Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
INTRODUÇÃO
1
Em hebraico, Torá escreve-se תורה. Usaremos sempre a forma Torá, exceto nas citações
literais dos autores às quais serão mantidas na forma usada por eles.
3
CAPÍTULO I
HISTÓRIA DE ISRAEL, HISTÓRIA DE JERUSALÉM
2
O povo Judeu ‘enquanto o primeiro portador da promessa’ de Deus permanece no centro da
história do mundo. Poder-se-ia pensar que um povo tão pequeno não pudesse ter tanta
importância. Mas cremos que em todas as épocas e hoje, especialmente, há algo de particular
neste povo, pois as grandes decisões da história do mundo estão quase sempre, de uma
maneira ou de outra, em relação com ele”. Cardeal J. Ratzinger, O sal da terra, 1997, p.242-
243.
3
A palavra TaNaK ()תנך, do hebraico, significa T= Torá ou Mikra kodesh (os 5 livros de Moisés
ou Pentateuco); N= Neviim (Profetas), K= Ketuvin (os Escritos). Consiste na Revelação divina
feita a Israel pela mediação de Moisés. Lembramos que a Torah não é vista pelo judeu e nem
pelo Judaísmo de modo restrito ao Pentateuco. Aqui, ao mencionarmos a Torá, estamos
considerando a TaNaK na sua totalidade e inclui também a Torá Oral.
4
4
UNESCO. Vida e Valores do Povo Judeu. São Paulo: Perspectiva. 1972, p. 4
5
Êx. 13,5.
6
Deut. 26,9
7
Ez 48,35: “E o nome da cidade será: Adonai Sham – Deus nela habita”.
5
solidificada por seu filho Salomão com o estabelecimento de seu reinado e com
a construção do Templo.
8
Flávio Josefo. A Guerra Judaica. Livro Segundo, IX, 1.
9
Para uma completa visão deste período, ver: M. Avi-Yonah, “Historical Geography of
Palestine”, in: The Literature of the Sages. First Part, Compedia Rerum Iudaicarum ad Novum
Testamentum, Ed. by Samuel Safrai, USA: Fortress Press. 1987, p. 78-116.
7
era reservada para constituir aí uma nação para a população local e esta parte
representa o espaço atualmente em discussão para a formação do estado
palestino.
10
Existiam três correntes principais entre os judeus: os Saduceus, os Fariseus e os Essênios.
Os Saduceus eram conservadores ligados à Lei escrita; muitos eram recrutados entre os
sacerdotes que serviam no Templo: “Suas doutrinas foram seguidas somente por um pequeno
grupo, mas se apresentavam como os primeiros em dignidade”, escreve Flávio Josefo (AJ 18,
7; BJ 2, 166), o que quer dizer que eles constituíam uma casta aristocrática, embora pouco
ouvida. Os Essênios, admirados por suas virtudes, viviam à margem da sociedade e
transmitiam seus ensinamentos aos novos adeptos somente após três anos de noviciado (BJ 2,
137-138). Resta a corrente farisaica, de maior presença entre a população, a que tinha “a
reputação de fornecer os intérpretes mais rigorosos das leis” (BJ 2, 162) e entre os quais se
encontravam “os maiores sábios Judeus e os que melhor interpretavam as leis ancestrais, de
muita aceitação popular, pois elas instruíam a juventude” (AJ 17, 149).) In Hadas-Lebel, M.,
HILLEL - Un Sage au temps de Jésus, Albin Michel, 1999.
11
DONNER, Herbert. História de Israel e dos povos vizinhos, p.521-552.
8
Após o Edito de Ciro, Rei da Pérsia, ano 538, o povo judeu recebeu a
permissão de retornar à sua Terra e de reconstruir Jerusalém. Esdras e Neemias são
encarregados de conduzir o estabelecimento do povo em Terra de Israel e de
acompanhar a reconstrução de Jerusalém com o seu Templo. Ambos os sacerdotes
desempenharam papel importante; Esdras, por sua vez, cuidou da renovação
espiritual do povo, o que o levou a ser reconhecido pela comunidade judaica como
“sacerdote e escriba versado na Torah de Moisés, dada pelo Senhor, o Deus de
Israel” (Esd 7,6.12).
12
Etienne Nodet et Justin Talor, Essai sur les orgines du christianisme, Cerf, 1998, pp 164-194.
13
STRACK, L. Hermann. Introduction to the Talmud and Midrash. Athenaeum, New York, 1974,
p.201.
9
14
DONNER, Op. cit., p.488
15
STRACK, Idem.
16
Para uma visão complete, ver: Strack, Hermann L. Introduction to the Talmud and Midrash.
Fortress Press, 1996.
17
SCARDELAI, 2008 p. 126-130.
18
Idem, 2008 p. 129
10
19
Idem, Ibidem, 2008 p.130
20
É interessante perceber como a literatura rabínica é ampla em sua compreensão. Os
midrashim Halakha e Aggadá são incorporados dentro da Torah oral. Einserberg nos alerta
para um detalhe importante. Segundo este, mencionar a Tanach, os Sábios de Israel, o Talmud
como Literaturas Judaicas é tratar de modo geral da Revelação divina enquanto Palavra de
Deus que também se expressa em palavras humanas.
21
EINSERBERG, Ronald L. JPS GUIDE. Jewish Traditions. Philadelphia: The Jewish
Publication Society, 2008. p. 498-499
11
CAPÍTULO II
CARACTERÍSTICAS DA TORÁ ORAL
22
Plural de Torá ()תורות
23
Êxodo Rabá 47.
24
PASSETO, Elio. Perscrutar a Torah: Literatura bíblica aos mestres de Israel.1994. p.5
13
Ben Bag Bag dizia: vira e revira [a Torah], pois tudo nela se
encontra; contempla-a, envelhece e consome-te nela, mas nunca te
25
afastes dela, pois não tens porção melhor .
Este sábio ensinamento da ética dos pais nos ensina que manter-se
conectado à Torá pela busca ávida e contínua da Palavra permite ao indivíduo
ter em suas mãos pistas de respostas existenciais que o ser humano tanto
busca enquanto ser que se questiona sobre si, sobre Deus, sobre a pessoa
humana. A oralidade da tradição está baseada na Palavra que é recebida de
Deus para alimentar toda experiência de vida do povo26. Por isso, o deleite
sobre a Torá por meio do estudo e da investigação é como estar ligado a uma
fonte inesgotável de sentidos. E afastar-se dela é como habitar o deserto seco
e árido do vazio existencial e da ausência de sentido. A Torá oral, tal como os
mestres fariseus a entenderam, possui um papel central na compreensão
desse sentido por meio do aprofundamento do dinamismo intrínseco ao
Midrash27.
25
Mishná Avot 5,22.
26
LENHARDT, Pierre. COLLIN, M. A Torah Oral dos Fariseus - Textos da Tradição de Israel.
Documentos do Mundo da Bíblia, vol 10. 2ª. ed. São Paulo: Paulus, 1997, p.9.
27
Este tema será definido e aprofundado no próximo capítulo.
28
PASSETO, 1994, p.5. A fé cristã também é herdeira deste manancial da sabedoria oral.
29
PONTIFÍCIA COMISSÃO BÍBLICA, pg. 32
14
30
Morashá, p.1
31
LENHARDT, 1997. p.10
15
32
Mishná Avot (Ética dos Pais) I,1-2
16
33
LENHARDT, 1997, p.15
34
Idem, p.16
35
Idem, ibidem.
36
LENHARDT, 1997. p.17
17
Deus quis fazer a Aliança com Israel porque este não se exaltou acima
de Deus. Com humildade reconhece que Deus é o Senhor e ele, Israel, é o Seu
povo. O seguinte Midrash nos comprova isso de maneira muito clara:
prática, essa frase foi evocada por diversas vezes pelas lideranças religiosas judaico-cristãs.
Acesso em 20 abr. 2012
40
Sl 110/111 v. 3.9
41
Nm. 15,41
42
Êxodo 6,7
43
Disponível em: http://www.repubblica.it/cultura/2013/09/11/news/the_pope_s_letter-
66336961/?__akacao=1596200&__akcnt=fe5cfd78&__akvkey=312e&utm_source=akna&utm_
medium=email&utm_campaign=Boletim+261+-+Papa+e+os+judeus
Acesso em 22 set. 2013. Leia também a Carta Encíclica Lumen Fidei do Papa Francisco jun/13
19
44
Deut. 14,2
45
LENHARDT, 1997 p. 20
46
Idem, p. 21
20
A Torá escrita é transmitida pela Torá oral, porque tendo o mestre lido
a Torá escrita, sua palavra já é Palavra de Deus47. Só pelo fato de ler48 a Torá,
o mestre torna-a oral. E o fariseu, ao afirmar:
47
Idem, ibidem.
48
Fazendo estudos do Talmud com o rabino Schindler em Jerusalém, pude perceber que a
leitura da Torah é feita em voz alta para que todos a ouça. Tal leitura tem um ritmo e entonação
de voz que dá à Escritura a autoridade que lhe é própria. Esta é uma prática comum dos
rabinos nas sinagogas durante a liturgia e em estudos da Torah, bem como nas ieshivot (sing.
Ieshivá). E os discípulos (alunos), de acordo com seu nível de domínio da língua hebraica
acompanham a leitura da Torá.
49
LENHARDT, 1997, p. 26.
50
Cf. Dt 6,4-5 e Lv 19,18. Jesus, como bom judeu vai retomar a tradição judaica: Mt 22, 37-39;
Mc 12,30-31; Lc 10,27: “Amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua
alma, e de todas as tuas forças, e de todo o teu entendimento, e ao teu próximo como a ti
mesmo”.
51
Rabi Aryeh Kaplan. Guia do Pensamento Judaico. In: Revista Morashá, p.1
21
52
Rabi Hai Gaon, idem p. 31.
53
LENHARDT. 1997 p. 33.
54
Idem, p.34
55
Sifré Deutéronomio Dt 11/13 Pisq 41 p. 85.
22
56
LENHARDT, 1997 p. 33.
23
por amor; pela sua ressurreição, finalmente ele inaugura o fim da história da
salvação em conformidade com as Escrituras57.
57
LENHARDT, 1997 p.36. Os ensinamentos de Jesus confirmam que ele era um grande
conhecedor da Torah oral e escrita, considerado posteriormente pelos estudos mais recentes
como pertencente ao grupo dos fariseus. Maccoby, Hyam, em sua obra Jesus the Pharisee.
London: Scm Press. 2003 p. 20, afirma que escritos rabínicos evidenciam uma forte afinidade
entre Jesus e os fariseus, inclusive a crença na ressurreição dos mortos. O Talmud também vê
nele reminiscências de uma figura rabínica. O autor defende a posição de que os rabinos eram
os sucessores autênticos dos fariseus (...) e que as posições haláchicas de Jesus como
registrado nos Evangelhos são intimamente paralelas às dos Rabinos.
58
Idem, pg. 37
59
TB Menahot pg. 29b. Deus enfeitava as letras da Torah.
24
qual devemos escrever os rolos da Torá e ler a Escritura: com um amor alegre.
Por isso, segundo o autor:
60
LENHARDT, 1997 p.42
61
Idem.
62
Ibidem, p.43
25
63
LENHARDT, 1997 p. 49
64
O desenvolvimento completo sobre a ressurreição encontra-se nas páginas 49 a 58.
26
ensino da ressurreição. E o contato com este ensino irradia uma dupla luz: a
Torá como fonte da vida, deve ser vivida e, portanto, deve ser oral, antes,
durante e depois da Escritura; a Torá, porque é oral, pode ensinar a vida e dar
essa vida neste mundo e no mundo futuro.
27
CAPÍTULO III
DEFINIÇÃO E TIPOLOGIA DO MIDRASH
Vimos no capítulo anterior que a Torá oral não se opõe à Torá escrita
nem é um complemento da mesma. É neste universo da Torá, em sua forma
escrita e em sua oralidade, que se situa o Midrash65. E é justamente o Midrash
que ilumina a existência da Torá66:
65
O plural de Midrash é Midrashim ()מדרשׁים.
66
O plural de Torah é torot.
67
Ex. 34,27
68
PASSETO, Élio. Midrash, Scrutare la Tora. Revista Qol: Italy, v. 50, 15 columns, 1994.
Versão em português: Perscrutar a Torah: Literatura bíblica aos mestres de IsraeL, p.1
28
69
LENHARDT, Pierre. COLLIN, M. A Torah Oral dos Fariseus - Textos da Tradição de Israel.
Documentos do Mundo da Bíblia, vol 10. 2ª. ed. São Paulo: Paulus, 1997 p.146.
70
Am. 5,6.
71
Sl.69,33.
72
LENHARDT. 1997, p.148
29
77
Rathaus, Ariel – Leitura da Bíblia na tradição Midráshica. Uma filologia e uma historiografia
"criadoras". Revista SIDIC - vol.II - no. 2, 1976 p.2
78
AUSUBEL. 1964, p. 775-756. Os numerosos sermões alegóricos de Fílon, assim como os
que versam sobre Moisés, o shabat e os preceitos das Escrituras (...), trazem a marca
indubitável do midrash rabínico desenvolvido nas ieshivot da Judéia no final da Era do segundo
Templo.
79
PASSETO, 1994 p.1
31
80
Idem, Ibidem.
81
Leopold Zunz In: Ausubel, p. 177
32
82
Plural de meguilá. Consiste em: 1. Shir Hashirim: o "Cântico dos Cânticos" - do Rei Salomão,
que descreve o amor entre a donzela e seu Senhor, como metáfora para o amor entre D'us e o
povo de Israel; 2. Rut: descreve a história de Rut a moabita, um exemplo de uma convertida
justa. É costume lê-la em Shavuot; 3. Eichá ou Lamentações: descreve a destruição do Beit
Hamikdash (Templo Sagrado) e a devastação de Jerusalém. Disponível em:
http://www.chabad.org.br/interativo/faq/meguilot.html. Acesso em 10.02.13.
33
83
Halakhah refere-se então, a toda a parte legal da tradição judaica, em contraste com a
Haggadá. Objetivamente significa “Lei”, mas não raro ele também tem o caráter de uma moral
pessoal e disciplina espiritual. In: ENCYCLOPAEDIA JUDAICA, Second Edition, Volume 1, Aa–
Alp [Moshe David Herr], p. 454-464.
84
Idem, ibidem
85
HARRIS, Jay M. Chapter 14: Midrash Halachah. In: KATZ. Steven T. JUDAISM - The Late
Roman-Rabinic Period. Vol. 4. Cambridge University Press: 2008, p.337
34
86
SELTZER, Robert M. Povo Judeu, Pensamento Judaico I: a Experiência Judaica na História.
Rio de Janeiro: A. Koogan, 1990 p. 246. Rabino Yehuda há-Nasi foi o editor da Mishná em sua
forma final. Ele é conhecido como "Rebbi," Mestre por excelência, e como "Rabeinu
HaKadosh," nosso Rabino Santo. Ele era o filho de Rabi Shimon ben Gamliel II, e nasceu 80
anos após a destruição do Segundo Templo. Disponível em:
http://www.jewishvirtuallibrary.org/jsource/biography/hanasi.html. Acesso em: 03.03.13
87
SAFRAI. 2006, p.129.
88
EINSERBERG, Ronald L. Jps Guide: Jewish Traditions. Philadelphia: The Jewish Publication
Society, 2008 p.508-509.
89
Ex 31,13.
90
Gn1,1-2,4; Ex 20,2-17; Dt 5,6-21
91
Os mestres disseram no Talmud Jerusalém, Nedarim 3: “o Shabat equivale a todos os
preceitos. E o Zohar Beshalah 47 afirma que “aquele que respeita apropriadamente o Shabat é
como se tivesse cumprido toda a Torah. Ao mesmo tempo, aquele que profana o shabat é
35
Se Deus é Santo, espera de Israel seu povo, que também seja santo
como Ele. A eleição e santificação de Israel fazem deste povo uma propriedade
como se tivesse profanado toda a Torah. Isso é deduzido da frase de Esdras no livro de
Neemias 9,13-14.In: GANTZFRIEZ, Rav Shlomo. Kitzur Shulchan Aruch: O Código da Lei
Judaica Abreviado. Tradução Rabino Yossef Benzecray. Vol. I (caps. 1-97). São Paulo:
Maayanot. 2008, p. 406.
92
Êxodo 20,8-11. De acordo com o artigo, “a palavra shabat é associada a Shuv, “Retorno”,
que é a raiz de Teshuvá, que é o retorno a Deus (...). Ou seja, o shabat serve para nos
lembrar que toda a existência pertence a ele e Dele depende”. In: Morashá. São Paulo, 2013
p. 7-13.
93
Lv 20,7. Em Lv 20,26 encontramos a afirmação sobre a santidade de modo ainda mais
enfático: “Sereis consagrados a mim, pois eu, o Senhor, sou santo e vos separei de todos os
povos para serdes meu”.
36
Essa eleição implica numa missão: ser luz das nações para que estas
conheçam e adorem ao Deus UM. E Deus mesmo fala pela boca do profeta
Isaías:
94
Dt 14,2.
95
Isaías 62,12.
96
Isaías 41,8-9.
97
Is 42,6.
37
98
Escutar a Deus é obedecê-lo.
99
Êxodo Rabá, Yitro, XXVII, 9 (cp. [209-10]). In: MONTEFIORE, C.G; LOEWE, H. A Rabinic
Anthology. Schocken Books. New York: 1974 pg. 121.
100
Disponível em: http://www.jewishencyclopedia.com/articles/7027-haggadah. Acesso em
11.02.13
38
101
KARESH, Sara E., HURVITZ, Mitchell M. Encyclopedia of Judaism. New York: Infobase
Publishing, 2006. p.5
102
PASSETO, 1994 p.8. A audácia como impulso que leva a realizar atos difíceis ou
perigosos, sendo relacionado às Escrituras, quer significar que o trabalho na e com a Escritura
requer do estudioso o revestir-se da armadura da perspicácia intelectual e espiritual. A
responsabilidade com Deus e com Israel ao interpretar as Escrituras, requer considerá-la em
todas as suas nuances e complexidade, o que não é tarefa simplista.
103
ENCYCLOPAEDIA, p. 456
39
104
Ne 8,8.
105
Eclesiastes R. 2,8
106
ENCYCLOPAEDIA, 2004, p. 458
107
PASSETO, 1994 p.9
40
108
HESCHEL, Abraham Joshua. O Shabat: seu significado para o Homem Moderno. São
Paulo: Perspectiva, 2000 p. 16-18.
109
Nm 7,1
110
PASSETO, 1994 p.8
41
no exato momento em que Abraão sacrificaria o seu próprio e único filho por
amor e fidelidade a Deus:
Deus amou Abraão por ele ter respondido com amor e fidelidade ao
cumprimento da Sua Palavra, mesmo que isso custasse a vida do seu Filho.
Abraão ama a Deus e por esta razão Deus o ama e impede que sacrifique o
seu filho. Abraão era um homem de fé e com grande capacidade de amar. A
Haggadá faz entender que Abraão é um paradigma para as gerações
vindouras. Ele representa a atitude de atenção e prontidão na resposta. A este
respeito, Rabi Eliezer ben Jacob disse:
111
MACK, Hananel. The Aggadic Midrash Literature. Tel Aviv University. Galei Zahal, 1989, p.
82-83. Midrash Haggadah: Gn 1-18. A discussão dos rabis que enfocaremos aqui refere-se
somente ao versículo 11-12.
112
Idem
113
Idem, ibidem
114
Gen. 46,2
115
Ex 3,4
116
ISm 3,4
42
Nesse sentido, tendo Israel terra e sendo um povo que tem a Bênção
de Deus, é óbvio que em cada geração surgirão novos indivíduos com as
características e lideranças de Abraão, Jacó, Moisés e Samuel e muitos outros
líderes até os profetas e no NT Jesus e os Apóstolos e algumas mulheres, a
fim de que a Aliança de Deus com o seu povo continue viva na história e na
memória de Israel e dos cristãos. Ou seja, cada judeu e cada um de nós hoje,
pode agir como Abraão, Jacó, Moisés, Samuel e outros, desde que abracemos
a palavra e a vontade de Deus e sejamos determinados a cumpri-las por amor
a Deus e ao povo e para preservar as gerações futuras. Portanto, diante de
situações de aparente morte, o Deus judaico-cristão é o Deus da Vida que
imerge na história do judeu, do cristão e de todos aqueles que se voltam para
Ele. É a partir de Deus e em Deus que se torna possível o germinar da vida na
comunidade de fé, pois a função do Midrash enquanto busca amorosa pelo
sentido profundo da palavra de Deus é como uma mãe que gera a vida que
será luz para os povos.
43
117
Declaração Nostra Aetate, nº 4. Muitos outros documentos foram publicados após o Concílio
que comprovam o esforço da Igreja em responder aos apelos do Concílio. Essa evolução não
se vê com a mesma intensidade no caminho do diálogo. Muitos sacerdotes ainda hoje, mantém
sua mentalidade fechada tanto ao Ecumenismo quanto ao Diálogo Católico-Judaico e inter-
religioso. Ainda há uma resistência e medo a ser superado para que o Espírito do Vaticano II
de fato se realize na história. Para citarmos alguma Documentações relevantes e mais
recentes neste âmbito que comprove a evolução, temos: 1. O mais fundamental é o
Compêndio Concílio Vaticano II; 2. Documentação Básica para o Diálogo da Igreja Católica
com o Judaísmo que contém os resultados dos encontros práticos mais recentes entre judeus
e cristãos (impresso pelas Irmãs de Sion com distribuição gratuita); 3. O Povo Judeu e Suas
Sagradas Escrituras na Bíblia Cristã. São Paulo: Paulinas, 2002; 4. Os Doze Pontos de Berlim
e a História da Transformação de um Relacionamento (fruto do Encontro Internacional do
ICCJ- Conselho de Cristãos e Judeus), São Leopoldo: Oikos, 2001.
44
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Todas as reformas feitas por Israel foram sempre marcadas por uma
centralidade: a fidelidade à Aliança que se desdobra na fé monoteísta e à Torá
que lhe foi entregue no Sinai por Deus, pela mediação de Moisés. O judaísmo
rabínico se encarregará de ler, entender, interpretar e praticar a Torá como
forma de reestruturar as bases do Judaísmo. E é dentro deste movimento de
renovação que se situa o Midrash como literatura judaica que permite a busca
amorosa da palavra de Deus para melhor compreendê-la e praticá-la na vida.
47
Israel vive a Torá com prazer, com alegria, pois tem consciência
aguçada de que o estudo da Torá é uma berakhá (bênção) que trás alegria.
Escutar a Deus como quem recebe uma bênção carregada de alegria é já uma
mitzvá que cumpre um mandamento, não de escravidão, mas de amor e por
amor123. E a festa de Simchat Torá, bem expressa essa alegria. Por isso, ao
recitar O Shemá [לֹהינוּ יהוה ֶא ָחד
ֵ ָאל יהוה ֱא
ֵ ִשׂר ְ - Shemá Israel, Adonai
ְ שׁ ַמע י
Eloheinu, Adonai Echad: Escuta, Israel, O Senhor nosso Deus, o Senhor é
123
DI SANTI. Liturgia Judaica: Fontes, Orações e Festas. São Paulo: Paulus: 2004 p. 58
49
UM!], Israel revive e lembra-se das boas ações de Deus em suas vidas e na
vida da humanidade. Nesse sentido, Israel tem a missão de anunciar e
transmitir e a exigência de santificar-se no Tempo vivendo na Presença de
Deus e com os homens, como coerência de vida na Torá, como povo eleito,
como povo da Aliança. Assim, a humanização do humano depende da sua
humanização na vida da Torá, que é o próprio Deus que se revela como
Palavra.
Por fim, nós, cristãos de modo geral, temos muito a aprender com
Israel, com a tradição-literatura judaica, particularmente com os estudos do
Midrash. Uma vez que a correta interpretação e compreensão do Novo
Testamento estão entrelaçados na compreensão profunda do judaísmo e sua
Tradição, este estudo quer ser uma simples contribuição nesta direção. Tanto
teólogos, biblistas, sacerdotes, religiosos (as), seminaristas, lideranças
paroquiais e catequistas, são desafiados a dar um passo em direção à busca
amorosa da Palavra de Deus, tendo como viés os estudos do Judaísmo e da
sua Tradição, bem como da vasta e rica literatura Judaica.
REFERÊNCIAS
Sagrada Escritura
Documentos Pontifícios
Obras
LAPIN, Hayim. The Origins and Development of the Rabbinic Movement in the
Land of Israel. (Cap. 8) In: KATZ. Steven T. JUDAISM - The Late Roman-
Rabinic Period. Vol. 4. Cambridge University Press: 2008.
LENHARDT, Pierre. COLLIN, M. A Torah Oral dos Fariseus - Textos da
Tradição de Israel. Documentos do Mundo da Bíblia, vol 10. 2ª. ed. São Paulo:
Paulus, 1997.
LEONE, Alexandre. Mística e Razão - dialética no pensamento judaico. São
Paulo: Perspectiva, 2011.
LIMENTANI, Giacoma. O Midraxe - Como os mestres judeus liam e viviam a
Bíblia. São Paulo: Paulinas, 1996.
LOHFINK, Norbert. La Alianza Nunca Derocada - Reflexiones exegéticas para
El diálogo entre judíos y cristianos. Barcelona: Herder Editorial, 1989.
MACK, Hananel. The Aggadic Midrash Literature. Tel Aviv University. Galei
Zahal, 1989.
MAISONEUVE, Dominique de La. Le Judaisme. Paris: Les Editions de
LÁtelier/Editiones Ouvrières, 2007.
MOOR, Donald J. The Human and The Holy. The Espirituality of Abraham
Joshua Heschel. Fordham University: USA, 1996.
MONTEFIORE, C.G; LOEWE, H. A Rabinic Anthology. Chapter 4: Israel’s Love
for God. Schocken Books. New York: 1974.
MUSSNER, Franz. Tratado sobre os Judeus. São Paulo: Paulinas,1987.
Nodet, Etienne; Talor Justin, Essai sur les orgines du christianisme. France: Du
Cerf: 1998.
PEREZ, Agustin Água. Método midrásico y la Exégesis del Nuevo Testamento.
Valencia,1985.
PÉREZ, G. Aranda; MARTÍNEZ, F. Garcia; FERNÁNDEZ, M. Pérez. Literatura
Judaica Intertestamentária - Introdução ao Estudo da Bíblia. Vol 9. São Paulo:
Vozes, 2000.
REMAUD, Michel. Evangelho e Tradição Rabínica. São Paulo: Loyola, 2007.
RATZINGER, J. O Sal da Terra. São Paulo: Imago,1997.
SAÍZ, Tereza Martínez. Mekilta de Rabbí Ismael: comentário rabínico al libro
del Exodo. Biblioteca Midráshica. Espanha: Verbo Divino, 1995.
53
SAFRAI, S. (ed), The Literature of the Sages, 1st Part, Compendia, Assen-
Philadelphia: 1987.
SAFRAI, S; Safrai Z; Schwartz, J; Tomsom, P. The Literature of the Sages.
Midrash and Targum. 2nd Part. Fortress Press. Netherlands, North America:
2006.
SCARDELAI, Donizete. Da Religião Bíblica ao Judaísmo Rabínico - Origens da
religião de Israel e seus desdobramentos na história do povo judeu. São Paulo:
Paulus, 2008.
SELTZER, Robert M. Povo Judeu, Pensamento Judaico I: a Experiência
Judaica na História. Rio de Janeiro: A. Koogan, 1990.
SMITH, Mark S. O memorial de Deus. História, memória e a experiência do
divino no antigo Israel. São Paulo: Paulus, 2006.
STEMBERGER, Günter, Il Midrash, uso rabínico dela Bibbia. Introduzione,
testi, commenti. Edizioni Dehoniane. Bologna: Italy, 1992.
STRACK, L. Hermann. Introduction to the Talmud and Midrash. Athenaeum,
New York, 1974.
STRACK-G; STEMBERGER, H.L. Introducción a la literatura talmudica y
midrasica, Asoc. Biblica Española, Verbo Divino. España, 1980.
SCHLESINGER, Hugo; PORTO, Humberto. Dicionário Enciclopédico das
Religiões. Vol. I a IV. Petrópolis: Vozes, 1995.
TARADACH, Madeleine. El Midrash – Introducció a la literature midràshica, als
targumim I als midrashim. Editoraial Herder: Barcelona, 1989.
TASSIN, Claude. O Judaísmo. Do exílio ao tempo de Jesus. Col. Cadernos
Bíblicos: 46. Trad. Isabel F. L. Ferreira. São Paulo: Paulinas.
THEISSEN, G; MERZ, Anette. O Jesus Histórico - um manual. 2a. ed. São
Paulo: Loyola, 2004.
UNESCO. Vida e Valores do Povo Judeu. São Paulo: Perspectiva,1972.
URBACH, E. Efraim. The Sages: Their Concepts and Beliefs. The Magnes
Press: Hebrew University. Jerusalem, 1987.
54
Dicionários e Enciclopédias
Artigos de Revistas
Artigos Online
CALVET, Louis-Jean. Tradição oral & Tradição escrita. São Paulo: Parábola
Editorial: 2011. Obra original: HOUIS, Maurrice, Oralité ET scripturalité, in:
Elements de recherche sur lês langues africaines. Paris: AGECOOP. 1980,
p.12. Disponível em
<http://www.youblisher.com/p/330078-Tradição-Oral-Tradição-Escrita/> Acesso
em 13 jan. 2013.
HYAM, Maccoby. Jesus the Pharisee. London: SCM Press, 2003.
Disponível em
<http://www.robertmprice.mindvendor.com/reviews/maccoby_pharisee.htm>
Acesso em 19 jan. 2013.
MORASHÁ. Leis e Tradições. Disponível em
<http://www.morasha.com.br. Ed. 23> Acesso em 20 dez. 2012.
MORASHÁ. Leis e Tradição. Disponível em
<http://www.morasha.com.br/conteudo/ed_anteriores/ed23/tora.htm>
Acesso em 26 jan. 2013.
SANTA SÉ. Métodos e abordagens para a Interpretação. In: Pontifícia
Comissão Bíblica: A Interpretação da Bíblia Na Igreja. Disponível em
<http://www.vatican.va/roman_curia/congregations/cfaith/pcb_documents/rc_co
n_cfaith_doc_19930415_interpretazione_po.html#i> Acesso em 05 out. 2012.
TORAH VIVA. Interpretação Judaica: O Midrash. Disponível em
<http://www.torahviva.org/index.php?p=5_130_Interpretacao-Judaica>. Acesso
em 25 set. 2012.
56