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Pentateuco e Livros Históricos

Professor: Denílson Matos


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APRESENTAÇÃO
Caros alunos e alunas,
É com imenso prazer que damos início às aulas da disciplina: Pentateuco e Livros
Históricos. Para tal, é interessante entender de que se trata esta disciplina.

Este material foi elaborado como Guia Didático para o estudo do


Pentateuco – primeira divisão do Antigo Testamento formada por cinco livros –
e Livros Históricos, segunda divisão do Antigo Testamento formada por doze
livros. Nosso objetivo com este material é desenvolver uma reflexão sobre os
temas e aspectos mais acentuados de cada livro das duas primeiras divisões do
AT.

Abordar essa parte da Bíblia é de suma importância, pois ela nos ajuda a
entender a origem da humanidade, a relação do Deus único com sua criação e
a formação, bem como o desenvolvimento do Povo de Deus. Com esse Guia
Didático, esperamos que você examine as Escrituras Sagradas, e consiga
construir um conhecimento sólido da Palavra de Deus.
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Sumário
Capítulo 1 - O MUNDO DO ANTIGO TESTAMENTO ................................................. 4

1.1 CRESCENTE FÉRTIL: O CENÁRIO DA BÍBLIA ................................................. 5

1.2 ORIGEM DO PENTATEUCO .............................................................................. 9

Capítulo 2 - GÊNESIS, ÊXODO E LEVÍTICO ......................................................... 16

2.1 O LIVRO DE GÊNESIS......................................................................................17

2.2 O LIVRO DE ÊXODO.........................................................................................20

2.3 O LIVRO DE LEVÍTICO ..................................................................................... 23

Capítulo 3 - NÚMEROS E DEUTERONÔMIO .......................................................... 26

3.1 LIVRO DE NÚMEROS....................................................................................... 26

3.2 LIVRO DE DEUTERONÔMIO ........................................................................... 28

Capítulo 4 LIVROS HISTÓRICOS............................................................................. 32

4.1 TEMAS DOS LIVROS HISTÓRICOS ................................................................ 32

4.2 LIVRO DE JOSUÉ ............................................................................................. 35

4.3 LIVRO DOS JUÍZES .......................................................................................... 36

4.4 LIVRO DE RUTE ............................................................................................... 37

4.5 LIVROS DE I e II SAMUEL ................................................................................ 38

4.6 LIVROS DE I e II REIS ...................................................................................... 39

4.7 LIVROS DE I e II CRÔNICAS ............................................................................ 40

4.8 LIVROS DE ESDRAS E NEEMIAS.................................................................... 42

4.9 LIVRO DE ESTER ............................................................................................. 43

CONCLUSÃO ............................................................................................................ 45

BIBLIOGRAFIA ......................................................................................................... 46
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Capítulo 1 - O MUNDO DO ANTIGO


TESTAMENTO

Iniciaremos nosso estudo informando que os acontecimentos referidos no Antigo


Testamento sucederam nos territórios que se limitam com a parte oriental do
mediterrâneo: o Egito, a Palestina e a Mesopotâmia. Os acontecimentos narrados
tiveram lugar muitas vezes na solidão do deserto. É importante adiantar que o mundo
da Bíblia é um mundo surpreendente, revelador do ponto de vista da história da
civilização e, fundamental para toda a humanidade.
Muitas descobertas, realizadas pelos arqueólogos ao escavarem as areias do
deserto da Mesopotâmia, da Síria, da Palestina e do Egito durante os últimos cem anos,
transformaram os acontecimentos que já têm mais de dois milanos, em algo próximo de
nós.
No fim do século XIX alguns críticos negaram à Bíblia qualquer valor histórico.
Hoje, com base nos resultados das pesquisas arqueológicas, podemos afirmar a
relevância histórica dos relatos bíblicos. As convicções adquiridas por arqueólogos de
renome podem-se resumir nas expressões do arqueólogo William Foxwell Albright, que
dedicou vinte anos de sua vida a dirigir pesquisas e escavações no Oriente médio:

Nada foi encontrado que possa criar dificuldade para uma fé inteligente,
e nada foi descoberto que possa abalar sequer umaverdade teológica
[...] A Bíblia faz parte de um amplo conjunto, com cujas partes
individualmente ela está em contato. O conhecimento das línguas, da
vida e dos costumes daqueles povos, da sua história, das suas
concepções éticas e religiosas, recebe das descobertas arqueológicas
um multíplice enriquecimento. Contudo a Bíblia, embora formada neste
ambiente, não é fruto unicamente deste ambiente; seus valores
espirituais são incomparavelmente mais ricos e mais profundos; são
estes que iluminam como uma luz toda especial aquela história que de
outra forma teria sido idêntica à dos povos vizinhos. A importância das
descobertas arqueológicas para o estudo da Bíblia está justamente no
fato de que elas nos dão a possibilidade de estudar a história do povo
eleito com o mesmométodo usado para qualquer outro povo (LÄPPLE,
1979, p. 19).

Na verdade, a fé não pode depender dos resultados das escavações


arqueológicas, a ciência pode chegar aos acontecimentos, mas não ao significado
religioso que estes transmitem.
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1.1 CRESCENTE FÉRTIL: O CENÁRIO DA BÍBLIA

Entre o Mar Mediterrâneo e o Golfo Pérsio estende-se a região que hoje


chamamos de Oriente Médio, mãe de muitas culturas e civilizações. Sua população se
concentra numa faixa semicircular de terras férteis, cercada por desertos e montanhas,
começando no norte do Egito e continuando, em direçãooriental, nas planícies de Canaã
ou Palestina e nas regiões da Síria e do Iraque,irrigadas pelo Tigre e pelo Eufrates. Por
se situar entre esses dois rios, a parte oriental da região chamava-se Mesopotâmia,
“entre rios” (Gn 24.10). Toda essa faixa, em forma de meia-lua crescente, constitui o
assim chamado “Crescente Fértil”.

O Crescente Fértil abrangia diversos países, indo do Egito ao Golfo Pérsico.


Rotas comerciais atravessavam a região e eram disputadas pelas forças imperialistas
da Mesopotâmia (assírios, babilônios,
persas) e do Egito. E entre essas potências
do mundo antigo estava a terra de
Canaã/Israel. Que apesar de ser um
pequeno espaço de terra e de ter sido por
diversas vezes conquistado, s e sobressaiu
e m r e l a ç ã o às outras nações através da
experiência histórica e religiosa.

1.1.1 A formação do povo de Israel

Sobre a origem de Israel, a Bíblia menciona a presença do patriarca


Abraão, na Baixa Mesopotâmia (Iraque), em Ur dos Caldeus (Gn 11.28), com
uma passagem por Harã, na Alta Mesopotâmia (Síria) (Gn 11.31). Depois, seu
descendente Jacó-Israel teria se estabelecido no Egito, por volta do 2º milênio
a.C. (Gn 46; Êx 1.1-5). Historiadores recentes, porém, pensam que, no século XII
a.C., as“doze tribos de Israel” comportavam dois componentes principais, um
vindo do nordeste, da Síria, e outros vindo do sul, das fronteiras do Egito.
No Egito, os “filhos de Israel” eram chamados “hebreus”; a Bíblia relata
sua estada no Egito e o Êxodo subsequente, ocorrido por volta de 1300-1200
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a.C. O nome “hebreus” significa algo como imigrantes, nômades (hapiru).1

A Bíblia mostra que os povos semitas eram parentes de Israel (Gn 10 –


36): os edomitas, moabitas, amonitas, amalequitas etc. No entanto,
apresentavam ameaças permanente e eram sempre combatidos (Êx 17.16). O
parentesco se estende aos ismaelitas, ou árabes, considerados descentes de
Abraão, mas sem terem os mesmos direitos que os “filhos de Israel”; segundo
as narrativas de Gn 16 e 21.8-20, seu ancestral Ismael era apenas filho da
escrava. Coisa semelhante vale para os edomitas ou descendentes de Esaú,
irmão de Jacó-Israel: as histórias de Gn 25.29-34 e 27.1-45 ensinam que Esaú
perdera seu direito de herança. Portanto, Israel podia julgar-se no direito de
dominar esses povos (IISm 8.1-14).

1.1.2 Nômades: antepassados de Israel

Os antepassados de Israel viviam em tendas ou acampamento comum e


migravam de um lugar para outro (Gn 13.3; 18.1; 31.25-33; 32.2). A expressão
“armar a tenda” significava permanecer num lugar; a expressão “arrancar as
estacas”, tinha o significado de partir, prosseguir viagem. Mesmo séculos depois
da sedentarização, a expressão tendas de Israel era bastante utilizada (Jz 7.8;
ISm 20.1,22; IRs 12.16).
Os antepassados de Israel criavam gado, diferentemente dos beduínos
árabes que eram pastores de camelos. Os midianitas, faziam incursões para
saquear em Israel, guerreavam montados em camelos (Jz 6.5; 7.12; Gn 37.25).
Como seminômades, Israel vivia de seus rebanhos de ovelhas e cabras (gado
pequeno, Gn 30.31), de cujas peles também fabricavam suas tendas. A criação
de gado bovino foi possível após a sedentarização. A criação de gado dependia
de locais de descanso, com suprimento suficiente de água e pasto.
Os poucos mananciais de água eram objeto de frequentes conflitos (Gn

1A palavra hapiru foi encontrada em um fragmento do papiro Leyde 348. Trata-se de um fragmento de
carta, veja o que diz: “Distribui rações aos homens de tropa e aos hapirus que fazem o transporte
de pedras para o grande pilone... de Ramsés Miamum”. Os “homens de tropa” são os egípcios; os
hapirus são estrangeiros encarregados de um trabalho pesado. Na época de Ramsés, os
trabalhadores das grandes obras públicas vinham do exército, dos prisioneiros de guerras e dos
escravos. Os hapirus, designa um elemento da população da Palestina em revolta contra a
autoridade faraônica, feitos prisioneiros, no Egito, tornam-se trabalhadores a serviço de faraó
(DOCUMENTOS DO MUNDO DA BÍBLIA, 1995, p. 35).
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26.20; 21.25; Êx 2.17), mas também um lugar de encontro (Gn 24.11; 29.2; Êx
2.15). Nos oásis até havia julgamentos (Gn 14.7; Êx 18).

A vida dos seminômades foi determinada pela troca periódica das


pastagens, em meio e meio ano, entre a estepe e a terra cultivada,
a assim chamada “transumância”. Durante o período de chuvas
no inverno permaneciam na estepe; no verão, depoisque a este
estorricava, migravam para os campos colhidos da terra cultivada,
a que estão tinham acesso (SCHMIDT, 2013, p.35).

Pelo fato de estarem em constante migração em busca de terras


cultiváveis, os seminômades mantinham contato intenso com a população local;
havia comércio e casamento entre eles (Gn 34 – 38). É interessante observar
que os seminômades viviam em grupos que, por um lado, deviam ser grandes o
suficiente para que pudessem garantir o sustento e proteção, mas, por outro
lado, não deviam se tornar tão grandes que não conseguissem mais água
suficiente.

1.1.3 Línguas do antigo povo de Israel


A maior parte dos livros do Antigo Testamento foram redigidos em
hebraico, idioma do antigo povo de Israel e Judá. Alguns capítulos de Daniel e
alguns documentos citados em Esdras constam em idioma aramaico, língua irmã
do hebraico de língua administrativa do Império Persa (séc. 6º-4º a.C).
É importante dizer que as línguas semíticas se dividem em quatro grupos:
semítico do Sul, do Noroeste, do Norte e do Leste. Observe a explicação de Julio
Trebolle Barrera (1993, p. 68) sobre cada grupo mencionado:

O semítico do Noroeste é o cananeu em suas diferentesformas:


hebraico, moabita, edomita por uma parte, e ugarítico, fenício e
púnico do Leste.

O semítico do Norte é basicamente o aramaico, subdividido emdois


grupos. O grupo ocidental incluindo o aramaico da Bíblia, dos
targumim e da Gemara do Talmude palestinense, assim como o
samaritano e o nabateu. Do grupo oriental fazem parte o aramaico
do Talmude babilônico e o siríaco das traduções bíblicas e dos
escritos cristãos e mandeus.
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O semítico do Leste compreende o acádio e suas línguas


derivadas, assírio e babilônico.

O semítico do Sul inclui o árabe e o etiópico. Em épocas passadas


o árabe era praticamente o único canal de aproximação ao estudo
do semitismo antigo. Hoje pode-se dizer que o acádico tomou o
lugar do árabe nesta função. Os comentários atuais dos livros
bíblicos, no entanto, ignoram muitas referências úteis ao árabe que
enchiam os comentários da primeira metade do século.

1.1.4 Os hebreus e a tradição oral

Sabemos que o meio de comunicação mais primitivo e


fundamental da humanidade é o arquivo da memória
humana. Acontecimento importante, contratos, as
experiências tristes e alegres eram transmitidas de geração
em geração sobretudo por via oral. Não havia palavra escrita,
havia somente a palavra falada. Os primeiros adoradores de
Deus não podiam escrever os seus pensamentos sobre Deus
ou as suas experiências com ele, mas podiam falar a respeito
delas e, isso, eles fizeram. Pais e mães contavam aos seus
ESTÁTUA DE MARDUK. O DEUS
filhos histórias sobre os seus próprios pais e avós. DA BABILÔNIA.
Os hebreus não eram o único povo a passar adiante
as suas histórias oralmente. Várias narrativas babilônicas antigas têm alguma
semelhança com as narrativas da Bíblia. Uma das histórias, mais tarde transformada
em poema, a “Enuma Elish”, conta a história da criação do céu e da terra, mas também
conta sobreuma multidão de deuses que lutavam entre si e que forma, finalmente,
dominados e governados por Marduk, o deus principal da Babilônia.2 Por outro lado,
o relato da criação dos hebreus afirma que o único Deus verdadeiro criou todas as
coisas e mantém toda a criação sob seu domínio. Essa visão de Deus faz com que
os hebreus sejam um povo único no mundo antigo.

2 Marduk atingiu a supremacia no panteão por meio de sua vitória sobre o mostro Tiamat e de sua
criação. Não se sabe exatamente qual era o caráter de Marduk antes de sua glorificação no primeiro
império babilônico. Ele não apresenta os traços de uma divindade da natureza; contudo, alguns
estudiosos suspeitam que ele tenha sido uma divindade solar antes de ser reconhecido como gênio
tutelar da Babilônia. O seu templo era chamado Etemenanki, “a casa da fundação do céu e da terra”.
Marduk é aparece com o nome de Merodaque em Jeremias 50.2 (Anunciai entre as nações; e fazei ouvir, e
arvorai um estandarte, fazei ouvir, não encubrais; dizei: Tomada está Babilônia, confundido está Bel, espatifado está
Merodaque, confundidos estão os seus ídolos, e quebradas estão as suas imagens), (MACKENZIE, 1983, p.
584).
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Contar histórias era uma forma de preservar a cultura do povo, de fazer


com que soubessem quem eles eram e como eram diferentes de seus vizinhos.
Os contadores de história recitavam suas memórias em reuniões dacomunidade,
ou para celebrar datas especiais. Ao contarem as suas histórias, eles não
ousavam distanciar-se do ponto principal, nem alterar qualquer verdade
essencial, pois, eram a fé e a cultura que estavam sendo transmitidas nessas
histórias.

1.2 ORIGEM DO PENTATEUCO


A palavra “Pentateuco” é de origem grega pentateuchos, e significa “cinco
recipientes”, indicando os rolos escritos de pergaminho ou de papiro 3 que eram
guardados em receptáculos.5 Neste caso os cinco rolos são os primeiros cinco
livros da Bíblia: Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio, usando
seus nomes grecolatinos.
Cada um dos livros do Pentateuco ocupava um rolo inteiro de um papiro.
Na tradição judaica estes livros são conhecidos pelas suas primeiras palavras.

Hebraico Significado
Bereshit No princípio
Shemot Nomes
Wayqra Chamou
Bamidbar No deserto
Debarim Palavras

A Septuaginta (Septuaginta, tradução grega da Bíblia Hebraica),4 deu


outros títulos aos livros de acordo com os temas abordados.

3 Planta aquática pertencente à família do caniço. O papiro viceja em águas rasas e estagnadas, ou
pântanos, e ao longo das margens de rios de curso lento, tais como o baixo Nilo, onde outrora
vegetava em abundância. Referência bíblica: Bildade indagou de Jó: “Acaso o papiro cresce alto
sem brejo?” Jó 8.11.
4 Essa tradução grega foi empreendida por judeus de fala grega de Alexandria do século III ao II a.C.
Segundo a tradição, 72 estudiosos judeus (Septuaginta vem do termo latino para “setenta”, a
abreviatura LXX é o numeral romano para setenta) completaram a tradução em 72 dias, trabalhando
separadamente e a convite de Ptolomeu II (285-246).
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Grego Significado

Gênesis Origens

Êxodo Saída
Levítico Leis Levíticas

Números “Números” Censos


Deuteronômio Segunda lei

1.2.1 As divisões do Antigo Testamento

Pentateuco foi o nome usado na Patrística; os judeus preferem chamar de


Torah – Lei, ou a Lei de Moisés. Na verdade, a denominação Pentateuco é muito
antiga, e como já foi dito, provém da Septuaginta (LXX).
Juntos, os cinco livros constituem a Lei (Torah), que originalmente
significa “ensino”. Para os judeus o Pentateuco é a mais importante das três
divisões do cânon hebraico, conhecido como Tanach, sigla que vem das
palavras: Torah - Lei; Neviym - Profetas e Chethuvym - Escritos.
O arranjo e as divisões do Antigo Testamento dos judeus são diferentes
da Bíblia cristã. Observe que os 12 Profetas Menores é um só livro, o mesmo
ocorre com os dois livros de Samuel, dos Reis, das Crônicas e Esdras-Neemias,
a Bíblia dos judeus somam 24 livros.

1.2.2 Designações do Pentateuco no Antigo Testamento


 Lei - Js 8.34: “E depois leu em alta voz todas as palavras da lei, a bênção
e a maldição, conforme a tudo o que está escrito no livro da lei”.
 Livro da Lei - Js 1.8: “Não se aparte da tua boca o livro desta lei; antes
medita nele dia e noite, para que tenhas cuidado de fazer conforme a tudo
quanto nele está escrito; porque então farás prosperar o teu caminho, e
serás bem sucedido”.
 Livro da Lei de Moisés - Js 8.31: “Como Moisés, servo do Senhor,
ordenara aos filhos de Israel, conforme ao que [está] escrito no livro da lei
de Moisés, a saber: um altar de pedras inteiras, sobre o qual não se
moverá instrumento de ferro; e ofereceram sobre ele holocaustos ao
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Senhor, e sacrificaram ofertas pacíficas”.


 Lei do Senhor - Es 7.10: “Porque Esdras tinha preparado o seu coração
para buscar a lei do Senhor e para cumpri-la e para ensinar em Israel os
[seus] estatutos e os [seus] juízos”.
 Lei de Deus - Ne 10.28: “Dos filhos de Issacar, as suas gerações, pelas
suas famílias, segundo a casa de seus pais, pelo número dos nomes [dos]
de vinte anos para cima, todos os que podiam sair à guerra”.
 Livro da lei de Deus - II Cr 17.9: “Agora, pois, ó Senhor Deus, confirme-
se a tua palavra, dada a meu pai Davi; porque tu me fizeste reinar sobre
[um] povo numeroso como o pó da terra”.
 Lei de Moisés, servo de Deus - Dn 9.11: “Sim, todo o Israel transgrediu
a tua lei, desviando-se para não obedecer à tua voz; por isso a maldição
e o juramento, que [estão] escritos na lei de Moisés, servo de Deus, se
derramaram sobre nós; porque pecamos contra ele”.

1.2.3 Designações do Pentateuco no Novo Testamento


 Livro da Lei - Gl 3.10: “Todos aqueles, pois, que são das obras da lei
estão debaixo da maldição; porque está escrito: Maldito todo aquele que
não permanecer em todas as coisas que estão escritas no livro da lei,
para fazê-las”.
 Livro de Moisés - Mc 12.26: “E, acerca dos mortos que houverem de
ressuscitar, não tendes lido no livro de Moisés como Deus lhe falou na
sarça, dizendo: Eu [sou] o Deus de Abraão, e o Deus de Isaque, e o Deus
de Jacó?”

1.2.4 Autoria do Pentateuco

Sobre a autoria do Pentateuco, o nome de Moisés aparece como o autor


e um dos principais personagens. Certamente entre os hebreus de seus dias
Moisés reunia todas as qualidades para tomar a maior parte na escrita do
Pentateuco. A tradição rabínica judaica defende com veemência a autoria
mosaica da Torah.
Vários teólogos cristãos também argumentam que a autoria mosaica dos
cinco primeiros livros da Bíblia é incontestável. Veja alguns textos utilizados:
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 Êx 17:14 — “Então disse o Senhor a Moisés: Escreve isto para


memória num livro, e repete-o a Josué; porque eu hei de riscar
totalmente a memória de Amaleque de debaixo do céu”.
 Êx 24:4-8: — “Moisés escreveu todas as palavras do Senhor...”
(vers. 4a).
 Êx 34:27 — “Disse mais o Senhor a Moisés: Escreve estas
palavras: porque segundo o teor destas palavras fiz aliança contigo
e com Israel”.
 Nm 33:1, 2 — “Escreveu Moisés as suas saídas, caminhada após
caminhada, conforme ao mandado do Senhor...” (2a).
 Dt 31:9 — “Esta lei escreveu-a Moisés e a deu aos sacerdotes,
filhos de Levi, que levaram a arca da aliança do Senhor, e a todos
os anciãos de Israel”.
 Dt 31.24 — “Tendo Moisés acabado de escrever integralmente as
palavras desta lei num livro.”.

 Dt 31:22 — “Assim Moisés naquele mesmo dia escreveu este


cântico e o ensinou aos filhos de Israel”.
Textos do Novo Testamento que sugerem que Moisés seja o autor do
Pentateuco: Paulo e o escritor aos Hebreus quando se referem a “Lei de Moisés”
ou a “ler Moisés” (At 13.39; Hb 10.28; IICo 3.15). Apontando implicitamente à
Moisés como o autor, Jesus se dirige aos fariseus e diz: “Se vocês cressem em
Moisés, creriam em mim, pois ele escreveu a meu respeito” (Jo 5.46). Em outras
ocasiões igualmente Jesus refere-se a Moisés relacionando-o de alguma forma
com os escritos do Pentateuco (Mt 19.8; Mc 7.10; Lc 16.31; 24.27,44).
Existe uma discussão sobre esse assunto, e, no tópico seguinte deste
capítulo, queremos reproduzir em parte, a origem e resultados dessa discussão.

1.2.5 O Pentateuco e as teorias sobre formação e composição

No período do século XVIII e XIX, sobretudo na Alemanha, os


pesquisadores conseguiram resultados significativos para teologia bíblica.
Nesse período, havia uma insistência crescente de que o texto bíblico fosse
submetido ao estudo mais rigoroso segundo os melhores métodos de análise
cientifica. A abordagem racionalista, levou ao questionamento da autoridade do
13

texto Bíblico. “As normas de análise científicas não se preocupam com questões
de autoridade, não se interessa com o sentido do texto, além de um sentido
histórico e científico unidimensional” (BRUEGGEMANN, 1984, p. 12).
O método histórico-crítico para leitura e interpretação da Bíblia, tinha
como pressuposto a segurança de que a razão é suficiente para o homem
entender o mundo e resolver os seus problemas. No método histórico-crítico, a
interpretação da Bíblia deixou de ser uma tarefa para entender o que o autor
queria dizer para ser uma tarefa de questionamento da produção do texto.

1.2.6 Os conceitos do método histórico-crítico

Método: designa um conjunto de procedimentos que permitem acesso


mais objetivo a um objeto de pesquisa. Deve ser transmissível, é preciso que
possa ser ensinado e aprendido.
O “método” deve ser compreensível, imitável e controlável com elementos
ao alcance das mãos dos pesquisadores.
Histórico: implica reconhecer que os textos bíblicos foram concebidos e
compostos em tempos idos, que se desenvolveram num processo histórico e
que, por conseguinte, a relação com aquele tempo tem provavelmente algo a
dizer sobre o sentido de tais textos, embora possam ter ainda vida e sentido
atuais.
Crítico: significa estabelecer distinções e com base nelas poder julgar os
diversos aspectos do texto ligados à história: o processo de constituição do texto,
a identidade do autor, o tempo da composição, a relação com outros textos
contemporâneos, e a referência do conteúdo do texto à realidade extratextual
(por exemplo, a história política, social e religiosa que o texto subentende).
Os estudiosos do Antigo Testamento utilizavam uma forma de interpretar
o texto conhecida como: Crítica das Fontes (leitura através de uma análise
diacrônica), que consistia em ver se os textos remetem a tradições orais, ou se
são o resultado de várias redações sucessivas no tempo, e descobrir se
determinadas passagens são anteriores e outras posteriores (ALETTI;
GILBERT; VULPILLIÈRES, 2011, p. 43).
Essa abordagem textual buscava descobrir as fontes literárias de um
documento. Nesse sentido, pressupunha que certos textos bíblicos foram
submetidos a um extenso processo de adição e composição, tanto oral quanto
14

escrito. Críticos da fonte5 examinam um texto a fim de descobrir evidências de


fontes com base na linguagem e estilo, uso de nomes divinos, relatos duplos e
qualquer discrepância interna ou dentre passagens.

1.2.7 As consequências do método histórico-crítico

O texto passou a ser controlado pelos especialistas em literatura. O texto


Bíblico estava sujeito aos instrumentos, métodos e conclusões científicas. Os
intérpretes analisavam os textos negando os fenômenos sobrenaturais. Houve
muitos peritos que se dedicaram a dissecar o texto segundo a metodologia
cientifica, mas esse movimento culminou na obra de um teólogo alemão, Julius
Wellhausen,6 que criou a Hipótese dos Documentos.
Veja uma explicação sobre o método de Julius Wellhausen:

Mediante cuidadosa atenção à forma gramatical, ao estilo, vocabulário e


perspectiva religiosa, Wellhausen apresentou a hipótese consistente e
persuasiva de que nos primeiros livros do Antigo Testamento podemos
distinguir quatro camadas literáriasdiferentes, cada uma moldada por um
grupo de escritores diferentes. Cada camada (documento) diferente
possui caráter próprio, vocabulário característico, tendências e
compreensão da história e da geografia diferente, bem como interesses
e pressupostos religiosos próprios (BRUEGGEMANN, 1984, p. 14).

O centro dessa hipótese situava trechos do Deuteronômio (D) em 621


a.C., com base em IIReis 22-23. O rolo encontrado ali foi considerado como
sendo alguma forma do Deuteronômio. O material mais antigo é constituído por
dois empreendimentos literários: um usa o nome “YHWH” para Deus e se intitula
(J); o outro usa “ELOHIM”, e por isso é chamado (E). Cogitou-se numa quarta
fonte, posterior ao ano 621 a.C; seu estilo é marcado por formalismos cultuais que
deveter sido escrito por sacerdotes e por isso é chamada de (P) (do alemão
priester, “sacerdote”).
Agora, observe outras características dessa abordagem que divide o

5A Crítica das Fontes tem como objetivo identificar as supostas fontes escritas que foram usadas pelos
colecionadores ou editores para compor o texto bíblico como o temos hoje, e estudar a “teologia” dessas fontes.
6 Julius Wellhausen (1844-1918), teólogo alemão. Especialista em Antigo Testamento era um

pesquisador das fontes do Pentateuco. Ficou conhecido através da Hipótese Documentária.


Trabalhou também com datação dos textos do Pentateuco.
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Pentateuco em quatro “Documentos” separados JEPD:


 Documento ou Código Javista (J), onde
predomina o nome Javé. Tem estilo simbolista,
dramático e vivo; mostra Deus muito perto do
homem. Teve origem no reino de Judá com
Salomão (972-932).
 O Código Eloista (E), predomina o nome Elohim (=Deus). Foi redigido
entre 850 e 750 a.C, no reino cismático da Samaria. Não usa tanto o
antropomorfismo do código Javista. Quando houve a queda do reino da
Samaria, em 722 para os Assírios, o código E foi levado para o reino de
Judá, onde ouve a fusão com o código J, dando origem a um código JE.

 O Código Deuteronômio (D), teve origem nos santuários do reino


cismático da Samaria (Siquém, Betel, Dã) repetindo a lei que se obedecia
antes da separação das tribos. Após a queda da Samaria (722) este
código deve ter sido levado para o reino de Judá, e tudo indica que tenha
ficado guardado no Templo até o reinado de Josias (640-609 a.C), como
se vê em IIRs 22. O código D sofreu modificações e a sua redação final é
do século V a.C, quando, então, na íntegra, foi anexado à Torá.
 O Código Sacerdotal (P), provavelmente os sacerdotes judeus durante
o exílio da Babilônia (587-537 a.C.) tenham redigido as tradições de Israel
para animar o povo no exílio. Este código contém dados cronológicos e
tabelas genealógicas, ligando o povo do exílio aos Patriarcas, para
mostrar-lhes que fora o próprio Deus quem escolheu Israel para ser uma
nação sacerdotal (Êx 19,5s). O código P enfatiza o Templo, a Arca, o
Tabernáculo, o ritual, a Aliança. Tudo indica que no século V a.C., um
sacerdote, talvez Esdras, tenha fundido os códigos JE e P, colocando
como apêndice o código D, formando assim o Pentateuco ou a Torá, como
a temos hoje.
Outras supostas fontes ou “Documentos”:

 Livro da Aliança = Êx 20.22,23.

 Código de Santidade = Lv 19.2.


Características de cada “Documento”:
 Javista = Teologia antropomórfica;
16

 Eloísta = Teologia do mediador;

 Sacerdotal = Teologia da Palavra de Deus;

 Deuteronômio = Teologia da Aliança e do nome de Deus.

Walter Brueggemann (1984, p. 16)7 comenta que: “para realizar sua


intenção de escrever um relato histórico e objetivo, Wellhausen reduziu o
Pentateuco a um documento não apenas sem autoridade, mas, o que é mais
importante, sem relevância, do qual nada se podia separar”.
Quando nos deparamos com as questões colocadas acima somos
confrontados sobre a autoria do Pentateuco, afinal, as declarações que mostram
ordens expressas de Deus para Moisés para escrever estariam, equivocadas?
Como Moisés poderia descrever sua morte? O apóstolo Paulo teria se
enganado? Ou o próprio Jesus teria se equivocado? De forma alguma!
Entendemos que Moisés foi o autor de todo o Pentateuco. Quando afirmamos
que Moisésé o autor do Pentateuco, nos referimos a ele como o autor essencial,
ou seja, com certeza o mais importante. Diante do exposto, até os teólogos
tradicionais admitem esse pensamento.

Capítulo 2 - GÊNESIS, ÊXODO E LEVÍTICO

7 Walter Brueggemann é professor emérito de Antigo Testamento do Columbia Theological,


Geórgia – Estados Unidos da América. BRUEGGEMANN, Walter. Teologia do Antigo
Testamento: Testemunho, disputa e defesa. São Paulo: Paulus/Academia Cristã, 2014.
17

Neste capítulo refletiremos sobre o texto de Gênesis, o primeiro livro do


cânon do Pentateuco. Na condição de primeiro livro, Gênesis mostra Deus como
o único Senhor e Criador, sustentador e juiz de todas as pessoas, qualquer que
seja sua raça ou nacionalidade. Abordaremos também, os livros de Êxodo e
Levítico, refletiremos sobre a narrativa bíblica da manifestação do Deus único a
Moisés; também estudaremos o cuidado de Yahweh com o povo escolhido.

2.1 O LIVRO DE GÊNESIS

2.1.1 INTRODUÇÃO
O Livro de Gênesis narra o princípio da criação e parte de um pressuposto
absoluto, o criacionismo, quando o narrador escreve: “No princípio Deus criou
os céus e a terra”, ele o faz como um ato soberano do Deus criador. É
interessante que em nenhum momento o escritor tenta provar sua declaração,
isso porque apresenta a criação divina como um fato, independente do tipo de
linguagem que apresente as narrativas, enfim, Deus é o criador de todas as
coisas.

2.1.2 Estrutura
Na condição de primeiro livro, Gênesis mostra Deus como o único Senhor
e Criador, sustentador e juiz de todas as pessoas, qualquer que seja sua raça
ou nacionalidade. Gênesis funciona como uma introdução na qual se
apresentam as bases para o maior líder de Israel (Moisés), o evento mais crucial
de Israel (Êxodo), o momento determinante de Israel (Sinai) e o futuro imediato
de Israel (a conquista de Canaã). O livro apresenta tanto a revolta universal
contra Deus quanto o papel de Israel na solução dessa revolta.
Observe que o livro de Gênesis possui algumas seções distintas, cada
uma revelando o Deus único das Escrituras.
 Gênesis 1 e 2 fornece a ideia fundamental na qual se
baseia o restante das Escrituras: um só Deus é o Criador. Essa
crença distingue a fé veterotestamentária de suas equivalentes no
antigo Oriente Médio.
18

 Gênesis 3.1 – 6.4 apresenta o Deus juiz e protetor. O


pecado humano tem de ser castigado, contudo Deus protege as
pessoas tanto de si mesmas quanto umas das outras.
 Gênesis 6.5 – 11.9 descreve o Senhor como quem
castiga e renova. O castigo de alcance mundial acontece aqui, Deus
no entanto recomeça com os seres criados à sua imagem.
 Gênesis 11.20 – 28.9 descreve o Deus que chama e
promete. Abraão torna-se o ponto convergente da obra redentora de
Deus. É a Abraão que o Senhor promete herdeiro, relacionamento e
terra, temas centrais em todo o Pentateuco. Quinto, na vida de
Isaque o Senhor é revelado como o Deus que proporciona
continuidade pactual (25.19 – 28.9). As promessas abraâmicas não
acabam quando o patriarca morre.Continuam válidas na pessoa de
seu filho.

 Gênesis 28.10 – 36.43 apresenta Deus como quem


elege e protege. Deus escolhe Jacó, homem terrivelmente humano
passa a levar consigo as mais preciosas promessas da parte de
Deus.
 Gênesis 37 – 50 expõe o Deus que preserva o povo
da aliança. Nenhuma ameaça, por mais dura que seja, consegue
atrapalhar os planos do Senhor para a família de Abraão. Os
propósitos do Criador para a criação manter-se-ão mediante a vida
dessas criaturas em particular.

2.1.3 Propósito e mensagem


O primeiro livro das Escrituras Sagradas apresenta de forma clara um
propósito geral, o de mostrar como Deus escolheu Israel para ser seu povo e se
relacionou com ele por meio da aliança. Isso torna-se obvio, quando se percebe
que:

Somente dois capítulos são dedicados à história da Criação e um


à entrada do pecado na raça humana. Por outro lado, treze
capítulos são dedicados a Abraão, dez a Jacó e doze a José (que
nem era um patriarca, nem um filho por meio do qual as
19

promessas da aliança seriam perpetuadas). Ora, presenciamos o


fenômeno de doze capítulos para José e apenas dois para a
Criação (HAMILTON, 2006, p. 19).

Gênesis procura apresentar os primórdios da revelação progressiva


divina, começando desde o momento em que Deus é apresentado pelo autor
mostrando seu poder criador. Esse criador, capaz de criar todas as coisas “do
nada”, pelo poder de Sua Palavra, fez o homem à Sua imagem, conforme a Sua
semelhança e bondosamente relacionou-se com ele, entregando-lhe a
mordomia de sua criação, contudo estabeleceu-lhe limites. Em um determinado
momento, o ser humano enganado pelo maligno transgrediu a regra divina e
sofreu juntamente com toda a criação as consequências da desobediência.
Ainda assim, Deus revela-se amoroso e bondoso indo até o homem e fazendo-
lhe a promessa de redenção e estabelecendo uma aliança com ele.
Apresenta as consequências danosas da queda, e uma das mais terríveis
estava no fato de que todo ser humano herdaria a natureza pecaminosa de Adão.
Por isso, apesar da fidelidade divina o homem constantemente rebelava-se
contra seu criador, quebrando a aliança. Assim, o texto apresenta um Criador
amoroso, mas justo, que penalizava as ações de rebelião humana através de
juízos Universais, como o Dilúvio, ou a confusão das línguas em Babel.
Gênesis mostra quando Deus através de Abraão elege a Israel com a
missão de ser Luz para as Nações (Is 42.6). O propósito de Israel seria o de
irradiar para todos os povos os preceitos de um único Deus santo, amoroso,
sustentador de sua criação, mesmo em meio a uma sociedade politeísta e
entregue ao pecado.
A saga dos patriarcas demonstra claramente as venturas e desventuras
daqueles que a partir de Abraão, foram os responsáveis por liderarem o povo de
acordo com os preceitos estabelecidos pelo próprio Deus. Por fim Gênesis
procurar esclarecer a chegada dos descendentes de Jacó ao Egito, fazendo
assim uma ponte para a próxima história, o Êxodo.

2.2 O LIVRO DO ÊXODO


20

2.2.1 Introdução

O livro de Êxodo, segundo do Pentateuco, continua os relatos de Gênesis.


Questões como a singularidade do Deus Criador e mantenedor de tudo o que
existe, o cumprimento das promessas a Abraão, a habilidade de Deus em livrar
do perigo o povo escolhido, o pecado de um contra o outro dentro da raça
humana, e a necessidade da raça humana de orientação e limites dados por
Deus continuam a ser objeto de ênfase.
Os patriarcas Abraão, Isaque, Jacó e José são lembrados a todo
momento. No entanto, surgem novas pessoas, como Moisés, Arão, Miriã, faraó
e outros, para o desenvolvimento da história. Novas questões teológicas surgem,
como o papel da lei na vida de Israel, a natureza da escolha divina de Israel
como povo especial e o meio de conseguir perdão para o pecado.
É importante adiantar que, embora o segundo livro do Pentateuco ofereça
diversos temas de importância, uma ideia prevalece: existe apenas um único
Deus. Este Deus único é o mesmo Deus que levou para o Egito José, Jacó e o
restante da família escolhida. Assim, é o mesmo Deus Criador da terra e da raça
humana.

2.2.2 Estrutura
Estruturalmente o livro de Êxodo não é complexo, por isso pode ser
dividido em três partes:
1. Israel nas terras do Egito (1.1-13.16)

Aqui Moisés é divinamente comissionado e capacitado para libertar seu


povo da escravidão das terras do Egito. Também nessa primeira parte, o cuidado
divino com seu povo, através de sua intervenção direta através das pragas, a
instituição da Páscoa.
2. Peregrinação de Israel no deserto (13.18-18.27)

O resgate da noção de povo de Deus que havia se perdido no Egito, é


retomada através da aliança estabelecida no Sinai (Êx 19.1-6). A aliança
21

conforme estabelecida por Deus tinha muitas semelhanças com os antigos


tratados hititas, conhecidos como tratados do senhor suserano, de forma que
houve uma apropriação de um veículo cultural daqueles dias e uma
ressignificação das cláusulas desse tratado para que se adequasse a santidade
e a soberania de Deus.
3. Israel no Monte Sinai (19.1 - 40.38)

Finalmente, os detalhes quanto a construção do Tabernáculo e seu


funcionamento são concedidos de acordo com as diretrizes divinas. A
construção do Tabernáculo teve o claro objetivo de manifestar a presença divina
entre o povo (25.8). A instituição do sacerdócio araônico, foi uma das medidas
para a organização e estruturação da religião entre o povo hebreu, a partir desse
momento havia um local específico, regras e pessoas específicas para cuidar do
sagrado. Uma das heranças culturais do Egito é manifesta no episódio do
bezerro de ouro, que aparece no texto como um ato de rebelião contra Deus
(32.1-10). Apesar da punição divina recair sobre os rebeldes, Moisés intercede
a Deus pelo povo, assim a aliança pôde ser renovada (32.11-34.17).

2.2.3 Mensagem
A narrativa da libertação do povo escolhido de Deus atua como modelo
de salvação, sendo tanto a evidência do amor divino por Israel quanto, no
restante das Escrituras, estímulo à obediência por parte do povo de Deus. 8 A
grandeza do evento é acentuada pela luta precedente e pelos desafios
seguintes.
Êxodo começa com a informação de que no Egito, o povo de Israel
prospera e cresce, tornando-se um grande grupo em seu país adotivo, Êxodo
1.1-7:

Estes pois [são] os nomes dos filhos de Israel, que entraram noEgito com
Jacó; cada um entrou com sua casa: Rúben, Simeão, Levi, e Judá;

8 “O êxodo é o relato da libertação de um povo vítima da opressão e da escravidão. O Deus do


êxodo se revela, portanto, antes de tudo como um Deus que liberta os oprimidos. O Deus da Bíblia
combate o mal sob todas as suas formas e liberta os oprimidos” (RÖMER; MACCHI; NIHAN, 2010,
p. 226).
22

Issacar, Zebulom, e Benjamim; Dã e Naftali, Gade e Aser. Todas as


almas, pois, que procederam dos lombos de Jacó, foram setenta almas;
José, porém, estava no Egito. Faleceu José, e todos os seus irmãos, e
toda aquela geração. Eos filhos de Israel frutificaram, aumentaram muito,
e multiplicaram-se, e foram fortalecidos grandemente; de maneiraque a
terra se encheu deles.

Essa expansão numérica dos clãs dos doze filhos de Jacó cumpre a
promessa divina a Abraão de multiplicar seus descendentes até que mal se
consiga contá-los (Gn 12.1-9; 15.1-6). Desse modo, os versículos iniciais servem
de afirmação teológica da fidelidade e provisão de Deus para com Abraão,
Isaque e Jacó. O Deus que cumpre promessas continua a agir ao longo dos
séculos, sendo fiel às promessas feitas a homens e mulheres mortos há muito
tempo.

2.2.4 O sentido teológico do nome YAHWEH

O Antigo Testamento emprega diversas vezes o nome Yahweh e as


expressões “Eu Sou”, “Eu sou Yahweh” e “Eu, o Senhor, [...] sou eu mesmo”.
Os profetas Oséias 13.4 e Joel 2.27 afirmam que Yahweh é o Deus de
Israel porque Yahweh libertou o povo e, na verdade, não existe nenhum outro
deus para libertar ou livrar quem quer que seja. Como Moisés, Oséias e Joel
enfatizam e vinculam o nome de Deus, a ação de Deus na história, o
relacionamento de Deus com Israel e a singularidade de Deus.
O livro de Isaías segue o modelo dos textos mosaicos. Oito passagens
dessa profecia apresentam atributos específicos de Yahweh na primeira pessoa,
usando uma linguagem semelhante ao de Êxodo 3.14. Duas dessas declarações
incluem a expressão literal: “Eu sou Yahweh [...] eu sou ele mesmo” (Is 41.4;
43.11-13), ao passo que a outra traz “Eu sou Yahweh” (45.18). Os outros cinco
textos (43.25; 46.4; 48.12-13; 51.12; 52.6) apresentam o Senhor dizendo, numa
tradução também literal, “eu sou ele mesmo”. Essas passagens descrevem
Yahweh como o Senhor da história (41.4; 43.11; 45.18), como o Criador e
sustentador da terra e da raça humana (41.4; 45.18; 46.4; 48.12-13), como o
salvador de Israel (43.10-13), como o consolador de Israel (51.12) e como a
esperança de Israel para o futuro (52.6: Portanto o meu povo saberá o meu
nome; pois, naquele dia, saberá que sou eu mesmo o que falo: Eis-me aqui).
23

Cada um desses conceitos ajuda a construir um argumento de que só


Yahweh é Deus. Também estimulam os que, no século oitavo, eram o público
ouvinte de Isaías a buscar o consolo e a salvação do Senhor com base nos feitos
divinos na época de Moisés. O Novo Testamento emprega as afirmações de
Êxodo e Isaías sobre Yahweh como o “Eu Sou” para realçar a unidade de Jesus
com o Pai e a natureza pré-existente de Jesus. Quando indagado em Marcos
14.61 se ele é o Messias prometido, Jesus responde “Eu sou”, um equivalente
verbal direto de Êxodo 3.14. Jesus passa então a afirmar que reinará com Deus
(Mc 14.62: E Jesus disse-lhe: Eu o sou, e vereis o Filho do homem assentado à
direita do poder [de Deus], e vindo sobre as nuvens do céu).
Finalmente, é correto dizer que as declarações de Jesus baseiam-se em
Êxodo e Isaías e que os ouvintes e leitores de tais afirmações dificilmente
deixariam de perceber essa associação verbal e teológica.

2.3 O LIVRO DE LEVÍTICO

2.3.1 Introdução
Levítico, terceiro livro do Pentateuco, representa um grande desafio para
interpretação. O livro apresenta um mundo literário difícil que tem desafiado
biblistas de todos os tempos. Assim, possivelmente mais do que qualquer outro
livro do Antigo Testamento. Levítico precisa ser analisado na medida em que
encaixa-se no Pentateuco e relaciona-se com o restante das Escrituras. Um
procedimento canônico (leitura que considera o todo), ajuda a apreciar melhor
tanto a uniformidade quanto a singularidade de Levítico em sua relação com o
Antigo Testamento.
Através de uma simples reflexão sobre Levítico é possível constatar que
esse é um dos livros de maior inclinação teológica nas Escrituras. Afinal, ele trata
de forma detalhada como o Deus santo define o pecado, perdoa o pecado e
ajuda as pessoas a evitar o pecado. Analisa como a vontade de Deus se revela
e como pode-se assegurar a presença de Deus. Levítico também descreve como
o povo de Deus pode ser declarado santo ou como pode ser o que Deus
imaginou para eles desde o começo. Nesse sentido, é correto dizer que a
teologia é por excelência o assunto de Levítico. Ela permeia cada capítulo e cada
24

versículo.

2.3.2 A estrutura narrativa do livro de Levítico

Cada seção de Levítico realça aspectos específicos do caráter de Deus e


suas interações com os seres humanos. Levítico pode ser dividido em cinco
blocos distintos, cada um conectado ao outro mediante uma estrutura narrativa,
observe:
 Levítico 1-7 analisa o processo pelo qual adoradores
oferecem sacrifícios por seu pecado. Esta seção enfatiza o perdão divino
para quem, pela fé, traz os sacrifícios exigidos por Deus.
 Levítico 8-10 detalha a ordenação e as atividades iniciais
dos primeiros sacerdotes. Aqui Deus consagra, separa, os que servem no
santuário, um local separado (“santo”).
 Levítico 11-15 destaca como o povo de Deus pode ficar
“puro” ou pronto para aparecer perante o Senhor. Yahweh explica estilos
de vida e hábitos apropriados para o povo escolhido.
 Levítico 16 provê um sacrifício que remove os pecados de
todos os fiéis uma vez por ano. Esse ritual apresenta o Senhor como o
Deus que revela uma misericórdia total e cheia de alegria.
 Levítico 17-27 apresenta vastos regulamentos para os que
desejam cumprir o propósito de Israel de ser uma nação santa (Êx 19.56).
Nesse material Yahweh repetidas vezes atua como um Deus santo que
espera e ordena a santidade de Israel.

2.3.3 A santidade de Deus em Levítico

A santidade de Deus permeia o livro. Começando pelo santuário sagrado


e seus utensílios santos, passando pela santidade do comportamento obediente,
e indo até a própria essência do Senhor, a realidade da santidade, como um
princípio ideal e também como uma realidade concreta, jamais se afasta do livro.
Associada a esse conceito há outra ideia basilar: a presença de Deus entre o
povo. Observe que só quando Israel alcançar a santidade é que o povo pode
esperar alcançar e desfrutar a presença do Senhor. As cerimônias indicadas em
Levítico têm o propósito de fomentar a comunhão entre Deus e Israel e essa
25

comunhão depende do compromisso de Israel com a santidade.


26

Capítulo 3 - NÚMEROS E DEUTERONÔMIO

Números, o quarto livro do Pentateuco, apresenta Deus como o dirigente


e inspirador de Israel. Deuteronômio é outro importante livro do Pentateuco, seu
contexto histórico associa as experiências no Sinai e no deserto à conquista de
Canaã e apresenta uma transição da liderança de Moisés para a de Josué.
Deuteronômio conclui o Pentateuco ao interpretar na prática Êxodo, Levítico e
Números.

3.1 LIVRO DE NÚMEROS

3.1.1 Introdução
Números, o quarto livro do Pentateuco, apresenta Deus como o dirigente
e inspirador de Israel. Yahweh é o Deus que proporciona uma nuvem que mostra
à nação quando e para onde viajar (9.15-23). A disposição de Israel em seguir a
nuvem na parte inicial do livro demonstra que Israel era obediente e seguia a
orientação do Senhor. Números apresenta também Yahweh como o Deus que
chama e corrige. O Senhor chama Israel a avançar na direção de Canaã, chama
também anciãos para ajudar Moisés a liderar o povo (11.16-17). Ao mesmo
tempo Deus corrige a murmuração entre o povo (11.1-3) e também a suposição
de Miriã e Arão de que, por serem anciãos de Israel tanto quanto Moisés, ambos
têm razão ao criticar Moisés (12.1-16).
Quando Israel recusa-se a crer que Deus é capaz de dar-lhes a terra, o
Senhor castiga a geração do êxodo, confinando-a no deserto (Nm 13 e 14).
Imediatamente, no entanto, Deus renova as promessas mediante revelação de
leis que deverão ser observadas na Terra Prometida (Nm 15).
Deus prepara Israel para receber promessas divinas. Falsos profetas e
falsas religiões são contrastados com a fidelidade monoteísta e a revelação
divina. Josué sucede a Moisés (27.12-23). Antes mesmo de Israel cruzar suas
fronteiras, Moisés divide Canaã em áreas (Nm 34 e 35), o que uma vez mais
27

realça os benefícios da promessa.


O livro ressalta o caráter de Deus como santo, presente, gracioso e
constante. Números gira em torno da terra como um bem dado por Deus, uma
posse santa e permanente de Israel.

3.1.2 Deus que dirige e inspira Israel

O Capítulo 1 de Números assinala que um ano se passou desde que os


israelitas saíram do Egito. Agora chegou a hora de avançar com o plano de
conquistar Canaã. Consequentemente, o Senhor dirige os preparativos de Israel
para marchar e inspira o povo a obedecer aos mandamentos feitos
anteriormente. Na verdade, o Senhor dá ordem para marchar (Nm 1-4) e diz
como Israel pode permanecer puro enquanto marcha (5.1; 10.11). Yahweh
inspira Israel a guardar a Páscoa (9.1-14) e a iniciar o processo de possuir a
Terra Prometida (9.15; 10.11).

3.1.3 Mensagem

O livro de Números ensina que fé e obediência são a chave para o povo


israelita agradar a Deus, e não é impossível à nação eleita alcançar qualquer
das duas. As narrativas do livro acentuam a eterna fidelidade de Yahweh. Israel
desfruta os benefícios de um Deus que provê, promete e salva.
A primeira geração de Israel é lembrada mais por oportunidades
desperdiçadas, revolta e incredulidade do que por qualquer outra coisa. Deus
prepara uma segunda geração, criada no deserto e faminta de vitória, que
acampa fora de Canaã à espera receber a Terra Prometida. Deus prepara
também um segundo sumo sacerdote e um substituto de Moisés. Deus prepara
tudo para cumprir as promessas feitas em Gênesis 12.1-9.
28

3.2 LIVRO DE DEUTERONÔMIO

3.2.1 Introdução
Deuteronômio é um importante livro do Pentateuco, seu contexto histórico
associa as experiências no Sinai e no deserto à conquista de Canaã e apresenta
uma transição da liderança de Moisés para a de Josué. Deuteronômio conclui o
Pentateuco ao interpretar, na prática, Êxodo, Levítico e Números; contudo
também oferece um arcabouço interpretativo para os Profetas Anteriores e
Posteriores (Josué – Malaquias). Suas ênfases teológicas estabelecem o modo
como Israel deve viver na terra que herdará do Deus que o escolheu.

3.2.2 Tema do livro

O livro começa com observações históricas e geográficas (1.1-5), Moisés


fala ao povo acerca da história deles (1.6; 4.49), da aliança deles com Deus (5 –
28) e da renovação daquela aliança com Yahweh (29 e 30). Após a lembrança
da aliança, seguem-se a transferência de poder de Moisés para Josué, a
elaboração de um livro da lei, a bênção de Israel por Moisés e a morte deste (31
– 34).

3.2.3 YAHWEH: o autor da história

No início do livro, Moisés torna a contar a história de Israel, ele o faz,


sabendo que Yahweh criou e vivificou a vida nacional de Israel. Ele prega que a
história de Israel foi, desde o princípio, determinada por Deus, o qual elege Israel,
estabelece aliança com Israel e dirige Israel. Em outras palavras, ele demonstra
a fidelidade e singularidade divinas ao destacar os atos que, na história, o Senhor
opera a favor de Israel.
Moisés fala ainda acerca dos mandamentos revelados por Deus. Em vez
de entregar quaisquer novas leis, explica que a lei já foi revelada. Em
Deuteronômio, ele apresenta um comentário sobre a vontade de Deus, uma
exposição que tem o propósito de tornar claro o que Yahweh já disse. A
29

mensagem é dirigida “a todo o Israel”, expressão reveladora da união do povo


todo sob a mesma aliança.
A fala de Moisés começa com um lembrete de que Deus chamou Israel a
deixar o Sinai a fim de possuir a Terra Prometida aos patriarcas, Deuteronômio
1.6-8:

O Senhor nosso Deus nos falou em Horebe, dizendo: Assaz vos


haveis demorado neste monte. Voltai-vos, e parti, e ide à
montanha dos amorreus, e a todos os seus vizinhos, à planície, e
à montanha, e ao vale, e ao sul, e à margem do mar; à terra dos
cananeus, e ao Líbano, até ao grande rio, o rio Eufrates. Eisque
tenho posto esta terra diante de vós; entrai e possuí a terra que o
Senhor jurou a vossos pais, Abraão, Isaque e Jacó, que daria a
eles e à sua descendência depois deles.

A menção aos patriarcas obriga Israel a relacionar a iminente conquista


de Canaã sob o comando de Josué à promessa divina e não a quaisquer
sentimentos de superioridade nacional. Também tece consideração sobre o fato
de que a terra pertence a Yahweh, seu criador (Lv 25.23) e, por isso, é para
Israel uma dádiva que está ligada ao seu relacionamento com o Senhor. O que
ficou claro é que Israel não tem por si próprio poder algum para tomar a terra.
Cada vitória que o povo tem desfrutado tem sido um presente de Deus.

3.2.4 A fidelidade do Senhor

Com a fidelidade do Senhor ilustrada pelos fatos da história, Moisés


passa, em Deuteronômio 4.1-43, a chamar o povo à fidelidade. Esse convite
começa com a primeira de várias intimações para ouvir encontradas no livro, o
que significa ouvir e então obedecer (4.1: Agora, pois, ó Israel, ouve [os]
estatutos e os juízos que eu vos ensino, para os cumprirdes; para que vivais, e
entreis, e possuais a terra que o Senhor Deus de vossos pais vos dá). Moisés
ordena à nova geração que siga as leis já entregues. A lei é uma revelação divina
que pode ser interpretada e explicada, mas não alterada (4.2: Não
acrescentareis à palavra que vos mando, nem diminuireis dela, para que
guardeis os mandamentos do Senhor vosso Deus, que eu vos mando). A recusa
dos israelitas em obedecer resultará na perda da oportunidade de possuir Canaã
30

(4.1-2). O futuro todo deles depende de fidelidade pessoal e nacional.

3.2.5 Permanecer com a fé monoteísta

Moisés atribui ao monoteísmo um lugar central no compromisso de Israel


com Yahweh. O povo não deve agir como fez em Baal-Peor (Nm 25.1-18), se é
que quer viver feliz, Deuteronômio 4.3-4:

Os vossos olhos têm visto o que o Senhor fez por causa de Baal-
Peor; pois a todo o homem que seguiu a Baal-Peor o Senhor teu
Deus consumiu do meio de ti. Porém vós, que vos achegastes ao
Senhor vosso Deus, hoje todos [estais] vivos.

Recordar, recitar e ensinar as verdades ensinadas no Sinai pelo Deus


único fará Israel prosperar e conquistar-lhe-á reputação de nação sábia (4.5-14).
No entanto, adverte Moisés, a história recente de Israel demonstrou os perigos
da idolatria, e sua história futura também será sombria caso os israelitas adorem
imagens ao chegar a Canaã, Deuteronômio 4.15-20:

Guardai, pois, com diligência as vossas almas, pois nenhuma


figura vistes no dia em que o Senhor, em Horebe, falou convosco
do meio do fogo; Para que não vos corrompais, e vos façais
alguma imagem esculpida na forma de qualquer figura,
semelhança de homem ou mulher; Figura de algum animal que
[haja] na terra; figura de alguma ave alada que voa pelos céus;
Figura de algum [animal] que se arrasta sobre a terra; figura de
algum peixe que [esteja] nas águas debaixo da terra; Que não
levantes os teus olhos aos céus e vejas o sol, e a lua, e as
estrelas, todo o exército dos céus; e sejas impelido a que te
inclines perante eles, e sirvas àqueles que o Senhor teu Deus
repartiu a todos os povos debaixo de todos os céus. Mas o
Senhor vos tomou, e vos tirou da fornalha de ferro do Egito, para
que lhe sejais por povo hereditário, como neste dia [se vê].

Israel será removido da terra caso se esqueça da aliança e dêem as


costas para a devoção apenas a Yahweh (4.23). Embora Deus seja
misericordioso e sempre honre a aliança com os patriarcas (4.29-31), ele está
desejoso de permitir Israel sofrer por venerar deuses que não são Deus (4.27-
28).
31

3.2.6 Moisés, líder escolhido por Deus


A carreira de Moisés demonstra o valor de uma liderança eficaz, chamada
por Deus. Assim que Moisés falecer, a nação deparar-se-á com a constante
dificuldade de determinar quais líderes têm a aprovação divina. Deuteronômio
constrói uma teologia de liderança para o futuro de Israel.
A teologia e a vida pública são indissociáveis na opinião de Moisés. Os
juízes devem ser justos e imunes a propinas, Deuteronômio 16.18-20:

Juízes e oficiais porás em todas as tuas cidades que o Senhor teu


Deus te der entre as tuas tribos, para que julguem o povo com
juízo de justiça. Não torcerás o juízo, não farás acepção de
pessoas, nem receberás peitas; porquanto a peita cega os olhos
dos sábios, e perverte as palavras dos justos. A justiça, somente a
justiça seguirás; para que vivas, e possuas em herança a terraque
te dará o Senhor teu Deus.

A vida do líder deve refletir o fato de que Yahweh é imune à injustiça, à


manipulação e à hipocrisia interesseira. Os juízes também devem estar
dispostos a impor a pena capital, especialmente se for uma ofensa de idolatria
(17.7), e devem buscar ajuda dos levitas na decisão de casos especialmente
difíceis (17.8-13). A condição de Israel como reino de sacerdotes (Êx 19.5-6)
depende dessa interação dirigida por Deus.
32

Capítulo 4 - LIVROS HISTÓRICOS

Agora estudaremos a divisão do Antigo Testamento conhecida como


Livros Históricos, essa parte do AT apresenta um relato histórico de um período
de aproximadamente 800 anos que se inicia com o livro de Josué, que narra a
conquista da Terra Prometida e vai até os dias do Império Persa, onde Ester
tornou-se rainha, aproximadamente em 525 a.C., e mostra Neemias retornando
para a reconstrução dos muros de Jerusalém.
Observe que o bloco dos livros históricos é composto por 12 livros:

 Josué

 Juízes

 Rute

 I e II Samuel

 I e II Reis

 I e II Crônicas

 Esdras

 Neemias

 Ester

É importante saber que esses textos diferem-se da Tanach devido às


diferenças quanto à divisão e organização dos livros, por exemplo, os livros de
Josué, Juízes, Samuel e Reis, estão no bloco dos Profetas Anteriores, já os livros
de Rute, Crônicas, Esdras, Neemias e Ester constituem o bloco denominado “as
Escrituras”.

4.1 TEMAS DOS LIVROS HISTÓRICOS

 Josué trata da tomada da Terra Prometida e a partilha entre as


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tribos.
 Juízes retrata um momento crítico da nação onde reinava a
desordem antes da monarquia ser estabelecida.
 Rute que surge como um oásis em meio ao caos, e tem por objetivo
introduzir os antepassados do futuro rei Davi.

 I e II Samuel fazem a ponte entre os juízes e a monarquia, além de


introduzir o modelo ideal de monarquia através do reinado de Davi
e de seu filho Salomão.

 I e II Reis demonstram a força do Israel como uma nação unida e


sua decadência após a divisão do reino que irá culminar na
destruição do Reino Norte em 722 a.C. e o cativeiro babilônico para
o Reino do Sul por volta de 586 a.C.
 I e II Crônicas apresentam a lealdade de Deus em sua promessa
feita a Davi e a sua descendência, demonstrando uma visão
otimista sobre a dinastia desse rei.
 Esdras e Neemias apresentam o período do retorno e da
reconstrução de Judá, mostra os desafios de lideranças enviadas
por Deus para mobilizar o povo para a importante tarefa da
reconstrução da nação após os 70 anos de cativeiro.
 Ester mostra a vida dos judeus que permaneceram em terras
estrangeiras sob dominação persa após a autorização do retorno
para a pátria, e o controle divino na preservação de seu povo.

É fundamental estudar os Livros Históricos para entender a progressão


histórica da nação de Israel, vale também dizer que esse bloco do AT tem
implicações teológicas significativas tanto para o judaísmo, como para o
cristianismo. A ideia de Deus agindo através da história, usando reis,
autoridades, eventos e nações para que sua obra fosse realizada aparece nos
livros históricos e reforça a ideia de soberania divina e do monoteísmo.
Diferentemente dos povos politeístas que se apegavam primeiramente
aos mitos para anunciar seus feitos e relacionamento com os deuses, Israel o
fez por meio do relato de sua história. Os escritos dos livros históricos
diferenciam-se da história geral porque estão na categoria do que alguns
teólogos modernos chamam de Heilsgeschichte, palavra alemã que significa
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história da salvação.13 A história nesse caso é de fundamental importância, já


que os autores bíblicos apelam para esses acontecimentos para validarem a
teologia que é apresentada nos textos históricos. Se a história narrada não for
verdadeira, estaríamos com um livro que expressa apenas a religiosidade do
povo hebreu.

4.1.1 A história deuteronomista


Observe que do livro de Josué até Reis existe uma ênfase nas teologias
apresentadas no livro do Deuteronômio. A partir desta constatação foi criada A
Teoria da História Deuteronomista (OHDtr: Obra Histórica Deuteronomista), essa
teoria tem sido bastante defendida nos meios acadêmicos. Sobre o período de
composição, alguns defendem que esses textos (Dt – 2Reis) foram compilados
inicialmente nos dias do rei Ezequias, perto do fim do século VIII a.C., como
resultado das reformas do rei Josias ocorridas cerca de um século antes. Assim,
a edição teria sido compilada e alguns trechos foram acrescentados no exílio, e
em cerca de 550 a.C. a obra foi concluída.
É importante salientar que a Teologia da Retribuição é um dos pilares da
história deuteronômica. Isso torna-se claro na leitura dos textos onde a seguinte
equação é apresentada: OBEDIÊNCIA=BENÇÃO; DESOBEDIÊNCIA=
MALDIÇÃO, com base em Deuteronômio capítulo 28. Essa mensagem aparece
em todo o Antigo Testamento, mas é a partir de Deuteronômio até IIReis que ela
aparece com mais ênfase.

4.1.2 O registro histórico de Israel


Sabemos que desde a antiguidade o registro histórico serviu de
propaganda a fim de promover aqueles que detinham o poder. Normalmente se
exaltavam os grandes feitos e se ignoravam os erros e fracassos. Quando se
olha para os livros históricos percebe-se de imediato que não há a intenção de
encobrir erros, ou mascarar um fracasso, pelo contrário, os erros são
apresentados para que servissem de exemplo para as próximas gerações.
Fossem os erros de um juiz como Sansão, de um rei como Salomão ou Davi, nada
é ocultado,é registrado em alguns casos até com detalhes.
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4.2 LIVRO DE JOSUÉ

4.2.1 Introdução
Josué abre o bloco dos Livros Históricos, e da mesma forma é o primeiro
livro que abre a galeria dos Profetas Anteriores nas Escrituras hebraicas. O livro
descreve a conquista de Canaã pelo povo hebreu através da liderança de Josué
e a distribuição das terras pelas tribos. O livro leva o nome do líder Josué, que
significa Yahweh é salvação, foi o sucessor de Moisés, destacando-se como uma
das maiores lideranças de Israel.

4.2.2 Autoria e data


De acordo com a tradição judaica, Josué foi o autor desse livro. Contudo,
estudos mais recentes têm questionado essa tradição, embora no texto no
capítulo 24.26, afirme que Josué escreveu essas palavras, o texto parece afirmar
que se trata daquele trecho em questão. Não há dúvida que Josué escreveu
grande parte do livro que leva seu nome, mas não há como afirmar que foi o
único escritor. A frase “até o dia de hoje” aparece várias vezes (4.9; 5.9; 6.25;
7.26; 8.28-29; 9.27; 10.27; 13.13; 15.63; 16.10) dá a ideia de que o texto narra
eventos relacionados ao passado.
Não existe consenso quanto a data do livro, devido a teoria da hipótese
documentária várias datas foram sugeridas, chegando até a ano 400 a.C.
Entretanto a posição conservadora tem se dividido entre duas datas, a data mais
recente, por volta de 1250 a.C. e a data mais antiga, algo em torno de 1400 a.C.

4.2.3 Mensagem

Historicamente, o propósito do livro é mostrar a tomada da Terra


Prometida por Deus através da liderança de Josué. A mensagem teológica
consiste em mostrar que a obediência a Deus conduz a vitória. Para mostrar
isso, o livro registra a obediência do povo diante das ordens divinas para a
conquista da terra. A fidelidade do Deus da aliança é demostrada diante da
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vitória de seu povo contra os cananeus.

4.3 LIVRO DOS JUÍZES

4.3.1 Introdução
A transição da liderança de Moisés para Josué foi aprovada por Deus. A
aceitação de Josué foi em grande parte fruto da autoridade divina que lhe
garantiu legitimidade em sua liderança, entretanto, Josué parece não ter
preparado um sucessor a altura. O período de aproximadamente três séculosfoi
um dos mais caóticos na história de Israel, uma verdadeira anarquia. Embora
Otniel, o primeiro juiz pareça ter exercido bem sua função, seus sucessores
tiveram grandes dificuldades principalmente por questões pessoais. Esse
momento na história de Israel, vem ressaltar a importância de uma liderança
forte governando segundo os padrões divinos.

4.3.2 Autoria e data


Embora a tradição judaica (Talmude) afirme que Josué seja o escritor de
Juízes, é mais razoável afirmar que o autor desse livro é anônimo. A alta crítica
considera-o como fruto de uma compilação bem elaborada e alguns afirmam ser
uma obra exílica. Por quatro vezes a frase: Naquele tempo não havia Deus em
Israel (17.6; 18.1; 19.1; 21.25) leva a maioria dos estudiosos a datar o livro a
partir da monarquia. Os teólogos conservadores datam o livro no início da
monarquia nos dias de Saul ou Davi.

4.3.3 Mensagem
O livro aponta para a monarquia, mostrando assim, o retrato de uma
nação caótica, caracterizada pela apostasia e pela falta de governo. Assim,
evidencia a necessidade de um rei que reinasse segundo os padrões divinos,
instaurando assim uma monarquia teocrática. O versículo final do livro
demonstra esse propósito: “Naqueles dias não havia rei em Israel; cada um fazia
o que parecia bem aos seus olhos” (Jz 21.25). O livro mostra de forma clara que
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Deus permaneceu fiel à aliança, demonstrando sua graça e misericórdia,


contudo os israelitas constantemente transgrediam contra o Senhor. Através da
situação recorrente de apostasia, opressão, clamor e restauração através de um
juiz que libertava o povo, o autor reforça o quadro decadente da época. O caráter
duvidoso de alguns dos juízes e a apostasia do povo é demonstrado de forma
clara no livro. Samuel, o último juiz é o responsável por fazer a transição da
judicatura para a monarquia.

4. 4 LIVRO DE RUTE

4.4.1 Introdução
Apesar da história de Rute se passar nos dias turbulentos dos juízes, o
livro destoa totalmente do ambiente de opressão, morte e transgressão contra o
Senhor. De forma que se percebe a providência divina em relação a uma jovem
estrangeira que resolve servir a Deus. Esse livro mostra que Deus acolhe
estrangeiros na aliança, pode fazer isso porque é soberano sobre todos os
povos.

4.4.2 Autoria e data


A tradição judaica atribui o livro a Samuel, no entanto, talvez seja melhor
reconhecer o anonimato do autor, já que apesar da tradição, o texto indica que
Davi já era bem conhecido quando o livro foi escrito. Alguns afirmam que o livro
foi escrito depois que Davi e sua dinastia haviam se estabelecido na história de
Israel, outros ao analisar os costumes e a cultura registrada no livro afirmam que
foi escrito em algum momento da monarquia, ainda há os que afirmam que foi
no pós-exílio, por isso preferimos afirmar o anonimato do autor.

4.4.3 Mensagem
O propósito secundário, mas não menos importante do livro de Rute é
mostrar a providência e a benevolência divina na vida da jovem viúva Rute, que
escolheu servir ao Deus de sua sogra Noemi e providencialmente recebe o auxílio
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divino. Mas, a mensagem principal desse livro consiste em apresentar os


ancestrais do rei Davi, um homem segundo o coração de Deus. De forma
graciosa o autor descreve como Deus reverteu uma situação improvável até
incluindo uma moabita para que o cenário estivesse montado para introduzir
aquele que de sua descendência viria o Messias (Mt 1.5).

4.5 LIVROS DE I e II SAMUEL

4.5.1 Introdução
Tanto I Samuel como II Samuel na Bíblia Hebraica, formam um só livro.
Foram divididos da forma que conhecemos na tradução da Septuaginta. Todo o
livro centraliza-se em três personagens principais, Samuel, Saul e Davi. Samuel
é o personagem responsável por fazer a transição entre a judicatura para a
monarquia ungindo os dois primeiros reis da nação, Saul e Davi.

4.5.2 Autoria e data


Samuel é citado pela tradição judaica como sendo o autor exclusivo dessa
obra, o que é pouco provável, já que Samuel morre no final do primeiro
livro. Nenhuma certeza pode ser dada sobre a data de escrita do livro, a melhor
informação que temos vem do próprio livro que diz: “Ziclague pertence aos reis
de Judá, até os dias de hoje” (I Sm 27.6), o que indica que o autor escreveu após
a divisão do reino.

4.5.3 Mensagem
O propósito do livro de Samuel era o de contar a história da introdução da
monarquia na nação apresentando Davi, o rei segundo o coração de Deus. Isso
se dá através de Samuel, que desempenhou um tríplice papel em seus dias, foi
juiz, sacerdote e profeta. Essas funções traziam legitimidade ao ministério desse
importante líder, por isso sua história é relatada desde a concepção. É correto
afirmar que o propósito principal desse livro é teológico, pois a aliança davídica
aparece em II Samuel 7. O autor quer mostrar apesar de Saul falhar como rei,
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Deus não rejeitava a monarquia, já que estava em seus planos (Dt 17), o que
Deus condenou foi a precipitação do povo ao pedir um rei. A maneira como Davi
é apresentado mostra o cuidado do autor em introduzi-lo na história e mostrar
que ele não foi um usurpador, apesar de suas falhas que são mostradas, ele é
um rei legitimamente escolhido por Deus.

4.6 LIVROS DE I e II REIS

4.6.1 Introdução
Assim como os livros de Samuel, I e II Reis conforme temos em nossas
Bíblias são na verdade uma só obra que foi dividia na Septuaginta. É
interessante observar que os estudiosos que dividiram o livro, o fizeram-no a
partir da morte de Acabe (II Rs 1.1), da mesma forma que 2Samuel iniciava com
a morte de Saul (II Sm 1.1).
O livro começa com Davi velho e moribundo, com Salomão destacando-
se como seu sucessor ao trono, simbolizando o Reino Unido economicamente
consolidado e próspero e termina com o caos da nação destruída pela Babilônia
sob o reinado do fraco rei Zedequias.

4.6.2 Autoria e data


A tradição judaica atribui a Jeremias a autoria do livro dos Reis. Essa
teoria é interessante porque há algumas semelhanças entre os escritos do
profeta Jeremias e Reis (2Reis 24.18 – 25.30 com Jr 52). Apesar disso seria
presunção atribuir a Jeremias a autoria de Reis apenas pela tradição judaica,
pois existem alguns problemas sérios nessa afirmação, já que sabemos que
Jeremias foi para o Egito (Jr 43.1-8) e os relatos do autor de Reis sobre a prisão
de Joaquim parecem indicar que ele estava na Babilônia quando escreveu. O
autor fez uso de várias fontes para a escrita de seu livro e algumas delas são
citadas, o livro de crônicas de Salomão, o livro de crônicas dos reis de Israel e o
livro de crônicas dos reis de Judá. Além das fontes citadas, percebe-se no livro
a influência da chamada História Deuteronômista. Dessa forma é possível
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conjecturar que a escrita do texto se deu na época do exílio, por volta do ano 590
a.C.

4.6.3 Mensagem
Se o livro foi escrito no exílio conforme acreditamos, tinha o propósito de
mostrar aos cativos a justiça de Deus em relação ao seu povo através da aliança.
Os que estavam no cativeiro tinham que entender que suas atitudes de
desobediência é que tinham ocasionado tal situação. A aliança com Davi é
ressaltada no livro e isso se evidencia quando se percebe que os reis do Reino
Norte são ímpios e suas dinastias são aniquiladas, já os reis do Reino Sul,
embora com algumas inconstâncias e falhas, são mantidos devido a promessa
feita a Davi de que seu reino seria eterno (II Sm 7.12-16). O livro nos mostra que
um rei era avaliado por Deus de acordo com seu relacionamento e obediência a
aliança. O livro mostra que nesse momento Deus usou profetas para alertar as
lideranças políticas, religiosas e o povo em geral quando estavam corrompidos.
Elias e Eliseu destacam-se nesse período. O autor também tinha o propósito de
mostrar as consequências da divisão e da apostasia através da ruptura do reino.
Como consequência da desobediência contra Deus o Reino Norte é destruído
pelos assírios em 722 a.C. e o Reino Sul, pelos babilônicos em 586 a.C.

4.7 LIVROS DE I e II CRÔNICAS

4.7.1 Introdução
Na Bíblia Hebraica I e II Crônicas formam uma só obra, sendo que a forma
atual se deu na tradução para o grego, da mesma forma que os livros de Samuel
e Reis. O título significa “Palavras dos dias”. Assim como Reis, esse livro trata
do período monárquico, iniciando com a morte de Saul (I Cr 10) e finaliza com o
exílio babilônico (II Cr 36.17).

4.7.2 Autoria e data


O autor de Crônicas é anônimo, embora a tradição judaica tenha atribuído
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o livro a Esdras, o escriba. Se esta teoria estiver correta o livro poderia ser datado
em torno do ano 400 a.C. Crônicas e Esdras possuem várias similaridades, os
dois capítulos finais de 2Crônicas são repetidos nos dois capítulos iniciais de
Esdras.
O autor cita várias de suas fontes para a escrita de seu livro:

a) As crônicas de Samuel, o vidente (I Cr 29:29)

b) As crônicas de Natã, o profeta (I Cr 29:29)

c) As crônicas de Gade, o vidente (I Cr 29:29)

d) A Profecia de Aías, o silonita (II Cr 9:29)

e) As Visões de Ido, o vidente (II Cr 9:29)

f) O Livro da História de Semaías, o profeta (II Cr 12:15)

g) O livro de Ido, o vidente (II Cr 12:15)

h) O Livro da História do profeta Ido (II Cr 13:22)

i) A História dos Reis de Israel (II Cr 20:34; 27:7; 32:32)

j) O Livro da História dos Reis (II Cr 24:27)

k) A Visão do Profeta Isaías (II Cr 26:22; 32:32)

l) A História dos Videntes (II Cr 33:19)

4.7.3 Mensagem
O propósito do cronista foi escrever aos judeus que retornavam após 70
anos de exílio e mostrar-lhes a época áurea da monarquia davídica,
demonstrando a fidelidade de Deus e a necessidade de obediência por parte das
lideranças e do povo em geral. Para isso o autor prioriza quase que
exclusivamente a história de Davi e sua descendência, enfatizando sua relação
com o culto e os preparativos para a construção do templo. O autor quando cita
Salomão, enfatiza apenas seus aspectos positivos em relação ao Templo e sua
dedicação, deixando de fora os erros cometidos por ele no final de sua vida.
Quando menciona o evento da divisão do reino, diferentemente do livro dos Reis
que trata a respeito de Israel e Judá, em Crônicas apenas Judá é mencionado.
42

Para reforçar seu propósito, os reis descendentes de Davi que demonstraram


sua fidelidade a Deus como, Josafá, Ezequias e Josias são mostrados como
exemplos de prosperidade. Até Manassés, filho de Ezequias, apresentado em
Reis como um rei ímpio, e mostrado se convertendo no final de sua vida (2Cr
33.12).

4.8 LIVROS DE ESDRAS E NEEMIAS

4.8.1 Introdução
Considerados pela tradição judaica como uma só obra, os livros de Esdras
e Neemias narram um momento crucial para a nação. Foi período de
“reconstrução”, política, social, espiritual/religiosa muito importante para a nação,
pois precisavam de motivação para retornar para seu território após 70 anos de
cativeiro, e isso implicaria muito trabalho. Deus havia levantado homens como
Zorobabel para reconstruir o Templo, Esdras, organizar o culto e Neemias para
a reconstrução dos muros a fim de que a nação se restabelecesse.

4.8.2 Autoria e data


Quando se trata da autoria da obra Esdras-Neemias podemos afirmar que
a priori é anônima. De acordo com a tradição, Esdras foi o autor desse livro.
Alguns sugerem que devido ao uso da primeira pessoa no texto, Esdras, ou um
autor anônimo de sua época registrou suas palavras e atos, e que Neemias
escreveu a parte que leva seu nome, o que se torna uma possibilidade,
entretanto nada impede que Esdras, ou o autor anônimo inserisse no texto as
memórias de Neemias, como inseriu parte de documentos legais em aramaico.
Essa obra é considerada por muitos como sendo uma continuação do livro das
Crônica e o autor seria o mesmo. Se isso estiver correto pode-se afirmar que a
obra foi escrita por volta do ano 400 a.C.

4.8.3 Mensagem
43

Ao tratar de duas etapas distintas da história pós-exílica, o fim do exílio


em 538 a.C. até 515 a.C. e a reconstrução do Templo até a época de Esdras e
Neemias em aproximadamente 458 até 420 a.C. O autor tem o propósito de
apresentar um relato dahistória do período do retorno e reconstrução da nação.
Através de todo esse processo de restauração da nação os israelitas deveriam
perceber que as promessas de Deus ainda estavam sobre eles e que a aliança
não havia sido revogada, bastava que obedecessem às recomendações divinas
e permanecessem fiéis aos mandamentos do Senhor. O autor mostra a soberania
de Deus na história quando mostra que mesmo em meio aos desafios e
oposições a vontade divina prevalece.

4.9 LIVRO DE ESTER

4.9.1 Introdução
Este belo livro retrata a vida dos judeus que após o edito de Ciro
continuaram vivendo em terras estrangeiras, agora sob o domínio Persa. O livro
conta a história de Ester (Hadassa) que acaba se tornando rainha da Pérsia que
com a ajuda de Mardoqueu de forma providencial acaba livrando os judeus do
extermínio. Apesar do nome de Deus não ser mencionado nenhuma vez no livro
e não haver qualquer menção à lei, vemos sua ação providencial em favor de
seu povo.

4.9.2 Autoria e data


Este é mais um livro em que o autor permanece no anonimato. A tradição
judaica afirma que foram os “homens da Grande Sinagoga que escreveram o
livro de Ester”, Flávio Josefo em sua obra antiguidades, afirma que foi
Mardoqueu, mas não existem maiores evidências para se defender tais
informações. O que podemos inferir sobre o autor é que possivelmente viveu na
Pérsia, pois parece conhecer muito bem os costumes dos persas. Os
especialistas em hebraico afirmam que o estilo do hebraico empregado na
escrita pode ser datado como anterior ao 2º século antes de Cristo. Quanto à
44

data de escrita a maioria situa a escrita do livro após a morte de Assuero, por
volta do ano 450 a.C. Contudo, tanto a autoria como a data estão baseadas em
suposições.

4.9.3 Mensagem
O livro de Ester tem o propósito primário de mostrar a ação de Deus em
favor do seu povo, ainda que o nome divino não seja mencionado, e ele não fale
diretamente com os personagens, vemos Deus agindo como soberano da
história. O agir de Deus na história é evidente quando Ester é coroada rainha da
Pérsia, na forma como Mardoqueu é honrado, e da forma como o livramento da
trama maligna de Hamã em exterminar os judeus é frustrado. Da mesma forma
existe um claro propósito do autor em mostrar o surgimento da Festa do Purim
(Et 9.26).
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CONCLUSÃO

Neste guia, examinamos o Pentateuco e os Livros Históricos, e vimos as


principais características de cada livro que compõem as duas primeiras partes
do Antigo Testamento. Estudamos, também, os aspectos históricos, linguísticos
e geográficos de Israel. Pudemos conhecer o processo de formação do povo de
Deus, e os novos métodos de análise do texto bíblico. O leitor teve, ainda,
oportunidade de entender os fundamentos históricos, canônicos e teológicos de
cada livro que compõe o Pentateuco e os Livros Históricos.
Esperamos que tenha ficado claro para o estudante que os livros
estudados são insubstituíveis, e seus ensinos fundamentam o monoteísmo e
apontam para Jesus Cristo, anunciando o plano de Deus de salvar a humanidade.
Desejamos que o conteúdo estudado o auxilie na busca por conhecimentos mais
profundos da Palavra de Deus.
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