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INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DO

MARANHÃO – IFMA CAMPUS CODÓ


COORDENAÇÃO GERAL DOS CURSOS SUPERIORES – (CGCS) CURSO DE
BACHARELADO EM AGRONOMIA

CINDHI LORRANE DOS SANTOS BARROS

ASPECTOS PRODUTIVOS DA COMUNIDADE QUILOMBOLA


SANTA RITA DE BARREIRAS, EM SÃO MIGUEL DO GUAMÁ – PA.

CODÓ/MA
2021
CINDHI LORRANE DOS SANTOS BARROS

ASPECTOS PRODUTIVOS DA COMUNIDADE QUILOMBOLA SANTA


RITA DE BARREIRAS, EM SÃO MIGUEL DO GUAMÁ – PA.

Monografia apresentada ao curso de


Bacharelado em Agronomia do Instituto Federal
de Educação, Ciência e Tecnologia do
Maranhão/IFMA – Campus Codó, MA, como
requisito parcial para a obtenção do grau de
Bacharel em Agronomia.
Orientador:

CODÓ/MA
2021
CINDHI LORRANE DOS SANTOS BARROS

ASPECTOS PRODUTIVOS DA COMUNIDADE QUILOMBOLA SANTA RITA DE


BARREIRAS, EM SÃO MIGUEL DO GUAMÁ – PA.

Monografia apresentada ao curso de


Bacharelado em Agronomia do Instituto Federal
de Educação, Ciência e Tecnologia do
Maranhão/IFMA – Campus Codó, MA, como
requisito parcial para a obtenção do grau de
Bacharel em Agronomia.
Orientador: Prof. Dr. Adjaci Dias De Brito
Co-orientador: Prof. Dr. Wady Lima castro
Júnior

Aprovado em: / _/ Nota:

Banca Examinadora

Adjaci Dias de Brito (Orientador/IFMA)


Professor, Dr. em Agronomia, Universidade de Brasília - UnB

Wady Lima castro Júnior (Avaliador/IFMA)


Professor, Dr. em Engenharia Agrícola, Universidade Federal de Viçosa - UFV

Atônio Alisson Fernandes Simplício (Avaliador/IFMA)


Professor, Dr. em Engenharia Agrícola, Universidade Federal do ceará - UFC
À minha família que sempre está me apoiando nessa jornada.
AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus por ter me fortalecido ao ponto de superar as


dificuldades, e por toda saúde que me deu e que permitiu alcançar
esta etapa tão importante da minha vida.

A minha mãe Marilene dos Santos Barros e avó Carmen Barros


que durante toda as suas vidas, estiveram ao meu lado incetivando
o meu crescimento.

Ao meu pai Gerson Cardoso, minhas tias Maria Jose e Antonia


Lucia, minhas primas Marcia Rafaela e Madila Alana, e minha Irmã
Jamylle Victoria por sempre estarem me apoiando a cada passo da
minha vida.

Ao meus parceiros e amigos Cristina Pereira, Lucas Alexandre,


Carla Araujo, Debora Janine, Mateus Medina, Francisco Gabriel,
pela ajuda e conselhos durante toda a graduação.

Aos meus professores eu agradeço a orientação incansável, o


empenho e a confiança que ajudaram a tornar possível este sonho
tão especial.

Ao Instituto Federal do Marahão Campus Codó que me possibilitou


a continuidade na cidade de Codó atraves de auxilios que eram
disponibilizados e toda sua direção eu deixo uma palavra de
agradecimento por todo ambiente inspirador e pela oportunidade de
concluir este curso.

Aos meus companheiros e orientadores Cicero Rafael e Romario


pela orientação ao longo do Trabalho de Conclusão de Curso.

A todas as pessoas que de alguma forma fizeram parte do meu


percurso eu agradeço com todo meu coração.
Muito obrigada.

EPÍGRAFE

Não há saber mais ou saber menos.


Há saberes diferentes.
Paulo Freire

A atividade mental humana é uma parte, pequena e periférica parte,


da matéria da ciência. É igualmente verdadeiro, todavia, que o todo da
ciência também é somente uma parte (...) da atividade humana.
Geoffrey Vickers
LISTA DE SIGLAS

ACAR – Associação de Crédito e Assistência Rural

ADCT– Ato das Disposições Constitucionais Transitórias

ATER – Assistência Técnica e Extensão Rural

CONAQ –Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras


Rurais Quilombolas

CEDENPA – Centro de Estudos e Defesa do Negro no Pará

DAP – Declaração de Aptidão ao Pronaf

DHAA – Direito Humano à Alimentação Adequada

EMBRAPA – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária

EMBRATER – Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

ITERPA – Instituto de Terras do Pará

MMFDH – Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos

ODM – Objetivos de Desenvolvimento do Milênio

ODS – Objetivos de Desenvolvimento Sustentável

OIT – Organização Internacional do Trabalho

PEPPIR – Plano Estadual de Políticas de Promoção da Igualdade Racial

PNAE – Programa Nacional de Alimentação Escolar

PROVAPE – Programa de Valorização da Pequena Produção Rural

SEPPIR – Secretaria de Promoção da Igualdade Racial da Presidência da


República
RESUMO
A história do Brasil é marcada por diversos processos, interpretações e
enfrentamentos da questão quilombola, a ponto de não deixar dúvida sobre sua
importância na projeção de trajetórias nacionais passadas, presentes ou
futuras. O território quilombola é palco, produto e condição de um modo de
vida, estilhaçado na memória coletiva, e fortalece o sentimento de
pertencimento ao espaço construído pelos escravos que fogem ou não da
fazenda do senhor, e que são privados de direitos de herança ou que
nasceram como escravos. O percurso metodológico consistiu na pesquisa
qualitativa e quantitativa. A metodologia qualitativa “atravessa disciplinas,
campos e temas” e envolve o uso e coleta de uma variedade de materiais
empíricos. A pesquisa quantitativa é caracterizada pelo uso da quantificação,
tanto na coleta quanto no tratamento das informações, utilizando-se de
técnicas estatísticas. Durante a minha pesquisa sobre a temática de produção
comunidades quilombolas percebi que ainda falta muito para que esses povos
consigam crescer e evoluir em aspecto de produção e educação, a maioria dos
pequenos agricultores ainda não conhecem grande parte dos programas
existentes que são voltadas para eles, porem o Estado ainda tem dificuldades
para atender as demandas de comunidades quilombolas tituladas.

Palavras-chaves: Quilombos Paraenses; Pará; Santa Rita de Barreiras


ABSTRAT

The history of Brazil is marked by several processes, interpretations and


confrontations of the quilombola issue, to the point of leaving no doubt about its
importance in the projection of past, present or future national trajectories. The
quilombola territory is the stage, product and condition of a way of life, shattered
in the collective memory, and strengthens the feeling of belonging to the space
built by the slaves who flee or not from the lord's farm, and who are deprived of
inheritance rights or who were born as slaves. The methodological path
consisted of qualitative and quantitative research. The qualitative methodology
"crosses disciplines, fields and themes" and involves the use and collection of a
variety of empirical materials. Quantitative research is characterized by the use
of quantification, both in the collection and treatment of information, using
statistical techniques. During my research on the theme of production
quilombola communities realized that there is still a long way to grow and
evolve in production and education aspect, most smallfarmers still do not know
much of the existing programs that are aimed at them, but the state still has
difficulties to meet the demands of quilombola communities titrated.

Keywords: Quilombos Paraenses; Para; Santa Rita de Barreiras


SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO...........................................................................................1
2. OBJETIVOS...............................................................................................2
2.1 Geral..................................................................................................................2
2.2 Especifico........................................................................................................... 2
3. FUNDAMENTAÇÃO TEORICA.................................................................2
3.1 Contextualização Histórica dos Quilombos Brasileiros.............................2
3.2 Remanescentes Quilombolas do Estado do Pará..............................................3
3.3 Remanescentes Quilombolas do Município de São Miguel do Guamá..............4
3.3.1 Canta Galo................................................................................................5

3.3.2 Menino Jesus............................................................................................5

3.3.3 Nossa Senhora de Fátima do Crauateua..................................................5

4. METODOLOGIA........................................................................................7
4.1 Tipo de Pesquisa................................................................................................7
4.2 Área de Pesquisa...............................................................................................8
4.3 Materiais utilizados para a Pesquisa..................................................................8
5. ASPECTOS HISTORICOS DA COMUNIDADE QUILOMBOLA DE
SANTA RITA DE BARREIRA....................................................................7
5.1 Organização Produtiva......................................................................................8
5.2 Pratica de Manejo da Agricultura Familiar..........................................................8
5.3 Desenvolvimento Sustentável na Comunidade Quilombola Santa Rita de
Barreira............................................................................................................... 8
6. RESULTADOS E DISCUSSÕES...............................................................7
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS.......................................................................7
REFERÊNCIAS.............................................................................................10
1 INTRODUÇÃO

A história do Brasil é marcada por diversos processos, interpretações e


enfrentamentos da questão quilombola, a ponto de não deixar dúvida sobre sua
importância na projeção de trajetórias nacionais passadas, presentes ou
futuras. Diversas foram as conquistas dessas comunidades, pela equidade e
inclusão cidadã no Brasil que teve grande marco através da Constituição
Federal de 1988 (Gomes, 2015; Matos & Eugênio, 2018).
Os Quilombos contemporâneos ou terra de preto como são
denominados em várias regiões brasileiras, não são um recorte dos quilombos
do período colonial ou imperial nem mesmo da África, visto que no Brasil não
foram comunidades isoladas, mais sim locais de produção autônoma com
capacidades de comércio, consumo, reprodução e moradia livre da ingerência
de um senhor (Gomes, 2015).
No Pará a organização do movimento negro orientado pelo Centro de
Estudos e Defesa do Negro no Pará (CEDENPA) trabalhou para garantir a
aplicabilidade do Artigo 68 do ADCT, bem como a inserção na Constituição
Estadual Paraense do Artigo 322 para seu complemento. Este último determina
que: “Aos remanescentes das comunidades quilombolas que estejam
ocupando suas terras, é reconhecida a propriedade definitiva, devendo o
Estado emitir-lhes títulos respectivos no prazo de um ano, depois de
promulgada esta Constituição” (PARÁ, 2007).
Santa Rita da Barreira, como todos os povoados negros em São Miguel
do Guamá, que hoje são reconhecidos como quilombolas e está ligado a
história da região do nordeste do Pará (DINIZ, 2011). A população quilombola
busca a inclusão social e melhor qualidade de vida, e conforme Fidelis (2011),
cada dia torna-se mais importante a reflexão sobre mecanismos que auxiliam o
desenvolvimento econômico sem destruir as possibilidades de sobrevivência
social e ecológica, ou seja, sobre modos de ação que associem preservação
ambiental com o desenvolvimento econômico.
Assim, identificou-se o contexto das comunidades remanescentes
quilombolas de Santa Rita das Barreiras, localizada no município de São
Miguel do Guamá-PA, identificando-se os modos de vida e meios de produções

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daquela comunidade. Acredita-se que este estudo possa corroborar algo
contributivo, haja vista, abordar uma temática de relevância social no meio rural
brasileiro.

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2 OBJETIVOS

2.1 Geral
Investigar o processo produtivo na Comunidade Quilombola Santa
Rita de Barreiras, em São Miguel do Guamá-PA;

2.2 Específicos

- Auferir subsídios sobre as culturas trabalhadas na comunidade;


- Observar quais e como são aplicados os manejos nas culturas;
- Analisar quais as formas de divisão de trabalho na comunidade;
- Avaliar o rendimento das culturas locais;
- Verificar as formas de comercialização da produção.

3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

3.1 CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA DOS QUILOMBOS BRASILEIROS

A história do Brasil é marcada por diversos processos, interpretações e


enfrentamentos da questão quilombola, a ponto de não deixar dúvida sobre sua
importância na projeção de trajetórias nacionais passadas, presentes ou
futuras. O conceito de quilombo compreendia como um agrupamento de
escravos fugitivos e resistentes ao sistema escravocrata brasileiro, comunidade
isolada e situada em locais de difícil acesso.

As comunidades negras rurais, também chamadas terras de pretos,


surgem a partir dos quilombos constituídos por negros que fugiram do
sistema escravocrata. O conceito histórico de quilombo foi definido
pelo Conselho Ultramarino, em 1740, como meio de controle dos
escravos no período colonial [...] (HAERTER et al., 2017).

O território quilombola é palco, produto e condição de um modo de vida,


estilhaçado na memória coletiva, e fortalece o sentimento de pertencimento ao
espaço construído pelos escravos que fogem ou não da fazenda do senhor, e
que são privados de direitos de herança ou que nasceram como escravos. O
território quilombola está estabelecido no campo da cultura nacional, definido

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nas relações sociais e políticas, amparado por um conjunto de leis, costumes e
tradições. (MALCHER, 2010).
A identidade quilombola é um componente fundamental para
compreender os usos do território pela comunidade. A organicidade dos
territórios de resistência étnica se apresenta como instrumento de
compreensão do movimento e da luta pelo direito sobre a terra. De acordo com
O'Dwyer (1995) na territorialidade quilombola a ocupação da terra não é feita
através de lotes individuais, predominando seu uso comum que com o tempo,
fizeram daquele espaço de pertencimento “um legado, uma herança cultural e
material que lhes confere uma referência presencial no sentimento de ser e
pertencer a um lugar e a um grupo específico” (O’DWYER, 1995, p. 1).
O movimento quilombola encontra-se na luta por seu reconhecimento o
que alude buscar informações sobre o seu passado, construído culturalmente,
a formação e organização dessas comunidades. (LEITE, 2018).
Em muitos países, os líderes dos Quilombos se tornaram heróis para
seu povo, a exemplo, Zumbi dos Palmares que até os dias atuais é visto pelo
movimento negro brasileiro como herói. Porém, cada nação possui suas
especificidades, ou seja, vê essa forma de resistir a escravidão de formas
diferentes. Os processos de resistência negra, possui a cosmologias e
territorialidades que compõem especificidades afro-brasileiras. (MIRANDA,
2018).
Os quilombos refletem o foco da resistência da África à escravidão
colonial, e essas lutas até hoje têm sido acompanhadas por lutas importantes
pelos direitos há muito tempo sendo privados. Nas últimas duas décadas, os
descendentes de africanos (negros) organizaram sua própria associação
quilombola para exigir deles a obtenção dos direitos permanentes e da
propriedade legalmente reconhecida da terra ocupada, entre eles o quilombo é
lar de negros e de negros. Produção e reprodução de valor, cultura e
identidade. (MELO et al, 2019).
Muitos quilombolas estabeleciam relações econômicas com os demais
atores sociais, portanto, permaneciam nos arredores dos povoados,
compondo-se como parte daquela sociedade. O histórico dos territórios
quilombolas desapropriados desde a Constituição de 1988 até o momento atual
revela esse quadro de desinteresse do “Brasil Colonial” sobrevivente em

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resolver uma das demandas básicas do “Brasil Africano” contemporâneo. A
questão estrutural de fundo é a posse efetiva da terra, ou seja, a definição
oficial da fronteira afro-brasileira. (ANJOS, 2017).
De acordo com o Artigo 2º do Decreto 4.887/2003, os territórios
quilombolas são terras ocupadas por remanescentes quilombolas, os quais tem
a finalidade de assegurar seus direitos, garantindo sua reprodução física,
social, econômica e cultural. O qual possui vínculo direto com a ancestralidade
negra, terras enriquecidas de características culturais, ideológicas, valores e
práticas. Esse território é construído e elaborado a partir da história, vivências,
de enorme teor simbólico (INCRA, 2017). Apesar disso, o crescimento no
reconhecimento de territórios remanescentes das comunidades dos quilombos
tem sido bastante acanhado. (LIMA, 2019).
As comunidades quilombolas localizam-se em 24 estados da federação,
sendo a maior parte nos estados do Maranhão, Bahia, Pará, Minas Gerais e
Pernambuco; os únicos estados que não registram ocorrências destas
comunidades são o Acre e Roraima, além do Distrito Federal. No presente
momento não existe um consenso realizado pelo Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE) informando o número de comunidades
quilombolas no Brasil; o IBGE está realizando reuniões de consulta com
representantes de comunidades quilombolas para a realização do Censo
Demográfico 2020, tendo como expectativa neste censo estimular avanços nos
estudos das comunidades tradicionais do país. (BRAGA, 2020).
As comunidades quilombolas por sua vez, se organizam também em
sociedade, mas diferente de uma sociedade capitalista que olha a terra apenas
como mercadoria. As comunidades quilombolas veem a terra como um bem
material, porém algo a ser zelado, conservado, pois a sua existência depende
do estado em que o seu território se encontra, podemos com isso afirmar que
sem o território não é possível a existência da comunidade. (DIAS, 2019).
As comunidades quilombolas guardam em si uma riqueza cultural de
suma importância para o nosso país, sendo uma herança viva da história
brasileira, é expressão viva de um passado de luta. Algumas comunidades
ainda vivem bastante isoladas dos grandes centros, utilizando como base
econômica a produção agrícola familiar e o comércio dos produtos excedentes,

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assim como faziam na sua época de formação, apresentando características
de comunidades tradicionais. (COSTA et al., 2019).
As comunidades quilombolas no Brasil possuem um número impreciso.
A Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais
Quilombolas – CONAQ tem-se dados de que possuem 3,2 mil comunidades. Já
a Fundação Palmares, em um último seu relatório de agosto de 2019, estima
3.386 quilombos. Quanto às certidões, de 2004 até o ano de 2019, o órgão
emitiu 2744 reconhecimentos. 61% desse total fica na região nordeste, 16% no
Sudeste, 11% no Sul, 7% no centro-oeste e 5% no Norte. (OLIVEIRA, 2021).
Segundo Freitas (1983), havia sete tipos de quilombos fundamentais: os
agrícolas, os extrativistas, os mercantis, os mineradores, os pastoris, os
serviços e os predatórios. Os agrícolas estavam presentes em todo o Brasil; os
extrativistas eram encontrados principalmente na região amazônica; os
mercantis, também situados na região amazônica, adquiriam as drogas dos
sertões dos povos indígenas e as vendiam para os regatões; os mineradores,
presentes nas regiões de Minas Gerais, Bahias, Goiás e Mato Grosso; os
pastoris, presentes na região do Rio Grande do Sul, voltados principalmente
para a criação de gado; os de serviços, em que os integrantes saíam para
trabalhar nos centros urbanos passando-se por negros alforriados; e os
predatórios, que podiam ser encontrados em todas as regiões, cujos
integrantes viviam de saques.
O conhecimento de técnicas agrícolas construídas e aperfeiçoadas por
essas comunidades ao longo do tempo, o uso equitativo da terra para a
subsistência, bem como para geração de economia, pode ser exemplo a ser
seguido pela agricultura atual, pois ameniza os impactos, evitando um colapso
no meio ambiente. Os quilombos eram organizados através da divisão de
tarefas e todos trabalhavam. A economia quilombola se baseava na produção
rústica de alimentos voltados à subsistência, com cultivo do fumo e do algodão,
à forja dos metais para a fabricação de armas e ferramentas. (GONÇALVES,
2017).
As comunidades quilombolas, a maioria delas, estão situadas em áreas
rurais, embora haja aquelas situadas em áreas urbanas e de metrópoles.
Sobrevivem do extrativismo vegetal, caça, pesca, agricultura de subsistência e
criação de pequenos animais como aves e suínos. (OLIVEIRA, 2017).

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O modo de vida quilombola é predominantemente rural e caracteriza-se
pela divisão técnica, social, sexual e etária do trabalho. As habilidades
individuais, os instrumentos técnicos e força laboral, reproduzem um leque de
atividades na unidade familiar de produção sem emprego de máquinas
agrícolas e baixo uso de instrumentos e técnicas modernas, baixa
produtividade e incipiente integração ao mercado. (ARAÚJO et al., 2017).

3.2 REMANESCENTES QUILOMBOLAS DO ESTADO DO PARÁ

Para Almeida (1996), Gusmão (1996b) e Leite (2000), no momento em que se


promulga a Carta Magna ainda não estão devidamente esclarecidos o significado dos
termos “quilombo” e “remanescente”. Neste termo “remanescente” está expressa uma
concepção do “[...] que não morreu o que sobreviveu” (GUSMÃO, 1996b, p. 9). Assim,
em conformidade com Gusmão (1999), para haver mudanças é necessário começar
por mudar a razão que preside tanto os conhecimentos como a estruturação deles em
torno da posse das terras e do processo de construção da identidade como grupo de
afirmação étnica, que define o negro não como um sujeito genérico, mas sim o negro
de uma comunidade ou grupo que ocupa um determinado território, uma terra que lhe
pertence. As formas de uso da terra e dos recursos do território indicam que o acesso
à terra é uma demanda histórica, na qual relações de trabalho e estratégias de
sobrevivências são aspectos importantes na definição de uma parte das lutas no
campo brasileiro. Neste sentido, para compreender a produção destes territórios
étnicos e suas estratégias faz-se necessário considerar a nomeação oficial de um
determinado seguimento social como quilombo a partir dos Artigos 68, 215 e 216 da
Constituição Federal de 1988, que estabeleceu os direitos de reminiscência aos
afrodescendentes e atribuiu ao Estado à responsabilidade de emissão dos direitos
fundiários dessas populações, instituído no Ato das Disposições Constitucionais
Transitórias – ADCT, no Artigo 68:

Aos Remanescentes das Comunidades dos Quilombos que estejam


ocupando suas terras é reconhecida à propriedade definitiva,
devendo o Estado emitir-lhes os respectivos títulos. Garantindo
também os direitos culturais, definindo como responsabilidade do
Estado a proteção das manifestações das culturas populares,
indígenas e afrodescendentes. (BRASIL, 1988)

No Pará a organização do movimento negro orientado pelo Centro de


Estudos e Defesa do Negro no Pará (CEDENPA) trabalhou para garantir a
aplicabilidade do Artigo 68 do ADCT, bem como a inserção na Constituição

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Estadual Paraense do Artigo 322 para seu complemento. Este último determina
que: “Aos remanescentes das comunidades quilombolas que estejam
ocupando suas terras, é reconhecida a propriedade definitiva, devendo o
Estado emitir-lhes títulos respectivos no prazo de um ano, depois de
promulgada esta Constituição” (PARÁ, 2007).
As comunidades remanescentes de quilombo que tiverem suas terras
em área de jurisdição do estado do Pará desencadeiam o processo de
reconhecimento desses territórios seguindo o estabelecido na Constituição
Paraense:
1) requerimento da comunidade remanescente de quilombo;
2) documentação, elaboração do memorial descritivo e publicação dos
editais;
3) levantamento cartorial;
4) levantamento socioeconômico;
5) demarcação;
6) entrega de títulos; e,
7) registro do título no Cartório de Registro de Imóveis (TRECCANI,
2006).
O Pará é o estado brasileiro com o maior número de comunidades
quilombolas titulados no país: 65 no total. A titulação é o último estágio da
regularização dos quilombos e implica no reconhecimento pleno do território. A
política de regularização fundiária de quilombos está vinculada à Secretaria de
Políticas de Promoção da Igualdade Racial da Presidência da República
(SEPPIR) que, por sua vez, é parte do Ministério da Mulher, da Família e dos
Direitos Humanos (MMFDH).
O processo de regularização começa com o cadastro das famílias.
Passa por um estudo de levantamento de informações e georreferenciamento
da área, desapropriação (quando há imóveis privados sobrepondo o território, é
feita a avaliação em valores de mercado e pagos previamente) e assinatura do
título do quilombo pelo governador. Além dessas 65 comunidades quilombolas
já titulados, o Pará tem, ainda, quatro territórios quilombolas parcialmente
titulados e outras 59 terras quilombolas não tituladas, totalizando 125
quilombos.

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De acordo com estimativas de Raimundo Magno, morador da
comunidade quilombola África (no município de Moju), o Pará tem entre 50 mil
a 70 mil famílias quilombolas. Contudo, não existe uma base de dados com um
perfil sociodemográfico dos quilombolas brasileiros. Isso dificulta o acesso a
informações e, também, a elaboração de políticas públicas específicas a essas
comunidades. Segundo informações da Agência Brasil, de 2018, a ausência da
posse legal da terra gera dificuldades em áreas como o acesso a serviços
básicos de saúde, educação e transporte, bem como rede de energia e água.
Isso é um agravante nos conflitos entre povos tradicionais, latifundiários e
madeireiros, porque utilizam os mesmos recursos das áreas em disputa.
Mesmo em situação tão delicada, o orçamento federal destinado à
regularização de terras quilombolas teve redução de 90% nos últimos 10 anos
e apenas 7,2% dos processos de titulação abertos no INCRA (Instituto
Nacional de Colonização e Reforma Agrária) foram concluídos em 25 anos.
Essa situação mostra o descaso público com os povos tradicionais e também
os deixam expostos à violência decorrente dos processos de disputa sobre o
território.
As comunidades quilombolas no estado do Pará encontram-se em
distintas situações. A regional Nordeste Paraense é marcada por pequenas
comunidades quilombolas que se destacam pelo fornecimento de produtos
agrícolas diferente do que rege o modelo econômico da Amazônia extrativa.
Para Moura (1988, p. 17), “é correto falar em recriação, redefinição e até
diversificação”, sobretudo no que se refere às práticas cotidianas e a forma
como as comunidades quilombolas se relacionam com o território.
Uma característica das comunidades quilombolas pertencentes à
regional Nordeste Paraense é o trabalho de roça, a produção da farinha e a
resistência a perda de suas terras para uma diversidade de empreendimentos
no espaço agrário. Com a produção baseada no trabalho familiar cujo intuito
principal é a reprodução sustentada na economia familiar e de sua condição de
produção local nas 65 comunidades quilombolas do Nordeste Paraense. O fato
é que essas comunidades não apresentam isolamento no que se refere à
economia da região, o desenvolvimento da agricultura capitalista não só criou
novas relações de produção como redefiniu relações pré-estabelecidas.

17
Os remanescentes de quilombolas trabalham de acordo com
determinada cultura e, ao mesmo tempo, ao trabalharem, produzem e
reproduzem sua cultura. Como elemento de mediação com o meio natural, o
trabalho de produzir a vida associativamente tem como objetivo o
desenvolvimento das próprias pessoas, entendidas como parte integrante e
inseparável da natureza. (COSTA, 2017).
De acordo com o Artigo 2º do Decreto 4.887/2003, os territórios
quilombolas são terras ocupadas por remanescentes quilombolas, os quais tem
a finalidade de assegurar seus direitos, garantindo sua reprodução física,
social, econômica e cultural. O qual possui vínculo direto com a ancestralidade
negra, terras enriquecidas de características culturais, ideológicas, valores e
práticas. Esse território é construído e elaborado a partir da história, vivências,
de enorme teor simbólico. (INCRA, 2017).
As comunidades constituídas de remanescentes quilombolas
apresentam características étnicas específicas, mantidas ao longo do tempo,
por meio da organização de seus grupos ou pela força da memória que
fortalece a sua identidade. Esses grupos se organizam como novas unidades
de produção que em nível local ou regional reordenam o sistema da
propriedade e os usos das terras em diversos sentidos, estabelecendo padrões
sociais de produção agrícola ou animal. (ARAÚJO et al., 2021).
No Estado do Pará o órgão responsável pela titulação dos territórios
quilombolas em terras estaduais é o Instituto de Terras do Pará (ITERPA),
criado em 1975, por meio da Lei nº 4.584. De acordo com dados do instituto,
foram tituladas 53 áreas que correspondem a território quilombola, sendo o
Pará, o estado brasileiro que mais titulou essas áreas. Mostrando assim,
depois de décadas, um pequeno avanço no desenvolvimento e reconhecimento
histórico da população negra quilombola do país. (SEPLAN, 2018).
No âmbito do estado do Pará o reconhecimento do domínio das terras
quilombolas se encontra expressamente previsto no art. 322 da Constituição
Estadual, sendo regulamentado pela legislação e normas internas do ITERPA,
responsável pela execução da política territorial quilombola. De acordo com
Treccani (2006), o reconhecimento de domínio das comunidades
remanescentes de quilombos no Pará representa um marco para os
movimentos sociais não só em nível estadual, mas com impacto em todo o

18
Brasil. Com o término da escravidão indígena, a entrada dos negros no Pará foi
incentivada e fomentada pelos governantes, simultâneo à intensificação do
combate aos quilombos.
Os remanescentes de quilombo são definidos como grupos étnico-
raciais que tenham também uma trajetória histórica própria, dotado de relações
territoriais específicas, com presunção de ancestralidade negra relacionada
com a resistência à opressão histórica sofrida, e sua caracterização deve ser
dada segundo critérios de auto atribuição atestada pelas próprias
comunidades, como também adotado pela Convenção da Organização
Internacional do Trabalho (OIT) sobre Povos Indígenas e Tribais (RESILIÊNCIA
QUILOMBOLA, 2020).
Mais recentemente, o estado do Pará, ao criar políticas públicas voltadas
para comunidades remanescentes de quilombo, mostra-se sensível às
demandas históricas dessas comunidades. A exemplo de programas
específicos como os programas Raízes e Pará Quilombola, bem como os
conselhos e planos compõem as condições normativas para a distribuição
territorial das comunidades remanescentes de quilombo e, dessa forma,
valorizar suas tradições que se manifestam através de seu território.
De fato, o governo paraense, desde a promulgação do Artigo 68 do
ADCT, empenha-se em criar condições e possibilidades normativas e
institucionais para melhorar a qualidade de vida das comunidades
remanescentes de quilombo. Neste intervalo, a criação de programas e do
Plano Estadual de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (PEPPIR) revela
que o estado do Pará está em sintonia com o moderno sistema jurídico
nacional e internacional e, portanto, tem um plano que irá tratar dos assuntos
direcionados a toda população negra do estado.

3.3 REMANESCENTES QUILOMBOLAS DO MUNICÍPIO DE SÃO MIGUEL


DO GUAMÁ

Os agricultores da Comunidade Santa Maria de Muraiteua têm como


base da produção a mandioca e o manejo de açaí. Com a regularização, eles
vão ter acesso à Declaração de Aptidão ao Pronaf (DAP), que possibilita a
obtenção de crédito para melhorar sua produção. Além da Comunidade Santa

19
Maria de Muraiteua, o escritório local da Emater presta assistência técnica a
outras cinco comunidades quilombolas no município: Comunidade Santa Rita
de Barreiras e Comunidade Fátima do Crauateua (ambas já tituladas);
Comunidade Menino Jesus e Comunidade Canta Galo (em processo de
titulação) e a Comunidade São Luís. (EMATER, 2021).

3.3.1 Canta Galo

A comunidade quilombola do Canta galo fica localizada as margens do


rio guámá. Além do rio, o acesso se dá pela BR 316 e PA – 136 (Castanhal-
Inhangapi), adentrando os ramais que dá acesso ao rio e aos igarapés
Muriaiteua e Pirucaua. A construção do território quilombola pressupõe
algumas medidas que visam consolidar uma identidade coletiva da
comunidade, de modo que os seus moradores sejam os protagonistas da
dinâmica econômica, social, cultural, política e ambiental no território.
Durante todo o período em que persistiu o escravismo colonial, os
quilombos, dentre outras inciativas negras, se fizeram por meio de variadas
formas de resistência cotidiana, ora coletivas, ora individuais, como “silenciosas
guerrilhas”. (SCOTT, 2002), a enfrentar cotidianamente as estruturas materiais
e imateriais do escravismo. Em face dessa ordem, os quilombos
representavam um ato de “desobediência civil” (THOMPSON, 2013) e
efetuavam uma resistência, expressa como forma singular de reprodução de
um modo de vida guiado pela busca da automia.
Além de configurar uma resistência contra a sociedade escravista no
passado, os quilombos reinventavam no presente a sua própria existência. Não
só pela resistência à escravidão, mas, também, às suas formas de produção
econômica, fundamentadas nos latifúndios monocultores, detinados à
exportação. (GOMES, 2015). Enquanto comunidades autônomas, os quilombos
eram gestados pelo trabalho familiar (ALMEIDA, 2000), cuja produção
(diversificada de alimentos e outros insumos) abastecia também os núcleos
urbanos e, até mesmo, as fazendas monocultoras. (SALLES, 2005).

3.3.2 Menino Jesus

20
A Comunidade Quilombola Menino Jesus, fica localizada no KM 20 da
PA 322, adentrando ao Ramal Pueirinha, município de São Miguel do Guamá.
Também conhecida como Pueirinha, devido ao PEC – Pueirinha Esporte Clube
e ao Campo de futebol, localizado no arraial da comunidade. Apresenta uma
área total de aproximadamente 288, 9449 há.
Na década de 1980 houve um fluxo migratório da comunidade para a
cidade de São Miguel do Guamá. Famílias inteiras ou integrantes de famílias
da comunidade venderam seus lotes a caminho da cidade. Lá ocuparam os
bairros periféricos.

3.3.2 Nossa Senhora de Fátima do Crauateua

A comunidade quilombola de Nossa Senhora de Fátima do Crauateua


fica localizada ao longo do igarapé Crauateua, que desemboca no igarapé
Patauateua. A Comunidade surge pela irradição de outras comunidades de
uma prática conhecida como “derrubada”, a partir de 1987 com o deslocamento
das famílias da “beira” para o “centro”. A luta pela titulação de um território
quilombola teve inicio no ano de 2003, quando os moradores iniciaram o
processo para conseguirem a titulação com a criação da associação em junho
do mesmo ano.
Nessa comunidade, o trabalho de roça é predominante, em media são
cultivadas 5 tarefas por família que tem seu calendário de cultivo e colheita. No
roçado são cultivados arroz, milho, mandioca, macaxeira, maxixe, quiabo,
cariru e melancia. A mandioca ocupa toda a área do roçado.
Segundo Malcher (2017) O quadro 2 mostra as características de cada
comunidade quilombola do município de São Miguel do Guamá.

Quadro 2: Caracterização das Comunidades Quilombolas de São Miguel do Guamá.


CantaGalo Nossa Senhora de Santa Rita das Menino Jesus
Fátima do Barreiras
Crauateua

21
- Atividade - Atividade - Atividade - Atividade
principal: Manejo principal: principal: principal:
do açaí; Agricultura; Agricultura; Agricultura;

- Localizada as - Localizada as -Localizada as - Localizada


margens do rio margens do igarapé margens do rio próximo ao igarapé
Guamá, acesso Crauateua e acesso guamá e a PA-251; mururé e acesso
terrestre pela PA - terrestre pela PA- terrestre pela PA -
136; 424; 322;

- Fornecimento de - Fornecimento de - Fornecimento de - Fornecimento de


energia elétrica não Energia Elétrica; Energia Elétrica; Energia Elétrica;
contempla todas as
famílias;
- Uma comunidade - Uma comunidade - Uma comunidade
- Uma comunidade
cristã católica, sem cristã católica, sem cristã católica, sem
cristã católica, sem
presença de igreja presença de igreja presença de igreja
presença de igreja
evangélica; evangélica; evangélica;
evangélica;
- Escolas de ensino - Escolas de ensino
- Escolas de ensino - Escolas de ensino
fundamental I; fundamental I; fundamental I;
fundamental I;
- PNHR em - Presença de casas - Presença de casas
- PNHR em
andamento; construídas pelo construídas pelo
andamento;
PNHR; PNHR;

- Área total de 800, - Área total de 746, - Área total de - Área total de
4184 há. 7239 há. 371,3032 ha. 288,9449 ha.
Fonte: MALCHER, 2017.

4 METODOLOGIA

O percurso metodológico consistiu na pesquisa qualitativa e quantitativa.


A primeira foi de natureza exploratória, que tem como procedimentos básicos
para sua execução a pesquisa bibliográfica e documental. A investigação
qualitativa requer como atitudes fundamentais a abertura, a flexibilidade, a
capacidade de observação e de interação com o grupo de investigadores e
com os atores sociais envolvidos (MYNAIO, 2004).
A metodologia qualitativa “atravessa disciplinas, campos e temas” e
envolve o uso e coleta de uma variedade de materiais empíricos (DENSYN;
LINCOLN, 2006, p. 16). Assim, a pesquisa qualitativa caracteriza-se por ser
“interpretativa, baseada em experiências, situacional e humanística”, sendo

22
consistente com suas prioridades de singularidade e contexto (STAKE, 2011, p.
41).
A pesquisa quantitativa é caracterizada pelo uso da quantificação, tanto
na coleta quanto no tratamento das informações, utilizando-se de técnicas
estatísticas (RICHARDSON, 1989). Objetiva a aquisição de resultados que
evitem possíveis distorções de análise e interpretação e que possibilitem a
maximização da margem de segurança (DIEHL, 2004). De modo geral, a
pesquisa quantitativa é passível de ser medida em escala numérica
(ROSENTAL; FRÉMONTIER-MURPHY, 2001).
A coleta de dados é realizada através de questionários que apresentam
variáveis distintas, cujas análises são geralmente apresentadas através de
tabelas e gráficos (FACHIN, 2003). Nesse tipo de pesquisa, a representação
dos dados ocorre através de técnicas quânticas de análise, cujo tratamento
objetivo dos resultados dinamiza o processo de relação entre variáveis
(MARCONI; LAKATOS, 2011).
Para quantitativa, foi utilizado um questionário para coleta de dados,
com três itens principais: a) Perfil social, que contemplou os seguintes temas:
nome completo, estado civil, faixa etária, número de pessoas na propriedade,
grau de escolaridade; b) Perfil econômico, que considerou a renda
(financiamento/empréstimo), se houve algum benefício social como bolsa
família e outros, qual foi a principal atividade econômica, renda derivada do
extrativismo e organização associativa local e c) Perfil ambiental das
comunidades estudas para identificar os impactos ambientais causada pelas
uso continuo da terra. A entrevista é um encontro entre pessoas, a fim de que
uma delas obtenha informações a respeito de determinado assunto, mediante
uma conversação de natureza profissional (Marconi & Lakatos, 2010).
As identidades dos participantes foram mantidas em sigilo, garantindo
seu anonimato e confidencialidade das informações.

4.1 TIPO DE PESQUISA

As entrevistas foram feitas utilizando-se um roteiro com perguntas que


permitiam respostas abertas, tendo sido estas agrupadas e tabuladas,

23
posteriormente, em função da ideia geral do pensamento apresentado pelos
agricultores em relação a cada ponto que foi questionado.
O tipo de pesquisa deste estudo é qualitativo, visto que se utiliza da
interpretação subjetiva de informações textuais elaboradas com teor científico.
O procedimento técnico utilizado coaduna-se com a pesquisa bibliográfica, pois
se realiza um levantamento de artigos e capítulos de livros científicos dispersos
em inúmeros periódicos que contenham uma avaliação blind review de pares.
Mayring (2002) descreve quatro maneiras de gerar dados no contexto da
pesquisa qualitativa: (i) dados verbais por meio de entrevista centrada num
problema, (ii) entrevista narrativa, (iii) grupo de discussão e (iv) dados visuais
por meio da observação participante.

4.2 ÁREA DE ESTUDO

O estudo foi realizado na área de abrangência do município de São


Miguel do Guamá, na comunidade quilombola de Santa Rita de Barreiras
(Mapa 1). São Miguel do Guamá é um dos municípios paraenses, cuja
formação do território remonta ao século XVII, período da colonização dos
portugueses na Amazônia. Na época, o governo da capitania concedeu
sesmarias ao convento do Carmo, onde em uma delas fundaram a fazenda de
Pernambuco. Agostinho Domingos da Siqueira em 1758, doou terras para a
formação do patrimônio de uma capela. Nesse mesmo ano, o Bispo D. Frei
Miguel de Bulhões contribuiu para a formação da freguesia de São Miguel,
também conhecida como São Miguel da Cachoeira. É a partir dessa iniciativa
que o lugar irá se transformar em povoado, freguesia, vila e município. A
formação do território, constituído de lendas, símbolos, mitos, objetos
geográficos e sujeitos políticos deu-se a margem direita do rio: o Guamá.
(FERREIRA, 2015).
No ano de 1943, por meio do Decreto-Lei Estadual n° 4.505, o município
de São Miguel do Guamá passou a ser denominado apenas pelo topônimo
“Guamá” – este foi atribuído em homenagem ao rio Guamá, que significa no
vocabulário indígena “rio que chove” além de ter parte de seu território
desmembrado para criação do município de Bonito. Entretanto, em 1956 este
desmembramento foi considerado inconstitucional. Tal desmembramento, só

24
veio acontecer, de fato, em dezembro de 1961, por meio da lei estadual n°
2.460, quando o distrito de Bonito foi elevado à categoria de município. (LEITE
et al., 2014).
O município de São Miguel do Guamá pertence à Zona Guajarina e
abrange uma área de 1341 Km², na região Nordeste, sendo cortado pelo rio
Guamá, de Oeste para Leste, onde, em sua margem esquerda, situa-se a sede
do município. A sede distancia-se 150 km de Belém, sendo incluída no pólo
Guamá. Apresenta como limites: Santa Maria do Pará e Bonito ao Norte;
Ourém a Leste; São Domingos do Capim e Irituia ao Sul e Inhangapi e
Castanhal a Oeste (SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO, CULTURA,
DESPORTO E TURISMO, 1999). População estimada de 59.632 pessoas (IBGE,
2020).
A Economia de São Miguel do Guamá, é baseada na Fabricação de
Tijolos e Telhas, no qual existem em média cerca de 50 Indústrias, produzindo
aos meses cerca de 30 milhões de Tijolos e 8 milhões de telhas, sendo
vendidas para todas as Regiões do País, as maiores Indústrias São Cerâmica
Barreira, Barbosa, Cemil e Kamiranga. O setor madeireiro também impulsiona
a economia da cidade, as dezenas de serrarias abastecem boa parte do país
com diversos tipos de madeiras para construção. (PREFEITURA DE SÃO
MIGUEL DO GUAMÁ, 2015)
A formação do território guamaense, assim como o desenvolvimento e
crescimento da atividade industrial ceramista, esteve ligado a fatores internos e
externos ao lugar. O crescimento econômico no interior da atividade cerâmica e
o aumento no número de indústrias produtoras de telha e tijolo em São Miguel
do Guamá estão diretamente ligados à modernização produtiva (gestão
empresarial e inserção de máquinas e equipamentos) ocorridas no interior das
empresas. Esse fato coloca o território Guamaense como o possuidor do
espaço mais moderno e eficaz de/na produção de cerâmicas vermelhas do
Norte do Brasil. (CORDOVIL et al., 2011).

25
Mapa 1: Localização da àrea de estudo.

Fonte: MALCHER et al., 2017

As manifestações religiosas que merecem destaque no município de


São Miguel do Guamá são as festividades em homenagem a São Miguel
Arcanjo, em setembro, e o Círio de Nossa Senhora de Nazaré, no último
domingo de novembro.
Por ocasião dos festejos religiosos, a movimentação popular na cidade é
mais acentuada, principalmente no que se refere ao aspecto profano,
representado pela organização do arraial. As manifestações da cultura popular
local têm lugar no mês de junho, com as festas dançantes realizadas nos
terreiros; e durante a quadra junina, quando são feitas exibições de grupos de
pássaros e bois-bumbás. O artesanato local é caracterizado pela produção de
cerâmica, abanos, peneiras e tipitis. A igreja de São Miguel Arcanjo pode ser
considerada o único patrimônio histórico da cidade. (GUAMA CULTURAL,
2011).
O latossolo amarelo com textura média predomina no município. A
topografia tem pouca amplitude altimétrica, estando a sede cerca de 20 metros
acima do nível do mar. Na pecuária, os principais rebanhos são o bovino,
avicultura, bubalinos, equinos e ovinos. Na agricultura, os principais produtos
da lavoura temporária, em São Miguel do Guamá, são: arroz, feijão, mandioca,

26
melancia e o milho tanto em quantidade de área plantada e valor da produção
anual, de banana, laranja, coco baia e pimenta do reino. Os principais produtos
advindos do extrativismo vegetal no município é o açaí e a madeira, sendo que
os principais produtos madeireiros são o carvão vegetal, a lenha e a madeira
em tora, com grande destaque para a lenha, sendo esta usada como fonte de
combustível nos fornos das cerâmicas. (LEITE et al., 2018)
São Miguel do Guamá é um município brasileiro do estado do Pará.
Localiza-se a uma latitude 01º37'36" sul e a uma longitude 47º29'00" oeste,
estando a uma altitude de 10 metros. Possui uma área de 1094,839 km². A
cidade conta com os distritos de Caju, Urucuri, Urucuriteua e o distrito-sede,
que é identificado pelo próprio nome do município. (DECRETO nº 001/2017-
GP).

4.3 MATERIAIS UTILIZADOS PARA A PESQUISA

A Entrevista na comunidade Quilombola de Santa Rita de Barreiras foi


dividida em 5 blocos de perguntas, onde no primeiro bloco 1 em perguntas
abertas e múltiplas escolhas para o agricultor, foi perguntado o nome completo
e sua idade e quantas pessoas moravam na propriedade. No segundo bloco de
perguntas: Características da propriedade. No terceiro bloco de perguntas:
Gestão da comunidade. No quarto bloco de perguntas: Aquisições e no quinto
e último bloco: viabilidade econômica. Tendo no total de 21 perguntas no
questionário.
Durante a visita foram utilizadas câmeras fotográficas para registro de
imagens para uma melhor compreensão da pesquisa e gravador de voz nas
entrevistas para auxiliar nos detalhes da escrita do trabalho.
Os registros imagéticos, através das fotografias, permitiram uma
aproximação de parte da realidade ao se considerar, entrando em jogo,
critérios de seleção, de responsabilidade do registrador, do interesse e do
contexto em que os registros foram feitos. Sobre esta técnica Samain (2001,
p.21) afirma que: “a linguagem do discurso erudito representa um poder, como
a ‘mensagem da imagem’ constitui outro poder de apreensão de uma única
realidade”. O autor pondera também, que nas imagens estão embutidos

27
valores sociais concretos e simbólicos que reproduzem uma realidade às vezes
destoante da que está sendo “capturada”.
O transporte utilizado para chegar na comunidade quilombola pode ser
feito através de carro, moto, bicicleta, carroça e ônibus.

5 ASPECTOS HISTÓRICOS DA COMUNIDADE QUILOMBOLA DE


SANTA RITA DE BARREIRAS

Santa Rita das Barreiras está localizada no Km 12 da PA 251, o acesso


a comunidade se dá pela PA 251, próximo ao centro urbano do município ao
longo da rodovia Belém-Brasília BR 010.No interior da comunidade vivem
aproximadamente 78 famílias, alguns sítios possuem igarapés ou estão
localizados próximo ao rio Guamá.
Mediante a Declaração de Auto reconhecimento quilombola, expedido
em 15 de outubro de 2001, foi dado o início a identificação, reconhecimento,
delimitação, demarcação e titulação do território. A extensão do território
quilombola de 371, 3032 ha., com título expedido em 22 de setembro de 2.002
pelo Instituto de terras do Pará – ITERPA. Santa Rita de Barreiras foi a primeira
a ser titulada, em São Miguel do Guamá, sendo identificada como quilombola
no Projeto “Mapeamento das comunidades negras rurais no Pará: ocupação do
território e usos do recursos, descendência e modo de vida”. Este mapeamento
foi realizado entre os anos de 1998 e 2000.
Na comunidade há duas grandes festas, uma de início é recente, 2002,
a “Festa do Título” recebido no dia 22/09/2002 e a outra antiga, Festa da Santa
que tem o nome da comunidade “Santa Rita” no mês de maio. O padroeiro do
lugar chama-se Emanuel, Sagrado Coração de Jesus. Dentre os mais velhos
da comunidade existem curadores (as), rezadores (as), bem como uma forte
tradição de curar doenças através do uso de plantas medicinais cultivada aos
arredores das casas.
Nessa comunidade ocorreu um dos primeiros conflitos agrários, em 1970,
algumas propriedades foram invadidas por terceiros, entre essas invasões uma em
especifico, abalou toda a comunidade, foi o da família da “Velha Joca”. O conflito entre
o invasor e a viúva Joca é bem conhecido no município, assim como é narrado de
diversas formas. Dentre as inúmeras versões, há o fato de o primeiro invasor ter

28
grilado a terra e vendido para terceiros que por sua vez fez o pico do terreno
adentrando massivamente no sitio de D. Joca, uma narrativa muito comum no espaço
agrário amazônico, evidenciada por Loureiro e Pinto (2005, p.81):

essa permanente política de exclusão movida pelo Estado em relação


aos pobres do campo é revidada sob a forma do conflito por colonos,
ribeirinhos e migrantes expulsos de suas terras. Mesmo considerando
que isto ocorresse por meio de atos legalmente acobertados por
documentos criados naquele momento histórico, estes não eram
considerados legítimos do ponto de vista social e dos direitos
humanos fundamentais. [...]. Os novos compradores vão
remembrando os pequenos lotes, "esquentando a documentação" e
formando áreas maiores que são revendidas a futuros criadores de
gado ou a simples especuladores da terra. E o processo recomeça
sem cessar. Mas as maiores queimadas não têm origem nos lotes
dos pequenos colonos e sim nas grandes fazendas (após a retirada
da madeira nobre), formadas em terras compradas ou griladas.
(LOUREIRO E PINTO, 2005, P.81),

As lembranças, na sua maioria, remetem ao fato dos conflitos se


acirrarem chegando ao fato do neto de Dona Joca matar quem comprou a terra
do grileiro e por sua vez D. Joca vendeu seu sitio para o Sr. Venâncio José
Cardoso e foi com sua família morar na cidade de São Miguel do Guamá.
Desse modo, segundo a maioria dos narradores, como a comunidade de Santa
Rita das Barreiras ficava situada dentro do sitio da Dona Joca, que tinha sido
vendido, a comunidade migra da beira para o centro (PA 251).
Esse fato coincide com a compra de pequenos hectares de propriedades
dos quilombolas, sobretudo por empresários da atividade de Indústria de
cerâmica em São Miguel do Guamá, tanto na comunidade de Santa Rita
quanto em comunidades próximas. Por exemplo, a comunidade Vila São Pedro
de Tucumandeua, hoje se restringe a uma Vila de pescadores e poucos
produtores rurais, devido a ação intensa de compra de sítios por parte de
ceramistas e pecuaristas.
Em outra comunidade vizinha, Santo Amaro, Km 6 e 7 da PA-251, a
relação com os ceramistas foi diferenciada, os proprietários não venderam toda
sua propriedade e sim parte do sítio. Desde o final da década de 1990, também
foram compradas propriedades ao longo do Km 8 da PA-251 e ainda esse
processo se repetiu nas comunidades de São Luís (Km 14) e Urucuriteua.
É neste contexto que o termo quilombola ganha significância nesta
comunidade, pois muitos moradores tiveram que vender suas terras, por
motivos diversos, sejam por questões familiares, conflitos, razões financeiras e

29
forma morar na cidade de São Miguel do Guamá. Segundo alguns moradores,
em decorrência do isolamento e da falta de transporte a comunidade pouco
tinha contatos com outras comunidades e com a sede do município. Somente
com a construção da estrada para transportar seixo e areia explorados nos
arredores da comunidade: “antigamente, no verão era bom, tinha um
caminhozinho seco, mas no inverno a gente tinha que passar pelo rio, como
uma chuva alagando tudo e as vezes até a gente passava nadando ou de
canoa quando tinha” (ADINKRAHENE, QUILOMBOLA DE SÃO MIGUEL DO
GUAMÁ, 2017).
A ampliação de acesso aos serviços de transporte e comunicação
sempre foi um dos grandes desafios da comunidade, onde no passado parecia
ser mais difícil, no entanto não anula as dificuldades de acesso no presente. Na
comunidade existe uma organização dos trabalhos da Igreja Cristã Católica,
onde existe grupos de evangelização, catequese, crisma, pastoral da criança,
dizimo e muitos destes trabalhos são liderados por mulheres e homens.
Todo movimento social se configura a partir daqueles que rompem a
inércia e se movem, isto é, mudam de lugar, negam o lugar que
historicamente estavam destinados em uma organização social, e
buscam ampliar os espaços de expressão que, como já nos alertou
Michel Foucault, têm fortes implicações de ordem política. (PORTO

GONÇALVES, 2001, p. 81).

A comunidade reúne-se todos os domingos para a celebração dos


cultos dominicais, dentre os espaços comunitários há uma igreja (Figura 2), a
sede da associação, um campo de futebol, uma escola municipal de ensino
fundamental de I e II ciclo, adentando um pouco no território, há uma casa de
farinha comunitária (Figura 3) e um apiário.

30
Figura 2: Igreja Da Comunidade Santa
Rita.

Fonte: Autor, 2021.

Na Comunidade existe um grupo cultural, um grupo de jovens e outro de


mulheres que podem ser compreendidos como um processo atual, sobretudo o
de mulheres negras quilombolas, no entanto, entre a década de 80 e 90, as
mulheres nesta comunidade se organizavam como grupo de mães. Para Marin
(1999) a trajetórias política não é projetada “na reflexão de um indivíduo, mas,
na relação com o seu grupo e com a sociedade”. (MARIN, 1999, p.114).

Figura 3: Casa de farinha

Fonte: Autor, 2021.

31
5.1 ORGANIZAÇÃO PRODUTIVA

O trabalho é uma condição humana consciente e intencional quando o


sujeito se apropria da natureza, alterando seu estado natural, em seu próprio
proveito, mas não modifica apenas o material sobre o qual opera, mas vê-se
que o próprio ser humano se transforma. O desenvolvimento das forças
produtivas e das relações sociais de produção forja novas relações sociais e
econômicas, que se materializam em diferentes modos de produção.
(CAETANO, et al., 2014).
Desde o início da constituição da Comunidade, os trabalhadores e
trabalhadoras estabeleceram com terra/território espaço de uso comum (posse
coletiva). Portanto, trata-se de uma terra que jamais deveria ser vendida ou
comercializada. Com isso, as futuras gerações poderão ter a garantia da
reprodução da existência/vida na terra que nasceram, cresceram e que muitos
já morreram.

5.2 PRÁTICAS DE MANEJO DA AGRICULTURA FAMILIAR

Segundo a Embrapa (2008) o manejo do solo é o conjunto de todas as


práticas aplicadas a um solo visando a produção agrícola. Inclui operações de
cultivo, práticas culturais, práticas de correção e fertilização, entre outras. De
forma geral, práticas tradicionais de conservação do solo, como o plantio em
curva de nível, a formação de faixas de retenção e cordões de contorno, são
utilizadas também na agricultura orgânica. O manejo orgânico recomenda a
manutenção de cobertura vegetal sobre o solo, a adubação verde, o cultivo
mínimo, o plantio direto, entre outras práticas conservacionistas. O manejo do
solo no sistema orgânico prioriza as fontes orgânicas de nutrientes e não utiliza
fertilizantes químicos de alta solubilidade.
O trabalho familiar é o elemento fundamental na comunidade da
pesquisa, mesmo com a introdução de outras formas de trabalho. As
comunidades quilombolas no contexto desta pesquisa se desenvolvem através
da unidade de produção familiar como estratégia de resistência, em que todos
da família têm serviços a realizar, seja na casa, no centro ou no retiro. Assim,
segundo de Moura (1988, p. 54), que o trabalho familiar caracteriza o vínculo

32
do camponês com a terra, seja esta nuclear ou extensa, onde a família se
envolve nas diversas tarefas produtivas, visando a reprodução física e social do
grupo.
O modo de vida dessas comunidades quilombolas está embasado nas
relações que têm com a terra, o trabalho e a família. Estas práticas sócio
espaciais demandam formas de organização e apropriação que se disseminam
de diversas formas a partir da territorialidade destes sujeitos, sendo
concretizadas em ações distintas no território.
Considerando que o grupo populacional mais elementar tem sido a
família quilombola, onde os laços de parentescos e de solidariedade são
usualmente mais estreitados, parece um tanto adequado que se pense a
unidade de produção familiar como ponto de partida para uma socialização e
cooperação mais efetiva para formulação das estratégias de resistência para
enfrentar não só os rigores climáticos, mas os avanços das fronteiras agro-
monocultora-pecuária/mineral/madeireira que sempre tem estado na
vanguarda, no processo de opressão continuada as comunidades quilombolas
mais fragilizadas, em sistemas onde a hierarquização e a busca do lucro
incessante tem sido a tônica.
O maior envolvimento e concentração destinados ao tempo de trabalho
se voltam a preparar “roças” de três ou quatro tarefas. Estas representam uma
das práticas mais antigas elaboradas como estratégia de territorialidade dos
grupos étnicos na Amazônia e se caracteriza pela sistematização de
conhecimentos agroecológicos, do clima, dos solos, das estações.
A perda e “enfraquecimento da terra” são reconhecidos pelos
quilombolas e isto os leva a elaborar estratégias diversas. De vários anos para
cá aumentou produção de mandioca. A organização e formas de cultivo em
consórcios, o regime de “coivara” e a utilização de adubos naturais em
Santa Rita da Barreira não tem solução de continuidade.
De acordo com o levantamento feito em campo, a roça vem perdendo
espaço para outras atividades como os “bicos”, assalariamento nas indústrias
de cerâmicas e o recebimento de benefícios públicos. As unidades familiares
que não dispõem da agricultura ou que cultivam no máximo três “tarefas” é alto.
Eles desistem do cultivo por indisponibilidade de trabalhadores ou pelo
“enfraquecimento da terra” e passaram a buscar outras estratégias mais

33
imediatas.
As limitações de abrir “roça” são correlatas com outros afazeres em que
os jovens se inserem. O fato é que as famílias que ainda trabalham com as
roças apresentam um melhor desempenho financeiro em relação às que
abandonaram o cultivo. Isto interfere no corpo comunitário, pois o dia a dia das
roças envolvia adultos, jovens e crianças e marcava os laços de solidariedade
e a relação de pertencimento.
No cultivo de roças, o empreendimento ainda se sustenta com a
participação direta de homens, mulheres e crianças que executam tarefas
contínuas que vão desde a preparação da terra até a venda dos derivados da
mandioca na feira de São Miguel do Guamá ou até mesmo na propria
comunidade. Nas complicações de cada etapa, as crianças executam serviços
complementares ou mais simples ao mesmo tempo em que aprendem e
reproduzem o conhecimento em um processo de ensino e aprendizagem como
observa Acevedo Marin (1998).
O manuseio da mandioca recém colhida no processo de “descasca”
exige o uso de vestimentas simples e contato direto com as raízes, a exposição
de pés e mãos e a disposição sentada no chão dos membros das famílias.
A interpretação de Acevedo Marin e Castro apresenta uma luz sobre a
racionalidade em adotar outras estratégias diante situações adversas que
dizem respeito ao trabalho na roça.
A percepção da terra comum e não privada tem um papel importante
nesses deslocamentos. Em tempos não estritamente regulares, o grupo
doméstico procura se mobilizar em direção a lugares onde os alimentos
desejáveis ou suas fontes estejam o mais próximo possível de seu lugar
de residência. Sua permanência no mesmo lugar encontra limites nas
condições do próprio meio natural. O ponto central dessa estratégia é o
aumento do tempo do trabalho e o gasto de energia necessário para
alcançar a distância entre o local de habitação e o local de trabalho. Há
uma racionalidade que busca compensar, pela economia de tempo e
esforço, as dificuldades impostas pelo uso de tecnologias rudimentares.
(ACEVEDO MARIN e CASTRO, 1998, p. 170)
A aproximação das “roças”, a utilização de outros meios de
armazenamento improvisados e a confecção de hortas cada vez mais próximas
às unidades familiares demonstram restrições de trabalhadores, recursos e
meios de produção, simbolizando também mudanças quanto às dimensões

34
métricas e concepções de espaço e tempo de execução dos serviços. As
etapas de plantio e limpeza das roças ficaram onerosas, em vários casos
necessitam fazer empreitada por tarefa para fazer a capina.
Os cultivos destas espécies envolvem um sistema de consórcio com até
três espécies como mandioca, milho e feijão. Algumas sementes são
armazenadas em garrafas de vidros e podem ser compradas ou adquiridas
gratuitamente na EMATER, com o compromisso de devolver a mesma
quantidade de sementes após a primeira colheita. A destinação maior é para
consumo doméstico e em situações esporádicas praticam a venda à beira do
ramal ou na feira de São Miguel do Guamá, aos sábados. Com a aproximação
das roças, as casas do arraial, com maior circulação de pessoas, algumas
plantações ficaram vulneráveis às ações de pessoas que saqueiam as hortas e
roças.
O cultivo principal é a mandioca beneficiada para produzir farinha de
tapioca, farinha e massa de mandioca para o preparo de tapioca e beiju; o
tucupi não é aproveitado. Entre estes produtos a farinha d’água (Figura 4)
destaca-se como derivado principal. O processo de preparação da terra,
plantação, colheita e beneficiamento da mandioca se processam em diversas
etapas e envolvem todos os membros da família em trabalhos específicos
individuais e coletivos de base comunitária ou familiar.
Figura 4: Produto da mandioca

Fonte: Autor, 2021.

A “casa de farinha” está localizada no arraial da comunidade e é de uso

35
coletivo. Possui três fornos sendo dois “tradicionais” e um “elétrico”. O uso dos
fornos pelas famílias é acordado para evitar congestionamento na hora de
preparo da farinha. Antes da construção do forno elétrico era necessário
contratar pessoas, quando se pagava uma diária, para torrar a farinha, com a
inclusão da energia elétrica e do maquinário específico para triturar, prensar e
mexer a farinha as famílias passaram a economizar com o número de
trabalhadores.
Algumas famílias não usufruem da “casa de farinha” localizada no
“arraial” devido à distância, além de que, também necessitariam de igarapés
próximos para colocar a mandioca de molho. Mesmo que o melhoramento da
“casa de farinha”, destinado para o usufruto coletivo, as condições físicas e
outras limitações relacionadas à distribuição das famílias no território
inviabilizam esse usufruto coletivo.
Por isso, outras “casas de farinha” foram construídas com estrutura mais
simplificadas e mais afastadas do “arraial”. Instalados de cima para baixo na
comunidade sem a devida consulta e participação dos agentes sociais os
“projetos ditos de etno-desenvolvimento” descuidaram das informações
estratégicas sobre necessidades e facilidades do território. As inovações
técnicas instaladas com a chegada dos projetos continuaram sendo
acompanhadas pelas práticas tradicionais de transporte e demais etapas de
produção.

5.3 DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL NA COMUNIDADE QUILOMBOLA


SANTA RITA DE BARREIRAS.

O termo desenvolvimento sustentável foi popularizado e amplamente


utilizado nas décadas de 1980 e 1990. Sua inauguração mundial ocorreu em
1987, por meio do relatório da Comissão de Brundtland, que incitou, no início
da década de 1990, uma enorme expansão da qualidade e do volume de
legislações ambientais, bem como de acordos internacionais que, além de
mapearem o perfil das alterações ambientais, também impulsionaram a
mudança da política global. (Feil et al., 2017)
O Relatório de Brundtland, também conhecido como Nosso Futuro
Comum pela Comissão Mundial para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento da

36
Organização das Nações Unidas, na Noruega, que apresenta a definição de
desenvolvimento sustentável como aquele que supre as necessidades da
geração presente sem prejudicar as necessidades das gerações futuras.
(MOLINA, 2019).
Desenvolvimento sustentável é considerado a opção capaz de combinar
segurança e geração de riqueza. Nos países periféricos, a luta contra a
pobreza vem impulsionando uma nova corrida à exploração dos recursos
naturais, o que vem tornando ainda mais dramática a importância da
sustentabilidade e a capacidade de composição de conflitos. Sustentabilidade
é, assim, uma forma de interações entre mudanças econômicas, sociais e
ambientais, juntando o desenvolvimento econômico ao social, bem como a
conservação dos recursos para o futuro. (MACEDO, 2015).
As populações tradicionais possuem um modo de organização social e
econômico muito diferenciado em relação às populações urbanas e
industrializadas. Elas têm profundo conhecimento da Natureza e sua forma de
exploração dos recursos naturais, que caracteriza e mantém o seu modus
vivendi, se processa em íntima relação com esse saber e como espaço,
sentido por estes grupos com o ator de identidade, local de pertencimento,
onde eles reproduzem seus mitos e sua cultura. Assim, as atividades
econômicas desenvolvidas por estas comunidades guardam uma forte relação
de dependência para com a natureza e o seu modo de explorá-la é baseado
em tecnologias simples, que oferecem um impacto destrutivo menor ao meio
ambiente, vez que têm por finalidade a subsistência. (MACEDO, 2015).
As comunidades tradicionais ocupam territórios com recursos naturais e
detêm conhecimentos associados à biodiversidade com grande aptidão para se
transformarem em produtos, processos e inovações tecnológicas. Esse
conhecimento é um patrimônio da comunidade para trazer benefícios diretos ao
seu desenvolvimento, sujeito à justa remuneração, mediante repartição de
benefícios. (TURINE et al., 2017). As comunidades remanescentes de
quilombos são perfeitamente passíveis de serem consideradas comunidades
tradicionais, assim como os indígenas, as caiçaras, ribeirinhos, extrativistas etc.
(BERTOLDI, 2018).
Segundo Macedo (2014) A adoção das dimensões do desenvolvimento
sustentável na agricultura permite pensar na emergência de um modelo que se

37
opõe ao convencional, chamado de desenvolvimento rural sustentável ou
desenvolvimento agrícola sustentável. O desafio do desenvolvimento rural
sustentável consiste em dotar as populações vivendo nas áreas rurais das
prerrogativas necessárias a que sejam elas as protagonistas centrais da
construção dos novos espaços.
Enquanto no conflituoso mundo urbano tecnológico a população
cosmopolita para sobreviver a estresses necessita de espaço-tempo derivados
de super-heróis ou espaços virtuais, em muitos territórios quilombolas da
Amazônia há um respeito pelos olhos das florestas. Respeito aos horários em
que os “encantados” podem nos atrair para os fundões dos rios. Respeito para
seguir aguçando os ouvidos para os assovios da Matinta Pereira e tratar de
deixar tabaco para ela. Respeitar e cuidar para não deixar o Mapinguari ou
Curupira faça que te percas quando na mata fechada.
Respeitar e olhar com cautela para estranhos na festa, pois pode ser um
boto traiçoeiro. Respeitar os rios e igarapés, as Iaras-que são “Oxum”
também-, avolumam as águas quando passam. Respeitar e cuidado para evitar
a cobra grande ou pequena faz sentido. É também importante evitar comida
“reimosa” para manter a saúde e alongar o viver. O imaginário nos territórios
quilombolas ainda é fértil e não fosse a ganância, a crueldade inerente ao
modo de produção capitalista que empurram as fronteiras quase que
inexoravelmente, seria mais fácil que um certo tipo de bem viver quilombola
prevalecesse por aqui. (FUNDAÇÃO PALMARES, 2004).

5.4 POLITICAS PUBLICAS

A temática de políticas públicas para a população rural, recorre-se a


interpretações sobre algumas destas, das quais se destacam as políticas de
educação, de assistência social, de habitação e de atenção ao agricultor
familiar. Acerca das políticas educacionais do/no campo, (FRANÇA;
FARENZENA, 2016, p.11) apresentam que persistem situações de
desigualdade quanto a oportunidades educacionais e efetivação de direitos de
cidadania.
Conforme apresenta Romaniello, Assis (2015), a institucionalização da
extensão rural se deu no contexto social, político e econômico do período de

38
1948 a 1964, tempo este marcado por um cenário internacional de Guerra Fria
e nacional de industrialização do país. Havia a preocupação por parte dos
norte-americanos capitalistas de que o ideário comunista do bloco oposto
atingisse o Brasil. O “perigo vermelho” ameaçava o mercado consumidor de
produtos industrializados dos Estados Unidos, ameaçava, também, sua fonte
de matérias-primas vindas do Brasil. Segundo Portilho (1998), o temor norte-
americano de que o “perigo vermelho” se espalhasse pela América Latina e
pudesse comprometer seus interesses econômicos, políticos e ideológicos,
possibilitou que a educação informal fosse viabilizada por meio da implantação
e da institucionalização dos serviços de extensão rural, no caso, o surgimento
da Associação de Crédito e Assistência Rural (ACAR).

A ACAR estende-se, então, pelo território do Estado, onde escritórios


eram instalados nos municípios em acomodações modestas com uma
auxiliar de escritório. A equipe de (agrônomo e economista doméstica)
visitavam as propriedades rurais, percorrendo até dois municípios para
conhecer de perto os problemas das comunidades e famílias rurais.
Nesse período, eram organizadas demonstrações, reuniões e palestras,
buscando, por meio do conhecimento, mudanças nas atitudes e
habilitações para atingir o desenvolvimento individual e social. O trabalho
era realizado envolvendo o agricultor, sua esposa e filhos, persuadindo,
por meio de campanhas comunitárias, o uso de recursos técnicos para
maior produtividade e o bem-estar social (ROMANIELLO, ASSIS, 2015,
p.23)

A criação da A EMBRATER, determinou-se a criação das EMATER´S


que são executadas pelas empresas estaduais de ATER (Assistência Técnica
e Extensão Rural). Modelos de um novo modo de se fazer ATER surgiram com
uma perspectiva de “transição agroecológica”, como uma crítica aos preceitos
e instrumentos da revolução verde. Segundo Caporal (2001), esse modelo
caracteriza-se por uma intervenção de caráter educativo e transformador, que
tem o objetivo de alcançar um desenvolvimento socialmente equitativo e
ambientalmente sustentável, adotando os princípios teóricos da Agroecologia.
O Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) é o maior
programa de suplementação alimentar da América Latina contribuindo com a
Segurança Alimentar e Nutricional e viabilizando a promoção do Direito

39
Humano à Alimentação Adequada (DHAA) por meio da alimentação escolar,
indo ao encontro das metas dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio
(ODM) (LIBERMANN; BERTOLINI, 2015).
O PNAE tem como principal objetivo proporcionar aos estudantes uma
alimentação digna, que garante minimamente, uma nutrição segura e de
qualidade, o programa proporciona aos mesmos um exercício de cidadania e
melhoria da qualidade de vida. E para isso, o Programa Nacional de
Alimentação Escolar tem como busca prestar auxílio financeiro adicional aos
estados e municípios brasileiros com o objetivo de garantir uma refeição diária
a cada aluno matriculado em escolas públicas e/ou filantrópicas. (FERREIRA
et al., 2019)
O Programa de Aquisição de Alimento foi Criado pela Lei n° 10.696, de 2
de julho de 2003, e alterada pela Lei nº 12.512, de 14 de outubro de 2011, é
uma política pública que apresenta como focos centrais o incentivo à
agricultura familiar e o combate à insegurança alimentar e nutricional. O PAA
tem, entre seus objetivos principais, promover a inclusão produtiva dos
agricultores mais pobres e garantir à população o acesso à alimentação
saudável. (SAMBUICHI et al., 2020)
As políticas direcionadas para o meio rural, percebe-se a relevância do
PRONAF (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar), no
qual se estabelecem propostas que objetivam o desenvolvimento rural
sustentável, almejando a melhoria da qualidade de vida dos agricultores
familiares.
Para o cumprimento desse propósito, as ações do programa consideram,
implicitamente, a relevância da formação de capital humano e social no
meio rural. A tentativa de formar esses estoques, no programa, relaciona-
se às atividades ligadas ao incentivo a associações, conselhos e
cooperativas rurais, e serviços de Assistência Técnica e Extensão Rural
(Ater) para os produtores familiares (SILVA; BERNARDES, 2014, p. 740).

6 RESULTADO E DISCUSSÕES

Ao chegar à comunidade chamou atenção a aparente tranquilidade do


local. As primeiras apreensões “etnográficas” foram o campo de futebol que
tinha ao fundo uma pequena escola, várias casas de alvenaria e de madeira

40
organizadas em forma de semicírculo, com vegetação de grande porte no
entorno; mais ao centro, a igreja e a caixa d’água.
A receptividade foi muito boa. As conversas preliminares foram
entabuadas com o Sr. I., Sr. F. S. N. (60 a.), Ex-Presidente da Associação. Na
oportunidade foi possível explanar os objetivos da pesquisa, devidamente
documentado, e posteriormente receber a autorização para realizar a pesquisa
de campo.

Entrevista na comunidade Quilombola de Santa Rita de Barreiras

Entrevistador: Quantas pessoas moravam na propriedade?


FSN: A propriedade é coletiva e moram 78 famílias.
Entrevistador: Possui responsável pela gestão da comunidade?
FSN: Sim, a Associação de moradores e produtores rurais da comunidade
santa Rita de barreiras, onde atualmente a liderança é a Senhora S....
Entrevistador: Atuou quantos anos sendo líder da Associação.
FSN: Atuei por 6 anos, até o final de 2019.
Entrevistador: Qual é o modo de escolha de líder?
FSN: Possui uma eleição e são feitas as eleições a cada 3 anos de acordo
com o estatuto.
Entrevistador: Qual o seu nível de escolaridade?
FSN: Eu tenho nível superior.
A grande maioria dos agricultores da comunidade de Santa Rita se
encontra com apenas o ensino fundamental incompleto devido que começaram
a trabalhar na “roça” enquanto ainda eram crianças e por isso em grande parte
pararam de frequentar a escola.
Segundo Ferreira (2015) Em relação ao nível de escolaridade, os
sujeitos da comunidade são representados da seguinte maneira: educação
infantil 4%, ens. Fundamental 1º ao 5º ano 60%, ens. Fundamental 6º ao 9º
ano 19%, ens. Fundamental completo 1,2%, ens. Médio incompleto 7%, ens.
Médio completo 7%, ens. Superior incompleto 1,2%, ens. Superior completo
0,6% e nunca frequentaram instituições de ensino 30%.

Segundo bloco de perguntas: Características da propriedade.

41
Entrevistador: Qual a forma de divisão de trabalho na propriedade? Se tem
aqueles responsáveis por plantar, responsável pela colheita, responsável pela
mão de obra para fazer os produtos.
FSN: Não, aqui funciona a agricultura familiar, então cada família planta e
produz. No caso, a maior produção aqui é da maniva (Manihot esculenta), ou
seja, o produto final é a farinha.
Entrevistador: Então, todo mundo se envolve do começo até o final da
produção?
FSN: Isso.
No trabalho de Faro (2019), o papel das mulheres em uma comunidade
é bastante relevante, tendo uma participação histórica na formação e
autonomia desse povoado. A capacidade que às mulheres têm para tomar
decisões e participar em órgãos de poder a nível local, do ciclo da sua vida, do
seu estatuto e posição social, da vida em meio urbano ou rural, da crença
religiosa professada pelo grupo familiar, da sua educação, das suas vivências e
das experiências históricas da sua região.
A organização social da produção agrícola baseada no trabalho familiar
favorece a conciliação entre a complexificação desejada, resultando uma
agricultura ambientalmente sustentável, por causa de sua produção
diversificada, integrando atividades da agricultura e pecuária (ASSIS e
ROMEIRO, 2005)
Entrevistador: A propriedade é especializada em termo de produção? Você
disse que a especialidade é a farinha, nesse aspecto já existe algum
maquinário tecnológico mais avançados para ajudar nesse processo?
FSN: Não, na questão do plantio ainda é a forma tradicional, broca, queima e
eventualmente temos algumas áreas arada, mas não são todos os anos. E a
questão do maquinário só tem agora a casa de farinha, que a gente tem um
forno elétrico e os motores que trituram a mandioca. (Figura 5)
A “casa de farinha” está localizada no arraial da comunidade e é de uso
coletivo. Possui três fornos sendo dois “tradicionais” e um “elétrico”. O uso dos
fornos pelas famílias é acordado para evitar congestionamento na hora de
preparo da farinha.

42
A introdução dos meios tecnológicos (forno e catitu elétricos) na casa de
farinha da referida comunidade estudada, a partir da implantação da energia
elétrica, no ano de 2007, fez com que aumentasse a produção de farinha, uma
vez que antes ela era somente destinada à subsistência e, raramente, o que
excedia era o que eles levavam para o mercado na cidade. (SANTOS, 2018)

Figura 5: Instrumentos da Casa de farinha

Fonte: Autor, 2021.

Entrevistador: Então aqui é só a produção de farinha?


FSN: É, só a farinha. (Figura 6)
A casa de farinha da comunidade pertence a associação de moradores.
A produção da farinha nessa comunidade quilombola é importante, uma vez
que tal atividade constitui tanto como produtora de um dos produtos
fundamentais a alimentação das famílias, quanto um elemento fundamental na
economia dos agricultores.
Figura 6: Casa de farinha

43
Fonte: Autor, 2021.

Entrevistador: Qual a principal fonte de renda das famílias? No caso, se é


leite, grãos, suínos, aves, agroindústrias ou outras?
FSN: É agricultura, mas aí tem algumas famílias que não trabalham na
agricultura, eles são empregados das cerâmicas, aqui são alguns pais e jovens
trabalham nas cerâmicas.
Apesar da agricultura ser predominante na comunidade, não são todas
as famílias que trabalham com a “terra”, alguns são trabalhadores assalariados
e empregados das cerâmicas do município de São Miguel do Guamá.
Os principais produtos da lavoura temporária, em São Miguel do Guamá,
são: arroz, feijão, mandioca, melancia e o milho tanto em quantidade de área
plantada e valor da produção anual. Porém no município de São Miguel do
Guamá as principais atividades do setor de indústria de transformação são a
indústria de cerâmica vermelha, onde existem 42 indústrias de cerâmica
vermelha ativas nos municípios de Ipixuna do Pará e São Miguel do Guamá.
(LIMA et al., 2014).

Terceiro bloco de perguntas: Gestão da comunidade

Entrevistador: Como é realizado o controle dessa produção, ou seja, quanto


que vai custar, por quanto que vai vender, em que período vai ser feito o plantio
a colheita. Como é realizado esse controle?

44
FSN: O plantio é feito no início do ano geralmente em janeiro a fevereiro. E
agora nesse período (meio do ano) agora no mês de maio, junho e julho,
também é feito plantio. Quem planta milho por exemplo (janeiro planta milho
também, final de dezembro e janeiro) até agora no final de maio temos famílias
que plantam feijão, melancia, nesse período agora.
Segundo Slack et al. (1997) o controle está ligado diretamente ao
monitoramento do que realmente aconteceu, à comparação com o plano pré-
estabelecido e às ações para providenciar as mudanças necessárias para o
realinhamento do plano
Entrevistador: É realizado algum controle da oferta e da demanda dos
produtos, por exemplo, vocês em algum momento produzem naquele período
que sabem que uma empresa vai comprar de vocês ou de repente a própria
prefeitura, pela secretaria de agricultura. Tem esse planejamento?
FSN: Tem, por que assim, como a associação tem alguns membros que
fornecem para a prefeitura, o programa nacional de alimentação escolar
(PNAE), então eles se preocupam com o período que a prefeitura vai pedir os
alimentos, são aqueles que participam da chamada pública, por isso já ficam
atentos.
O PNAE passou a garantir, de maneira suplementar, por meio de
transferência direta, os recursos financeiros para a alimentação escolar dos
alunos da educação básica, matriculados em escolas públicas, filantrópicas e
comunitárias, inclusive nas escolas localizadas em comunidades indígenas e
em comunidades remanescentes de quilombos. (BRASIL, 2015)
Entrevistador: Então a produção é planejada?
FSN: Sim, principalmente na questão de hortaliças, na questão de melancia, a
farinha não por que não estamos fornecendo por que precisa de selo e nós não
temos aqui, e também como a gente tem a associação, já teve uns três ou
quatro projetos do CONAB, então quando se envia um projeto para lá, já
ficamos com a expectativa de ser aprovado e todo mundo já começa a se
preocupar com o plantio de hortaliças e frutas em geral.
Segundo Mota (2019) um bom planejamento requer uma visão
adequada do futuro e é baseado em expectativas relativas ao que se pretende
alcançar. Porém o mesmo pode tornar-se inviável no decorrer do processo
produtivo, devido ao surgimento de possíveis variáveis.

45
Entrevistador: A respeito também dessas atividades produtivas. Elas são de
alguma forma financiadas. Exemplo, precisa de algum recurso para custear
essa atividade de vocês, ou existe algum seguro de produção para de repente
vim uma forte chuva, uma seca que não estava prevista, mas para vocês não
saírem no prejuízo dessa colheita, existe na comunidade alguma espécie de
financiamento?
FSN: Não, não tem, as famílias trabalham com seus próprios recursos.
Segundo a EMBRAPA (2005) em 1995, com base no Programa de
Valorização da Pequena Produção Rural (Provape) e por meio da Resolução
CMN/Bacen nº 2.191, foi instituído pelo Governo Federal o Programa Nacional
de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), com uma linha de
financiamento de custeio agrícola. Assim, o produtor possui um apoio financeiro
para custear a sua produção caso ocorra imprevisto em sua safra.
Quarto bloco de perguntas: Aquisições

Entrevistador: Em relação aqui na comunidade, o senhor tendo conhecimento


das famílias, como é que é feito a organização do que as famílias gastam para
ter sempre essa rotatividade de produção, as famílias nas maiorias das vezes
elas anotam o que elas ganham? Para saber o que entra, o que sair de lucro.
Vocês não têm esse controle anotado, mas gostariam de ter esses
conhecimentos financeiros, ou de repente começa a fazer esse planejamento
mais no meio aca esquecendo.
FSN: De algum tempo para cá, algumas famílias (não são todas), já tem essa
preocupação de anotar, fazer anotações para saber qual o seu lucro, o que ele
gastou, mas também fica nessa situação de acabar esquecendo, então depois
que esquece a primeira vez, acabam abandonando aquele trabalho pela
metade.
Entrevistador: Certo, na comunidade vocês fazem reunião para o
planejamento?
FSN: Sim fazemos, as reuniões são mensais, a reunião da associação.
Entrevistador: Onde vocês costumam recorrer quando precisam de dinheiro
em situações de emergência? Vocês solicitam empréstimos bancários;
recorrem a algum familiar; algum amigo próximo ou vocês têm algum tipo de

46
aplicação como uma caderneta financeira (de poupança), que fica guardada
para caso alguma emergência vier acontecer, algum problema na produção.
FSN: É assim, a associação não tem uma reserva financeira.
Entrevistador: Mas a associação já tem CNPJ?
FSN: Sim. Quando a necessidade de algum tipo de “aperreio” pra assumir um
compromisso, se faltar algum dinheiro, geralmente procura algum amigo que
possa dar esse apoio, mas dinheiro mesmo tipo poupança não tem, algumas
famílias raramente têm, mas é uma coisa particular.
Entrevistador: A propriedade, no caso a comunidade possui algum controle de
custo de produção, ou seja, para ter esse equilíbrio se produz demais ou de
menos para não ter, digamos a perca de produto demasiadamente ou não ter
um mercado que vá consumir essa produção, existe algo para esse controle?
FSN: Não, ainda não temos preocupação peara esse controle.
Segundo Santos (2009) o estoque de segurança ou estoque de produto
é para suprir um determinado período, além do prazo de entrega para consumo
ou vendas, prevenindo possíveis atrasos na entrega por parte do fornecedor e
garantindo o andamento do processo produtivo caso ocorra um aumento na
demanda do item.
Entrevistador: Como é realizado o controle de custo da propriedade?
Exemplo, tem algum maquinário, vocês fazem essas anotações no caderno,
tipo já é cobrado alguma coisa da associação, como energia, água, possui
algum acompanhamento, ou um gerador? Como é que é feito? Se é ligado só a
tarde ou só de manhã. Existe algum controle em relações a essa questão?
FSN: É por exemplo a casa de farinha, ela é movida a energia
convencional, então é cobrado de cada pessoa que vai fazer a farinha uma
taxa por saca de farinha, que é para poder dar a manutenção, pagamento de
energia, de alguma correia que quebrar ou que dar problema, é dessa forma,
então tem uma pessoa responsável para fazer anotações no final, que cada
família terminar de fazer a sua farinha para depois prestar conta do valor que
eles vai pagar, se são duas sacas ou três sacas e assim por diante, a mesma
coisa acontece com a bomba da água, a gente fez uma organização que cada
duas famílias paga um talão de energia por mês, temos uma escala de dezoito
meses e no final de dezoito meses a gente renova, ai continua com o quem

47
pagou primeiro, a família que estava lá atrás reinicia a nova relação, assim que
funciona.

Quinto bloco de perguntas: viabilidade econômica

Entrevistador: Como vocês programam a safra do ano para o período


seguinte, vocês fazem alguns estudos de impacto, por exemplo: esse ano nos
produzimos de menos, e precisamos produzir mais porque teve mais procura
de tal cultura e não teve como a gente suprir a demanda, devido que não teve
planejamento de acordo com o mercador consumidor, então produziu demais e
houve a perda desse produto por que não tinha mercado consumidor. Com é
feita essa programação da safra desse ano para a safra do ano seguinte?
FSN: Olha, na verdade a gente ainda não tem preocupação de fazer esse
planejamento, por exemplo: de avaliar a produção esse ano, se foi de mais ou
que foi de menos para poder se planejar para a próxima safra, na verdade nós
ainda não nos atentamos para isso, para esse lado.
Entrevistador: E o que vocês levam em consideração pro planejamento dessa
produção pro ano, exemplo: é o que mais tem procura, vocês procuram fazer o
plantio de alguma cultura que ainda não foram utilizadas para plantio e vocês
viram que possui mercado consumidor e já começaram a tentar produzir. O que
vocês levam em consideração para planejar o começo da produção.
FSN: É principalmente o mercado, de acordo com a necessidade e também o
período, por exemplo: as hortaliças, tem hortaliças que tem um período do ano
que é melhor de vender e é melhor de produzir, o cheiro-verde por exemplo,
agora no inverno, não dá para produzir com facilidade ai quando vai se
aproximando o verão que é melhor de produzir, mas tem a questão da água
que tem que ter a irrigação. Então é dessa forma, de acordo com o período
que a gente acha que é melhor de vender, que o mercado é melhor. Ai ou
exemplo a farinha (Figura 7), tem período que o preço está elevado. Agora por
exemplo ela começou a subir o preço, está bem valorizada.

48
Figura 7: Farinha temperada

Fonte: Autor, 2021

Entrevista – Parte 2

Entrevistador: O que os produtores fazem para diminuir os impactos


ambientais na terra?
VP: Evitam queimadas, apesar de ainda não terem implementos agrícolas que
possam evitar o sistema de queimada. Eles procuram fazer roças no período
que menos o fogo atinge o mato, além disso evitam o uso de insumos químicos
e também evitamos o uso de venenos que nem sempre é possível.
Entrevistador: Quais os programas que ajudam a associação?
VP: Olha os programas sociais que sempre participamos com vendas de
produtos é PNAE (Programa Nacional de Alimentação Escolar) e o PAA
(Programa de Aquisição de Alimentos), além desses, antes o tinha o PNHR
que era o Programa de Habitação Rural, que através dele conseguimos a
construção de 46 unidades habitacionais.
Entrevistador: Além da maniva, quais as outras culturas que são trabalhadas
na comunidade?
VP: Os produtos que produzimos são: hortaliças, banana, laranja, limão,
macaxeira e entre outros.

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS

49
Com base na premissa, fundamentos e argumentos propostos ao longo
do trabalho, pontuam-se as principais conclusões. Durante a minha pesquisa
sobre a temática de produção comunidades quilombolas percebi que ainda
falta muito para que esses povos consigam crescer e evoluir em aspecto de
produção e educação, a maioria dos pequenos agricultores ainda não
conhecem grande parte dos programas existentes que são voltadas para eles,
porem o Estado ainda tem dificuldades para atender as demandas de
comunidades quilombolas tituladas. Grande parte desses produtores também
não possuíam noção sobre os benefícios da DAP e do CAR, o que acabou
mostrando a ausência do Estado e das políticas públicas que tenham os
objetivos garantir-lhes condições de um bem viver sem sobressaltos e
oportunidades básicas de usufruir dos seus direitos.
Atualmente, a EMATER e a Secretaria de Agricultura Municipal
estabeleceram uma relação conjunta para a realização de projetos e
cadastramento nas comunidades aos arredores do município de São Miguel do
Guamá, parte das ações são interpostas as visitas técnicas e as determinações
definidas pelos calendários das respectivas instituições.
Mesmo produzindo outras culturas, a comunidade quilombola Santa Rita
de Barreira é mais voltada para o manejo da mandioca, onde é utilizado a
massa depois da raspagem das raízes, após a trituração da massa tem-se a
separação do “tucupi” e assim inicia a peneiração da massa até o ponto certo
para leva-lo ao forno. Contudo, a produção não é apenas em relação
socioeconômico e sim tendo todo uma história de ancestralidade vivida pelas
famílias, onde é passado de geração a geração.
A relevância de adentrar neste universo perpassa pela invisibilidade dos
estudos relacionados às comunidades quilombolas. O modo de vida dessas
comunidades é uma dinâmica que impulsiona a adentrar neste campo de
pesquisa e analisar a temática quilombola de forma mais ampla, a partir de
duas situações empírica de mesma estética que falam por si só, para além de
evidências teóricas.
O resultado desta pesquisa aponta para a necessidade de elaboração
ou proposição de políticas públicas socioeconômicas e agroecológicas que
contribuam ainda mais para o desenvolvimento da comunidade.

50
51
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ACEVEDO MARIN. Perfil da mulher camponesa do sudeste do Pará. In: Novos


Cadernos do NAEA, vol. 2 - n°1 junho 1999, p. 113-127.

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APÊNDICE 1 – Questionário da pesquisa Quali-quantitativa

Instituto Federal De Educação, Ciência E Tecnologia Do Maranhão – IFMA


Campus Codó Coordenação Geral Dos Cursos Superiores – CGCS
Curso De Bacharelado Em Agronomia

Estudo sobre aspectos produtivo da comunidade quilombola Santa Rita de


Barreiras

Bloco 1: características dos entrevistados:

1 Nome(opcional)
2 Idade
3 Posição na familia
4 Quantas pessoas moram na propriedade
5 Possui um responsável pela gestão da propriedade?
( ) Sim
( ) Não.
Se “sim”, quem?
6 Qual o seu nível de escolaridade do responsável pela gestão?
( )Analfabeto
( )Ensino Fundamental
( )Ensino Médio
( )Superior incompleto
( )Superior completo.
Bloco 2: características da propriedade
7 Qual a forma de divisão de trabalho na propriedade?
8 A propriedade é especializada em termos de produção?
( ) sim
( ) não. Qual?
9 O que se produz na propriedade?
10 Qual a principal fonte de renda familiar?
( ) Leite
( )Grãos
( ) suínos
( ) Aves
( ) Agroindústria
( ) Outro, cite

Bloco 3: Gestão na Propriedade (Parte 1 do bloco 3: percepção do


produtor)
11 Como é realizado o controle da produção (insumos, custos,
receitas)? E em que período é feito?

12 É realizado algum controle da oferta e demanda dos produtos? se


sim, quais?
Parte 2 do bloco 3: perguntas sobre a gestão na propriedade e estimativa
de métricas
13 As atividades produtivas são financiadas?
( ) sim, precisa do recursos para custear a atividade.
( ) sim, para garantir o seguro da produção em caso de intempéries.
( ) Não são financiadas.

14 Realiza registro de aquisições, gastos e despesas?


( ) Anoto todas as receitas e despesas para saber onde gasto meu dinheiro e
onde vem as receitas.
( ) Gostaria, mas não sei como fazer
( ) Já comecei, mas acabo esquecendo de anotar algumas despesas.
( ) Nunca fiz anotações
( ) Não acho necessário realizar controle

15 Você faz um planejamento na propriedade?


( ) Sim
( ) Não. Como?
Por quê?

16 Onde costuma recorrer quando precisa um dinheiro em situações


de emergência?
( ) Empréstimo bancário.
( ) Recorre a um amigo ou parente.
( ) Possui uma aplicação financeira.
( ) Não sabe

17 A propriedade possui algum controle de custo da produção?


( ) Sim
( ) Não

18 A propriedade possui algum controle do volume comercializado?


( ) Sim
( ) Não

19 Como é realizado o controle de custos na propriedade?


( ) Anotações em caderno
( ) Possui sistema para acompanhamento
( ) fluxo de caixa
( ) Outros, cite

Bloco 5: viabilidade econômica


20 Como programa a safra do ano/período seguinte?

21 O que leva em consideração para planejar a produção do período


seguinte?
ANEXO 01

TERMO DE CONSENTIMENTO INFORMADO, LIVRE E ESCLARECIDO

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO INSTITUIÇÃO RESPONSÁVEL –


IFMA

NOME:

RG/CPF:

Este Consentimento Informado explica o Trabalho de Conclusão de Curso


Estudo sobre as práticas de gestão na agricultura familiar no município de Três
Passos, para o qual você está sendo convidado a participar. Por favor, leia
atentamente o texto abaixo e esclareça todas as suas dúvidas antes de
assinar.

Aceito participar do Trabalho de Conclusão de Curso do Estudo sobre


Aspectos produtivos da comunidade quilombola santa rita de barreiras,
em são miguel do guamá-pa. que tem como objetivo Analisar as práticas de
produção feitas pelos agricultores familiares da comunidade Santa Rita de
Barreiras para a produção de suas propriedades.
A minha participação consiste na recepção da ___________________para a
realização de entrevista.
Fui orientado de que as informações obtidas neste Trabalho de Conclusão
serão arquivadas pela Instituto federal de educação, ciência e tecnologia do
maranhão/IFMA e que este projeto/pesquisa resultará em um Trabalho de
Conclusão de Curso escrito pelo aluno. Para isso,( ) AUTORIZO / ( ) NÃO
AUTORIZO a minha identificação.

Declaro ter lido as informações acima e estou ciente dos procedimentos para a
realização do Trabalho de Conclusão de Curso, estando de acordo.

Assinatura
, / /2021

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