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UNIDADE 1

O Eu Histórico
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Em um lindo texto que nos encanta mundialmente, o escritor malinês Amadou


Hampaté Bâ nos traz a seguinte pergunta: quantas pessoas existem dentro de uma
mesma pessoa? A partir dessa curiosa questão, ele nos apresenta uma das mais
bonitas interpretações da história social dos povos da África do Oeste, sobre a
noção de pessoa, do “Eu”, no espaço, no tempo e nas dimensões espirituais.

Destacamos este belo trecho:


(...) o ser humano não é uma unidade monolítica, limitada a seu corpo físico, mas sim

um ser complexo habitado por uma multiplicidade em movimento permanente. Ele não

se trata, portanto, de um ser estático, ou concluído. A pessoa humana, como a semente,

evolui a partir de um capital primeiro, que é seu próprio potencial e que vai se

desenvolvendo ao longo da fase ascendente de sua vida, em função do terreno e das

circunstâncias encontradas. As forças liberadas por esta potencialidade estão em

perpétuo movimento, assim como o próprio cosmos. (AMADOU, 1981, p. 3)

(...) o ser humano não é uma unidade monolítica, limitada a seu corpo físico, mas sim
um ser complexo habitado por uma multiplicidade em movimento permanente. Ele não
se trata, portanto, de um ser estático, ou concluído. A pessoa humana, como a semente,
evolui a partir de um capital primeiro, que é seu próprio potencial e que vai se
desenvolvendo ao longo da fase ascendente de sua vida, em função do terreno e das
circunstâncias encontradas. As forças liberadas por esta potencialidade estão em
perpétuo movimento, assim como o próprio cosmos. (AMADOU, 1981, p. 3)

A reflexão sobre o “Eu” Histórico se apresentou para nós a partir do final do século XIX
e atravessou o século XX e os primeiros 20 anos do século XXI.

Para nós, que somos tão envolvidos por cobranças, imagens, orientações, direitos e
deveres que exigem a definição do nosso nome, idade, filiação e localização, parece
espantoso que somente nos últimos 130 anos a noção do “Eu” tenha ganhado um
destaque tão grande.

E por que foi o mundo contemporâneo que nos convidou a refletir sobre o “Eu”?

Historicamente, foi nesse período que surgiram diversas questões, movimentos e


transformações nos quais se tornou fundamental perceber que os seres humanos, apesar
de únicos, em face das demais espécies vivas, não são os mesmos em todos os tempos e
possuem diversas formas de lidarem com o espaço, o tempo e com suas produções
culturais, referências intelectuais e perspectivas espirituais.

Fonte: Getty Images


A obra do historiador Marc Bloch, morto em um campo de prisioneiros por conta da
perseguição nazista na Segunda Guerra Mundial (1939-1945), nos traz uma noção
fundamental do papel da História de dar “voz aos mortos”, enfatizando o vínculo entre
passado e presente, a partir das experiências humanas individuais e coletivas (BLOCH,
1965).
BLOCH, M. Introdução à História. Lisboa: Publicações Europa-América,
1965. Gerações de jovens historiadores tiveram nessa obra a sua
iniciação nos estudos históricos. Ela foi escrita no período de prisioneiro
de guerra das tropas nazistas. O autor teve que se remeter a sua
memória para fazer o texto. Foi a última obra antes de morrer.

Se nos últimos 70 anos o reconhecimento da diversidade humana é visto como um valor


universal e como algo que faz a vida do planeta ser melhor e mais criativa, na primeira
metade do século XX, as diferenças humanas foram hierarquizadas e tratadas de forma
desqualificadora para justificar a criação dos impérios coloniais na África e na Ásia e
para garantir a exploração dos povos desses continentes.

Os povos africanos e asiáticos tiveram suas formas de ser e de viver consideradas


inferiores em comparação com as pessoas que faziam parte das nações colonizadoras,
que se encontravam na Europa Ocidental, notadamente em Portugal, Espanha, França,
Inglaterra e Alemanha.

Durante a Era Colonial, que começou em torno de 1890 e que durou até 1962, com a
Guerra da Argélia, em um primeiro momento, e teve seu completo fim em 1974, por
conta das guerras de libertação de Angola, Moçambique, Guiné-Bissau e Cabo Verde,
as diferenças entre pessoas e sociedades eram explicadas em termos de raça.

Esse seria um conjunto de características biológicas que sofriam também interferências


do meio natural, que justificariam a diversidade humana, mas remetendo à ideia de que
haviam raças mais avançadas do que outras, no caso, a dos brancos da Europa
Ocidental, que poderiam colonizar e controlar a mão de obra e os territórios daqueles
que eram considerados não brancos.

Junto a essa visão, associavam-se ideias que vinham de uma interpretação das Ciências
Biológicas e das Ciências Sociais, que posteriormente se revelou equivocada, de que
havia raças atrasadas e outras evoluídas, o que criaria uma distinção dentro da espécie
humana. Basta dizer que, com essa perspectiva, os dois grandes conflitos mundiais do
século XX, a Primeira Guerra Mundial (1914-1918) e a Segunda Guerra Mundial
(1939-1945), ceifaram milhões de vidas, justificado pelo racismo (o ato de
discriminação embasado na ideia de raça), pela xenofobia (o ódio ao estrangeiro) e pela
intolerância religiosa.

A noção de “Eu” emergiu no final do século XIX e ganhou espaço nos séculos XX e
XXI. Na primeira metade do século XX, era tratada como pessoa aquela que era
considerada civilizada, portadora dos valores culturais, espirituais e estéticos da Europa
Ocidental, sendo parte da raça branca. Os demais seres não eram vistos como pessoas e,
junto ao racismo, todos os demais seres humanos que, mesmo na Europa, não fossem
cristãos, heterossexuais e concordantes dos governos e dos sistemas políticos
hegemônicos eram considerados seres de segunda categoria. Apesar das transformações
e dos avanços na crítica às exclusões por gênero, religião e raça, ainda há grandes
desafios a serem vencidos contemporaneamente.

De acordo com Santos (2020, p. 157):


A intolerância ao estrangeiro e a discriminação religiosa tornaram-se fenômenos que

ocorrem globalmente e que marcam os vinte primeiros anos do século XXI. A maneira

de pensar uma nação atrelando Estado a um território homogêneo e coeso foi

transformada pelas duras condições sociais planetárias, e a circulação de pessoas se

intensificou bastante. Com elas vieram novas formas sociais, culturais, políticas e

espirituais de se estar no mundo. Estabelecer vínculos e ser transformado por eles foi e é

um grande desafio, limitado pelas graves dificuldades econômicas que o globo atravessa

e pela ascensão de governos e ideologias extremistas.

A intolerância ao estrangeiro e a discriminação religiosa tornaram-se fenômenos que


ocorrem globalmente e que marcam os vinte primeiros anos do século XXI. A maneira
de pensar uma nação atrelando Estado a um território homogêneo e coeso foi
transformada pelas duras condições sociais planetárias, e a circulação de pessoas se
intensificou bastante. Com elas vieram novas formas sociais, culturais, políticas e
espirituais de se estar no mundo. Estabelecer vínculos e ser transformado por eles foi e é
um grande desafio, limitado pelas graves dificuldades econômicas que o globo atravessa
e pela ascensão de governos e ideologias extremistas.

Marcha sob Washington, D.C. (EUA), século XX


Fonte: Wikimedia

Os anos 60 do século XX se destacaram pelas reivindicações de uma nova escrita da


História. Que esta não fosse mais a exaltação dos grandes homens, que apagava as
mulheres, crianças e a diversidade social e humana. Que pudéssemos conhecer a história
das crianças, das mulheres, dos trabalhadores, dos povos africanos e asiáticos.

Que pudéssemos expandir as noções de estética e de valorização dos diversos


patrimônios culturais do mundo. Foi um período fundamental para a emergência da
contestação dos jovens, que não aceitavam ser submetidos a trabalhos forçados e a
regimes laborais em condições análogas à escravidão, no caso da África e da Ásia. Já na
Europa e nas Américas, ganham muita força as reivindicações juvenis de direito aos
próprios corpos, não tendo que se submeter ao serviço militar obrigatório.

A autodeterminação dos povos e dos indivíduos tornou-se uma bandeira

fundamental, e com isso surgiu também a reivindicação da sexualidade como

uma experiência única de liberdade, de autodescoberta, de fortalecimento da

noção do “Eu” e da liberação de vínculos tradicionais, como o casamento e a

obrigatoriedade de ter filhos.


Pluralismo político, a sexualidade livre, o fim do serviço militar obrigatório, a

valorização do cotidiano e o fim do racismo se tornaram agendas identitárias que

passaram a associar pessoas que buscavam desenvolver a noção do “Eu”

histórico por meio do autoconhecimento, mas também da militância político-

social, da expansão do ensino universitário, da valorização da diversidade

religiosa e da liberdade que a mulher deve ter em relação ao seu próprio corpo.

Pluralismo político, a sexualidade livre, o fim do serviço militar obrigatório, a


valorização do cotidiano e o fim do racismo se tornaram agendas identitárias que
passaram a associar pessoas que buscavam desenvolver a noção do “Eu” histórico por
meio do autoconhecimento, mas também da militância político-social, da expansão do
ensino universitário, da valorização da diversidade religiosa e da liberdade que a mulher
deve ter em relação ao seu próprio corpo.

“The Flower Power”, de Bernie Boston, fotografia retirada durante a


Marcha no Pentágono, em 1967
Fonte: Wikimedia

A conjuntura do mundo nos anos 60 e 70 do século XX não foi nada fácil e, em muitos
momentos, altamente reativa a tantas demandas e anseios do “poder jovem”. Mas não
havia mais condição de se retornar para uma ordem mundial que, em menos de 50 anos,
havia provocado duas guerras mundiais com imenso sacrifício juvenil.

Junto com isso e na busca de novos caminhos, o reconhecimento de outros patrimônios


e valores civilizatórios não ocidentais abriu um rico caminho de produção literária, de
pesquisas sociais e compreensão do “Eu” na Psicologia e na Psicanálise.

Protesto de estudantes na França, em 1968


Esse “Eu” passa a ser visto como uma dimensão que é interna e única do indivíduo que
a porta, por isso, para ser compreendido, precisava ser buscado, descoberto, sentindo,
percebido. Nesse sentido, a Psicanálise dos anos 1960 enfatizou ainda mais a
importância do inconsciente e da compreensão e problematização dos comportamentos,
vistos como expressões de uma dimensão que se acessa no profundo de cada ser.

A saúde mental ganha um particular destaque nesse contexto e o que se considerava

como desordens mentais também. É fortalecido na França e em diversos países o

movimento antimanicomial e a denúncia dos usos dos equipamentos que provocavam os

choques elétricos.

As pulsões, os sentimentos profundos e o inconsciente deveriam ser descobertos,

reconhecidos e trabalhados. As artes, a poesia, a literatura e as pesquisas nas Ciências

Sociais deveriam se abrir também, corajosamente, para conhecer o inconsciente

coletivo, para se questionar os mecanismos repressores e se perceber o que era da antiga

ordem política e colonial que criara tantas divisões e ódios no mundo.


Nesse processo, as medicinas, os caminhos culturais e valores civilizatórios africanos,
indígenas e asiáticos ganharam um imenso impulso e adesão. Grupos de meditação se
fortaleceram também como caminhos de uma busca para dentro, de uma descoberta de
si na perspectiva do encontro consigo mesmo.
Dia Nacional da Luta Antimanicomial é celebrado em 18 de maio
Fonte: abrasco.org.br

Ao mesmo tempo, nos campos musical e artístico, a reconquista da posse do corpo e do


autoprazer vinha nas ondas do Rock and Roll e das baladas. Chacoalhar os corpos, ousar
nas roupas, liberar movimentos trazia a ideia também de que o corpo era uma história
desconhecida. Descobrir o “Eu”, necessariamente, passava também pela redescoberta
sensória de si mesmo, do outro e de todos. Com isso, os grandes festivais, o ato de
dançar, o estar juntos faziam parte também do encontro de si mesmo, que,
necessariamente, passava pelo contato e pelas trocas com outras parcerias e outras
formas de ser e estar.

Atravessando todas essas buscas do “Eu”, houve também a intensificação do uso de


substâncias entorpecentes e de exaltação dos estados de alteração psíquica provocados
por elas. Nesse complexo movimento, envolviam-se desde chás e preparos de rituais
advindos dos povos indígenas, africanos e asiáticos, que logo tiveram grande
popularidade e envolvimento da juventude, até as drogas alucinógenas, cujos efeitos e
usos provocaram lesões, mortes e graves problemas de ordem psiquiátrica.

Filmes como Duna (1984), dos anos 1970 e 1980, evocavam a possibilidade da ordem
política global e razões dos indivíduos. A juventude precisava ser revista não mais como
um grupo homogêneo, ou como uma fase do desenvolvimento humano, apenas. Havia
bilhões de “Eus” únicos, particulares e históricos cujos campos de possibilidades,
desafios e estratégias de vida convidavam para que, de fato, emergissem novas
abordagens científicas para a compreensão do que se chamou de psico-história e de
Ego-História (ROSE, 2001).

A segunda metade do século XX consagra fortemente as noções do Eu individual e do

coletivo. Metodologicamente, era fundamental se pensar em outras metodologias para


se evidenciar os relatos de si. E a história oral se estabelece como um poderoso

contribuinte para o favorecimento da produção social de testemunhos individuais e de

experiências do coletivo.

Esse caminho, aberto pela História, de se produzir relatos por meio da metodologia da

História Oral, com ênfase nas entrevistas, das histórias de si, contribuiu para

complexificar a noção de Eu histórico. Este passa a ser visto como expressões de

pessoas que produziam diversos vínculos e engajamentos identitários. E em cada uma

dessas experiências o Eu era vivenciado de formas distintas e contribuía poderosamente

para a a compreensão da complexidade de interações e relações que marcam e

alimentam a história do ser.


Junto a isso, a noção do ser trazia também a do grupo social e de coletivos mais amplos.
Graças aos estudos em torno das histórias de vida, de categorias sociais, de
trabalhadores, de ativistas sociais, das chamadas pessoas comuns, percebe-se que o
mundo contemporâneo traz poderosamente os vínculos sociais e a necessidade deles
para a compreensão da trajetória dos indivíduos e para a construção das identidades
sociais.
Movimento “Diretas Já”, no Brasil, 1983-1984
Fonte: Wikimedia

Isso vinha também, do ponto de vista da história dos séculos XX e XXI, das diversas
razões apontadas por diferentes depoentes, projetos e histórias de se repensar o devir
civilizatório. Os vínculos dos primeiros 60 anos do século passado, embasados nas
crenças de supremacia racial e dos valores eurocêntricos como os mais importantes,
haviam descarrilhado com as guerras mundiais e a dura conjuntura de guerra fria que se
seguiu ao fim do conflito mundial. Muitos eram vítimas dos sistemas totalitários e havia
a percepção do sufocamento pessoal e coletivo que precisava ser transformado.

A descoberta de um novo mundo passava necessariamente para a valorização dos


associativismos que levaram à crise de um modelo de civilização racista e
profundamente classista. E há a criação de novas formas de se unir pessoas, de se
perceber novas reivindicações e de se compreender mais as histórias pessoais a partir
dos trânsitos (circulações, encontros e articulações) dos indivíduos e grupos.

O “Eu” histórico, com isso, se complexificou muito. Não era mais só a percepção de si
no espaço e no tempo, ou o evidenciar da singularidade e unicidade de cada ser. Era
fundamental perceber como as diversas formas de se associar, reivindicar, participar e
criar aumentavam o campo de compreensão e elaboração social e psíquica do próprio
ser, por se ampliar referências, comunidades políticas, vínculos identitários, referenciais
estéticos e possibilidades de outros papéis de gênero para além do que se tem como
herança biológica.

E à medida que se esse “Eu” se expande, percebe-se que o coletivo tornou-se ainda mais
diverso e plural, e que havia necessidade de se buscar constantemente negociações,
acordos e acomodações para se lidar com tamanha multiplicidade de experiências e
formas de ser no mundo.

Nesse percurso, o princípio social da equidade se mostrou de forma fundamental para se


equilibrar as relações entre experiências de diversidade humana, histórica e social,
mostrando que o consenso é algo fluido e que sempre está em transformação em função
da dinâmica histórica e das ações dos indivíduos e dos coletivos.

Do ponto de vista das histórias coletivas, o século XX foi marcado pela produção de
ideologias de solidariedades universais que questionaram o forte processo de produção
de impessoalidade gerado pelo capitalismo industrial e financeiro que triunfou a partir
da Revolução Industrial no século XIX e que se aprofunda com a exploração global,
favorecida pelos impérios coloniais e pela proletarização dos trabalhadores na Europa e
nas Américas.

Se até a primeira metade do século XIX, nas sociedades da Europa Ocidental, havia a
compreensão de que a pobreza necessariamente criava, apesar do sofrimento de quem se
encontrava nessa situação, um vínculo entre essas pessoas e os demais segmentos
sociais, a fim de se ter o equilíbrio político, social e espiritual, com o avanço da
Revolução Industrial, que advém das descobertas de fontes de energia como carvão e,
no final do mesmo século, da eletricidade, junto aos produtos advindos da exploração
dos Impérios coloniais, a pobreza na Europa aumentou muitíssimo.

Pode parecer parodoxal que mais riqueza leve a mais miséria, mas, no final do século
XIX, as grandes metrópoles europeias conheciam grandes bolsões de pobreza e
miserabilidade motivadas pelos cercamentos dos campos que levaram à perda de terras
dos pequenos proprietários e migrações para as cidades para serem mãos de obras nas
indústrias em expansão, submetidos a baixíssimos salários e a longas horas de jornada
de trabalho. Para aumentar a renda familiar, mulheres e crianças entram na produção
industrial com remuneração ainda mais baixa e sujeitas a diversas formas de violência e
arbitrariedades.

Os vínculos sociais que comprometiam governos e setores produtivos com o bem-estar


social dos seus trabalhadores e a atenção aos mais pobres haviam sido rompidos. As
violências trabalhistas e os abusos em nome de um lucro que não era socialmente
partilhado favoreceram a emergência dos movimentos sindicais e das ideologias
contestadoras da exploração capitalista, das quais a que tomou mais vulto foi o
socialismo científico defendido pelo filósofo alemão Karl Marx.

Para ele, havia uma contradição capital versus trabalho que era intransponível, que
poderia ser somente superada pelo rompimento advindo da parte dos trabalhadores
dessa logica que se apropriava completamente dos lucros da força de trabalho,
desobrigando-se da redistribuição social deles. Esse rompimento viria pela via
revolucionária, criando uma nova estrutura na qual nem a religião e nada que
salvaguardasse os princípios e valores da burguesia industrial deveriam subsistir.

Nesse momento, o “Eu” histórico individual era diluído dentro dos grandes projetos,

tanto do capitalismo de exploração em massa quanto da alternativa socialista da

transformação do sistema econômico e social coletivamente.

A quebra de vínculo social e de relações de compromisso coletivos era evidente.

Tal fato levará a um amplo e acirrado debate e constituição de ações por parte de

lideranças religiosas e políticas em torno de uma ideia moderna de caridade, de


indivíduo e de compromisso coletivo. Percebia-se que a quebra desse vínculo estava no

cerne da contestação da ordem política e social, e a repressão política contra militantes

não resolveria algo que apresentava a crise estrutural das próprias sociedades

contemporâneas.

Era preciso redescobrir vínculos, criar relações de interdependência e ligar-se a uma


ordem civilizatória que daria sentido e alimentaria esses processos. Do ponto de vista
das igrejas cristãs, era preciso dizer que existia uma mediação que poderia garantir uma
ética moral que pudesse justificar hierarquizações, mas que buscasse mitigar as
desigualdades.

Contudo, em sua dinâmica, isso não foi simples. Diversos agentes religiosos como
sacerdotes, religiosas, pastores e missionários percebiam que não dava para se mitigar
diferenças. Primeiro porque, nessa grande categoria pobre, havia indivíduos e suas
histórias dos quais uma ação de conciliação não daria conta. Não era possível tratar
como massa, apesar da grande proletarização e situações de miserabilidade em que se
encontravam as pessoas.

A ideia de uma caridade radical, que passa pelo não julgamento, se constrói fortemente
no período. Lideranças que atuavam nessa perspectiva atraíram para si milhares de
pessoas e mediaram a relação com os Estados e grupos empresariais a mitigação de
situação de abandono, a partir de uma organizada ação de atenção e assistência.

Irmã Dulce desenvolveu forte trabalho social na Bahia


Fonte: fradesfranciscanos.com.br

Serão, contudo, os dois grandes conflitos mundiais e seus milhões de empobrecidos que
farão efetivamente a modificação da política dos estados europeus, na construção dos
estados de bem-estar social sob o risco de se tornarem solos férteis para os movimentos
revolucionários de natureza socialista.

A diluição do eu individual nas massas e a restrição da liberdade individual durante a


era dos fascismos na Segunda Guerra Mundial e no período Stalinista, na antiga União
Soviética, trouxe questões muito fortes, como o acirramento do machismo, das ações de
violação de direitos políticos e do extermínio de pessoas por motivações racistas e
xenófobas.

O pós-guerras traz a tensão da necessidade da redescoberta da pessoa, da dimensão do


ser, do eu. Forma-se um campo de compreensão e de interligação que não se separa
mais: o eu, o indivíduo e a pessoalidade.

Ao mesmo tempo, percebe-se que, a partir dessa complexidade de percepção de cada


um, o eu histórico ganha um forte protagonismo e capacidade reconhecida de se
aproximar de diferentes formas de reivindicação e associações identitárias, como foi
dito no início deste texto.
Com isso, também na pesquisa das Ciências Sociais e da História se abrem
possibilidades de pesquisa para novas fontes e abordagens de interpretação dos relatos e
de diálogo com o passado.

Dentre elas, destaca-se a contribuição da História Oral e da produção dos relatos sobre
si aqui já caracterizados, mas também a possibilidade de se interpretar diversos outros
processos de construção de identidades coletivas.

Há um esforço sincero em se enfatizar a diversidade e a singularidade das diversas


formas de associativismo e de construção de vínculos coletivos. E surgiram
historicamente novas formas de as pessoas, entendidas na sua complexidade individual
e na relação com as demais, se aproximarem e formarem comunidades políticas e
culturais.

Um grande e importante fato transformador da percepção de coletivos globais foi o


processo de libertação das antigas colônias africanas e asiáticas iniciado em meados dos
anos 1950, com a independência de Gana, na África.

Novos protagonistas e suas histórias emergiram, fazendo reivindicações fundamentais.


Para os países-membros da União Africana, entidade que congregava os países que se
tornavam independentes das antigas metrópoles europeias e para as nascentes
universidades e sistemas educacionais que se estruturavam, havia a necessidade de se
reconhecer os saberes produzidos pelas diferentes sociedades africanas e o incentivo à
produção de avanços científicos e tecnológicos que partissem de outros referenciais
culturais e acadêmicos que não fossem só os da Europa Ocidental.

Junto a isso, uma das mais comoventes reivindicações foi para a escrita de uma História
Geral da África, congregando pesquisadores de diferentes latitudes africanas, com
alguns da Europa e das Américas que tivessem o comprometimento de trazer as diversas
perspectivas histórico-temporais de fontes diversificadas, como as da arqueologia e das
oralidades, para o conhecimento de diversos povos, entidades políticas e processos
culturais, ampliando muito o conhecimento da riqueza das civilizações africanas,
demonstrando que a história do continente começa a milhares de anos antes da
escravidão atlântica (séculos XVI ao XIX).

Esse esforço monumental, que foi de 1962 até meados dos anos 1990, resultou em uma

coleção monumental de oito volumes que buscava enfatizar os processos locais

africanos com dinâmicas regionais e transregionais, ampliando os referenciais

geográficos e tornando ainda mais rica a percepção das partes ocidentais e orientais do

planeta.

A criação dos arquivos orais da África ocidental, que foi empreendida pelo historiador

Amadou Hampaté Bâ, que já mencionamos aqui, conhecido mundialmente por ter nos
proporcionado um estudo sistematizado das civilizações orais da África do oeste, tinha a

preocupação de mostrar a complexidade das experiências individuais em franco diálogo

com as histórias e os processos culturais partilhados nas experiências coletivas das

diversas entidades políticas e línguas faladas na região (HAMPATÉ BÂ, 2010).

A multiplicidade de novos atores sociais que emergiram das pesquisas e páginas dos
diversos historiadores, arqueólogos, antropólogos e linguistas que escreveram esses oito
volumes amplificou a possibilidade de estudos de outros povos silenciados na primeira
metade do século e suas singularidades locais e transregionais, como as nações
indígenas das Américas e da Oceania.

O “Eu” histórico é, de fato, um atributo da pessoa, do ser e do indivíduo. Passa pelas


elaborações e ações desse ser único, suas escolhas, processos identitários e associações,
mas é também parte integrante do coletivo, que é múltiplo, diverso, desafiador e
transformador.

Nosso objetivo, neste texto, foi contribuir trazendo aspectos para a compreensão dessa
dimensão do Eu, que é fundamental, mas uma descoberta historicamente
contemporânea. O Eu histórico se apresenta de forma mais clara a partir do momento
que a noção de mundo conhecido se amplia no final do século XIX, com a conquista de
populações e territórios da Ásia e da África. Junto a isso, os desafios da modernização
tecnológica e a transformação do sistema social e econômico modificam socialmente os
antigos centros de poder na Europa Ocidental, fazendo emergir sérias questões sociais
que levavam fundamentalmente a se repensar o ser na sua dimensão individual e
histórica e nos coletivos mais amplificados.

Desde o último trimestre de 2019, estamos passando por outra experiência globalizante
e de difícil convívio, que é a pandemia do coronavírus. Sobre a Covid-19, ainda em
franca pesquisa sobre a sua patogênese e sequelas nos seres humanos e animais, sabe-se
da profunda debilitação do sistema imunológico e do pulmão e, junto com a facilidade
da sua propagação, levou todos os países a passarem pela experiência do isolamento
social e da profilaxia sanitária feita com álcool em gel, água e sabão e uso de máscaras
para não se propagar e receber contaminação pelas vias respiratórias.

Apesar da simples profilaxia, o isolamento social e o acesso a esses recursos de higiene


individual fizeram emergir conflitos duríssimos justamente na relação do individual e
coletivo, em que as desigualdades sociais, de gênero, o racismo, a precariedade dos
programas de saúde publica e coletiva emergiram com grande força.

Se na primeira fase pandêmica as vítimas fatais eram majoritariamente idosas, na


segunda fase do chamado “retorno viral”, um número considerável de jovens tem vindo
a falecimento. E isso traz diversas reflexões sobre o que esses dados revelam: maior
exposição a possibilidades de contágio porque os mais jovens precisam trabalhar, não
há assistência social pública para que os trabalhadores das indústrias, do comércio e os
domésticos possam fazer o isolamento e a necessária autoproteção e coletiva, uma vez
que mesmo um assintomático pode levar o vírus para a própria residência.

Tensões entre a liberdade individual e a necessidade de um bem coletivo mais difuso


têm revelado também as contradições das sociedades contemporâneas e provocado
diversas tensões, mudanças de rumos políticos e um ativismo fundamentado na criação
de redes de solidariedade e assistência emergencial.
Padre Julio Lancelotti realiza trabalho social relevante com moradores de
rua na cidade de São Paulo
Fonte: revistasentido.com

Referimo-nos a essa situação do tempo presente para mostrar aqui como o “Eu”
histórico lida com as transformações sociais, ambientais e políticas no espaço e no
tempo. Por isso é uma identidade em constante transformação, que é sempre mobilizada
por situações internas e externas. E esse Eu histórico articula de formas complexas a
relação dos indivíduos com processos coletivos mais amplos (ODARA, 2020).

Mais contemporaneamente, uma forma de se encarar essa complexidade do individual e


do coletivo tem sido pensada na perspectiva da empatia, do olhar de aproximação,
reconhecimento e identificação de situações de humanidade que não podem ser
ignoradas, mas precisam ser elaboradas e transformadas. E isso acontece na complexa
relação do eu consigo mesmo e com o mundo que o cerca.

Para Odara (2020, p. 216):


O reconhecimento da dor e da vivência do outro e a aceitação das próprias condições

possibilitam ir na direção contrária ao preconceito, e esta é condição indispensável à

empatia. Portanto, a primeira conclusão a que cheguei sobre empatia é que exercê-la

não é se colocar no lugar do outro, porque isso é impossível – ninguém consegue viver a

história do outro –, mas entender como o nosso lugar impacta o lugar do outro e como

agir para que esse impacto seja positivo.

O reconhecimento da dor e da vivência do outro e a aceitação das próprias condições


possibilitam ir na direção contrária ao preconceito, e esta é condição indispensável à
empatia. Portanto, a primeira conclusão a que cheguei sobre empatia é que exercê-la
não é se colocar no lugar do outro, porque isso é impossível – ninguém consegue viver a
história do outro –, mas entender como o nosso lugar impacta o lugar do outro e como
agir para que esse impacto seja positivo.
Junto a isso, o próprio papel das instituições políticas, culturais e educacionais se
transforma cada vez mais, uma vez que situações de limitações humanitárias individuais
e coletivas reverberam globalmente e a essa resposta local e geral é preciso estar aberto
e compreender que as condições do eu histórico individual e mais amplo estão em
contínuas transformações.

UNIDADE 2

MATERIAL DIDÁTICO
2/6

Em um mundo de constantes transformações, respostas lógicas a problemas complexos


não são mais o bastante, talvez nunca tenham sido, contudo, é necessário, ainda mais
nesse momento, que utilizemos competências e habilidades que estão sendo cada vez
mais comprovadas como imprescindíveis para o desenvolvimento pessoal e profissional.
São as chamadas competências socioemocionais, competências e habilidades de pensar,
sentir e agir que, ao longo desta unidade, serão apresentadas como competências
desenvolvíveis, ou seja, podem ser aprendidas e treinadas. Sabemos que existem
pessoas que não estão muito seguras do impacto das competências socioemocionais,
seja na aprendizagem, seja para o desenvolvimento pessoal, social e profissional. Parte
disso porque existe uma ideia equivocada de que precisamos escolher entre as
competências socioemocionais e as cognitivas. Essa não é a realidade. Segundo Ramos,
“as socioemocionais são catalisadoras do processo cognitivo” (2020, on-line), pessoas
com competências socioemocionais mais desenvolvidas vão não somente bem no
ambiente escolar, mas em todos os demais aspectos da vida humana.
Ramos (2020, on-line) ainda mostra que:
(...) o ser humano não é uma unidade monolítica, limitada a seu corpo físico, mas sim

um ser complexo habitado por uma multiplicidade em movimento permanente. Ele não

se trata, portanto, de um ser estático, ou concluído. A pessoa humana, como a semente,

evolui a partir de um capital primeiro, que é seu próprio potencial e que vai se

desenvolvendo ao longo da fase ascendente de sua vida, em função do terreno e das


circunstâncias encontradas. As forças liberadas por esta potencialidade estão em

perpétuo movimento, assim como o próprio cosmos. (AMADOU, 1981, p. 3)

(...) o ser humano não é uma unidade monolítica, limitada a seu corpo físico, mas sim
um ser complexo habitado por uma multiplicidade em movimento permanente. Ele não
se trata, portanto, de um ser estático, ou concluído. A pessoa humana, como a semente,
evolui a partir de um capital primeiro, que é seu próprio potencial e que vai se
desenvolvendo ao longo da fase ascendente de sua vida, em função do terreno e das
circunstâncias encontradas. As forças liberadas por esta potencialidade estão em
perpétuo movimento, assim como o próprio cosmos. (AMADOU, 1981, p. 3)
A importância do desenvolvimento de competências e habilidades socioemocionais foi
reconhecida no mercado de trabalho recentemente. Nas décadas de 1980 e 1990,
empresas tradicionalmente observavam com mais atenção o conceito de competências
cognitivas, como o tempo gasto para resolver um problema de matemática. Qualquer
outra habilidade pessoal, por exemplo, organização ou curiosidade, era classificada por
pesquisadores e economistas como “competência não cognitiva”.

Reconhecendo que essas competências eram fundamentais para que tarefas fossem
concluídas, esse grupo de competências foi nomeado como “soft skills” ou habilidades
intangíveis, que devem contrastar com as “hard skills”, as habilidades técnicas
específicas.

Mais recentemente, muitas dessas competências receberam atenção renovada e


passaram a ser conhecidas como as competências do século XXI, características
pessoais essenciais para a vida e para o trabalho em um mundo globalizado,
interconectado e colaborativo em que vivemos. No campo da Psicologia, muitos
pesquisadores preferem o termo competências socioemocionais, pois ele define bem que
essas habilidades nos ajudam a lidar com as questões sociais e emocionais que
encontramos no dia a dia. Isso inclui colaborar com os colegas para realizar um projeto,
planejar o futuro da família com o cônjuge, ter energia e paixão para aprender algo
novo, entre outras situações (SANTOS et al., 2017).

Contudo, com o avanço das neurociências, a separação das teorias de competências


cognitivas e socioemocionais passou a ser apenas ilustrativa.

Pesquisas feitas a partir de imagens cerebrais em funcionamento revelaram a relação


entre aspectos cognitivos e as emoções para o funcionamento da psique humana, as
competências socioemocionais e as cognitivas são, portanto, constructos conjuntos.

As competências socioemocionais são importantes impulsionadoras de realizações ao


longo da vida, como no bem-estar de cada um, na qualidade de relações sociais e nos
processos de aprendizagem, pois estão ligadas a funções como memória e atenção,
podendo tanto potencializar quanto prejudicar seu desempenho.

O modelo a seguir, desenvolvido pelo pesquisador belga Dr. Hans Hoeskra, apresenta
os constructos para gerar performance ou resultados. Segundo Hoeskra (2011), para
gerar resultados, são necessários conhecimentos especializados e repertório
comportamental.
Modelo de performance Hoeskra
Fonte: acervo da autora
Em geral, os modelos de competências profissionais apresentam dois focos. O primeiro

recai sobre as competências profissionais básicas a qualquer atividade, facilmente

transferíveis de um contexto para outro. O segundo refere-se às competências

socioemocionais, que se situam no domínio de processos afetivoemocionais, pessoais e

interpessoais. As competências básicas asseguram um nível de domínio transversal, que

permite ao futuro trabalhador mobilizar seus recursos pessoais no nível do saber

(conhecimento), do fazer (aplicação técnica) e do querer (atitudes e valores), adaptando-

os ao contexto de trabalho mais imediato. As competências socioemocionais, a seu

turno, funcionam como via pela qual as demais competências são expressas e

desenvolvidas. Em outras palavras, o domínio de aspectos motivacionais e afetivos, em

si e nos outros, assegura a aprendizagem, o desenvolvimento e a transferência dessas

capacidades para outros contextos laborais. (GONDIM, MORAIS e BRANTES, 2014,

p. 395)

Em geral, os modelos de competências profissionais apresentam dois focos. O primeiro


recai sobre as competências profissionais básicas a qualquer atividade, facilmente
transferíveis de um contexto para outro. O segundo refere-se às competências
socioemocionais, que se situam no domínio de processos afetivoemocionais, pessoais e
interpessoais. As competências básicas asseguram um nível de domínio transversal, que
permite ao futuro trabalhador mobilizar seus recursos pessoais no nível do saber
(conhecimento), do fazer (aplicação técnica) e do querer (atitudes e valores), adaptando-
os ao contexto de trabalho mais imediato. As competências socioemocionais, a seu
turno, funcionam como via pela qual as demais competências são expressas e
desenvolvidas. Em outras palavras, o domínio de aspectos motivacionais e afetivos, em
si e nos outros, assegura a aprendizagem, o desenvolvimento e a transferência dessas
capacidades para outros contextos laborais. (GONDIM, MORAIS e BRANTES, 2014,
p. 395)
Mundo Vuca e Mundo Bani
Vuca é uma sigla criada na escola de guerra dos Estados Unidos para definir o mundo
pós-Guerra Fria: o mundo Vuca (em inglês), ou Vica (em português), muda em
velocidade muito acelerada e com destino incerto, proporcionando várias respostas para
a mesma questão. A adaptação constante é necessária para empresas sobreviverem e
indivíduos prosperarem.
Para mais informações, acesse: U.S. army Heritage and education center. Who first
originated the term VUCA (Volatility, Uncertainty, Complexity and Ambiguity), 2019

LIBANSWERS

Who first originated the term VUCA (Volatility, Uncertainty, Complexity


and Ambiguity)? - USAHEC Ask Us a Question

Cited in Army War College documents extant as far back as 1987, the Army War
College Library has endeavored to determine the exact date of incorporation of the
acronym "VUCA" into the USAWC curriculum and learning environment. The Army War
College Library presents below a spectrum of resources which document VUCA's
existence in the curriculum.
LEIA MAIS LIBANSWERS

Contudo, no mundo pós-pandemia de coronavírus, a maneira como criamos significado


para um novo mundo emergente mudou. O futurista Stephan Grabmeier sugeriu
recentemente que precisamos de uma nova sigla para descrever nosso mundo pós-
pandêmico. Ele propõe que migremos de um mundo Vuca para um mundo Bani. O
Vuca existia para trazer sentido a um mundo complexo. O mundo de hoje não é mais
complexo; é caótico. (GRABMEIER, 2020)
STEPHAN GRABMEIER

BANI versus VUCA: a new acronym to describe the world - Stephan


Grabmeier

We live in a VUCA world: this summary used to hit the nail on the head during the last
few decades. Through this lens, however, we no longer can derive useful information
from this model. Instead, we seem to face chaos larger than VUCA - in politics, global
warming and the current pandemic, any many other spheres of life.
LEIA MAIS STEPHAN GRABMEIER

SAIBA MAIS
Leia o Artigo "Bem-vindo ao mundo BANI" onde, link Bruno Ribeiro aprofunda
sobre o que é o Mundo BANI. Acesse através deste link.

A capacidade adaptativa do ser humano sempre foi posta em prova, e nossos ancestrais
ultrapassaram barreiras que nos trouxeram até aqui. A vida nos pede desenvolvimento.
Nesse momento, ser flexível e entender que não existem modelos perfeitos para todos os
possíveis cenários que podem acontecer abre espaço para a humildade, para a
consciência de que não somos deuses capazes de controlar tudo. Desenvolver
competências, habilidades e atitudes que nos auxiliem a focar no presente para evitar
excesso de ansiedade, entender a responsabilidade de nossas ações pessoais e como
podem influenciar outras pessoas e o meio, gerando mais empatia, pensar e agir
colaborativamente, buscando vários pontos de vistas possíveis, incluindo pessoas com
crenças e culturas diversas, abrir espaço para criatividade, prototipar soluções nunca
pensadas antes, melhores do que fizemos até aqui. A crise é um chamado para
mudanças.

Os desafios nos obrigam a melhorar. A boa notícia é que, segundo Filip Fruyt,
pesquisador belga especialista em psicologia diferencial, somos equipados
geneticamente e evolutivamente para lidar com desafios.
Para pesquisadores do mundo todo, aprofundar esses conhecimentos trariam
informações relevantes sobre o funcionamento da personalidade humana, e entendendo
a personalidade humana, poderíamos desenvolver novos e melhores comportamentos.
Depois de mais de 30 anos, esses pesquisadores reuniram suas teorias e estudos, de
modo que sintetizassem uma abordagem com base em evidências e que pudesse ser
replicada sistematicamente, um modelo que pudesse chegar próximo ao que pode ser
visto e resumido em todas as culturas e indivíduos. Então, chegaram à ideia de que há
uma taxonomia inerente de que existem cinco amplas dimensões que podem resumir as
mais importantes características de personalidades humanas: o modelo “BIG 5”, base
para o estudo das competências socioemocionais.
DESAFIO
Enquanto lê os cinco fatores de personalidade, faça o trabalho de
autoavaliação: “como me enquadro em cada uma dessas personalidades?”.
Com base nas cinco dimensões de personalidade humana, as diversas teorias sobre
competências socioemocionais começaram a ser desenvolvidas.
IMPORTANTE!
Acesse o Guia – Educação Integral na Alfabetização e saiba mais sobre
"Competências e Habilidades Socioemocionais".
Uma das teorias mais trabalhadas no Brasil foi desenvolvida pelo Instituto Ayrton
Senna no grupo de trabalho composto por Filip Fruyt e o brasileiro Primi. Com base nas
cinco macrocompetências, avançaram para 17 habilidades. São elas:
 bullet
Abertura ao novo: curiosidade para aprender, imaginação criativa e interesse artístico;
 bullet
Amabilidade: empatia, respeito, confiança;
 bullet
Autogestão: determinação, organização, foco, persistência e responsabilidade;
 bullet
Engajamento com outros: iniciativa social, assertividade, entusiasmo;
 bullet
Resiliência Emocional: tolerância ao estresse, autoconfiança e tolerância à frustração.
DESAFIO
Quais dessas habilidades são fortes em você? Quais você pretende
desenvolver?
De todas as denominações apresentadas até o momento: competências não cognitivas,
competências interpessoais, “soft skills” e competências transferíveis, as competências
socioemocionais são as que reconhecem algo fundamental: somos seres sociais e
relacionais em todos os momentos, em todos os lugares, portanto é necessário
desenvolvê-las, assim como fazemos com os conhecimentos técnicos. A naturalização
dessa informação como base de evidências testadas reflete um novo paradigma para a
educação, para o mercado de trabalho e para as relações pessoais. A autopercepção e o
reconhecimento de habilidades e competências, antes vistas como “não importantes” e
agora imprescindíveis para o desenvolvimento do ser em todos os seus locais de
atuação, abre espaço para pessoas mais conscientes de si e capazes do desenvolvimento
de comportamentos e atitudes mais empáticas, colaborativas, assertivas e resilientes.
Pessoas mais empáticas e colaborativas transformam o mundo em um lugar mais
empático e colaborativo. Em qual mundo queremos viver? Que tipo de competências e
habilidades queremos desenvolver?

UNIDADE 3

MATERIAL DIDÁTICO
2/6

A palavra “empatia” tem origem no termo grego empatheia, que significa "paixão";
esquecida por tempos, ressurgiu no início do século XX passou a ser investigada com
maior aprofundamento no início da década de 1950 e aplicada na prática
psicoterapêutica a partir da iniciativa de Carl Rogers (SAMPAIO, 2009).
Atualmente, sabemos que a empatia é uma das habilidades mais importantes para o
século 21, está presente desde a escola primária até a construção da liderança.
Com base no senso comum, a empatia ficou conhecida como a habilidade de se colocar

no lugar do outro, contudo podemos abrir espaço para outros pontos de vista sobre o

assunto e ampliar nossa percepção de empatia, principalmente dos benefícios dessa

habilidade para o indivíduo e para o coletivo.


A partir de experiências pessoais, em grandes corporações nacionais e multinacionais e
em diversas comunidades em vulnerabilidade, minha percepção é de que não é possível
nos colocarmos no lugar do outro. Essa visão é simplista e em alguns momentos tende a
diminuir as vivências e dores dos outros. Empatia, para mim, é abrir mão do meu espaço
de conhecedora das coisas, esquecer, pelo tempo da interação, a minha experiência
como indivíduo e colocar atenção e energia no outro. De maneira surpreendente (e a
neurociência já nos mostra por que), é iniciada em nós uma conexão com a outra
pessoa, e podemos sentir o que a outra pessoa sente (ainda que mais leve e
subjetivamente). Então, sentimos COM o outro. Sentimos juntos.

Esse ponto de vista também é trazido por outros autores. Para Carl Rogers, por
exemplo, para estarmos com o outro de maneira empática, devemos “deixar de lado,
nestes momentos, nossos pontos de vista e valores, para entrar no mundo do outro sem
preconceitos. Num certo sentido, significa pôr de lado nosso próprio eu” (ROGERS,
1977, p. 73). E para Merleau-Ponty:
por mais que eu ponha os conteúdos de meu mundo vivido entre parênteses, no sentido

de, sendo empática, perceber o mundo vivido da pessoa na perspectiva dela, isto nunca

se produz completamente, nunca vou livrar-me totalmente de meu próprio Lebenswelt,

que me constitui. (MOREIRA, 2009, p. 53)

por mais que eu ponha os conteúdos de meu mundo vivido entre parênteses, no sentido
de, sendo empática, perceber o mundo vivido da pessoa na perspectiva dela, isto nunca
se produz completamente, nunca vou livrar-me totalmente de meu próprio Lebenswelt,
que me constitui. (MOREIRA, 2009, p. 53)
A compreensão empática pode ser muito difícil de ser posta em prática, pois exige a
adoção do ponto de vista de outra pessoa (ROGERS, 1977), o que só é possível se, de
fato, se despojar de seu próprio ponto de vista e aceitar incondicionalmente o jeito de
ser da pessoa, ainda que momentaneamente. Rogers segue Carl Rogers questionando-se:
Poderei permitir-me entrar completamente no mundo dos sentimentos do outro e das

suas concepções pessoais e vê-los como ele os vê? Poderei entrar no seu universo

interior tão plenamente que perca todo desejo de avaliá-lo ou julgá-lo? Poderei entrar

com suficiente delicadeza para me movimentar livremente, sem esmagar significações

que lhe são preciosas? (ROGERS, 1985, p. 62)

Poderei permitir-me entrar completamente no mundo dos sentimentos do outro e das


suas concepções pessoais e vê-los como ele os vê? Poderei entrar no seu universo
interior tão plenamente que perca todo desejo de avaliá-lo ou julgá-lo? Poderei entrar
com suficiente delicadeza para me movimentar livremente, sem esmagar significações
que lhe são preciosas? (ROGERS, 1985, p. 62)
Portanto, nesse ponto de vista, a empatia suspende o juízo que está dado a respeito do
outro e de suas vivências e se conecta com a experiência viva que se apresenta diante de
nós. Para ser empático, é preciso conseguir ultrapassar as barreiras do preconceito ou do
medo do que é desconhecido ou diferente.
E pelo que nos mostra a neurociência, a empatia é uma competência natural do ser

humano e de alguns animais. As recentes pesquisas têm trazido uma nova visão de

como funcionam e se relacionam pessoas e animais. Existem estruturas, processos e

conexões cerebrais formatados para conexão social, possibilitando a expressão de

empatia de forma automática.


Quando uma cena de pessoas ou animais se machucando é observada, uma reação
automática no corpo de quem observa acontece, quase sentindo a dor do outro. Essa
reação automática tem início no cérebro a partir de neurônios chamados espelho.

Os neurônios espelho foram descobertos em uma pesquisa com macacos feita por
Giacomo Rizzaloti, neurobiologista italiano, na década de 1990. Na observação, os
neurônios eram ativados quando os macacos viam alguns movimentos e emoções de
outros macacos. Algum tempo depois, esses neurônios também foram encontrados em
humanos. Esses neurônios são capazes de reproduzir e espelhar ações, movimentos e até
emoções observadas em outros. Neurônios espelhos geram a capacidade de aprendizado
pela imitação (LAMEIRA, 2006).

“A capacidade de imitação é uma das bases neuronais da empatia”, diz Tati Fukamati,
especialista em neurociência aplicada. “(...) é como se estivesse acontecendo no seu
próprio corpo, (...) é por isso que choramos em filmes tristes, por isso, podemos de
alguma forma sentir o que o outro sente, porque a todo momento nos espelhamos no
outro” (FUKAMATI, 2016).
Assista ao TEDTalks A Revolução da Empratia de Tati Fukamati:

YOUTUBE

A Revolução da Empatia | Tati Fukamati | TEDxPedradoPenedo

Bióloga, especialista em empatia, sustentabilidade e inovação social e pós-graduada


em Neurociência e Psicologia Aplicada. Tati é a idealizadora do projeto A...
VEJA EM YOUTUBE

Estudos com chimpanzés e bebês humanos jovens demais para já terem aprendido as

regras de cortesia também apoiam essas afirmações. Michael Tomasello e outros

cientistas do Instituto Max Planck, na Alemanha, descobriram que bebês e chimpanzés

agem espontaneamente para ajudar e até mesmo transpõem obstáculos para ajudar. Eles

aparentemente fazem isso por uma motivação intrínseca, sem qualquer expectativa de

recompensa. Um estudo recente indicou que o diâmetro das pupilas das crianças (uma

forma de medir a atenção) diminui tanto quando ajudam como quando veem alguém

ajudar, sugerindo que eles não estão simplesmente ajudando por se sentirem

recompensados. Parece que o próprio alívio do sofrimento é a recompensa – quer eles

estejam envolvidos ou não no ato de ajudar.

Como elucidou Keltner, o termo “sobrevivência do mais apto”, muitas vezes atribuído a

Charles Darwin, foi, na verdade, cunhado por Herbert Spencer e darwinistas sociais que

desejavam justificar a superioridade da classe e da raça. Um fato menos conhecido é

que o trabalho de Darwin é melhor descrito pela frase “sobrevivência do mais gentil”.

Na verdade, em The Descent of Man e Selection In Relation to Sex, Darwin defendeu “o

maior poder dos instintos sociais ou maternos em relação a qualquer outro instinto, ou

motivação”. Em outra passagem, ele comenta que “as comunidades, que incluíam o
maior número de membros mais simpáticos, floresceriam melhor e reteriam o maior

número de descendentes”. (Sepalla, 2018)

Estudos com chimpanzés e bebês humanos jovens demais para já terem aprendido as
regras de cortesia também apoiam essas afirmações. Michael Tomasello e outros
cientistas do Instituto Max Planck, na Alemanha, descobriram que bebês e chimpanzés
agem espontaneamente para ajudar e até mesmo transpõem obstáculos para ajudar. Eles
aparentemente fazem isso por uma motivação intrínseca, sem qualquer expectativa de
recompensa. Um estudo recente indicou que o diâmetro das pupilas das crianças (uma
forma de medir a atenção) diminui tanto quando ajudam como quando veem alguém
ajudar, sugerindo que eles não estão simplesmente ajudando por se sentirem
recompensados. Parece que o próprio alívio do sofrimento é a recompensa – quer eles
estejam envolvidos ou não no ato de ajudar.

Como elucidou Keltner, o termo “sobrevivência do mais apto”, muitas vezes atribuído a
Charles Darwin, foi, na verdade, cunhado por Herbert Spencer e darwinistas sociais que
desejavam justificar a superioridade da classe e da raça. Um fato menos conhecido é
que o trabalho de Darwin é melhor descrito pela frase “sobrevivência do mais gentil”.
Na verdade, em The Descent of Man e Selection In Relation to Sex, Darwin defendeu “o
maior poder dos instintos sociais ou maternos em relação a qualquer outro instinto, ou
motivação”. Em outra passagem, ele comenta que “as comunidades, que incluíam o
maior número de membros mais simpáticos, floresceriam melhor e reteriam o maior
número de descendentes”. (Sepalla, 2018)

Se a neurociência aponta a empatia como uma habilidade natural e parte característica


de animais mamíferos, principalmente humanos, o que fala a psicologia?

A empatia assumiu importância fundamental para a psicologia na teoria rogeriana (Carl


Rogers) quando esse autor afirmou ser necessário que o terapeuta desenvolvesse uma
compreensão empática pelo cliente. Assim, a empatia era vista por Rogers não apenas
como uma resposta reflexa ao comportamento do outro, mas também como uma
habilidade aprendida/desenvolvida que envolve o estabelecimento de vínculos
cognitivo-afetivos entre duas ou mais pessoas, durante os quais alguém se permite,
deliberadamente, sensibilizar-se e envolver-se com a vida privada de outros (ROGERS,
1985/2001b).
A empatia cognitiva necessita que os sentimentos sejam pensados em lugar de senti-los
diretamente. Contudo, como aponta Daniel Goleman em artigo para Harvard Business
Review, a empatia cognitiva também é resultado da autoconsciência.
Os circuitos executivos permitem a reflexão sobre nossos próprios pensamentos e o

monitoramento dos sentimentos que fluem a partir deles. Esses circuitos nos permitem

aplicar o mesmo raciocínio à mente de outras pessoas quando decidimos focar nisso.

(GOLEMAN, 2018, on-line)

Os circuitos executivos permitem a reflexão sobre nossos próprios pensamentos e o


monitoramento dos sentimentos que fluem a partir deles. Esses circuitos nos permitem
aplicar o mesmo raciocínio à mente de outras pessoas quando decidimos focar nisso.
(GOLEMAN, 2018, on-line)

A curiosidade sobre o pensar, sentir e agir de outras pessoas, principalmente no


mercado de trabalho, entre os líderes, é uma habilidade essencial.

A empatia emocional, ainda segundo Goleman:


(...) se origina de partes remotas do cérebro abaixo do córtex – a amígdala, o

hipotálamo, o hipocampo e o córtex orbitofrontal – onde encontram-se os neurônios

espelho – que nos permitem sentir rapidamente, sem pensar de maneira profunda. Essas

partes nos sintonizam, despertando em nosso corpo o estado emocional dos outros:

sentimos literalmente a dor do outro. Nosso padrão cerebral liga-se ao dos outros

quando os escutamos contarem uma história emocionante. (GOLEMAN, 2018, on-line)

(...) se origina de partes remotas do cérebro abaixo do córtex – a amígdala, o


hipotálamo, o hipocampo e o córtex orbitofrontal – onde encontram-se os neurônios
espelho – que nos permitem sentir rapidamente, sem pensar de maneira profunda. Essas
partes nos sintonizam, despertando em nosso corpo o estado emocional dos outros:
sentimos literalmente a dor do outro. Nosso padrão cerebral liga-se ao dos outros
quando os escutamos contarem uma história emocionante. (GOLEMAN, 2018, on-line)
Como diz Tania Singer, diretora do departamento de neurociência social do Max
Planck Institute for Human Cognitive and Brain Sciences, em Leipzig, na Alemanha:
“Para entender os sentimentos dos outros, precisamos entender nossos próprios
sentimentos” (GOLEMAN, 2018, on-line).

À medida que vai compreendendo seu mundo interno, a pessoa capta os mecanismos de
funcionamento de seu ser, deixando de entender esses mecanismos como naturais, o que
lhe permite novas possibilidades de ação e novas formas de consciência. Extrapolando o
conhecimento de que todos os seres humanos têm necessidades, e que as dores se
assemelham, revela um novo saber sobre a realidade a sua volta, o que leva a um novo
saber sobre si mesma e sobre sua identidade social. A pessoa entra em contato com o
poder de transformação de suas ações e seu papel ativo nas relações com os demais
(ALVES, 2020)+

Quanto mais fielmente se entende os sentimentos e as necessidades internas, melhor


entenderá o que está acontecendo do lado de fora.
DESAFIO
Pergunte-se agora: O que estou sentindo? Do que estou necessitando?

A empatia emocional é também importante quando nos colocamos no mercado de


trabalho, para gerenciamento de clientes, por exemplo, interpretação de dinâmicas de
grupo e mentorias eficazes, segundo GOLEMAN (2018).

A empatia emocional pode ser desenvolvida como as outras habilidades


socioemocionais, isso por conta da capacidade de neuroplasticidade (capacidade do
sistema nervoso de mudar, adaptar-se e moldar-se em níveis estrutural e funcional ao
longo do desenvolvimento neuronal e quando sujeito a novas experiências).

Fukamati (2016) diz: “Se houver uma intenção de treinar empatia de forma consciente,
o seu cérebro vai começar a desenvolver estratégias, criar novas rotas neurais e vai fazer
ao longo do tempo a empatia ser um processo cada vez mais automático e natural”.

Essa é a conclusão, também, da pesquisa com médicos realizada por Helen Riess,
diretora do Empathy and Relational Science Program do Massachusetts General
Hospital, em Boston. Para ajudar os médicos a monitorarem a si mesmos, Riess criou
um programa pelo qual eles aprenderam a se concentrar usando a respiração profunda e
diafragmática e a cultivar certo distanciamento do teto, por assim dizer, em vez de
estarem perdidos em seus próprios pensamentos e sentimentos. “Suspender nosso
próprio envolvimento para observar o que está acontecendo nos dá uma percepção
consciente da interação sem ser completamente reativo” (RIESS). “Podemos ver se
nossa própria fisiologia está carregada ou equilibrada. Podemos notar o que está
acontecendo” (GOLEMAN, 2018, on-line). “Se agirmos de forma cuidadosa – olhando
as pessoas nos olhos e prestando atenção às suas expressões, mesmo não querendo
muito – podemos começar a nos sentir mais envolvidos” (idem).

A preocupação empática, trazendo novamente Goleman, “está intimamente relacionada


à empatia emocional, permite-nos sentir não apenas como as pessoas se sentem, mas o
que elas precisam de nós” (2018, on-line). “A preocupação empática tem suas raízes no
sistema que obriga a atenção dos pais aos filhos. Ao observarmos para onde os olhos
das pessoas vão quando alguém aparece com um bebê adorável, podemos ver esse
centro cerebral dos mamíferos entrando em ação” (idem).

A preocupação empática é a ponte para a compaixão. Muitas vezes confundida com a


empatia, a compaixão tem o elemento adicional de ter um desejo autêntico de aliviar ou
reduzir o sofrimento do outro. Importante também a diferenciação entre compaixão e
altruísmo. O altruísmo é uma ação que beneficia outra pessoa. Pode ou não ser
acompanhado de empatia, ou de compaixão, como no caso de fazer uma doação para
obter benefícios fiscais. Embora esses termos estejam relacionados à compaixão, eles
não são idênticos. Muitas vezes, a compaixão envolve uma resposta empática e um
comportamento altruísta. No entanto, a compaixão é definida como a resposta
emocional ao perceber o sofrimento e inclui um desejo autêntico de ajudar (EMMA,
2018).
Recentes pesquisas têm mostrado os benefícios da compaixão para a saúde física e
psicológica. É primordial que você leia o texto “A Mente Compassiva: seus benefícios
e como desenvolvê-la”, de Emma Seppala.
NOWMASTÊ

A mente compassiva - seus benefícios e como desenvolvê-la -


Nowmastê

Por Emma Seppala via Tibet House Brasil Décadas de pesquisa clínica concentraram-
se e lançaram luz sobre a psicologia do sofrimento humano. Esse sofrimento, embora
desagradável, muitas vezes também tem um aspecto favorável no qual as pesquisas
têm prestado menos atenção: a compaixão. O sofrimento humano é muitas vezes
acompanhado de belos atos de compaixão como expressão...
LEIA MAIS NOWMASTÊ

A preocupação empática, ponte para a compaixão, nos traz inúmeros benefícios,


contudo, é possível empatizar com todo mundo o tempo todo? “Não”, revela Claudia
Feitosa Santana, pós-doutora em neurociências.
Bloquear a empatia também é importante, pois o treinamento da empatia exige esforço e

custa muito caro ao nosso cérebro. Pense em médicos operando ou advogados e

terapeutas. Vivenciar o sofrimento do outro o tempo todo, como se fosse o nosso, pode

gerar sobrecarga, por isso reconhecer nossos limites é muito importante (FEITOSA,

2019)

Bloquear a empatia também é importante, pois o treinamento da empatia exige esforço e


custa muito caro ao nosso cérebro. Pense em médicos operando ou advogados e
terapeutas. Vivenciar o sofrimento do outro o tempo todo, como se fosse o nosso, pode
gerar sobrecarga, por isso reconhecer nossos limites é muito importante (FEITOSA,
2019)
Assista ao vídeo “Empatia: capacidade natural e competência”, de Claudia Feitosa-
Santana.

YOUTUBE

EMPATIA: CAPACIDADE NATURAL E COMPETÊNCIA | Claudia


Feitosa-Santana

É possível ter empatia por todos o tempo todo? Hoje, a pós-doutora em neurociências
integradas Claudia Feitosa-Santana conta pra gente, aqui na Casa do Saber...
VEJA EM YOUTUBE

Ao vivenciarmos intuitivamente o sofrimento do outro como se fosse nosso próprio


sofrimento, uma teoria neural sustenta que a resposta é acionada na amígdala pelo radar
do cérebro, que detecta o perigo, e no córtex pré-frontal, pela liberação de ocitocina,
substância química relacionada ao sentimento de se importar. Isso indica que a
preocupação empática é um sentimento ambíguo. Ao decidir se atenderemos às
necessidades dessa pessoa, ponderamos deliberadamente sobre o quanto valorizamos o
bem-estar dela (GOLEMAN, 2018, on-line).

Conseguir essa combinação de intuição e deliberação tem grandes implicações. Aqueles


que sentem compaixão demais podem acabar sofrendo. Nas profissões assistenciais, isso
pode levar à fadiga da compaixão; em executivos, pode gerar ansiedade em relação a
pessoas e situações que estão fora de controle. Mas aqueles que se protegem
enfraquecendo seus sentimentos podem perder a capacidade de sentir empatia. A
preocupação empática exige que controlemos nossa própria angústia sem nos tornarmos
insensíveis à dor dos outros. Sermos seletivos, reconhecendo nossos limites, podemos
escolher com quem e quando gerar preocupação empática (FEITOSA, 2019).

Falamos, então, de preocupação empática seletiva – quando dizemos “não” para alguém
ou alguma situação, estamos dizendo “sim", para alguma coisa interna que precisa de
cuidado, trabalhando, portanto, a autoempatia. A decisão consciente, com entendimento
claro das necessidades internas, potencializa a visão de realidade externa.

Sentir COM o outro não significa trazer para si a resolução de problemas PARA o
outro, algumas vezes o impulso de “ajudar” pode esconder a necessidade de ser herói da
vida alheia, impossibilitando que o outro se mostre em seu potencial. O entendimento
da realidade e a construção de uma conexão sadia e sem julgamentos criam
oportunidade para desenvolvimento de caminhos internos em que a própria pessoa
desenvolva a melhor resolução para si. Com os caminhos e as possibilidades daquele
momento para aquela pessoa. “Permanecendo em empatia, permitimos que nossos
interlocutores atinjam níveis mais profundos de si mesmos” (ROSENBERG, 2006).
Nesse sentido, seria possível demonstrar empatia por quem sentimos antipatia? Abrir
espaço de entendimento dos comportamentos de outras pessoas não significa estar de
acordo nem ser permissivo. Demonstrar empatia significa abrir espaço de escuta e
entendimento, sem julgamentos, perceber quais os motivos de determinados
comportamentos, existe ali uma necessidade não atendida, ou a busca por algo que é
definitivamente humano e universal. Quando entendemos esse processo, contribuímos
com a diminuição da tensão na conversa e aumenta a capacidade de entender e ser
entendido. Empatia abre espaço seguro de fala e escuta.

A escuta tem papel fundamental na empatia. Para SCLAVI (2003), o bom escutador
deve respeitar o interlocutor e ser curioso – abrir-se a outra visão de mundo. Um dos
fundamentos disso é a compreensão da realidade como construção social complexa,
portanto o reconhecimento de seu caráter multifacetado e das várias visões e percepções
possíveis sobre o mesmo fenômeno, objeto e situação. Ou seja, é necessário transitar do
lugar em que se vê uma única verdade oposta ao diferente, em direção a um
posicionamento de abertura para escutar outras verdades; abrindo-se ao diálogo e
colocando em xeque suas próprias certezas (MOURA e GIANNELLA, 2016). O termo
“escuta ativa” é muito utilizado quando se fala de escuta empática, associado à
psicoterapia e à psicologia com base em ROGERS (1997), a mesma referência utilizada
por BARBIER (2008) com a chamada “escuta sensível”. Trata-se de escutar o outro
para compreender o que está a dizer, evitando o quanto possível avaliar ou julgar. Para
ROGERS, é necessário abrir-se para esse tipo de escuta, pois isso enriquece e torna
mais sensível quem escuta, assim como promove a transformação do outro, isso é, de
quem está sendo escutado (MOURA e GIANNELLA, 2016).

Para as pesquisadoras MOURA e GIANNELLA, a escuta empática gera inúmeros


benefícios para a interação social e profissional:

 A escuta (ativa, sensível, profunda), quando exercida por quem assume o papel de
liderança nas organizações e nos processos de aprendizagem, propicia o
engajamento dos colaboradores e aprendizes. Isso porque pode contribuir para a
emergência dos seus potenciais, estimulando-os a agirem e a expressarem-se
com base em suas habilidades e tendo em vista as reais necessidades coletivas e
pessoais, o que, por sua vez, facilita a resposta criativa aos desafios encontrados
na gestão e nos processos de aprendizagem;
 A escuta (ativa, sensível, profunda) facilita a interação das pessoas em ambientes
de diversidade cultural, seja nas organizações, seja nos âmbitos mais variados da
sociedade contemporânea. A diferença/complexidade acentuada em nossas
sociedades e organizações proporciona a cada dia mais situações de
interculturalidade, isso é, contextos onde diversas premissas implícitas orientam as
várias leituras e formas de ação no mundo; onde a tendência à negação do
diferente é corriqueira, o que torna a arte de escutar, relacionada à gestão criativa
de conflitos, uma competência cada vez mais necessária para abrir portas à
convivência e à possibilidade de ação conjunta entre diferentes (SCLAVI, 2003);
 A escuta favorece os processos coletivos de trabalho e de organização,
instaurando efetivamente capacidades de indagação criativa, pensamento
divergente (fora dos quadrados e dos limites dados), exploração de opções e
possibilidades não óbvias. A habilidade da escuta, exercida em grupos em um
ambiente colaborativo, cria campos fecundos para ativar e sustentar a inteligência
coletiva;
 A escuta estimula uma cultura participativa e democrática tanto no seio da
sociedade quanto de suas mais diversas organizações. A prática da escuta é um
dos requisitos para o desenvolvimento de processos participativos e colaborativos.
Tais processos tendema emperrar, em maior ou menor medida, na perspectiva
epistemológica que reafirma – de forma contraditória com respeito às intenções
declaradas – a legitimidade de apenas uma visão de mundo, em vez de aceitar a
hipótese e fomentar a prática da exploração e convivência entre visões distintas.
Essa perspectiva, ainda hegemônica, está entranhada em nossos modelos
mentais, memórias e comportamentos (GIANNELLA e MOURA, 2009);
 A escuta abre caminhos para reconhecermos os conflitos como oportunidades de
aprendizagem nas organizações, indivíduos e sociedades. Dentro de uma visão
epistemológica baseada na premissa da verdade única, o conflito expressa
negação. De forma diferente, ao assumirmos uma visão de mundo complexo e
multíplice, o conflito torna-se uma oportunidade de aprendizagem por evidenciar
diversos modos possíveis de perceber dada realidade. No entanto, para que essa
possibilidade seja efetivada, precisamos treinar as capacidades de escuta criativa
e, com elas, a competência de gestão criativa de conflitos (SCLAVI, 2003);
 A escuta prepara gestores, educadores, profissionais e pessoas em geral para
lidarem com o caos e a adversidade, favorecendo o trabalho voltado para a
criatividade e a inovação (MOURA e GIANNELLA, 2016).

 A escuta (ativa, sensível, profunda), quando exercida por quem assume o papel de liderança
nas organizações e nos processos de aprendizagem, propicia o engajamento dos
colaboradores e aprendizes. Isso porque pode contribuir para a emergência dos seus
potenciais, estimulando-os a agirem e a expressarem-se com base em suas habilidades e
tendo em vista as reais necessidades coletivas e pessoais, o que, por sua vez, facilita a
resposta criativa aos desafios encontrados na gestão e nos processos de aprendizagem;
 A escuta (ativa, sensível, profunda) facilita a interação das pessoas em ambientes de
diversidade cultural, seja nas organizações, seja nos âmbitos mais variados da sociedade
contemporânea. A diferença/complexidade acentuada em nossas sociedades e organizações
proporciona a cada dia mais situações de interculturalidade, isso é, contextos onde diversas
premissas implícitas orientam as várias leituras e formas de ação no mundo; onde a
tendência à negação do diferente é corriqueira, o que torna a arte de escutar, relacionada à
gestão criativa de conflitos, uma competência cada vez mais necessária para abrir portas à
convivência e à possibilidade de ação conjunta entre diferentes (SCLAVI, 2003);
 A escuta favorece os processos coletivos de trabalho e de organização, instaurando
efetivamente capacidades de indagação criativa, pensamento divergente (fora dos quadrados
e dos limites dados), exploração de opções e possibilidades não óbvias. A habilidade da
escuta, exercida em grupos em um ambiente colaborativo, cria campos fecundos para ativar
e sustentar a inteligência coletiva;
 A escuta estimula uma cultura participativa e democrática tanto no seio da sociedade quanto
de suas mais diversas organizações. A prática da escuta é um dos requisitos para o
desenvolvimento de processos participativos e colaborativos. Tais processos tendema
emperrar, em maior ou menor medida, na perspectiva epistemológica que reafirma – de
forma contraditória com respeito às intenções declaradas – a legitimidade de apenas uma
visão de mundo, em vez de aceitar a hipótese e fomentar a prática da exploração e
convivência entre visões distintas. Essa perspectiva, ainda hegemônica, está entranhada em
nossos modelos mentais, memórias e comportamentos (GIANNELLA e MOURA, 2009);
 A escuta abre caminhos para reconhecermos os conflitos como oportunidades de
aprendizagem nas organizações, indivíduos e sociedades. Dentro de uma visão
epistemológica baseada na premissa da verdade única, o conflito expressa negação. De
forma diferente, ao assumirmos uma visão de mundo complexo e multíplice, o conflito
torna-se uma oportunidade de aprendizagem por evidenciar diversos modos possíveis de
perceber dada realidade. No entanto, para que essa possibilidade seja efetivada, precisamos
treinar as capacidades de escuta criativa e, com elas, a competência de gestão criativa de
conflitos (SCLAVI, 2003);
 A escuta prepara gestores, educadores, profissionais e pessoas em geral para lidarem com o
caos e a adversidade, favorecendo o trabalho voltado para a criatividade e a inovação
(MOURA e GIANNELLA, 2016).

A empatia não é uma técnica, ela pode ser praticada com recursos metodológicos, mas,

em última instância, ela não pode ser dissimulada, pois, somos “máquinas” de detectar

traidores (SANTANA, 2019). Para uma conexão real, a intenção deve ser real.

“Há sempre dor na sala”, Peter J. C. Frost (1939 – 2004).


Tornarmo-nos mais tolerantes, menos julgadores, treinar nosso olhar para enxergar a
nós mesmos e as outras pessoas. Não com olhos de julgamento, do rótulo, da punição,
mas com o olhar da compaixão, que enxerga necessidades humanas, estados
emocionais, alguém que está fazendo o melhor possível com o que tem disponível nesse
momento, sejam recursos internos, sejam externos.

Quando pensamos nos grandes problemas que o mundo enfrenta, podemos listar uma
série deles: guerra, fome, violência; e se pensarmos em pequena escala, o que seria
possível de concreto fazer para a resolução real desses problemas? A utilização da
empatia seria fundamental. Para resolver problemas complexos como esses e muitos
outros, uma visão sistêmica e integrativa é necessária, e essa visão só pode ser possível
contemplando pontos de vista de quem passa pelos problemas, incluindo suas visões de
dentro, para trazer soluções.

A transformação pela empatia, a mudança começa com o entendimento de que podemos


nos desenvolver, sermos melhores que agora. Em que sentido? Podemos começar com a
autoempatia, com o desenvolvimento de hábitos e atitudes que pouco a pouco
transformam nossa maneira de viver, que transbordam de si mesmos e começam a
beneficiar outras pessoas com pequenas atitudes, fazendo o que é possível, depois o que
é difícil, e como seres humanos dotados de neurônios espelhos, a partir das atitudes
individuais, outros podem se inspirar, e pouco a pouco o que talvez pensássemos ser
impossível, o mundo mais empático, colaborativo e generoso que queremos, acontece.

Podemos ser melhores do que somos.

UNIDADE 4

MATERIAL DIDÁTICO
2/6

A Experiência do Voluntariado no Despertar do


Propósito e da Autonomia para o Meio Ambiente, a
Sociedade e a Autoestima
O “sentido na vida” compreende a ideia de propósito vital, valores e respostas pessoais
às questões que a vida apresenta. Envolve a conscientização e o despertar dos valores
que nos convidam a agir de um modo particular ante situações específicas,
proporcionando congruência, coerência e identidade pessoal. FRANKL (1997)

Esta unidade vai apresentar uma proposta de experimentação de sentido de vida, a partir
do trabalho voluntário, proposta que visa ao entendimento do significado de vida, mas,
principalmente, da vivência desse sentido.

A apresentação do trabalho voluntário como meio para essa vivência se faz porque não
se trata apenas dos impactos que podemos ter na vida de outras pessoas ou do meio,
mas, principalmente, do papel que essa atividade pode desempenhar na nossa própria
vida.

Segundo UCEFF o trabalho voluntário é capaz de tornar uma pessoa mais tolerante,
empática e, mais do que tudo, um excelente profissional.

Por exemplo, participar de Projetos Sociais pode ser um diferencial durante processos
seletivos, pois é possível perceber que a pessoa se preocupa em ajudar o próximo.
Quando praticamos alguma atividade fora de nossa zona de conforto ou convivemos

com pessoas que não são de convívio próximo, podemos perceber nossos próprios

comportamentos, espelhados nos outros, e as reações deles geram um lindo processo de

autoconhecimento.

O voluntariado é também uma ótima maneira de se relacionar e conhecer outras


pessoas, criando amizades importantes, que podem durar a vida toda.

Por meio de conexões com pessoas de fora de seu círculo de amizade e comunidade,
você poderá conhecer pessoas de todas as esferas da vida, que afetarão seu caminho e
experiência de maneiras muito diferentes.
Para muitos, a sensação de recomeço, como na transição de carreira ou recolocação
profissional, até depois de momentos muito desafiadores de vida, aparece no
voluntariado, as novas conexões sociais contribuem com novos olhares e afetos, e a
intenção de beneficiar o outro além de si mesmo aumenta o bem-estar e felicidade.
Criamos mais ânimo e disposição para realizarmos outras coisas.

Pesquisas de Jonathan Haidt, da Universidade da Virgínia, membro da APS, sugerem


que ver alguém ajudando outra pessoa cria um estado de “exaltação”.

Você já caiu no choro ao ver o comportamento amoroso e compassivo de alguém?

Os dados de Haidt sugerem que a exaltação nos inspira a ajudar os outros – e pode ser a
força por trás de uma reação de generosidade em cadeia.

Haidt mostrou que os líderes corporativos que se envolvem em comportamentos de


autossacrifício e provocam “exaltação” em seus funcionários, também exercem maior
influência sobre eles – que se tornam mais comprometidos e, por sua vez, podem atuar
com mais compaixão no local de trabalho.

Na verdade, a compaixão é contagiosa. Os cientistas sociais James Fowler, da


Universidade da Califórnia, São Diego, e Nicholas Christakis, de Harvard,
demonstraram que ajudar é contagioso: atos de generosidade e bondade geram mais
generosidade em uma reação do bem em cadeia.

Pode ser que você tenha visto alguma notícia sobre reações em cadeia que ocorrem
quando alguém paga café para um motorista que vinha atrás em um restaurante drive-
through, ou paga um pedágio numa rodovia.

As pessoas mantêm o comportamento generoso durante horas. Nossos atos de


compaixão exaltam os outros e os deixam felizes. Podemos não saber, mas, ao estimular
outros, também estamos nos ajudando; as pesquisas de Fowler e Christakis mostraram
que a felicidade se espalha e que, quando as pessoas que nos rodeiam estão felizes, nós
também nos sentimos mais felizes. (SEPPALA, E. 2018)

E, quem sabe, fazer como eu e outros empreendedores sociais que, por meio do trabalho
e da dedicação aos outros, pode também se inspirar a começar seu próprio projeto para
ajudar o próximo ou alterar o Plano de Carreira que você originalmente estabeleceu para
si mesmo.

A partir deste momento, gostaria de propor uma reflexão filosófica sobre a vida, quando
paramos por algum tempo das atividades cotidianas e do fluxo do fazer e consumir e
sobreviver, algumas questões humanas surgem e, talvez, até, você já tenha se
perguntado algumas delas;
 bullet
Será que há sentido para tudo isso?
 bullet
O que faço aqui?
 bullet
Caminho para o nada?
 bullet
Ao final, como serei lembrado, se é que o serei?
 bullet
O que terei realizado, se é que há possibilidade de realizações?
 bullet
O que são realizações?
Essas questões podem nos impulsionar a viver uma vida que vale a pena ser vivida, uma
vida com sentido.

Segundo vários filósofos existenciais, citados por YALOM (1984), o homem precisa de

um sentido para viver, que envolva metas, valores e ideais. Sem isso, ele pode chegar a

uma atitude extrema, o suicídio.

Aristóteles é, ainda hoje, uma grande referência sobre a busca de felicidade e bem-

estar. Sua teoria sobre a eudaimonia (do grego antigo εὐδαιμονία), é um termo grego

que literalmente significa: "O estado de ser habitado por um bom adaemon, um bom

gênio” e, em geral, é traduzido como felicidade e bem-estar.

Fonte: Getty Images

Para ele, a vida feliz seria uma vida virtuosa (bem-viver e bem-fazer), utilizando
virtudes como exercício de uma vida ética e além de seus próprios prazeres, o ser
humano encontraria a felicidade.
Martin Seligman, precursor da Psicologia Positiva no mundo, aponta para o aumento de
bem-estar quando há utilização de dons e talentos com um sentido, e que esse sentido é
sempre além de você mesmo.

Viktor Emil Frankl, criador da logoterapia e análise existencial, afirma que a força
motriz do ser humano é a presença de sentido na vida.

Não se trata, porém, de um sentido único para toda a vida, mas, sim, de um sentido para
cada situação que ela apresenta. Por isso, o sentido pode mudar a cada momento e a
cada hora.

Todas as circunstâncias da vida que uma pessoa vive são dotadas de sentido, até mesmo
quando há sofrimento (FRANKL, 2005).

Quando o ser humano frustra essa vontade de sentido, pode acabar mergulhando em um
vácuo existencial, isto é, em um sentimento de vazio e futilidade. Para Frankl, esse é o
mal que atinge nossa época. Em especial, esse vazio apresenta-se de modo mais
suscetível entre os jovens e tem sido marcado por uma tríade sintomática: depressão,
agressividade e dependência de drogas (FRANKL, 2003; FRANKL, 2008); (SANTOS,
2019).

Frankl (1989, 2005), apresenta que o homem pode se posicionar e dar respostas às
perguntas que a vida possa fazer.

Cada momento traz uma pergunta, que representa um desafio e uma exigência – A vida
desafia a pessoa a responder. "Responder a" é responsabilizar-se, comprometer-se
perante uma tarefa que se apresenta, perante uma ou mais pessoas, perante Deus.

Para Frankl, na verdade, não cabe ao homem indagar sobre o sentido de sua vida.

Ele deveria:
[...] compreender-se como alguém que é indagado, e é justamente sua própria vida que o

indaga, e ele tem de responder, e se responsabilizar pela sua vida. De fato, a análise

existencial vê no ser responsável a essência da existência do homem (FRANKL, 1976,

p. 73).

[...] compreender-se como alguém que é indagado, e é justamente sua própria vida que o
indaga, e ele tem de responder, e se responsabilizar pela sua vida. De fato, a análise
existencial vê no ser responsável a essência da existência do homem (FRANKL, 1976,
p. 73).

Assim como Aristóteles e Martin Seligman (Seligman, M. 2019), a felicidade e o bem-


estar, estão diretamente ligados à responsabilização do homem por suas escolhas de
vida e atitudes que beneficiem outras pessoas ou o meio que os cerca (comentário da
professora).
Frankl (1989) comprovou que o ser humano anseia por um sentido de vida, que a sua
principal força motivadora é a busca desse sentido. Podem decorrer disso, como efeitos
colaterais, a felicidade, o prazer e o encontro de um conforto no mundo social (sucesso
profissional) (SILVEIRA; GRADIN, 2015)

A questão do sentido coloca-se em todas as etapas da vida. Exemplificando, a chamada


"crise da meia-idade" pode ser compreendida como uma crise de sentido, assim como a
crise da aposentadoria e a crise de desemprego. Na crise de desemprego ou de
aposentadoria, a pessoa entende que sem trabalho a vida não tem sentido, as pessoas não
se sentem necessárias, úteis para si ou para a Sociedade (SILVEIRA; GRADIN, 2015)

A vontade de sentido para FRANKL (1990) é a motivação humana primária, mas não
aparece somente quando as necessidades básicas do homem são satisfeitas, surgindo,
assim, uma necessidade de satisfação mais elevada.

A vontade de sentido representa uma motivação que não se reduz ou deriva de outras
necessidades. Essa ideia contrapõe-se à de Maslow (FADIMAN; FRAGER, 1986), que
propôs uma hierarquia das necessidades, sendo elas: fisiológicas, de segurança, de amor
e pertinência, de estima e, por último, a autorrealização.

Para esse mesmo autor, as necessidades fisiológicas são básicas e devem ser atendidas,
primeiramentpor nada e, para que as demais ocorram.

Para Frankl, o importante seria compreender qual das necessidades tem sentido para a
pessoa, e não identificar sua hierarquia: "Se não existir algum sentido para seu viver,
uma pessoa tende a se tirar a vida e está pronta para fazê-lo mesmo que todas as suas
necessidades sob qualquer aspecto estejam satisfeitas" (FRANKL, 2005, p. 14).

A Psicanálise entende que o sentido decorre da busca de prazer (SILVEIRA; GRADIN,


2015).

Para Frankl (1989, p. 67):


[...] esta afirmação reporta-se ao suposto fato de que todo o agir humano é fitado, em

última análise, por uma aspiração à felicidade, sendo todos os processos anímicos

determinados única e exclusivamente por um princípio do prazer.

[...] esta afirmação reporta-se ao suposto fato de que todo o agir humano é fitado, em
última análise, por uma aspiração à felicidade, sendo todos os processos anímicos
determinados única e exclusivamente por um princípio do prazer.

Frankl não compartilha dessa ideia: "O princípio do prazer é um artefato psicológico".

Para ele (1989, p. 67): "Na verdade, o prazer não é, em geral, a meta de nossas
aspirações, mas sim a consequência da sua realização" ou, ainda: "Em outras palavras, o
homem, que tão especialmente dedica-se ao prazer e diversão, mostra-se finalmente
como alguém que permanece frustrado em relação a sua vontade de sentido" (FRANKL,
1990); (SILVEIRA; GRADIN, 2015).
Entre os estudiosos que abordaram a questão do sentido e sua importância na vida das
pessoas, Jung (citado por FRANKL, 1990, p. 26) afirmou que "O sentido faz muito,
talvez tudo, suportável".

Nietzsche acreditava que: "Quem tem por que viver, suporta quase qualquer como".

Na percepção do sentido, trata-se de descobrir uma possibilidade diante do pano de


fundo da realidade – trata-se da possibilidade de descobrir a melhor (mais adequada)
alternativa diante das opções que a vida apresenta em determinado contexto – trata-se
da possibilidade de se transformar a realidade (FRANKL, 1989, 1990, 2005, 2008).

A ideia de uma busca direta da felicidade, que alimenta inclusive a Indústria Publicitária
– como um argumento forte para a venda de produtos – essa ideia conduz a um círculo
vicioso a partir da frustração de uma exigência (inerente à pessoa) profunda de busca de
sentido.

Quando o homem se limita à busca de autorrealização, está focado em si mesmo e no


seu mundo, esquecendo-se do mundo que existe fora dele (SILVEIRA; GRADIN, 2015)
(Grifo no original). O objetivo do homem é realizar um sentido, e somente quando ele o
alcança consegue realizar a si próprio. A auto-realização vem como consequência,
efeito colateral, da busca direta de sentido (FRANKL, 1991); (SILVEIRA; GRADIN,
2015). (Grifo no origina).
Sair vitorioso relaciona-se a viver a vida como uma missão – considerar a vida em seu
caráter de missão (FRANKL, 1989). (Grifo original)
De forma consciente, racional e sensata, atuar se propondo a contribuir de alguma forma
para o bem-estar do outro, sem deixar de cuidar de si, respeitar a si mesmo:
[...] no experimentum crucis dos prisioneiros de guerra ou de campos de concentração,

foi demonstrado que não existe nada no mundo que torne o homem capaz de sobreviver

a todas essas ‘situações-limite’ como a consciência de uma missão na vida (FRANKL,

1991.ª, p. 68).

[...] no experimentum crucis dos prisioneiros de guerra ou de campos de concentração,


foi demonstrado que não existe nada no mundo que torne o homem capaz de sobreviver
a todas essas ‘situações-limite’ como a consciência de uma missão na vida (FRANKL,
1991.ª, p. 68).
Uma frase que poderia nortear a escrita dessa vida como missão
pode ser:
Eu sou… por meio dos meus talentos de... para deixar o seguinte legado... E assim
transformar a realidade.
Nos links a seguir, estão alguns exemplos de Projetos de impacto inspiradores:
MELHORES
Prêmio Melhores ONGs anuncia as 100 vencedoras de 2020

A cerimônia online ocorrerá no dia 10 de dezembro, quando serão anunciadas


também as melhores nas categorias especiais e o destaque do ano O Prêmio
Melhores ONGs anuncia as 100 organizações brasileiras do terceiro setor vencedoras
em 2020. Na lista, é possível conhecer o nome das organizações reconhecidas por
suas boas práticas em quesitos como governança, transparência, comunicação e
financiamento.
LEIA MAIS MELHORES

RED BULL
Projetos de impacto social que transformam realidades

Uma iniciativa de impacto social positivo é aquela que busca transformar uma
realidade, geralmente pautada por um problema da sociedade em que está inserida.
Muitas vezes alinhadas a um ou mais dos 17 Objetivos de Desenvolvimento
Sustentável das Nações Unidas (ODS).
LEIA MAIS RED BULL

Quais são os projetos próximos a você? De que maneira seus dons e talentos poderiam
contribuir com esses projetos?
Para quem quer entender um pouco mais sobre como
iniciar um projeto social
“Como você sonha em mudar o mundo?

”Você cavaria poços para fornecer água potável a pequenos vilarejos? Criaria
microbancos para tirar mulheres da pobreza? Protegeria um ecossistema em risco de
extinção? Reabilitaria uma escola? Instalaria Clínicas de Saúde Rurais para
Comunidades carentes? Distribuiria alimentos para quem tem fome?

Não é de surpreender que poucas pessoas responderiam “Eu gerenciaria projetos!”(Guia


PMD-PRO, desenvolvido por Child Fund. Brasil).

Essa é a introdução do Curso de Gerenciamento de Projetos Sociais. O entendimento de


que o Terceiro Setor (ONGs e Institutos) é uma Área da Economia extremamente
importante, não só por sua atividade-fim, mas, principalmente, pelo desenvolvimento
econômico que gera, expande-nos a visão de que esta também é uma profissão que deve
se especializar.

Todos os trabalhos voluntários, quaisquer que sejam eles, tem uma coisa em comum:
gerenciam seu trabalho por meio de Projetos. O gerenciamento de Projetos Sociais tem
características distintas de outros e importantes para priorização de conhecimentos.

As imagens a seguir ilustram Projetos não estruturados adequadamente:


Fonte: Adaptado de PDM-Pro

Para iniciar um bom Projeto, devemos, primeiro, identificar as reais necessidades da


Comunidade ou Instituição.

Lembrando-se da Unidade na qual falamos de empatia, deixar nossos julgamentos de


lado e utilizar a escuta empática, apenas escutar, tentando entender aquela realidade,
sentir junto com as pessoas e gerar preocupação empática: o impulso real de fazer
algo.

A próxima etapa prevê a definição do Projeto, quais os resultados esperados, em quanto


tempo, o que especificamente vai ser feito e deve ser definido por atividades.

O planejamento vem em seguida: a partir das atividades elaboradas, quem serão os


responsáveis, quais os recursos necessários e como serão conseguidos.

A implementação – Mão na massa! e, por fim, a avaliação final de resultados e a


transição para o final.

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