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2ª EDIÇÃO

Miramos no planeta Marte e


despertamos o deus da guerra

Fevereiro de 2022
Miramos em Marte 2

ÍNDICE
Carta ao leitor 3

Introdução 4

Análise Fundamentalista 5
Uma breve retrospectiva 6
E como ficam as criptomoedas? 7
Adoção 7
Ecossistema Cripto 8
Conclusão da análise fundamentalista 10

Análise On-chain 11
Taxas de transação 12
Força computacional 13
Em busca de sinais de exagero 14
Fundos de investimento cripto 15
Grandes investidores 16
Conclusão da Análise On-chain 16

Análise Técnica 17
Atualizações 22
Progressão de topos e fundos 22
O volume acompanha a tendência 24
A tendência persiste até ser substituída por uma oposta 25
Médias móveis e seus cruzamentos: O que elas nos apontam? 25

Análise técnica moderna e comparação de ciclos: O que a teoria de Elliott


pode nos apontar sobre o Bitcoin? 26
Teoria de Wyckoff: É acumulação ou distribuição? 29
Conclusão da Análise Técnica 30

Análise Quantitativa 31
Atualização da Análise do BTC e ETH 32
O papel das criptomoedas nos portfólios 34
Criptomoedas como diversificadores de carteiras 34
Conclusão da análise quantitativa 35

Conclusão 36

Referências 37

Autores 38

Disclaimer 38
TELESCÓPIO CRIPTO 3

CARO LEITOR,
A 1ª edição do TELESCÓPIO CRIPTO, lançada no fechamento do mês de Janeiro, foi um suces-
so de público e de crítica. Agradecemos imensamente os elogios e sugestões de todos vocês.
Agora que o mês de Fevereiro terminou, lançamos esta 2ª edição com a confiança redobra-
da com relação a precisão de nosso telescópio, que identificou corretamente a tendência de
reversão da queda que nos levou até a região dos $33.000. Perigosos meteoros permanecem
ao redor, mas o risco de colisão foi reduzido.

Neste material você terá acesso a indicadores de diversas escolas técnicas, que mostrarão
com precisão que existe um cinturão de asteroides impedindo o escape do preço. Enfrentá-lo
demanda aceitar riscos, algo raro em momentos de conflito militar como o que passamos
no momento. Mais do que nunca, precisamos de ativos que nos protejam da irracionalidade
humana.

Esperamos que este telescópio te ajude a olhar para frente, para o futuro, certos de que dias
melhores estão por vir, com a ajuda das criptomoedas.

“A civilização é o avanço de uma sociedade em direção à privacidade.


Civilização é o processo de libertar o homem dos outros homens.” (Ayn Rand)

Grande abraço,
GUILHERME RENNÓ
CEO - Criptomaníacos
Miramos em Marte 4

INTRODUÇÃO
Fevereiro foi um mês de acontecimentos impactantes não só para o mercado de criptomoe-
das. Não bastasse um mundo tentando se reerguer num final de pandemia e de restrições
sanitárias, guerras e rumores de guerras surgiram, dominando as capas dos noticiários de
todo o globo. Tudo isso ainda se soma ao cenário de receio com a alta da inflação e apertos
monetários.

No relatório deste mês, você vai ter uma visão de como os acontecimentos citados influ-
enciaram o mercado. Mais que isso, vai observar os fatos e métricas que mostram como o
mercado reagiu aos eventos e possíveis caminhos para o futuro. Não menos importante, o
relatório traz as atualizações do conteúdo de nosso último Telescópio Cripto.

O combate de Marte e Mineva. Jacques-Louis David, 1771.


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ANÁLISE
FUNDAMENTALISTA
Miramos em Marte 6

ANÁLISE FUNDAMENTALISTA

Seria no mínimo incompleto iniciar uma análise fundamentalista de qualquer ativo no mês
de fevereiro sem levar em conta o panorama geral dos mercados globais, que enfrentam
além das já conhecidas pressões inflacionárias e chegada de um possível aperto monetário,
agora também um conflito armado na Europa.

Porém, neste material optamos por analisar o comportamento dos mercados, especialmente
de Criptomoedas, diante de ainda desconhecidos e imprevisíveis desdobramentos econô-
micos, ao invés do conflito em si e seus componentes geopolíticos.

UMA BREVE RETROSPECTIVA

Os primeiros impactos começaram a ser sentidos nos mercados ainda em 18 de janeiro,


quando órgãos oficiais do governo americano sinalizaram que um ataque russo à Ucrânia
seria iminente, e o S&P500 (principal índice acionário dos EUA) desabou quase 10% em a-
penas 6 pregões, acompanhado de diversas outras classes de ativos Fonte:

Fonte: Tradingview e Criptomaníacos

Entre reuniões de líderes de diversos países e tentativas de acordo com o presidente Vlad-
mir Putin, os investidores ainda não pareciam precificar uma possibilidade real do conflito
militar, e uma expressiva recuperação dos mercados chegou a ser esboçada, incluindo o Bit-
coin, que se afastava em mais de 35% da mínima cotação recém registrada.

Porém na madrugada do último dia 23 o cenário voltou a mudar, depois que o líder russo
declarou guerra à Ucrânia e os primeiros ataques começaram logo após o pronunciamento.
TELESCÓPIO CRIPTO 7

As próximas horas foram seguidas de um forte movimento de aversão a risco nos mercados,
com os investidores buscando proteção em ativos considerados mais seguros, como metais
preciosos e títulos do governo americano, enquanto vendiam os mais arriscados.

E COMO FICAM AS CRIPTOMOEDAS?

As Criptomoedas, a exemplo do visto no grande crash do início da pandemia, se compor-


taram em um primeiro momento como aqueles ativos mais arriscados, sinalizando que
parte dos investidores ainda não está convicta com a tese de que são proteção para momen-
tos de incerteza.

Isso pode ser observado através das principais métricas clássicas, como o aumento expres-
sivo da volatilidade, crescimento da correlação com outras classes de ativos, e indicadores
de sentimento sinalizando extremo pessimismo dos investidores.

Porém, diferente do observado ao longo da forte queda vista na primeira metade de 2021,
quando a rede do Bitcoin dava diversos sinais de desalinhamento, o atual movimento tem
mais similaridades com o início da pandemia, e entraremos em mais detalhes na análise
on-chain.

Ao observar além da precificação que os investidores atribuem ao Bitcoin nos movimentos


de curtíssimo prazo, sua verdadeira função tem ficado cada vez mais evidente e a adoção
tem sido impulsionada por eventos recentes.

ADOÇÃO

Ainda em janeiro, quando contas bancárias e plataformas de financiamento coletivo usadas


por manifestantes canadenses que protestavam por liberdade foram bloqueadas por ordem
do governo, a melhor alternativa encontrada para apoiar o movimento foi através do Bitcoin.
Miramos em Marte 8

Já no dia 26 de fevereiro as cripto-


moedas surgiram como assunto re-
levante também na guerra, quando o
Twitter oficial do governo ucraniano
publicou endereços de carteiras rece-
bendo doações em Bitcoin, Ethereum
e a Stablecoin USDT.

Especialmente no caso da Ucrânia,


não devem faltar matérias especu-
lando que os próximos meses devem
trazer avanços de uma maior adoção,
ao melhor estilo El Salvador, agora
também em um país europeu.

Mas não apenas movimentos organizados e países têm encontrado nas criptomoedas for-
mas de se financiar diante de situações adversas, como crescem também relatos de in-
divíduos garantindo suas vidas e liberdade graças ao uso de tecnologias blockchain.

Com a decisão do Banco Central da Ucrânia de suspender transferências eletrônicas de di-


nheiro e os caixas ATMs ficando sem cédulas devido a uma corrida de saques, refugiados
e até jornalistas estrangeiros que desejavam deixar o país relatam que as criptomoedas se
tornaram não apenas a principal, como única alternativa encontrada para enfrentar a situ-
ação.

Apesar de não refletirem em um primeiro momento o papel de proteção para momentos de


incerteza nas cotações, na prática o que se observa é bastante diferente, tendo permitido que
transações sejam realizadas em uma rede descentralizada, aberta e incorruptível, disponí-
vel 24h por dia em qualquer lugar do mundo.

Com a retirada da Rússia do sistema internacional SWIFT como sanção aos ataques rea-
lizados, ainda é esperado que nações passem a repensar sua dependência de sistemas cen-
tralizados para os meses e anos à frente. As tecnologias blockchain certamente estarão no
cerne da discussão.

ECOSSISTEMA CRIPTO

Não apenas de moedas e reserva de valor é composto o ecossistema das criptomoedas, e di-
versos projetos buscam oferecer soluções para os mais variados problemas e necessidades
do seu público, muitas vezes disruptando setores tradicionais por completo.
TELESCÓPIO CRIPTO 9

Embora existam muitas oportunidades a serem exploradas, recentemente o comportamento


de aversão a risco tem trazido uma alta correlação entre as criptomoedas, que se traduzem
em movimentações de forma bastante similar principalmente nas baixas.

Matriz correlação 30 dias. Fonte: Cryptowatch

Matriz correlação 1 ano. Fonte: Cryptowatch

As matrizes acima mostram uma correlação muito maior (próximo de 1) entre algumas das
principais criptomoedas do mercado nos últimos 30 dias do que o observado em um inter-
valo de 1 ano.

Por esse motivo as últimas semanas foram pouco produtivas para aqueles investidores que
buscam fazer uma espécie de “stock picking”, selecionando aqueles criptoativos de maior
potencial de valorização, frente ao cenário macroeconômico que vem ditando o movimento
dos preços.

Diante disso, com a forte desalavancagem do mercado e criptoativos, estes sendo precifi-
cados por menos da metade das cotações vistas há menos de 3 meses atrás, abre-se uma
interessante janela de oportunidade em alguns projetos específicos, que devem voltar a per-
formar bem em uma eventual desescalada do conflito armado.
Miramos em Marte 10

CONCLUSÃO DA ANÁLISE
FUNDAMENTALISTA

Embora o mercado cripto tenha apresentado alta correlação com os mercados globais e até
mesmo entre os projetos de seu ecossistema, sofrendo perdas com a recente aversão a risco
dos investidores, seu verdadeiro propósito tem ficado cada dia mais claro diante dos cenári-
os adversos que são apresentados.

Assim sendo, uma janela de oportunidade pode se abrir diante de uma melhora da percepção
de risco dos investidores, que encontram hoje diversos projetos promissores a preços des-
contados e que pouco ou nada foram impactados pelos desdobramentos geopolíticos re-
centes.
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ANÁLISE ON-CHAIN
Miramos em Marte 12

ANÁLISE ON-CHAIN

Sobre a ótica dos dados on-chain, que mensuram a atividade da rede do Bitcoin dos mais
variados aspectos, a recente queda tem apresentado muito mais similaridades com o movi-
mento de baixa visto no início da pandemia, do que com aquele na primeira metade de 2021.

Quando as primeiras preocupações com o Covid-19 abalaram os mercados globais em março


de 2020, o Bitcoin ensaiava uma recuperação de um longo período de baixa, e as principais
métricas de atividade da rede indicavam uma leitura saudável e cada vez mais fortalecida.

TAXA DE TRANSÇÃO

Uma forma de avaliar a saúde da rede é através da taxa média de transações paga aos mine-
radores, com os investidores aumentando a oferta conforme suas transações experienciam
uma demora não habitual para confirmação.

Fonte: Messari

O aumento das taxas de transação e tempo para confirmação dos blocos costuma funcionar
assim como os impostos, desincentivando o seu uso à medida que transacionar fica mais
caro e também menos eficiente.

Por essa ótica, a rede do Bitcoin encontra-se atualmente bastante saudável, trazendo mais
similaridades com o início da pandemia, quando o movimento de aversão a risco foi exter-
no, e não oriundo do próprio ecossistema cripto.
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FORÇA COMPUTACIONAL

Embora a força computacional continue em trajetória de alta, sinalizando que a rede con-
tinua aumentando seu poder de processamento e segurança para validar as transações, os
últimos dias apresentaram uma breve desaceleração.

Fonte: Glassnode e Criptomaníacos

Ainda é cedo para afirmar que o cenário macroeconômico e geopolítico, principalmente no


que se refere ao conflito militar no leste europeu, trará impactos significativos no hash rate
do Bitcoin.

Mas uma eventual persistência na dinâmica de queda dessa métrica pode sinalizar uma fra-
gilidade da rede como um todo, uma vez que podem haver interrupções na geração, trans-
missão e/ou no fornecimento de energia na região.

Isso porque segundo dados


da Universidade de Cam-
bridge, países como Rússia,
Cazaquistão, e Alemanha
(que conta com alta dep-
en- dência do fornecimento
de energia russo) somavam
aproximadamente 33,8%
da atividade de mineração
quando atualizado pela úl-
tima vez em agosto de 2021,
em gráfico apresentado na
última edição do Telescópio. Fonte: Universidade de Cambridge
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Embora traga uma sinalização de alerta no curto prazo, a dinâmica observada neste mo-
mento traz muito mais similaridades com o início da pandemia, quando o choque foi exter-
no vindo de um cenário macroeconômico e global, do que uma sinalização de fragilidade do
próprio ecossistema.

A BUSCA DE SINAIS DE EXAGERO

Uma métrica que tem ganhado destaque recentemente é o MVRV Z-Score, calculada através
da diferença entre o valor de mercado observado e sua capitalização realizada, com base no
preço da última vez em que os Bitcoins foram movimentados.

Essa métrica ainda é dividida pelo desvio padrão, uma medida estatística de dispersão ou
volatilidade, com a finalidade de buscar sinais de exagero em movimentos de alta ou baixa
do mercado.

Depois de atingir a banda superior na primeira metade de 2021, sinalizando um excesso no


prêmio das cotações e criando um incentivo para que os investidores realizassem lucros, a
atual leitura encontra-se na região inferior.

Fonte: Glassnode

Apesar de ainda não sinalizar patamares que seriam considerados extremamente baratos,
como o visto no início da pandemia, o atual momento não sinaliza exageros por essa ótica,
saneando grande parte dos excessos acumulados ao longo de 2020 e 2021.
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FUNDOS DE INVESTIMENTO CRIPTO

Em recente relatório da Coinshares, foi relatada a quinta semana consecutiva de entrada


de capital em fundos e produtos de investimento em Bitcoin, totalizando um montante de
US$239 milhões de fluxo positivo.

Mesmo com a escalada das tensões, a última semana também trouxe entrada de US$36 mi-
lhões para as Criptomoedas de forma geral, com destaque especial para a Tezos nos projetos
alternativos que captou US$4.4 milhões, o equivalente a 14% do que já estava sob gestão de
fundos.

Fonte: Glassnode

O relatório ainda trouxe a informação de que o par de negociação RUB/USD, que representa o
Rublo Russo frente ao Dólar, teve um aumento de 121% em relação à semana anterior, com os
investidores buscando fugir de uma iminente desvalorização da moeda nacional da Rússia.
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GRANDES INVESTIDORES

Por fim, mas não menos importante, a dinâmica de acumulação por parte dos grandes in-
vestidores, sinalizada na última edição do telescópio cripto, se acelerou ainda mais e atingiu
o seu maior patamar histórico.

A métrica acompanha o saldo acumulado em carteiras que detém ao menos 1.000 Bitcoins, e
tem funcionado como uma espécie de indicador antecedente, medindo o apetite dos grandes
investidores pela principal criptomoeda do mercado.

Fonte: Messari

Diferente da divergência observada na recém registrada máxima histórica, quando esses in-
vestidores aproveitam a alta dos preços para reduzir posições, a dinâmica atual se apresenta
de forma contrária, aproveitando a baixa para acumular ainda mais Bitcoins em carteira.

CONCLUSÃO DA ANÁLISE ON-CHAIN

Na contramão da precificação que o mercado tem atribuído ao Bitcoin nas últimas semanas,
a rede do Bitcoin tem dado sinais de que segue se fortalecendo, e não apresenta maiores im-
pactos em seu funcionamento devido aos desdobramentos geopolíticos recentes, seguindo
bastante saudável e sem maiores sinais de excesso.

Um fortalecimento da rede como um todo e os preços próximos do menor patamar dos úl-
timos 18 meses tem se apresentado como uma interessante janela de oportunidade para o
mais longo prazo, também despertado o interesse de grandes investidores e fluxo para fun-
dos de investimento especializados no setor.
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ANÁLISE TÉCNICA
Miramos em Marte 18

ANÁLISE TÉCNICA

Com o encerramento o mês de Fevereiro, fica claro que esses dois primeiros meses do ano
foram marcados por conflitos e incertezas políticas. Queremos levantar nessa análise qual
foi o impacto de tais acontecimentos e pronunciamentos no preço dos índices e do Bitcoin.

Na sessão da análise técnica desta edição, atualizamos os gráficos que trouxemos na primei-
ra edição visando extrair mais informações das teorias e entender a continuação dos movi-
mentos com o objetivo de construir uma análise de longo prazo assertiva. Também fizemos
um levantamento gráficos do impacto dos conflitos políticos e decisões econômicas do
mês de Janeiro no preço do Bitcoin e dos principais índices americanos.

O conflito político que estamos vendo nos últimos meses e que se intensificaram em Fev-
ereiro, traz um sentimento de medo e incertezas para os mercados, além do impacto causa-
do nas indústrias que são essenciais para o abastecimento e sustentação da sociedade. Com
isso, a tendência é vermos uma fuga de capital no curto prazo dos ativos considerados de
mais riscos, como ações, e é claro o Bitcoin. Acompanhe o estudo gráfico analisando o im-
pacto do cenário político atual no preço do S&P 500, Bitcoin e outros índices.

Em meados de janeiro a Rússia avançou tropas na direção da Ucrânia e posicionando mais


de 100 mil homens em bases militares próximas à fronteira, deixando governos em estado
de alerta. No dia 18 de Janeiro o governo dos EUA declarou em uma nota que não descartava
a possibilidade de uma invasão a qualquer momento e que a tropa da Rússia estava pronta
para atacar.

Nesse momento do conflito o mundo e os mercados não queriam acreditar mas sabia que o
conflito poderia acontecer e o preço dos ativos considerados de mais riscos já começavam
a sentir a fuga de capital. Observe os gráficos do SPX500 e Bitcoin abaixo.

Fonte: Trading View


TELESCÓPIO CRIPTO 19

A linha laranja, sinaliza o dia que o mundo passou a ter um pouco mais de consciência que
uma invasão na Ucrânia poderia acontecer com o alerta dos Estados Unidos. Notem que no
mesmo dia o índice das 500 maiores empresas americanas e o Bitcoin começaram a cair,
sinalizando o medo dos mercados. Sendo que nos dias seguintes, o SPX já tinha caído quase
10% enquanto o Bitcoin sofreu uma queda de mais de 20%.

Logo após essas correções, os mercados financeiros passaram por um momento de grandes
incertezas e fortes oscilações na espera de uma definição do Federal Reserve Bank (FED)
sobre a taxa de juros, gerando estresse nos mercados. O FED, além de diminuir o ritmo da
compra de títulos para combater a inflação, considerava começar a vendê-los, especularam
os mercados.

Na bolsa de Nova York a volatilidade predominava, a Nasdaq e S&P 500 tiveram quedas en-
tre 4% e 5%, Dow Jones 3% enquanto o Bitcoin chegou a cair mais de 8% nesse dia. O anún-
cio do FED viria no dia 26, sendo que se o aumento das taxas de juros fosse maior do que
os mercados esperavam, os ativos de mais riscos poderiam continuar suas quedas já que
seriam menos interessantes para manter em carteira. Por outro lado, se a elevação da taxa
não fosse tão grande, os mercados iriam reagir positivamente.

No dia 26 de Janeiro o FED anunciou então em decisão unânime um aumento modesto na


taxa de juros de 0.25%, mas alertou estar preocupado com a inflação e indicou que poderia
começar a subir em breve. Além disso, Jerome Powell mostrou preocupações com as tensões
entre Ucrânia e Rússia, que poderiam afetar as cadeias de abastecimento internacionais,
como combustíveis, alimentos e gás. Depois desse anúncio os mercados ficaram mais es-
táveis e nos dias seguintes começaram a se recuperar:

Índice S&P 500. Fonte: TradingView Índice Dow Jones. Fonte: TradingView

Nasdaq. Fonte: TradingView Bitcoin. Fonte: TradingView


Miramos em Marte 20

É importante explicar que as linhas verticais correspondem a cada evento. Linha laranja
marca o anúncio dos Estados Unidos sobre o iminente ataque à Ucrânia. Linha azul, vola-
tilidade dos mercados no dia 24 de janeiro com as expectativas do anúncio do FED e a linha
verde, registra o momento do aumento de 0.25% na taxa de juros anunciados. Notem que
existiu uma forte correlação entre o Bitcoin, Nasdaq, S&P e Dow Jones.

Uma indicação gráfica ligada a teoria citada por Charles Dow referente às tendências fica
visível nessa comparação e que pode agradar e muito os entusiastas do Bitcoin. Observem
o gráfico:

Fonte: TradingView

No gráfico acima vemos que levando em consideração os mesmos períodos identificamos


que os índices americanos formam e respeitam uma tendência clara de baixa, enquanto
no mesmo período o Bitcoin forma uma lateralização. Mesmo com processos de correções
fortes no período, isso sinaliza que o mercado cripto pode estar sendo o menos impacta-
do considerando as formações gráficas e não a variação percentual. O Bitcoin pode estar
no meio de uma acumulação e possivelmente pode iniciar uma recuperação mais rápida e
acentuada que os índices.

Até agora vimos como o preço dos principais índices americanos e do Bitcoin sentiram gra-
ficamente os conflitos políticos bem como o estresse dos mercados em relação ao aumento
da taxa de juros no EUA. Observamos também uma forte correção até o dia 26 de Janeiro
e na sequência uma recuperação que durou até meados de Fevereiro, quando os mercados
começaram a corrigir novamente. Tendo isso em vista, será que mais uma vez o mercado
corrigiu devido às tensões do iminente conflito entre Rússia e Ucrânia? Teriam os inves-
tidores desenvolvido maior aversão ao risco desses ativos considerados mais voláteis e
arriscados?

Vale lembrar que em meados de Fevereiro o governo americano alegou que possuía infor-
TELESCÓPIO CRIPTO 21

mações levantadas por sua inteligência da existência de uma suposta operação russa de
nome “false flag” (bandeira falsa), que teria como objetivo simular uma provocação por
parte da Ucrânia para justificar um ataque russo.

No gráfico abaixo, marcamos com linhas verticais laranjas o início da intensificação do con-
flito entre Rússia e Ucrânia e divulgação do governo americano sobre a operação bandeira
falsa que poderia gerar uma invasão a qualquer momento.

Fonte: TradingView

Notem que mais uma vez encontramos correlação entre a iminente invasão e a correção dos
principais índices americanos e do Bitcoin. Dias depois, S&P 500 e Dow Jones já tinham caí-
do 7%, Nasdaq 10% e o Bitcoin amargurava uma queda de 17% do dia 10 até 21 de Fevereiro,
sendo que no dia 23 os ativos sofreram correções acentuadas com o ínicio da invasão, que
deixou de ser apenas uma possibilidade. Confira no gráfico abaixo.

Fonte: TradingView
Miramos em Marte 22

Claramente os principais índices americanos e o Bitcoin foram muito afetados pelos confli-
tos políticos e tensões por conta das taxas de juros, reforçando nosso viés de que o mercado
cripto está cada vez mais está ficando correlacionado com os principais índices e ativos do
mundo.

Mas será que todos esses acontecimentos entre a nossa última edição do Telescópio Crip-
to até agora mudaram nossas análises gráficas de longo prazo ou só teriam impactado o
preço no curto prazo?

ATUALIZAÇÕES

Da nossa última edição até agora o mercado Cripto continuou respeitando as análises que
compartilhamos, desde a teoria básica da análise técnica até a análise moderna. O mais
interessante é que alguns padrões que ainda estavam em formação continuaram se de-
senvolvendo e conseguimos levantar algumas informações muito importantes que podem
contribuir muito em uma melhor tomada de decisão quanto ao cenário atual de mercado.

Vale lembrar que na edição anterior levantamos graficamente se estávamos ou não no in-
verno cripto utilizando os principais conceitos da análise técnica.

Se você conheceu nosso relatório nesta edição e não entender alguns dos conceitos da análise
aplicados aqui, você vai encontrar essas explicações na primeira edição onde aprofundamos
em todos os conceitos, agora vamos atualizar as análises provenientes desses conceitos.

Nossa conclusão na última edição foi que o Bitcoin ainda estava mantendo os principais
suportes da estrutura de alta de longo prazo e respeitando padrões que sinalizavam que a
tendência de alta não foi revertida e que enquanto o preço estivesse acima da região dos
$28.000 a $32.000, esse processo de correção que estamos vendo no médio prazo, seria
apenas uma correção natural e saudável do mercado devido a forte valorização do último
movimento de alta

ANÁLISE TÉCNICA CLÁSSICA,


APLICANDO A TEORIA DE CHARLES DOW

Progressão de topos e fundos

No gráfico abaixo vemos que o preço do Bitcoin da nossa última edição até agora formou um
novo fundo e topo mais baixo que os anteriores do curto e médio prazo, mas mesmo assim
manteve um fundo mais alto que o anterior do longo prazo marcado com a elipse verde.
TELESCÓPIO CRIPTO 23

Fonte: TradingView

Os mercados se movem em tendências

Essa parte da teoria de Dow ensina que mercado se move em tendências, e que é possível
separá-las por primárias, secundárias e terciárias. Confira uma atualização dessa teoria:

Fonte: TradingView

Notem que o Bitcoin continua mantendo a tendência primária de alta no longo prazo no
(gráfico 1). Já a tendência secundária que era de baixa, teve uma alteração significativa onde
ao ajustar o canal percebemos que o preço rompeu esse canal e recentemente fez um pull-
back na região rompida e vem se recuperando (gráfico 2). Porém, ainda não teve uma confir-
mação de rompimento que consideramos importante que aconteça para termos uma confir-
mação mais assertiva e para isso, esperamos o rompimento da retração de 0.618 de Fibonacci
marcado na imagem abaixo na região dos $45.000 (linha azul)

Já a tendência terciária, contínua de alta, sofre apenas um falso rompimento com a for-
mação de um pavio que mostra que houve um medo excessivo, stops e liquidações nessa
região formando um rompimento falso (gráfico 3).
Miramos em Marte 24

Fonte: TradingView

Analisando essa teoria no gráfico do Bitcoin, concluímos que o preço continua respeitando
a tendência de alta no longo prazo e está brigando para reverter a tendência de baixa de
médio prazo que vem desde a máxima histórica, formando uma tendência de alta no curto
prazo com muita volatilidade.

O volume acompanha a tendência

O indicador de volume fornece um sinal referente a mudança da tendência em vigência.


Sabemos que para uma tendência mudar, precisa existir uma agressão para o lado oposto,
sendo que se o preço está subindo, precisa ter um grande volume de venda e o mesmo con-
ceito serve para a mudança da tendência de baixa para uma de alta. Dow conclui que para
reverter a tendência é necessário um volume que confirme isso.

Analisando o gráfico abaixo percebemos que não houve uma mudança no volume, não a-
conteceu uma agressão para o lado oposto com isso, fica claro que a tendência segue sendo
alta e que o volume não deu sinal de reversão pois continua na média desde a sua última
sinalização (Elipse azul).

Fonte: TradingView
TELESCÓPIO CRIPTO 25

A tendência persiste até ser substituída por uma oposta

Esse conceito é praticamente autoexplicativo, a tendência só muda quando a mesma é


substituída por uma diferente. Observem no gráfico abaixo que a tendência de alta do longo
prazo continua em vigência e não foi substituída por uma oposta.

Fonte: TradingView

Médias móveis e seus cruzamentos: O que elas nos apontam?

Abaixo analisamos o último movimento de alta do longo prazo do Bitcoin marcado pela
Elipse azul e identificamos que nesse período o preço ficou abaixo das médias rápidas de
9 períodos (linha amarela e 21 períodos (linha verde) exponenciais em 2021, sendo que em
poucas semanas voltou acima das médias e continuou seu movimento de alta buscando
novamente a região da máxima histórica.

Fonte: TradingView

No atual processo de correção do médio prazo, verificamos que o Bitcoin está novamente
abaixo dessas médias e precisa voltar acima desse indicador para confirmar que a tendên-
cia de baixa acabou e que foi um período de correção dentro da tendência de alta.
Miramos em Marte 26

É muito interessante reforçar que a região das médias têm confluência com outras indi-
cações citadas até agora, confira abaixo:

Fonte: TradingView

A confluência está entre a região das médias de 9p e 21p no gráfico semanal que está si-
nalizada no gráfico diário acima com as linhas horizontais azuis que também é a região da
retração de 0.5 e 0.618 de Fibo que mencionamos quando falamos sobre as tendência se-
cundária, sendo que o rompimento desse nível sinaliza a confirmação de rompimento. Isso
mostra que podemos estar passando por um momento parecido com o movimento de 2021,
quando o Bitcoin ficou 10 semanas abaixo desse indicador.

Caso você não tenha entendido o motivo de usarmos essas médias, sugerimos que leia a
primeira edição onde explicamos a importância desse indicador de forma aprofundada.

ANÁLISE TÉCNICA MODERNA E COMPARAÇÃO DE CICLOS:


O que a teoria de Elliott pode nos apontar sobre o Bitcoin?

Antes de atualizarmos essa métrica, vale lembrar que explicamos os principais pontos da
teoria de Elliot na edição anterior, então caso queria aprofundar nessa análise além dessa
atualização resumida, sugerimos que leia a sessão de Elliot da primeira edição do Telescó-
pio Cripto. (Especificar a página). Até agora trouxemos as seguintes possibilidades que os
padrões de Elliott apontam:

Na primeira hipótese que apresentamos na edição anterior do Telescópio, mostramos que


o Bitcoin poderia estar respeitando o padrão que sinaliza que ainda estamos em um ciclo de
alta. Sendo essa correção que vem desde a máxima histórica, estaria respeitando a onda 4
corretiva do ciclo de alta e poderíamos ver o início da onda cinco que levaria o preço a uma
nova máxima histórica e rompimento do topo da onda 3, a partir do rompimento da retração
de 0.618 do último movimento de alta na região dos $46.300. Confira no gráfico abaixo:
TELESCÓPIO CRIPTO 27

Fonte: TradingView

Na segunda possibilidade de formação, o Bitcoin já fez uma onda 5 falhada, sendo que essa
correção que o preço está fazendo desde a máxima histórica seria um padrão A, B, C de cor-
reção. Nesta hipótese, o movimento de alta que o Bitcoin fez indo nos $49.000 até o dia 10 de
Fevereiro foi a onda B do padrão de correção e nesse momento a onda C seria ativada.

Isso levaria ao rompimento da mínima de 2021 e confirmaria a tendência de baixa de longo


prazo, sendo que esse movimento poderia levar o preço do Bitcoin perto dos $20.000. Confira
no gráfico abaixo:

Fonte: TradingView

Agora gostaríamos de mostrar uma outra possibilidade aprofundando um pouco mais a


teoria de Elliott, citando a teoria da alternância e correções simples e complexas.

Elliott descobriu que as ondas corretivas podem ser simples ou complexas, isso serve para
dividir ainda mais a teoria. Se o mercado forma uma correção simples, o movimento a seguir
deve confirmá-la. Se a correção simples não for confirmada, significa que o mercado formou
uma correção complexa antes do início da próxima onda. Uma correção complexa exige
outra onda corretiva, enquanto uma simples exige que toda a correção seja concluída e uma
nova onda impulsiva seja iniciada.
Miramos em Marte 28

Já a teoria da alternância ressalta uma alternação nas correções da onda 2 e 4 que aconte-
cem dentro de um ciclo completo de alta respeitando o padrão de Elliott. Elas precisam ser
diferentes no tempo, formas e padrão. Confira na imagem abaixo:

No caso do Bitcoin, conseguimos aplicar os conceitos da regra da alternância, correções


simples e complexas no gráfico, confira abaixo:

Fonte: TradingView

Aplicando a teoria da alternância levantada por Elliott, identificamos que a maior probabili-
dade é que o Bitcoin esteja fazendo desde a máxima histórica uma onda corretiva 4, respei-
tando o padrão da correção complexa e a teoria da alternância. Sendo que neste momen-
to podemos considerar que dentro de todas as possibilidades que levantamos na primeira
edição e nesta, encontramos uma maior correlação do preço com a teoria apresentada neste
relatório. Mas não podemos deixar de considerar a possibilidade de uma correção ABC,
rompendo a mínima de 2021 enquanto o Bitcoin não romper a região que mencionamos em
outras teorias e que bate com as retrações de Fibonacci também usadas para confirmar pa-
drões.
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Com isso, podemos concluir que o Bitcoin ainda precisa romper a região dos $45.000 até
46.300 para confirmar que estamos em uma onda 4 corretiva complexa, respeitando a teoria
da alternância e com isso, iniciar a onda 5 rompendo a máxima histórica.

Já se o Bitcoin falhar na confirmação dessa onda 5 e romper a mínima de 2021, teremos uma
confirmação do segundo viés apresentado na edição anterior e com isso, a ação do preço
confirmaria a onda corretiva ABC e poderia buscar a região perto dos $20.000.

TEORIA DE WYCKOFF: É acumulação ou distribuição?

As conclusões referentes a essa teoria sofreram poucas mudanças da última edição até a-
gora, já que aplicamos o padrão em um contexto de mais longo prazo. Sendo assim, ainda
visualizamos uma formação dos dois padrões sem uma confirmação se estamos em uma
acumulação ou distribuição no momento. Por isso, é importante irmos atualizando essas
análises para identificarmos de forma assertiva a confirmação. Confira nos gráficos abaixo
uma atualização dos diagramas.

Acumulação. Fonte: TradingView

Distribuição. Fonte: TradingView


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Caso você não acompanhou a diagramação da primeira edição ou não entendeu ainda os
conceitos de Wyckoff, sugerimos que recorra à primeira edição do Telescópio Cripto. (citar a
página de Wyckoff)

Chegamos ao fim da nossa atualização dos principais conceitos da análise técnica aplica-
dos no gráfico do Bitcoin, mas afinal, o que podemos concluir com todas essas informações?

CONCLUSÃO FINAL DA ANÁLISE TÉCNICA

Após aplicar todos esses conceitos técnicos no gráfico do Bitcoin, entendemos que o Bitcoin
não reverteu a tendência de alta do longo prazo, os topos e fundos continuam ascendentes
e o preço respeita o último fundo do longo prazo. O volume não apontou uma agressão para
o lado oposto, a tendência de alta do longo prazo não foi substituída por uma oposta e conti-
nua respeitando a LTA de longo prazo.

Já as médias de 9 e 21 períodos ainda precisam ser superadas, mas podemos considerar que
ainda está dentro do prazo, já que em 2021 o preço ficou 10 semanas abaixo desse indicador
e depois o superou e renovou a sua máxima.

Casando tudo isso com a teoria de Elliott, identificamos que o preço continua respeitando o
ciclo de alta e respeita também a teoria da alternância, mas ainda precisa romper a região
das retrações de Fibonacci que tem confluência com a região de confirmação de rompimen-
to que mencionamos dentro da teoria das tendências primárias, secundárias e teoria das
médias móveis para confirmar o início da onda 5 que levaria o preço do Bitcoin para uma
nova máxima histórica. Essa região tensa de confirmação fica entre $45.000 e $46.300.

Agora levando em consideração o diagrama de Wyckoff, até o momento os diagramas de


acumulação e distribuição continuam em formação. Mas podemos apontar que a maior pro-
babilidade é que uma acumulação esteja sendo formada levando em conta as outras métri-
cas e consideramos que o rompimento da região de confirmação mencionado anteriormente
também pode ser aplicado para o diagrama de acumulação.

Então fica claro que o preço do Bitcoin ainda precisa passar por algumas provas entre o cur-
to e médio prazo e que não está fácil permanecer dentro da tendência de alta de longo prazo.

Não esqueçam que o acompanhamento dessas métricas nas próximas edições do Telescó-
pio tende a trazer confirmações. Então, fiquem ligados nessas métricas e próximas edições.
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ANÁLISE
QUANTITATIVA
Miramos em Marte 32

ANÁLISE QUANTITATIVA:

Para a seção de análise quantitativa para esta segunda edição do “Telescópio Cripto”, prepa-
ramos uma atualização do backtest da estratégia quantitativa da Criptomaníacos, que na
primeira edição foi feita para o par BTC/USD. Também apresentaremos o resultado para o
ethereum no par ETH/USD. Ao final da seção ao incluiremos uma análise relativa ao estado
de algumas criptomoedas do ponto de vista de sua utilidade como ativos para diversificação
de portfólio.

ATUALIZAÇÃO DA ANÁLISE DO BTC E ETH

Na primeira edição do “Telescópio Cripto”, tínhamos concluído que, segundo a estratégia


proprietária quantitativa da criptomaníacos, estávamos em estado de stop para o bitcoin, no
par BTC/USD, desde o final de Dezembro de 2021. Havíamos discutido na ocasião que apesar
de estarmos estopados no BTC, havia um claro viés de retomada da alta de preços, como fi-
cou caracterizado pelo fator aceleração.

A imagem que atualiza o resultado daquela análise se encontra na figura 2. Nela podemos
observar que o sinal quantitativo indicou uma reentrada no mercado no dia 26 de Fevereiro,
corroborando o viés de alta que havia sido obtido na análise da edição anterior. Consider-
amos portanto que estamos ativos no par BTC/USD a partir de então.

O mesmo não podemos dizer do par ETH-USD como podemos ver na figura 3, como indica
o platô horizontal na curva de retornos do BackTest representada na cor laranja na figura,
desde o início do ano. Estamos estopados em ETH/USD em todo o ano de 2022.

De forma análoga ao que ocorreu para o BTC na primeira edição do “Telescópio Cripto”, o
ETH se apresenta na iminência de indicar entrada, como pode ser visto na figura 1, onde a
curva preta, relativa ao fator velocidade, está quase entrando no terreno positivo. Para ETH,
entramos comprados no ativo quando ambos, fator aceleração e fator velocidade, são posi-
tivos.

Figura 1: Fatores V e A para ETH


TELESCÓPIO CRIPTO 33

Figura 2: Backtest BTC/USDT

Figura 3: Backtest BTC/USDT

Figura 4: Correlações variando com o tempo


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Figura 5: Betas de algumas criptos variando com o tempo

O PAPEL DAS CRIPTOMOEDAS NOS PORTFÓLIOS

Sabemos que existem três potenciais benefícios que a inclusão de alguma determinada
classe de ativos pode ter na construção de portfólios:

1. Proteção para inflação. Como o ouro, o bitcoin possui suprimento limitado, sugerindo que
ele possa oferecer alguma proteção para os efeitos da inflação.

2. Crescimento do valor da carteira como um todo devido à valorização de capital.

3. Diversificação de risco.

A seguir discutiremos em pormenor este último aspecto.

CRIPTOMOEDAS COMO DIVERSIFICADORES DE CARTEIRAS

Apesar de as criptomoedas terem demonstrado ao longo dos anos correlações bastante ins-
táveis relativamente às ações e títulos de renda fixa, elas são opções razoáveis para inclusão
em uma carteira de ativos para fins de diversificação. A figura (4) mostra como as correlações
de algumas importantes criptomoedas com o SPY (SPY é um Exchange Traded Fund - ETF
- associado ao índice S & P 500 americano). Observamos em primeiro lugar nessa imagem
a grande variabilidade das correlações mencionadas acima.
TELESCÓPIO CRIPTO 35

Podemos observar também um significativo aumento destas correlações relativamente ao


que eram imediatamente antes da crise de março de 2020. Apesar disso, estas correlações,
sempre variando entre -0.2 e 0.65, não são tão elevadas, de forma geral, a ponto de inviabi-
lizar as criptomoedas como ativos de diversificação, principalmente tendo em vista as ele-
vadas correlações entre os ativos tradicionais observadas nos últimos anos.

A correlação entre dois ativos é uma medida da tendência desses ativos se moverem em
“sincronia” entre si. Porém a correlação não nos fornece informação a respeito da inten-
sidade dos co-movimentos dos ativos. Por exemplo, uma coisa é dizer que em 80 % dos dias
o mercado americano anda na mesma direção do mercado brasileiro, interpretação típica
da métrica correlação. Outra coisa diferente é dizer, por exemplo, que quando o mercado
americano sobe 2%, a tendência é de o BTC subir duas vezes mais, ou seja, 4%. Essa métrica
que mede a sensibilidade de um ativo relativamente ao movimento de outro é denominada
de beta, representada pelo símbolo β. A figura 5 mostra como essa variável está mudando
com o tempo para algumas criptomoedas.

Observamos claramente a tendência de alta para os betas dos ativos, ao menos ao longo dos
últimos anos. Concluímos portanto que, após a crise de março de 2020, quando possuírem
betas maiores que 1, as criptomoedas tenderão a se moverem mais intensamente relativa-
mente aos ativos tradicionais representados pelo SPY.

CONCLUSÃO DA ANÁLISE QUANTITATIVA

Nesta seção quantitativa da segunda edição do “Telescópio Cripto”, atualizamos o estado das
estratégias quantitativas para BTC e ETH e vimos que estamos comprados no primeiro e o
último está na iminência de indicar o estado “comprado”.

A informação obtida através do β de um ativo é interessante para os momentos de tendência


bem determinada nos mercados. Uma vez que um estado de bull market seja identificado,
pode ser interessante incorporar na carteira ativos de beta maior que um.
O raciocínio reverso vale para os mercados de baixa, onde é interessante incorporar na cartei-
ra ativos de beta negativo ou pelo menos próximos de zero, uma vez que, suponhamos, você
tenha que manter posições no mercado por não querer ou não poder estopar.
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CONCLUSÃO
Como é possível ver, os conflitos armados tiveram relevante papel para a variação de preços
do bitcoin. Os próximos passos dos países envolvidos em combates devem continuar a pautar
os movimentos de mercado. Junto a isso, nas próximas edições teremos mais informações
e anúncios sobre as taxas de juros pelo FED, mencionado em nosso relatório de Fevereiro.

Apesar de tudo, ao analisarmos as métricas da rede do bitcoin, ela está saudável. Pudemos
ainda inferir uma certa correlação entre os mercados de ativos de risco e o bitcoin, o que
será monitorado em relatórios futuros.

Em um mundo de cada vez mais receios e incertezas, o bitcoin reforça seu papel na luta pela
liberdade contra a censura e opressão. Se a confiança do povo em seus líderes vai ficando
mais fraca, mais forte vai ficando o argumento de uso do principal ativo do mercado e as
moedas alternativas para o amanhã, que se apresenta incerto.

Acompanharemos e atualizaremos o cenário a vir, com esperanças de tréguas e acordos de


paz. Na verdade, assim como Jack Dorsey disse no ano passado na Conferência The B Word,
a esperança é que o bitcoin possa ajudar a trazer a paz mundial, já que tira o controle finan-
ceiro dos tiranos, dando-o ao povo.

Nos vemos em breve!


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REFERÊNCIAS
Bloqueio ao Swift traz corrida bancária e escassez de dólares à Rússia.
Valor Investe, 27 fev. 2022. Acesso em: 01 Mar. 2022.

Teoria das Ondas de Elliott: Guia de Iniciação. Priceaction.pt, 20 Jan. 2022. Acesso em: 01
Mar. 2022.

Joe Biden diz que ameaça de invasão da Ucrânia é muito alta e que Rússia pode usar um
ataque simulado para justificar operação. G1, 17 Fev. 2022. Acesso em: 01 Mar. 2022.

Souza, Renan. Wiltgen Julia. Após euforia inicial com decisão do Fed, bolsas em NY azedam
com fala de Powell, mas Ibovespa se mantém em alta. Seu Dinheiro, 26 Jan. 2022.
Acesso em: 01 Mar. 2022.

Ferreira, Gustavo. Bitcoin acompanha queda das bombas lançadas pela Rússia na Ucrânia.
Valor Investe, 24 Fev. 2022. Acesso em: 01 Mar. 2022.

EUA dizem que Rússia está pronta para atacar Ucrânia ‘a qualquer momento’.
Uol Notícias, 24 Jan. 2022. Acesso em: 01 Mar. 2022.

Gimenes, Diego. O pior janeiro de todos: a apreensão do mercado para a reunião do Fed
Veja, 24 Jan. 2022. Acesso em: 01 Mar. 2022.

Ferreira, Gustavo. Das bolsas ao bitcoin, mercado de risco treme à espera do BC dos EUA.
Valor Investe, 24 Jan. 2022. Acesso em: 01 Mar. 2022.

Ossinger, Joana. Bitcoin derrete mais de 20% e testa ‘sangue frio’ de investidor cripto.
Bloomberg Línea, 04 Dez. 2021. Acesso em: 01 Mar. 2022.

Bertrand, Natasha. Herb, Jeremy. Inteligência dos EUA indica que Rússia prepara ação para
justificar invasão da Ucrânia. CNN Internacional, 14 Jan. 2022. Acesso em: 01 Mar. 2022.

Biden anuncia primeiro pacote de sanções dos EUA à Rússia e diz que invasão da Ucrânia
está “no início”. InfoMoney, 22 Fev. 2022. Acesso em: 01 Mar. 2022.
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AUTORES
Guilherme Rennó Matheus Parizotto
Fundador e CEO Analista de mercado e
portfolio manager

Bruno Prazeres Renato Santos, PhD


Analista técnico Analista quantitativo

Fabrício Santos
Analista de Conteúdo

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screvem, de maneira independente e sem nenhum direcionamento ou imposição sobre as
conclusões apresentadas.

Este relatório tem mero caráter informativo e educacional, não servindo de recomendação
de compra ou venda para nenhum ativo.

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Fevereiro de 2022

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