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História I
Vitória
2021
Sumário
resistências e superação 25
Referências bibliográficas 29
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Apresentação
Olá! É um prazer poder retomar o contato com você, após tantos meses.
Espero encontrá-los bem. Este material foi escrito para ser nosso guia de estudos,
tratados, mas abrirá as portas para que você possa dar outros passos na
Aproveite bem. Não deixe de participar das aulas online. Anote suas dúvidas
tacamillo@gmail.com).
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1- História e Memória: “os perigos de uma história única”
Olá! Hoje, nossa tarefa é a de estudar dois conceitos importantes para lidar
chegamos até aqui, é porque temos uma herança deixada pelo dia de ontem, pelo
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nosso dia a dia. Recorrendo a mais um exemplo: certamente uma das suas
preocupações com o passado não é ler o texto do tratado feito entre a rainha da
Inglaterra e o rei da França, ao fim da Guerra dos Sete Anos. Mas se eu lhe disser
alguma coisa sobre as armas usadas nessa guerra, talvez você rapidamente se
interesse. Isso ocorre porque vivemos em uma sociedade que discute o porte ou a
Floyd. Chauvin assassinou Floyd a sangue frio sob os olhares e câmeras de quem
passava pela rua. Nos dias que se seguiram, várias manifestações tomaram as ruas
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Em Bristol, sul da Inglaterra, no dia 7 de junho de 2020, uma multidão
Colombo, mesmo sob críticas do presidente Donald Trump, que argumentava não
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contrariamente a tais atos.
Atos desse tipo são uma novidade na história mundial? O que eles nos
opressão de classe, gênero e raça. Isso faz parte das disputas em torno da memória
Memória:
1- capacidade que se tem de adquirir informações, retê-las e, então, ser capaz de
evocá-las;
2- Lembrança, reminiscência, recordação;
3- Celebridade, fama, nome;
4- Monumento comemorativo;
5- Vestígio, lembrança, sinal;
6- Aquilo que serve de lembrança.
fazer uma confrontação entre alguns fatos históricos e a derrubada de estátuas nos
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compartilha informações, guarda, lembra e constrói monumentos comemorativos
por alguém que foi escravizado. Tudo compõe a memória coletiva da escravidão nos
Estados Unidos ou em qualquer outro lugar que tenha passado por essa experiência
desumana e trágica.
Mas a pergunta mais insistente que você deve estar fazendo neste momento
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é: por que alguns cidadãos foram levados a derrubar estátuas?
para se referir à boa ou má fama dos mortos. Isso é sinal de que o passado não se
daquilo que restou como memória dos acontecimentos. Por isso, a memória é um
campo de disputas, onde se define o que deve ser esquecido e o que deve ser
lembrado.
qualquer outra época, sempre houve o que chamamos de uma disputa simbólica
sobre o passado.
cidade de Paris, que foi posta abaixo pela multidão revolucionária. Em 1890, o
Lênin, líder comunista russo, foram derrubadas na Rússia, nos Estados Unidos e
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Imagem V - Derrubada da estátua de Lênin
resumiu ao ano de 2020. Muito menos que foi conduzido por pessoas incivilizadas.
memória social do nosso tempo e que tem paralelos com outras épocas da história.
Os movimentos negros nos EUA e os defensores dos direitos civis não concordam
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Agora podemos reescrever a definição de memória:
memória é a fonte para construção da narrativa histórica. Daí, nós tiramos uma
se confunde com ela. Por meio da memória as sociedades vão dizendo o que deve
ou não ser lembrado. Essa pode ser uma decisão arbitrária, que depende de quem
as outras pessoas fazem questão de esquecer. Ele não está imune às influências
Como falamos no início, o passado não é apenas coisa velha que deve ser
deixada para trás. Muitas vezes, quando contamos uma história de forma única,
forneceu força de trabalho para o Brasil. Os africanos não teriam contribuído com
demonstraram que essa é uma visão única e incompleta da história das relações
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Na próxima aula, veremos um pouco mais sobre isso com auxílio desses
historiadores.
Atividade I
“Exu matou um pássaro ontem, com uma pedra que só jogou hoje”
interpretações
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2- Histórias de Reinos e Impérios Africanos
É muito comum a visão única sobre a história da África. Muitas pessoas não
O documentário “DNA África”, que você deve assistir como tarefa desta aula,
africanas.
O continente africano tem uma história tão rica quanto a história da Ásia,
América, África e Oceania. Muitas vezes, a memória social silenciou e apagou essa
Império Gana
- O Antigo Império Gana teve seu apogeu entre os anos 700 e 1200 D.C;
- O antigo nome desse império era Uagadu, que ocupava uma área tão vasta
quanto à da moderna Nigéria e incluía os territórios que hoje constituem o Mali
ocidental e o sudeste da Mauritânia;
- Era rico em ouro e praticavam, com os árabes, um comércio por meio do
Deserto do Saara, no qual trocavam ouro por artigos de luxo, especiarias e jóias;
- Declinou devido a conflitos internos e invasão de outros povos;
- Usava a bateia para a mineração aurífera, instrumento que também seria usado
no Brasil Colonial.
Império Mali
- Possuía importantes centros urbanos como Tombuctu, que contava com cerca
de 100 mil habitantes;
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- Possuía uma economia baseada na produção de tecidos, mineração de ouro e
comércio de sal;
- Possuía um grande centro de estudos onde os sábios reuniam-se para debater o
conhecimento e ensinar;
- Antes mesmo das universidades medievais, Mali já possuía um centro
acadêmico semelhante ao que os europeus criaram décadas depois;
- Fizeram importantes observações astronômicas.
Império Songai
- Também foi um importante centro comercial;
- Desenvolveu um funcionalismo público profissional e nomeava governadores
para cada província;
- Possuía avançado conhecimento agrícola, que seria utilizado no Brasil, durante
a colonização.
Reino Congo
- Especialistas em metalurgia do ferro e do cobre criaram machados, arados e
enxadas, instrumentos que seriam usados nas terras do Brasil.
escravizados por donos de datas minerais nas regiões de produção do ouro ocorria
viabilizada pela força de trabalho africana, que foi explorada no sentido intelectual e
físico. A mineração dependia de uma mão de obra altamente especializada que era
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Alguns dos grãos de ouro são tão pequenos que flutuam na superfície, podendo, por
conseguinte, ser arrastados nas repetidas mudanças da água que se fazem. Para prevenir
do seu suco à água de suas gamelas. Não afirmarei que este líquido contribuisse realmente
para precipitar o ouro, mas é certo que os negros o empregavam com grande confiança.
quando diz “não afirmarei que este líquido contribuisse realmente para precipitar o
lavra:
Somente mais tarde, aprendendo com a prática, principalmente depois da introdução dos
primeiros escravos africanos, que já na sua pátria se tinham ocupado com lavagem de ouro,
logo tirou proveito, foi que os mineiros aperfeiçoaram esses processos de extração. Deve-se
principalmente aos negros a adoção das bateias de madeira , redondas e de pouco fundo, de
dois a três palmos de diâmetro, que permite a separação rápida do ouro da terra, quando o
cascalho é bastante rico. A eles se devem, também, as chamadas canoas, nas quais se
estende um couro peludo de boi, ou uma flanela, cuja função é reter o ouro, que se apura
depois em bateias.
lavra.
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Imagem VI - Johann Moritz Rugendas (“Lavagem de ouro na montanha
do Itacolomi”, 1835)
de água canalizada. Ao fundo, duas negras carregam o que poderiam ser bateias
mais importante desta nossa aula é identificar que os documentos históricos nos
dão base para afirmar que a cultura e os saberes africanos chegaram ao Brasil em
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atraso.
Atividade II
um texto de 10 a 15 linhas.
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3- Homens e mulheres africanas no Brasil Colonial e Imperial
incompleta, por meio de uma história única. Também estudamos um pouco sobre
mulheres que vieram para o Brasil e para outros lugares do mundo? Você sabe de
que regiões da África eles foram retirados? Qual era o fluxo dessa dispersão dos
africanos escravizados no Brasil não são perfeitas. Elas foram construídas por
exemplo. Além do contrabando, forma usada para não pagar os impostos com a
pessoas foram capturadas. Mesmo assim, conseguimos ter uma visão geral da
da violência ocorrida.
país que importou mais escravos africanos. Entre os séculos XVI e meados do XIX,
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Janeiro, construiu o Banco de Dados do Comércio Transatlântico de Escravos. Esse
foi o trabalho mais amplo e completo já realizado para medir o tamanho do tráfico de
africanos. Seu resultado confirma o que o IBGE já havia afirmado e demonstra que,
milhões.
Fonte:https://apublica.org/2018/08/truco-brasil-foi-o-local-que-mais-recebeu-escravos-nas-a
mericas/ (Acesso em 26-01-2021).
Essa imagem nos ajuda a explicar por que o Brasil é o segundo maior país
pela Nigéria. O banco de dados não contabiliza o número que chegou ao Brasil e
depois foi vendido para outros lugares da América. Além disso, os africanos
momentos da história. Também dizem que “era normal”, pois a escravidão existia
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dentro da própria África. Porém é preciso fazer algumas ponderações que
lógica, até então bem comum, da escravização por dívida ou por guerra.
sistema muito bem organizado e violento, que tinha um alvo específico e não
africana que veio ao Brasil, precisamos fazer uma separação entre o porto de
embarque e a origem étnica. Quando pensamos nas regiões dos portos para onde
mapa a seguir:
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Imagem VII - Portos de origem dos africanos escravizados
Além desses, havia o porto de Moçambique, que ficava muito atrás dos outros dois,
com 5,7%.
África possui diversas etnias e idiomas. Na época da escravidão, essas etnias eram
misturadas nos portos, muitos nomes que aparecem nos documentos para
repetiam ou criavam novos nomes. Apesar de não ser exata, essa identificação nos
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ajuda a compreender como a escravidão se configurou no território brasileiro.
agricultura e pecuária. Como vimos em aulas anteriores, os minas vinham das terras
do Império Gana, onde a mineração do ouro era muito comum. Os outros africanos
alertamos que essa distribuição pode ser diferente em outras partes do Brasil.
desempenhavam.
os “escravos de ganho”, que eram usados pelos senhores para o pequeno comércio
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Imagem VIII - Jean Baptiste Debret (“Barbeiros Ambulantes”, 1826)
Repare na diferença física entre os negros que estão sendo cuidados e os que
de obtenção da alforria, a compra da liberdade, pois uma parte dos ganhos ficava
para os escravizados. Normalmente, esse dinheiro era poupado, até que a liberdade
castigos físicos. Veja, na imagem, que tanto os barbeiros, quanto seus clientes e os
negros ao fundo da imagem, estão descalços, uma vez que a lei em vigor não lhes
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permitia andar calçados, apenas homens livres.
Certamente você usa essas e muitas outras palavras no dia a dia. Isso deve
ser compreendido como uma contribuição cultural, que se deu por causa da
nos assegura que os povos vindos da África foram muito mais do que mão de obra
pesada.
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4- Histórias de negros e negras no Brasil: perseguições, resistências e
superação
2018, por exemplo, para cada 100 mil habitantes, a taxa de homicídios de negros
era de 37,8, enquanto que a de não-negros era de 13,9. Precisamos perguntar: por
que existe essa diferença? Essa violência é nova? Que exemplos podemos buscar
na história do Brasil?
para o culto aos orixás. Muitas vezes, a perseguição aos cultos de matriz africana
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Imagem X - Capa do jornal A Noite de 31 de março de 1941
Perceba que no jornal de 1941, o termo “macumbeiro” ainda era utilizado para se
gerada pela Constituição, algumas medidas têm sido tomadas para proteger e
foram devolvidos pela polícia a praticantes dessas religiões, no Rio de Janeiro. Isso
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A história da população afrodescendente brasileira nos dá exemplos que
demonstram ter havido muita resistência e superação. Quais teriam sido as outras
quilombo mais conhecido foi o do Quilombo dos Palmares, que foi organizado em
Alagoas, liderado por Zumbi dos Palmares e organizado até 1694. As revoltas
escravização passivamente. Havia luta, negociação e revolta. Por isso, também era
escravizado que depois seria liberto. Essa sociedade política ficou conhecida como
Clube Abolicionista.
por suas habilidades jurídicas, literárias e de engenharia, dentre outras. Luís Gama
terminou?
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atenção na vida um desses personagens.
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Referências Bibliográficas
Negro, 2011.
Itatiaia/EDUSP, 1978.
pensar e formas de viver - séculos XVI a XIX. São Paulo: Anna Blume,
PPGH/UFMG, 2002.
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