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O Império Russo nas vésperas da Revolução de 1917 (pág.

24)
Características do território russo antes de 1917:
O território era muito vasto, resultado do colonialismo e expansão territorial russa,
muito diferente do colonialismo dos países do Ocidente (no Ocidente, o colonialismo
exerceu-se nos territórios ultramarinos; na Rússia, o colonialismo visou os territórios
adjacentes). Estendeu-se sobre regiões como a Polónia, Ucrânia, Bielorrússia,
Finlândia, Países Bálticos (como a Estónia, Letónia e Lituânia), Moldávia, Ásia Central,
Sibéria e Cáucaso (zona situada entre o Mar Negro e o Mar Cáspio (onde se
localizavam a Geórgia, a América e o Azerbaijão)).

 Regime autocrático e autoritário, governado por um czar;


 O czar Nicolau II (dinastia Romanov) concentrava todos os poderes;
 Qualquer contestação era reprimida;
 Economia atrasada:
-agricultura tradicional e arcaica, de baixa produtividade;
-fraca industrialização, com base em investimentos estrangeiros (sobretudo
franceses);
-comércio pouco dinâmico; comunicações e meios de transporte insuficientes;

 Minoria de privilegiados (grandes senhores) domina a grande propriedade;


 Camponeses 75% e 85% da população, vivem miseravelmente, sufocados de
impostos;
 Operariado, pouco representativo, cerca de 2% da população, vive e trabalha
precariamente;
 Nobreza liberal e a escassa burguesia queriam abertura política e a
modernização do país;
 Descontentamento social desencadeia a revolução falhada em 1905 (conhecida
por Domingo Sangrento)
*proletariado- é composto por todos os trabalhadores assalariados, ou seja, por
aqueles que não têm nenhum meio de vida, exceto a sua força de trabalho que
vendem para sobreviver.
*operariado- integra o proletariado, sendo o conjunto de operários que exercem um
ofício manual ou mecânico, sobretudo no setor industrial, que transforma uma
matéria-prima, num produto acabado.
A participação do Império Russo na 1ª Guerra Mundial- agravou a situação

 Derrotas militares e deserções;  Greves e manifestações populares;


 Fome.  Contestação, sobretudo nas cidades.
Revolução de fevereiro de 1917 ou revolução burguesa (pág. 25)
 Eclode em S. Petersburgo (ou Petrogrado), desencadeada por:
-manifestações de mulheres;
-greve dos operários;
-formação de conselhos e sovietes.

 Objetivos:
-alterar regime político e compreender reformas políticas e sociais;
-retirar Rússia da guerra.

 Resultados imediatos:
-queda do regime czarista e abdicação de Nicolau II;
-instauração da República (março 1917);
-constituição de um governo provisório, apoiado pela burguesia liberal e por
socialistas moderados.

 Características do Governo Provisório:


-governo moderado, de cariz burguês, tendo em vista a instauração de uma
democracia parlamentar do tipo Ocidental (liderada por Lvov e depois por
Kerênsky);
-defende a continuidade da participação russa na guerra.
Os sociais-democratas dividem-se em bolcheviques (maioritários) e mencheviques
(minoritários). Os bolcheviques e mencheviques são correntes políticas que
existiram dentro do Partido Operário Social Democrata Russo, no começo do
século XX. Esta divisão insistente no partido decorre de diferentes interpretações
da obra de Karl Marx, base do socialismo.
Para os bolcheviques, a transformação da sociedade ocorre, rompendo
definitivamente com o modelo capitalista e implementando a ditadura do
proletariado. Eram mais radicais e Lenine fazia parte desse grupo.
Para os mencheviques, o fim do capitalismo deveria acontecer como consequência
de um processo contínuo, de consciência de classe. Eram, portanto, mais
moderados, sendo Trostsky, o seu representante.
Entretanto toda a Rússia cobria-se de sovietes (bolcheviques) que contavam nas
suas fileiras com operários, camponeses, soldados e marinheiros. Os sovietes
apelavam as seguintes medidas para a Rússia: retirada imediata da guerra, ao
derrube do Governo Provisório que apelidavam de burguês, à entrega do poder
aos sovietes e à confiscação da grande propriedade. Estas reivindicações estavam
incluídas nas “Teses de abril”, documento que havia sido elaborado por Lenine.
A Rússia vivia uma autêntica dualidade de poderes.

Revolução de outubro (pág. 26)


Em outubro ocorreu uma nova revolução de milícias bolcheviques, conhecidas por
Guardas Vermelhos. Estes controlaram os pontos estratégicos da cidade (pontes,
correios, gares ferroviárias) e assaltaram o Palácio de Inverno derrubando o
Governo Provisório nele sediado.
O II Congresso dos sovietes, entregou o poder ao Conselho dos Comissários do
Povo, composto exclusivamente por bolcheviques e Lenine ocupou a presidência.
Os representantes do proletariado conquistaram então o poder político.

Da democracia dos sovietes ao centralismo democrático


A democracia dos sovietes; dificuldades e guerra civil (1918-1920) (pág. 28-39)
O novo Governo iniciou funções com a publicação dos decretos revolucionários,
sendo eles os seguintes: O decreto sobre a paz convidada os povos beligerantes à
negociação. O decreto sobre a terra aboliu, sem indemnização, a grande
propriedade, entregando-a a sovietes camponeses. O decreto sobre o controlo
operário atribuía aos operários das empresas a superintendência e a gestão da
respetiva produção. O decreto sobre as nacionalidades conferia a todos os povos
do antigo Império Russo o estatuto de igualdade e o direito à autodeterminação.
Inspiradores e beneficiários diretos dos decretos revolucionários, os sovietes
converteram-se nos grandes protagonistas da Revolução. Daí dizer-se que os
primeiros tempos da Revolução de outubro se viveram sob o signo da democracia
dos sovietes.
Como os países beligerantes não aceitaram parar a guerra, então, os russos
aceitaram uma paz separada com a Alemanha, através do tratado de Brest-Litovsk.
Tratado de Brest-Litovsk- acordo de paz separado, celebrado em 1918, pelo
governo bolchevique russo e pelas potências centrais (império alemão, império
austro-húngaro), na cidade de Brest-Litovsk (cidade importante da Bielorrússia).
Este tratado marcava a retirada da Rússia na 1ª Guerra Mundial. E os termos do
mesmo eram humilhantes para a Rússia, pois esta teve de abrir mão da Finlândia,
Países Bálticos, Bielorrússia e Ucrânia. A maior parte destes territórios passaram a
ser partes integrantes do império alemão. A derrota da Alemanha no final da
guerra, permitiu que a Finlândia, os Países Bálticos e Polónia se tornassem estados
verdadeiramente independentes. Quanto a Bielorrússia e a Ucrânia estes povos
envolveram-se na Guerra Civil Russa, acabando por ser novamente fixados ao
território russo.
Entretanto os proprietários e empresários criavam os maiores obstáculos à
aplicação dos decretos relativos à terra e ao controlo operário. O regresso de 7
milhões de soldados, sem hipótese imediata de reintegração na vida civil, a
persistência da carestia e da inflação e o banditismo que se fazia sentir
concorreram, para a débil adesão da população russa ao projeto bolchevique.
A resistência ao bolchevismo resultou na terrível guerra civil.
Por fim, os desentendimentos gerados nas hostes brancas (brancos, era o exército
contra os bolcheviques) (estes desentendimentos enfraqueceram-nos) e o receio
das populações do regresso dos antigos privilegiados contribuiu para o desfecho da
guerra: a vitória dos vermelhos (bolcheviques) que dispuseram de um coeso e
disciplinado (bem organizado) Exército Vermelho, organizado por Trotsky.

O comunismo de guerra, face da ditadura do proletariado (1918-


1921) (pág.30-32)
Ditadura do proletariado- Segundo a teoria marxista, é a etapa por que deve passar
a revolução socialista antes da edificação do comunismo. A ditadura do
proletariado surge para desmantelar a estrutura do regime burguês, possibilitando
a supressão do Estado e a eliminação da desigualdade social.
*Comunismo e Socialismo:
-são estruturas económicas e políticas que, apesar de possuírem os mesmos
objetivos, são distintas entre si.
Ambas as doutrinas são opostas ao capitalismo e pretendem eliminar todos os
tipos de desigualdade social, acabar com a exploração dos trabalhadores e com
isso, por fim, a divisão de classes. Por esses motivos, tanto o comunismo quanto o
socialismo são classificados na esfera política, como regimes de esquerda.
Porém possuem características específicas.
Diferenças entre o comunismo e o socialismo:
Comunismo:
Governo: O comunismo prevê o total desaparecimento do Governo
Distribuição da produção: A produção é distribuída de acordo com as necessidades
de cada um
Estrutura social: As diferenças de classe são totalmente eliminadas
Propriedade privada: É abolida. Todos os bens são comuns
Socialismo:
Governo: O socialismo não prevê o fim do governo
Distribuição da produção: A produção é distribuída de acordo com a contribuição
de cada um
Estrutura social: As diferenças de classe são amenizadas
Propriedade privada: Bens pessoais como casas e roupas são propriedade privada
do indivíduo, mas os meios de produção pertencem ao povo (ainda que controlado
pelo Estado)
Profundamente fiel ao marxismo, Lenine jamais escondeu os seus propósitos de
implementação imediata da ditadura do proletariado. Na Rússia bolchevista, ela
revestiu-se, de aspetos bem específicos. Um deles relacionou-se com a composição
do próprio proletariado. Marx entendia-o formado pelos operários vítimas da
exploração capitalista. Já Lenine incluía nele os camponeses, pois tinha em
consideração o atraso industrial da Rússia e as suas estruturas arcaicas e rurais.
*achava que os camponeses tinham mais diretos pois o grupo era maior.
Lenine recorreu a força para impor as suas ideias- comunismo de guerra.
Comunismo de guerra- medidas implementadas por Lenine:
-Proibição da liberdade de expressão (proibição de jornais não bolcheviques);
-Proibição de qualquer forma de oposição (proibição de partido políticos, exceto
bolchevique que, em 1918 se passou a designar por Partido Comunista); Criação de
purgas no interior do partido único para eliminar qualquer oposição ou desvio à
doutrina marxista-leninista.
-Reforço da polícia política, a Tcheca, que prendia e julgava rapidamente os
suspeitos de conspiração contra o poder instituído, sendo os mesmos executados
ou enviados para campos de concentração (os gulag).
-Coletivização das terras e requisição obrigatória dos produtos agrícolas para
serem distribuídos, conforme as necessidades revolucionárias (para alimentar os
soldados do exército vermelho, por exemplo).
-Nacionalização de indústrias e empresas com mais de cinco operários (minas,
siderurgia, caminhos de ferro), dos bancos e do comércio externo;
-Instauração do trabalho obrigatório dos 16 aos 50 anos e controle operário
através da obrigatoriedade do registo operário, com longas jornadas de trabalho e
baixos salários;
-Proibição do comércio livre e imposição da venda de produtos a preços fixados
pelo Estado;
-Aposta na promoção cultural para emancipar o povo e afastá-lo das “más
influências”, combateu-se o analfabetismo e nacionalizaram-se museus, obras
literárias, artísticas e científicas consideradas património do Estado e do povo.

O centralismo democrático (pág. 32-33)


Desde 1922, a Rússia converteu-se na União das Repúblicas Socialistas Soviéticas
(URSS), um Estado multinacional e federal cujas repúblicas, dispunham de uma
Constituição e de uma certa autonomia.
*reúne vários povos e nacionalidades.
*federado- constituído por vários estados, que tem de prestar contas ao governo
central: centralismo democrático.
*Estado concentrava em si todos os poderes.
Lenine queria que o Estado Soviético fosse forte, disciplinado e democrático, de
modo a garantir a vitória do socialismo. A conciliação da disciplina e da democracia
conseguiu-se com a fórmula do centralismo democrático.
*para evitar revoltas era necessário criar um Estado forte e coeso.
Todo o poder emanava da base, isto é, dos sovietes, escolhidos por sufrágio
universal. Cabia a estes representar o conjunto das repúblicas federadas e as
nacionalidades no Congresso dos Sovietes. A este competia, por sua vez, designar
o Comité Executivo Central, dotado de duas câmaras: o Conselho de União e o
Conselho das Nacionalidades. Eles, em conjunto, escolhiam os órgãos do poder
executivo: o Presidium (legislativo e executivo), espécie de chefe de Estado
colegial; e o Conselho dos Comissários do Povo, espécie de Conselho de Ministros,
a quem pertencia o poder real.
A esta estrutura democrática, baseada no sufrágio universal e exercida de baixo
para cima, impunha-se, o controlo de duas forças. Uma exercia-se de cima para
baixo, por parte dos órgãos do topo do Estado e a outra fazia-se sentir por parte
do Partido Comunista (proletariado).
*de baixo para cima, das bases para as cúpulas, mas as cúpulas decidem o que as
bases tem de fazer.
*o Estado faz o que o partido pede.

A Nova Política Económica (1921-1927) (pág. 34-35)


Em inícios de 1921, a economia do país estava na ruína. A produção de cereais
descera para metade da de 1913. Obrigados à requisição de géneros, os
camponeses não produziam, escondiam ou destruíam as suas colheitas. Depois de
um inverno difícil, a seca do verão fez 3 milhões de mortes de fome. Nas cidades e
nas fábricas a situação não se mostrava mais favorável. A produção industrial
diminuíra ¾ relativamente à de 1913. As minas de hulha estavam inutilizadas, os
caminhos de ferro paralisados.
Em fevereiro de 1921, os operários e marinheiros de Cronstadt revoltaram-se
contra o rumo que a revolução socialista tomara.
O Comunismo de Guerra cedeu, então, lugar à Nova Política Económica (NEP), um
recuo estratégico que recorreu ao capitalismo, já que o socialismo não deveria
edificar-se sobre ruínas.
As primeiras medidas da NEP visaram a recuperação agrícola. As requisições foram
substituídas por um imposto em géneros e a coletivização agrária foi interrompida.
Estimulados pela possibilidade de venda no mercado interno, os camponeses
aumentaram as produções (vendiam o que sobrava); a percentagem de terras
incultas desceu e a produção do trigo mais que duplicou.
Indústria: Desnacionalizaram-se empresas com menos de 20 operários, sendo
muitas delas entregues a antigos proprietários. Fomentou-se o investimento
estrangeiro (Alemanha, Inglaterra), constituindo-se sociedades de capitais mistos.
Do estrangeiro vieram, também, técnicos, máquinas e matérias-primas. Suprimiu-
se o trabalho obrigatório e, para estimular a produtividade, atribuíram-se prémios.
*no comércio reintroduziu-se a livre concorrência (interna).
A Rússia modernizou-se: construíram-se as primeiras centrais hidroelétricas do
Dniepre.
Embora o regresso ao capitalismo tivesse sido parcial- os transportes, os bancos, a
média e grande indústria e o comércio externo (grande comércio: posse do Estado)
continuaram nacionalizados-, não deixaram de se fazer sentir as críticas. Uma
classe de camponeses abastados (os Kulaks) e de pequenos comerciantes (os
nepmen) suscitou os ódios dos bolcheviques e do Partido Comunista, que não
tardaram a repor a ortodoxia marxista.

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