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A cultura é a resposta do homem ao desafio da existência

A palavra cultura é usada com diferentes significados, é o que chamamos de


polissemia. No primeiro e mais antigo sentido, significa a formação do homem, sua
melhora e refinamento. No segundo significado indica-se o produto dessa formação, o
conjunto de modos de vezes e de pensar cultivados, polidos e que também costumam
ser indicados pelo nome de civilização.

A passagem ou evolução do primeiro significado para o segundo significado ocorreu no


século XVIII por meio de Kant em especial in litteris:

“Num ser racional, cultura é a capacidade de escolher seus fins em geral e, portanto,
de ser livre. Por isso, só a cultura pode ser o fim último que a natureza tem condições
de apresentar ao gênero humano.” (Crítica do Juízo, 83)

Em idêntico sentido Hegel informou: “Um povo faz progressos, tem seu
desenvolvimento e tem seu crepúsculo” Evidencia-se que a cultura é produto ou fonte
de reunião humana.

Sendo referente à formação da pessoa humana individual essa palavra corresponde


ainda hoje ao que os gregos denominavam de paideia[2] e o que os latinos, na época
de Cícero indicavam como sendo humanitas, significando parte da educação do
homem e que o distingue de todos os outros animais.

A chamada “boas artes” eram a poesia, a eloquência, a filosofia e etc... às quais se


atribuía valor essencial para aquilo que o homem é e deve ser portanto, formar o
homem de modo genuíno e verdadeiro (perfeito).

Para os gregos, a cultura nesse sentido foi à busca e a realização humana. E tem duas
características constitutivas a primeira com íntima ligação com a filosofia, na qual se
incluíam todas as formas de investigação; a segunda característica muito relacionada
om a vida social.

Para os gregos, o homem só podia realizar-se como tal, através do conhecimento de si


mesmo e de seu mundo, portanto, mediante a busca da verdade em todos os
domínios que lhe dissessem respeito.

Em segundo lugar, o homem só podia realizar-se como tal na vida em comunidade na


polis; a República de Platão é a expressão máxima da íntima relação com que os gregos
estabeleciam entre a formação dos indivíduos e a vida da comunidade.

Assim a afirmação de Aristóteles de que o homem é por natureza um animal político


tem o mesmo significado. A cultura é uma forma superior, é uma ideia no sentido
platônico, um ideal que os homens devem procurar realizar e encarnar em si mesmos.
O conceito clássico da cultura como processo de formação especificamente humana,
excluía qualquer atividade infra ou ultra-humana. Restam excluídas as atividades
utilitárias tais como artes, ofícios e, em geral trabalho manual que se indicava
depreciativamente pelo termo banausia (que cobra ao escravo) que não passava de
um “instrumento animado” porque não distinguia o homem de um animal, que
também age no sentido de conseguir alimento e satisfazer as outras necessidades.

Excluía igualmente qualquer atividade ultra-humana que não tivesse voltada para
realização do homem no mundo, mas para um destino ultraterreno.

O ideal clássico de cultura foi, a priori, aristocrático pelo segundo, foi naturalista,
sendo contemplativa e investindo na vida teórica inteiramente dedicada à busca da
sabedoria superior, que seria o fim da cultura.

Na Idade Média tal conceito foi apenas parcialmente conservado e modificado apesar
de ter mantido o caráter aristocrático e contemplativo, alterou-se principalmente o
viés naturalista.

As artes do Trivium[4] eram compostas de gramática, retórica e dialéticas e do


quadrivium (aritmética, geometria, astronomia, música) que eram chamadas de
liberais por serem as únicas dignas de homens livres e que constituíram a base e o
preâmbulo da cultura medieval, cujo objetivo foi à preparação do homem para os
deveres religiosos e para a vida ultraterrena ou espiritual.

O instrumento principal dessa preparação foi a filosofia, à qual se atribui a função


especifica de tornar acessíveis ao homem as verdades reveladas pela religião, de fazê-
lo compreender as verdades na proporção na capacidade intelectual de fornece-lhe
armas para sua defesa dessas verdades contra as tentações da heresia e da descrença.

Desta forma, a filosofia exerceu função proeminente na cultura medieval, porém bem
diferente daquela função exercida no mundo grego, deixou de ser um complexo de
investigações autônomas pelas quais o homem organiza os instrumentos naturais que
dispõe tais como sentidos e inteligência, além de propiciar a compreensão, a defesa e
sempre que possível a demonstração da verdade religiosa.

Somente após o século XII, se começou a reivindicar bem ao lado da função


instrumental, um campo peculiar e específico de investigação, se bem que, era
também submetido à fé.

Permaneceram na cultura medieval o aspecto aristocrático e contemplativo que se


aperfeiçoou e se estendeu como prenúncio da contemplação beatificada da alma que
se lançou em direção da pátria celeste.

O Renascimento significou a tentativa de redescoberta do genuíno significado clássico


da cultura, pretendeu estabelecer o seu caráter naturalista, concebendo a cultura
como formação que permite o homem viver de forma melhor e mais perfeita, no
mundo que é seu.
A religião sob esse prisma atuou como elemento integrante da cultura, não porque
prepare para outra vida, mas porque ensina viver bem nesta. O Renascimento
modificou o caráter contemplativo di ideal clássico, insistindo no caráter ativo da
sabedoria humana.

Mirandola e Charles de Bouvelles propagaram que é através da sabedoria que homem


atinge a realização completa e set torna um microcosmo no qual o próprio
macrocosmo encontra a perfeição.

Diz também Bovello, o sapiente conquista-se, toma posse e continua na posse de si


mesmo, ao passo que o insipiente permanece devedor da natureza oprimida pelo
homem substancial (isto é, pelo homem que é coisa ou natureza) e jamais pertence a
si mesmo.

Assim a vida ativa já não é estranha ao ideal de cultura assim também o trabalho passa
fazer parte desse ideal, sendo registrado de seu caráter utilitário e servil.

De qualquer forma, a sapiência é reservada para poucos e, o sapiente se destaca do


restante da humanidade, tem seu próprio status metafísico e moral, diferente dos
outros homens.

A primeira tentativa séria no sentido de suprimir ou superar o caráter aristocrático da


cultura coube ao Iluminismo. Pois procurou estender a crítica racional a todos os
objetos possíveis de investigação e considerou, portanto, como erro ou preconceito
tudo que não passasse pelo crivo da crítica.

Também o Iluminismo acarretou a máxima difusão da cultura que deixou de ser


considerada o patrimônio dos doutos para ser um instrumento de renovação da vida
social e individual.

Destaca-se a Enciclopédia Francesa[6] como a maior expressão dessa fase, mas foi
somente um dos meios de difusão da cultura entre todos os homens, acelerando a
ambição de torná-la universal.

Esse ideal de universalidade da cultura permaneceu, como um aspecto essencial, não


obstante, a poderosa influência do romantismo. E, este, por seu caráter secundário e
antiliberal, procurou de várias formas, retomar ao conceito aristocrático da cultura.

No entanto, o domínio da cultura alargou-se, pois as novas disciplinas, científicas que


se formavam e adquiriram autonomia, trazendo isso fato novos elementos
constitutivos do ideal de cultura.

Ser culto é ter uma vida humana equilibrada e rica. E “ser culto” não significa apenas
dominar somente as artes liberais de tradição clássica, mas conhecer em certa medida,
a matemática, física e ciências naturais além, das disciplinas históricas e filosofias que
haviam formado.
Então o conceito de cultura começou a significar enciclopedismo, ou seja,
conhecimento geral e sumário de todos os domínios do saber.

Mas a partir do século XX percebeu-se a insuficiência desse ideal enciclopedista que,


no entanto, era fruto da multiplicação e da especificação dos campos de pesquisa e de
suas respectivas disciplinas.

Lamentava-se que o homem possui tantos conhecimentos, mas que ficam limitados a
um pequeno círculo de fatos, ou pior, fica perdido em meio aos fatos dos mais
variados tipos e, resta o homem privado de diretriz, ou conforme se diz, privado de fé.

Croce, porém, achava mal, mas não era devido à especificação das disciplinas e, sim,
devido ao predomínio do positivismo, que privilegiava a cultura naturalista e
matemática. E, então, propunha como solução uma cultura que fosse harmoniosa
cooperação entre filosofia e história, entendidas no seu significado mais amplo e
verdadeiro.

Mas tal solução era sugerida pelo polêmico espírito antipositivista e pela orientação
típica da filosofia cruciana na qual a cultura científica e o próprio espírito científico não
encontravam lugar. No fundo, o problema da cultura agravou-se ainda mais nos anos
cinquenta após o diagnóstico de Croce.

Não só o processo de multiplicação e especificação das correntes de pesquisa e,


portanto, das disciplinas (naturalistas e não naturalistas) ampliou-se até assumir
proporções gigantescas, como também a crescente industrialização do mundo
contemporâneo.

E que torna indispensável à formação de competências específicas, possíveis apenas


por meio de treinamento especializado, que confina o indivíduo num campo bem
restrito de atividade e estudo. Surge a era das especificações e dos especialistas.

O que a sociedade exige de cada um de seus membros é o desempenho na tarefa que


lhe foi confiada, e o desenvolvimento não depende de uma cultura geral
desinteressada e, sim, refere-se aos conhecimentos específicos e aprofundados em
algum ramo muito especial de certa disciplina.

Afinal, essa determinada primavera, certa condição histórico-social cuja mudança e


cujo objetivo não é possível prever, não pode ser ignorada ou minimizada por aqueles
que se ocupam do estudo da cultura.

É inútil insurgir-se contra a cultura, impondo um ideal clássico de cultura ou cingindo


em sua pureza e perfeição, como formação desinteressada do homem aristocrático
voltado para a vida contemplativa.

Inútil ignorar o equívoco de uma cultura reduzida a ser o “puro tratamento técnico”
em determinado campo e restrita ao uso profissional de conhecimentos utilitários.
Pois a cultura designa a formação humana completa e ampla e, ainda visa a realização
do homem em sua forma autêntica ou em sua natureza humana.
Evidentemente que competências específicas, habilidades peculiares, destreza e
precisão são materiais ou conceituais sendo úteis e indispensáveis à vida do homem
em sociedade e à sociedade, mas não podem substituir a cultura como formação
equilibrada e harmônica do homem.

O problema da cultura contemporânea é o de conciliar as exigências da especialização


(inseparáveis do desenvolvimento maduro de atividades culturais) com a exigência da
formação humana que é total, ou pelo menos, suficiente e equilibrada.

E, para solucionar esse impasse que se discute a noção de cultura geral que deve
acompanhar todos os graus e formas de educação, até mesmo a mais especializada.
Mas resta evidentemente que a solução do busilis é apenas aparente enquanto não se
tiver uma noção objetiva do que seja cultura em geral.

Não se trata, obviamente, de se impor a certo grupo de disciplinas a outro e, de impor,


por exemplo, as disciplinas históricas ou humanísticas como cultura geral em oposição
as chamadas disciplinas naturais. O que seria impróprio principalmente porque as
disciplinas humanistas escapam à premência da especialização e exigem treinamento
especializado para serem entendidas e proficuamente cultivadas.

Também é óbvio que a cultura geral pode ser constituída por noções vazias e
superficiais que não suscitaram interesse e, não contribuiria para esquecer a
personalidade do indivíduo e sua capacidade de comunicarem-se como os outros.

Contudo, é possível indicar de maneira aproximada as principais características de uma


cultura geral que, como a clássica Paideia[9], esteja preocupada com a formação total
e autêntica do homem em âmbito, ou seja, não fecha o homem em âmbito estreito e
circunscrito de ideias e crenças.

O homem culto é um homem aberto e de espírito livre e, sabe entender as ideias e


crenças alheias ainda que não possa aceitá-las ou, mesmo reconhecer sua validade.

Em segundo lugar por consequência de uma cultura viva e formativa, deve estar aberta
para o futuro, mas ancorada no passado.

O homem culto não se desarvora diante do novo e, nem foge dele, mas sabe
considerá-lo como justo valor, vinculando-o ao passado e elucidando suas
semelhanças e disparidades.

Em terceiro lugar, a cultura se funda na possibilidade de abstrações operacionais, ou


seja, na capacidade de efetuar escolhas ou abstrações que lhe permitam confrontos,
avaliações globais e, portanto, orientações de natureza relativamente estável.

Concluímos que não há cultura sem o que chamamos de “ideias gerais”, mas estas não
devem nem podem ser impostas ou aceitas, arbitrária ou passivamente, pelo homem
cultuo na forma de ideologias institucionalizadas, devem poder formar-se de modo
autônomo sendo continuamente comensurada mente com as estações reais.
É evidente que para a formação de uma cultura com essas características formais são
igualmente necessários o enfoque histórico-humanístico do passado e o espírito crítico
e experimental de pesquisa científica.

Bem como é necessário o uso disciplinado e rigoroso das abstrações próprias da


filosofia, além da capacidade de formar projetos de vida a longo prazo, que também é
fruto do espírito filosófico.

Cultura possui atual significado, especialmente usado por sociólogos e antropólogos


para indicar o conjunto de modos de vida criados adquiridos e transmitido de uma
geração para a outra, entre os membros de determinada sociedade.

E, nessa acepção, a cultura não é a formação do indivíduo em sua humanidade, nem


sua maturidade espiritual, mas é a formação coletiva e anônima do grupo social nas
instituições que o definem.

A cultura seguindo Spengler é consciência pessoal de uma nação inteira, tal


consciência que é entendida como organismo vivo (portanto, nasce, cresce e morre).

Cada cultura, cada processo e cada declínio trazem seus graus e seus períodos internos
que são necessários, possui duração determinada e o uso de forma recorrente
símbolos.

Do conceito cultura, assim entendida, Spengler distinguia o conceito de civilização, que


é aperfeiçoamento e o fim de uma cultura, realização e, portanto, o esgotamento de
suas possibilidades constitutivas. Afinal, a civilização, afirma Spengler, é o destino
inevitável da cultura.

Na civilização se atinge o ápice a partir do qual podem ser resolvidos os problemas


últimos e mais difíceis da morfologia histórica.

As civilizações são os estados extremos e mais refinados aos quais pode chegar espécie
humana. Capaz de crescente humanização e compreensão do multiverso que nos cerca.

O caráter global, mas nem por isso sistemático de uma cultura, que corresponde às
necessidades fundamentais do grupo humano, a diversidade dos modos com as várias
culturas correspondem a essas necessidades e o caráter do aprendizado ou
transmissão da cultura, são traços característicos expressos por essas definições,
traços que se repetem em quase todas as definições que atualmente são consideradas
válidas.

O culturalismo é toda doutrina antropológica, filosófica, psicológica e que atribui o


papel primordial à cultura e aos fatos socioculturais em geral.

O presente texto de forma didática e simples pretende demonstrar a crucial


importância da cultura para um povo, uma nação e, enfim, para a humanidade, e
protestar veementemente com o tratamento indigno que o Governo do Estado do Rio
de Janeiro programada a diversos órgãos ligados a cultura, como por exemplo, o
Teatro Municipal do Rio de Janeiro, onde seus servidores estão à míngua sem receber
salários e, sem sequer, obter perspectivas futuras de pagamento.

Cultura não é perfumaria e nem supérflua, é a única resposta possível da humanidade


diante do desafio da existência. (grifo nosso)

Notas

A Crítica do Julgamento ou Crítica do Juízo é obra escrita pelo filósofo


Immanuel Kant, em 1790. É a terceira das críticas publicadas onde se discute o
conceito de juízo estético. O título da obra que tem melhor tradução do alemão por
Crítica da Faculdade do Juízo, é a terceira e última crítica elaborada pelo filósofo
alemão Immanuel Kant. A primeira, Crítica da Razão Pura, examina os limites da razão
quanto as possibilidade a priori do conhecimento. A segunda, Crítica da Razão Prática,
discorre sobre os limites dos princípios morais já fundamentados a priori na razão.
Nesta terceira obra, Kant busca além da razão, ele investiga os limites daquilo que
podemos conhecer pela nossa faculdade de julgar, que leva em consideração não
apenas a razão, mas também a memória e os sentimentos. Em sua primeira parte –
Crítica da Faculdade de Juízo Estético – Kant realiza a analítica do belo através das
categorias (qualidade, quantidade, finalismo e modo), do sublime e introduz a noção
de gênio. Apesar de Kant discorrer sobre o sublime, ao gênio e consequentemente às
Belas Artes não se pode dizer que formulou uma teoria estética já que o juízo estético
é reflexionaste, portanto subjetivo. Kant não chega numa teoria estética, mas funda as
bases da teoria de Hegel, poucos anos depois.

Paideia é a denominação do sistema de educação e formação ética da Grécia Antiga,


que incluía temas como Ginástica, Gramática, Retórica, Música, Matemática, Geografia,
História Natural e Filosofia, objetivando a formação de um cidadão perfeito e
completo, capaz de liderar e ser liderado e desempenhar um papel positivo na
sociedade. O conceito surgiu nos tempos homéricos e permaneceu em sua essência
inalterada ao longo dos séculos, embora variando suas formas de aplicação e as
disciplinas envolvidas, e continua a interessar muitos educadores e pensadores
contemporâneos.

Aristóteles (384 a.C.–322 a.C.) foi um importante filósofo grego. Um dos pensadores
com maior influência na cultura ocidental. Foi discípulo do filósofo Platão. Elaborou
um sistema filosófico no qual abordou e pensou sobre praticamente todos os assuntos
existentes, como a geometria, física, metafísica, botânica, zoologia, astronomia,
medicina, psicologia, ética, drama, poesia, retórica, matemática e principalmente
lógica.

Aristóteles nasceu na antiga cidade de Estágira, na Macedônia, Grécia, no ano de 384


a.C. Filho de Nicômaco, médico do rei Amintas III, recebeu sólida formação em Ciências
Naturais. Com 17 anos partiu para Atenas, foi estudar na "Academia de Platão".
Aristóteles estudou e questionou violentamente com seu professor. Eram constantes
as brigas entre mestre e discípulo, mas se adoravam mutuamente. Aristóteles se
tornou o discípulo predileto do mestre. "Minha Academia se compõe de duas partes: o
corpo dos alunos e o cérebro de Aristóteles", afirmava Platão.
São compostas do Trivium (lógica, gramática e retórica) e do Quadrivium (aritmética,
música, geometria e astronomia). Tal conceito fora colocado em oposição às chamadas
Artes Mechanicae (artes mecânicas) consideradas próprias aos servos ou escravos. O
quadrivium é etimologicamente o cruzamento de quatro ramos ou caminhos. E, está
voltado para o estudo da matéria, por meio do domínio das seguintes disciplinas:
aritmética (a teoria dos números), em música (a aplicação da teoria do número), em
geometria (a teoria do espaço) e, em astronomia (a aplicação da teoria do espaço). A
matéria teria como primaz característica o número e a extensão, temas analisados
particularmente pela aritmética e pela música bem como pela geometria e astronomia.
Ainda no âmbito do quadrivium a música é entendida como o estudo dos princípios
musicais (educação musical) tais como a harmonia, não podendo ser confundida com a
música instrumental aplicada (que é uma das sete belas-artes). Tais artes ditas como
"da quantidade" visa prover meios e métodos para o estudo da matéria, sujeitos a
aprimoramento no âmbito das disciplinas chamadas de superiores.

De acordo com os postulados da educação clássica e medieval, assim como a


linguagem é normalizada pelas artes da linguagem, o intelecto é aperfeiçoado pelas
então chamadas cinco virtudes intelectuais, sendo duas práticas e três teóricas, a saber:
compreensão, ciência, sabedoria, prudência e arte. A compreensão é o captar intuitivo
dos princípios primordiais (pensamento lógico e investigação lógica), a ciência é o
conhecimento das causas mais prováveis; a sabedoria é a compreensão das causas
ditas fundamentais; a prudência é o pensamento coerente concernente às ações e, por
fim, a arte é o pensamento aplicado à produção e à capacidade de produzir.
Tradicionalmente, as sete artes liberais englobam, desde a Idade Média, dois grupos
de disciplinas: de um lado, o trivium e do outro, o quadrivium. O trivium concentra o
estudo do texto literário por meio de três ferramentas de linguagem pertinentes à
mente. O quadrivium engloba o ensino por meio de quatro ferramentas relacionadas à
matéria e à quantidade.

Encyclopédie, ou dictionnaire raisonné des sciences, des arts et des métiers foi
uma das primeiras enciclopédias que alguma vez existiram, tendo sido publicada na
França no século XVIII. Os últimos volumes foram publicados em 1772. Esta grande
obra, compreendendo 35 volumes, 71 818 artigos, e 2 885 ilustrações, foi editada por
Jean le Rond d'Alembert e Denis Diderot. D'Alembert deixou o projeto antes do seu
término, sendo os últimos volumes obra de Diderot. Muitas das mais notáveis figuras
do iluminismo francês contribuíram para a obra, incluindo Voltaire, Rousseau, e
Montesquieu. De acordo com Denis Diderot no artigo "Enciclopédie", o objetivo da
obra era "mudar a maneira como as pessoas pensam". Ele e os outros contribuintes
defendiam a secularização da aprendizagem, à distância dos jesuítas. Diderot queria
incorporar todo o conhecimento do mundo para a obra, e esperava que o texto
poderia disseminar todas as informações para as gerações públicas e futuras.
Coordenada por D'Alembert e Diderot, "Encyclopédie" foi elaborada entre 1751 e 1780.
Com base nos ideais iluministas, filósofos pretendiam, através do saber, criar o
"cidadão esclarecido". Nº 12 da série "Os Europeus". No decorrer dos séculos 17 e 18,
os cientistas haviam acumulado conhecimentos que suplantavam tudo o que até então
era considerado saber válido. Descobriram-se as relações do sistema planetário e o
emprego da força hidráulica, novos continentes foram explorados, e ficara provado
que a Terra não era plana. Cada vez mais se impunha o princípio de que o saber, e não
a fé, deveria nortear a busca de respostas às questões da vida. Isso, contudo, também
invalidava em grande parte o modelo explicativo da Igreja Católica. Pois sua definição
da vida repousava, basicamente, numa existência no temor de Deus, com perspectivas
a abundante recompensa no Além. Durante séculos, as Sagradas Escrituras e a
interpretação apostólica forneceram às pessoas um sentido sobrenatural para a
vida. Isso facilitava, para uns, suportar as injustiças terrenas e, para outros, justificá-
las.

Benedetto Croce (1866-1952) foi um historiador, escritor, filósofo e político


italiano. Os seus escritos giram em torno de um largo espectro temático, sobretudo
estético e teoria/filosofia da história. É considerada uma das personalidades mais
importantes da Itália no século XX, tendo uma forte correspondência com o esotérico
fascista Julius Evola. “Como filósofo e crítico, não receio nenhum pensamento, por
radical e destrutivo que pareça; e, como homem, aceito as mais duras provas. E, no
entanto, quando me surpreendo a sonhar, sabeis qual aspiração encontro no fundo de
minha alma? Um convento setecentesco napolitano, com suas celas brancas e seu
claustro, que tem no meio um pátio de laranjeiras e limoeiros, e, fora, o tumulto da
vida faustosa e soberba que em vão vem bater nas suas muralhas."

O conceito grego de Paideia ainda tem grande apelo para os historiadores,


filósofos e educadores contemporâneos, foi o tema do XX Congresso Mundial de
Filosofia organizado pela International Federation of Philosophical Societies em
Boston em 1998, e muitos o têm proposto como uma fórmula válida para a sociedade
de hoje, considerando que ela tem se caracterizado pela fragmentação e
superficialidade da educação e pela perda de referenciais morais sólidos. Como
observou Daise Diniz, "A educação, para nossos antigos filósofos, foi acima de tudo um
exercício para o bem viver em comunidade, uma convivência calcada, sobretudo, na
responsabilidade para com os outros e no respeito mútuo, que instaura a harmonia e
preserva a dignidade entre os seres. A razão humana, no que tinha de mais sublime,
era enfocada no ato de educar. [...] A questão que fica para nós é como estamos
lidando com essa herança grega, num mundo em que se convencionou dissociar o
sucesso do desenvolvimento do caráter”. [...]

O ato de educar foi barbarizado, barbarizado pela apatia, pelo politicamente correto e
pelas falácias produzidas pela mídia. Nesse sentido é que o ato de educar torna-se um
tema vivo, por necessitar de constante reflexão. A reflexão sobre que seres e que
sociedade desejamos para nossa geração e para as gerações futuras. Essa era a
questão da Paideia grega, uma vez que, na Grécia Antiga, educava-se para a vida em
comunidade, em todas as suas nuanças. É preciso indagar se nossas práticas
educativas têm ajudado para nos tornarmos seres melhores, posto que o ato de
educar pode ser o motor da construção de sujeitos éticos dotados de
responsabilidade, solidariedade e de caráter para dar novos rumos à história humana".

Platão pensava que "a essência de toda a verdadeira educação ou Paideia é a


que dá ao homem o desejo e a ânsia de se tornar um cidadão perfeito e o ensina a
mandar e a obedecer, tendo a justiça como fundamento". Aristófanes disse mais ou
menos o mesmo, declarando em As Nuvens que o objetivo da educação não era
simplesmente adquirir o domínio sobre as matérias ministradas, mas produzir
igualmente a excelência moral, enlaçando as potencialidades mentais e físicas em um
caráter bem formado, de tal maneira que o homem pudesse ser um melhor cidadão.

Como interpretou modernamente Werner Jaeger, um dos principais estudiosos do


tema, os gregos deram o nome de Paideia a "todas as formas e criações espirituais e
ao tesouro completo da sua tradição, tal como nós o designamos por Bildung ou pela
palavra latina, cultura". Daí que, para traduzir o termo Paideia "não se possa evitar o
emprego de expressões modernas como civilização, tradição, literatura, ou educação;
nenhuma delas coincidindo, porém, com o que os gregos entendiam por paideia. Cada
um daqueles termos se limita a exprimir um aspecto daquele conceito global. Para
abranger o campo total do conceito grego, teríamos de empregá-los todos de uma só
vez". Segundo Marrou, na sua abrangência, o conceito de Paideia não designa
unicamente a técnica própria para, desde cedo, preparar a criança para a vida adulta.
A ampliação do conceito fez com que ele passasse também a designar o resultado do
processo educativo que se prolonga por toda vida, muito para além dos anos
escolares. A paideia, vem por isso a significar "cultura entendida no sentido perfectivo
que a palavra tem hoje entre nós: o estado de um espírito plenamente desenvolvido,
tendo desabrochado todas as suas virtualidades, o homem tornado verdadeiramente
homem".

[10] Oswald Arnold Gottfried Spengler (1880-1936) foi um historiador e filósofo


alemão, cuja obra intitulada "O Declínio do Ocidente” (1918) representou um marco
para os debates historiográficos, filosóficos e políticos neoconservadores da
intelectualidade europeia durante do século XIX. Seu livro foi um sucesso entre os
intelectuais em todo o mundo, uma vez que previu a desintegração da civilização
europeia e norte-americana depois de uma “idade de cesarismo” violento,
argumentando por analogias detalhadas com outras civilizações.

Ele aprofundou o pessimismo Pós-Primeira Guerra Mundial na Europa. O filósofo


alemão Kant Ernst Cassirer explicou que, no final dessa época, muitos títulos de
Spengler foram o suficiente para inflamar a imaginação: "Neste momento muitos, se
não a maioria de nós, se deu conta de que havia algo de podre no estado de nossa
civilização ocidental altamente valorizada”. O livro de Spengler expressa de uma forma
nítida e incisiva esta inquietação geral.

Northrop Frye argumenta que, embora todos os elementos da tese de Spengler


tenham sido refutados uma dúzia de vezes, é "um dos grandes poemas românticos do
mundo" e que suas ideias principais são "tão parte de nossa perspectiva mental hoje
como o elétron ou o dinossauro, e nesse sentido somos todos Spenglerianos". As
previsões pessimistas de Spengler sobre o inevitável declínio do Ocidente inspirou
intelectuais do Terceiro Mundo, desde a China, Coréia até o Chile, ansiosos para
identificarem a queda do imperialismo ocidental. Na Grã-Bretanha e Estados Unidos,
no entanto, o pessimismo de Spengler foi posteriormente anulada pelo otimismo de
Arnold J. Toynbee, em Londres, que escreveu a história do mundo na década de 1940,
com uma maior ênfase na religião.
Multiverso é um termo usado para descrever um hipotético grupo de todos os
universos possíveis.

É geralmente usado na ficção científica, embora também como possível extrapolação


de algumas teorias científicas, para descrever um grupo de universos que estão
relacionados, os denominados universos paralelos. O conceito de Multiverso tem suas
raízes em extrapolações até o momento não científico da moderna Cosmologia e na
Teoria Quântica, e engloba também várias ideias oriundas da Teoria da Relatividade de
modo a configurar um cenário em que pode ser possível a existência de inúmeros
Universos onde, em escala global, todas as probabilidades e combinações dessas
ocorram em algum dos universos.

Simplesmente há espaço suficiente para acoplar outros universos numa estrutura


dimensional maior: o chamado Multiverso. Os Universos seriam, em uma analogia,
semelhantes a bolhas de sabão flutuando num espaço maior capaz de abrigá-las.
Alguns seriam até mesmo interconectados entre si por buracos negros ou de buracos
de minhoca. Em termos de interpretações da Mecânica Quântica, que, ao contrário da
Mecânica Quântica em si, não são cientificamente estabelecidas, a Interpretação de
Vários Mundos fornece uma visão que implica um multiverso. Nessa visão, toda vez
que uma decisão quântica tem de ser tomada - em termos técnicos, toda vez que há
uma redução da função de onde de um estado emaranhado - dois ou mais universos
independentes e isolados surgem, um para cada opção quântica possível. Vivemos no
universo no qual as decisões quânticas adequadas levam à nossa existência.

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