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1ª parte: Brasão
O dos Castelos
A Europa jaz, posta nos cotovelos:
De Oriente a Ocidente jaz, fitando,
E toldam-lhe românticos cabelos
Olhos gregos, lembrando.
Sistematização:
-Este primeiro poema refere-se ao “Campo dos Castelos”, terra onde nasceram os
castelos, uma introdução geral, que fala sobre o território Português enquanto país.
Sistematização:
O poeta faz uma série de afirmações paradoxais – “Os deuses vendem quando dão” -,
ou baseadas em jogos de palavras – “Baste a quem basta o que lhe basta” – com um
único objetivo: mostrar que para se atingir a grandeza, para se conquistar a glória é
indispensável estar disposto a sofrer – “Compra-se a glória com a desgraça”.
-Qual será, pois, o destino do Homem, mais particularmente o do Homem português?
O mesmo de Cristo: tal como Ele, os portugueses só ascenderão a um plano superior,
transcendendo-se, superando as limitações da própria vida, por natureza efémera – “A
vida é breve, a alma é vasta”.
-Estão, então, traçadas as potencialidades da alma portuguesa, uma alma que se
afirma “vasta”, grande – será esta grandeza de alma que presidirá todos os heróis de
Mensagem. Se se descodificar o título do poema, “as quinas” correspondem às cinco
chagas de Cristo, símbolo do sofrimento e morte redentores da humanidade.
-Por conseguinte, as quinas são, desde logo, a expressão de que só o sacrifício conduz à
redenção e à glória, projetando a missão de Portugal para um plano de espiritualidade.
Ulisses
Sistematização:
-Pessoa remonta à figura mítica de Ulisses para explicar a fundação de Portugal.
-Associadas à sua fundação, não está apenas o real, o factual histórico, mas igualmente
o mítico, dificilmente explicável – “O mito é o nada que é tudo”. Ulisses, “sem existir”,
porque é mito, “nos bastou”, e “por não ter vindo”, porque não é real “nos criou, ou
seja, foi essencial para sermos hoje o povo que somos.
-Ulisses é figura lendária do navegador errante, cujo espírito aventureiro o levou a
enfrentar o mar durante dez longos anos, vivendo e ultrapassando os seus inúmeros e
difíceis obstáculos, até, finalmente, aportar na sua ilha natal, Ítaca. Ulisses antecipa,
assim, o destino de um Portugal voltado para a aventura marítima, celebrada na nossa
história.
-Embora não existindo, Ulisses aparece associado ao nascimento de Portugal, mais
propriamente à cidade de Lisboa, o que evidencia, desde logo, a missão espiritual de
Mensagem. Ele representa o mito que, juntamente com a história, dará vida a Portugal.
-Ele é o mito que fecunda a realidade, dando sentido à vida – “A lenda se escorre a
entrar na realidade/E a fecundá-la decorre”.
• A terceira estrofe, iniciada pelo advérbio adjunto de modo “Assim”, sintetiza a tese
inicial: com efeito, na terra - “Em baixo” - a vida real e objetiva - “metade/De nada” -
apaga-se para que o mito se engrandeça e eternize.
• Conclusão: Ulisses não é nada, porque é mito, explica o destino marítimo dos
portugueses, que é tudo. É irrelevante que os heróis fundadores tenham ou não tido
existência real, o que importa é que todos tenham funcionado com a força do mito
que, não existindo, é tudo.
Viriato
Se a alma que sente e faz conhece
Só porque lembra o que esqueceu,
Vivemos, raça, porque existiremos
Memória em nós do instinto teu.
Sistematização:
-Viriato, figura mítica da história de Portugal, foi um chefe militar da tribo dos
Lusitanos, no séc. II a.C. que congregou sobre o seu poder grandes territórios no centro
da Península Ibérica, resistindo com imenso fulgor aos invasores Romanos.
2ª Estrofe - Nesta estrofe reafirma-se o que foi dito na primeira, Viriato vive sempre,
porque é um mito, uma memória Histórica. Viriato influência decisivamente o ímpeto
da nação que nasce, que existe ainda antes de ter território, em conceito de liberdade.
Isso foi decisivo para o futuro de Portugal - "Assim se Portugal formou".
3ª Estrofe - Fernando Pessoa usa aqui a metáfora da manhã para comparar o mito da
nobreza de Viriato. Diz-nos que o seu "ser" (o seu mito) é como a manhã para o dia.
A "fria Luz" (o mito), quando "precede a madrugada" (o novo dia), não é ainda nada,
mas apenas um começo, o nada (o mito) é o tudo (o dia), mas só em potência, ainda
sem acontecer.
Num "nada confuso", refere-se ao símbolo ser difuso e inútil por si só, tem de achar
uma utilização um momento ideal de fecundar a realidade.
O conde D. Henrique
Todo o começo é involuntário.
Deus é o agente.
O herói a si assiste, vário
E inconsciente.
Ergueste-a, e fez-se.
Fernando Pessoa, in Mensagem
Sistematização:
-D. Henrique é um cavaleiro da nobreza francesa, oriundo da Borgonha, que veio
ajudar o monarca espanhol D. Afonso VI de Leão e Castela no combate contra os
mouros que ocupavam o sul da Península Ibérica.
-Como recompensa pelo serviço militar prestado, D. Afonso VI concedeu-lhe a mão de
sua filha D. Teresa e o governo do Condado Portucalense, no norte da Península. Desta
união, nascerá Afonso Henrique, o primeiro rei de Portugal.
-Por isso, o poeta abre o poema com “Todo o começo é involuntário”, porque o conde
D. Henrique, na altura, nada teve ver com a nova nação que viria a nascer, Portugal.
-Trata-se, pois, de um instrumento da vontade divina, totalmente à mercê de Deus que
o chama através de uma espada, o grande emblema dos cruzados cristãos ao serviço
de Deus.
-E que fará o cavaleiro com “esta espada”? Só lhe resta erguê-la num ato de coragem e
cumprir o serviço para o qual foi chamado - “fazer” Portugal. Está, assim, Portugal na
estreia da providência divina.
-Com este poema, Fernando Pessoa tenta transmitir que as mudanças ocorrem sem a
vontade do herói, neste caso D. Henrique. Desta forma, D. Henrique é apenas um meio
para que seja possível atingir um fim maior, o nascimento de Portugal.
D. Tareja
Sistematização:
-A primeira quadra do poema diz-nos que cada nação é um “mundo só”, que todas
“são mistérios”. Isto é, o mistério é o destino que espera ser cumprido no futuro e que
por isso se vai necessariamente revelar. A “mãe de reis e avó de impérios” é o começo
do revelar desse “mistério”. Cumpre-se nela o mistério no nascimento do nosso
primeiro rei.
-Na segunda quadra indica-se que D. Teresa amamentou com “seio augusto” - D. Teresa
era filha do rei de Leão e Castela D. Afonso. A “bruta e natural certeza”, refere-se aos
conflitos entre D. Afonso Henriques e sua mãe. D. Afonso Henriques não desistiu
mesmo com a probabilidade do seu fracasso.
-A terceira quadra parece ser a mais simbólica e, por isso, a mais difícil de interpretar.
Fernando Pessoa, nas duas primeiras linhas, refere-se aos atuais governantes
-“O teu menino envelheceu” poderá significar que a memória e a vontade de luta e de
orgulho português que se vão desvanecendo.
-A última quadra confirma a terceira: “todo o vivo é eterno infante”, ou seja: a
esperança nunca deve ser perdida. Fernando Pessoa pede a D. Teresa, ou mesmo ao
infinito, que de novo se crie esse português ambicioso e original, movido pela vontade
e pelo destino de ser maior do que pode ser.
D. Afonso Henriques
Sistematização:
-D. Afonso Henriques é apelidado pelo poeta de “Pai”.
-Ele é, simultaneamente, “Pai” e “cavaleiro”: pai, porque fundador da nacionalidade e,
por isso, pai dos portugueses; cavaleiro, porque, com a “espada”, defendeu e
conquistou o território português, mas também se assumiu como defensor da fé.
-Então, o poeta pede-lhe que, nos dias de hoje, ele sirva de exemplo aos portugueses e
que a sua força inspire a uma ação que vença os “novos infiéis”, ou seja, todos aqueles
que se opõem à missão espiritual e providencial de Portugal que, para o poeta, é uma
certeza inabalável.
-Pessoa diz que o Destino que D. Sebastião desejava ser o seu - o de líder de cruzada -
pode ser passado a outro (“Minha loucura, outros que me a tomem”). Fala, mais do
que esse Destino em específico, da loucura que é desejar algo maior.
Essa loucura é infinita e pode ser de qualquer um que a deseje. Sem esse desejo em
alcançar algo maior do que o próprio homem, o que somos nós afinal, pergunta o
poeta. Em seguida responde-nos: nada “mais que a besta sadia, / Cadáver adiado que
procria”.
Espada:
• Confere luminosidade (tudo à sua volta se torna claro);
• Defesa dos valores (morais, religiosos, nacionais);
• Símbolo de cavalaria união mística entre o cavaleiro e a espada;
• Valor profético;
• Símbolo: da Guerra Santa -> da guerra interior; do verbo; da conquista do
conhecimento; da libertação dos desejos; da espiritualidade; da vontade divina.
D. Dinis
Sistematização:
-Pessoa evoca a figura histórica de D. Dinis, monarca português da 1ª dinastia, filho de
Afonso III. A sua prioridade enquanto rei foi administrar e organizar o Reino português
e não guerrear, tendo assinado a paz com Castela em 1297. Foram-lhes atribuídos os
cognomes “O Lavrador” e “O Trovador”, tanto pelo impulso que deu ao
desenvolvimento da agricultura, como pelo apreço manifestado pelo culto da arte de
fazer poesia e pela elevação do português como língua oficial.
-Os dois primeiros versos do poema remetem, de imediato, para essa dupla faceta – D.
Dinis “escreve um seu Cantar de Amigo” e é “plantador de naus a haver”, sendo estas
construídas com o produto dos pinhais por ele mandados semear.
-D. Dinis representa, pois, aquele para quem a poesia terá, entre outros, como objetivo
cantar o império português e aquele que lançará a semente de futuros impérios.
-Nos restantes versos, destaca-se toa uma serie de vocábulos que exprimem sons,
vozes, rumores, como se de uma profecia se tratasse (“marulho obscuro”; “fala dos
pinhais”; “o rumor dos pinhais”). Todos eles profetizam a grande epopeia marítima
portuguesa dos séculos XV e XVI. D. Dinis é, então, o profeta que sabe intuir, de forma
sibilina (enigmática), o grande império das descobertas.
-Assim, o que se preconiza é o sonho fundador que permita a construção de um tempo
futuro.
D. João, o primeiro
O homem e a hora são um só
Quando Deus faz e a história é feita.
O mais é carne, cujo pó
A terra espreita.
Sistematização:
-D. João I, primeiro rei da 2ª dinastia de Avis, tendo chegado a ser rei sem o esperar e
com a marca da resistência face aos castelhanos, adquire a “exemplaridade” que
caracteriza os heróis de Mensagem.
-Com o uso da segunda pessoa, o sujeito poético dirige-se diretamente a D. João I, seu
interlocutor, estabelecendo com ele uma relação de proximidade e cumplicidade.
-Foi um instrumento da vontade de Deus.
D. Filipa de Lencastre
Sistematização:
-"Que enigma havia em teu seio que só génios concebia"- referência à chamada "ínclita
geração" dos filhos de D. Filipa e D. João I.
-"Volve a nós teu rosto sério"- vira o teu rosto (sisudo...) e olha para nós; lembra-te de
Portugal; reza por nós!
-A referência deve ser interpretada como "Princesa mística" porque foi fadada por
Deus para ser mãe dos príncipes da ínclita geração e muito particularmente do Infante
D.Henrique; ou "Princesa da grandeza (futura) de Portugal" (o Graal era suposto trazer
felicidade à Terra).
D. Duarte, Rei de Portugal
Meu dever fez-me, como Deus ao mundo.
A regra de ser Rei almou meu ser,
Em dia e letra escrupuloso e fundo.
Sistematização:
-Só se sabe que este poema se refere a D. Duarte pelo título (assim como em todos
demais poemas de “As Quinas”). Sabe-se que é ele o protagonista do poema, pois,
historicamente, é conhecido o sofrimento de D. Duarte por não poder pagar o penhor
da promessa de Ceuta, cuja garantia era D. Fernando, seu irmão mais novo.
-D. Duarte foi criado para ser Rei e assumir o poder, como o mundo foi criado por Deus.
No primeiro verso compara-se a Deus no cumprimento de seu dever perante o mundo.
-No verso seguinte (“A regra de ser Rei, almou meu ser,”), refere-se ao dever de
governar, que deu um sentido à sua vida, “encheu” os seus dias, após as desgraças do
seu reinado. Ser rei preenchia o vazio que existia em si. A palavra “almou” significa
animar, dar movimento ao que é vivo.
-O verso subsequente (“Em dia e letra escrupuloso e fundo”), rompe com o ritmo
harmonioso e solene dos versos heroicos anteriores. Ele dedicou-se por inteiro à
governação e à escrita, de uma forma empenhada e disciplinada.
-Na segunda estrofe, vemos que D. Duarte viveu apoiado na sua angústia, cumprindo
contra todas as adversidades, o seu dever, não inutilmente, porque conseguiu cumprir
o seu dever.
-D. Duarte viveu o fim do seu curto reinado (apenas 5 anos) no remorso das suas
opções. Por esse motivo, não tinha prazer na vida, dedicando-se inteiramente ao dever
de governação e, por isso, o seu destino não foi em vão, pois cumpriu aquilo para o
qual estava predestinado: ser rei.
-O poema que, no seu primeiro verso, é iniciado pelo sujeito “Meu dever”, termina
com a forma verbal “cumpri”, que marca, com toda a ênfase e arte, a tristeza do agir
pela vontade de cumprir o dever sem prazer, sem recompensa afetiva.
Sistematização:
-Este poema é um auto-retrato de D. Fernando, que é retratado como instrumento da
vontade de Deus. (vv.1-3; vv.6-7).
-O gládio (v.1) simboliza o poder com que Deus investe no herói, para que ele possa
fazer cumprir o destino de Portugal.
-Em consequência da ação divina, o "eu" é consumido por uma "febre de Além" (v.8).
Essa febre participa, como o gesto a que conduz, da predestinação divina do herói. É
algo que lhe é dado, que faz parte da sua própria condição, como ser depositário de
um destino que se cumpre através dele, como acontece com D. Fernando.
Sistematização:
-D. Pedro, considerado o primeiro grande diplomata português, era um dos filhos de D.
João I, Mestre de Avis, e de D.ª Filipa de Lencastre.
-O poema pode ser dividido em dois momentos. A primeira estrofe e os dois primeiros
versos da segunda constituem uma aproximação à vida de D. Pedro.
-Na segunda estrofe do poema, D. Pedro afirma que Deus é responsável por tudo, mas
não pelo destino dos homens, em concreto pelo dele. Segundo este, o seu destino foi
protegido pelo seu trabalho e dedicação, e não pela sorte. Isto significa que o herói não
acredita na sorte como elemento fundamental no seu destino.
Sistematização:
-D. João de Portugal foi um infante de Portugal da dinastia de Avis, filho do rei
D. João I e da sua mulher, a rainha Filipa de Lencastre. Foi o sétimo filho dos seus pais.
-O poema organiza-se em dois momentos, ocupando cada um uma estrofe. Esta
delimitação é facilmente justificada pela conjunção subordinativa causal que introduz a
segunda estrofe, segundo momento.
-Numa primeira parte, o herói mítico é o exemplo do homem que se anula para que os
outros possam brilhar: “Não fui alguém/ Entre tão grandes almas minhas pares”.
Reconhece insuficiente a sua linhagem: “Inutilmente eleita”, e a sua falta de
experiência: “Virgemmente parada”.
-No segundo momento justifica a sua “abdicação” com a identidade do Ser Português,
da qual, deduz-se, não é o melhor exemplo. Recupera-se a Possessio Maris (posse do
mar: 2ª parte), um poder resultante do nosso querer.
Sistematização:
-Este é o primeiro dos quatro poemas dedicados a D. Sebastião. Caracterizando-se como um
“louco” porque “quis grandeza”, D. Sebastião admite com orgulho essa loucura, símbolo do
inspirado, de todo aquele que está para além do comum da sociedade e transmite a ideia de
que nem a morte a extinguiu ou poderá extinguir.
-Na obstinação de ser o líder de uma cruzada no Norte da África, D. Sebastião foi mal
preparado para a batalha de Alcácer-Quibir, que provou ser desastrosa pelas mortes
que provocou e pela subsequente perda da independência de Portugal face à Espanha.
-Foi considerado louco, assumindo a sua loucura no intento de querer mais, por
procurar além da sorte, pelo facto de a sua vontade ter sido maior que as suas
limitações. Portanto, sucumbiu no areal, onde ficou o seu corpo, mas não a sua
memória.
Nun' Álvares Pereira
Esperança consumada,
S. Portugal em ser,
Ergue a luz da tua espada
Para a estrada se ver!
Fernando Pessoa, in Mensagem
Sistematização:
-Pessoa começa o poema com uma interrogação retórica acerca daquilo de que é feito
Nuno Álvares Pereira.
-Os restantes versos da primeira estrofe são como respostas à questão inicial. Nesta
estrofe, Fernando Pessoa chega a afirmar que o valor de Nuno Álvares Pereira é maior
que o do rei Artur, já que o primeiro passou de realidade a mito (foi beatificado), este
último é apenas um mito que muitos afirmam ter sido realidade.
-Para além disso, assim como Rei Artur foi predestinado para empunhar a Excalibur,
também Nuno Álvares Pereira o foi para empenhar a sua espada, que o guiou na
batalha, a ungida.
-Os dois últimos versos do poema, podem ser vistos como um conselho dado aos
portugueses: se querem ser vitoriosos devem seguir o exemplo de Nuno Álvares
Pereira, usando a exclamação final como um pedido para Nuno Álvares nos indicar o
caminho a seguir para o império que há-de vir.
A cabeça de Grifo: O Infante D. Henrique
Sistematização:
-O grifo, figura mitológica, era um animal com cabeça de águia e garras de leão que
protegia grandes tesouros. A palavra também tem o duplo sentido de enigma («curvo;
encurvado»).
-Encontramos o grifo como timbre no brasão do Infante D. Henrique, em quem Pessoa
ter-se-á inspirado para construir o “seu brasão” nacional.
-Como cabeça do grifo (a águia), Pessoa coloca o Infante D. Henrique. Representa ele a
visão de águia, precisa e que vê à distância.
-D. Henrique, um dos eleitos da Ínclita geração, O Navegador, embora pouco ou nada
tenha navegado, foi o grande ideólogo dos Descobrimentos Portugueses, época áurea,
de grande riqueza para o país.
-Este poema, com uma única estrofe, representa o trono como certeza e autoridade.
-O infante assume uma atitude estática e imperial, característica do poder (“Em seu
trono”). É caracterizado como um homem que olha para o infinito, para o horizonte,
em busca de mais e mais conhecimento (“entre o brilho das esferas”), que procura e
tem como meio para esse objetivo a solidão, solidão essa que propicia a idealização de
todo um sonho para uma futura realização de grandes feitos (“com seu manto de
solidão”).
-Senhor do mar e do mundo inteiro (“Tem aos pés”), conhece as notas rotas
descobertas (“o mar novo”) e experienciou um passado de ignorância e temor do
desconhecido (“e as mortas eras”). “É o único capaz de idealizar tão grandiosidade por
ser o maior possuidor do conhecimento.
Uma Asa do Grifo: D. João, o segundo
Braços cruzados, fita além do mar.
Parece em promontório uma alta serra —
O limite da terra a dominar
O mar que possa haver além da terra.
Sistematização:
-D. João é o contemplativo visionário que aceita o desafio (“fita”) de ir além do já
conquistado (“além do mar”), o sonhador que procura o horizonte e a expansão do
limite (“O limite da Terra a dominar; O mar que possa haver além da Terra”).
-Se o Infante era o senhor dos mares, D. João era denominado como o futuro rei dos
mares, aquele que iria pôr gente nova em novos mares sob novos céus (“Enche de
estar presente o mar e o céu”), mas que iriam temer (“parece temer o mundo vário”).
-Apesar do temor, ele ansiava a quebra dos segredos do mar e da vontade do mundo, o
desvendar dos mistérios (“Que ele abra os braços e lhe rasgue o céu”).
A outra Asa do Grifo: Afonso de Albuquerque
Sistematização:
-Fernando Pessoa caracteriza a outra asa do grifo como a que ergue a visão do infante,
após uma preparação para a ação de D. João II, como a que age e concretiza todos os
sonhos.
-Define então a figura de Afonso de Albuquerque como um herói pelas armas (“De pé
sobre os países conquistados”), no entanto, despe-lhe a pele de herói e guerreiro para
desvendá-lo como homem, desvendando-o então como alguém cansado (“Desde os
olhos cansados”) da injustiça e do destino (“a sorte”) que o mundo lhe reserva, o
esquecimento. O esquecimento era já nos Lusíadas revelado como o destino dos
Portugueses, mesmo apesar da realização de grandes feitos.
-Este, caracterizado como um homem austero, revelava uma opção clara pelo poder
espiritual, moral e dos valores. Apresentava deste modo uma fidelidade total ao rei,
não desejando mais quando poderia fazê-lo (vv.5-6), pois o sucesso pesava mais sobre
os ombros do que a conquista dos povos, visto que tinha trazido a inveja na corte
(vv.6-8).
-Com suas bases de poder de ação, criou três impérios, que para Fernando Pessoa são
domínios, o material, o intelectual e o espiritual, no entanto, criou-os seguindo o seu
destino (“Três impérios do chão lhe a sorte apanha”) de cumprir Portugal (“Criou-os
como quem desdenha”).
-Afonso de Albuquerque, apesar de criador dos três impérios, definia o poder
executado com bases de justiça, lealdade, coragem e respeito mais valioso que o poder
executado violentamente, assumindo assim a atitude um verdadeiro herói, indiferente
ao poder.
Infante
Deus quer, o homem sonha, a obra nasce.
Deus quis que a terra fosse toda uma,
Que o mar unisse, já não separasse.
Sagrou-te, e foste desvendando a espuma,
Sistematização:
-No poema que abre a segunda parte de Mensagem, Pessoa recupera a figura do
infante D. Henrique, um herói, um dos eleitos por Deus que foi protagonista da
vontade divina – “Deus quer” – e que cumpriu a missão para a qual foi designado – “a
obra nasce”.
-É então reforçada, neste poema, a ideia do herói mítico, aquele que Deus manipula
quase como um títere, o que obedece às suas ordens e cumpre os seus desígnios. Essa
obra foi grandiosa: a descoberta da Terra na sua totalidade e verdadeira forma, através
da posse do mar – “E viu-se a Terra inteira, de repente, /Surgir, redonda, do azul
profundo”.
Horizonte
Ó mar anterior a nós, teus medos
Tinham coral e praias e arvoredos.
Desvendadas a noite e a cerração,
As tormentas passadas e o mistério,
Abria em flor o Longe, e o Sul sidéreo
Splendia sobre as naus da iniciação.
Sistematização:
-Neste poema, Pessoa sugere a concretização do sonho de desvendar o mistério do
mar.
-Para Pessoa, o desvendar do mar era uma aventura iniciática, por isso, este poema é,
sobretudo, compreendido através dos símbolos que nele são apresentados.
-Assim, este poema é uma “exaltação” ao desvendar dos mistérios do mar pelos
portugueses, nos descobrimentos, mas também uma chamada de atenção para o facto
de o novo mistério a desvendar ser o da existência – Quinto Império.
Padrão
Sistematização:
-Como se tem podido observar, a posse do mar é uma realização que não se limita a
um sonho abstrato. É algo que, pouco a pouco, vai-se concretizando. Um padrão
simboliza apenas uma pequena parte dessa realização, apenas o que já se conseguiu
fazer, havendo ainda muito mais a realizar.
-Para Pessoa, defensor do Quinto Império, o “mar com fim” não basta. Portugal tem de
lutar pelo “mar sem fim”: “Que o mar com fim será grego ou romano:/O mar sem fim é
português”).
-O “mar sem fim” é aquele mar através do qual o poeta navegará até chegar a um
ponto divino (4ª estrofe).
-O poeta pretende, então, transmitir-nos que, já tendo conquistado o mar terreno, a
missão de Portugal é desbravar os segredos do mar que nos permitirá alcançar o
Quinto Império-espiritual.
O Mostrengo
Sistematização:
-À semelhança do Adamastor, em “Os Lusíadas”, o Mostrengo simboliza o medo que os
marinheiros tiveram de vencer.
-O Mostrengo é a representação das dificuldades e obstáculos que têm de se vencer
para se conquistar o “tesouro”.
“O Mostrengo” é uma alegoria do medo, que tenta impedir os portugueses de
completarem o seu destino. Ao contrário do que acontece com o Adamastor, é
domado, mas não destruído, permanece como força oculta, misteriosa (voltamos a
encontrá-lo no penúltimo poema da obra – Antemanhã), o que significa que Portugal
ainda tem muito que enfrentar, pelo que a sua missão não está, de todo, terminada.
Sistematização:
-Bartolomeu Dias descobriu o cabo da Boa Esperança, contribuindo, desta forma, para
abrir as portas do Oriente.
-Depois de tal descoberta, era quase certo que lhe seria atribuído um papel de
destaque na descoberta da Índia, o que não se verificou. Apenas mais tarde, numa
expedição comandada por Pedro Álvares Cabral, é que foi nomeado para o
acompanhar ao Brasil, sendo que, na viagem de volta, perdeu a vida quando a sua nau
naufragou.
-Bartolomeu Dias, através do seu feito, simboliza a função da Esperança e, de certo
modo, representa o sentido do ditado popular “Quem tem esperança sempre alcança”.
No entanto, a esperança acabou por ceder o lugar à certeza.
Os Colombos
Outros haverão de ter
O que houvermos de perder.
Outros poderão achar
O que, no nosso encontrar,
Foi achado, ou não achado,
Segundo o destino dado.
Sistematização:
-Cristóvão Colombo foi o primeiro explorador do Novo Mundo. Durante anos apoiou o
rei de Portugal, tendo, no entanto, depois, passado a estar do lado espanhol, quando
os reis lhe forneceram as condições que necessitava para a realização das suas futuras
descobertas. Daí o significado da primeira estrofe.
Sistematização:
-Este poema de Fernando Pessoa descreve a descoberta das terras do ocidente, mais
concretamente a descoberta do Brasil.
-Na segunda estrofe sugere o ato da descoberta. “A mão que ao Ocidente o véu
rasgou”, isto é, o ocidente foi “destapado”, passou de desconhecido a conhecido.
Nesta estrofe Fernando Pessoa volta a identificar o corpo e a alma deste feito, sendo
desta vez a Ciência a alma e a Ousadia o corpo. Assim, a ciência, ou seja, todo o saber e
o conhecimento dos navegadores portugueses simbolizam a alma da descoberta. Por
outro lado, a Ousadia, a bravura e determinação, dos portugueses simbolizam o corpo
da mesma.
-Na Terceira e última estrofe, o poeta afirma “Fosse Acaso, ou Vontade, ou Temporal
(…) Foi Deus a alma e o corpo Portugal”. Isto é, quer esta descoberta se tenho dado
por puro acaso, por vontade e determinação dos portugueses, ou por um temporal que
tenha desviado os navios em direção àquelas terras, Deus foi a alma, a vontade da
realização desta descoberta. E os portugueses foram os heróis, os destemidos que a
realizaram, e que deste modo descobriram o Brasil.
Fernão de Magalhães
No vale clareia uma fogueira.
Uma dança sacode a terra inteira.
E sombras desformes e descompostas
Em clarões negros do vale vão
Subitamente pelas encostas,
Indo perder-se na escuridão.
Sistematização:
-O poema fala sobre os Titãs, que celebram, por meio de uma dança fantástica, a
morte do navegador Fernão de Magalhães, que realizou a viagem de circum-navegação
da terra.
-Na 3ª estrofe, os versos 13-16 simbolizam a vontade de Fernão de Magalhães, que
mesmo depois de morrer "guia", a expedição que tinha começado e foi completada
pela sua tripulação, como se ele ainda estivesse a comandar a frota.
-Na última estrofe, Fernando Pessoa conclui com os Titãs, que dançam e festejam
pensando que travaram a expedição.
-Fernão de Magalhães é, assim, símbolo, juntamente com outros heróis já
apresentados, da missão universalista de Portugal.
Ascensão de vasco da Gama
Os Deuses da tormenta e os gigantes da terra
Suspendem de repente o ódio da sua guerra
e pasmam. Pelo vale onde se ascende aos céus
Surge um silêncio, e vai, da névoa ondeando os véus,
Primeiro um movimento e depois um assombro.
Ladeiam-no, ao durar, os medos, ombro a ombro,
E ao longe o rastro ruge em nuvens e clarões.
Sistematização:
-Vasco da Gama simboliza o clímax dos Descobrimentos.
->Pela situação de elevação aos céus num plano superior ao da simples condição
humana - libertando-se do corpo, torna-se alma e imortaliza-se;
->Pelos efeitos provocados por esta situação: o pasmo dos Deuses e dos Gigantes, o
silêncio e assombro da natureza e a admiração dos homens;
->Pelo nome de “Argonauta” dado a Gama, identificando-o com os heróis míticos da
Grécia antiga, que procuravam desvendar o desconhecimento, buscando o inacessível
e o impossível.
->É de salientar que este poema se associa à representação que é conferida a Vasco
da Gama “n’Os Lusíadas” obra em que o herói é também elevado no plano dos
Deuses nomeadamente no episódio “Ilha dos Amores”.
Mar Português
Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!
Sistematização:
-O poeta dirige-se ao mar, um mar responsável pelo sofrimento das mães, dos filhos,
das noivas, de todos aqueles que ousaram cruzar as suas águas com o intuito de o
dominarem - “para que fosses nosso, ó mar!”.
-Terá valido a pena tanto sofrimento? “Tudo vale a pena/Quando a alma não é
pequena” - é mais uma maneira de o poeta afirmar a importância da vontade da alma
humana, vontade sempre insaciável.
A última nau
Sistematização:
-A derrota na batalha de Alcácer-Quibir foi desastrosa para Portugal e fez-nos perder a
independência.
-Este, porém, não é um poema de desespero, mas sim de esperança, e mais do que
isso, de certeza (última estrofe).
-A ideia que o poeta pretende aqui transmitir é a de que o mistério que envolveu a
morte do rei é o grande impulso para o renascimento de Portugal.
Prece
Senhor, a noite veio e a alma é vil.
Tanta foi a tormenta e a vontade!
Restam-nos hoje, no silêncio hostil,
O mar universal e a saudade.
Sistematização:
-Trata-se do último poema da segunda parte de Mensagem, Mar Português, onde são
exaltados os acontecimentos e os heróis das descobertas marítimas portuguesas,
constituindo, também, um prenuncio da linha temática estruturadora da última parte
de Mensagem – o Encoberto.
-O poema é, sem dúvida, um apelo a uma entidade divina e superior – “Senhor” – em
quem o sujeito poético deposita a esperança de um futuro redentor. Se, na primeira
quadra domina um sentimento de desencanto e a disforia se torna notória, no resto do
poema sucede a certeza de que nem tudo é irremediável e de que é possível restaurar
a grandeza perdida, ou, pelo menos, conquistar uma outra grandeza – o poeta acredita
que é possível recuperar o passado grandioso e avançar para um futuro promissor e
positivo.
-Assim, para ele, a esperança ainda sobrevive, a chama da vida ainda não está
completamente extinta, ela apenas dorme debaixo do “frio morto em cinzas”. O que é
preciso, então? Basta que a “mão do vento” a erga, basta apenas um golpe de vontade
e, uma vez levantado “o sopro, a aragem”, o esforço ganhará forma e, de novo, haverá
a certeza de conquistar a “Distância”. Esta distância não tem necessariamente que ser a
do mar, mas será, sobretudo, “nossa”, ou seja, será a condição redentora do
desencanto do povo português.
-O tom das duas quadras é, pois, a de um choro apelo à ação, numa antevisão de um
novo império, o Quinto Império – um império não mais material porque eterno.
3ª parte- O Encoberto
D. Sebastião
'Sperai! Cai no areal e na hora adversa
Que Deus concede aos seus
Para o intervalo em que esteja a alma imersa
Em sonhos que são Deus.
Sistematização:
-Para o rei, a “hora adversa” do presente não é mais do que o “intervalo” necessário
para o início da realização de um grande sonho universal e eterno – “é o que eu me
sonhei que eterno dura” – que ultrapassará a precariedade do momento em que o D.
Sebastião histórico, aquele que desaparecer na batalha de Alcácer Quibir, caiu no areal.
-A derrota, em Alcácer Quibir, assim, apresentada como “um mal necessário” para se
ultrapassar a dimensão material e efémera do império português – “o areal e a morte e
a desventura” – e se começar a construir uma outra grandeza possuidora de uma
dimensão espiritual e eterna, o Quinto Império, inspirado na figura do rei – “É esse que
regressarei”. O rei assume-se como uma espécie de messias, um enviado de Deus –
“Que Deus concede aos seus”; “Se com Deus me guardei?” –, um salvados que
conduzirá o seu povo à glória eterna.
O quinto império
Triste de quem vive em casa,
Contente com o seu lar,
Sem que um sonho, no erguer de asa
Faça até mais rubra a brasa
Da lareira a abandonar!
Sistematização:
-Neste poema, pessoa assume, de forma clara e explicita, o que se já vinha anunciando
ao longo de Mensagem, o futuro redentor de Portugal está indissociavelmente ligado à
construção de um império de características espirituais e eternas, o Quinto Império.
-As primeiras três estrofes constituem uma reflexão sobre a condição humana.
Partindo de afirmações provocatórias e controversas, pretende-se mostrar que a
felicidade torna o Homem acomodado, transformando-o num ser sem sonhos, que
apenas “Vive porque a vida dura” e que nada mais faz durante a sua existência do que
esperar a morte (v.10. A conclusão deste momento reflexivo é a de que ser homem
passa pelo descontentamento que leva à realização de grandes obras.
As ilhas afortunadas
Sistematização:
-Ilhas Afortunadas, este poema remete para o inconsciente; aí só “esperanças
infundadas e vagas” residem: “São ilhas afortunadas, são terras sem ter lugar, onde o
Rei mora esperando, mas se vamos despertando, cala a voz, e há só o mar”. Ou seja, a
esperança nas “ilhas afortunadas”, onde um “rei mora esperando”, “se vamos
despertando”, se acordarmos de as sonhar, “cala a voz, e há só o mar”, cala-se a
esperança e resta o nada que é o sonho. Depois dele acordarmos.
-Pode, assim, concluir-se que o mito de D. Sebastião (que um dia voltará na salvação do
seu povo) e o mito do Rei Arthur não passam de uma ilusão.
-Fernando Pessoa no verso “onde o Rei mora esperando”, faz uma referência das
lendas da Távola Redonda e do Desejado. Supostamente, depois da batalha de
Camlann em que Artur matou Mordred mas foi, ele também, mortalmente ferido, o rei
moribundo foi levado para a Ilha de Avalon (uma “ilha afortunada”) onde, em vez de
morrer, ficou adormecido para um dia voltar numa hora de suprema necessidade para
salvar o seu povo e restaurar o seu reino.”
O Desejado
Sistematização:
1ª estrofe: D. Sebastião é agora apenas uma memória, que anda entre “sombra e
dizeres” e o seu mito estará sempre presente. Basta que, sonhem esse mito, para ele
vir de novo à realidade, o que significa que ele nunca irá morrer.
Pessoa pretende com a frase “Ergue-te do fundo de não-seres2 que o símbolo de D.
Sebastião volte.
2ª estrofe: Pessoa compara o mito de D. Sebastião com o de Sir Galahad, assim como a
nobreza e o carácter das duas personagens. O poeta pede um ato de paz, tal como
aconteceu na descoberta do Santo Graal.
Pessoa que erguer de novo “a alma penitente” do povo a uma nova ideologia, a
Eucaristia Nova, o Sebastianismo, que é aqui retratado como uma religião própria.
3ª estrofe: D. Sebastião é representado outra vez como um cavaleiro, sendo que desta
vez é retratado como um guerreiro que luta para alcançar a paz. O seu “gládio ungido”
traz a mudança tão esperada. Da espada jorra luz que irá iluminar um mundo de
trevas, sem ordem nem conhecimento.
Sistematização:
-Fernando Pessoa inicia o seu poema, questionando retoricamente quem será o
símbolo perfeito para uma nova religião, aquele que substituirá Cristo na cruz. Quando
se refere a uma “aurora ansiosa”, fomenta a ideia que algo quer renascer, como um dia
que se renova.
-O autor acaba por responder a sua pergunta dizendo que é a Rosa, a vida que vai
tomar o lugar “Na cruz morta do mundo”, esta advertência refere-se a uma ordem
maçónica direta a ordem Rosa-Cruz. A Rosa nesta estrofe simboliza a vida, a Cruz
também é um símbolo, representado a morte.
-O símbolo que na primeira estrofe era fecundo, agora também é algo divino. Esse
símbolo que “Traz o dia já visto”, é algo que já se adivinhava. Cruz representa nesta
estrofe o sofrimento que é o destino. A Rosa é Cristo.
O Símbolo fecundo e divino agora também é final, pois é definitivo e traz o império
final, o império espiritual. Nesta estrofe há uma revelação do mistério, o conhecimento
completo.
O Bandarra
Sonhava, anónimo e disperso,
O Império por Deus mesmo visto,
Confuso como universo,
E plebeu de Jesus Cristo.
Sistematização:
-Este poema relaciona-se bastante com o poema “Ilhas Afortunadas” pois Fernando
Pessoa diz-nos em forma de aviso a chegada de D. Sebastião. Aqui não se trata de um
regresso físico, mas espiritual, em Símbolo.
-Por fim, Bandarra não era conhecido pelos seus feitos nem coragem, mas foi o eleito
por Deus para dar a Boa Nova.
António Vieira
Sistematização:
-Neste poema, Fernando Pessoa qualifica António Vieira como o maior orador do seu
tempo, notável estilista da prosa portuguesa como se denota no verso “imperador da
língua portuguesa”.
-Quando Pessoa diz “surge, prenúncio claro do luar, El-rei D. Sebastião” refere-se aos
escritos do Padre António Vieira referente às esperanças de Portugal que um grande rei
conduziria a um futuro Quinto Império Mundo. Baseia-se também nas profecias de
Bandarra que anunciava o regresso do rei D. Sebastião.
Pessoa tem um momento em que afirma “foi-nos um céu também”, ou seja, designa
António Vieira como um céu estrelado dos portugueses, grandioso, trazendo assim,
grandiosidade à Língua Portuguesa.
-No verso, “Mas não, não é luar: é luz do etéreo”, o poeta diz que não é o luar, ou seja,
o final do dia, referindo-se ao Império Material das Índias, mas a luz celeste, o começo
de um novo dia, um Império Espiritual, o Quinto Império.
Só te sentir e te pensar
Meus dias vácuos enche e doura.
Mas quando quererás voltar?
Quando é o Rei? Quando é a Hora?
Sistematização:
->Já a segunda parte é constituída por várias perguntas introduzidas por “Quando” e
dirigidas a uma entidade mítica (Rei, Senhor, Hora, Cristo, Encoberto, Sonho),
invocando a sua vinda rápida, sendo esta a única maneira de materializar os sonhos
centenários e de o poeta se libertar do contingente, do incerto e de alcançar “Novas
Terras” e “Novos Céus”.
Noite
A nau de um d’eles tinha-se perdido
No mar indefinido.
O segundo pediu licença ao Rei
De, na fé e na lei
Da descoberta ir em procura
Do irmão no mar sem fim e a névoa escura.
Sistematização:
Tormenta
Sistematização:
-Na primeira estrofe, o sujeito diz-nos o que reside no "abismo sob o mar que se
ergue" é "Portugal. A essência só pode residir no infinito à espera de ser concretizada.
E a razão dessa concretização é "o desejar poder querer", "inquietação" que "do fundo
nos soergue".
-Na segunda estrofe, não é apenas a inquietação o que move o poder-ser na direção da
realidade. É também "o mistério de que a noite é o fausto". Fausto, uma lenda
medieval alemã, conta a história de um homem que vende a alma eterna ao diabo em
troca de riqueza e conhecimentos terrenos.
-"A noite é o fausto" pode significar que a noite, como o Fausto quer o conhecimento,
não se contenta em estar na escuridão, seja qual for o custo dessa audácia. Seja como
for, no meio da inquietação que se agita, surge "onde o vento ruge", o "o relâmpago,
farol de Deus", "um hausto/Brilha e o mar 'scuro 'struge".
-De maneira formal, o sujeito poético aponta a intervenção divina: a permissão que
não fora dada no poema "Noite", e que agora aparece subentendida. Como se fosse
necessário o temor do dever-ser, para que Deus acorde "dar licença que partamos"
(poema Noite). É uma licença divina, em forma de "hausto" que rompe a noite com a
sua verdade e agita o mar com a corrente da Nova Vida.
Calma
Sistematização:
-Na primeira estrofe, Pessoa sugere que não existe agora uma costa onde aportar, pelo
menos não uma costa física, feita de portos seguros. O poeta desmaterializa, simboliza
e retira tudo menos a essência, para chegar a uma verdade pura.
-Na segunda estrofe, quando fala em “Ilha próxima e remota”, Pessoa refere-se à “Ilha
Afortunada”, onde segundo a lenda vive D. Sebastião, à espera do seu regresso, numa
noite de nevoeiro. Pessoa ironiza sobre quem pensa que essa ilha realmente existe e
pode ser acessível por nau, armada ou frota. Esta “Ilha próxima e remota” é uma ilha
de pensamento, não uma ilha real. É um objetivo espiritual e intelectual e só pode ser
encontrada através da alma.
-Na terceira estrofe, Pessoa continua a ironizar com aqueles que acreditam na Ilha
Afortunada como algo real. O poeta então explica que não existe nenhum “país
afortunado/ Que guarda o Rei desterrado/ Em sua vida encantada” e que só o mito
resiste e não há mais que esperar além disso por mais doloroso e difícil que seja este
vazio.
Antemanhã
Sistematização:
-No que conta a uma análise contextual da primeira estrofe, é possível identificar que:
Fernando pessoa resgata uma figura simbólica para servir de interpelador de quem
procura o Encoberto.
-Foi um relâmpago de Deus que iniciou este "novo dia sem acabar". "Um novo dia"
significa uma nova era e um novo princípio. Neste momento, o mostrengo fala e avisa,
ao contrário das suas ações anteriormente. Aqui, tem uma atitude motivadora, e não
assustadora, criando um caminho limpo e mais fácil, não obstáculos ao mesmo.
Nevoeiro
É a hora!
Fernando Pessoa, in Mensagem
Sistematização:
-Não é só Portugal que é nevoeiro, tudo é nevoeiro – diz-nos o poeta. O mesmo é dizer
que em tudo há mistério e possibilidade de mudança. Se a indefinição é má, enquanto
fonte de todas as mudanças futuras.
-Nesta perspetiva o passado não é mais do que uma ponte para o futuro. Os grandes
triunfos no mar, as conquistas materiais, tiveram o seu tempo e existiram para serem
passageiras, foram uma lição de humildade. A recompensa não é da terra, é dos céus e
deve ser procurada nos céus. Senão as conquistas não teriam feito do país “Nevoeiro”.