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Uma versão deste texto saiu publicada na revista Ciência Hoje de dezembro de 2018 sob o título “Ouro,
Arte e sabedoria na África Pré-colonial”
das investigações históricas durante muito tempo, até meados do século vinte,
apresentava como obstáculo para a maioria de pesquisadores ocidentais o idioma árabe
em que estavam escritas e o eurocentrismo que desvalorizava a produção do mundo não
cristão. A tradução e a divulgação desse rico material contribuíram para a descoberta de
um manancial de possibilidades de estudos e para o conhecimento sobre a África antes
da formação do mundo atlântico. Recentemente no Brasil, trabalhos como o de Beatriz
Bissio, com seu livro O mundo falava árabe (Civilização Brasileira, 2012), recuperam o
conteúdo civilizacional da cultura árabe-islâmica que por meio dos relatos de viajantes
do século XIV, apresenta o mundo africano sob outras lentes.
As histórias trazidas por esses viajantes nos contam que havia rotas de comércio que
cruzavam o deserto de Saara, por meio de caravanas que iam e vinham, com muitas
pessoas e mercadorias.
Núcleos de poder centralizado: África Ocidental (Sudão Ocidental, Estados da Floresta e Sudão Central)
Referência: http://www.fafich.ufmg.br/luarnaut/Afrika%20docs.html
Estes núcleos de poder centralizado – que chamamos de reinos para ficar mais fácil de
entender, mas que nem sempre tinham uma figura de rei, ou estrutura de poder como nos
modelos de reinos europeus - surgiram não apenas na África Ocidental e Centro-
Ocidental. Havia também na África Oriental e, como nas outras regiões, bem antes do
contato com os europeus pelo Oceano Atlântico. É importante ressaltar que o modelo
teórico das monarquias europeias não serve para definir as funções políticas dos
soberanos africanos.
Nas regiões próximas à costa do Índico surgiram formações políticas complexas ligadas
ao grande comércio transoceânico que ligava essa área litorânea da África à Península
Arábica. Essa ligação não era muitas vezes direta, havia rotas atravessando, por rios ou
por terra, do interior até a costa. Uma das evidências materiais de uma dessas formações
que ficavam ao interior são as majestosas ruínas de pedra conhecidas como Grande
Zimbabué (Grande Zimbabwe) no local onde existiu o reino do Zimbabwe, entre os
séculos XIII e XV. Neste reino, o ouro, o cobre e o ferro eram extraídos e com eles se
realizava um intenso comércio com a costa e regiões do Oceano Índico. O comércio
marítimo era favorecido pelo sistema de monções que criava ventos propulsores das
embarcações em períodos e percursos determinados, fazendo com que as viagens entre o
litoral africano e Índia pudessem ser rápidas e relativamente seguras. Na esteira dessa
atividade comercial, em rotas mais longas, chegavam diversos produtos trazidos da China
e do Japão, como sofisticadas porcelanas e sedas, além dos temperos orientais.
Quando os portugueses aí chegaram no século XV se maravilharam com a riqueza e
beleza das cidades dessa região do continente, tendo que se haver também com o poder
de seus governantes que lhes impuseram condições para se estabelecerem, além de
oferecer resistência militar aos interesses lusos.
Redes de comércio na costa africana do Oceano Índico, século X ao XVI.
Fonte: SHILLINGTON, Kevin. History of África. Nova Iorque: Macmillan, 2005. 2ªed rev.
p.126