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CODÓ/MA
2021
CINDHI LORRANE DOS SANTOS BARROS
CODÓ/MA
2021
CINDHI LORRANE DOS SANTOS BARROS
Banca Examinadora
EPÍGRAFE
1. INTRODUÇÃO...........................................................................................1
2. OBJETIVOS...............................................................................................2
2.1 Geral..................................................................................................................2
2.2 Especifico........................................................................................................... 2
3. FUNDAMENTAÇÃO TEORICA.................................................................2
3.1 Contextualização Histórica dos Quilombos Brasileiros.............................2
3.2 Remanescentes Quilombolas do Estado do Pará..............................................3
3.3 Remanescentes Quilombolas do Município de São Miguel do Guamá..............4
3.3.1 Canta Galo................................................................................................5
4. METODOLOGIA........................................................................................7
4.1 Tipo de Pesquisa................................................................................................7
4.2 Área de Pesquisa...............................................................................................8
4.3 Materiais utilizados para a Pesquisa..................................................................8
5. ASPECTOS HISTORICOS DA COMUNIDADE QUILOMBOLA DE
SANTA RITA DE BARREIRA....................................................................7
5.1 Organização Produtiva......................................................................................8
5.2 Pratica de Manejo da Agricultura Familiar..........................................................8
5.3 Desenvolvimento Sustentável na Comunidade Quilombola Santa Rita de
Barreira............................................................................................................... 8
6. RESULTADOS E DISCUSSÕES...............................................................7
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS.......................................................................7
REFERÊNCIAS.............................................................................................10
1 INTRODUÇÃO
9
daquela comunidade. Acredita-se que este estudo possa corroborar algo
contributivo, haja vista, abordar uma temática de relevância social no meio rural
brasileiro.
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2 OBJETIVOS
2.1 Geral
Investigar o processo produtivo na Comunidade Quilombola Santa
Rita de Barreiras, em São Miguel do Guamá-PA;
2.2 Específicos
3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
11
nas relações sociais e políticas, amparado por um conjunto de leis, costumes e
tradições. (MALCHER, 2010).
A identidade quilombola é um componente fundamental para
compreender os usos do território pela comunidade. A organicidade dos
territórios de resistência étnica se apresenta como instrumento de
compreensão do movimento e da luta pelo direito sobre a terra. De acordo com
O'Dwyer (1995) na territorialidade quilombola a ocupação da terra não é feita
através de lotes individuais, predominando seu uso comum que com o tempo,
fizeram daquele espaço de pertencimento “um legado, uma herança cultural e
material que lhes confere uma referência presencial no sentimento de ser e
pertencer a um lugar e a um grupo específico” (O’DWYER, 1995, p. 1).
O movimento quilombola encontra-se na luta por seu reconhecimento o
que alude buscar informações sobre o seu passado, construído culturalmente,
a formação e organização dessas comunidades. (LEITE, 2018).
Em muitos países, os líderes dos Quilombos se tornaram heróis para
seu povo, a exemplo, Zumbi dos Palmares que até os dias atuais é visto pelo
movimento negro brasileiro como herói. Porém, cada nação possui suas
especificidades, ou seja, vê essa forma de resistir a escravidão de formas
diferentes. Os processos de resistência negra, possui a cosmologias e
territorialidades que compõem especificidades afro-brasileiras. (MIRANDA,
2018).
Os quilombos refletem o foco da resistência da África à escravidão
colonial, e essas lutas até hoje têm sido acompanhadas por lutas importantes
pelos direitos há muito tempo sendo privados. Nas últimas duas décadas, os
descendentes de africanos (negros) organizaram sua própria associação
quilombola para exigir deles a obtenção dos direitos permanentes e da
propriedade legalmente reconhecida da terra ocupada, entre eles o quilombo é
lar de negros e de negros. Produção e reprodução de valor, cultura e
identidade. (MELO et al, 2019).
Muitos quilombolas estabeleciam relações econômicas com os demais
atores sociais, portanto, permaneciam nos arredores dos povoados,
compondo-se como parte daquela sociedade. O histórico dos territórios
quilombolas desapropriados desde a Constituição de 1988 até o momento atual
revela esse quadro de desinteresse do “Brasil Colonial” sobrevivente em
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resolver uma das demandas básicas do “Brasil Africano” contemporâneo. A
questão estrutural de fundo é a posse efetiva da terra, ou seja, a definição
oficial da fronteira afro-brasileira. (ANJOS, 2017).
De acordo com o Artigo 2º do Decreto 4.887/2003, os territórios
quilombolas são terras ocupadas por remanescentes quilombolas, os quais tem
a finalidade de assegurar seus direitos, garantindo sua reprodução física,
social, econômica e cultural. O qual possui vínculo direto com a ancestralidade
negra, terras enriquecidas de características culturais, ideológicas, valores e
práticas. Esse território é construído e elaborado a partir da história, vivências,
de enorme teor simbólico (INCRA, 2017). Apesar disso, o crescimento no
reconhecimento de territórios remanescentes das comunidades dos quilombos
tem sido bastante acanhado. (LIMA, 2019).
As comunidades quilombolas localizam-se em 24 estados da federação,
sendo a maior parte nos estados do Maranhão, Bahia, Pará, Minas Gerais e
Pernambuco; os únicos estados que não registram ocorrências destas
comunidades são o Acre e Roraima, além do Distrito Federal. No presente
momento não existe um consenso realizado pelo Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE) informando o número de comunidades
quilombolas no Brasil; o IBGE está realizando reuniões de consulta com
representantes de comunidades quilombolas para a realização do Censo
Demográfico 2020, tendo como expectativa neste censo estimular avanços nos
estudos das comunidades tradicionais do país. (BRAGA, 2020).
As comunidades quilombolas por sua vez, se organizam também em
sociedade, mas diferente de uma sociedade capitalista que olha a terra apenas
como mercadoria. As comunidades quilombolas veem a terra como um bem
material, porém algo a ser zelado, conservado, pois a sua existência depende
do estado em que o seu território se encontra, podemos com isso afirmar que
sem o território não é possível a existência da comunidade. (DIAS, 2019).
As comunidades quilombolas guardam em si uma riqueza cultural de
suma importância para o nosso país, sendo uma herança viva da história
brasileira, é expressão viva de um passado de luta. Algumas comunidades
ainda vivem bastante isoladas dos grandes centros, utilizando como base
econômica a produção agrícola familiar e o comércio dos produtos excedentes,
13
assim como faziam na sua época de formação, apresentando características
de comunidades tradicionais. (COSTA et al., 2019).
As comunidades quilombolas no Brasil possuem um número impreciso.
A Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais
Quilombolas – CONAQ tem-se dados de que possuem 3,2 mil comunidades. Já
a Fundação Palmares, em um último seu relatório de agosto de 2019, estima
3.386 quilombos. Quanto às certidões, de 2004 até o ano de 2019, o órgão
emitiu 2744 reconhecimentos. 61% desse total fica na região nordeste, 16% no
Sudeste, 11% no Sul, 7% no centro-oeste e 5% no Norte. (OLIVEIRA, 2021).
Segundo Freitas (1983), havia sete tipos de quilombos fundamentais: os
agrícolas, os extrativistas, os mercantis, os mineradores, os pastoris, os
serviços e os predatórios. Os agrícolas estavam presentes em todo o Brasil; os
extrativistas eram encontrados principalmente na região amazônica; os
mercantis, também situados na região amazônica, adquiriam as drogas dos
sertões dos povos indígenas e as vendiam para os regatões; os mineradores,
presentes nas regiões de Minas Gerais, Bahias, Goiás e Mato Grosso; os
pastoris, presentes na região do Rio Grande do Sul, voltados principalmente
para a criação de gado; os de serviços, em que os integrantes saíam para
trabalhar nos centros urbanos passando-se por negros alforriados; e os
predatórios, que podiam ser encontrados em todas as regiões, cujos
integrantes viviam de saques.
O conhecimento de técnicas agrícolas construídas e aperfeiçoadas por
essas comunidades ao longo do tempo, o uso equitativo da terra para a
subsistência, bem como para geração de economia, pode ser exemplo a ser
seguido pela agricultura atual, pois ameniza os impactos, evitando um colapso
no meio ambiente. Os quilombos eram organizados através da divisão de
tarefas e todos trabalhavam. A economia quilombola se baseava na produção
rústica de alimentos voltados à subsistência, com cultivo do fumo e do algodão,
à forja dos metais para a fabricação de armas e ferramentas. (GONÇALVES,
2017).
As comunidades quilombolas, a maioria delas, estão situadas em áreas
rurais, embora haja aquelas situadas em áreas urbanas e de metrópoles.
Sobrevivem do extrativismo vegetal, caça, pesca, agricultura de subsistência e
criação de pequenos animais como aves e suínos. (OLIVEIRA, 2017).
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O modo de vida quilombola é predominantemente rural e caracteriza-se
pela divisão técnica, social, sexual e etária do trabalho. As habilidades
individuais, os instrumentos técnicos e força laboral, reproduzem um leque de
atividades na unidade familiar de produção sem emprego de máquinas
agrícolas e baixo uso de instrumentos e técnicas modernas, baixa
produtividade e incipiente integração ao mercado. (ARAÚJO et al., 2017).
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Estadual Paraense do Artigo 322 para seu complemento. Este último determina
que: “Aos remanescentes das comunidades quilombolas que estejam
ocupando suas terras, é reconhecida a propriedade definitiva, devendo o
Estado emitir-lhes títulos respectivos no prazo de um ano, depois de
promulgada esta Constituição” (PARÁ, 2007).
As comunidades remanescentes de quilombo que tiverem suas terras
em área de jurisdição do estado do Pará desencadeiam o processo de
reconhecimento desses territórios seguindo o estabelecido na Constituição
Paraense:
1) requerimento da comunidade remanescente de quilombo;
2) documentação, elaboração do memorial descritivo e publicação dos
editais;
3) levantamento cartorial;
4) levantamento socioeconômico;
5) demarcação;
6) entrega de títulos; e,
7) registro do título no Cartório de Registro de Imóveis (TRECCANI,
2006).
O Pará é o estado brasileiro com o maior número de comunidades
quilombolas titulados no país: 65 no total. A titulação é o último estágio da
regularização dos quilombos e implica no reconhecimento pleno do território. A
política de regularização fundiária de quilombos está vinculada à Secretaria de
Políticas de Promoção da Igualdade Racial da Presidência da República
(SEPPIR) que, por sua vez, é parte do Ministério da Mulher, da Família e dos
Direitos Humanos (MMFDH).
O processo de regularização começa com o cadastro das famílias.
Passa por um estudo de levantamento de informações e georreferenciamento
da área, desapropriação (quando há imóveis privados sobrepondo o território, é
feita a avaliação em valores de mercado e pagos previamente) e assinatura do
título do quilombo pelo governador. Além dessas 65 comunidades quilombolas
já titulados, o Pará tem, ainda, quatro territórios quilombolas parcialmente
titulados e outras 59 terras quilombolas não tituladas, totalizando 125
quilombos.
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De acordo com estimativas de Raimundo Magno, morador da
comunidade quilombola África (no município de Moju), o Pará tem entre 50 mil
a 70 mil famílias quilombolas. Contudo, não existe uma base de dados com um
perfil sociodemográfico dos quilombolas brasileiros. Isso dificulta o acesso a
informações e, também, a elaboração de políticas públicas específicas a essas
comunidades. Segundo informações da Agência Brasil, de 2018, a ausência da
posse legal da terra gera dificuldades em áreas como o acesso a serviços
básicos de saúde, educação e transporte, bem como rede de energia e água.
Isso é um agravante nos conflitos entre povos tradicionais, latifundiários e
madeireiros, porque utilizam os mesmos recursos das áreas em disputa.
Mesmo em situação tão delicada, o orçamento federal destinado à
regularização de terras quilombolas teve redução de 90% nos últimos 10 anos
e apenas 7,2% dos processos de titulação abertos no INCRA (Instituto
Nacional de Colonização e Reforma Agrária) foram concluídos em 25 anos.
Essa situação mostra o descaso público com os povos tradicionais e também
os deixam expostos à violência decorrente dos processos de disputa sobre o
território.
As comunidades quilombolas no estado do Pará encontram-se em
distintas situações. A regional Nordeste Paraense é marcada por pequenas
comunidades quilombolas que se destacam pelo fornecimento de produtos
agrícolas diferente do que rege o modelo econômico da Amazônia extrativa.
Para Moura (1988, p. 17), “é correto falar em recriação, redefinição e até
diversificação”, sobretudo no que se refere às práticas cotidianas e a forma
como as comunidades quilombolas se relacionam com o território.
Uma característica das comunidades quilombolas pertencentes à
regional Nordeste Paraense é o trabalho de roça, a produção da farinha e a
resistência a perda de suas terras para uma diversidade de empreendimentos
no espaço agrário. Com a produção baseada no trabalho familiar cujo intuito
principal é a reprodução sustentada na economia familiar e de sua condição de
produção local nas 65 comunidades quilombolas do Nordeste Paraense. O fato
é que essas comunidades não apresentam isolamento no que se refere à
economia da região, o desenvolvimento da agricultura capitalista não só criou
novas relações de produção como redefiniu relações pré-estabelecidas.
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Os remanescentes de quilombolas trabalham de acordo com
determinada cultura e, ao mesmo tempo, ao trabalharem, produzem e
reproduzem sua cultura. Como elemento de mediação com o meio natural, o
trabalho de produzir a vida associativamente tem como objetivo o
desenvolvimento das próprias pessoas, entendidas como parte integrante e
inseparável da natureza. (COSTA, 2017).
De acordo com o Artigo 2º do Decreto 4.887/2003, os territórios
quilombolas são terras ocupadas por remanescentes quilombolas, os quais tem
a finalidade de assegurar seus direitos, garantindo sua reprodução física,
social, econômica e cultural. O qual possui vínculo direto com a ancestralidade
negra, terras enriquecidas de características culturais, ideológicas, valores e
práticas. Esse território é construído e elaborado a partir da história, vivências,
de enorme teor simbólico. (INCRA, 2017).
As comunidades constituídas de remanescentes quilombolas
apresentam características étnicas específicas, mantidas ao longo do tempo,
por meio da organização de seus grupos ou pela força da memória que
fortalece a sua identidade. Esses grupos se organizam como novas unidades
de produção que em nível local ou regional reordenam o sistema da
propriedade e os usos das terras em diversos sentidos, estabelecendo padrões
sociais de produção agrícola ou animal. (ARAÚJO et al., 2021).
No Estado do Pará o órgão responsável pela titulação dos territórios
quilombolas em terras estaduais é o Instituto de Terras do Pará (ITERPA),
criado em 1975, por meio da Lei nº 4.584. De acordo com dados do instituto,
foram tituladas 53 áreas que correspondem a território quilombola, sendo o
Pará, o estado brasileiro que mais titulou essas áreas. Mostrando assim,
depois de décadas, um pequeno avanço no desenvolvimento e reconhecimento
histórico da população negra quilombola do país. (SEPLAN, 2018).
No âmbito do estado do Pará o reconhecimento do domínio das terras
quilombolas se encontra expressamente previsto no art. 322 da Constituição
Estadual, sendo regulamentado pela legislação e normas internas do ITERPA,
responsável pela execução da política territorial quilombola. De acordo com
Treccani (2006), o reconhecimento de domínio das comunidades
remanescentes de quilombos no Pará representa um marco para os
movimentos sociais não só em nível estadual, mas com impacto em todo o
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Brasil. Com o término da escravidão indígena, a entrada dos negros no Pará foi
incentivada e fomentada pelos governantes, simultâneo à intensificação do
combate aos quilombos.
Os remanescentes de quilombo são definidos como grupos étnico-
raciais que tenham também uma trajetória histórica própria, dotado de relações
territoriais específicas, com presunção de ancestralidade negra relacionada
com a resistência à opressão histórica sofrida, e sua caracterização deve ser
dada segundo critérios de auto atribuição atestada pelas próprias
comunidades, como também adotado pela Convenção da Organização
Internacional do Trabalho (OIT) sobre Povos Indígenas e Tribais (RESILIÊNCIA
QUILOMBOLA, 2020).
Mais recentemente, o estado do Pará, ao criar políticas públicas voltadas
para comunidades remanescentes de quilombo, mostra-se sensível às
demandas históricas dessas comunidades. A exemplo de programas
específicos como os programas Raízes e Pará Quilombola, bem como os
conselhos e planos compõem as condições normativas para a distribuição
territorial das comunidades remanescentes de quilombo e, dessa forma,
valorizar suas tradições que se manifestam através de seu território.
De fato, o governo paraense, desde a promulgação do Artigo 68 do
ADCT, empenha-se em criar condições e possibilidades normativas e
institucionais para melhorar a qualidade de vida das comunidades
remanescentes de quilombo. Neste intervalo, a criação de programas e do
Plano Estadual de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (PEPPIR) revela
que o estado do Pará está em sintonia com o moderno sistema jurídico
nacional e internacional e, portanto, tem um plano que irá tratar dos assuntos
direcionados a toda população negra do estado.
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Maria de Muraiteua, o escritório local da Emater presta assistência técnica a
outras cinco comunidades quilombolas no município: Comunidade Santa Rita
de Barreiras e Comunidade Fátima do Crauateua (ambas já tituladas);
Comunidade Menino Jesus e Comunidade Canta Galo (em processo de
titulação) e a Comunidade São Luís. (EMATER, 2021).
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A Comunidade Quilombola Menino Jesus, fica localizada no KM 20 da
PA 322, adentrando ao Ramal Pueirinha, município de São Miguel do Guamá.
Também conhecida como Pueirinha, devido ao PEC – Pueirinha Esporte Clube
e ao Campo de futebol, localizado no arraial da comunidade. Apresenta uma
área total de aproximadamente 288, 9449 há.
Na década de 1980 houve um fluxo migratório da comunidade para a
cidade de São Miguel do Guamá. Famílias inteiras ou integrantes de famílias
da comunidade venderam seus lotes a caminho da cidade. Lá ocuparam os
bairros periféricos.
21
- Atividade - Atividade - Atividade - Atividade
principal: Manejo principal: principal: principal:
do açaí; Agricultura; Agricultura; Agricultura;
- Área total de 800, - Área total de 746, - Área total de - Área total de
4184 há. 7239 há. 371,3032 ha. 288,9449 ha.
Fonte: MALCHER, 2017.
4 METODOLOGIA
22
consistente com suas prioridades de singularidade e contexto (STAKE, 2011, p.
41).
A pesquisa quantitativa é caracterizada pelo uso da quantificação, tanto
na coleta quanto no tratamento das informações, utilizando-se de técnicas
estatísticas (RICHARDSON, 1989). Objetiva a aquisição de resultados que
evitem possíveis distorções de análise e interpretação e que possibilitem a
maximização da margem de segurança (DIEHL, 2004). De modo geral, a
pesquisa quantitativa é passível de ser medida em escala numérica
(ROSENTAL; FRÉMONTIER-MURPHY, 2001).
A coleta de dados é realizada através de questionários que apresentam
variáveis distintas, cujas análises são geralmente apresentadas através de
tabelas e gráficos (FACHIN, 2003). Nesse tipo de pesquisa, a representação
dos dados ocorre através de técnicas quânticas de análise, cujo tratamento
objetivo dos resultados dinamiza o processo de relação entre variáveis
(MARCONI; LAKATOS, 2011).
Para quantitativa, foi utilizado um questionário para coleta de dados,
com três itens principais: a) Perfil social, que contemplou os seguintes temas:
nome completo, estado civil, faixa etária, número de pessoas na propriedade,
grau de escolaridade; b) Perfil econômico, que considerou a renda
(financiamento/empréstimo), se houve algum benefício social como bolsa
família e outros, qual foi a principal atividade econômica, renda derivada do
extrativismo e organização associativa local e c) Perfil ambiental das
comunidades estudas para identificar os impactos ambientais causada pelas
uso continuo da terra. A entrevista é um encontro entre pessoas, a fim de que
uma delas obtenha informações a respeito de determinado assunto, mediante
uma conversação de natureza profissional (Marconi & Lakatos, 2010).
As identidades dos participantes foram mantidas em sigilo, garantindo
seu anonimato e confidencialidade das informações.
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posteriormente, em função da ideia geral do pensamento apresentado pelos
agricultores em relação a cada ponto que foi questionado.
O tipo de pesquisa deste estudo é qualitativo, visto que se utiliza da
interpretação subjetiva de informações textuais elaboradas com teor científico.
O procedimento técnico utilizado coaduna-se com a pesquisa bibliográfica, pois
se realiza um levantamento de artigos e capítulos de livros científicos dispersos
em inúmeros periódicos que contenham uma avaliação blind review de pares.
Mayring (2002) descreve quatro maneiras de gerar dados no contexto da
pesquisa qualitativa: (i) dados verbais por meio de entrevista centrada num
problema, (ii) entrevista narrativa, (iii) grupo de discussão e (iv) dados visuais
por meio da observação participante.
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veio acontecer, de fato, em dezembro de 1961, por meio da lei estadual n°
2.460, quando o distrito de Bonito foi elevado à categoria de município. (LEITE
et al., 2014).
O município de São Miguel do Guamá pertence à Zona Guajarina e
abrange uma área de 1341 Km², na região Nordeste, sendo cortado pelo rio
Guamá, de Oeste para Leste, onde, em sua margem esquerda, situa-se a sede
do município. A sede distancia-se 150 km de Belém, sendo incluída no pólo
Guamá. Apresenta como limites: Santa Maria do Pará e Bonito ao Norte;
Ourém a Leste; São Domingos do Capim e Irituia ao Sul e Inhangapi e
Castanhal a Oeste (SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO, CULTURA,
DESPORTO E TURISMO, 1999). População estimada de 59.632 pessoas (IBGE,
2020).
A Economia de São Miguel do Guamá, é baseada na Fabricação de
Tijolos e Telhas, no qual existem em média cerca de 50 Indústrias, produzindo
aos meses cerca de 30 milhões de Tijolos e 8 milhões de telhas, sendo
vendidas para todas as Regiões do País, as maiores Indústrias São Cerâmica
Barreira, Barbosa, Cemil e Kamiranga. O setor madeireiro também impulsiona
a economia da cidade, as dezenas de serrarias abastecem boa parte do país
com diversos tipos de madeiras para construção. (PREFEITURA DE SÃO
MIGUEL DO GUAMÁ, 2015)
A formação do território guamaense, assim como o desenvolvimento e
crescimento da atividade industrial ceramista, esteve ligado a fatores internos e
externos ao lugar. O crescimento econômico no interior da atividade cerâmica e
o aumento no número de indústrias produtoras de telha e tijolo em São Miguel
do Guamá estão diretamente ligados à modernização produtiva (gestão
empresarial e inserção de máquinas e equipamentos) ocorridas no interior das
empresas. Esse fato coloca o território Guamaense como o possuidor do
espaço mais moderno e eficaz de/na produção de cerâmicas vermelhas do
Norte do Brasil. (CORDOVIL et al., 2011).
25
Mapa 1: Localização da àrea de estudo.
26
melancia e o milho tanto em quantidade de área plantada e valor da produção
anual, de banana, laranja, coco baia e pimenta do reino. Os principais produtos
advindos do extrativismo vegetal no município é o açaí e a madeira, sendo que
os principais produtos madeireiros são o carvão vegetal, a lenha e a madeira
em tora, com grande destaque para a lenha, sendo esta usada como fonte de
combustível nos fornos das cerâmicas. (LEITE et al., 2018)
São Miguel do Guamá é um município brasileiro do estado do Pará.
Localiza-se a uma latitude 01º37'36" sul e a uma longitude 47º29'00" oeste,
estando a uma altitude de 10 metros. Possui uma área de 1094,839 km². A
cidade conta com os distritos de Caju, Urucuri, Urucuriteua e o distrito-sede,
que é identificado pelo próprio nome do município. (DECRETO nº 001/2017-
GP).
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valores sociais concretos e simbólicos que reproduzem uma realidade às vezes
destoante da que está sendo “capturada”.
O transporte utilizado para chegar na comunidade quilombola pode ser
feito através de carro, moto, bicicleta, carroça e ônibus.
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grilado a terra e vendido para terceiros que por sua vez fez o pico do terreno
adentrando massivamente no sitio de D. Joca, uma narrativa muito comum no espaço
agrário amazônico, evidenciada por Loureiro e Pinto (2005, p.81):
29
forma morar na cidade de São Miguel do Guamá. Segundo alguns moradores,
em decorrência do isolamento e da falta de transporte a comunidade pouco
tinha contatos com outras comunidades e com a sede do município. Somente
com a construção da estrada para transportar seixo e areia explorados nos
arredores da comunidade: “antigamente, no verão era bom, tinha um
caminhozinho seco, mas no inverno a gente tinha que passar pelo rio, como
uma chuva alagando tudo e as vezes até a gente passava nadando ou de
canoa quando tinha” (ADINKRAHENE, QUILOMBOLA DE SÃO MIGUEL DO
GUAMÁ, 2017).
A ampliação de acesso aos serviços de transporte e comunicação
sempre foi um dos grandes desafios da comunidade, onde no passado parecia
ser mais difícil, no entanto não anula as dificuldades de acesso no presente. Na
comunidade existe uma organização dos trabalhos da Igreja Cristã Católica,
onde existe grupos de evangelização, catequese, crisma, pastoral da criança,
dizimo e muitos destes trabalhos são liderados por mulheres e homens.
Todo movimento social se configura a partir daqueles que rompem a
inércia e se movem, isto é, mudam de lugar, negam o lugar que
historicamente estavam destinados em uma organização social, e
buscam ampliar os espaços de expressão que, como já nos alertou
Michel Foucault, têm fortes implicações de ordem política. (PORTO
30
Figura 2: Igreja Da Comunidade Santa
Rita.
31
5.1 ORGANIZAÇÃO PRODUTIVA
32
do camponês com a terra, seja esta nuclear ou extensa, onde a família se
envolve nas diversas tarefas produtivas, visando a reprodução física e social do
grupo.
O modo de vida dessas comunidades quilombolas está embasado nas
relações que têm com a terra, o trabalho e a família. Estas práticas sócio
espaciais demandam formas de organização e apropriação que se disseminam
de diversas formas a partir da territorialidade destes sujeitos, sendo
concretizadas em ações distintas no território.
Considerando que o grupo populacional mais elementar tem sido a
família quilombola, onde os laços de parentescos e de solidariedade são
usualmente mais estreitados, parece um tanto adequado que se pense a
unidade de produção familiar como ponto de partida para uma socialização e
cooperação mais efetiva para formulação das estratégias de resistência para
enfrentar não só os rigores climáticos, mas os avanços das fronteiras agro-
monocultora-pecuária/mineral/madeireira que sempre tem estado na
vanguarda, no processo de opressão continuada as comunidades quilombolas
mais fragilizadas, em sistemas onde a hierarquização e a busca do lucro
incessante tem sido a tônica.
O maior envolvimento e concentração destinados ao tempo de trabalho
se voltam a preparar “roças” de três ou quatro tarefas. Estas representam uma
das práticas mais antigas elaboradas como estratégia de territorialidade dos
grupos étnicos na Amazônia e se caracteriza pela sistematização de
conhecimentos agroecológicos, do clima, dos solos, das estações.
A perda e “enfraquecimento da terra” são reconhecidos pelos
quilombolas e isto os leva a elaborar estratégias diversas. De vários anos para
cá aumentou produção de mandioca. A organização e formas de cultivo em
consórcios, o regime de “coivara” e a utilização de adubos naturais em
Santa Rita da Barreira não tem solução de continuidade.
De acordo com o levantamento feito em campo, a roça vem perdendo
espaço para outras atividades como os “bicos”, assalariamento nas indústrias
de cerâmicas e o recebimento de benefícios públicos. As unidades familiares
que não dispõem da agricultura ou que cultivam no máximo três “tarefas” é alto.
Eles desistem do cultivo por indisponibilidade de trabalhadores ou pelo
“enfraquecimento da terra” e passaram a buscar outras estratégias mais
33
imediatas.
As limitações de abrir “roça” são correlatas com outros afazeres em que
os jovens se inserem. O fato é que as famílias que ainda trabalham com as
roças apresentam um melhor desempenho financeiro em relação às que
abandonaram o cultivo. Isto interfere no corpo comunitário, pois o dia a dia das
roças envolvia adultos, jovens e crianças e marcava os laços de solidariedade
e a relação de pertencimento.
No cultivo de roças, o empreendimento ainda se sustenta com a
participação direta de homens, mulheres e crianças que executam tarefas
contínuas que vão desde a preparação da terra até a venda dos derivados da
mandioca na feira de São Miguel do Guamá ou até mesmo na propria
comunidade. Nas complicações de cada etapa, as crianças executam serviços
complementares ou mais simples ao mesmo tempo em que aprendem e
reproduzem o conhecimento em um processo de ensino e aprendizagem como
observa Acevedo Marin (1998).
O manuseio da mandioca recém colhida no processo de “descasca”
exige o uso de vestimentas simples e contato direto com as raízes, a exposição
de pés e mãos e a disposição sentada no chão dos membros das famílias.
A interpretação de Acevedo Marin e Castro apresenta uma luz sobre a
racionalidade em adotar outras estratégias diante situações adversas que
dizem respeito ao trabalho na roça.
A percepção da terra comum e não privada tem um papel importante
nesses deslocamentos. Em tempos não estritamente regulares, o grupo
doméstico procura se mobilizar em direção a lugares onde os alimentos
desejáveis ou suas fontes estejam o mais próximo possível de seu lugar
de residência. Sua permanência no mesmo lugar encontra limites nas
condições do próprio meio natural. O ponto central dessa estratégia é o
aumento do tempo do trabalho e o gasto de energia necessário para
alcançar a distância entre o local de habitação e o local de trabalho. Há
uma racionalidade que busca compensar, pela economia de tempo e
esforço, as dificuldades impostas pelo uso de tecnologias rudimentares.
(ACEVEDO MARIN e CASTRO, 1998, p. 170)
A aproximação das “roças”, a utilização de outros meios de
armazenamento improvisados e a confecção de hortas cada vez mais próximas
às unidades familiares demonstram restrições de trabalhadores, recursos e
meios de produção, simbolizando também mudanças quanto às dimensões
34
métricas e concepções de espaço e tempo de execução dos serviços. As
etapas de plantio e limpeza das roças ficaram onerosas, em vários casos
necessitam fazer empreitada por tarefa para fazer a capina.
Os cultivos destas espécies envolvem um sistema de consórcio com até
três espécies como mandioca, milho e feijão. Algumas sementes são
armazenadas em garrafas de vidros e podem ser compradas ou adquiridas
gratuitamente na EMATER, com o compromisso de devolver a mesma
quantidade de sementes após a primeira colheita. A destinação maior é para
consumo doméstico e em situações esporádicas praticam a venda à beira do
ramal ou na feira de São Miguel do Guamá, aos sábados. Com a aproximação
das roças, as casas do arraial, com maior circulação de pessoas, algumas
plantações ficaram vulneráveis às ações de pessoas que saqueiam as hortas e
roças.
O cultivo principal é a mandioca beneficiada para produzir farinha de
tapioca, farinha e massa de mandioca para o preparo de tapioca e beiju; o
tucupi não é aproveitado. Entre estes produtos a farinha d’água (Figura 4)
destaca-se como derivado principal. O processo de preparação da terra,
plantação, colheita e beneficiamento da mandioca se processam em diversas
etapas e envolvem todos os membros da família em trabalhos específicos
individuais e coletivos de base comunitária ou familiar.
Figura 4: Produto da mandioca
35
coletivo. Possui três fornos sendo dois “tradicionais” e um “elétrico”. O uso dos
fornos pelas famílias é acordado para evitar congestionamento na hora de
preparo da farinha. Antes da construção do forno elétrico era necessário
contratar pessoas, quando se pagava uma diária, para torrar a farinha, com a
inclusão da energia elétrica e do maquinário específico para triturar, prensar e
mexer a farinha as famílias passaram a economizar com o número de
trabalhadores.
Algumas famílias não usufruem da “casa de farinha” localizada no
“arraial” devido à distância, além de que, também necessitariam de igarapés
próximos para colocar a mandioca de molho. Mesmo que o melhoramento da
“casa de farinha”, destinado para o usufruto coletivo, as condições físicas e
outras limitações relacionadas à distribuição das famílias no território
inviabilizam esse usufruto coletivo.
Por isso, outras “casas de farinha” foram construídas com estrutura mais
simplificadas e mais afastadas do “arraial”. Instalados de cima para baixo na
comunidade sem a devida consulta e participação dos agentes sociais os
“projetos ditos de etno-desenvolvimento” descuidaram das informações
estratégicas sobre necessidades e facilidades do território. As inovações
técnicas instaladas com a chegada dos projetos continuaram sendo
acompanhadas pelas práticas tradicionais de transporte e demais etapas de
produção.
36
Organização das Nações Unidas, na Noruega, que apresenta a definição de
desenvolvimento sustentável como aquele que supre as necessidades da
geração presente sem prejudicar as necessidades das gerações futuras.
(MOLINA, 2019).
Desenvolvimento sustentável é considerado a opção capaz de combinar
segurança e geração de riqueza. Nos países periféricos, a luta contra a
pobreza vem impulsionando uma nova corrida à exploração dos recursos
naturais, o que vem tornando ainda mais dramática a importância da
sustentabilidade e a capacidade de composição de conflitos. Sustentabilidade
é, assim, uma forma de interações entre mudanças econômicas, sociais e
ambientais, juntando o desenvolvimento econômico ao social, bem como a
conservação dos recursos para o futuro. (MACEDO, 2015).
As populações tradicionais possuem um modo de organização social e
econômico muito diferenciado em relação às populações urbanas e
industrializadas. Elas têm profundo conhecimento da Natureza e sua forma de
exploração dos recursos naturais, que caracteriza e mantém o seu modus
vivendi, se processa em íntima relação com esse saber e como espaço,
sentido por estes grupos com o ator de identidade, local de pertencimento,
onde eles reproduzem seus mitos e sua cultura. Assim, as atividades
econômicas desenvolvidas por estas comunidades guardam uma forte relação
de dependência para com a natureza e o seu modo de explorá-la é baseado
em tecnologias simples, que oferecem um impacto destrutivo menor ao meio
ambiente, vez que têm por finalidade a subsistência. (MACEDO, 2015).
As comunidades tradicionais ocupam territórios com recursos naturais e
detêm conhecimentos associados à biodiversidade com grande aptidão para se
transformarem em produtos, processos e inovações tecnológicas. Esse
conhecimento é um patrimônio da comunidade para trazer benefícios diretos ao
seu desenvolvimento, sujeito à justa remuneração, mediante repartição de
benefícios. (TURINE et al., 2017). As comunidades remanescentes de
quilombos são perfeitamente passíveis de serem consideradas comunidades
tradicionais, assim como os indígenas, as caiçaras, ribeirinhos, extrativistas etc.
(BERTOLDI, 2018).
Segundo Macedo (2014) A adoção das dimensões do desenvolvimento
sustentável na agricultura permite pensar na emergência de um modelo que se
37
opõe ao convencional, chamado de desenvolvimento rural sustentável ou
desenvolvimento agrícola sustentável. O desafio do desenvolvimento rural
sustentável consiste em dotar as populações vivendo nas áreas rurais das
prerrogativas necessárias a que sejam elas as protagonistas centrais da
construção dos novos espaços.
Enquanto no conflituoso mundo urbano tecnológico a população
cosmopolita para sobreviver a estresses necessita de espaço-tempo derivados
de super-heróis ou espaços virtuais, em muitos territórios quilombolas da
Amazônia há um respeito pelos olhos das florestas. Respeito aos horários em
que os “encantados” podem nos atrair para os fundões dos rios. Respeito para
seguir aguçando os ouvidos para os assovios da Matinta Pereira e tratar de
deixar tabaco para ela. Respeitar e cuidar para não deixar o Mapinguari ou
Curupira faça que te percas quando na mata fechada.
Respeitar e olhar com cautela para estranhos na festa, pois pode ser um
boto traiçoeiro. Respeitar os rios e igarapés, as Iaras-que são “Oxum”
também-, avolumam as águas quando passam. Respeitar e cuidado para evitar
a cobra grande ou pequena faz sentido. É também importante evitar comida
“reimosa” para manter a saúde e alongar o viver. O imaginário nos territórios
quilombolas ainda é fértil e não fosse a ganância, a crueldade inerente ao
modo de produção capitalista que empurram as fronteiras quase que
inexoravelmente, seria mais fácil que um certo tipo de bem viver quilombola
prevalecesse por aqui. (FUNDAÇÃO PALMARES, 2004).
38
1948 a 1964, tempo este marcado por um cenário internacional de Guerra Fria
e nacional de industrialização do país. Havia a preocupação por parte dos
norte-americanos capitalistas de que o ideário comunista do bloco oposto
atingisse o Brasil. O “perigo vermelho” ameaçava o mercado consumidor de
produtos industrializados dos Estados Unidos, ameaçava, também, sua fonte
de matérias-primas vindas do Brasil. Segundo Portilho (1998), o temor norte-
americano de que o “perigo vermelho” se espalhasse pela América Latina e
pudesse comprometer seus interesses econômicos, políticos e ideológicos,
possibilitou que a educação informal fosse viabilizada por meio da implantação
e da institucionalização dos serviços de extensão rural, no caso, o surgimento
da Associação de Crédito e Assistência Rural (ACAR).
39
Humano à Alimentação Adequada (DHAA) por meio da alimentação escolar,
indo ao encontro das metas dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio
(ODM) (LIBERMANN; BERTOLINI, 2015).
O PNAE tem como principal objetivo proporcionar aos estudantes uma
alimentação digna, que garante minimamente, uma nutrição segura e de
qualidade, o programa proporciona aos mesmos um exercício de cidadania e
melhoria da qualidade de vida. E para isso, o Programa Nacional de
Alimentação Escolar tem como busca prestar auxílio financeiro adicional aos
estados e municípios brasileiros com o objetivo de garantir uma refeição diária
a cada aluno matriculado em escolas públicas e/ou filantrópicas. (FERREIRA
et al., 2019)
O Programa de Aquisição de Alimento foi Criado pela Lei n° 10.696, de 2
de julho de 2003, e alterada pela Lei nº 12.512, de 14 de outubro de 2011, é
uma política pública que apresenta como focos centrais o incentivo à
agricultura familiar e o combate à insegurança alimentar e nutricional. O PAA
tem, entre seus objetivos principais, promover a inclusão produtiva dos
agricultores mais pobres e garantir à população o acesso à alimentação
saudável. (SAMBUICHI et al., 2020)
As políticas direcionadas para o meio rural, percebe-se a relevância do
PRONAF (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar), no
qual se estabelecem propostas que objetivam o desenvolvimento rural
sustentável, almejando a melhoria da qualidade de vida dos agricultores
familiares.
Para o cumprimento desse propósito, as ações do programa consideram,
implicitamente, a relevância da formação de capital humano e social no
meio rural. A tentativa de formar esses estoques, no programa, relaciona-
se às atividades ligadas ao incentivo a associações, conselhos e
cooperativas rurais, e serviços de Assistência Técnica e Extensão Rural
(Ater) para os produtores familiares (SILVA; BERNARDES, 2014, p. 740).
6 RESULTADO E DISCUSSÕES
40
organizadas em forma de semicírculo, com vegetação de grande porte no
entorno; mais ao centro, a igreja e a caixa d’água.
A receptividade foi muito boa. As conversas preliminares foram
entabuadas com o Sr. I., Sr. F. S. N. (60 a.), Ex-Presidente da Associação. Na
oportunidade foi possível explanar os objetivos da pesquisa, devidamente
documentado, e posteriormente receber a autorização para realizar a pesquisa
de campo.
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Entrevistador: Qual a forma de divisão de trabalho na propriedade? Se tem
aqueles responsáveis por plantar, responsável pela colheita, responsável pela
mão de obra para fazer os produtos.
FSN: Não, aqui funciona a agricultura familiar, então cada família planta e
produz. No caso, a maior produção aqui é da maniva (Manihot esculenta), ou
seja, o produto final é a farinha.
Entrevistador: Então, todo mundo se envolve do começo até o final da
produção?
FSN: Isso.
No trabalho de Faro (2019), o papel das mulheres em uma comunidade
é bastante relevante, tendo uma participação histórica na formação e
autonomia desse povoado. A capacidade que às mulheres têm para tomar
decisões e participar em órgãos de poder a nível local, do ciclo da sua vida, do
seu estatuto e posição social, da vida em meio urbano ou rural, da crença
religiosa professada pelo grupo familiar, da sua educação, das suas vivências e
das experiências históricas da sua região.
A organização social da produção agrícola baseada no trabalho familiar
favorece a conciliação entre a complexificação desejada, resultando uma
agricultura ambientalmente sustentável, por causa de sua produção
diversificada, integrando atividades da agricultura e pecuária (ASSIS e
ROMEIRO, 2005)
Entrevistador: A propriedade é especializada em termo de produção? Você
disse que a especialidade é a farinha, nesse aspecto já existe algum
maquinário tecnológico mais avançados para ajudar nesse processo?
FSN: Não, na questão do plantio ainda é a forma tradicional, broca, queima e
eventualmente temos algumas áreas arada, mas não são todos os anos. E a
questão do maquinário só tem agora a casa de farinha, que a gente tem um
forno elétrico e os motores que trituram a mandioca. (Figura 5)
A “casa de farinha” está localizada no arraial da comunidade e é de uso
coletivo. Possui três fornos sendo dois “tradicionais” e um “elétrico”. O uso dos
fornos pelas famílias é acordado para evitar congestionamento na hora de
preparo da farinha.
42
A introdução dos meios tecnológicos (forno e catitu elétricos) na casa de
farinha da referida comunidade estudada, a partir da implantação da energia
elétrica, no ano de 2007, fez com que aumentasse a produção de farinha, uma
vez que antes ela era somente destinada à subsistência e, raramente, o que
excedia era o que eles levavam para o mercado na cidade. (SANTOS, 2018)
43
Fonte: Autor, 2021.
44
FSN: O plantio é feito no início do ano geralmente em janeiro a fevereiro. E
agora nesse período (meio do ano) agora no mês de maio, junho e julho,
também é feito plantio. Quem planta milho por exemplo (janeiro planta milho
também, final de dezembro e janeiro) até agora no final de maio temos famílias
que plantam feijão, melancia, nesse período agora.
Segundo Slack et al. (1997) o controle está ligado diretamente ao
monitoramento do que realmente aconteceu, à comparação com o plano pré-
estabelecido e às ações para providenciar as mudanças necessárias para o
realinhamento do plano
Entrevistador: É realizado algum controle da oferta e da demanda dos
produtos, por exemplo, vocês em algum momento produzem naquele período
que sabem que uma empresa vai comprar de vocês ou de repente a própria
prefeitura, pela secretaria de agricultura. Tem esse planejamento?
FSN: Tem, por que assim, como a associação tem alguns membros que
fornecem para a prefeitura, o programa nacional de alimentação escolar
(PNAE), então eles se preocupam com o período que a prefeitura vai pedir os
alimentos, são aqueles que participam da chamada pública, por isso já ficam
atentos.
O PNAE passou a garantir, de maneira suplementar, por meio de
transferência direta, os recursos financeiros para a alimentação escolar dos
alunos da educação básica, matriculados em escolas públicas, filantrópicas e
comunitárias, inclusive nas escolas localizadas em comunidades indígenas e
em comunidades remanescentes de quilombos. (BRASIL, 2015)
Entrevistador: Então a produção é planejada?
FSN: Sim, principalmente na questão de hortaliças, na questão de melancia, a
farinha não por que não estamos fornecendo por que precisa de selo e nós não
temos aqui, e também como a gente tem a associação, já teve uns três ou
quatro projetos do CONAB, então quando se envia um projeto para lá, já
ficamos com a expectativa de ser aprovado e todo mundo já começa a se
preocupar com o plantio de hortaliças e frutas em geral.
Segundo Mota (2019) um bom planejamento requer uma visão
adequada do futuro e é baseado em expectativas relativas ao que se pretende
alcançar. Porém o mesmo pode tornar-se inviável no decorrer do processo
produtivo, devido ao surgimento de possíveis variáveis.
45
Entrevistador: A respeito também dessas atividades produtivas. Elas são de
alguma forma financiadas. Exemplo, precisa de algum recurso para custear
essa atividade de vocês, ou existe algum seguro de produção para de repente
vim uma forte chuva, uma seca que não estava prevista, mas para vocês não
saírem no prejuízo dessa colheita, existe na comunidade alguma espécie de
financiamento?
FSN: Não, não tem, as famílias trabalham com seus próprios recursos.
Segundo a EMBRAPA (2005) em 1995, com base no Programa de
Valorização da Pequena Produção Rural (Provape) e por meio da Resolução
CMN/Bacen nº 2.191, foi instituído pelo Governo Federal o Programa Nacional
de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), com uma linha de
financiamento de custeio agrícola. Assim, o produtor possui um apoio financeiro
para custear a sua produção caso ocorra imprevisto em sua safra.
Quarto bloco de perguntas: Aquisições
46
aplicação como uma caderneta financeira (de poupança), que fica guardada
para caso alguma emergência vier acontecer, algum problema na produção.
FSN: É assim, a associação não tem uma reserva financeira.
Entrevistador: Mas a associação já tem CNPJ?
FSN: Sim. Quando a necessidade de algum tipo de “aperreio” pra assumir um
compromisso, se faltar algum dinheiro, geralmente procura algum amigo que
possa dar esse apoio, mas dinheiro mesmo tipo poupança não tem, algumas
famílias raramente têm, mas é uma coisa particular.
Entrevistador: A propriedade, no caso a comunidade possui algum controle de
custo de produção, ou seja, para ter esse equilíbrio se produz demais ou de
menos para não ter, digamos a perca de produto demasiadamente ou não ter
um mercado que vá consumir essa produção, existe algo para esse controle?
FSN: Não, ainda não temos preocupação peara esse controle.
Segundo Santos (2009) o estoque de segurança ou estoque de produto
é para suprir um determinado período, além do prazo de entrega para consumo
ou vendas, prevenindo possíveis atrasos na entrega por parte do fornecedor e
garantindo o andamento do processo produtivo caso ocorra um aumento na
demanda do item.
Entrevistador: Como é realizado o controle de custo da propriedade?
Exemplo, tem algum maquinário, vocês fazem essas anotações no caderno,
tipo já é cobrado alguma coisa da associação, como energia, água, possui
algum acompanhamento, ou um gerador? Como é que é feito? Se é ligado só a
tarde ou só de manhã. Existe algum controle em relações a essa questão?
FSN: É por exemplo a casa de farinha, ela é movida a energia
convencional, então é cobrado de cada pessoa que vai fazer a farinha uma
taxa por saca de farinha, que é para poder dar a manutenção, pagamento de
energia, de alguma correia que quebrar ou que dar problema, é dessa forma,
então tem uma pessoa responsável para fazer anotações no final, que cada
família terminar de fazer a sua farinha para depois prestar conta do valor que
eles vai pagar, se são duas sacas ou três sacas e assim por diante, a mesma
coisa acontece com a bomba da água, a gente fez uma organização que cada
duas famílias paga um talão de energia por mês, temos uma escala de dezoito
meses e no final de dezoito meses a gente renova, ai continua com o quem
47
pagou primeiro, a família que estava lá atrás reinicia a nova relação, assim que
funciona.
48
Figura 7: Farinha temperada
Entrevista – Parte 2
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS
49
Com base na premissa, fundamentos e argumentos propostos ao longo
do trabalho, pontuam-se as principais conclusões. Durante a minha pesquisa
sobre a temática de produção comunidades quilombolas percebi que ainda
falta muito para que esses povos consigam crescer e evoluir em aspecto de
produção e educação, a maioria dos pequenos agricultores ainda não
conhecem grande parte dos programas existentes que são voltadas para eles,
porem o Estado ainda tem dificuldades para atender as demandas de
comunidades quilombolas tituladas. Grande parte desses produtores também
não possuíam noção sobre os benefícios da DAP e do CAR, o que acabou
mostrando a ausência do Estado e das políticas públicas que tenham os
objetivos garantir-lhes condições de um bem viver sem sobressaltos e
oportunidades básicas de usufruir dos seus direitos.
Atualmente, a EMATER e a Secretaria de Agricultura Municipal
estabeleceram uma relação conjunta para a realização de projetos e
cadastramento nas comunidades aos arredores do município de São Miguel do
Guamá, parte das ações são interpostas as visitas técnicas e as determinações
definidas pelos calendários das respectivas instituições.
Mesmo produzindo outras culturas, a comunidade quilombola Santa Rita
de Barreira é mais voltada para o manejo da mandioca, onde é utilizado a
massa depois da raspagem das raízes, após a trituração da massa tem-se a
separação do “tucupi” e assim inicia a peneiração da massa até o ponto certo
para leva-lo ao forno. Contudo, a produção não é apenas em relação
socioeconômico e sim tendo todo uma história de ancestralidade vivida pelas
famílias, onde é passado de geração a geração.
A relevância de adentrar neste universo perpassa pela invisibilidade dos
estudos relacionados às comunidades quilombolas. O modo de vida dessas
comunidades é uma dinâmica que impulsiona a adentrar neste campo de
pesquisa e analisar a temática quilombola de forma mais ampla, a partir de
duas situações empírica de mesma estética que falam por si só, para além de
evidências teóricas.
O resultado desta pesquisa aponta para a necessidade de elaboração
ou proposição de políticas públicas socioeconômicas e agroecológicas que
contribuam ainda mais para o desenvolvimento da comunidade.
50
51
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1 Nome(opcional)
2 Idade
3 Posição na familia
4 Quantas pessoas moram na propriedade
5 Possui um responsável pela gestão da propriedade?
( ) Sim
( ) Não.
Se “sim”, quem?
6 Qual o seu nível de escolaridade do responsável pela gestão?
( )Analfabeto
( )Ensino Fundamental
( )Ensino Médio
( )Superior incompleto
( )Superior completo.
Bloco 2: características da propriedade
7 Qual a forma de divisão de trabalho na propriedade?
8 A propriedade é especializada em termos de produção?
( ) sim
( ) não. Qual?
9 O que se produz na propriedade?
10 Qual a principal fonte de renda familiar?
( ) Leite
( )Grãos
( ) suínos
( ) Aves
( ) Agroindústria
( ) Outro, cite
NOME:
RG/CPF:
Declaro ter lido as informações acima e estou ciente dos procedimentos para a
realização do Trabalho de Conclusão de Curso, estando de acordo.
Assinatura
, / /2021