Brasil e considerado que os seus leais serviços eram merece-
dores disto, S. Ex.ª promoveu-o, sujeitando o seu ato à homolo-
gação por parte de V. Ex.~ passando o Sr. Alrichs a acumular as
funções de Conselheiro Político e de Contador-geral, com o sol-
do e prerrogativas constantes do referido contrato, obrigando-se
a exercê-las pelo espaço de três anos.
Os colégios subalternos de justiça compõem-se de
escabinos anualmente escolhidos de uma lista tríplice organizada
pelos eleitores de cada jurisdição; S. Ex.ª e os Altos Conselheiros
escolhem cinco, que prestam juramento e aos quais se ajunta
um secretário.
A Capitania de Pernambuco, como é a maior em extensão,
é dividida em diversas jurisdições, a saber, nas seis seguintes:
Rio São Francisco, Alagoas, Porto Calvo, Sirinhaém, Olinda,
Igarassu; a jurisdição de Olinda, que se estende do rio Sirinhaém
até o Jaguaribe, é julgada demasiadamente grande, sendo penoso
para os moradores de Ipojuca vir a Olinda a tratar do seu direito,
pelo que foi proposto dividi-la em duas; outros sugerem que se
faça somente mudar a sede da Câmara, que passaria a ser na
ilha de Antônio Vaz, com o que gozariam de maior comodidade
os moradores do Recife e Antônio Vaz - que assim evitariam
afastar-se dos seus negócios, quando tivessem algo a tratar perante
a justiça - e os próprios escabinos.
Em cada jurisdição há, também, um escolteto, que zela
pelos direitos da Companhia, fazendo inquéritos a respeito de
todos os abusos e com os demais encargos que lhe são atribuídos
na Pátria. Os encargos do escolteto são intoleráveis aos moradores
portugueses, que dizem que se trata de função desnecessária e
supérflua, cuja única atribuição é a de meter a mão na bolsa dos
moradores. Também não suportam que alguém faça inquéritos
sobre as suas maquinações; é certo que, em ocasiões passadas,
alguns escoltetos praticaram abusos, excedendo-se, mas já se
deu remédio a isto.
Além das Câmaras de Escabinos há, ainda, em cada
jurisdição uma Curadoria de Órfãos composta de dois portugueses
e um holandês, e de um secretário. Foram-lhes fornecidas instruções,
em língua portuguesa, para se regerem nas referidas funções.
194
Em Olinda também há uma Câmara de Mordomos do
Hospital, instituída para reger os bens, casas, terras e negros da
Misericórdias, isto é, pertencentes ao hospital, a qual é composta
de quatro portugueses da velha Irmandade da Misericórdia e de
três holandeses.
RELIGIÃO REFORMADA
A Religião Reformada, através do ensino da sagrada
palavra de Deus, é propagada no Brasil pelos pregadores
"dominus" Frederik Kesseler, Pieter Jansz Landman e Francisco
Plante, sendo que este último é pregador da corte de S. Ex.ª-; os
três realizam alternadamente prédicas no Recife e Antônio Vaz.
Também prega, em francês e português, no Recife, na cidade de
Olinda e na aldeia dos brasilianos próxima à casa de S. Ex.ª-
"dominus" Joachimus Soler; "dominus" Johannes Polhemius prega
na ilha de Itamaracá; "dominus" Cornelis van der Poel e o
proponente Jan Michielsen na Paraíba e no forte ali situado,onde
também serve "dominus" Samuel Baltselaer, predicante inglês e
que agora começou a pregar também em holandês {duits}.
"Dominus" David Doorenslaer, pregador de língua holandesa,
está entre os brasilianos na Aldeia Maurícia e faz grandes
diligências para pregar em português e na língua brasiliana e já
conseguiu muito progresso nisto; "dominus" Jodocus à Stenen é
pregador no Cabo Santo Agostinho e em Sirinhaém prega
"dominus" Johannes Eduardi. Ainda há várias guarnições com
falta de pregadores e por isto têm de se contentar com
consoladores de enfermos: estão neste caso as guarnições do
Rio Grande, de Porto Calvo e de Penedo.
E mesmo que esses lugares não precisassem de prega-
dores, seria muito necessário que houvesse predicantes em Santo
Antônio do Cabo, na Várzea do Capibaribe e em Goiana, de vez
que aí estão muitos moradores holandeses, que muitas vezes se
queixam de que vivem quase sem culto divino, o que dá ocasião
aos portugueses de troçar deles e da sua religião, como se eles
fossem gente sem crença.
RELIGIÃO CATÓLICA
Os papistas têm liberdade de exercício de suas ceri-
mônias, mas algumas vezes se excedem tanto que provo-
195
cam a indignação dos reformados. Os eclesiásticos ou são cléri-
gos ou frades. Os clérigos são os padres que andam celebrando
missas em todo o lugar e visitando os doentes e estão subordi-
nados aos seus vigários. As ordens de frades são três: Franciscanos,
Carmelitas e Beneditinos. Os Franciscanos são, sem dúvida, os
mais numerosos: têm seis conventos, a saber: o 1º em Frederica,
o 2º em Igarassu, o 3º em Olinda, o 4º em Ipojuca, além do
Convento de Antônio Vaz e o 5º em Sirinhaém e todos são belos
edifícios. Têm também um conventozinho de taipa acima de
Masurepe, no Capiguaribe, chamado Mosteirinho. Não possuem
senão estes bens e vivem somente de esmolas que diariamente
lhes dão.
Os Carmelitas têm um convento na Paraíba, em Frederica
e um em Olinda (projetado com magnificência mas ainda não
concluído) e o outro nem apenas foi começado. Têm alguma
renda proveniente de casas em Olinda, rendas que lhes foram
concedidas por magistrados sobre terrenos onde terceiros
construíram casas ou ainda de casas que lhes foram deixadas
pelos seus proprietários por meio de testamento ou por outro
meio. Eles têm também aqui e ali um canavial que fazem cultivar
e do qual recebem os lucros.
Os Beneditinos têm também dois conventos, um em
Frederica e o outro em Olinda. Esta ordem tem muitas terras, a
saber: na Paraíba, os Barreiros, ao longo do rio até os fortes,
compreendendo a ilha da Restinga; no Engenho dos Barreiros,
pertencente a Josias Marischal, têm um belo canavial e além
disto possuem em Pernambuco um belo engenho chamado
Masurepe, que vem moendo todos os anos; possuem, também,
em diversos lugares, currais de bois e casas nas cidades.
Os Judeus, na maioria, vieram da Pátria para cá, sendo
que alguns poucos portugueses que aqui residiam ao tempo do
Rei e que se fingiam Cristãos, manifestaram-se agora, declarando-
se Judeus. Costumam realizar suas superstições quase
publicamente, o que é causa de escândalos para reformados e
papistas; isto foi-lhes reprovado por meios convenientes, com a
recomendação de não causarem escândalo, que deverá ser
evitado, mostrando-se desde algum tempo com grande quietude.
196
Devemos agora acrescentar de um modo geral, nesta par-
te sobre o culto divino e a religião, que há pouca aparência de
que os portugueses se convertam à religião reformada, porque
aqui só há um ministro que prega na língua deles, porém nem
um só português comparece às prédicas, nem o procuram para,
por meio de entrevistas individuais, aprenderem algo a respeito;
pelo contrário, recusam-se a prestar ouvidos a isto, com pertiná-
cia, o que procede do que lhes disseram os padres, isto é, que a
nossa doutrina é uma doutrina herética e maldita, da qual não
poderiam ouvir falar sem incorrer em pecado de heresia e coisas
que tais; assim há poucas aparências de obter algum resultado
com os adultos.O único meio de fazer brilhar a luz do evange-
lho entre eles seria instruir e doutrinar a mocidade na escola
desde cedo, mas não temos escolas, a não ser no Recife e em
Frederica. Os portugueses, porém, não mandam os seus filhos
para essas escolas, mas ensinam-nos dentro de suas casas, por
meio de padres que nelas residem, de modo que nada se conse-
gue por este meio.
MANDIOCA
Os vegetais e os frutos de que se sustentam os habitantes
do Brasil são, em primeiro plano, a farinha, feita de mandioca,
que é uma planta arbustiva, cujas folhas são parecidas com as
do pentafólio, mas com nove folhas uma ao lado da outra,
como os dedos da mão estirada. Não tem flores nem sementes,
o caule é lenhoso; é replantada por seu próprio lenho. No local
em que se quer plantá-la fazem-se montezinhos de areia
redondos de cerca de 3 pés de diâmetro, corta-se o caule da
mandioca, que é chamada maniva, em pedaços de um palmo
de comprido e 2, 3 ou 4 desses pedaços enfiam-se em cada
montículo de areia, de modo que fiquem com a metade fora
da terra. Esses montículos são chamados covas e são feitos
muitos um ao lado do outro, conforme o número de pessoas
para o plantio e a ocasião, chegando as covas mesmo a alguns
milhares. A maniva cria raízes na terra, nas quais vão surgindo
trechos espessos, para o que influi a qualidade do solo, sen-
do que nas melhores terras têm um cúbito de comprimento e
197
a grossura de um braço; nas terras pobres são insignificantes.
Estes espessamentos são chamados mandioca e são semelhantes
aos que surgem na raíz da beterraba da nossa pátria, mas muito
mais grosseiros. As manívas, quando se fixam em terra, criam 2
ou 3 rebentos e pedem 8, 10 e 12 meses para desenvolver-se e
os caules alcançam uma polegada ou mais de espessura, lenhosos
e têm a altura de um homem; colhida a mandioca tornam eles a
servir de semente. Assim a mandioca apresenta vantagens sobre os
nossos cereais, de vez que temos que lançar à terra as sementes para
colher as sementes: lá se planta o que não se aproveita do arbusto,
sem que nada se perca da raiz ou do que serve para alimento.
VÍVERES DA TERRA
ANIMAIS
MADEIRAS
198
exista pedra {leevenden steen}, faz-se muito bom ~ijolo, cada
engenho tendo a sua olaria. Também se faz muito carvão, e os
ferreiros portugueses não usam outra cousa, mas os nossos
ferreiros de artigos pesados e fabricantes de âncoras acham-no
insatisfatório para os seus serviços e não podem trabalhar senão
com carvão de pedra, o qual em muitas ocasiões lhes falta, com
grande prejuízo para a Companhia.
Fazem-se, também, com cascas de árvores, cordoalhas e
cabos, com os quais, na falta de melhor, as barcas navegam ao
longo da costa.
FORTIFICAÇÕES
Tendo me referido ao país, aos moradores e aos produtos
da região, passarei a descrever as fortificações com as quais se
protege a colônia dos seus inimigos, incluindo fortes, soldados e
armamento.
PERNAMBUCO
199
comum), o quarto de 6lb, bombarda, o quinto uma peça forja-
da de 6 lb, todos montados nas suas carretas e 2 peças de ferro
de 5 lb. Esse hornaveque domina toda a praia, tanto dela para
fora como para dentro e alcança com suas balas a entrada da
barra e o porto.
Todo o Recife está também cercado por uma forte paliça-
das, com flancos bem guarnecidos, sendo que nos dois primei-
ros flancos ao longo do porto, partindo da bateria de pedra,
fizeram-se duas baterias, a primeira próxima à casa da pólvora,
com 1 peça de bronze de 12lb, 1 de ferro de 5lb e 1 de ferro de
3 lb, estendendo-se a linha do lado de dentro da bateria de
pedra e comandando o porto; um pouco adiante, próximo ao
desembarcadouro, está a segunda bateria, com 1 peça de bronze
de 12 lb e 1 de ferro de 8 lb.
À distância de dois tiros de mosquete do Recife, em direção
à cidade de O linda, pelo istmo, está o Castelo de São Jorge, feito
de pedra, tendo do lado da cidade de Olinda um baluarte e um
meio-baluarte, de construção elevada e no qual estão 13 peças
de ferro, 1 de 12 lb, 1 de 9 lb, 6 de 6 lb, 3 de 5 lb, 1 de 4 lb, 1 de
3 lb; domina o istmo e a barra.
Em frente ao Castelo de Terra situa-se, do lado do mar,
na entrada da barra, sobre o recife de pedra, o Castelo do Mar,
construído com pedras, elevado, sem flancos; é de forma
arredondada, octogonal. Ali há 7 peças de bronze todas
espanholas, a saber: 1 de 24 lb, 1 de 20 lb, 2 de 12 lb, 1 de 18 lb
e 2 de 10; domina a barra e todo porto e o istmo que lhe fica em
frente, podendo alcançar com seus tiros o Recife, o Castelo de
São Jorge, o forte do Brum e o reduto.
À distância de um tiro longo de mosquete do Castelo de
São Jorge em direção à cidade de Olinda, fica o forte de Bruyn,
que é um forte de quatro baluartes, se bem que, do lado do mar,
em conseqüência do descaimento da praia, os baluartes e os
flancos não puderam ser completados; possui um hornaveque,
não tem fosso, mas uma sólida paliçada em torno, sendo o forte
de uma altura regular. Nele há 7 canhões de bronze a saber: 2 de
24 lb, 1 de 18, 1 de 16 (sendo uma peça espanhola), 1 de 10 lb,
também espanhola, e 2 bombardas de 6 lb, todos montados.
200
Além disto, a um tiro longo de mosquete daí, está situado
um reduto chamado de Madame de Bruyn, com uma boa paliça-
da em volta e no qual estão 2 peçazinhas forjadas, de bronze, de
6 lb. O fortezinho que fica ao Sul da cidade de Olinda está sendo
reparado, de modo a comportar 15 a 20 homens de guarnição,
com 4 a 5 canhões de ferro, de modo que sirva de refúgio para a
burguesia de Olinda no caso de ataque de campanhistas.
O forte Waerdenburch, situado no continente, próximo
às Salinas e fronteiro ao Recife, ao noroeste, tinha sido a princípio
um forte quadrangular fechado, com três baluartes, pois à falta
de terreno firme do lado do Recife e Antônio Vaz, onde está
situado, não foi possível construir-se o quarto baluarte. Se este
forte, por qualquer infelicidade, viesse a ser perdido, pois está
sujeito a um ataque, incomodaria muito o Recife e Antônio Vaz;
por isto resolveu-se derrubar as cortinas que ficam em frente a
esses lugares e deixar o forte aberto desse lado. Além disto foram
transformados os três baluartes em três redutos fechados, bem
mis altos que os antigos muros, permanecendo, entretanto,
encerrados pelas cortinas primitivas, com o que se protegeu de
ataques do exterior a sua praça interna. Nesses redutos estão 5
peçazinhas de bronze, 1 de 6 lb, 2 de 4 lb (ambas espanholas)
e 2 bombardas, de 3 lb.
O forte Ernesto, situado na ilha de Antônio Vaz, a oeste
do Recife, e que circunscreve o Convento dos Franciscanos, é
um forte quadrangular, do lado do rio tendo dois meios-baluartes
e do lado de terra dois baluartes completos. É muito alto e tem
um fosso largo. No lado externo será construída uma contra-
escarpa ou passagem coberta. Está cercado de uma sólida
estacada. Este forte domina o rio e os terrenos baixos
circunvizinhos e principalmente o grande alojamento ou vila
{stedeken} de Antônio Vaz, inclusive as muralhas e as ruas desta.
No forte estão 4 peças de bronze, sendo 2 bombardas de 24lb,
1 de 16 lb e uma peça espanhola de 10 lb.
Segue-se o grande alojamento {groote quartier} ou vila,
o qual do lado do forte Ernesto é aberto e do lado do
continente é cercado por uma muralha alta, tendo dois ba-
luartes e do lado do rio meio-baluarte e além disto, ex-
201
ternamente, um largo fosso. É projeto ou desígnio prolongar e
ampliar a seu tempo essa muralha e também a vila, ou melhor,
as suas construções, pois já quase não há lugar ou terrenos
vagos ali do lado de dentro e já algumas casas são construídas
do lado de fora: a muralha seria estendida até o forte Frederik
Hendrik, ficando protegida assim a zona compreendida entre
esses dois fortes, isto é, o Ernesto e o Frederik Hendrik. Nessa
muralha estão 5 peçazinhas de bronze, duas de 24 lb, 2
peçazinhas espanholas de 22 lb e uma espanhola de 16lb.
Segue-se o forte Frederik Hendrik, que é um forte
pentagonal, com cinco baluartes, um fosso largo e uma forte
contra-escarpa e, em redor, na berma, uma sólida estacada. Diante
deste forte está situado um bom homaveque e, em frente a este,
um homaveque mais leve, cobrindo os terrenos altos que há nas
proximidades, sendo que o forte domina todas as terras baixas e
os homaveques. As terras baixas são inundadas pelas marés, de
modo que o inimigo não tem onde se alojar. Neste forte encontram-
se 8 peças de bronze, a saber: 3 de 24 lb, 2 espanholas, sendo 1
de 18 lb e 1 de 10 lb, 2 peçazinhas forjadas de 6 lb e uma
peçazinha forjada e cortada de 12 lb.
Do lado do continente das referidas fortificações, ao longo do
rio Capibaribe, estão situados quatro redutozinhos que podem servir
de guarda avançada em tempo de perigo, mas estão agora arruinados.
Segue-se o forte Prins Willem, nos Afogados, que é um belo
forte quadrangular, com muralhas altas e bem feitas, com urna forte
estacada em volta e um fosso largo e profundo. Está situado no
caminho pelo qual se vai para a Várzea do Capibaribe e para o
interior do país. Neste forte estão 8 peças de bronze, 2 de 24 lb, 2 de
18lb, 2 de 12lb e 2 peças fotjadas de 3lb e urna de ferro de 6lb.
ITAMARACÁ
202
cada. Aí estão 12 peças, a saber: 6 de bronze e 6 de ferro. As de
bronze são: 1 de 26 lb, 1 de 18 lb, 3 de 12 lb e 1 de 6 lb; as de
ferro são: 2 de 5 lb e 4 de 4 lb.
Segue-se a cidade Schkoppe, onde a igreja e a bateria estão
cercadas com um muro, mas não é obra de importância; nessa
bateria, que domina o porto, há 11 peças: 2 de bronze de 32 lb,
peças espanholas de berço e 9 de ferro a saber: 5 de 6 lb, 3 de 4lb,
1 de 3 lb. No extremo norte da cidadezinha, sobre a estrada, situa-
se um reduto que setve de atalaia e para defesa da porta.
Na entrada Norte do canal ou Barra de Catuama, está situado
um reduto quadrangular, em uma pequena eminência, que setve
para impedir a barra. Monta 3 pequenas peças de ferro.
PARAÍBA
203
alta todo esse trecho fica inundado e impossibilitada então a
passagem a vau. Neste forte estão 4 peças de bronze e 3 de
ferro, a saber: 2 de 16 lb, 2 de 10 lb, sendo as de ferro 1 de 8 lb,
desmontada e 2 de 4 lb.
O forte situado ao Norte, de Santo Antônio, à margem
setentrional da barra, é batido do mar; o baluarte que olha pàra
o lado da terra foi transformado num reduto, cercado de forte
paliçada. Há aí 3 peças.
Em Frederica o Convento dos Franciscanos foi cercado
por um muro em forma de quadrângulo, tendo em cada face
uma meia-lua ou revelim, com um fosso profundo, embora
estreito e seco e uma estacada do lado de dentro da muralha. Aí
estão 2 peças de bronze de 8 lb, 5 de ferro de 4 lb e 3 de 2 lb.
Abaixo da cidade Frederica está um reduto de pedra ou bateria
fechada, no Varadouro, o qual domina o desembarcadouro aí
existente; aí estão 4 ou 5 peças referidas, desmontadas.
RIO GRANDE
PERNAMBUCO
Estas são as fortificações situadas ao Norte do Recife;
passaremos às que situam ao Sul.
204
O Cabo Santo Agostinho tem, em primeiro lugar, no Pontal,
o Forte Van der Dussen, que é uma bateria murada com um
homaveque do lado do morro, em forma de tenalha e circundada
de uma forte paliçada; serve para manter sob nosso domínio
todo porto, porque os seus tiros atingem a barra, dominando
assim o porto. Nessa fortificação estão 6 peças de bronze, a
saber: 2 de 24 lb, 2 de 12 lb e 2 de 6 lb. No forte Domburch,
situado no morro, na torre, estão 4 peçazinhas de bronze de 6
lb, bombardas; serve sobretudo de guarda avançada, por isto
pouco fortificado com paliçada.
Segue-se a bateria ao pé do morro, na barra ou entrada
do porto, construída de pedra, muito boa e segura para castigar
os navios que entrarem, mas é aberta por detrás e não pode
ser fechada de modo a oferecer aos que estejam no interior
dela, garantia e cobertura, em conseqüência de dois altos morros
abaixo dos quais está. Aí se encontram 3 peças de ferro de 4
lb.
Segue-se mais ao Sul o Forte Bom Sucesso, na Povoação
do Porto Calvo: trata-se de um bom forte, situado no alto de
um outeiro, de mais de 40 pés de altura a contar do fosso,
muito escarpado. Para ficar assegurada a estabilidade da
muralha há, na parte exterior, de 14 em 14 pés, uma berma;
tem um fosso profundo, uma forte paliçada e uma forte contra-
escarpa. Contam-se 7 peças de bronze, a saber: 2 de 24 lb, 1 de
18 lb, 1 de 22 lb, 1 de 10 lb, 1 de 8 lb; 1 de 5 lb, uma peça de
ferro de 6 lb e 2 pedreiros com suas câmaras, todas peças
espanholas.
Segue-se o Forte Maurício à margem do Rio São Francisco,
no morro chamado Penedo, situado a 5 ou 6 milhas da foz, rio
acima; o morro é alto e íngreme e só há um ponto de aproximação
pelo qual se pode chegar ao forte. A sua configuração e a dos
demais fortes anteriormente referidos pode-se ver com clareza
dos respectivos desenhos. Está situado na margem Norte do rio
e tem cinco baluartes, dos quais três estão voltados para o lado
pelo qual é possível atingir o forte , que domina o rio e a planície
em tomo, que no verão o rio cobre. No forte estão 7 peças de
bronze, 2 de 12 lb, 3 de 6 lb e 2 de 3 lb.
205
ARMAZÉNS
206
20 serras para madeira
30 aros para tonéis
1O brocas para ferro
Do seguinte material nada há em estoque: fuzis, piques
longos, meios-piques, padiolas com seus cintos, sabres com seus
cintos, trombetas, pás, enxadas, couro para tambores, picaretas,
enxadões, machados grandes, pás e martelos para pedreiros,
colheres de pedreiros, pás para cal, tirantes para animais, peles
de carneiro para limpeza, papel grosso, ceifadeiras, carvão para
ferreiro, pregos de todos os tipos, pranchas, apetrechos para
madeira pesada, esmeril em pó, pranchas para carregar, fôrmas
compridas para balas de mosquete.
aí
Por podem V. Ex.~ verificar quão parcamente estão os
armazéns providos de artigos diversos e de outros inteiramente
faltos; dessa situação V. Ex.~ têm sido notificados várias vezes e
além disto têm sido feitos pedidos do que eventualmente se ia
precisando e do que desses artigos pedidos não era enviado,
entre outros: pás, enxadas, carros de mão, cuja falta nos
impossibilita de fazer em tempo os necessários consertos nos
fortes, ou com rapidez as obras novas, que se arrastam por longo
tempo, com prejuízo e desserviço para a Companhia.
VÍVERES
No que se refere a víveres, deixamos não somente todos
os fortes quase que completamente vazios corno também os
armazéns gerais, corno se poderá verificar da lista do que existe
nestes últimos:
63 barricas de carne
57 ditas de toucinho
615 ditas de aveia
56 ditas de ervilha
9 ditas pequenas de ervilha
116 ditas pequenas de farinha de trigo
69 fardos de farinha de trigo espanhola
1.500 libras de bacalhau
60 fardos de carne seca
207
18.000 libras de pão duro
480 alqueires de sal
Vinho espanhol salobro, na
32 ancoretas maior parte chegado
89 pipas da Guiné e aqui posto em
ancoretas.
2 meias pipas de vinho tinto
89 ancoretas de vinagre
3 meias pipas dito
1 pipa dito
2 barrilotes dito
4 barrilotes de azeite
2 âncoras dito
3 meias âncoras dito
1 âncora com 116 kannen dito(")
5 ditas com 56 kannen dito
2 barricas pequenas com 92 kannen dito
70 âncoras dito no depósito
Quando fomos mandados para o Brasil para lá tomar
parte no Alto Conselho, foi-nos encarregada a fixação de de-
terminada pensão para cada espécie de empregado da Com-
panhia. Para fazer face a essa despesa V. Ex.~ resolveram enviar
uma grande quantidade de víveres de toda espécie ao Brasil,
onde seriam vendidos e com o dinheiro apurado pagas as pen-
sões. Em obediência a isto fixamos as pensões de todos e não
fizemos exceção para os próprios Altos Conselheiros; entretanto,
V. Ex.~ não mantiveram a remessa de víveres, de modo que não
foi possível obter desse modo as pensões e por isto fomos
obrigados a empregar algum dinheiro das dívidas das vendas de
negros e de outras fontes de renda, para o pagamento das pensões
e desta maneira nos mantivemos durante largo tempo. Mas esse
dinheiro vindo finalmente a faltar ou não sendo suficiente para
pagar as pensões e não havendo nos armazéns o necessário
para distribuir rações, tivemos de lançar mão de outros meios
para o sustento dos empregados, obrigando os moradores a
trazer animais para abater para nossas guarnições dando-se-lhes
(•) Medida de capacidade para líquido, o kan (plural kannen) equivalia a um litro.
208
vales, para o pagamento, em lugar de dinheiro, pelos quais nos
obrigávamos a trocá-los por moeda corrente quando a nossa
tesouraria estivesse provida.
ESCASSEZ DE VÍVERES
As faltas que mais nos têm afligido, e ainda afligem, são a
de dinheiro e a de farinha e, se bem que a falta de todos os
outros víveres seja difícil de suportar, a falta de farinha {de trigo}
foi a que causou maior indignação. Suportamo-la por muito
tempo e tivemos de procurar uma solução para isto. Taxamos os
moradores de todo o Brasil {conquistado} em certa quantidade
de farinha de mandioca a ser entregue, toda semana ou
quinzenalmente, aos nossos comissários em cada guarnição. Assim
poupamos por muito tempo a farinha de trigo; mas quando esta
terminou de todo e tivemos de sustentar todos os nossos homens
com farinha de mandioca, sobreveio uma terrível falta desta
última. E como a necessidade era grande, fizemos registrar todas
as roças de todos os moradores, com a indicação de há quanto
tempo haviam sido plantadas, ordenando-se que todas as que
tivessem mais de oito meses fossem arrancadas para o preparo
da farinha e esta entregue à Companhia ou aos comissários, por
cada mil covas, tantos alqueires de farinha, que eram deter-
minados segundo a fertilidade do solo em que estavam plantadas.
Essa farinha de mandioca também não pudemos pagar
em dinheiro: tivemos de entregar aos fornecedores vales que em
quaisquer pagamentos teriam o mesmo valor de dinheiro, sob
todos os pontos de vista. Obrigamo-nos a aceitar esses vales ou
em encontros de contas ou a trocá-los por dinheiro corrente
quando a tesouraria estivesse provida. Entretanto, já estávamos
de novo no fim, pois a farinha existente e proveniente das
roças velhas já havia sido quase toda entregue quando de
minha partida, e das roças novas não pode durar muito tempo,
pelo que se espera sobrevenha uma carestia geral, já tendo
surgido grandes queixas pelo fato de que, em conseqüência
de nossa taxação de farinha, haviam sido arrancadas as
roças, não havendo lugar onde se obter farinha por dinheiro,
para alimentação. A escassez é sobretudo sensível nos
209
engenhos, onde raramente se plantam roças. Os que têm roças e
fazem farinha só podem vender pouca aos moradores, pois retêm
a necessária para entregar de sua quota no tempo marcado. Não
obstante todas essas diligências, dificilmente se obtém a farinha
necessária para, semanalmente, distribuir-se as rações no Recife,
insuficientes para o sustento, como já antes da minha partida da
Paraíba tristes exemplos nos ensinavam. S. Ex.ª escreveu-me do
Recife, em data de 27 de outubro, anunciando-me que por
algumas semanas muito dificilmente tinha sido possível obter a
farinha para a distribuição das rações, mas que agora isto não
era mais possível.
Deste modo, não havendo mais farinha, foram obrigados
a recorrer ao pouco de pão duro que havia em depósito; o
açougueiro que tinha contratado o fornecimento semanal de carne
do Recife e dos fortes circunvizinhos apresentou-se ao Conselho
informando que não tinha mais possibilidades de obter gado para
corte; os Escabinos de Olinda, também, incorporados, apresentaram-
se para esclarecer que a terra estava esgotada de gado e farinha e
que não sabiam mais o que fazer para continuar o abastecimento
e que, segundo todas as aparências, se estava às vésperas de uma
grande fome. Na Paraíba a situação era idêntica. Já não se sabe
onde comprar, por mais algum tempo, carne ou farinha para as
guarnições. Há nisto uma grande distância para os que são de
opinião e para os que não deixaram de sustentar junto a V. Ex.~
que o povo deve ser sustentado com o que produz o país;
entretanto, cremos que se tivéssemos podido pagar em dinheiro,
em vez de vales, a carne e a farinha, dando por esta 10 a 14
stuivers, ("') como se paga entre os moradores, em vez de 7 stuivers
em títulos, cremos, repetimos, que a falta não teria sido tão grande,
porque o que é pago a preço alto é poupado. O que se fornece
de ração em carne e farinha é consumido muito mais rapidamente
do que se a pensão e o rancho fossem pagos em dinheiro, porque
os soldados quando recebem dinheiro compram pouca carne,
arranjam-se com um pouco de farinha e algumas frutas e o que
podem dispensar empregam em garapa para beber, porque cerveja
e vinho são caros para eles.
210
O que se conserva de provisão nos fortes da Paraíba,
compreende cerca de 10 fardos de farinha espanhola apreendi-
da e 20 de farinha de centeio ultimamente recebida pelo navio
Bonte Koe, 50 a 60 barris de aveia, 20 barris de carne, 2 barrilotes
de azeite e uma porção razoável de vinagre, sendo que tudo es~va
em depósito quando o armazém geral estava melhor aprovisionado.
A aveia, de que se tem uma boa quantidade, deve ser vendida,
embora nossas guarnições no país não a apreciem, por terem de
pagar por ele mais um scbelling por um kan.(•)
O prejuízo que a Companhia tem tido em todo este tempo
de carestia não é possível informar: se a Companhia tivesse
enviado víveres suficientes e mantido os nossos armazéns
abastecidos, teríamos vendido alguns de tempo em tempo, com
o que a Companhia teria feito um bom lucro, a nossa tesouraria
estaria com numerário e não teria sido necessário lançar mão
das rendas dos negócios, as quais teriam sido remetidas, com
vantagem, para a Pátria, evitando-se assim prejuízos para todos.
Também, em conseqüência disto, ocorreu sério risco para esta
conquista da Companhia, porque não somente não podíamos
abastecer os nossos fortes para fazer face a um ataque eventual,
como não possuíamos o suficiente para manter o Recife.
No caso em que o inimigo se tivesse assenhoreado do
campo ou que nós, o que Deus por sua graça não consinta,
fôssemos derrotados em batalha, então teríamos perdido tudo.
Fortes sem víveres não podem ser mantidos por muito tempo e
um depois do outro teriam de ser entregues. Todos os moradores,
isto é, os moradores holandeses, alguns portugueses, brasilianos e
negros seguiriam as nossas guarnições e o pouco que ainda
possuíssemos seria de todo insuficiente. Também, logo que
tivéssemos abandonado a campanha teríamos perdido a
contribuição de víveres que o mesmo campo nos poderia fornecer.
Finalmente, o único meio que teríamos para nos
livrar da situação seria enfrentar o inimigo e procurar
expulsá-lo da campanha, fosse qual fosse a desigualdade
entre os grupos contendores, porque este seria o único
meio de nos conservarmos e em uma só batalha seria de-
(•) Um scbel/ing equivalia a 6 stuivers ou 0,30 do florim .
211
cidido se permaneceríamos como senhores do Brasil; essa possi-
bilidade atenta contra as regras do governo, qual seja, a do que
está em sua pátria e que defende a sua terra arriscar-se a tudo
perder em uma só batalha; mas a isto nos forçaria a necessida-
de.
Este ponto deverá, portanto, merecer maior atenção de
agora por diante, de modo que sempre haja no Brasil víveres
em quantidade não só para serem vendidos - e, com o produto
dessas vendas, pagas as pensões - como também para serem
abastecidos os fortes; para isto é necessário remeter para lá, de
cada vez, determinada quantidade de víveres variados, de modo
que se possam prover todos os fortes e guarnições no mínimo
pelo tempo de seis meses, remessas a serem realizadas em épocas
determinadas, com regularidade, na quantidade necessária e
igualando o consumo, mantendo-se a provisão dos fortes e
guarnições sempre para o prazo de seis meses, porque, do modo
contrário, um forte poderia ser dominado antes que pudéssemos
levar-lhe socorro. Além disso deverá considerar-se que fornecemos
víveres aos navios da nossa frota que defende o litoral do país.
Todos os navios da Companhia que partem do Brasil para a
Pátria são abastecidos também pelo nosso armazém.
Tivesse o inimigo nos atacado, não saberíamos nós, os
de corações destemerosos e os que quisessem ser devotados,
como manter em campo o nosso exército, porque nos nossos
armazéns não teríamos podido obter senão um pouco de pão
duro, carne seca, etc., que não duraria muito e seria consumido
antes que nos pudéssemos aproximar do inimigo. Do país nada
se poderia esperar, porque em todo o Brasil não há um lugar
onde um exército possa encontrar o alimento necessário; seria
por isto imprescindível lançar mão do gado, dos bois de trabalho
e de carro dos engenhos, e abatê-los. Mas isto representaria a
ruína dos engenhos e, em conseqüência, a decadência do Brasil.
E já se abateu tanto gado nestes poucos meses passados e durante
a atual carestia que não se poderá contar no Brasil com a
recuperação {do rebanho} nem no prazo de quatro anos e disto
os engenhos também se ressentirão, para grande prejuízo da
Companhia.
212
Se a resolução tomada em janeiro por V. Ex.l!lí em relação
ao ano de 1639, de enviar os víveres suficientes para 10.000
pessoas, tivesse sido prontamente executada, já .teria chegado
ao Brasil, há muito tempo, a referida remessa. O ano já está
findando sem que algo nos tenha sido informado do que no
ano de 1640 será enviado ou o que aconteceu e porque o comer
e o viver no ano de 1639 foram tão difíceis.
Assim V. Ex.l!lí devem manter sempre os armazéns bem
providos de víveres, sem fazer conta dos produtos da região -
que não são suficientes e nos levariam à penúria - nem dos
víveres que os comerciantes ou os particulares enviam para lá,
porque estes são quase todos consumidos nos engenhos e
vendidos pelo interior. De modo que quando a miséria surge e
se pensa obter algo dos comerciantes, encontra-se tudo vazio,
como nos aconteceu nos extremos que passamos.
GUARNIÇÕES
213
Em Alagoas, 4 companhias com 293 homens, a saber:
Em Camaragibe:
Em Una:
Em Ipojuca:
214
No Engenho Pantorra:
Capitão Daey ....................................... 79
215
No Forte Fredrik Hendrik:
Cap. Steffery ...................................... 101
Falio ................................................... 129 230
216
Em Frederica, na Paraíba, a compa-
nhia do Capitão den Bout..................... 101
No Forte Margarita, as companhias de:
Cap. Ernst van Bremen ....................... 90
Robert Aarios (?) ................................. 70
Waldeeck ............................................. 62
Schieff ................................................ 138 360
217
O que teria sido de nós se o nosso inimigo, pela interces-
são de Deus, tivesse podido dominar a epidemia a bordo de sua
frota e desembarcado quando a sua esquadra passou em janei-
ro diante do Recife? Ele nos teria achado então muito fracos,
porque daí para cá nos fortalecemos com a tropa do ex-Coronel
Artischau e com a que chegou depois. Deus com a sua graça
afastou de nós esse infortúnio.
Ainda atualmente, com a tropa acima referida, a situação
é muito perigosa para nós, considerado que o inimigo aqui
chegou com o poder a que faz referência em cartas que
interceptamos, nas quais dizia que esperava reunir para nos atacar
no fim de agosto ou princípios de setembro o seguinte: 3.000
soldados vindos na frota, 700 recrutados na Bahia, aos quais o
General da Armada espera juntar 2.000 dos seus soldados e além
destes cerca de 1.000 brasilianos. Desembarcando em nossa
conquista espera reunir entre os moradores cerca de 2.000 soldados,
de modo que fazem conta de dispor ao todo de 8.000 homens.
COMPANHIAS DE BURGUESES
218
Para conceder aos moradores do interior algum prestígio,
fizemos registrar também todos os moradores holandeses ou vin-
dos da Holanda, sem distinção de nacionalidade, dividindo-os
em infantes e cavaleiros, que são aqueles moradores que possu-
em cavalo. Foram escolhidos para comandá-los:
Coronel: Gaspar van Niehoff van der Ley, ex-capitão de
cavalaria.
Tenente-coronel: Johan Hick, ex-capitão
Sargento-mor: Frederik Mettinge, ex-capitão
Estes oficiais comandarão não só os infantes como os
cavalheiros.
219
Também para manter os moradores portugueses, e espe-
cialmente os moços solteiros, sob maior submissão - de vez que
deles, sobretudo, se teme a revolta - fizemos-los registrar todos,
cada um pelo distrito onde tem domicílio, por sua freguesia e
por seu engenho, pondo ainda três inspetores para eles. Deter-
minamos ainda que os pais seriam fiadores de seus filhos; os
que não tivessem pais teriam de apresentar uma pessoa casada
como fiador. Esses rapazes ou moços solteiros não podem afastar-
se do distrito onde têm domicílio sem uma autorização do seu
inspetor, como poderão V. Ex.M verificar com mais detalhes do
Edital e Instruções dos Inspetores.
O poder do nosso inimigo, segundo o seu próprio cálculo,
já foi acima referido e nada mais conseguimos obter poste-
riormente. Desde a chegada da armada espanhola à Bahia, nada
atentaram, a não ser o desembarque dos capitães Vidal e
Magalhães, efetuado por duas barcas que conduziram 40 a 50
homens, no Porto dos Franceses, ao Sul de Alagoas, e o envio
de pequenas tropas que cruzaram o Rio São Francisco. Esses
elementos nada têm feito, a não ser distribuir cartas aos moradores
nas quais o Conde da Torre promete muito breve chegar com
grande poder e que espera encontrá-los prontos quando de sua
chegada e louva, de um modo geral, os bons serviços e a
fidelidade desses moradores para com o Rei. São, entretanto,
cartas-circulares, não tendo subscrito nem indicam a quem são
endereçadas, de modo que, quando os distribuidores delas
encontram um Dom Luís qualquer, lhe entregam uma do maço,
pois são todas do mesmo teor.
Os capitães Vidal e Magalhães refugiaram-se nas
proximidades da Várzea e Muribeca, no interior, mas é muito
difícil apanhá-los. Não usam os caminhos comuns senão à noite,
quando chegam sorrateiramente às casas de portugueses e
holandeses extorquindo-lhes dinheiro e roubando os utensílios
que podem alcançar. Dizem que não consideram prazer causar
prejuízos a ninguém, a não ser quando atacados. Têm também
se encontrado com soldados nossos: tomam-lhes os fuzis e fogem;
dizem-se proibidos de incendiar os canaviais e de causar desse
modo prejuízos aos moradores.
220
Correm ainda alguns bandos pelo interior que roubam
tanto os portugueses quanto os holandeses, mas estes são com-
postos de salteadores mulatos e negros e não soldados do Rei.
Causam contudo grandes prejuízos e desassossego aos morado-
res. Refugiam-se, também, nas matas e são difíceis de apanhar;
quando os nossos soldados os perseguem fogem para o mato,
cada um para seu lado.
A frota na Bahia, temo-la achado diminuída quando de
tempo em tempo mandamos iates a espreitá-la. Recebemos em
18 de setembro bom aviso da Bahia, pelo iate de Phaisant, de
que, em 15 do dito mês, 18 a 20 dos navios grandes e alguns
dos menores haviam saído da Bahia. Três dias depois tendo
sido enviados à Bahia dois dos nossos iates para verificar quais
os navios que lá estavam, deram pela falta de um bom número
deles; contudo viram sete navios em frente ao banco de areia e
alguns barcos menores atrás do banco; bandeiras de almirante
drapejam como se a frota ainda não tivesse partido, mas de
noite a frota espanhola não acendia luzes. Depis de três dias de
buscas voltaram os nossos navios de diante da Bahia para o
Recife, receosos de que os navios da frota que haviam partido
viessem a realizar um desembarque em algum lugar. O almirante
Willem Comelissem, que havia partido do Recife para a Bahia
com uma esquadra, notificado do que se passava pelo Soutberch,
que lá ficou cruzando, voltou com a sua esquadra para o porto
do Recife, onde chegou a 29 de setembro; aí foram rapidamente
despachados e partiram a 30 com ordem de cruzar pelo espaço
de oito dias entre Santo Aleixo e o Cabo e também até Olinda,
enviando um iate para cruzar entre o Rio Formoso e Porto Calvo,
outro para cruzar diante de Alagoas, um terceiro com a mesma
incumbência diante de Itamaracá e ainda outro daí para a Paraíba.
Pretendia-se com isso estar de sobreaviso para o caso em que o
inimigo viesse a tentar algo: decidiu-se que, ao fim de oito dias,
o Almirante devia voltar para novas decisões.
Para esse fim o Almirante chegou ao Recife no dia
8 de outubro, na mesma ocasião em que eu deixava o Re-
cife em direção da Paraíba. Soube depois que havia par-
tido com toda a sua frota em 12 de outubro para a Bahia,
221
a fim de verificar qual a força naval que lá estava e, havendo
vantagem, atacar o inimigo por mar ou realizar ataques por
terra por um lugar ou por outro. Estava ainda na Paraíba quando
soube, com tristeza, por carta de S. Ex.ª e dos Nobres
Conselheiros Supremos, datada de 27 de outubro, que o iate
Schkoppe havia chegado da Bahia tendo recolhido no mar, na
altura do Rio Vermelho, três homens que pescavam em uma
jangada, um português, um mameluco e um mulato, os quais
interrogados no Recife tinham informado que os navios que os
nossos haviam visto sair da Bahia em 15 de setembro, tinham
regressado em 2 de outubro, depois de terem comboiado até o
alto-mar alguns navios mercantes e levado dois galeões para
serem reparados e que estão atrás do morro de São Paulo ou
Camamu. Disseram ainda que todos os galeões estavam na
Bahia e que tinham recebido algum auxílio da população, carne
e principalmente um grande carregamento de farinha vindo do
Rio de Janeiro e ainda esperavam alguns navios com provisões
do Rio da Prata. Informaram também que se esperava a todo
momento um socorro grande, não só de gente como de
provisões, vindo de Portugal e das Ilhas, do qual já tinham
notícia certa; o ataque a Pernambuco, disseram ainda os
prisioneiros, deve seguir-se provavelmente a isto e de todo o
exposto os depoimentos dão detalhes.
NAVIOS NA COSTA
222
Navios: Tripulação Iates & Galeotas Tripulação:
Faem 99 pessoas 't Henneken 15 pessoas
Geele Sonne 54 " Schkoppe 36 "
Haerlem 100 " Leeuwerck 22 "
Campen 49 " De Doffer 16 "
Soutberch 45 " De Duyff 11 "
Groote Chris-
toffel, um
navio aluga- Diemmen 13 "
do 48 " Ouderkerck 14 "
Da Câmara da Zeelândia:
Navios: Tripulação Iates Tripulação:
Goude Sonne 59 pessoas Phaisant 30 pessoas
Regenboog 50 " De Brack 20 "
Tertolen De Spreeu 17 "
Da Câmara do Maas:
Navios: Tripulação
De Swaen 67 pessoas
Da Câmara do Distrito do Norte:
Navios: Tripulação Iates Tripulação:
De Macht van
Enkhuisen
Da Câmara de Groninga:
Navios: Tripulação Iates e barcos Tripulação:
223
Navios, iates e barcos confiscados ou apresados:
Navios: Tripulação Iates e barcos Tripulação
Alkmaer 88 pessoas Olinda 20 pessoas
Ceará 18 "
Itamaracá 7 "
Amsterdã 6 "
Pequenos barcos no Recife:
2 barcos grandes que são tripulados por 12 pessoas
1 "champan"(*) para carregar e descarregar açúcar
e outras coisas, tripulado por sete pessoas
1 barco para o serviço do desembarcadouro,
tripulado por 4 pessoas.
Pequenos barcos na Paraíba:
2 barcos grandes que são tripulados arnlJa; por 12 pessoas.
Pequenos barcos no Rio São Francisco:
1 barco grande e uma chalupa, ambos tripulados
por 7 pessoas.
Pequeno barco em Porto Calvo:
1 barco tripulado por 6 pessoas.
Pequeno barco no Rio Grande:
1 barco tripulado por 4 pessoas.
Estavam no Recife os seguintes navios que haviam che-
gado da Guiné trazendo negros, os quais, depois de reparados,
deverão retornar:
o navio de Eendracht, de Amsterdã, tripulado por 33 pessoas:
o iate De Bruynvis, da mesma Câmara.
Pouco antes havia partido do Recife para a Guiné o navio
capturado, de nome São Pedro, tripulado por 29 pessoas.
Temos visto muitas vezes com tristeza navios neces-
sitando de consertos e reparos com os quais ficariam em
bom estado - mas nada podemos fazer por nada existir
para isso em depósito no Brasil, para grande desserviço
da Companhia. E deve notar-se que muitos navios, como
já por diversas vezes temos informado, chegam ali tão
(•) Barco pequeno usado no Oriente: Henry Yule e A.C. Burnell, Hobson-jobson
(Londres, 1969) p. 789.
224
parcamente equipados e supridos, vindos da Pátria, que logo
pedem reparos; outros, que trazem alguma provisão de material
de equipamento para o nosso armazém, chegam tão mal
equipados que logo necessitam do material que transportaram.
Também chegam navios tripulados por tão pouca gente que
não podem ser empregados em serviço no litoral, visto que a
tripulação não pode manejá-los: temos de lhes aumentar a
tripulação e como não temos marítimos somos obrigados a
empregar soldados com experiência de navegação.
É portanto muito necessário que uma grande remessa de
toda espécie de material de equipagem seja enviada para lá,
segundo a lista anexa. {Falta a lista.} Também é muito necessário
que alguns dos artigos do Norte sejam enviados, sobretudo pran-
chas, não só para a reparação de navios como para reparação
de casas da Companhia no Recife, que estão muito arruinadas e
também para a venda aos particulares para construção de casas,
com grande vantagem para a Companhia, já que aqueles não
poderão facilmente enviá-las e isto representará um bom negócio.
É também necessário que bons recrutas marinheiros sejam
enviados para lá, para completar as tripulações desfalcadas dos
navios em serviço no Brasil, pois que, em ocasiões anteriores, nos
vimos obrigados a nisso empregar soldados, uma vez que, como
já dissemos, os navios não podiam ser manejados pelas tripulações.
Há, ainda, grande falta de roupas para os soldados e
por isto em nossas guarnições vêem-se um bom número deles
que andam nus. A Companhia deve considerar isto com
cuidado e manter-nos sempre abastecidos de roupas para
oficiais e soldados; trata-se, também, de um negócio rendoso
para a Companhia, porque com ropa se pagam os soldos
militares e, em conseqüência, quando do regresso à Pátria
levarão as suas contas tão sobrecarregadas que pouco lhes restará
para receber em dinheiro. Também os soldados ficam satisfeitos
quando conseguem obter algo adiantado por conta dos seus
soldos: causa-lhes aborrecimento terem dinheiro a receber e
nada poderem obter. Ficariam satisfeitos se pudessem sacar, uma
ou outra vez, algo de suas contas e passar uma noite alegre.
Entristece a muitos terem dinheiro a receber e se verem cons-
225
trangidos a andar nus. A vestimenta incute-lhes também alguma
coragem e, se lhes fosse concedido sacar por conta dos soldos a
receber, ficariam satisfeitos e permaneceriam por mais tempo no
país. Mas como não podem fazer isto, e o soldo a receber já
representa uma pequena soma, querem voltar à Pátria para recebê-
la e gastá-la. Assim parece aconselhável deixá-los ter o que lhes
dá satisfação (com grande vantagem para a Companhia),
permanecendo no país, do que mantê-los com mesquinhez e
vê-los partir logo que conseguem e ter de lhes pagar grandes
somas em dinheiro na Pátria.
Até agora descrevemos o estado e as condições das terras
do Brasil. Os recursos, rendas e finanças que a Companhia está
recolhendo ali podem ser examinados em certo relatório no qual
vem trabalhando o Contador Geral.
Foi entregue a V. Ex.'l um rol das dívidas existentes que
devem ser pagas este ano na safra atual e das quais se deve
esperar o retomo do dinheiro; isto, além do que é de esperar
venham a render a recognição e outros tributos; mas nada se
pode referir de certo, a não ser que é de crer que a metade dos
engenhos moerá, com o que fabricarão tanto açúcar quanto o
ano passado, porém provavelmente muito mais do que o ano
passado, com um retorno também maior.
SOBRE A BAHIA
A experiência nos ensinou que a conquista do Brasil é
permanentemente ameaçada pela gente da Bahia de Todos os
Santos e enquanto os espanhóis forem senhores da Bahia terão
sempre muitas oportunidades para nos molestarem, tanto por
terra quanto por mar.
Por terra, porque em qualquer tempo podem enviar suas
tropas e seus ardilosos campanhistas para nossa conquista, o que
não podemos impedir, apesar de usarmos de todos os cuidados
possíveis e, quando se encontram em terras sob nossa jurisdição,
é quase impossível aprisioná-los, não só porque os nossos soldados
não estão habituados às matas como porque são escondidos pe-
los habituados às matas como porque são escondidos pelos
moradores portugueses, já que são soldados do Rei. Assim da
Bahia podem ser enviados para ali bandos dessa gente em qual-
226
quer ocasião, os quais põem em perigo os canaviais com a pos-
sibilidade de incêndios, que podem ser ateados por um peque-
no número de campanhistas, visto que contam com o refúgio
das matas, realizando sortidas aqui e ali, sem que se possa saber
de antemão onde os esperar.
O Rio São Francisco, que poderia servir de fronteira,
mesmo guarnecido, não impediria que os campanhistas o
atravessassem em canoas ou jangadas, ocultamente e, em terra,
na outra margem, passam a nos causar prejuízos. Mesmo se
puséssemos alguns soldados em cada engenho, o que não é
possível, nada poderiam impedir a esses brutos tão andejos,
porque um só homem com um archote, em qualquer ponto,
pode dar início a um incêndio e em meia hora estará todo um
canavial queimado.
Por mar, porque lá {na Bahia} têm os espanhóis o melhor
porto para abrigar os seus navios maiores e quando conseguem
reunir e enviar uma armada obrigam-nos a um estado permanente
de guerra; estão sempre a se preparar para nos atacar aqui e ali
ou mantêm navios para causar constante estado de alarme em
toda a costa. Este é o único porto cômodo que o rei tem na costa
para a sua armada contra nós dirigida. De modo que, se a
Companhia chegar a conquistar a Bahia, dominando-a, não mais
poderão os espanhóis continuar a assolar aquelas terras. Por isto
sou de opinião que, para completar a conquista do Brasil e
fortalecer o que lá possuímos, é muito necessário seja a Bahia
subjugada. Assim será destruído aquele ninho de formigas, de
onde procedem incessantemente tantos bandos de perturbadores
do sossego do país e de causadores de permanente estado de
alarme. O rei ficará privado do seu principal porto, o único onde
pode abrigar os seus navios mais pesados para nos fazer guerra:
passará o porto a servir-nos a nós e o inimigo terá de se alojar
mais para o Sul, perdendo todas as ocasiões de nos molestar
com tanta facilidade e de tão próximo.
A experiência do nosso último ataque à Bahia ensi-
nou-nos que as dificuldades a enfrentar não serão peque-
nas e que o nosso plano não poderá ser executado com
forças pouco consideráveis, sobretudo agora que os da Ba-
hia receberam tão valioso reforço da armada espanhola;
desse modo uma força suficiente deverá ser preparada e
227
que seja considerada capaz de dominar lugar tão defendido e
tão bem guarnecido. Para este fim sou de opinião que são ne-
cessários, no mínimo, 5.000 bons soldados, que devem ser todos
recrutados na Pátria e especialmente municiados e abastecidos
de víveres e em uma só frota embarcados para o Brasil, aos
quais ali seria juntada a tropa que se julgasse poder dispensar
das guarnições, ficando estas, porém, bem fortes; então atacar-
se-ia a Bahia da melhor maneira, esperando a bênção de Deus
para completar a conquista do Brasil e para assegurá-la para a
Companhia.
De qualquer modo, resolvido ou não o ataque à Bahia, é
muito necessário apressar o embarque do restante do socorro já
prometido, de soldados e marinheiros, tantos quanto possam ser
dispensados para este fim, visto que os navios espanhóis ainda
permanecem na Bahia, o que faz crer que ainda projetam alguma
coisa, como parecem mostrar os informes colhidos e anteriormente
referidos. Por isso o socorro prometido e tudo mais que V. Ex.~
puderem fazer nesse sentido é muito necessário ali, para que se
possa trazer à campanha, se preciso, um exército, se bem que o
socorro já enviado deverá entrar em atividade neste verão; é
indispensável, porém, prever o futuro, porque a nossa tropa, de
si insuficiente, diminui dia a dia sensivelmente, não só em
conseqüência dos licenciamentos para regresso à Pátria, como
por morte ou invalidez por causas várias. Mas, enquanto não for
enviada tropa suficiente de uma só vez, não deverá ser suspensa
a remessa de recrutas em todos os navios, para manter guarnecido
o país.
E a fim de livrar e defender o litoral de todos os navios
espanhóis achamos necessário que a Companhia tenha lá todo
o verão, no mínimo, 18 navios grandes e outros tantos iates,
navios e iates bem equipados e tripulados por marinheiros
capazes, os quais deverão chegar ao Brasil nos últimos dias de
agosto ou primeiros dias de setembro. Em março ou abril do
ano seguinte, quando não é de temer mais algum inimigo {na
costa}, retornarão com carga de açúcar ou tentarão alguma
empresa nas Índias Ocidentais, com o auxílio dos soldados que
voltam depois de expirado o prazo dos seus engajamentos.
228
Além disso seria aconselhável que para cada 1/9 parte
fossem adquiridas duas boas fluiten{_•) para carga e fardos que
tais, a fim de conduzir o açúcar do Brasil, excusando-se assim os
onerosos afretamentos de navios. Deverão ser elas bem providas
de artilharia e apetrechos a fim de que, estando lá, e sendo
necessário, possam ser empregadas. Além disto a Companhia
teria pequena despesa com a tripulação delas, visto que seriam
aproveitados para isto os soldados e marinheiros enviados de
socorro ao Brasil e, de volta, seriam aproveitados os que
regressassem de lá; sendo empregadas em serviço no Brasil a
tripulação seria completada com soldados. Também é necessário
remeter para lá alguns barcos grandes para o serviço de carga e
descarga dos navios e outros, porque dos que lá existiam uns
sossobraram, outros foram abandonados e ainda outros foram
considerados inutilizáveis. Os pequenos iates que estavam em
serviço na costa retornaram quase todos e por isto alguns devem
ser enviados de volta para lá a fim de serem empregados no
transporte do que for necessário.
Muito necessário é que sejam enviados para o Brasil
jovens ativos e fiéis, de boa letra, conhecedores de escrituração
de livros e diligentes: por falta de rapazes assim, os livros
estão com grande atraso. Especialmente na Contadoria de
Finanças, onde em conseqüência do fornecimento de dinheiro
para rações e de empréstimos, há tão grande movimento de
serviço que aqui não se faz uma idéia exata a respeito, mas
que lá bem se conhece. A referida Contadoria está com tal
atraso que, não obstante o zelo dos que nela servem e de se
esforçarem ao máximo, pouco foi possível realizar; se não for
recebida ajuda com brevidade, tanto a Contadoria de Finanças
como a Contadoria Geral estarão sujeitos a tal desorganização
que será impossível acertar as suas contas.
Os livros das guarnições do ano de 1638 és't ão para-
dos, se bem pudessem estar já encerrados, mas como fal-
tam as contas dos empréstimos, as quais estão em atraso
na Contadoria de Finanças, os escriturários ainda não
(•) Famoso navio holandês de carga, em inglês chamado "flute" ou "fly-boat". Não
encontro equivalência na língua portuguesa.
229
puderam fornecer as listas dos mesmos no dito ano, a fim de
que sejam os soldados debitados nas suas contas. Por tudo isto
é que são tão urgentes os pedidos de jovens escriturários e
guarda-livros.
Quer V. Ex.~ autorizem ou não a permanência do Sr.
Jacob Alrichs, Contador Geral, como membro do Conselho
Político, onde tão bons serviços presta, é da maior necessidade
que alguém seja enviado para ajudá-lo e que tenha competência
para o substituir, no caso de ser promovido, no de regressar ou
morrer. De modo contrário muitos e grandes trabalhos ter-se-ão
de suportar, com grande prejuízo para a Companhia, visto que
lá não há uma pessoa que seja julgada capaz para essas
atribuições.
No dia 8 de outubro parti na galeota Diemen do Recife ·
para a Paraíba, deixando já fora do porto para me seguirem, os
navios Overijssel e Bonte Koe; em conseqüência de ventos
contrários e temporais só cheguei à Paraíba no dia 13 e, contra
minha espectativa, o navio Aron ainda estava na barra para sair,
não tendo sido possível aproveitar a preamar por causa dos
ventos contrários; por isto foi-me necessário aguardar que se
pudesse desembaraçar o Aron na preamar seguinte.
A 28 do referido mês, ao meio-dia, estando pronto para a
partida, foi avistado o navio Sint jacob vindo do Recife para se
reunir conosco para a viagem. Trazia uma carta para mim, de S.
Ex.ª {isto é, do Conde de Nassau}, datada de 27 de outubro, na
qual se queixava muito de que os navios Toolen, o cargueiro De
Hoop da Zelândia e o De Prins da Câmara do Maas, tinham
chegado sem nada trazer para os armazéns da Companhia e
com carga unicamente para particulares. Admirava-se ele dos
senhores que dirigiam tamanha empresa, só procurarem receber
as recognições ou fretes, deixando periclitar tão esplêndida
conquista, onde a escassez de víveres e de outros materiais é a
que acima tem sido referida.
No Recife mandou-se preparar o navio De Prinse talvez outros
mais, porque ainda há bastante açúcar da safra passada: creio
que cerca de 1.500 caixas e, além disto, começa a chegar o açúcar da
nova safra. O preço deste último parece tende a se fixar em
tomo de 22 schellingen, mas só atingirá isto quando chegar sufid-
230
ente numerário da Holanda e quando da procura do mer-
cado.
Na Paraíba ainda havia cerca de 800 caixas do açúcar
velho, do qual a metade estava em mãos de 2 ou 3 senhores de
engenho e uns poucos lavradores que não queriam vendê-lo
senão por dinheiro de contado, que não há. O que provém da
esperança que têm da chegada da armada espanhola, com o
que, vendendo o seu açúcar a prazo, viriam a perdê-lo. Os Srs.
do Alto e Secreto Conselho devem, logo que tiverem oportunidde,
remeter um navio para lá a fim de carregá-lo, sobretudo porque
o açúcar novo começa a aparecer e por isto não duvido que um
mês ou seis semanas após a minha partida alguns navios se
tenham feito à vela {do Brasil}.
No dia 29 de outubro, com os navios Overijssel, Aron,
Sint jacob e Bonte Koe, prontos, levantamos âncora ao
escurecer da Terra Vermelha da Paraíba, lugar que está a duas
milhas ao Norte do rio, para prosseguir a nossa viagem com o
favor de Deus.
Com isto termino este meu relatório sobre o Estado do
Brasil, pedindo muito instantemente que V. Ex.~ queiram na sua
sabedoria ordenar que a ajuda necessária e tantas vezes pedida,
segundo o que ficou indicado, seja enviada para o Brasil, no
caso em que ainda não o tenha sido (o que não quero crer).
Tudo com o fim de que tão esplêndida e inestimável conquista,
realizada com o favor de Deus, não permaneça em perigo por
mais tempo, como esteve durante quase um ano e, quando da
minha partida, ainda enfrentava não pequenas dificuldades,
sobretudo pela falta de víveres, materiais diversos e especialmente
de navios para fazer face ao inimigo no mar e vencê-lo; vitória
que o inimigo também aspira e queiram V. Ex.~ não considerá-
la fácil.
Se houver omitido aqui e ali alguma informação que V.
Ex.~ desejassem, queiram ver nisto a minha pouca capacidade.
Que Deus abençoe a administração de V. Ex.a.:; para a
propagação do Seu Santo Nome, para o serviço de nossa querida
Pátria e, principalmente, para o progresso e proveito da
Companhia Geral Privilegiada das Índias Ocidentais.
231
Escrito no navio Overijssel em 10 de dezembro de 1639,
aos 43°54' de latitude norte, noroeste das Ilhas Corvo e Flores.
Ao dispor de V. Ex.~.
232
DOCUMENTO 7.
233
DOCUMENTO 7. TEXTO
234
se pagava ao dito donatário pelo contratador que o arrendava,
de cada dez arrobas, uma.
235
forme aquilo porque se vendia o tal pau-brasil e para
este efeito ia em todos os navios certidão dos oficiais
da fazenda real, para dela constar o que cada um
levava.
E declarou mais o dito João Tavares de Almeida que
a pensão que os engenhos desta referida Capitania
de Pernambuco pagavam ao donatário de todo o
açúcar que faziam assim macho como retame, ou
dinheiro, era a seguinte:
236
E o engenho de Antônio Pereira pagava a três por
cento.
E o de João de Barros Correia, oitenta arrobas de
branco.
E o do capitão Fernão Soares da Cunha, de Gurjaú, a
quatro por cento.
E o de Antônio Nunes Ximenes, a três por cento.
237
E o engenho de João de Mendonça Furtado, vinte e
cinco arrobas de branco.
E o de Luís Brás Bezerra, a três por cento.
238
E o engenho da Guerra, trinta arrobas de branco en-
caixado e posto no passo.
E o de João Gomes de Mello, a um e meio por
cento.
E o de João de Vera, a quatro por cento.
E o engenho de São João, a quatro por cento.
E o engenho de Pirapama, a três e meio por
cento.
E o engenho do Sargento-Mór Antônio Vieira, a um e
meio por cento.
E o molinote de D. Brites, a um e meio por cento.
E o engenho do Funda a três e meio por cento.
E o engenho de Filipe Paes, do Garapu, a três e meio
por cento.
E o engenho de Jurissaca, a três e meio por
cento.
E o engenho dos Algodoais, a três e meio por
cento.
239
E o engenho do Trapiche, trinta arrobas de açúcar
encaixadas, postas no passo.
E o engenho da Tabatinga, a três por cento.
E o engenho de Ruy de Brito pagará a pensão que
constar se lhe pôs.
E o engenho de Francisco Pereira Vilar, a três por
cento.
E o engenho da Bertioga, a três por cento.
E o engenho do Maranhão, a dois por cento.
E o engenho de Manuel Vaz Viseu, a três por
cento.
E o Sargento-Mor Pedro de Miranda, pelo seu engenho,
dez arrobas de branco encaixadas, postas no passo.
E o engenho da Pindoba, oitenta arrobas de açúcar
terçado, seco nos toldos.
E o engenho de Sibiró de Cima, a três por cento.
E o engenho de Sibiró de Baixo, do Canha, sessenta
arrobas de branco, encaixado, posto no passo.
E o engenho de Aratangil, de Miguel Fernandes de
Sá, oitenta arrobas de branco encaixado e posto no
passo.
E o engenho da Tapera pagará a pensão que constar
lhe foi lançada.
E que o molinote de Antônio Duarte pagava
oito arrobas de branco, encaixado e posto no
passo.
E que o engenho de Manuel de Mesquita, que ao
presente está a monte e arruinado, pagava a três por
cento.
240
E o engenho de Ubaca de Cima pagava a mesma
pensão.
E o engenho de Camaragibe, a mesma pensão.
E o engenho de Cocaú, a mesma pensão.
E o engenho do Sangoá, a mesma pensão.
E o engenho do Rio Formoso, a mesma pensão.
E o engenho do Trapiche, a mesma pensão.
E o engenho de Goicana, a mesma pensão.
241
E o engenho de Cristóvão Dias Delgado, trinta arrobas
de branco, posto no passo.
242
vares de Almeida, debaixo do juramento dos Santos Evangelhos
que recebido tinha, que o referido era verdade e que não enco-
bria coisa alguma, e que se por esquecimento lhe ficava alguma
coisa por dizer, que lembrando-lhe o viria manifestar, em fé e
verdade do que assinou, e eu Francisco de Mesquita, escrivão
da Fazenda Real, que o escrevi.
As pensões dos açúcares e dinheiro que os engenhos
desta capitania pagavam ao donatário se arremataram nesta praça
em preço de quatro mil e cem cruzados a Baltazar Leitão de
Vasconcelos, por tempo de um ano, que começou o primeiro de
agosto deste presente de seiscentos e cinqüenta e cinco e há-de
acabar o último de julho de seiscentos e cinqüenta e seis e tem
ido à Bahia a buscar a confirmação do Governador e Capitão
Geral.
Os dízimos desta referida capitania de Pernambuco
foram arrematados a Jacinto Barbosa de Almeida esta safra,
que começou em primeiro de agosto deste presente ano de
seiscentos e cinqüenta e cinco, e há-de acabar o último de
julho, que há-de vir, de seiscentos e cinqüenta e seis, em
preço de vinte e quatro mil e cem cruzados, que ao dito
respeito importa a redízima, que se pagava ao donatário,
novecentos e sessenta e quatro mil réis; mas espera-se que,
tornando os ditos dízimos da Bahia, aonde têm ido a
confirmar, se torne a abrir lanço a eles nesta capitania, com
que virá a crescer a sobredita redízima.
Os quais termos e rendimento de pensões, redízima e
mais coisas atrás referidas, eu, Francisco de Mesquita, escrivão
da Fazenda de Sua Majestade desta capitania de Pernambuco
fiz aqui trasladar bem e fielmente, sem coisa que dúvida faça,
do livro em que ficam lançadas, que está em meu poder, a que
me reporto, com que este traslado conferi, consertei, sobrescrevi
e assinei por quatro vias de um mesmo teor, de que esta é a
primeira, neste Recife de Pernambuco nos cinco dias do mês de
outubro, ano de mil seiscentos e cinqüenta e cinco. Francisco de
Mesquita. Consertado por mim, escrivão da fazenda, Francisco
de Mesquit~.
243
APÊNDICE 1
Branco
Mascavado
245
Preços do açúcar no Recife, 163 7-1645
Arroba em scbelling. 1 scbelling = 0,30 do florim.
1637, jun. -26 1640, nov. 28 1642 28
nov. 37 1641, mar. 22 1644, fevereiro 21
1638, jan. 38 a 40 jul. 24 1645, fevereiro 21
mai. 34 a 36 agt.-set.21 maio 18 el/2
1639, jan. 28 out. 19
e 1/2 jun. 23
Fontes: H. Watjen. O Domínio Colonial Holandês no Brasil (São
Paulo, 1938) p. 437 e]. A. Gonsalves de Mello, João Fernandes
Vieira, 2 vls. (Recife, 1956) I, p. 123.
246
1635, ago. 16 120 1646, jun. 9 36e 3/4
ago. 23 121 1647, jan. 16 36
nov. 19 98 1648, jan. 36e 1/2
nov. 23 97 e 1/2 jun. 15 34
dez. 3-5 104 set. 14 31e 3/4
1636, mar. 105 dez. 14 31 e 1/2
1637, jan. 19 93 dez. 29 28
mar. 6 95 1649, jan. 1 29
nov. 4 98 fev. 8 26 e 1/4
1640 maio 4 134 1650, mar. 21 14 e 1/4
ago. 11 16.
247
APÊNDICE 2
249
pp. 323-24, texto aqui corrigido em confronto com o referido
originaL
Outro texto a ser considerado: Johannes de Laet (1582-
1649), diretor e cronista da Companhia das Índias Ocidentais,
autor do valioso Iaerlyck Verhael van de Verrichtingen der. ... West-
Indische Compagnie(Leiden, 1644; 2a ed., 4 vls., Haia, 1931-37),
com tradução portuguesa publicada no Rio de Janeiro em 1916,
ao fazer um balanço geral dos feitos da Companhia e dos
prejuízos que causou às coroas ibéricas, apresenta um total da
produção açucareira do Nordeste aos anos de 1637 a 1644:
"verifico que desde o ano de 1637 até o começo do ano corrente
de 1644 foram trazidos do Brasil a este país em açúcares {e pau-
brasil}:
250
APÊNDICE 2. TEXTO.
251
o branco a 9 florins, o mascavado a 6 florins e o
retame a 3 florins, vale o dito direito a estes preços
cento e quarenta e três mil e setecentos e cinqüenta
libras. 143.750
Valem os fretes de 9.000 toneladas que há
nestes açúcares a 100 florins cada tonelada, cento e
cinqüenta mil fibras de grossos. 150.000
Valem as avarias destas 9.000 toneladas, a 10
florins cada tonelada, quinze mil libras de grossos. 15.0000
Vale a pensão do açúcar que cada engenho
pagava aos donatários das Capitanias de Pernambuco
e Itamaracá pelo rendimento do açúcar, doze mil libras
de grossos. 12.000
Dez mil quintais de pau-brasil, de 128 libras
cada quintal, que tantos se tiravam todos os anos
destas Capitanias, parece que valem ao menos, forros
do primeiro custo e gastos, a 30 florins o quintal,
monta cinqüenta mil libras de grossos. 50.000
Estima-se o dízimo, fretes e avarias do tabaco,
gengibre e algodão, mel e outras cousas miúdas, em
cinco mil libras de grossos ao menos. 5.000
Estima-se a renda da navegação dos barcos e
passos para os açúcares, passagens e pescarias, em
dez mil libras de grossos. 10.000
Estima-se a renda do peso, imposição da
bebida, açougues e passagens de gados, em dez mil
libras. 10.000
Estima-se o interesse de dois mil negros
escravos, que é o menos que cada ano deve meter a
Companhia nestas Capitanias para se sustentar a
lavoura, porquanto em tempo de El Rei de Espanha
entravam 4.000 escravos, uns anos por outros, a 25
libras de ganho em cada um, monta cinqüenta mil
50.000
libras de grossos.
Estima-se o novo direito que se pôs em
Holanda sobre o açúcar, de um grosso por
branco, 3/4 por mascavado e 1/2 por reta-
252
me, em cinqüenta mil libras de grossos a respeito do
açúcar que dão estas Capitanias. 50.000
545.750
253
APÊNDICE 3
255
inverno na zona da mata, lhes concedesse também para isso os
sábados. Esse sistema foi levado para as Antilhas, provavelmen-
te pelos holandeses, e lá foi adotado nas áreas açucareiras, fi-
cando conhecido como "o costume brasileiro". Gabriel Debien
no seu valioso Les Esc/aves aux Antilles Françaises (Basse Terre-
Fort de France, 1974) pp. 179-183 trata detidamente do assunto.
Embora referindo-se às roças dos negros, o regimento
não faz qualquer menção às do engenho, de iniciativa do próprio
senhor, para alimentação não só da escravatura como do pessoal
livre, de serviço. Ao tempo do Conde de Nassau foram obrigados
os senhores de engenho e os lavradores de canaviais a plantar
determinado número de covas de mandioca por escravo; após a
sua saída foram essas ordens esquecidas, mas em 1661 renovou-
a o admirador da ação do Conde que foi Francisco de Brito
Freire, Governador de Pernambuco (1661-64), parece que com
pouca eficácia, como se comprova do silêncio deste regimento a
respeito. Aliás em todas as áreas de produção açucareira, da Ilha
da Madeira ao Novo Mundo, esta situação se repetiu.
Este regimento, conservado no próprio original autógrafo,
guarda-se na Biblioteca Nacional de Lisboa, secção de reservados,
coleção Pombalina, códice 641 fls. 251-53 e foi pela primeira
vez publicado no Boletim do Instituto Joaquim Nabuco de Pes-
quisas Sociais nQ 2 (Recife, 1953) pp. 80-87.
256
APÊNDICE 3. TEXTO
257
açoitado, o mandará picar com navalha ou faca que corte
bem e dar-se-lhe-á com sal, sumo de limão e urina e o meterá
alguns dias na corrente. E sendo fêmeas, será açoitada à guisa
de baiona dentro em uma casa com o mesmo açoite.
Dar ração aos negros. No inverno não alevantará por
nenhum modo a gente pelas madrugadas, senão depois de alto
dia e dar-lhe-á sua ração de escumas e mel quando a houver, e
não lhe falte com ela por nenhum modo.
Cuidado com as brigas dos negros. Terá cuidado que os
escravos não andem com ódios uns com os outros para se não
matarem, antes tratará logo de os fazer amigos, e quando se não
façam dividi-los-á para outra fazenda e não lhes consentirá comer
carnes mortas, tendo grande cuidado quando morrerem alguns
bois para que os não comam.
Cuidado com os doentes. Aos negros quando lhes der febre
há-de deixar passar primeiro quarenta e oito horas antes que os
mande sangrar e somente os mandará lavar do bicho e botar-se-
lhes-á a ajuda ordinária e, quando não aplacar, lhes perguntará o
que comeu ou bebeu para ver se procede de algum veneno que
lhe tenham dado e os mostrarão logo a pessoa que entende, para
ver se se há-de sangrar; e nascendo-lhes algum inchaço de
qualquer sorte que seja, que possa haver suspeita de carbunco
{sic}, o mandará logo levar à casa de Baltasar Leitão de Vasconcelos,
de minha parte, para que faça o favor de o mandar curar. E para
semelhantes curas fugirão de Mestre João nem de barbeiros, porque
não entendem de curar isto e, muitas vezes, de qualquer leicenço
dizem que é carbunco, com que matam uma peça.
Contar os negros. Os negros serão contados todos os dias,
e o que faltar se procurará logo por todas as vias.
Cuidado com a boiada. Com os bois da fazenda haverá
com eles grande cuidado em os mandar pastorar pelos melhores
pastores e se contarão todos os dias e o que faltar mandará logo
procurar; do mesmo modo, serão curados de todas as feridas e
bicheiras que tiverem e terá grande cuidado que os bois que
trabalharem um dia não trabalhem no outro e i-los-á revezando
para que não sintam tanto o trabalho; e os novilhos os mandará
amansar aos poucos e os fará passar logo pelo carro, para que
assim trabalhem todos; e a cada carreiro entregará duas, ou
258
três ou quatro juntas de bois, conforme a quantidade que hou-
ver, para cada um saber os bois com que há-de trabalhar. E ao
que fizer ofício de capitão de carreiras encarregar-se-lhe-á tudo
para ter cuidado sobre os outros e o que não fizer o que ele
mandr, sendo justo, dará parte para ser castigado.
Visitar as matas. Terá obrigação de visitar as matas da
fazenda e defendê-las e ir a elas e saber por onde estão os
marcos e não consentir que ninguém tire nada delas sem licença
e, para o saber, mandará vigiar todas as semanas pelo feitor ou
por negro de cuidado; e achando-se que cortam irá lá e tomará
ferramentas e impedirá o não carregarem as madeiras; e pela
segunda vez, dará querela de ladrão pela justiça.
Visitar os açudes. A mesma obrigação lhe corre em ir ver
os açudes e levadas e trazer tudo mui bem consertado com
tempo, como for necessário, e não fiar nunca no mandar senão
no ir, para saber se se fazem as cousas.
Tomar conta das lenhas. Quando se fizerem as lenhas
para as moendas se lhe há-de entregar uma medida de seis
palmos de alto, seis de largo e doze de comprido e irá ver todas
as semanas as lenhas que se faz, se é de conta e que seja igual,
na grossa e delgada, e sem embargo que haja feitor-menor, que
vá a ver isto conforme é obrigação sua, sempre vá o feitor-mor
para maior desengano.
Cercar os canaviais. Procurará trazer cercados com boas
cercas todos os canaviais e lavouras da fazenda e fará que os
lavradores façam o mesmo, porque não é justo que se comam
as lavouras, quando elas custam tanto trabalho a plantar.
Cuidado com as casas. Terá grande cuidado em todas as
casas da fazenda para as mandar consertar e retelhar, e o mesmo
fará às senzalas dos negros e fará que os lavradores façam o
mesmo nas que têm a seu cargo.
Cuidado com a olaria. Procurará trazer sempre a
olaria com o oleiro forro, enquanto não houver cativo, e
de tudo o que trabalhar com suas mãos tem o dito oleiro a
metade para o poder vender a quem quiser (e se a fazenda
o houver mister o tomará, pagando-lhe como é estilo) do
que lhe toca partilhas, vem a ser, de loiça, fôrmas, jarras e
tudo o mais de suas mãos, exceto telha e tijolo, que isso
259
se faz com os escravos da fazenda e só se dá ao oleiro, quando
cose a dita telha ou tijolo, com que passar aqueles dois dias; e
estando os barreiros de barro perto da olaria e às manhãs a gente
chega o barro em cestos ou em tábuas, sem para isso ser necessário
carro, que só será necessário quando o barro esteja longe; e, pelo
mesmo modo, quando se desenfornar, a gente há-de carregar o
que houver para as casas donde se há-de pôr; e haverá sempre
de sobre excelente {sic} tijolo de arco e de ladrilho e de parede
para o que se oferecer e fôrmas todas quantas.puderem ser.
Cuidado com a casa de purgar. A casa de purgar esteja
sempre bem consertada de tanques, andainas, furros e correntes
e timbó para consertar as fôrmas e com elas terá grande cuidado
para que se não quebrem.
Cuidado com a serraria. A serraria da fazenda andará
sempre, e o carpina terá sempre madeiras de sobre excelente
para serrar de tudo, caixões, tabuados, carros (que sempre
continuará a fazer) e terá de sobre excelente cangas feitas e tudo
o mais para os carros.
Apanhar envira e cipó Procurará, no tempo que menos
há que fazer, mandar apanhar muita envira para fazer muitas
cordas, para sempre estarem feitas, e cipó de boa casta para
haver muitos cestos de sobre excelente e o cipó para amarrar as
cercas, quando for necessário, e com o mesmo cuidado terá o
timbó para as fôrmas.
Pau para dentaduras. Procurará ter de sobre excelente
pau para fazer dentadura, assim dos eixos como das bolandeiras
e terá sempre alguns feitos, pau para cunhas (e algumas feitas) e
as palmetas consertadas, dois dados, duas carapuças de sobre
excelente para o que se oferecer.
Cinza para a decoadas. Prevenirá todo o ano a cinza que os
negros fizeram em suas casas e nas olarias e ajuntá-la donde se não
molhe, e que haja sempre dezoito jarras para fazer decoada e que haja
algumas de sobre excelente sempre feitas, porque se quebram, e primeiro
que se bote a cinza se arqueiem muito bem com um timbó.
Cuidado com a casa da aguardente. Com a casa da
aguardente terá todo o cuidado, aproveitando todas as
cachaças, e que se faça boa, que há-de ser para carregar; e
se façam muitas vasilhas para as garapas e todos os bar-
260
ris que forem necessários os mandará pedir à pessoa que assistir
com meus negócios no Recife, advertindo que nisto haja muito
cuidado.
Acudir as prantas. Se por conta da fazenda se fizerem
prantas, acudirá a elas com grande cuidado para que se não
percam, nem que entre criação nenhuma e comê-las.
Pontes da fazenda. Terá sempre as pontes e serventia da
fazenda feitas e consertadas, com suas porteiras tapadas, que se
fechem, e havendo caminho por fora da fazenda não consinta
que andem por dentro, salvo em caso de necessidade.
Limpar os pastos. Terá sempre limpos os pastos e a fazenda
desafogada, procurará ter boa horta, plantar muitas parreiras e
figueiras e muita árvore de espinho e as tapagens que puderem,
ser com videiras.
Repartir o açúcar. O açúcar que se fizer no engenho será
com toda a verdade e clareza para os lavradores, fazendo-se a
partilha igual e procurará que o açúcar seja sempre o melhor
que se poder fazer e que não vá à bagaceira e que se não deixe
de fazer por falta de algum pouco necessário; e se o mestre ou
purgador forem errados, chamará outros de fora para se examinar
em que vai o erro, para se remedear e fazer sempre com o
purgador que ande com o açúcar com cuidado, para que o tire
no mais breve tempo que pode ser.
Encaixar bem o açúcar. O açúcar que tocar à fazenda
será encaixado com toda a perfeição, para que sendo necessário
tirar-lhe o tampo, para se ver toda a caixa, se faça; ao mascavar
terá grande cuidado, que será. melhor haver duas arrobas de
mascavado, que não {sic} botar a perder o bom açúcar e nisto
terá todo o sentido; e também se faça antes quatro ou dez caixas
de açúcar à parte do mais somenos, que não botar a perder o
bom açúcar fino. Torno a dizer, que nisto haja grande cuidado e
os caixões sejam bem secos e nos melhores mandará encaixar o
branco; o barro para o açúcar para a casa de purgar procure
sempre deixá-lo de um ano para o outro de sobre excelente.
Cuidado com os currais. Os currais para dormirem
os bois sejam grandes e para os tomarem pelas manhãs
haja outro curral mais pequeno, para que não haja trabalho
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em tomar os bois; os carros estejam sempre resguardados do
tempo de sol e chuva, debaixo de algumas casas, e aos carreiras
dará sempre sebo e mandará pôr nos aguilhões dos eixos do
engenho quando moer, e haja nisto grande cuidado. E fará que
a decoada seja sempre boa, advertirá ao mestre que não bote
água demasiada nos açúcares e se for feito sem ela melhor o
estimarei; azeite nas tachas pouco ou nenhum, porque é mui
danoso para o açúcar, conforme tem mostrado a experiência.
Não dispor de nada sem ordem do Sr. Governador. Não dará
nada da fazenda sem ordem minha, estando em parte donde se me
possa perguntar, e, em falta, à pessoa que correr com meus negócios
no Recife e de todas as cousas de consideração que sucederem na
fazenda me dará parte a mim ou à dita pessoa para me dar.
justificar a morte dos negros e bois. Todo escravo que
morrer justificará sua morte com gente da fazenda e de que
morreu, e o mesmo será com os bois, para que de tudo haja
clareza, e as crianças que nascerem fará assento delas.
Cuidado com os cobres. E a cousa de mais importância no
engenho são os cobres, com os quais há-de ter grande cuidado
para que se não queimem, e o mesmo cuidado se deve ter com
a ferramenta, que se não furte nem se perca.
Fazer rol cada noite. E para melhor fazer sua obrigação,
o Feitor-mor deve todas as noites fazer rol de tudo o que se
há-de fazer o outro dia e para que faça tudo muito bem e com
mais facilidade há-de se prezar de ser Cristão temente a Deus,
zeloso da fazenda que lhe entregarem e ser benquisto de todos
os vizinhos, ser cortês, de préstimo, acudindo à necessidade no
que poder, e com os homens que estiverem debaixo de sua
jurisdição ser afável, obrando tudo com boas razões enquanto
pode ser, respeitar-se e não se facilitar com os súditos que mandar
e debaixo de tudo não há ouro sem fez.
E fazendo o Feitor-mor o referido não tão somente fica
desencarregado de sua consciência, mas ainda ganha crédito
para o mundo e me obrigará, para que, além de seu pagamento,
o ajude para tirar mais lucro, e assim permita Deus que o faça.
Advertindo que fora disto que nenhuma desculpa
hei-de admitir, porque já fica dito que no que houver dúvida
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avise, nem eu quero mais do que está escrito, ainda que seja
melhor, porque seguir as ordens do dono da fazenda é o mais
acertado.
E o dito Feitor-mor poderá para remedear as necessidades
dos doentes vender o mel, retame e as mais miudezas da casa
de purgar, como também poderá vender da olaria loiça e o mais
que nela se fizer, para com isso acudir às necessidad es que se
oferecerem na fazenda; e mandará criar galinhas por uma negra
da fazenda, para ter frangos e galinhas para os doentes.
Feito neste Engenho do Meio em 23 de junho de 663.
E o Feitor-mor que assistir neste Engenho do Meio dará à
Sra. Isabel Ferreira aquilo que lhe pedir e com sua quitação lhe
levarão em conta. Dito dia.
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Produzida pela Companhi a Editora de Pernambuc o - CEPE,
composta em fonte Gatineau, corpo 11, miolo impresso em
papel Pólen Soft 80 glm2 (dois volumes/ costurados),
capa em Cartão Supremo 250 glm 2•
Esta edição de Fontes para a História do Brasil Holandês
- A Economia Açucareira,
obra editada por José Antônio Gonsalves de Mello,
dá continuida de a Série 350 Anos da Restauração Pernambucana,
em setembro de 2004, sob a coordenaç ão de
Leonardo Dantas Silva para o
Governo do Estado de Pernambuc o.
Parque Gráfico da
Companhi a Editora de Pernambuc o - CEPE,
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