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UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA

SCHAYENA CORREA

A PRESENÇA DAS CRIPTOMOEDAS NO SISTEMA MONETÁRIO


INTERNACIONAL E SUA RELAÇÃO COM OS ESTADOS

Florianópolis
2018
SCHAYENA CORREA

A PRESENÇA DAS CRIPTOMOEDAS NO SISTEMA MONETÁRIO


INTERNACIONAL E SUA RELAÇÃO COM OS ESTADOS

Projeto de Pesquisa apresentado ao Curso de


Relações Internacionais, da Universidade do
Sul de Santa Catarina, como requisito para
obtenção do título de Bacharel em Relações
Internacionais.

Orientador: Prof. Dr. Ricardo Neumann

Florianópolis
2018

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AGRADECIMENTOS

Aos meus pais, Afonso e Elizete que sempre me ensinaram que o estudo e a
educação são a base de tudo. Sempre me incentivaram para o caminho do conhecimento e da
dedicação. Agradeço à eles pelo apoio, por me darem a oportunidade de estudo, pela
construção da nossa família e por tudo o que fizeram e fazem por mim. Não há palavras que
consigam expressar a tamanha gratidão.
Agradeço à minha irmã Kézily que sempre me apoiou e esteve ao meu lado
compartilhando seu conhecimento. Grata por ser a pessoa que sempre ouviu minhas
reclamações, que me incentiva e que sempre tentou encontrar uma solução para que tudo
desse certo. Obrigada por sempre estar ao meu lado.
Ao meu namorado Raphael, pela paciência em me ouvir e pelo incentivo a nunca
desistir. Grata pela compreensão e por ser a pessoa que me faz enxergar otimismo. Apesar da
distância, sempre me apoiou a continuar o curso que sempre quis, me ajudando no que era
necessário. Obrigada por estar presente, mesmo estando distante.
Ao meu orientador Ricardo, agradeço muito. Professor e doutor que consegue
repassar seus conhecimentos de forma clara, sempre aceitando a opinião alheia e ajudando
quando necessário. O interesse pela busca das fontes iniciais, o apoio ao tema escolhido por
mim, como também a abertura de conhecimento e ideias de assuntos a serem abordados sobre
as criptomoedas, fez com que eu tivesse mais segurança para produzir o trabalho. Obrigada
por ter aceitado ser meu orientador e por todo o ensinamento, que foram muitos ao longo do
curso.
Agradeço aos meus amigos pela compreensão e pelo interesse por meu trabalho em
que demonstraram ter. Obrigada por permanecerem ao meu lado mesmo quando não pude dar
total atenção e, também, pelo apoio de sempre, pois fico feliz em poder compartilhar
momentos como esse com pessoas assim.
Obrigada à banca, pelo tempo dedicado e atenção a este trabalho. Agradeço também
a todos que estão lendo e a todos que de certa forma ajudaram na construção deste trabalho.

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“A mind needs books like a sword needs a whetstone, if it is to keep its edge".
(George R.R.Martin)

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RESUMO

A presente monografia tem como objetivo principal analisar as criptomoedas em relação aos
Estados, e para isso, inicialmente apresentamos a história do Sistema Monetário Internacional,
abordando temas como o Padrão Ouro, crise de 1929 e Bretton Woods. Além disso, é
abordado o conceito das moedas virtuais e sua origem, onde Satoshi Nakamoto o criou em
2008 através das ideias de Wei Dai, e por último, a presença das criptomoedas no Sistema
Monetário Internacional, abordando questões como as suas vantagens e desvantagens,
segurança, perspectivas de mercado, como também, a questão da regulamentação das moedas
virtuais frente aos Estados, visando a possível criação de uma nova ordem internacional,
justamente por ser um novo meio de trocas criado através de tecnologia que a Globalização
trouxe ao sistema.

Palavras-chave: ​Sistema Monetário Internacional. Criptomoedas. Bitcoin. Estados.

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ABSTRACT

The main objective of this monograph is to analyze the crypto-coins in relation to the states,
and for this, we first present the history of the International Monetary System, addressing
topics such as the Gold Standard, the 1929 crisis and Bretton Woods. In addition, the concept
of virtual currencies and their origin, where Satoshi Nakamoto created it in 2008 through the
ideas of Wei Dai, and the presence of the crypto-coins in the International Monetary System,
addresses issues such as their advantages and disadvantages, security, market perspectives, as
well as the issue of regulating virtual currencies against the states, aiming at the possible
creation of a new international order, precisely because it is a new means of exchange created
through technology that Globalization has brought to the system.

Keywords: International Monetary System. Cryptocurrency. Bitcoin. States.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO 8

1.1 JUSTIFICATIVA 10

1.2 OBJETIVOS 10

2 CONCEITUAL TEÓRICO 12

3 METODOLOGIA 23

4 A HISTÓRIA DO SISTEMA MONETÁRIO INTERNACIONAL 25

4.1 PADRÃO OURO 26

5 A HISTÓRIA DAS CRIPTOMOEDAS 35

5.1 TRANSAÇÕES DAS MOEDAS VIRTUAIS 38

5.2 MINERAÇÃO DAS CRIPTOMOEDAS 40

6 ANÁLISE DAS CRIPTOMOEDAS NO SISTEMA INTERNACIONAL 44

6.1 VANTAGENS 44

6.2 DESVANTAGENS 46

6.3 PERSPECTIVAS DO MERCADO 58

6.4 AS CRIPTOMOEDAS NO SISTEMA MONETÁRIO E A SUA RELAÇÃO COM


OS ESTADOS 62

7 CONCLUSÃO 81

REFERÊNCIAS 83

7
1 INTRODUÇÃO

Analisaremos as moedas virtuais no Sistema Monetário Internacional frente aos


Estados, com o objetivo de compreender a história do Sistema Monetário e como as
criptomoedas surgiram. Através dos textos de Krugman e Gilpin, abordamos a questão dos
princípios do Sistema Monetário Internacional, iniciando pela descoberta do ouro e da prata
nas Américas que foi o período onde a relação do Estado com a economia começou a se
desenvolver, dando o início à criação da sua própria moeda, porém, iniciando juntamente a
inflação e desequilíbrio monetário.
Após esta Revolução Financeira com a criação da própria moeda como meio de
troca, surgiu o Padrão Ouro, vindo como uma representação entre o dilema de autonomia
econômica interna contra a estabilidade econômica internacional, pois o padrão ouro visava a
relação da moeda com os níveis de preço, ou seja, os bancos centrais dos países possuíam
reservas de ouro e essa quantidade determinava sua oferta monetária, se ofertasse pouco, o
mercado ficaria mais caro, e caso o contrário, o mercado ficaria mais barato.
Com a Primeira Guerra Mundial veio o fim dessa era econômica, pois foram
surgindo várias indústrias, além do declínio da hegemonia britânica, que tiveram seu impacto
sobre o Sistema Monetário fazendo com que houvesse uma mudança dentro do sistema do
Estado em si, impactando diretamente no sistema internacional, pois era o Estado hegemônico
que possuía o maior controle sobre o sistema monetário. Com o caos total causado pela guerra
e os países da Europa quebrados tentando se recuperar, surgiu a “dependência” dos
suprimentos dos Estados Unidos.
Com a Grã Bretanha em declínio e os EUA tomando o seu lugar, iniciou-se em 1920
uma euforia em que grandes investidores passaram a investir em títulos na Bolsa de Valores,
grandes empresas surgiram e houve grande consumo dos americanos. Em consequência da
especulação do mercado financeiro e da crise de superprodução, surgiu a Crise de 29, que
afetou todos os outros Estados sendo considerada a pior crise do capitalismo.
Após a Segunda Guerra Mundial, os Estados Unidos tomou como um interesse a
reconstrução da Europa e dos países devastados pela guerra e, conforme Alexsandro Eugenio

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Pereira em sua análise na pesquisa “Três Perspectivas sobre a Política Externa dos Estados
Unidos: Poder, dominação e hegemonia”, os Estados Unidos surgiram como uma grande
potência industrial do mundo, mas com problemas econômicos, como por exemplo a falta de
demanda efetiva, pois como a Europa Ocidental e o Leste da Ásia estavam em declínio
econômico e crises financeiras, o interesse dos EUA era a reconstrução para aumentar suas
demandas e assim obter maior poder dentro do Sistema Monetário Internacional.
Para melhorar o Sistema Monetário Internacional, grande parte dos Estados se
uniram e então, surgiu a criação dos Acordos de Bretton Woods, um esquema do Sistema
Monetário Internacional após a Segunda Guerra. O sistema financeiro que surgia desses
acordos era muito favorável aos Estados Unidos, tanto que sua hegemonia iniciou-se com a
transformação do dólar como a moeda forte do Sistema Monetário Internacional. Além disso,
com as conferências de Bretton Woods, surgiu também a criação de instituições financeiras
como o Fundo Monetário Internacional e o Banco Internacional para Reconstrução e
Desenvolvimento (atualmente, renomeado para Banco Mundial), com o objetivo de ajudar na
reconstrução do sistema financeiro. Segundo Pereira (2011, p. 242), a criação destas
instituições levou a uma expansão do mercado internacional e uma maior interdependência
econômica dos países. Estes fatos podem ser considerados como um dos dois momentos
históricos sobre a hegemonia.
Após compreender o estudo e a história do Sistema Monetário Internacional,
abordaremos a origem das criptomoedas tendo um foco maior no Bitcoin, já que é a moeda
digital mais conhecida e utilizada atualmente. Portanto, abordamos o que são as criptomoedas,
que, com a globalização e maior desenvolvimento tecnológico ao longo dos anos, a criação de
moedas descentralizadas trouxe um novo jeito de transacionar e fazer trocas no Sistema
Monetário Internacional. Assim, abordamos como elas e suas transações funcionam, como
também a mineração, que envolve sua criação e o desenvolvimento no sistema monetário.
Com base no estudo sobre a história do Sistema Monetário Internacional, como as
moedas foram surgindo e como as criptomoedas ganharam espaço dentro dos mercados
internacionais, apresentaremos as vantagens e desvantagens das criptomoedas, como seu
benefício por ser uma moeda descentralizada, a inovação que trouxe para o mercado através

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da tecnologia, como também seu uso para fins escusos, como forma de “troca proibida”,
segurança e problemas macroeconômicos. Além disso, apresentamos as perspectivas de
mercado e como a maioria dos Estados lidam com as moedas virtuais (regulamentação), que
em alguns Estados aprovam e outros, nem tanto. Por fim, analisamos as criptomoedas no
Sistema Monetário Internacional e qual a melhor forma da sua utilização no Sistema, visto
que é uma moeda descentralizada e sem um poder de controle estatal.

1.1 JUSTIFICATIVA

O interesse por esse estudo surge durante as aulas do curso de Relações


Internacionais, pois a economia internacional é sempre muito discutida em sala de aula. O
surgimento das criptomoedas, principalmente o Bitcoin, desperta uma curiosidade sobre a
importância das moedas digitais em relação aos Estados no Sistema Internacional, por ser
uma moeda digital autônoma, e além disso, o ineditismo do estudo desse tema ainda pouco
abordado na área de Relações Internacionais (visto que é um assunto novo ao mundo dos
pesquisadores) fez com que despertasse maior interesse pela pesquisa. Acreditamos ser um
estudo importante para a área para se ter o conhecimento e analisar até onde este “modelo”
atual do Sistema Monetário Internacional chegará, com o funcionamento de uma nova forma
de transações que surgiu através de tecnologia.
Para justificar tal estudo, primeiramente é importante compreender o Sistema
Monetário Internacional e como surgiu a história das moedas até os tempos de hoje, visto que
ao longo do tempo, com a globalização e com o avanço da tecnologia surge a criação das
criptomoedas (Satoshi Nakamoto desenvolveu em 2009 o Bitcoin, a criptomoeda mais
utilizada no mundo), onde as mesmas transformaram as relações e assim empolgando muitos
e recebendo críticas de outros. O surgimento destas moedas e seus usos como também
críticas, despertou o interesse para expor a pesquisa sobre o assunto e fazer com que os
leitores tenham conhecimento sobre esta relação dos Estados com as criptomoedas, por ser
uma moeda descentralizada e nova para o sistema. Nesse sentido, a construção do estudo tem
como objetivo final analisar a relação das criptomoedas com os Estados dentro do Sistema
Monetário Internacional.

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1.2 OBJETIVOS

Os objetivos deste presente trabalho são:

1.2.1 Geral

Analisar as moedas virtuais no Sistema Monetário Internacional relacionando as


mesmas aos Estados.

1.2.2 Específicos

● Apresentar o Sistema Monetário Internacional na História desde a era do


mercantilismo até o Plano Marshall;
● Explicar a origem das moedas virtuais e como elas funcionam;
● Compreender o uso das criptomoedas no Sistema Monetário Internacional e sua
regulamentação frente aos Estados.

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2 REFERENCIAL TEÓRICO

Referente aos capítulos da monografia que serão apresentados, explicaremos a visão


dos autores utilizados e abordagens do tema, para assim entendermos o processo do
desenvolvimento das ideias e teorias que serão apresentadas ao longo do trabalho, como
também, o conhecimento referente ao tema proposto: a relação das criptomoedas com os
Estados.
Referente ao primeiro capítulo, ​observamos a ideia de Sistema Monetário
Internacional através da obra de Robert Gilpin chamada, “A Economia Política das Relações
Internacionais”, apresentando a relação entre o Estado e o mercado, ele inicia seu estudo do
Sistema Monetário Internacional no período pré-moderno, apresentando os modelos de trocas
na época e colocando o ouro e a prata como os principais meios de troca na sociedade, ao
invés do dinheiro como é atualmente. A ideia do autor é que no início do Sistema Monetário
Internacional não havia tanto interesse político, porém, isso mudou no século XVI e XVII
com a descoberta do ouro e da prata nas Américas, e assim surge “dinheiro político”, o início
da relação entre o dinheiro, Estado, política e soberania. Inicia-se desta forma a grande
história e desenvolvimento do Sistema Monetário Internacional.
Para entender melhor o funcionamento do Sistema Monetário Internacional,
estudaremos o período conhecido como mercantilismo. Para iniciar este estudo, Carlos
Eduardo Suprinyak contribui para esta presente pesquisa através da obra “Moeda, Tesouro e
Riqueza: Uma anatomia conceitual do mercantilismo Britânico do início do século XVII”.
O início de tudo, de todo esse sistema em que vivemos atualmente, se inicia com o
escambo, que era a troca de mercadorias por mercadorias. Porém, com um maior movimento
e transações entre as pessoas, conforme a população ia crescendo, o meio de troca através do
escambo se torna algo difícil a ser controlado entre a população. Portanto, para facilitar,
inicia-se então um novo modelo de trocas no Sistema Monetário Internacional, que é o padrão
de valor.. Conforme o estudo de Suprinyak, as “transações comerciais de dimensões variáveis
justificam a utilização de mais de um metal como padrão de valor” (2009, p. 580), e então,
inicia-se o Padrão Ouro como um meio de troca no Sistema Monetário Internacional.

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No estudo referente ao Padrão Ouro, o Sistema Monetário que iniciou-se no século
XIX e que deu uma definição para o valor da moeda, relacionando-a com os níveis de preço e
iniciando uma circulação monetária (ouro e prata), Gilpin em sua obra, “A Economia Política
das Relações Internacionais”, acredita que esse sistema solucionou o problema da autonomia
econômica interna contra a estabilidade econômica internacional. O autor cita que as
principais características que garantiam a regulação desse sistema era o Banco Central
britânico, que podia agir e intervir livremente sobre os preços; e os indivíduos que podiam
importar e exportar ouro livremente, fazendo assim com que a economia sempre estivesse
com um fluxo contínuo.
Ainda no conceito de Gilpin, devido a hegemonia da Grã Bretanha no sistema
internacional, o Banco da Inglaterra podia manipular o fluxo de ouro entre os Estados,
fazendo da Inglaterra a “tutora” do Sistema Monetário Internacional. Neste período, a libra
esterlina ficou muito conhecida e dominou o mercado financeiro mundial. Com isso podemos
perceber que a Grã Bretanha com uma corrente liberal, era a hegemonia no sistema e a libra
esterlina era a moeda dominante no mundo, possuindo muita influência sobre o Sistema
Monetário Internacional como um meio de troca de mercadorias. Podemos comparar esse fato
histórico com o cenário atual, onde os Estados Unidos se tornaram a hegemonia no Sistema
Monetário Internacional, tendo o dólar (a moeda oficial do território) como principal meio de
troca de mercadorias e fluxo monetário do mundo todo.
Portanto, houve um declínio da hegemonia britânica, e segundo a ideia de Gilpin, o
motivo foi o surgimento das novas indústrias e a ascendência dos EUA, iniciando uma maior
abertura de mercado ganhando mais espaço no Sistema Internacional; porém, mesmo com o
declínio, a Grã Bretanha ainda possuía uma influência financeira internacional. O autor afirma
que a Primeira Guerra Mundial, foi o fim do Padrão Ouro e dessa era econômica de
hegemonia britânica. Porém, trouxe ao mundo o caos monetário e econômico durante as três
décadas seguidas.
Em relação a Primeira Guerra Mundial, o autor traz o debate sobre as consequências
da guerra para o Sistema Monetário Internacional, em que o que ganha mais destaque é a

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nacionalização do Sistema Monetário. Gilpin cita que as pessoas começaram a proteger suas
reservas de ouro por conta do caos da guerra e abandonaram o sistema de taxa de câmbio.
Para fazer a discussão a partir da Primeira Guerra Mundial também, trazemos para
nossa pesquisa Krugman e Obstfeld em sua obra, “Economia Internacional, Teoria e Política”,
onde o autor complementa a ideia de Gilpin citando que na Primeira Guerra Mundial, por
consequência do caos, a mão de obra e a capacidade produtiva reduziram drasticamente e,
com isso, a oferta ficou menor que a demanda e consequentemente os preços aumentaram em
todos os lugares no final da guerra. Krugman e Obstfeld complementa ainda a fala de Gilpin,
pois as pessoas estavam com receio de investir e comprar algo que não era necessário e a mão
de obra era encontrada com mais dificuldade por conta do cenário em que o mundo estava
vivendo (oferta menor que a demanda). A produção não era suficiente para a população e os
preços aumentaram por causa da busca de produtos necessários, porém as pessoas também
possuíam suas reservas e as protegiam pela insegurança em que o mundo estava vivendo.
Desde então, a inflação veio para o Sistema Monetário Internacional atingindo
principalmente a Alemanha. Segundo Krugman e Obstfeld, após a guerra e com o Tratado de
Versalhes, o país ficou com dívidas absurdas. Junto a um sistema instável, inflações, e caos
monetário, iniciou-se a Grande Depressão de 1929 que, ainda segundo Krugman e Obstfeld,
surgiu pela quebra da Bolsa de Valores de Nova Iorque e a consequente falência de bancos no
mundo todo. Esta turbulência continuou ainda até o início da Segunda Guerra Mundial.
Para discutir sobre os Acordos de Bretton Woods trazemos Krugman e Obstfeld
novamente, que discutem o cenário em que os países estavam vivendo após as guerras com a
ideia de que era vantajoso o livre comércio para todos. Assim, com acordos e cooperação
seria muito mais fácil para os países saírem da situação monetária em que se encontravam.
Vale ressaltar que era um projeto Norte-Americano para a criação de uma instituição ou órgão
que pudesse evitar mudanças cambiais drasticamente, com a ideia do dólar ser a moeda forte e
fixa no mundo, tornando-se um padrão monetário internacional. Para os autores, a vontade
norte americana que fez com que os Acordos de Bretton Woods acontecessem.
Com este capítulo conseguimos enxergar a hegemonia norte-americana, pois os
mesmos passaram a ajudar os países mais endividados (principalmente Japão e Europa)

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oferecendo crédito e, de acordo com a afirmação de Krugman e Obstfeld, o maior problema
para estes países foi adquirir dólares suficientes para financiar as compras ou dívidas que
fizeram com os Estados Unidos. De acordo ainda com os autores, foi nessa época em que
criou-se o Plano Marshall que ajudou os EUA a limitarem a escassez do dólar. Tendo o
conhecimento de Krugman e Obstfeld, podemos enxergar a hegemonia dos EUA como o
controle do Sistema Monetário Internacional em suas mãos.
Para iniciarmos o estudo sobre as Criptomoedas, começamos citando a ideia e
propósito de Wei Dai, através do site Wirdum, e do autor Rocha (2018), que explicam de
onde surgiu a ideia da criptografia. Wei Dai foi quem criou uma biblioteca para algoritmos
criptográficos, e segundo seu site, foi também quem defendeu a existência de uma rede não
rastreável.
Inspirado na ideia de Dai, citamos Nakamoto (vale ressaltar que é um nome fictício),
o criador da primeira moeda virtual, criptografada, onde através do seu artigo “Bitcoin: A
Peer-to-Peer Electronic Cash System”, podemos observar as questões do meio de pagamento.
Segundo o autor, o comércio na Internet passou a depender das instituições financeiras, como
os bancos por exemplo. Satoshi Nakamoto critica o sistema dizendo que enquanto o sistema
funciona muito bem, sendo suficiente para a população, mas na maioria das transações ainda
há problema com a questão da confiança; outra crítica também é o custo que aumenta
justamente por possuir esse intermediário entre as transações.
Desta forma, através das ideias e críticas iniciais de Satoshi Nakamoto, observamos
como o autor percebe a necessidade da criação de um sistema de pagamento eletrônico que
fosse baseado em criptografias (códigos), que seria um meio mais confiável se tratando de
negociações, além da independência do pagamento sem precisar de um terceiro (como
bancos, cooperativas, etc), se tornando algo mais seguro para as partes envolvidas na
negociação.
Para explicar o que são as moedas virtuais, iniciamos com a autora Beate Sauer
através do seu artigo “Virtual Currencies, the Money Market, and Monetary Policy”, onde ele
afirma que as moedas virtuais são como o dinheiro, mas seu funcionamento é totalmente
virtual. Além disso, Sauer cita que o sistema das criptomoedas funciona com base na

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confiança, que segundo o site Bitcoin (2018), vem do fato da moeda ser transparente, pois as
transações podem ser vistas online.
Para explicar a origem das criptomoedas Sauer explica que as mesmas surgiram
através de jogos online, ou seja, era utilizado para fazer compras dentro de jogos. A primeira
vez em que as moedas virtuais tiveram contato com o mundo monetário real, foi quando os
jogadores decidiram trocar suas criptomoedas por dinheiro real. Segundo a afirmação de
Sputnik (2018), as moedas virtuais vieram ao sistema para abrir maior espaço e possibilidade
financeira para as pessoas e empresas.
Entre os tipos de criptomoedas e quais são, citamos Sputnik (2018) que afirma que
entre as moedas mais utilizadas são o Bitcoin, Ethereum, Litecoin, Stellar, Zcash e Riple,
cada uma com as suas particularidades, porém, com o mesmo objetivo de ser um dinheiro
digital não rastreável e de livre circulação.
Através de uma base sobre o que são criptomoedas e como foram criadas, discutimos
sobre a primeira moeda virtual criada por Satoshi Nakamoto, o Bitcoin, trazendo Fernando
Ulrich, que é considerado o maior especialista em criptomoedas no Brasil, para o debate na
pesquisa através do livro “Bitcoin: A Moeda na Era Digital”. Para o autor, a invenção do
Bitcoin é considerada como uma revolução, pois pela primeira vez na história do Sistema
Monetário Internacional o problema do gasto duplo pode ser resolvido sem a necessidade de
um terceiro. Isso se tem presente, pois todas as transações do Bitcoin são registradas no
Blockchain, uma espécie de “Carteira Digital”, que “é um grande banco de dados público,
contendo o histórico de todas as transações realizadas.” (Ulrich, 2014, p. 18).
Mas, como o Bitcoin funciona? Segundo Ulrich, o valor da moeda não deriva do
ouro ou de algum meio governamental, mas sim, do valor que as pessoas dão para a moeda. O
valor em reais de um Bitcoin, por exemplo, é determinado em um mercado aberto da mesma
forma que são estabelecidas as taxas de câmbio entre diferentes moedas mundiais. Além
disso, Ulrich explica que as transações feitas com Bitcoin, são verificadas por meio de
inteligência criptográfica de chave pública (computadores), sendo expostas em carteiras
públicas, como em determinados sites.

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Nakamoto explica em seu artigo (2008, p. 1) que as moedas são geradas por bancos,
que são utilizadas no meio social e econômico e que sempre voltam ao banco. Porém, como
as criptomoedas são descentralizadas e um dos seus princípios é a não utilização dos bancos,
Nakamoto tem a ideia de criar a mineração das moedas.
Para explicarmos sobre a mineração, citamos Hayes através do seu artigo
“Cryptocurrency Value Formation: An empirical study leading to a cost of production model
for valuing Bitcoin, Telematics and Informatics” do ano de 2016, afirmando que a mineração
é realizada por indivíduos ou empresas que participam com o intuito de ganhar benefícios, ou
seja, ganhar moedas virtuais como o Bitcoin. Para isso, o indivíduo ou a empresa necessita de
computadores muito potentes, que podem ser medidas por hashes por segundo, o que significa
o poder de processamento durante a mineração. Quanto mais potente for o computador
(sistema) mais chances de gerar e ganhar maior quantidade de Bitcoins. Para sabermos quanto
de recompensa que o minerador ganha, citamos Houy, através do seu artigo “The Bitcoin
mining game” feito no ano de 2014, onde ele cita que a recompensa é de ​25 BTC (Bitcoins)
por bloco gerado e, além disso, há uma limitação para gerar Bitcoins, que é até atingir
21.000.000, com recompensa de 0,1 Bitcoin por transação.
Ainda sobre a mineração, Nakamoto cita em seu artigo (2008, p. 4) que a primeira
transação em um bloco é especial porque inicia uma nova moeda que pertence ao minerador.
E segundo o autor, isso serve como um incentivo como uma forma de distribuição inicial da
moeda em circulação. Nakamoto também explica que com essa forma de mineração há menor
gasto do que os mineradores de ouro (que colocam as moedas em circulação), visto que os
gastos da mineração de criptomoedas é apenas o tempo em que o computador fica na energia.
Os autores O'Dwyer e Malone, através do artigo “​Bitcoin Mining and its Energy
Footprint” de 2014, citam que o Bitcoin é semelhante a outras moedas, pelas taxas flutuantes.
Segundo os autores, ​se o valor de um Bitcoin é menor que o custo da energia que foi gasto
para gerá-lo, então há um desincentivo para continuar a mineração, pois assim gastaria mais
com a energia de todo o processamento do que ganharia Bitcoins. Portanto, para eles, o custo
de energia acaba sendo uma limitação.

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Sobre a questão da privacidade, Nakamoto (2008, p. 6) cita que o modelo bancário
tradicional atinge um nível alto de privacidade visto que limita o acesso às informações das
partes envolvidas. Porém, com as moedas virtuais há a necessidade de anunciar todas as
transações, mas com os dados dos envolvidos anônimos.
Para iniciarmos o estudo sobre as criptomoedas e os Estados, começamos
apresentando as vantagens das moedas virtuais citando Conti através do seu artigo “A Survey
on Security and Privacy Issues of Bitcoin”. Entre as vantagens o autor cita que nenhuma
autoridade central pode manipular as moedas virtuais por serem descentralizadas; há também
a questão da isenção de taxas de imposto sobre a moeda e resistência ao roubo.
Além dos benefícios, as criptomoedas também possuem seus desafios. O autor Conti
(2018, p. 10) afirma em seu artigo “A Survey on Security and Privacy Issues of Bitcoin” que
uma das desvantagens das moedas é o alto consumo de energia. Outras questões abordadas
são a possibilidade de perder a chave de acesso da carteira virtual; e a facilitação da atividade
criminosa.
Entre as questões como a segurança, Ulrich em seu livro, “Bitcoin - A Moeda na Era
Digital”, cita que é muito difícil permanecer anônimo na rede das criptomoedas. Para Souza,
em seu artigo “Território das criptomoedas: limites à regulamentação estatal quanto à
circulação de moedas no ciberespaço e possíveis alternativas” de 2017, as criptomoedas não
seguem regras de uma política monetária específica e, por isso, não é necessário a autorização
de qualquer terceiro, como os bancos para realizar transações.
Sobre o uso das criptomoedas para fins escusos, iniciamos abordando o tema dos
gastos duplos, ou seja, quando o usuário faz transações com as mesmas moedas. Conti (2018,
p. 13) explica como funcionam os gastos duplos e afirma que um dos pontos a se destacar é a
questão do minerador, pois, se ele pode minerar blocos com uma taxa mais rápida do que o
resto da rede das moedas virtuais, há maior possibilidade de acontecer um ataque de gasto
duplo. Porém, o autor cita que há uma solução, que seria a utilização do algoritmo baseado em
Prova de Trabalho (PoW), que limita a capacidade computacional do “adversário”
Além dos gastos duplos, Conti (2018, p. 15) explica que há a ameaça de segurança
dos clientes, pois com o aumento de utilização do Bitcoin, por exemplo, incentivou muitas

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pessoas a fazerem parte do sistema. Portanto, ainda segundo o autor, é necessário ter cuidado
com a chave de segurança para entrar na carteira virtual, pois caso for perdido, todas as
criptomoedas são perdidas definitivamente e com o maior número de usuários, a chance de
algum problema acontecer é maior, como o caso de hackers. Entre os ataques à redes, Conti
(2018) cita os principais, que são: ​DDoS (Distributed Denial-of-Service - Negação de Serviço
Distribuída), em que os hackers possuem alvo nas trocas das moedas; o maior ataque ao
sistema da história, segundo Conti, foi com o alvo MtGox que, com muito esforço dos
hackers, perderam muitos Bitcoins; houve também o Silk Road, o ataque a segurança do
sistema em que foi considerado o maior mercado anônimo online do mundo mas, que ficou
conhecido pela quantidade de drogas.
Entre os desafios, há também os problemas macroeconômicos, onde as moedas
virtuais enfrentam desafio da sua utilização a longo prazo. Segundo Ali (2014, p. 281) em seu
artigo “The economics of digital currencies”, as moedas digitais dificilmente serão utilizadas
como a moeda mais forte, pois o autor acredita que o que falta no sistema das criptomoedas é
a questão da oferta pré-determinada, ou seja, as moedas possuem muita variação cambial, o
que acaba afetando na hora da compra. Porém, o autor afirma que é aceitável alguma
instituição financeira que possa emitir notas ao público e que sejam denominadas em moedas
digitais, fazendo com que o sistema bancário seja baseado em criptomoedas.
Referente às perspectivas de mercado das moedas digitais, Ali (2014, p. 279) afirma
que as mesmas cumprem seu papel de dinheiro, mas até um certo ponto. ​Uma característica
significativa das moedas digitais, conforme a afirmação de Ali (2014, p. 281), como também
o principal fator de interesse dos varejistas em aceitá-las como pagamento e transações, é a
promessa de baixas taxas de transação. Isso acaba sendo um benefício em relação às outras
moedas existentes no mercado e faz com que os usuários prefiram fazer transações em
moedas virtuais.
Ainda sobre as perspectivas e mercado, utilizamos as pesquisas de Bastiani (2018),
onde a mesma afirma que o preço do Bitcoin pode chegar a 98 mil dólares nos próximos 5
anos, especulações bem otimistas para os próximos anos. Frazzon, um economista e analista

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de investimentos afirma que atualmente, o Bitcoin é uma das melhores moedas para investir
no mercado.
Após a pesquisa sobre as criptomoedas, iniciamos o estudo sobre as mesmas no
Sistema Monetário Internacional e a sua relação com os Estados. Conforme Andrade, através
do seu artigo “Tratamento jurídico das criptomoedas: a dinâmica dos Bitcoins e o crime de
lavagem de dinheiro”, as criptomoedas passaram a ter uma grande presença no mundo virtual,
justamente por ser uma tecnologia nova de trocas e transações. Na abordagem sobre os
monopólios de bancos, Andrade cita que isso fez com que os governos fossem capazes de
utilizar a inflação como um mecanismo para as suas políticas financeiras.
Abordamos a questão das instituições, e conforme ​Camenisch (2018, p. 208-209)
através do seu artigo “Compact E-Cash” afirma que o sistema de pagamento que conhecemos
possui três órgãos, que é o banco, o cliente e a loja. Souza (2017, p. 65) explica que os bancos
são instituições que seguem legislações e que podem sofrer intervenção de autoridades
(Estado), diferentemente do sistema das criptomoedas. Além disso, o autor cita a
característica do sistema controlador dos Bancos são incompatíveis com as moedas virtuais.
Para Andrade, através da revista “​Tratamento jurídico das criptomoedas: a dinâmica dos
Bitcoins e o crime de lavagem de dinheiro”, as instituições têm a finalidade de estruturar e
reduzir a incerteza da sociedade. Sobre a questão dos monopólios, Hayek (2011, p. 122),
através do seu artigo “Desestatização do Dinheiro: Uma análise da teoria e prática das moedas
simultâneas”, acredita que sem o monopólio do banco central e do Estado para a emissão das
moedas, não haveria justificativa para que os bancos dependessem de dinheiro vivo a ser
fornecido por outra entidade, dessa forma as autoridades podem obter um maior controle
sobre as moedas.
No subcapítulo “A utilização das criptomoedas nos Estados e sua regulamentação”,
começamos citando Andrade, através do seu artigo “Tratamento jurídico das criptomoedas: a
dinâmica dos Bitcoins e o crime de lavagem de dinheiro”, onde a mesma afirma que há
algumas empresas que já aceitam as criptomoedas, mas em muitos Estados ainda não há
regulamentação.

20
Para analisar e apresentar a utilização das criptomoedas nos Estados, elaboramos uma
tabela baseada na tabela do autor Gusson, através do site Criptomoedas Fácil, onde o autor
apresenta as informações que foram apresentadas no G20 em 2018 pelos Estados que
participaram do encontro. Conforme afirmado por Andrade (2017, p. 53), o reconhecimento
das criptomoedas tem sido um processo crescente entre os países. A autora cita como as
moedas virtuais são “tratadas” em alguns lugares, como os Estados Unidos, por exemplo, e a
União Europeia, que como é citado por Ec Europa (que é a Comissão Europeia) através do
site oficial, utilizam-se modalidades para enquadrar as criptomoedas, como o Electronic
Money Directive (Diretriz sobre Dinheiro Eletrônico) e Payment Services Directive (Diretiva
de serviços de pagamento).
O Japão tem as moedas virtuais regularizadas e, conforme Uranaka (2018) através do
site sobre economia mundial, a FSA (​Agência de Serviços Financeiros do Japão) publicou seu
status como autorreguladora do setor de criptomoedas do Estado e pretendem construir uma
“indústria” confiável para os clientes, onde possam realizar transações com maior segurança.
Já no Brasil, conforme Andrade (2017, p. 54), ​as moedas digitais são tratadas como
ativos financeiros e, além disso, a Receita Federal impõe um imposto de 15% sobre os ganhos
de capital no momento da venda. A autora cita ao todo como as criptomoedas são tratadas no
Brasil, citando a Receita Federal, um órgão do ​Ministério da Fazenda que administra os
tributos federais, como também faz o controle aduaneiro e o combate à evasão fiscal.
O Cenário Internacional e a regulamentação das moedas sendo o último tema
abordado, citamos inicialmente como as moedas virtuais são de extremo interesse dos
Estados. Souza (2017, p. 73) acredita na possibilidade das criptomoedas serem grande parte
das transações realizadas no mundo, possuindo um ótimo engajamento. Além disso, o autor
cita que no ciberespaço os Estados não possuem (e não conseguem) o controle sobre as
moedas, acreditando-se que é importante buscar uma legitimação no Sistema Monetário
Internacional. Souza explica como é importante a integração entre os povos, a globalização
política na esfera normativa, envolvendo os direitos à informação que a sociedade possui,
tecnologia, pluralismo, como também a maneira que as criptomoedas serão consideradas no
Brasil caso houver algum tratado internacional de regulamentação.

21
Sobre a regulamentação, Souza explica como o comércio marítimo internacional
funcionava até a “Paz de Vestfália”, onde os comerciantes não podiam recorrer aos seus
direitos e, então, acabou virando um “costume” entre os comerciantes, nascendo assim a Lex
Mercatoria, que segundo Souza é um procedimento que torna possível solucionar impasses,
como a não regulamentação das criptomoedas, por exemplo, que aliás, é de concordância do
autor o fato da​s transações com criptomoedas serem aceitas utilizando o conceito da Lex
Mercatoria.
Para falarmos sobre os Estados precisamos abordar a questão da soberania e para isso
citamos Teixeira e Silva (2017, p. 122) através da “Revista Brasileira de Políticas Públicas:
Bitcoin e a (im)possibilidade de sua proibição: uma violação à soberania do Estado?”, onde os
autores afirmam que os Estados não perdem sua soberania com as criptomoedas, mas também
não poderão ser totalmente autoritários. Para os mesmos, deve-se agir de um modo coletivo
cooperando com os demais Estados. Os autores defendem que as moedas virtuais conectam as
pessoas de nacionalidades diferentes e que a tecnologia possui um papel de destaque no
sistema, como é o caso da inovação das moedas no sistema monetário, porém, para Teixeira e
Silva é importante uma regulação mínima das criptomoedas, como identificação de rastreio e
possibilidade de operacionar e intervir em casos necessários e com uma explicação justa.

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3 METODOLOGIA

Este é um estudo importante para a área de Relações Internacionais, pois aborda a


Política Internacional, economia e questões de Estado, três elementos que fazem entender
todo o sistema que compõem o estudo dessa área. Como citado por Saraiva (2012, p. 69), a
área de Relações Internacionais vem crescendo cada vez mais, “bem acima da média da
Ciência Política e das demais áreas das Ciências Humanas”.
Para entendermos melhor sobre a pesquisa e seus métodos, iniciamos citando
Lakatos e Marconi (2003, p. 155), entendendo que a pesquisa “é um procedimento formal,
com método de pensamento reflexivo, que requer um tratamento científico e se constitui no
caminho para conhecer a realidade ou para descobrir verdades parciais.” Entre as suas
classificações, esta presente pesquisa pode ser considerada como básica, pois ao longo do seu
desenvolvimento, iremos obter novos conhecimentos, sem a necessidade de pôr em prática o
estudo realizado.
A forma de abordarmos o problema da pesquisa, a qual seria entender como as
moedas virtuais interferem e a sua relação com os Estados, podemos classificar como
qualitativa, pois segundo Lakatos e Marconi (2003, p. 160), “é um estudo descritivo, de
caráter informativo, explicativo ou preditivo”. Portanto, esta classificação se dá pelo fato da
pesquisa possuir uma abordagem sobre a relação entre o Bitcoin e os Estados, entendendo o
comportamento da mesma dentro do Sistema Monetário Internacional, sem a necessidade de
uso matemático e sim, com base em teorias já existentes e conhecimentos obtidos através de
fontes secundárias.
Quanto aos objetivos, a classificação se dá como explicativa, pois conforme Lakatos
e Marconi (2003, p. 188), esta classificação é de uma “pesquisa empírica cujo objetivo é a
formulação de questões ou de um problema”, com objetivos de desenvolver hipóteses,
aumentar a familiaridade do pesquisador com o tema, para assim realizar uma pesquisa mais
precisa ou esclarecendo conceitos. O objetivo da pesquisa não se trata apenas de entender
como o Bitcoin chegou ao Sistema Monetário Internacional, mas também entender quais os
fatores que determinaram o poder que a moeda possui relacionando à soberania dos Estados.

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O procedimento da pesquisa é referencial bibliográfico, sendo que a pesquisa é
realizada a partir de ideias e materiais já produzidos por outros autores. ​A coleta e a análise de
dados é feita através de uma análise documental e bibliográfica, que segundo Lakatos e
Marconi (2003, p.158), “é um apanhado geral sobre os principais trabalhos já realizados,
revestidos de importância, por serem capazes de fornecer dados atuais e relevantes
relacionados com o tema.” Estes estudos utilizados se tornam uma fonte indispensável de
informações, podendo até nos orientar na formação de opiniões. Segundo o autor, a pesquisa
bibliográfica, ou de fontes secundárias, abrange toda bibliografia pública em relação ao tema
que está sendo estudado, e isso inclui publicações de revistas, livros, pesquisas, entre outros.
Referente a pesquisa de busca, “a Internet constitui hoje um dos mais importantes
veículos de informações. Não se pode deixar de lado as possibilidades desse meio. Ocorre,
porém, que existe na Internet, mais do que em qualquer outro meio, excesso de informações.”
GIL (2002, p. 74). A pesquisa é realizada através de fontes secundárias, sendo analisada as
teorias dos autores, compreensão do tema e colocação de ideias, utilizando basicamente fontes
em livros e artigos. Utilizamos a base de dados do “Google Acadêmico” e “Scielo”, e por ser
um tema atual, houve dificuldades para encontrar livros sobre, além disso, percebemos
dificuldade para encontrar artigos sobre criptomoedas na área das Relações Internacionais,
como abordagens sobre os Estados e as moedas virtuais.

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4 A HISTÓRIA DO SISTEMA MONETÁRIO INTERNACIONAL

Para entender melhor o sistema monetário antes de fazer todas as análises sobre o
mercado atual e a autonomia das criptomoedas, iniciamos pela obra “A Economia Política das
Relações Internacionais” de Robert Gilpin, onde o autor cita que no início de tudo, ou seja, no
período pré-moderno, os metais preciosos e o dinheiro (tendo o ouro e prata como um meio
principal de troca) serviam como uma base para o Sistema Monetário Internacional.
No início e durante milênios, segundo Gilpin (2002, p. 144), o Sistema Monetário
Internacional foi fundamentalmente apolítico, ou seja, não era totalmente ligado à política,
porém, isso começou a mudar apenas nos séculos XVI e XVII com a descoberta do ouro e
prata nas Américas. Segundo Suprinyak (2009, p. 579) o ouro e a prata eram efetivamente
ligados e entravam como utilização nas transações comerciais sob a forma de moedas, e além
disso, cada região adotava uma taxa de conversão entre ouro e prata, que variava de acordo
com a oferta e demanda relativas de cada metal.
Acreditando ser o método de troca essencial por justamente ser a ideia de princípio
da riqueza (ou seja, acreditando-se em trocas que poderiam gerar a riqueza), surgiu então o
“dinheiro político”, cujo a Revolução Financeira acabou desenvolvendo melhor a relação
entre o Estado com a economia, promovendo assim um impacto no livre-comércio e melhor
desenvolvimento do Estado. Além disso, a Revolução Financeira acabou dando também o
poder ao Estado de criar seu próprio dinheiro e, como consequência, veio a inflação e
instabilidade monetária, o que acabou tornando o grande desafio para os Estados desde então.
Esta transformação, ainda segundo Gilpin, “permitiu o desenvolvimento de um sério choque
entre a autonomia das economias nacionais e a ordem monetária internacional” (GILPIN,
2002, p.144), e isso acabou virando um conflito entre a autonomia da economia interna e a
estabilidade econômica no sistema internacional, pois as duas coisas são interligadas entre si.
De acordo com Gilpin (2002, pág 144) o Sistema Monetário Internacional tem um
efeito importante de distribuição sobre o poder dos Estados, bem como no bem-estar da
sociedade, em questões como facilidade de trocas de mercadorias etc, pois a soberania sempre
está envolvida com o dinheiro e, como sempre vimos na história, o dinheiro está ligado ao

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poder, o que consequentemente leva a soberania, sendo assim a base da sobrevivência de um
Estado.
A importância do bom funcionamento e estabilidade do sistema monetário, segundo
Gilpin (2002, p. 144) é dada por gerar uma maior facilidade do crescimento comercial,
investimentos externos, acordos e, até mesmo por ser um pilar para a paz, que segundo
teóricos liberais, o comércio está ligado à paz por motivos de acordos comerciais e melhor
relação entre os Estados. Por isso que obter uma estabilidade no sistema é um grande desafio
para todos, pois está ligado a diversos fatores como econômico, social e político. Mas para
uma forma de manter esta estabilidade, o autor afirma que é necessário resolver três
problemas: a liquidez, o ajuste e a confiança. Gilpin cita que o sistema precisa prevenir e
prever as mudanças que desestabilizam o mercado, pois isso acaba sendo muito perigoso para
a economia internacional. Aleḿ disso, o Estado prefere que o Sistema Monetário Internacional
seja eficiente justamente para não prejudicar os seus interesses e investimentos futuros.
Conforme Gilpin (2002, p. 144),

“Todo regime monetário internacional tem como base uma ordem política, já que o
sistema interfere e afeta nos seus próprios interesses pelo fato do dinheiro sempre ser
um fator importante na política mundial, justamente por necessidade de financiar
exércitos, negociar com aliados, entre outros.”

Desse modo, a ordem política se torna algo necessário no sistema monetário, para
assim atender os interesses dos Estados e fazer com que os mesmos se sintam mais seguros,
pois com uma boa organização monetária os Estados se beneficiam para montar seus exércitos
e armamentos, para assim garantir a sua segurança em relação a outros Estados, que também
está ligado a soberania ou até mesmo pela briga da mesma.

4.1 PADRÃO OURO

No fim do século XIX surgiu o padrão ouro, que “representou a resolução clássica do
dilema da autonomia econômica interna contra a estabilidade econômica internacional”
(GILPIN, 2002, p. 144) e, referente ao desequilíbrio da balança dos pagamentos, eram

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ajustados por mecanismos de fluxo de preços. As características principais desse sistema ou
mecanismo que garantia a regulação de forma automática é o Banco Central, que comprava e
vendia o metal precioso em um preço fixo, ou seja, sem a questão da inflação e alteração dos
preços, justamente para ajustar o balanço de pagamentos; e também os próprios indivíduos
que podiam exportar e importar o ouro livremente.
Segundo Gilpin (2002, p. 145), o padrão ouro clássico não funcionava de uma forma
automática, pois “a instituição dos sistemas bancários e o seu papel na criação do dinheiro
debilitavam o mecanismo do fluxo de preços e dinheiro”. Os bancos podiam agir de forma
livre na questão de resolver e cuidar dos efeitos dos preços da economia e dos preços internos,
dessa forma, o sistema bancário ​comandava sobre o padrão ouro. Para que o Sistema
Monetário Internacional funcionasse corretamente, algum país do Sistema Internacional teria
que assumir a liderança e, por isso a Grã Bretanha, nação hegemônica no século XIX, tomou a
frente e assumiu a responsabilidade. Sendo assim, a Grã Bretanha passou a ser a hegemonia
do Sistema Monetário Internacional, fazendo com que tivesse o controle na oferta mundial do
dinheiro. Desta forma, o Banco da Inglaterra podia manipular o fluxo internacional de ouro
aumentando ou diminuindo a sua taxa de desconto, fazendo com que o sistema monetário
fosse hierarquizado, pois era dominado pela Grã Bretanha e muito pouco administrado pelos
centros financeiros emergentes da Europa Ocidental.
Uma questão importante do Sistema Monetário Internacional e do comércio, foi a
libra esterlina, dado que a integridade e a dominação do mercado financeiro de Londres com
os mercados de capital e de produtos básicos localizado nesta cidade, impunha nesta época,
segundo Gilpin (2002, p. 147), um grau elevado de centralização em consequência à
centralização e o controle do sistema monetário que a Grã Bretanha tinha uma grande
influência comercial. Com essa questão, observamos o quanto a moeda pode influenciar e
fazer diferença no cenário econômico internacional.
Embora o ouro fosse um padrão como uma base de valor, em cada país havia uma
estrutura de crédito que governava a economia interna, onde o ajuste econômico poderia ser
facilmente manipulado e os preços acabavam sendo alterados. Era muito mais fácil e tentador
fazer com que a sociedade efetuasse empréstimos e usasse o crédito para manter o nível dos

27
preços e reduzir o desemprego, por exemplo (Gilpin, 2002, p.147). Porém, isso acabou sendo
limitado, pois no século XIX as taxas de câmbio vinculadas ao ouro passaram a ser fixas,
sendo que a estabilidade destas taxas era um fator muito importante para o crescimento
comercial doméstico e internacional, relacionando a importação e exportação, investimento
externo, etc.
No fim do século XIX, com o surgimento das novas e grandes indústrias, houve o
declínio da hegemonia britânica, em que o meio social também estava em desgaste e infeliz
com o sistema. À vista disso, mesmo que a Grã Bretanha tenha perdido a sua hegemonia
industrial, a mesma ainda ficou com a predominância financeira, mas com a fraqueza política
dos grupos e o prejuízo das classes sociais fez com que houvesse alguma mudança no sistema
interno do Estado. A Primeira Guerra Mundial foi o fim dessa era econômica e, segundo
Gilpin (2002, p. 150), após a guerra, o mundo partiu para o caos monetário e econômico
durante as três décadas seguintes.
O Sistema Monetário Internacional após a Primeira Guerra Mundial, tem como
grande consequência a nacionalização do Sistema Monetário Internacional. As pessoas em
guerra agiram para proteger as suas reservas de ouro, abandonando assim o sistema de taxas
de câmbio fixas para facilitar a movimentação do dinheiro enquanto estavam na guerra. Em
consequência disso, o padrão ouro entrou em colapso e, conforme citado por Gilpin (2002, p.
150), foi substituído por um sistema improvisado de taxas flutuantes. Desta forma, a
determinação e o controle dos valores das moedas passou a ser responsabilidade das
autoridades dos Estados e não mais somente da Grã Bretanha. Em consequência, essa
autonomia econômica nacional prevaleceu sobre a ordem monetária internacional.
Segundo Krugman Obstfeld na obra “Economia Internacional Teoria e Política”
(1999, p. 548), na Primeira Guerra Mundial a força de trabalho e a capacidade produtiva
reduziram muito por consequência da mesma (caos total) e suas perdas, e por isso, como a
oferta estava menor que a demanda, os preços aumentaram em todos os lugares no final da
guerra, em 1918. Como consequência dos preços elevados, vários países tiveram aumento de
inflação conforme o governo tentava melhorar a situação em um processo de reconstrução por
meio de gastos públicos. A forma de reconstrução que os governos adotaram foi financiando

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suas compras imprimindo as moedas que estavam necessitando para pagar suas dívidas,
resultando assim “um grande aumento na oferta de moeda e nos níveis de preços”
(KRUGMAN; OBSTFELD, 1999, p. 548).
O momento mais inflacionário e conhecido no período da Guerra foi a questão da
Alemanha, em que o índice de preço do país aumentou de 262 bilhões em janeiro de 1919
para 126.160.000.000.000 em dezembro de 1923, uma questão de 481,5 bilhões. Portanto, o
Tratado de Versalhes que pôs fim a Primeira Guerra Mundial, deixou a Alemanha com
dívidas absurdas por causa dos estragos causados pela Guerra, como forma de indenização e,
então, segundo Krugman e Obstfeld (1999, pág 549), ao invés do país aumentar os impostos
para conseguir fazer os pagamentos devidos, o governo lançou mão das emissões de moeda.
porém, não sendo o bastante, a inflação acelerou mais ainda quando a França denunciou a
Alemanha de desobediência e enviou suas tropas até a região industrial do país alemão, no
vale do Ruhr. Com os protestos dos trabalhadores alemães e o governo apoiando, o mesmo
emitiu mais moedas para pagar esses trabalhadores prejudicados. Foi só em 1923 que a
hiperinflação terminou, quando a Alemanha fez uma reforma monetária e com isso obteve
uma diminuição das suas dívidas da indenização, seguindo assim um orçamento equilibrado.
Com o fim da Primeira Guerra Mundial, em 1919 os Estados Unidos voltaram com o
Padrão Ouro e, servindo como influência, nos anos 20 outros países estavam desejando a
estabilidade financeira da era do Padrão Ouro, tanto que em 1922, conforme Krugman e
Obstfeld (1999, pág 550), em uma Conferência situada em Gênova, países como Inglaterra,
França, Itália e Japão, firmaram um acordo que incluía o retorno geral do padrão ouro e a
cooperação entre os bancos centrais. Porém, como a demanda do ouro poderia ser inadequada
e insuficiente para atender as demandas vindas dos bancos e da sociedade, como também para
as reservas internacionais, a Conferência em Gênova sancionou o padrão de troca parcial do
ouro, onde os países menores poderiam sustentar uma reserva.
Em 1925, ainda segundo Krugman e Obstfeld (1999, p. 550), “a Inglaterra voltou
então ao Padrão Ouro, atrelando a libra ao ouro pelo preço de antes da guerra”, e apesar do
nível de preço da Inglaterra ter caído bastante desde esse período, em 1925 ficou mais alto do
que no período do padrão ouro que a Inglaterra vivia antes da Primeira Guerra Mundial. Para

29
que o preço em libra do ouro voltasse como antes, o Bank of England foi forçado a seguir
com algumas políticas monetárias que contribuíram para o desemprego no país, o que acabou
virando mais uma preocupação e piorando a situação.
Com a falta de progresso da Inglaterra em 1920, acelerou o declínio de Londres
como centro financeiro com maior influência e importância no mundo, pois conforme citado
por Krugman e Obstfeld (1999, p. 550), o enfraquecimento da economia interna do país
acabou sendo um problema para a estabilidade do padrão ouro que tinha restabelecido no
sistema, fazendo com que prejudicasse suas obrigações internacionais. Com o início da
Grande Depressão em 1929, por decorrência de falência de bancos em todo o mundo, a
Inglaterra foi obrigada a entregar seu ouro em 1931 “quando os detentores de libra perderam a
confiança no compromisso inglês de manter o valor de sua moeda e passaram a converter suas
libras em ouro” (KRUGMAN; OBSTFELD, 1999, p. 550).
Durante a Depressão, vários países continuaram com o padrão ouro passando a
manter a flutuação das moedas no seu mercado de câmbio. Os Estados Unidos deixaram o
Padrão Ouro, porém no ano de 1934 voltaram após elevarem o preço do ouro em dólar.
Entretanto, além dos Estados Unidos, vários outros países também voltaram com o padrão
ouro após a desvalorização. As incertezas políticas dos governos levaram aos países que
possuíam taxas de câmbio fixas (cotação da moeda local em relação a moeda forte), obterem
uma reserva. Segundo Gilpin, Krugman e Obstfeld, para limitar os efeitos da evolução do
mercado de câmbio, começaram a proibir as transações das contas de capital privado e alguns
governos usavam também métodos administrativos ou taxas de câmbio múltiplas para dispor
reservas de câmbio.
Esta turbulência no sistema dos mercados continuou até o início da Segunda Guerra
Mundial (1939), “a despeito dos limitados movimentos na direção da cooperação econômica
internacional no final dos anos 30” (KRUGMAN; OBSTFELD, 1999, p. 551). Muitos países
resolveram cortar relações comerciais externas com outros países, com medo de qualquer
desequilíbrio econômico externo.

30
4.1.1 Bretton Woods

Conforme visto no capítulo anterior, onde as guerras e a crise atingiram grande parte
dos Estados, muitos deles ainda estavam desequilibrados e desestabilizados, desta forma, a
vantagem para todos estes Estados seria o livre comércio, em que a cooperação internacional
ajudaria a todos se livrarem do desequilíbrio e preservarem a “estabilidade financeira sem
sacrificar as metas da política interna” (KRUGMAN; OBSTFELD, 1999, p. 551). Então, esse
desejo da maior parte dos Estados e reconhecimento deste problema, fez com que houvesse o
acordo de Bretton Woods, um esquema do Sistema Monetário Internacional após a Segunda
Guerra Mundial.
A partir deste momento, é criado o Bretton Woods, que foram conferências em julho
de 1944, onde representantes de 44 países se encontraram em Bretton Woods, planejando
acordos e benefícios para o Sistema Monetário Internacional. Entre estes acordos, o houve o
“Acordo do Fundo Monetário Internacional” (FMI), pois segundo Krugman e Obstfeld (1999,
p. 554), mesmo com a guerra ainda acontecendo, os representantes dos Estados se
preocupavam com as necessidades e estabilidade econômica mundial, planejando mais
empregos, estabilidade de preços, entre outros. Com o sistema elaborado pelo acordo de
Bretton Woods, estabeleceu então taxas de câmbio fixas em relação ao dólar norte-americano,
pois o sistema era um “padrão câmbio-ouro, com o dólar como sua principal moeda de
reserva” (KRUGMAN; OBSTFELD, 1999, p. 554).
Os Artigos do Acordo do FMI foram diretamente influenciados pelas guerras da
instabilidade financeira e dos níveis de preço, como também o desemprego e desintegração
econômica internacional, com o objetivo de tentar evitar todos esses fatos novamente. De
acordo com Krugman e Obstfeld (1999, p. 554), o principal requisito para a administração
monetária era as taxas de câmbio que tinham que ser fixadas ao dólar, onde o mesmo estaria
relacionado ao ouro. Contudo, se um banco central tivesse uma grande expansão monetária,
“perderia reservas internacionais e se tornaria incapaz de manter a taxa de câmbio de sua
moeda fixa em dólar” (KRUGMAN; OBSTFELD, 1999, p. 554). As taxas de câmbio fixas

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eram consideradas não somente como uma imposição, mas também como uma causa da
instabilidade especulativa, consequentemente prejudicando o comércio internacional.
A experiência desse período das guerras também mostrou que os governos não
pretendiam manter o livre comércio e as taxas de câmbio fixas, pois assim, levaria ao
desemprego por um longo tempo, visto que com a Grande Depressão,os governos eram vistos
como o responsável por manter os empregos​. O acordo do FMI, conforme citado por
Krugman e Obstfeld (1999, p. 554), tentava incorporar flexibilidade suficiente no Sistema
Monetário Internacional, para permitir que os países tivessem assim, equilíbrio externo para
não ter que sacrificar os seus objetivos e estratégias internas ou até mesmo as taxas de câmbio
fixas.
Para entender melhor o FMI, citamos as suas duas principais características que
ajudaram nessa flexibilidade para ajudar os países, que são a facilidade de crédito e paridades
ajustáveis. A primeira, segundo Krugman e Obstfeld (1999, p. 554):

“O FMI dispunha-se a emprestar moedas estrangeiras para os países membros,


suprindo-lhes durante períodos nos quais suas contas correntes estivessem em déficit
e um aperto das políticas monetária e fiscal trouxesse um efeito adverso sobre o
nível de emprego doméstico. Uma contribuição de ouro e moedas dos membros
supriu o FMI com recursos a serem usados nessas operações de empréstimos.”

Conforme citado, podemos dizer que o FMI é um apoio aos Estados que estão
necessitando de ajuda, no sentido de emprestar dinheiro conforme sua necessidade. Isso faz
com que o país necessitado possa se reconstruir monetariamente e se desenvolver, gerando
empregos e fazendo com que a economia do país volte a ter superávit.
Sobre a segunda característica, ou seja, as paridades ajustáveis, segundo Krugman e
Obstfeld (1999, p. 555),

“Apesar de a taxa de câmbio de cada país estar fixa, ela poderia ser mudada -
desvalorizada ou valorizada em relação ao dólar - se o FMI concordasse que o
balanço de pagamentos do país estava em uma situação de “desequilíbrio
fundamental”. O termo ​desequilíbrio fundamental não foi definido nos Artigos do
Acordo, mas a cláusula significava uma cobertura aos países que sofriam mudanças
internacionais adversas permanentes na demanda de seus produtos.”

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Como citado, o FMI poderá alterar a taxa de câmbio apesar de ser fixa em cada
Estado. Isso faz com que ajude os países que estão desequilibrados economicamente por
mudanças no sistema internacional, e que podem prejudicar a demanda de seus produtos
principais por exemplo, que é o que leva mais lucro ao país.
Como a aceitação da moeda nacional elimina os custos da troca de mercadorias
dentro de uma economia, então, o uso das moedas nacionais no comércio internacional é bem
aceita e torna o mercado internacional mais eficiente. Sendo assim, para promover o comércio
multilateral mais eficiente e de uma forma homogênea, os Artigos do Acordo do FMI exigiam
que os membros tornassem suas moedas nacionais conversível, pois uma moeda conversível
pode ser trocada facilmente e livremente por moedas estrangeiras. Isso certamente fez com
que o comércio internacional se tornasse mais fácil, nas negociações e acordos entre países, e
também, mais facilidade na movimentação daS moedaS, pois conforme citado por Krugman e
Obstfeld (1999, p. 555), a não conversibilidade da moeda poderia tornar o comércio
internacional extremamente difícil.
Os dólares norte-americanos tornou-se conversível no ano de 1945 e junto com a sua
posição privilegiada no sistema de Bretton Woods, tornou-se a principal moeda do sistema
monetário após a guerra. Como os dólares poderiam ser conversíveis livremente, o comércio
internacional tendia a ser em dólar, até mesmo os exportadores e importadores mantinham
seus estoques de dólares para a transação de mercadorias, sendo assim, o dólar se tornou a
moeda universal para o meio de trocas internacionais. O dólar se fortaleceu ainda mais na
força da economia norte-americana em relação ao Japão e Europa, que estavam devastadas e
em crise após a guerra, pois segundo Obstfeld (1999, p. 556), os dólares eram atraentes
porque podiam ser utilizadas para comprar bens e serviços que somente os Estados Unidos
podiam ofertar.
A medida que a economia internacional foi se estabilizando após a Segunda Guerra
Mundial, o equilíbrio externo acabou sofrendo mudanças, e o conflito entre os objetivos
internos e externos ameaçavam o sistema de taxa de câmbio fixa. Isso se deu pois, de acordo
Obstfeld (1999, p. 556), o problema de equilíbrio externo dos Estados Unidos na época, que

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era o emissor da principal moeda utilizada e da reserva, foi o principal motivo de propostas da
reforma do sistema.
Na primeira década do sistema de Bretton Woods, muitos países passaram a ter
déficits nas contas correntes conforme foram reconstruindo suas economias após a guerra. O
maior problema destes países, era adquirir dólares suficientes para poderem financiar as
compras dos Estados Unidos, portanto, este período foi chamado de “escassez de dólares”.
Como Obstfeld (1999, p. 556) afirma, foi nesse período em que o Plano Marshall foi utilizado
pelos Estados Unidos para ajudar a limitar essa escassez de dólares.
O Plano Marshall foi um programa iniciado em 1948 para doações de dólares dos
Estados Unidos para os países da Europa que necessitavam. Porém, o déficit em conta
corrente de cada país era limitado por possuir dificuldade de receber empréstimos de qualquer
moeda estrangeira, sendo assim, sem movimentos reais do capital privado, conforme citado
por Obstfeld (1999, p. 557), “os desequilíbrios da conta corrente tinham de ser financiados
quase totalmente por meio de transações de reserva oficiais e empréstimos do governo”. Com
isso, sem o acesso do crédito estrangeiro, os países podiam ter déficits nas contas correntes
somente se os seus bancos centrais quisessem reduzir suas reservas de moedas estrangeiras
conversíveis, porém, os bancos não pretendiam deixar que as reservas caíssem, pois assim a
fixação da taxa de câmbio seria ameaçada.
A globalização trouxe uma enorme barganha para o sistema internacional, sendo o
Estados Unidos a superpotência e o dólar a moeda mais forte, e claro, a China que está
caminhando para ser uma superpotência. Após as crises do sistema monetário, como a crise
de 29, a crise de 2008 e a atual crise europeia, é desejo do mundo um novo Sistema Monetário
Internacional que atenda os anseios da população, onde talvez o dólar não seja a moeda mais
forte, e nem os Estados Unidos o Estado mais potente. Atualmente, podemos perceber que
não há nenhuma moeda que ultrapasse o poder do dólar, e só será revertido caso haja uma
grande crise nos Estados Unidos, justamente pelas dívidas e a maior parte da economia
mundial estar em dólar. Porém, podemos pensar nas criptomoedas, que já possuem um grande
volume de transações pelo mundo, e que seria uma grande oportunidade para mudanças no
Sistema Monetário Internacional, por ser algo novo e tecnológico conduzindo com a

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globalização. O fato de ser uma moeda descentralizada, autônoma e sem regulamentação na
maioria dos Estados, torna-se então um desafio para o Sistema Monetário Internacional, já
que o ideal seria um controle universal.

35
5 A HISTÓRIA DAS CRIPTOMOEDAS

A origem das criptomoedas surge através da ideia de Wei Dai, em que, segundo
Wirdum (2018), é ​um criptógrafo talentoso que criou o Crypto ++: uma biblioteca para
algoritmos criptográficos (dados que não podem ser invertidos ou alterados sem autorização).
Nos anos 1990, quando era um jovem estudante de bacharel em ciência da computação na
Universidade de Washington, sua curiosidade levou-o aos artigos de Timothy May, um dos
"fundadores" do movimento Cypherpunk (grupo informal de pessoas interessadas em
criptografia). Dai (2018) afirma que o mesmo é fascinado pela criptoanálise de Tim May,
citando que “em uma anarquia cripto-governo que não é temporariamente destruído, mas
permanentemente proibido e permanentemente desnecessário.” Dai afirma que é uma
comunidade onde a ameaça da violência é impotente, pois seus participantes não podem ser
ligados a seus nomes verdadeiros ou físicos. Uma comunidade é definida pela cooperação de
seus participantes, e cooperação eficiente requer um meio de troca (dinheiro) e uma forma de
executar contratos. Dai escreveu em seu texto a existência de uma rede não rastreável, onde
os remetentes e destinatários são identificados apenas por pseudônimos (ou seja, chaves
públicas) e todas as mensagens são assinadas pelo remetente e criptografado para o seu
receptor.
Conforme explicado por Rocha (2018), Wei Dai entrou em várias discussões de
tópicos como sistemas de reputação digital, teoria dos jogos, privacidade e anonimato em
sistemas de dinheiro digital. Dai fez uma série de propostas para promover o movimento
Cypherpunk, porém, os que possuem mais destaques são:
a) A criação de dinheiro, onde qualquer um pode criar dinheiro transmitindo via
computador. Dai (2018) explica que o número de unidades monetárias criado é igual ao custo
do esforço de computação, ou seja, nada mais é do que a mineração, que com o trabalho
computacional, as criptomoedas vão surgindo, e claro, com um custo também de criação;
b) A transferência de dinheiro, onde Dai (2018) cita um exemplo: “se Alice (proprietária
do pseudônimo K_A) desejar transferir X unidades de dinheiro para Bob (dono do
pseudônimo K_B), ela transmite a mensagem "Eu dou X unidades de dinheiro para K_B"

36
assinado por K_A.”, ou seja, como é feita a transferência atualmente, onde um indivíduo
compra algo e deseja transferir (pagar) o dinheiro para o vendedor, que no caso das
criptomoedas, é através de aplicativo.
Segundo Rocha (2018), Dai inclui nas suas discussões os sistemas confiáveis de
timestamping (utilizado para gerenciamento de rede e segurança de computadores), um
tunelador TCP criptografado (que evita ataques de segurança), um sistema seguro de
compartilhamento de arquivos e muito mais. Isso fez com que Dai tivesse uma reputação
como um colaborador da comunidade Cypherpunk, embora naquela época, ninguém soubesse
muito sobre ele pessoalmente, nem se Dai era homem ou mulher, como por exemplo
atualmente com Satoshi Nakamoto, com um nome fictício e misterioso.
Inspirado na ideia de Wei Dai, Satoshi Nakamoto (vale ressaltar que é um nome
fictício) cria então a primeira moeda virtual criptografada, onde através do seu artigo
publicado em 2008 “Bitcoin: A Peer-to-Peer Electronic Cash System”, o autor inicia o estudo
explicando o que são as moedas virtuais. De acordo com ele, “nós definimos uma moeda
eletrônica como uma cadeia de assinaturas digitais”. Ou seja, cada proprietário da sua moeda
transfere-o para outros usuários, possuindo (assinando) digitalmente um hash, ou seja, um
algoritmo único que garante a não alteração, a autenticidade e ​confidencialidade​ da transação.
As moedas virtuais são como dinheiro, mas que não existem em moedas físicas ou
notas bancárias, mas sim, em forma digital, como afirmado por Sauer (2016, p. 2).
Normalmente, esse tipo de dinheiro não é regular e não é de uma forma legal (pelo Estado),
pois “as moedas virtuais não são comércio eletrônico, sistemas de pagamento eletrônico ou
outras formas eletrônicas de transferência de dinheiro, como sistemas de cartão de crédito,
serviços bancários online ou serviços como o PayPal”, além de que as criptomoedas possuem
um sistema na base de confiança e de especulações, onde segundo o site Bitcoin (2018), a
confiança vem da transparência, pois todas as transações podem ser consultadas em tempo
real por qualquer pessoa, em sites como “Blockchain.com”, entre outros.
A origem das moedas virtuais veio através de jogos online, onde as mesmas eram
utilizadas​​ para comprar novos equipamentos para um personagem, como roupas, armamentos,
entre outros, não possuindo uma conexão com o mundo real. Conforme Sauer (2016, p. 2),

37
com o tempo os jogadores online começaram a trocar sua moeda virtual por dinheiro real.
Mas esse mercado funcionou apenas para uma direção, pois os jogadores não conseguiam
trocar a moeda virtual por dinheiro real, apenas em trocas. Sendo assim, esta foi a primeira
vez que as criptomoedas tiveram pelo menos alguma conexão com o mundo real.
Entre os tipos de moedas mais utilizadas, o site Sputnik (2018) cita: Bitcoin, a mais
conhecida por todos; Ethereum, considerada a segunda moeda mais valorizada depois do
Bitcoin; Litecoin, uma moeda mais leve para transações; Stellar, a moeda que possui
vantagem, pois as transações são rápidas e não utiliza a mineração; Zcash, com o princípio de
fazer transações de uma maneira mais particular; Riple, com um objetivo claro de ultrapassar
barreiras de taxas impostas pelos instituições financeiras, oferecendo taxas menores que os
bancos.
Ao longo dos anos, as moedas virtuais encontraram o caminho para entrar na vida
real. Muitos deles podem ser comprados e vendidos através de sites exchange (trocas) na
Internet, e podem ser usados ​para comprar e vender bens e serviços reais. Segundo a citação
da autora Sauer (2016, p. 2) em seu artigo,

“O Banco da Inglaterra afirma que as moedas virtuais incorporam “tanto um novo


sistema de pagamento descentralizado quanto uma nova moeda” (Bank of England
2014b, p. 4). Setores comerciais completamente novos, como o “gold-farming”
(Bartholomae e Koch, 2009, p. 12), se desenvolveram em torno de algumas moedas
virtuais. As pessoas são pagas por jogar jogos online e o dinheiro virtual ganho é
trocado por dinheiro real pelos seus empregadores.”

A origem das criptomoedas, conforme o site Sputnik (2018), veio justamente para
abrir espaço para mais pessoas e empresas negociarem e financiarem dentro do mercado.
Todos os anos novas moedas virtuais surgem no mercado para disputar o espaço, onde a mais
conhecida e a primeira a surgir, como já mencionado, foi o Bitcoin, porém, todas buscam o
mesmo princípio: a liberdade de circulação e independência dos bancos.
O Bitcoin, como explica Ulrich (2014, p. 17), é uma moeda digital peer-to-peer (de
ponto a ponto), que não depende de uma autoridade central e é de código aberto, ou seja, um
código que possui o direito de modificar e de ser distribuído de graça para qualquer um e para
qualquer finalidade e, é por este motivo que muitas criptomoedas vêm surgindo no mercado.

38
Segundo ainda o autor, o que faz o Bitcoin ser único “é o fato de ele ser o primeiro sistema de
pagamentos global totalmente descentralizado”, ou seja, que não pertence a um órgão central.
A invenção do Bitcoin é revolucionária, pois pela primeira vez no Sistema Monetário
Internacional, conforme Ulrich (2014, p. 17), o problema do gasto duplo ​foi resolvido sem a
necessidade de um terceiro como a intervenção bancária; ou seja, o gasto duplo é quando um
usuário consegue gastar as mesmas moedas mais de uma vez, e como o Bitcoin é registrado e
cada moeda é um código (​hash)​ diferente irrastreável e inalterável, essa situação do gasto
duplo é difícil de acontecer, mas não impossível. O problema inicial que o próprio Satoshi
Nakamoto cita em seu artigo, é que o beneficiário não conseguiria verificar se um dos
proprietários da moeda gastou duas vezes a mesma, mas, a solução que ele deu, é introduzir
uma autoridade central confiável como o Blockchain cujo, segundo Ulrich (2014, p. 18), é um
grande banco de dados públicos, contendo o histórico de todas as transações realizadas. A
solução dada por Nakamoto, é o fato de sempre ser verificado as novas transações através do
blockchain, de modo a assegurar que os mesmos Bitcoins não tenham sido previamente
gastos, eliminando assim o problema do gasto duplo.

5.1 TRANSAÇÕES DAS MOEDAS VIRTUAIS

É importante notar que as transações por Bitcoin não são denominadas em dólares,
euros ou reais, como normalmente são as transações. Portanto, conforme citado por Ulrich
(2014, p. 18), as transações são denominadas em Bitcoins, e isso torna o sistema não apenas
em uma rede de pagamentos descentralizada, mas também uma moeda virtual. A respeito do
valor da moeda, o mesmo não deriva do ouro ou de algum decreto governamental, mas do
valor que as pessoas lhe atribuem, ou seja, a “Lei da oferta e procura”. Em concordância com
o site da Foxbit (2018), considerando que a oferta do Bitcoin é limitada a 21 milhões de
moedas, a procura pela moeda pode-se modificar ao longo do tempo, dependendo da situação
do mercado. O preço pode-se dar também pelo fato da propagação e popularização do
Bitcoin, onde com uma maior procura e com maior número de blockchain, a moeda pode ficar
mais valorizada, ou seja, mais cara. Portanto, o valor em reais de um Bitcoin é determinado

39
em um mercado aberto, da mesma forma que são estabelecidas as taxas de câmbio entre
diferentes moedas mundiais, como dólar, euro etc.
Para entender melhor como a moeda virtual funciona, Ulrich (2014, p. 18) explica
que “as transações são verificadas por meio de um uso inteligente da criptografia de chave
pública”. Esse mecanismo exige que para cada usuário sejam atribuídas duas “chaves”, uma
privada, que é mantida em segredo como uma senha, e outra pública, que pode ser
compartilhada com todos. Sendo assim, explicando com exemplos, citamos Ulrich (2014, p.
18):

“Quando a Maria decide transferir Bitcoins ao João, ela cria uma mensagem,
chamada de “transação”, que contém a chave pública do João, assinando com sua
chave privada. Olhando a chave pública da Maria, qualquer um pode verificar que a
transação foi de fato assinada com sua chave privada, sendo, assim, uma troca
autêntica, e que João é o novo proprietário dos fundos.”

Logo, a transação feita é registrada com data e hora e exposta na carteira virtual (o
blockchain). Desta forma, como explica Ulrich (2014, p. 18), a criptografia de chave pública
garante que todos os computadores na rede tenham um registro sempre atualizado.
Após cada transação, de acordo com Nakamoto (2008, p. 1), a moeda deve ser
devolvida à fonte para emitir uma nova moeda através do ​hash​, e apenas as moedas emitidas
diretamente da fonte são confiáveis ​para não terem gasto duplo. ​Porém, para Nakamoto um
problema surge, pois o destino de todo o sistema monetário depende da empresa executando
as moedas, como a Casa das Moedas, e cada transação precisa passar por eles, como em um
banco. Isso se torna um problema para o autor, pois o seu princípio é a autonomia econômica
sem a intervenção de instituições financeiras, como os bancos por exemplo, e esta é
justamente a proposta do Bitcoin (e das outras criptomoedas), defendendo a não utilização dos
monopólios dos bancos.
Ainda segundo Nakamoto (2008, p. 1) “enquanto o sistema funciona bem o
suficiente para a maioria das transações, ele ainda sofre com as fraquezas inerentes do modelo
baseado em confiança”. Para o autor, o custo da mediação acaba se tornando muito caro, e
muitas vezes acaba impedindo os usuários de fazerem uma pequena transação.

40
A solução criada por Nakamoto é justamente ter criado uma rede ponto-a-ponto
(peer-to-peer). Uma rede que depende dos usuários que utilizam os seus computadores para
realizar registros e reconciliações das transações, podendo ser chamados de “mineradores”,
pois são recompensados com Bitcoins recém criptografados. Ulrich (2014, p. 19) explica que
é dada essa recompensa porque os Bitcoins são “minerados” à medida que milhares de
computadores resolvem os problemas matemáticos complexos que verificam as transações no
blockchain.

5.2 MINERAÇÃO DAS CRIPTOMOEDAS

Novos Bitcoins são criados como uma recompensa para o trabalho de processamento
de transações, no qual os usuários oferecem seu poder computacional para verificar e registrar
pagamentos. Segundo Hayes (2016, p. 3), podemos chamar esse processo como “mineração”,
onde os indivíduos ou empresas participam dessa atividade em troca da chance de ganhar
Bitcoins recém-criados.
A mineração é um componente necessário de uma rede de criptomoedas que é aberta
ao público e que conforme Hayes (2016, p. 3) não censura os participantes a realizar
transações nela. Essa atividade de validação intencional do processo é utilizada para
justamente impedir que os participantes anônimos atuem com más intenções e que
consequentemente prejudique o sistema. Em outras palavras, todo o sistema opera sob a
suposição de que todo e qualquer nó ou transações será controlado por fraudadores e ladrões,
e isso faz com que fique mais difícil para fraudar ou roubar, tornando-se caro explorar ou
atacar a rede.
A mineração é realizada por hardware especializado que possui uma certa quantidade
de poder computacional, medida em hashes por segundo. Hayes (2016, p. 3) explica que os
hashes podem ser considerados de alguma forma semelhantes ao poder de processamento de
um microchip da CPU (Unidade Central de Processamento), que é medido em hertz para
definir quantos cálculos individuais podem ser obtidos por segundo. De acordo com Hayes
(2016, p. 3), a rede agregada do Bitcoin - a rede que consiste numa central de comunicação
para recebimento de pedidos - tem um poder acumulativo computacional de todo o esforço de

41
mineração empregado em todo o mundo. Para cada GigaHash por segundo (1 GH/ s = 109
hashes) qualquer minerador individual coloca online, por exemplo, esse montante que será
adicionado à potência geral da rede.
Conforme o autor Houy (2014, p. 2), a recompensa para os mineradores é de 25 BTC
(Bitcoins) por bloco. A recompensa fixa foi de 50 BTC nos primeiros dias do Bitcoin, mas
este valor é reduzido para metade a cada 210.000 blocos. Assim, o número de Bitcoins
emitidos é programado para atingir, no máximo, 21.000.000, e a recompensa variável é de
0,0001 BTC por transação. Ao minerar um bloco, um minerador é livre para escolher qual das
transações na rede ele deseja incluir em seu bloco. Houy (2014, p. 2) afirma que calcular o
problema matemático de mineração com mais transações incluídas nele não é mais caro em
termos de disco de CPU. No entanto, deve-se considerar que quanto maior o bloco, mais
tempo ele leva para se espalhar na rede Bitcoin e chegar a um consenso.
Observando num cenário mais econômico, podemos dizer que a recompensa dada ao
minerador que está “criando” a moeda, se dá também para se ter um giro econômico no
sistema monetário como uma forma de incentivo, pois assim as pessoas vão minerando
Bitcoins, e consequentemente irá ter uma maior quantidade da moeda no mercado, e junto
com a superprodução o valor da moeda cairia, o que a tornaria mais utilizável.
Segundo Nakamoto (2008, p.4),

A primeira transação em um bloco é especial, pois inicia uma nova moeda


pertencente ao criador do bloco. Isso adiciona um incentivo para que a rede seja
suportada e para fornecer uma maneira de distribuir as moedas inicialmente em
circulação, uma vez que não há autoridade central para emiti-las. A adição constante
da quantidade de novas moedas é análoga aos mineradores de ouro que gastam
recursos para colocar a moeda em circulação. No caso das moedas virtuais, é o
tempo de CPU e a eletricidade que é gasta.

O incentivo também pode ser dado pelas taxas de transação. Ou seja, Nakamoto
(2008, p. 4) cita que se o valor de saída de uma transação for menor que seu valor de entrada,
a diferença será uma taxa de transação que é adicionada ao valor de incentivo do bloco. Uma
vez que uma quantidade de moedas tenha entrado em circulação, o incentivo pode dar-se
pelas taxas de transação e ainda ser completamente livre de inflação, o que o torna bem

42
diferente das moedas convencionais, regidas por bancos e governo. Estes incentivos podem
fazer com que a moeda e toda essa transação seja feita de forma honesta, pois, de acordo com
Nakamoto (2008, p. 4), se alguém com ganância for capaz de montar um CPU mais potente
do que outras pessoas (honestas), ele teria que escolher entre usá-lo para fraudar as pessoas
roubando seus pagamentos, ou usá-lo para gerar novas moedas. O próprio autor cita que, esta
tal pessoa deveria achar mais lucrativo possuir moedas novas do que todos os demais, do que
prejudicar o sistema e a validade de sua própria riqueza.
Segundo O'Dwyer e Malone (2014, p. 3), o Bitcoin é semelhante a outras moedas,
em que o taxa de câmbio entre o Bitcoin e as outras moedas flutuam ao longo do tempo. Isso,
por sua vez, impacta a viabilidade da mineração do Bitcoin, pois se o valor de um Bitcoin é
menor que o custo da energia necessária para gerá-lo, então há um desincentivo para
continuar a mineração, pois assim gastaria mais com a energia de todo o processamento do
que ganharia Bitcoin. No entanto, como o custo da energia é uma limitação, o hardware mais
novo terá que ter um maior taxa de hash (códigos processando para uma nova moeda) e
menor gasto de energia, e assim, teria um lucro maior. Abaixo, encontra-se uma tabela (1)
com a relação dos dispositivos utilizados para mineração (O'DWYER; MALONE 2014, p.
04):

Tabela 1

Analisando a tabela 1 (​table 1)​ , podemos perceber que o melhor dispositivo que
geraria um maior lucro com um gasto maior, porém a curto prazo, seria o Monarh BPU 600

43
C, gerando 600000.0 Mhash por segundo com um gasto de 2196 dólares. O dispositivo
considerado razoável, seria o ATI 5770 com um gasto de U$1,95 por Mhash, onde poderia
gerar um bom lucro com “pouco” gasto comparando com o Block Erupter Sapphire, que gera
333.0 Mhash por segundo (não havendo muita diferença do ATI 5770) e gastando U$130, ou
seja, há um gasto maior comparado com o ATI, mesmo não havendo muita diferença no
processamento.
Sobre a privacidade, Nakamoto (2008, p. 6) cita que o modelo bancário tradicional
atinge um nível de privacidade ao limitar o acesso às informações das partes envolvidas, e até
mesmo ao terceiro de confiança. Com as moedas virtuais, a necessidade de anunciar todas as
transações exclui publicamente esse método, mas a privacidade ainda pode ser mantida, como
por exemplo as chaves públicas anônimas. O público pode ver que alguém está enviando uma
quantia para outra pessoa, mas sem informações vinculando a transação a ninguém. Isso é
semelhante ao nível de informações divulgadas pelas bolsas de valores, onde o tempo e o
tamanho dos negócios individuais, são tornados públicos, mas sem revelar os indivíduos em
si. Um problema de privacidade ao meu ver, é a senha utilizada para entrar na carteira virtual
(blockchain), pois há pessoas que podem descobrir e talvez furtar as moedas virtuais
existentes na conta do usuário.
Tendo um maior conhecimento sobre a origem das criptomoedas, podemos perceber
como a intenção de criar um sistema de dinheiro autônomo, sem a intervenção de terceiros
para a sua produção e funcionamento - além de ser contra o monopólio dos bancos - surgiu há
muito tempo atrás, nos anos 1990. Porém, como naquela época ainda não exista uma
tecnologia tão avançada como é atualmente pelo fato da globalização avançar muito rápido,
havia esta dificuldade em criar uma moeda virtual em que funcionasse de forma correta e que
as pessoas pudessem transacionar sem incertezas. As moedas virtuais possuem suas vantagens
e seus desafios, mas ainda assim, continuam sendo uma novidade ao sistema internacional,
tanto que, ainda não é uma moeda regularizada na maioria dos Estados.

44
6 ANÁLISE DAS CRIPTOMOEDAS NO SISTEMA INTERNACIONAL

Como já visto, as criptomoedas são as moedas virtuais descentralizadas, sem


nenhuma regulação do Estado, mas muito utilizadas atualmente. Além do seu valor alto e
variação cambial constante, ou seja, com as especulações do mercado, as moedas virtuais,
especialmente o Bitcoin, continua sendo a moeda mais utilizada no “mundo das
criptomoedas”, o que veremos no capítulo de perspectivas de mercado. Por ser uma moeda
autônoma, há muitas questões a serem abordadas, como suas vantagens e desvantagens,
levando em consideração principalmente a sua segurança e as questões de privacidade.
Conhecendo e pesquisando sobre estas questões, podemos abordar a relação que as
criptomoedas possuem com os Estados, buscando entender se realmente fere a soberania dos
mesmos dentro do Sistema Internacional, e como isso pode afetar o mercado internacional.

6.1 VANTAGENS

Como as criptomoedas são descentralizadas, acaba se tornando uma vantagem em


relação às moedas comuns, pois segundo Conti (2018, p. 09), nenhuma autoridade central
pode manipular ou apreender a criptomoeda, já que cada transferência acontece de
peer-to-peer como dinheiro vivo. Em particular, os Bitcoins, por exemplo, são somente seus
(usuários) e a autoridade central não pode tomar sua criptomoeda, pois ela não é uma moeda
impressa. Além desta vantagem, há também a questão dos impostos (que não há) e das taxas
de transação que são mais baixas devido à sua natureza descentralizada e de pseudônimo, que
conforme Conti (2018, p. 10),

“Não há maneira viável de implementar um sistema de taxação de Bitcoin. No


passado, o Bitcoin forneceu transações instantâneas praticamente sem custo. Mesmo
agora, o Bitcoin tem custos de transação mais baixos do que um cartão de crédito,
Paypal e transferências bancárias. No entanto, a taxa de transação mais baixa só é
benéfica em situações em que o usuário realizar transações internacionais de valor
substancial. Isso ocorre porque a taxa média de transação no Bitcoin torna-se maior
para transferências de valor mínimo ou compras, como o pagamento de commodities
domésticas regulares.”

45
Outro benefício que as moedas virtuais possuem, é a questão da resistência ao roubo,
que segundo Conti (2018, p. 10), não é possível até que outros usuários tenham as chaves
privadas de acesso a sua carteira online (blockchain) mas geralmente, são mantidas offline e
guardadas secretamente, não sendo indicado deixar as senhas visíveis em celulares, ou outros
aplicativos. Em particular, o Bitcoin por exemplo fornece segurança por design, pois
diferentemente dos cartões de crédito, não vai ser exposto seu segredo (chave privada) sempre
que fizer uma transação, ou seja, não há nenhum dado visível como nos cartões de crédito.
Além disso, os Bitcoins são isentos de taxas de retorno, isto é, uma vez que os Bitcoins são
enviados, a transação não pode ser revertida. Conforme o autor, desde que o endereço de
propriedade dos Bitcoins enviados são alterados para o novo proprietário, é impossível
reverter, ou seja, isso garante que não há risco envolvido ao receber os Bitcoins de outro
usuário.
Entre as criptomoedas, há o Ethereum que possui muito benefício, onde de acordo
com Andrade (2017, p. 48), esta criptomoeda é de uso mais recente, lançada em meados de
2014 e com características semelhantes ao Bitcoin, mas com uma cotação mais considerável
no mercado digital. O Ethereum é uma plataforma descentralizada que executa contratos
inteligentes, pois utiliza-se aplicativos que funcionam exatamente como programados sem
nenhuma possibilidade de tempo de inatividade, censura, fraude ou interferência de terceiros.
Esses aplicativos são executados em um bloco, por meio de uma infraestrutura global
compartilhada. Isso permite com que os desenvolvedores criem mercados, armazenem
registros de dívidas ou promessas de pagamento e que movam fundos de acordo com as
instruções dadas em operações anteriores.
Podemos considerar como uma vantagem também, a necessidade de inovar a questão
da sustentabilidade, pois foi criado uma criptomoeda cujo nome é “Bilur”, uma moeda virtual
criada pela empresa de serviços financeiros R Fintech, que possui sede em Londres e usa a
tecnologia pioneira do Bitcoin enquanto “tenta oferecer uma alternativa para aqueles que
estão cansados das flutuações selvagens que contaminaram as moedas digitais” (BILUR,
2017). O Bilur tem o objetivo de rivalizar com o Bitcoin e ser líder do setor das criptomoedas,
atrelando seu valor aos ativos de petróleo e sendo o primeiro a utilizar esta inovação no setor

46
de moeda digital. Para iniciar, foi avaliado 1 bilião (bilur) como equivalente a 6,5 barris de
petróleo tipo Brent, que de acordo com Wolffenbüttel (2005) significa o petróleo extraído no
Mar do Norte e comercializado na Bolsa de Londres, sendo referência para cotação no
mercado europeu e asiático, representando assim, como afirma Bilur (2017), um ativo no
valor de US $ 356 (€ 326). A empresa de petróleo Hockley, do Texas, “reservou inicialmente
1 milhão de barris de petróleo como garantia para sustentar a moeda, mas disse à R Fintech
que pode aumentar se o bilur se tornar popular” (BILUR, 2017). Logo, o Bilur depende do
petróleo e não da mineração.
Como o Bitcoin, o bilur é executado com a tecnologia do blockchain, e tem como
alvo os usuários que gostam de aspectos de negociação de moeda virtual, porém, como citado
por bilur (2017) preferem fundos suportados por um ativo fixo, semelhante a um padrão-ouro
para moedas tradicionais, visto que, segundo Rankia (2018), é uma criptomoeda apoiada por
unidades de energia armazenadas, sendo assim a primeira criptomoeda em energia física
armazenada baseada em blockchain. Analisando esta questão, o bilur consegue possuir esta
vantagem na questão da sustentabilidade pelo fato de ser a primeira criptomoeda apoiado por
matérias-primas energéticas, como o petróleo, e que acaba gastando menos energia que o
Bitcoin em si, já que, ainda conforme Rankia (2018), o custo de manutenção é um ponto
básico diário (0,01%) e que um bilur equivale a 1 tonelada de óleo, ou seja, 6,48 barris de
petróleo tipo Brent.

6.2 DESVANTAGENS

Além dos benefícios das criptomoedas, também há os desafios a serem enfrentados


ao longo das suas transações como também, em seu processo de desenvolvimento
(mineração). Para iniciar, podemos citar a questão do alto consumo de energia
(especificamente o blockchain), e como um exemplo, podemos citar o Bitcoin que utiliza o
modelo PoW (regulador de energia manual) para obter distribuição na rede. Embora o uso do
PoW torne o processo de mineração mais resistente a várias ameaças de segurança, como por
exemplo o gasto duplo, este modelo consome bastante quantidade de energia e recursos de
computação. Conforme o artigo de Conti (2018, p. 10), os mineradores agrupam um conjunto

47
de transações para criar um bloco, no entanto, para obter o hash (código que possui a inicial
com zeros) necessário, um minerador precisa repetir o processo de hash até que o resultado
tenha o número adequado de zeros. Este processo de hashing e rehashing normalmente
acontece milhares de vezes, e é feito em paralelo na rede por todos os mineradores. Por esse
motivo, minerar moedas virtuais consome muita energia, levando a um alto custo em
comparação com as transações financeiras convencionais, ou seja, os modelos padrões como
o dinheiro físico. Conti (2018, p. 10) cita um exemplo como, se processar um Bitcoin, a
transação consome mais de 5000 vezes de energia a mais comparado ao cartão de crédito.
Portanto, as tecnologias inovadoras que reduzem o consumo de energia são necessárias para
garantir um futuro sustentável do Bitcoin. Além disso, devido ao aumento contínuo na carga
da rede e no consumo de energia, o tempo necessário para o processamento de transações de
Bitcoin está aumentando.
Em relação ao meio ambiente e gastos relacionado a isso, para o economista Bassotto
(2018), as criptomoedas são descentralizadas e funcionam perfeitamente sem uma instituição
central determinando ordens. Não há uma agência física do Bitcoin, por exemplo, como
também não há um gerente e sequer qualquer tipo de funcionário. O economista cita que os
gastos energéticos gerados diretamente pelo Bitcoin são apenas para a mineração, e é
importante notar que existem centenas ou até mesmo milhares de empresas no mercado de
criptomoedas. No entanto, o consumo energético das moedas virtuais não chega nem perto do
que é consumido por milhares de agências bancárias, por exemplo. Por outro lado, há uma
lista infindável de gastos energéticos relacionados diretamente aos bancos privados e centrais.
São milhares de agências bancárias em todo o mundo, havendo desmatamento de florestas
para imprimir novas moedas, há também o gasto para a manutenção da infraestrutura de
servidores, gastos para que milhares de caixas automáticos sejam mantidos, o gasto com
carros fortes e seguranças para o transporte de dinheiro.
Outro desafio das criptomoedas são as carteiras digitais que podem ser perdidas (é
um caso raro, mas não impossível). Caso terceiros usarem a chave privada associada à carteira
devido a uma falha no disco rígido, ou se um vírus corromper dados e perder o dispositivo
que carrega a chave, conforme Conti (2018, p. 10), todos os Bitcoins da carteira vão ser

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perdidos para sempre, pois não há nada que possa ser feito para recuperar as moedas virtuais,
além de poder falir um rico e investidor de Bitcoins, por exemplo, dentro de segundos.
Entre os desafios, há também a questão de facilitar a atividade criminosa, onde o
pseudônimo fornecido pelo sistema das criptomoedas, ajuda os supostos cibercriminosos a
realizar várias atividades ilícitas, como ransomware (um malware que “sequestra” o sistema e
pede um valor muito alto para a vítima recuperar), evasão fiscal, mercado clandestino e
lavagem de dinheiro. No entanto, segundo Conti (2018, p. 10), “a aplicação da lei poderia
capturar os criminosos com uma análise cuidadosa dos dados do blockchain, porque as
transações são apenas pseudônimas e toda a história é pública”. Sendo assim, os criminosos
estão começando a usar outras moedas digitais, como o Monero ou o ZCash, que são criados
especificamente para aumentar a privacidade do usuário.
Conforme Conti (2018, p. 10), os principais riscos que ameaçam a ampla usabilidade
dos sistemas de pagamento de moedas digitais são:
a. Especulações, onde inclui a formação de bolhas (ou seja, risco de relacionamento
socioeconômico como o que as pessoas falam sobre o assunto), fator legal (ou seja,
entrar na rede sem conhecer os efeitos negativos), construção de cadeia (risco
relacionado à formação de blockchain como recompensas de hashing e mineração) e
lançamento de novas moedas (ou seja, com base em que novas moedas serão geradas e
que existe uma necessidade nisso);
b. Há riscos pois a tecnologia das criptomoedas se opõe a regras e regulamentos e,
portanto, é considerado a oposição ao governo, o que acaba afetando a soberania do
mesmo pelo fato de não ser algo regulatório e funcionar de forma autônoma. Esse
risco também inclui a aplicação da lei para lidar com violações financeiras,
operacionais, proteção ao cliente e de segurança que surgem devido ao sistema das
moedas;
c. Os riscos econômicos também são problemas de deflação, volatilidade (qualidade) e
timing (tempo de resposta) para encontrar um bloco, e isso pode levar os usuários a
migrar para outras moedas que ofereçam serviços mais rápidos e até mesmo melhores;

49
d. Riscos tecnológicos que incluem os equipamentos de rede e sua perda a qual os
parceiros estão conectados, havendo maior vulnerabilidade (ou seja, uma maior
facilidade) de ameaças no sistema, como as funções hash (os códigos) que são
associados ao software que o sistema Bitcoin exige, podendo ser um risco;
e. E claro, o risco a segurança das moedas virtuais, que é um grande problema no sistema
das criptomoedas.

Em muitas pesquisas realizada por autores sobre a opinião das pessoas ao uso de
bitcoins (por ser a moeda digital mais utilizada), segundo Conti (2018, p. 10), os participantes
argumentam que a maior barreira para o uso de bitcoins é a falta de apoio por autoridades, ou
seja, o governo, defendendo a ideia de que deve ser aceito como uma moeda legítima e
respeitável. Além disso, expressaram que o sistema deve fornecer apoio e ajudar o mercado
para poder transacionar sem medo e sem exploração criminal. Muitos participantes afirmaram
que vários usuários de Bitcoin já perderam seu dinheiro devido à má usabilidade do
gerenciamento de chaves, como do blockchain, e violações de segurança como as trocas
(transações) maliciosas e carteiras em que, conforme Ministére des Finances et des comptes
publics (2014, p. 06) explica, o Dark Wallet é uma carteira virtual que embaralha a
rastreabilidade das transações de Bitcoin, combinando as transações dos usuários de forma a
impossibilitar com que reconheça e determine quem enviou o quê e a quem. Este
procedimento facilita a lavagem das criptomoedas, como o Bitcoin. O Dark Wallet também
permite que os usuários gerem um endereço usando uma chave secreta, associada a outro
endereço no Dark Wallet, mascarando assim, o endereço da conta final para a qual os fundos
foram transferidos.
Cerca de 22,5% dos participantes, segundo Conti (2018, p. 10), relataram ter perdido
seus Bitcoins devido a violações de segurança. Muitos participantes afirmaram que para se ter
um fluxo mais rápido de Bitcoins, seria mais interessante uma interface que ajudasse nessa
questão, do que a própria segurança. Além disso, foi destacado que a baixa usabilidade e a
falta de conhecimento sobre o uso do Bitcoin são os principais contribuintes para as falhas de
segurança.

50
6.2.1 Segurança

Ainda que o Bitcoin seja frequentemente reconhecido como uma moeda “anônima”,
na realidade, Ulrich (2014, p. 22) afirma que é muito difícil permanecer como anônimo na
rede das criptomoedas. Os anônimos ligados a transações que foram registrados em público
podem ser identificados anos após a realização de uma troca de criptomoedas, pois uma vez
que os intermediários das moedas estejam completamente em dia com as regulações
requeridas a intermediários financeiros tradicionais, o anonimato será ainda menos garantido.
Segundo Conti (2018, p. 3) as criptomoedas usam transações para mover as moedas de uma
carteira de usuário para outros, ou seja, as moedas estão representadas na forma de cadeia de
transações. Os campos-chave em uma transação incluem ao Bitcoin, por exemplo, um hash
da transação, ou mais entradas e uma ou mais saídas. Cada entrada em uma transação pertence
a um usuário em particular, e a saída de transação consiste no número de Bitcoins que estão
sendo transferidos.
As criptomoedas possuem um sistema descentralizado, ou seja, conforme Souza
(2017, p. 65), elas não seguem as regras de uma política monetária específica, possibilitando a
cada pessoa criar uma criptomoeda como troca para comercialização de seus produtos e
serviços. Por isso, não é necessário possuir autorização de qualquer terceiro confiável para
processar as transações, como, por exemplo os bancos, fazendo com que não seja possível
haver um controle estatal. Em particular, os nodos (que são componentes que fazem parte de
uma rede) comunicam através de uma rede colaborativa para construir o blockchain sem
depender de uma autoridade central.
Conti (2018, p. 25) explica que o sistema bancário tradicional atinge um nível de
privacidade ao limitar o acesso a informações sobre transações às partes envolvidas e ao
terceiro de confiança. Já com o Bitcoin, o blockchain público (ou seja, os registros públicos),
revelam todos os dados da transação para qualquer usuário conectado à rede. No entanto, a
privacidade ainda pode ser mantida até um certo nível, quebrando o fluxo de informações em
algum lugar da cadeia de processamento de transações do Bitcoin, onde podemos citar a
questão do anonimato dos nomes por exemplo.

51
As criptomoedas conseguem manter as chaves públicas anônimas, ou seja, o público
pode ver que alguém está enviando uma quantia para outra pessoa, mas não há informações
vinculadas a ninguém durante a transação de criptomoedas. Conforme citado por Conti (2018,
p. 25), para melhorar ainda mais a privacidade do usuário, é aconselhável usar um novo par de
chaves para cada transação, a fim de evitar que elas sejam vinculadas a um usuário específico.
Além disso, se o proprietário de uma chave for revelado, existe o risco de que isso possa
revelar outras transações pertencentes a este mesmo usuário, ou seja, se o nome do
proprietário da criptomoeda for revelado durante a transação, é possível visualizar outras
transações já efetuada pelo mesmo usuário, podendo colocar em risco a privacidade, como
negócios já feitos e de onde partiu esta transação.
A tecnologia das moedas virtuais se mantém quando se trata de privacidade, mas a
única privacidade que existe, segundo Conti (2018, p. 25), são os endereços pseudônimos
(como as chaves públicas ou seus hashes) que são frágeis e facilmente comprometidos pelos
hackers (nesse contexto, um criminoso virtual). Caso essa privacidade for “quebrada”, há um
custo muito alto e há dificuldades para se recuperar. O autor cita que um adversário pode
associar os dados off-line, como e-mails e endereços de envio, às informações on-line, e pode
obter as informações privadas sobre os pares, como acontece com os hackers.
Mesmo com a dificuldade de rastrear as transações de criptomoedas, se a carteira
(blockchain) ou endereços forem divulgados (não sendo hashes ou chaves públicas como
citado acima), um novo endereço de carteira pode ser gerado com facilidade. Conti (2018, p.
09) também afirma que a privacidade do sistema das criptomoedas aumenta muito quando
comparado aos sistemas tradicionais de moeda onde terceiros potencialmente têm acesso a
dados pessoais e dados financeiros. Além disso, esse pseudônimo é alcançado sem ter que
sacrificar a transparência do sistema, já que todas as transações de Bitcoin são documentadas
em um “livro” público. Conforme o autor (2018, p. 11), para corrigir as falhas de privacidade
e anonimato do Bitcoin, muito trabalho foi feito, onde muitos esquemas e propostas dentro da
comunidade das pesquisas conseguem melhorar a questão do anonimato.
O Bitcoin é a criptomoeda mais popular e ficou em primeiro lugar no investimento
de capital de mercado desde o primeiro dia, segundo a afirmação de Conti (2018, p. 11). Por

52
ser um ambiente incontrolável (Estados não conseguem controlar), hackers e ladrões
encontram no sistema de criptomoedas uma maneira fácil de fraudar as transações, incluindo
ataque a segurança do lado do cliente, ataques de rede (como DDoS, sybil e eclipse) e ataques
de mineração (como 50%, bloqueio de retenção e suborno).

6.2.2 ​O uso das criptomoedas para fins escusos

Para iniciarmos, começamos pelos Gastos Duplos, ou seja, quando o usuário envia
duas transações conflitantes em sucessão rápida. Um exemplo citado por Conti (2018, p. 11) é
um cliente desonesto, que cria e faz uma transação utilizando criptomoedas com o endereço
de destinatário do fornecedor para comprar algum produto. No momento, outro usuário faz
outra transação utilizando as mesmas moedas com o endereço do destinatário ou uma carteira
que está sob o controle do mesmo. Conforme Conti (2018, p. 11), no Bitcoin, uma rede de
mineradores (o Blockchain) verifica e processa todas as transações e garante que apenas as
que não foram gastas (onde isso é especificado nas saídas) em transações anteriores e que
possam ser utilizadas como entrada para uma outras transação. Essa regra no sistema é
aplicada na hora da execução para proteger contra o possível gasto duplo na rede.
O ataque de Finney é chamado de “ataque de força bruta”, como Conti (2018, p. 13)
explica, é um invasor habilidoso que tem controle sobre os “nós” de códigos na rede, os quais
trabalham coletivamente em um esquema de mineração privado com o objetivo de um gasto
duplo. Um invasor introduz uma transação de gasto duplo em um bloco enquanto trabalha
continuamente na extensão de uma blockchain privada. Outro ataque que usa o bloco de
mineração privada para realizar ataques de gasto duplo nas redes de transferencia de Bitcoins,
é popularmente conhecido como “ataque de vetor 76”, um mercado digital onde os
comerciantes podem comprar, vender ou trocar Bitcoins por outros ativos, como moedas
fiduciárias ou altcoins (moedas digitais que surgiram como alternativas ao Bitcoin), que
segundo Conti (2018, p. 13), o ataque consiste em atrasar as comunicações de rede entre
múltiplos subgrupos de mineradores.

53
Um dos pontos principais é que se um minerador pode minerar blocos com uma taxa
mais rápida do que o resto da rede das moedas virtuais, a possibilidade de um ataque de gasto
duplo é alta. A taxa de mineração de um bloco depende da resolução da prova de trabalho
associada, dependendo também do poder computacional de um minerador. Além dos recursos
de computação, Conforme Conti (2018, p. 13), o sucesso de um ataque de gasto duplo
também depende de outros fatores que incluem atraso na propagação da rede, fornecedor,
cliente e conectividade, como também a quantidade de mineradores honestos, pois com o
aumento dos recursos computacionais de um minerador, aumenta também a probabilidade de
um gasto duplo. Isso leva a uma variante chamado ataque de Goldfinger, no qual mais de 50%
dos recursos de computação da rede estão sob o controle de um único minerador, e isso,
segundo Conti (2018, p. 13), pode ser considerado o pior cenário da rede Bitcoin, pois possui
o poder de destruir a estabilidade de toda a rede, como questões de câmbio também.
Atualmente, a rede Bitcoin, por exemplo, consiste em mineradores solitários, pools
(grupos de mineradores) abertos que permitem que qualquer minerador participe e pools
fechados que requerem um relacionamento privado. Conforme Conti (2018, p. 13),

“Nos últimos anos, o vetor de ataque que explora as vulnerabilidades na mineração


baseada em pool também aumenta. Por exemplo, um grupo de mineradores
desonestos poderia realizar um conjunto de ataques internos e externos [...]. Ataques
internos são aqueles em que os mineradores agem maliciosamente dentro do pool
para coletar mais do que seu quinhão de recompensa coletiva ou interromper a
funcionalidade do pool para se distanciar das tentativas bem-sucedidas de
mineração. Em ataques externos, os mineradores poderiam usar seu maior poder de
hash para realizar ataques, como gastos duplicados.”

Apesar de ser um desafio, há uma solução padrão que oferece resistência ao gasto
duplo das moedas virtuais que, como explicado por Conti (2018, p. 20), é o uso do algoritmo
baseado em Prova de Trabalho (PoW), que limita as capacidades de um adversário em relação
aos recursos computacionais disponíveis. Ou seja, o objetivo do PoW é chegar a um consenso
na rede sobre o histórico do blockchain, sincronizando assim as transações ou bloqueios e
tornando os usuários seguros contra ataques de gastos duplos.
Além dos gastos duplos como uma forma de má utilidade da criptomoeda, podemos
citar também a questão das ameaças de segurança do cliente. Conforme Conti (2018, p. 15), o

54
aumento na popularidade do Bitcoin, por exemplo, incentivou muitas pessoas a entrar na rede
como novos usuários. Com isso, cada cliente com Bitcoin possui um conjunto de chaves
públicas e privadas para acessar sua conta ou carteira. Logo, é desejável que as técnicas de
administração destas chaves sejam seguras, mas usáveis, pois caso as chaves de um cliente
forem perdidas ou comprometidas, o cliente sofrerá perdas monetárias imediatas, podendo
perder todas as suas criptomoedas.
Para usar moedas virtuais, um usuário precisa instalar uma carteira em seu desktop
ou dispositivo móvel e, então, a carteira armazena o conjunto de chaves privadas-públicas
associadas ao proprietário da carteira, portanto, é essencial tomar medidas de proteção para
proteger-la. Os roubos de carteira são realizados principalmente usando mecanismos que
incluem hacking de sistema, instalação de softwares (aplicativos ou programas) e até mesmo
o uso incorreto da carteira.
Enxergando os problemas de segurança, Conti (2018, p. 17) cita que muitos usuários
podem preferir manter suas moedas apenas como trocas online, porém os usuários podem se
tornar vulneráveis ​ao sistema. Um exemplo citado pelo autor é o evento que ficou conhecido
como um dos mais lembrados da história do Bitcoin, que é o colapso e a falência da maior e
mais antiga bolsa chamada Mt. Gox, que perdeu mais de 450 milhões de dólares. Além disso,
algumas outras bolsas perderam seus clientes Bitcoins e declararam falência devido a roubo
externo ou interno, ou até mesmo erros técnicos.
Com a vulnerabilidade existente no sistema de criptomoedas, há uma maior
facilidade a ataques na rede, sendo considerado como mais um desafio a ser enfrentado.
Segundo Conti (2018, p. 17), um dos ataques de rede mais comum, é o chamado DDoS
(Distributed Denial-of-Service - Negação de Serviço Distribuída) que tem como alvo trocas
de moeda Bitcoin, pools de mineração, carteiras e outros serviços financeiros da criptomoeda,
porém, o lançamento de um ataque DoS não tem efeito mínimo sobre as funcionalidades da
rede, mas, os atacantes conseguem perturbar. Ao contrário do ataque DoS, onde é apenas um
atacante, no DDoS vários atacantes iniciam o ataque simultaneamente. Os mineradores
mal-intencionados podem realizar um DDoS em seus concorrentes, tirando-os efetivamente

55
da rede. Conforme Conti (2018, p. 17), nesses ataques, o adversário esgota os recursos da rede
para interromper seu acesso a usuários.
Ainda de acordo com o autor, há uma análise de ataques DDoS no Bitcoin havendo
os seguintes fatos principais: 142 ataques DDoS exclusivos em 40 serviços de Bitcoin, e 7%
de todos os operadores conhecidos foram vítimas desses ataques. Conti (2018, p. 17) também
afirma que a maioria do ataque DDoS tem como alvo os serviços de câmbio e grandes pools
de mineração, pois um ataque bem-sucedido resultará em um maior ganho em comparação
com o ataque a um indivíduo ou pequenos grupos de mineração.
Muitos usuários do Bitcoin falam sobre diferentes ameaças à segurança. Conti (2018,
p. 20) explica que é tipicamente discutido sobre ataques a computadores quânticos
(computadores especiais que usam cálculos quânticos) ou um ataque excessivo de negação de
serviço de algum banco central ou entidade governamental. Segundo o autor, um dos maiores
ataques na história do Bitcoin tem como alvo o Mt Gox que é a maior bolsa de Bitcoin, na
qual um ano de muito esforço por parte de hackers (pessoas que utilizam seu conhecimento
em informática para adquirir mais informações) para entrar no Mt Gox culminou na perda de
744.408 Bitcoins. No entanto, “a legitimidade do ataque não foi completamente confirmada,
mas foi o suficiente para tornar o Mt Gox desligado e o valor de Bitcoins deslizar para um
mínimo de três meses” (CONTI, 2018, p. 20).
Em 2013, houve também outro ataque a segurança chamado Silk Road, que de
acordo com Conti (2018, p. 20) é o maior mercado online anônimo do mundo e ficou famoso
pela ampla coleção de drogas ilícitas utilizando o Tor - que é um navegador na internet
irrastreável - e Bitcoin para proteger a privacidade de seus usuários. Conforme citado por
Conti (2018, p. 20),

“Na declaração oficial da empresa, o seguinte foi afirmado: “As investigações


iniciais indicam que um fornecedor explorou uma vulnerabilidade descoberta
recentemente no protocolo Bitcoin, conhecida como maleabilidade da transação,
para retirar repetidamente moedas do nosso sistema até que ele estivesse vazio”.
Embora a maleabilidade das transações esteja agora sendo resolvida pelo segwit, a
perda que causou era muito pequena, com a questão central aparentemente em um
nível humano, em vez de no nível de protocolo.”

56
No mesmo ano, o Sheep Marketplace, um dos principais sites anônimos, também
anunciou que foi invadido por um fornecedor anônimo “EBOOK101” que, como citado por
Conti (2018, p. 20), foi roubado 5.400 Bitcoins. No entanto, ainda não foi descoberto se
houve algum hacker ou se foi apenas uma fraude por parte dos proprietários para roubar os
Bitcoins. O Poloniex é uma das maiores bolsas de altcoins, e como afirmado por Conti (2018,
p. 20), possui volumes de negociação em torno de 100.000 BTC (Bitcoins) ou mais por dia, e
perdeu seus 12,3% de Bitcoins em março de 2014 por um hacker. Os atacantes sempre visam
as trocas populares para aumentar seu lucro, no entanto, isso não significa que os usuários
individuais não sejam segmentados, apenas os pequenos ataques passam despercebidos. De
acordo com o autor, em agosto de 2016, o BitFinex que é popular em troca de criptomoedas,
sofreu uma invasão devido à sua vulnerabilidade de carteira (blockchain), e como resultado,
cerca de 12.0000 Bitcoins foram roubados.
Tendo em vista os ataques citados, podemos dizer que a segurança é muito
preocupante no sistema das criptomoedas, sendo a sua maior fraqueza nos mercados e nas
transferências. Como Conti (2018, p. 20) explica, com o número de Bitcoins armazenados e
seu valor disparado no ano de 2017, as carteiras digitais se tornaram cada vez mais alvo para
os hackers. Em nível social, os indivíduos que lidam com os Bitcoins devem ser figuras
públicas, já que o ponto importante é o fato da segurança dos Bitcoins ser algo muito
complicado. O autor também explica que os intercâmbios em particular, exigem
desenvolvedores altamente experientes e que sejam familiarizados com o protocolo Bitcoin.
Além disso, no futuro os ataques não serão limitados apenas ao roubo, mas também incluirá
ameaças, como desacelerar a adoção das criptomoedas, reduzir a eficiência das infraestruturas
da rede e desacelerar o desenvolvimento das moedas.

6.2.3 Problemas Macroeconômicos

As moedas digitais enfrentam desafios significativos para seu uso a longo prazo, ou
seja, para ser utilizada por muitos anos. Para Ali (2014, p. 281), isso significa que é
improvável que uma moeda digital como atualmente é projetada, seja usada como uma moeda

57
predominante em qualquer economia como um meio de troca, como o dólar por exemplo,
porém, acreditamos que é algo provável mas que levaria muito tempo a ser denominada como
a moda mais forte do Sistema Monetário Internacional.
Embora os atuais esquemas monetários digitais tenham recursos monetários fixos,
um dos problemas segundo Ali (2014, p. 281), “é a incapacidade de uma oferta
pré-determinada de responder à variação na demanda”. A demanda agregada por dinheiro é
volátil (inconstante), por razões que podem ser períodos (como compras de Natal), cíclicas
(como recessões) ou estruturais (como de melhorias tecnológicas). Se a oferta monetária não
puder responder a essas variações, ocorrerá volatilidade nos preços, causando volatilidade
destruidora do bem-estar na atividade econômica. Para atender à necessidade à variação na
demanda, seria necessária uma regra mais flexível, como por exemplo, de acordo com Ali
(2014, p. 281) a taxa de crescimento da oferta de moeda pode ser ajustada para responder aos
volumes de transações em (quase) tempo real. Para o autor, os esquemas variantes poderiam
adotar os sistemas monetários já existentes, buscando conciliação dos dados oficiais do
dinheiro amplo ou atingir uma taxa de câmbio fixa, embora isso exija o abandono de parte da
ideologia original dos esquemas.
Conforme Ali, (2014, p. 282), há duas razões pelas quais o custo marginal de
transações (blocos de transações, ou seja, número de criptomoedas indo para a carteira) em
uma moeda digital pode aumentar ao longo do tempo. O primeiro relaciona-se a aumentos no
uso de moedas digitais como mídia de troca, ou seja, dependendo da oferta (caso ela for
menor), que com uma alta demanda e um grande volume de transações, o preço acaba
aumentando; o segundo é devido a um incentivo para mineradores investirem excessivamente
em hardware de computador, para assim ter uma boa máquina e render mais criptomoedas.
As moedas digitais são projetadas para manter um tempo aproximadamente
constante entre os blocos de transação (dez minutos no caso do Bitcoin). À medida que o uso
do esquema de mineração aumenta para que a taxa de transação aumente, consequentemente o
número de transações por bloco (blockchain) também deve aumentar. Essa questão, segundo
Ali (2014, p. 282), faz com que tenha um custo direto aos mineradores, exigindo que eles
usem maior banda larga de serviços de internet e um custo indireto, aumentando a

58
probabilidade de que o bloco seja “órfão” (até mesmo pela questão da instabilidade da
internet), ou seja, substituído por outro bloco que seja verificado com sucesso em um tempo
similar e que eventualmente se torne universalmente aceito.
Existem barreiras significativas a qualquer moeda digital, como é afirmado por Ali
(2014, p. 285), e torna-se a forma dominante de dinheiro em uma economia. Isso também
apresenta desafios significativos para o surgimento de um sistema bancário dominado por
uma moeda digital, como o Bitcoin. No entanto, segundo o autor, é pelo menos concebível
que uma instituição financeira possa emitir notas ao público e que sejam denominadas em
moeda digital, tornando assim um sistema bancário baseado em criptomoedas. Se uma
instituição, ou seja, algum banco emitisse tais reivindicações e lastreasse uma por uma, isso
equivaleria a uma forma de "banco estreito", pois se a moeda digital fosse de algum modo
para uso generalizado, ou seja, para utilizar em todos os lugares e que pudesse comprar
qualquer coisa (visto que nem todos os lugares aceitam), e ainda se a demanda por essa moeda
digital crescesse enquanto sua oferta permanecesse fixa, existiria um incentivo para as
instituições financeiras criarem instrumentos extras (por exemplo, estendendo empréstimos)
que não são totalmente apoiados. Conforme Ali (2014, p. 285), isso criaria uma forma de
banco de reservas fracionárias com a moeda digital desempenhando o papel de base
monetária.
Há alguns episódios históricos de bancos livres, onde os bancos relativamente não
regulamentados foram capazes de emitir suas próprias cédulas como uma forma de dinheiro
privado, conforme citado por Ali (2014, p. 285). O registro, de acordo com o autor, mostra
que enquanto alguns bancos livres agiam com moderação, existiu um risco de inflação
descontrolada (isto é, uma queda no poder de compra do dinheiro) caso “os emissores
privados usassem excessivamente sua capacidade de criar moeda a um custo marginal muito
baixo” (ALI, 2014, p. 285). Portanto, percebemos que já existiu a tentativa de um banco sem
regulamentação, como as criptomoedas, e tecnicamente independente.

59
6.3 PERSPECTIVAS DO MERCADO

Em teoria, as moedas digitais poderiam servir como dinheiro para qualquer pessoa
com um computador ou dispositivo habilitado com internet, como é afirmado por Ali (2014,
p. 279). Atualmente, as moedas digitais cumprem os papéis do dinheiro apenas até certo ponto
e apenas para um pequeno número de pessoas. Conforme o autor, é difícil estimar o número
de pessoas que possuem ou usam as moedas digitais, tendo o conhecimento de que o Bitcoin é
o mais utilizado. Em 9 de julho de 2014, haviam quase 41 milhões de endereços listados na
cadeia de blocos do Bitcoin, mas apenas 1,6 milhão continha um saldo de mais de 0,001
Bitcoins. Na análise feita pelo autor, Ali (2014, p. 279) cita que durante os 30 dias até 20 de
agosto de 2014, quase 60% do comércio de Bitcoin com as moedas tradicionais foi contra o
renminbi chinês (moeda oficial da China), com 32% negociados em relação ao dólar dos EUA
e 3% em relação ao euro, e apenas 1,2% da negociação foi a libra esterlina. Se o número de
usuários de Bitcoin em cada Estado for proporcional à negociação da moeda do país, a
sugestão de Ali (2014, p. 279) seria um limite superior de cerca de 20.000 pessoas no Reino
Unido que detém qualquer participação significativa de Bitcoins. Estima-se ainda que em
todos os usuários do Reino Unido, apenas 300 transações podem ocorrer por dia.
Segundo Ali (2014, p. 279), “o valor de um ativo como reserva baseia-se nas crenças
das pessoas em relação a sua oferta e demanda futuras”, ou seja, o custo de aquisição das
criptomoedas, especialmente o Bitcoin, vem da crença das pessoas, como também ação,
especulações de ofertas e demandas futuras, mesmo as perspectivas de demanda futura sendo
bem menos seguras. Uma vez que as moedas digitais necessitam de qualquer demanda
autônoma (como para uso na produção ou para consumo) e nenhuma autoridade central está
por trás delas, uma opinião citada por Ali (2014, p. 279) sobre sua demanda futura, é que ela
deve basear-se em: a) uma crença sobre seu uso futuro como meio de troca, ou seja, se as
pessoas ou usuários continuarão apostando no Bitcoin como meio de troca e a valorização que
ela terá no futuro; b) a crença de que eles (mercado) continuarão a exigir ainda mais no
futuro.

60
Enquanto os preços não-zero (que não chegam a zero) das moedas digitais revelam
que possuem realmente um valor para os usuários, as moedas podem ser estoques de curto
prazo, justamente pela volatilidade significativa das taxas de câmbio com as moedas
tradicionais. O gráfico 1 abaixo, retirado do artigo de Ali (2014, p. 279), mostra a variação
diária dos preços dos Bitcoins (em azul) e da libra esterlina (em magenta), ambos expressos
em dólares americanos desde o início de 2012, até o ano de 2014.

​Gráfico 1

Segundo a análise do autor, o desvio padrão das movimentações diárias (ou seja,
quanto o preço de um ativo financeiro varia ao longo do tempo) do Bitcoin é 17 vezes maior
do que para a libra esterlina. O valor do Bitcoin como uma reserva de médio ou longo prazo,
no entanto, depende da força da demanda ao longo do tempo, que como já dito, dependerá das
crenças e evolução dos usuários sobre o sucesso final da moeda digital. Conforme Ali, (2014,
p. 279), na medida em que uma moeda está sendo usada como meio de troca, é o número de
varejistas que estão preparados para aceitá-la em pagamento, sendo assim, os comerciantes
precisam estar preparados para o mercado das criptomoedas, entretanto, atualmente existem

61
milhares de varejistas em todo o mundo (provedores de internet) que estão dispostos a receber
pagamento em Bitcoins.
Alguns fatores que influenciam nos preços das moedas digitais, baseado no artigo de
Ali (2014, p. 280) são:
a) O retorno real esperado de manter a moeda digital (ou seja, a taxa de juros nominal
menos a inflação esperada de preços), em relação a outras opções;
b) Quaisquer riscos associados à manutenção da moeda digital em relação a outras
moedas, questões de segurança como riscos de roubo ou fraude e volatilidade de
preços;
c) Os benefícios de usar a moeda digital como meio de troca quando comparado aos
sistemas tradicionais como moeda em papel, incluindo disponibilidade, taxas de
transação e a questão do anonimato;
d) Qualquer restrições de tempo ou custos associados à troca de riqueza entre a moeda
digital e os ativos mais tradicionais, como a libra esterlina;
e) As preocupações não monetárias, como a preferência ideológica de usuários por uma
moeda específica;
f) Uma visão de quanto as outras pessoas valorizam a criptomoeda e como isso deve
mudar no futuro, ou seja, se as mesmas continuarão a usar.

Tendo em vista a análise do autor, podemos dizer que a influência do preço das
moedas digitais dependem muito dos próprios usuários. Os preços são especulativos, e há uma
maior atenção em relação ao futuro que terá o Bitcoin, por exemplo (que é a mais utilizada).
Analisando o sistema atual, percebemos como a mídia também ajuda na propagação de
conhecimento e especulações das moedas digitais, gerando mais informações e notícias sobre,
as pessoas enxergam como um possível novo investimento, e consequentemente, o valor da
moeda digital aumenta.
Segundo Ali (2014, p. 280), os varejistas que cotam preços em Bitcoins parecem
normalmente atualizar esses preços com uma alta frequência, mantendo o preço relativamente
estável quando se trata em moedas tradicionais, como dólares americanos ou libras esterlinas.

62
De fato, as empresas iniciantes que buscam oferecer facilidades de pagamento por Bitcoin
geralmente oferecem aos varejistas a oportunidade de fazer um preço inteiramente em moedas
fiduciária (ou seja, onde o valor não depende de nenhum metal, como ouro ou prata, mas sim,
da confiança em que as pessoas possuem sobre a moeda) usando a moeda digital apenas
temporariamente como um sistema de pagamento.
Uma característica significativa das moedas digitais como também o principal fator
de interesse dos varejistas em aceitá-las em pagamento, com base em Ali (2014, p. 281), é a
promessa de baixas taxas de transação. Atualmente, os pagamentos em moeda digital exigem
taxas de transação que são geralmente mais baixas do que as necessárias para pagamentos
eletrônicos de varejo (como pagamento por cartão de crédito) e transferências internacionais
usando moedas tradicionais.
Explicando o porquê das taxas de transação do Bitcoin serem mais baixas, Ali (2018,
p. 281) cita que “as baixas taxas de transação para pagamentos em moeda digital são em
grande parte impulsionadas por um subsídio que é pago aos verificadores de transação
(mineradores) na forma de nova moeda”, ou seja, as criptomoedas em que os mineradores
ganham ao minerar. Este subsídio depende não apenas do preço atual da moeda digital, mas
também das crenças em que os mineradores possuem sobre o preço futuro da moeda. Ali
(2014, p. 281) explica que se as moedas digitais possuírem uma taxa fixa, serão então
forçadas a competir com outros sistemas de pagamento com base nos custos. Com seus custos
marginais mais altos, as moedas digitais terão dificuldades para competir com sistemas
centralizados, a menos que o número de mineradores caia, permitindo que os restantes
realizem economias de escala (ou seja, gastar menos e produzir mais). Segundo o autor, um
risco significativo para o uso de moedas digitais como sistemas de pagamento é, portanto, que
eles não serão capazes de competir em relação a custos sem deixar de possuir suas próprias
características, e assim pode derrotar seus objetivos originais e expor ao risco de fraude em
todo o mundo.
As pesquisas e perspectivas do mercado atualmente (2018), segundo Bastiani (2018)
cita que de acordo com uma nova pesquisa conduzida pela Satis Group, que é uma empresa de
consultoria de ofertas iniciais de Moedas (ICOs), o preço do Bitcoin (BTC) pode chegar a

63
US$98 mil nos próximos cinco anos, ou seja, podemos perceber como a especulação dos
usuários estão bem otimistas com a moeda futuramente. De acordo com Frazzon (2018), um
economista e analista de investimentos, cita que atualmente o Bitcoin é uma das melhores
opções de investimento no mercado de criptomoedas, justamente pelo seu preço atual e
robustez.

6.4 AS CRIPTOMOEDAS NO SISTEMA MONETÁRIO E A SUA RELAÇÃO COM OS


ESTADOS

Como já citado, as criptomoedas são emitidas de forma descentralizada e segundo


Souza (2017, p. 64) elas não seguem as regras de uma política monetária específica, o que
possibilita a cada pessoa criar uma criptomoeda como uma moeda de troca para
comercialização de seus produtos e serviços, como acontece com o dinheiro físico. Conforme
Andrade (2017, p. 46), a criptografia passou a ter uma presença massiva no mundo virtual,
justamente por ser algo novo como um mecanismo de troca de dinheiro por bens, ações,
produtos e serviços, sem a necessidade de uma agência reguladora que estabelecesse
tributação sobre as operações financeiras, que é o que acontece atualmente com a atuação dos
bancos sobre o dinheiro físico.
Segundo Andrade (2017, p. 46), o monopólio das emissões de notas e moedas entre
os bancos, tornou os governos capazes de usar a inflação como mecanismo para exercer suas
políticas e impor suas regras, mas também fortaleceu o controle das instituições sobre as
transações financeiras. Como explicado pela autora, as moedas digitais representam um
mecanismo para realizar as operações financeiras sem a incidência dos mesmos custos da
inflação impostos pelo Banco Central, e isso acontece por meio da criptografia do dinheiro. A
ideia de utilizar o dinheiro na forma digital já é uma realidade, sendo muito utilizada
atualmente, indo de operações mais simples como o depósito em uma conta bancária por
sistemas de internet banking (ou seja, contas bancárias online, onde o usuário pode fazer suas
operações virtualmente), até compras e transações que envolvem o fluxo internacional da
moeda. Porém, segundo Andrade (2017, p. 46) “as moedas digitais diferem do conceito já
cotidiano do uso do dinheiro digital”. Uma moeda digital é como uma moeda real, mas não

64
são emitidos por bancos centrais, e nem estão apoiados financeiramente na moeda nacional,
como o dinheiro digital. Portanto, ainda segundo a autora, a emissão é descentralizada e não é
decidida pelos políticos ou Estados, mas por aspectos técnicos, por exemplo, os Bitcoins usam
um algoritmo criptográfico para gerar a moeda, que é feita pelos usuários da rede (os
mineradores) e não por um organismo governamental centralizado.
Como já visto em capítulos anteriores, a proteção dos dados e a aparente segurança
do sistema das criptomoedas é um dos atrativos para a realização das transações e para
“chamar” usuários a investir nas moedas digitais. Andrade (2017, p. 46) afirma que a
inviolabilidade do livro de registros (blockchain), por exemplo, confere credibilidade às
operações, apesar da vulnerabilidade dos sistemas de empresas e das agências de câmbio. A
autora também afirma que as transações com criptomoedas, que atraem um número crescente
de especuladores (traders), “ainda levantam divergências entre economistas e especialistas em
segurança digital”. Logo, para Andrade (2017, p. 46), parece prematuro ou “inadequado” ter
afirmações de que o sistema seria uma “bolha”, ou “pirâmide”; justamente porque não se pode
confundir as operações realizadas com os investimentos tradicionais.
Conforme o gráfico 2 abaixo, retirado do site Coindesk (baseado no Bitcoin)
inserindo a data para análise de Janeiro de 2016 a Outubro de 2018, podemos perceber que em
Janeiro de 2016 a Janeiro de 2017 a moeda manteve o equilíbrio de preço. Já a partir de Junho
de 2017, seu preço começou a subir, tendo um pico com maior valor em Janeiro de 2018,
onde 1 Bitcoin custava U$19.086,64. Ao decorrer do último ano analisado houve variações, e
em Julho de 2018 seu preço decaiu muito em relação ao início do ano de 2018, portanto,
analisando o gráfico, podemos considerar que a variação de preço nos últimos meses não está
em uma situação tão crítica, ou seja, o valor do Bitcoin não está tendo aumentos bruscos, e
nem decaídas tão assustadoras, o que faz os investidores terem uma maior segurança nas suas
compras.

Gráfico 2

65
Coindesk (2018). Fonte: https://www.coindesk.com/price/

Referente aos investimentos com as moedas tradicionais, Andrade (2017, p. 47)


explica que tem-se a exigência de uma análise frequente dos fluxos de mercado, que oferecem
segurança do capital, ou seja, os investidores investem com segurança com baixo risco de
investir errado, previsibilidade média quanto aos juros e expectativa de crescimento moderado
a médio e longo prazo (dependendo do perfil de investimentos); já as operações utilizando as
criptomoedas dependem mais da especulação (como nos mostra no gráfico acima a variação
cambial), que não obedecem aos mesmos requisitos e suportam maiores riscos nas transações,
focando muito mais na volatilidade do preço das ações do que nos rendimentos considerados
mais seguros. Portanto, o preço e o investimento da moeda depende muito também das
pessoas, que fazem suas especulações em base na economia do Estado, pois, a maioria das
pessoas que investe nas criptomoedas, são aquelas em que possuem emprego gerado pelo
Estado, e que possuem também a capacidade de investir e gerar economia dentro do Estado
com as moedas virtuais.

6.4.1 Instituições

Para Andrade (2017, p. 49), as instituições são as regras do jogo em uma sociedade e
tem a finalidade de estruturar os incentivos na troca humana, sendo a chave para entender as
mudanças históricas. As instituições reduzem a incerteza da sociedade (como a economia,

66
intervindo para ter um maior controle) fornecendo uma estrutura para a vida cotidiana, sendo
um guia para a interação humana. Segundo a autora, as instituições definem e limitam as
escolhas dos indivíduos, e incluem qualquer forma de restrição às pessoas para conceber e
moldar essa interação humana, podendo ser formais (regras que os seres humanos concebem)
ou informais (convenções e códigos de comportamento).
O modelo como conhecemos de um sistema de pagamento eletrônico consiste em
três órgãos que atuam no mesmo, conforme Camenisch (2018, p. 208-209): um banco, um
cliente e uma loja. Tanto o cliente como a loja tem uma conta no banco. Um sistema de
pagamento eletrônico consiste de protocolos que permitem ao cliente efetuar um pagamento à
loja. Embora os sistemas de pagamento diferenciam significativamente uns dos outros, muitas
vezes é possível identificar três fases: uma fase de retirada envolvendo o banco e o cliente; a
outra é o pagamento envolvendo o cliente e a loja, e uma fase de depósito envolvendo a loja e
o banco. Cliente, loja e banco têm diferentes requisitos de segurança. Uma loja, recebendo um
pagamento, quer ter certeza de que o banco aceitará para creditar sua conta com o valor pago.
O banco quer garantir que, para cada conta creditada, outra conta tenha sido debitada (ou seja,
o banco não quer que alguém crie dinheiro ou gaste o mesmo dinheiro mais de uma vez).
Finalmente, um cliente precisa ter certeza de que o dinheiro retirado de sua conta será aceito
para pagamento; além disso, ele ou ela pode desejar proteção de privacidade.
Para contornar os inconvenientes de falsificação e pilhagem, os Estados e os bancos
criaram recursos eletrônicos que permitem a transferência virtual de valores, sem que
houvesse a entrega de dinheiro em espécie. Segundo Souza (2017, pág 65), os bancos são
instituições que seguem uma rígida legislação, mas que podem sofrer intervenção do Estado,
onde obtém um grande rigor burocrático para movimentar considerável parte da economia
mundial.
Com a vinda das moedas virtuais houve um afastamento e questionamentos quanto
ao modelo padrão do Sistema Monetário Internacional que, como citado acima, tem três
pilares: o banco, o cliente e a loja. Já as criptomoedas é um sistema mais autônomo, onde há
apenas o minerador independente, o cliente e a loja que aceita as moedas virtuais sem um
intermediário como o Banco Central.

67
A necessidade de uma instituição se deve ao fato de os bancos comerciais1 estarem
envolvidos em débitos de pagamentos à vista em uma unidade de tal moeda que algum outro
banco tem o direito exclusivo de emitir. Conforme Hayek (2011, p. 122), essa é a causa
principal da instabilidade do sistema de crédito existente e consequentemente, das amplas
flutuações em toda a atividade econômica. Sem o monopólio do banco central (ou do
governo) sobre a emissão do dinheiro, e sem as disposições jurídicas sobre a moeda “legal”,
não haveria qualquer justificativa para que os bancos dependessem de dinheiro vivo a ser
fornecido por outra entidade. O “sistema reserva único”, como Hayek (2011, p. 122) cita, é
um companheiro inseparável do monopólio de moeda.
A regulação econômica, “muito embora seja realizada pelas instituições que tentam
fornecer segurança para as relações, nem sempre identifica as reais necessidades dos
indivíduos regulados” ANDRADE (2017, p. 50). Deveria então, haver uma relação
equilibrada entre benefícios e encargos, mas, a realidade nem sempre segue esse padrão. A
regulação possui um problema, que segundo a autora, se dá pelo fato de quando e por qual
razão uma corporação se habilita a usar o Estado para seus propósitos (ou seja, o indivíduo
desejar utilizar as criptomoedas regularizadas pelo Estado para fins escusos) por ser apontada
pelo Estado para ser usada para fins diversos, fazendo também com que o propósito da moeda
se acabe, por não ser mais uma moeda autônoma.
No caso das criptomoedas, a falta da regulamentação econômica por parte de
instituições fortes como o Banco Central, segundo Andrade (2017, p. 50) expressa dois
fatores extremamente controversos: por um lado, a ausência de regulação pela instituição
financeira mais forte gera a consequente ausência de tributação, o que seria ideal para
negócios em que pretende maximizar os lucros (como é feito com as moedas físicas). Por
outro lado, a inexistência das instituições reguladoras deixa o sistema mais vulnerável quanto
à segurança dos negócios, o que pode abrir um perigoso e possivelmente irreversível espaço
para práticas ilícitas, como já citado.

1
“​Os bancos comerciais são instituições financeiras privadas ou públicas que têm como objetivo principal
proporcionar suprimento de recursos necessários para financiar, a curto e a médio prazos, o comércio, a
indústria, as empresas prestadoras de serviços, às pessoas físicas e terceiros em geral. A captação de depósitos à
vista, livremente movimentáveis, é atividade típica do banco comercial.” (BANCO CENTRAL DO BRASIL,
2018).

68
Para Souza (2017, p. 64), os bancos são instituições que seguem uma rígida
legislação e podem sofrer intervenção do Estado, como também movimentam grande parte da
economia mundial. Esse aspecto sistematizado, rígido e controlador é incompatível com as
criptomoedas. Sua descentralização nasce como um diferencial que atrai todos aqueles que
buscam alternativas a realizar transações financeiras mais seguras, baratas e rápidas, que só é
possível pela liberdade em que o sistema das criptomoedas possuem.
As criptomoedas surgem para realmente marcar e impactar nas relações comerciais,
por justamente apresentarem, segundo Souza (2017, p. 66), “uma alternativa à utilização do
dinheiro [...] na transação de produtos e serviços tanto na internet quanto no mundo físico,
concorrendo com cartões de crédito e transferências interbancárias”. Além disso, Andrade
(2017, p. 50) descreve que a razão pela qual as moedas digitais são tão atraentes consiste na
cotação, que normalmente, é acima do valor da moeda física justamente por não possuir
tributos e regulação por bancos centrais, o que acaba tornando as criptomoedas mais baratas e
chamando a atenção dos investidores. Porém, um dos conceitos-chave para as criptomoedas,
como o Bitcoin, é a descentralização, o que implica a dificuldade de regulamentação.
Entretanto, a falta de regulação tende a criar um ambiente propício para todos os tipos de
pessoas, inclusive usuários maliciosos, e a falta de intervenção do Estado nestas relações
econômicas no sistema internacional, pode resultar em insegurança para as finanças em escala
mundial, onde os próprios usuários podem ficar com receio.
Souza (2017, p. 66) expõe que “a história revela que a mão invisível do mercado
precisa do Estado para estabelecer o controle, intervindo quando for necessário”. De outro
lado, a descentralização impede que haja concentração de poder sobre determinada moeda ou
até mesmo no mercado.
No ciberespaço (espaço da comunicação virtual), possuindo amplo e fácil acesso,
permite maior autonomia aos usuários. Segundo Souza (2017, p. 66), a utilização das
criptomoedas trazem muitas reflexões quanto a soberania estatal, a autonomia legislativa e
estabilidade econômica. De acordo com Pierre Lévy, citado por Souza (2017, p. 66), “o
progresso tecnológico da informação pode gerar efeitos positivos ou negativos: pode liberar o
homem ou torná-lo escravo, pode enriquecê-lo ou aniquilá-lo”. Ainda conforme Souza (2017,

69
p. 66), partindo da premissa da importância da existência de leis que pautem a utilização das
criptomoedas, é necessário observar a possibilidade da criação de leis para regulamentá-las.

6.4.2 A utilização das criptomoedas nos Estados e sua regulamentação

No Brasil, de acordo com Andrade (2017, p. 51), algumas empresas aceitam


Bitcoins, já que é a moeda digital mais utilizada, mas não há explicações sobre disposições
normativas a esse respeito, ou seja, não há regulamentação. Apesar dos Bitcoins serem aceitos
como moeda de troca por algumas instituições e organizações, não há orientação contábil
específica para essas transações. A afirmação da autora é que as agências reguladoras de
jurisdições diferentes tendem a ter dificuldades para tomar medidas de proteção para os
usuários das moedas virtuais e para a integração dessa nova tecnologia ao sistema financeiro
regulado e convencional, que vem seguindo padrão monetário há muito tempo, sobretudo
porque quaisquer medidas de proteção interfeririam no sigilo dos dados.
Abaixo, temos a tabela 2 que possui alguns Estados e seu relacionamento com as
criptomoedas, que segundo Gusson (2018), em reuniões do G20 em 2018, entre os temas
discutidos o assunto sobre as criptomoedas esteve presente, onde as autoridades debateram
sobre a sua regulamentação global para o uso no mercado. Portanto, segue abaixo a tabela:

Tabela 2

Integrantes do G20

País Regulamentação Criptomoeda estatal

A União Européia como um todo Oficialmente não há planos


tem buscado regulamentação para o para lançar uma criptomoeda
mercado das criptomoedas, no oficial do grupo, no entanto a
União Européia
entanto, até o momento não há uma Tether já possui o Euro Tether
regra geral, apenas advertências EURT, desenvolvido em
quanto a oferta inicial de moedas. Ethereum.
Editou regulamentação recente em
Não possui planos anunciados
Alemanha que reconhece o Bitcoin e outras
até o momento.
criptomoedas como forma de

70
pagamento na nação.
Anunciou que não está trabalhando
na regulamentação de Bitcoin, mas o
Banco Central da nação trabalha em Sim, tem planos de lançar uma
Arábia Saudita
testes com Ripple, pois o Príncipe criptomoeda estatal.
Árabe chegou a chamar Bitcoin de
fraude.
Bitcoin não é considerada uma
moeda estritamente legal, já que não
é emitida pela autoridade monetária
do governo nem pode ser aceita
como instrumento oficial de Não possui planos anunciados
Argentina
pagamento. Portanto, pode ser até o momento.
considerada dinheiro (mas não
moeda legal), uma vez que não
funciona como meio de legal de
pagamento para dívidas e encargos.
Bitcoin e outras criptomoedas são
Não possui planos anunciados
Austrália totalmente legais no país e não tem
até o momento.
dupla tributação.
Regulamentação em discussão na Oficialmente não, no entanto o
Câmara dos Deputados, porém, no BNDES esta trabalhando na
Brasil ano de 2018 tem eleição e então, o edição de um token 1:1 com o
projeto provavelmente não deve real para financiamento de
avançar. projetos do banco.
Em novembro de 2013, a Agência de
Receita do Canadá declarou que
pagamentos em Bitcoin deveriam ser
tratados como transações de troca. O
Sim, tem planos de lançar uma
Canadá governo federal canadense também
criptomoeda estatal.
já anunciou sua intenção de regular o
Bitcoin com base em sua legislação
contra a lavagem de dinheiro e
terrorismo.

71
Legislação restritiva. Bitcoin e
outras criptomoedas não são
Sim, tem planos de lançar uma
China autorizados como forma de
criptomoeda estatal.
pagamento e tem sérias restrições de
circulação no país.
Bitcoin e outras criptomoedas não
são proibidas na nação mas também
não tem uma regulamentação
Não possui planos anunciados
Coréia do Sul claramente definida. Recentemente,
até o momento.
com anúncios contraditórios, há
incertezas sobre a real posição da
nação sobre o mercado.
Oficialmente não há planos
para lançar uma criptomoeda
Vem discutindo regulamentação que oficial, no entanto a Tether
deve permitir o comércio de Bitcoin desenvolveu o “USDT” o
Estados Unidos
e criar leis específicas para ofertas dólar digital, importante ativo
iniciais da moeda. em todo o mercado de
criptomoeda mundial e
cercado de controvérsias.
Oficialmente não é reconhecido
como moeda ou forma de
pagamento, no entanto, não há
proibição. O ministério das Finanças Não possui planos anunciados
França
da França emitiu regulamentos em até o momento.
2014 relativos a operações
profissionais envolvendo
criptomoedas.
Não tem regulamentação definida,
mas não vê com bons olhos o
mercado das criptomoedas. O
Sim, tem planos de lançar uma
Índia governo já anunciou que não
criptomoeda estatal.
reconhece criptomoeda como uma
moeda legal e tomará todas as
medidas para eliminar o seu uso.

72
Bitcoin e criptomoedas são
Não possui planos anunciados
Indonésia consideradas totalmente ilegais e
até o momento.
foram banidas da nação.
As autoridades fiscais parecem estar
tratando Bitcoin como um tipo de
moeda. Eles estabeleceram que as
compras e as vendas feitas com
Bitcoin permanecerão isentas do
IVA (Imposto sobre Valor
Agregado). No entanto, as
autoridades fiscais italianas parecem Não possui planos anunciados
Itália
estar aplicando imposto de renda até o momento.
sobre usos especulativos de
criptomoeda, ou em casos em que há
lucro durante uma venda ou compra.
Aparentemente, quem não compra
Bitcoins de forma especulativa não é
obrigado a pagar imposto sobre o
rendimento.
O Japão eliminou o imposto sobre o
comércio de Bitcoins em 1° de abril
de 2017, quando declarou
Não possui planos anunciados
Japão oficialmente a Bitcoin como uma
até o momento.
moeda legal no país. O Japão
também eliminou a possibilidade de
dupla tributação.
É regulamentado como um ‘bem Sim, tem planos de lançar uma
México
virtual’ pela lei nacional FinTech. criptomoeda estatal.

73
Possui regulamentação e é tratado
como “Moeda estrangeira”, assim o
Bitcoin é tratado como “dinheiro
privado”. Quando a moeda é trocado
por libras esterlinas ou para moedas
estrangeiras, como o euro ou o dólar,
nenhum IVA será devido ao valor
Sim, tem planos de lançar uma
Reino Unido dos Bitcoins em si. No entanto, em
criptomoeda estatal.
todos os casos, o IVA será devido da
maneira normal dos fornecedores de
quaisquer bens ou serviços vendidos
em troca de Bitcoin ou outra
criptomoeda similar. Os lucros e
perdas em criptografia estão sujeitos
ao imposto sobre ganhos de capital.
Não há regulamentação oficial, no
entanto o presidente Putin emitiu
Sim, tem planos de lançar uma
Rússia declarações de que até o final do ano
criptomoeda estatal.
de 2018, espera que uma lei já esteja
pronta para o mercado.
O South African Revenue Service
(SARS) declarou que qualquer
transação ou especulação em Bitcoin
está sujeita a regras fiscais gerais. A
Não possui planos anunciados
África do Sul entidade ainda acrescentou que é
até o momento.
responsabilidade dos cidadãos e
residentes da África do Sul informar
todos os detalhes das transações com
Bitcoin para o SARS.

74
Não há regulamentação proibitiva,
no entanto a Agência de Supervisão
e Regulação Bancária da Turquia
publicou um comunicado indicando
que as criptomoedas não possuem
garantias e que não é emitido por
nenhuma instituição pública ou Sim, tem planos de lançar uma
Turquia
privada, assim não é considerado criptomoeda estatal.
dinheiro eletrônico dentro do escopo
da legislação turca por sua estrutura
e funcionamento atual e, portanto,
sua vigilância e supervisão são não é
possível dentro do quadro da lei
turca.
Países convidados (G20)

A Espanha está tentando estabelecer


uma estrutura regulamentar para as
criptomoedas. O governo espanhol
Não possui planos anunciados
Espanha confirmou que as criptomoedas estão
até o momento.
isentas de imposto sobre o valor
agregado, e o país tem ruas inteiras
cheias de lojas que aceitam Bitcoins.

O governo Chileno tem ambição de


se transformar em um centro de
inovação e empreendedorismo para a
América Latina. O governo do país
também se comprometeu com a Não possui planos anunciados
Chile
regulação e fiscalização para as até o momento.
criptomoedas sob a forma de
auditorias financeiras e novos
regulamentos contra a lavagem de
dinheiro.

75
Em junho de 2013, o Ministro das
Finanças holandês divulgou um
relatório em que concedia ao Bitcoin
o status como um item de troca, o
Oficialmente não, mas o
que significa que a moeda virtual
Rabobank, um banco
não precisa de requisitos específicos
multinacional holandesa, está
Holanda de licenciamento ou conformidade.
considerando a possibilidade
Ele disse: “Bitcoin não é um produto
de criar sua própria carteira de
financeiro como está definido pela
criptomoedas.
lei; a compra ou venda de Bitcoins
também não é um serviço financeiro,
de modo que o lei de serviços
financeiros não se aplica.
Tabela 2. Fonte: Tabela própria baseada na tabela de Gusson (2018).

Segundo Andrade (2017, p. 53), o reconhecimento do uso das criptomoedas,


especialmente o Bitcoin, tem sido um processo crescente em diversos países, principalmente
pela rapidez e pelos procedimentos serem algo virtual, porém, o regime jurídico do Bitcoin
ainda segue no campo da incerteza. Conforme citado pela autora, nos Estados Unidos, cada
Estado possui autonomia para regulação e estabelecimento de legislação financeira, e cada um
aborda o uso de Bitcoins de forma diferente. Os estados da Califórnia e Nova York, por
exemplo, têm sido agressivos na busca de organizações relacionadas com os Bitcoins;
enquanto Carolina do Sul e Montana, não regulam as empresas de transmissão de dinheiro.
Na União Europeia, por exemplo, há uma iniciativa de enquadramento da criptomoeda na
modalidade Electronic Money Directive (Diretriz sobre Dinheiro Eletrônico), que como
explicado por Ec Europa (2018), permite que os usuários façam pagamentos em dinheiro com
armazenamento em um cartão, telefone ou pela Internet, facilitando assim o surgimento de
novos serviços inovadores e maior segurança de dinheiro eletrônico; e Payment Services
Directive (Diretiva de serviços de pagamento) que é uma zona de pagamento único da União
Europeia, que, de acordo com Ec Europa (2018), permite aos cidadãos e às empresas efetuar
pagamentos transfronteiriços com a mesma facilidade e segurança que teriam nos seus
próprios países.

76
No Japão, Uranaka (2018) descreve que a ​Agência de Serviços Financeiros do Japão
(FSA) publicou o status de autorreguladora do setor de criptomoedas, permitindo à
Associação Virtual de Câmbio do Japão policiar e sancionar o intercâmbio por quaisquer
violações. A aprovação da FSA concede à associação do setor o direito de definir regras para
salvaguardar os ativos dos clientes, impedindo a lavagem de dinheiro fornecendo diretrizes
operacionais, porém, a Associação também terá que policiar o cumprimento destas regras.
Conforme citado por Uranaka (2018), a FSA afirmou que é uma indústria muito rápida,
portanto, é melhor que os especialistas façam regras em tempo hábil. Além disso, irão se
esforçar para construir uma indústria que seja confiável para os clientes. Em 2017, o Japão,
tornou-se o primeiro país a regulamentar as trocas de criptomoedas, pois incentiva a inovação
tecnológica ao mesmo tempo em que garante a proteção do consumidor, pois as trocas devem
se registradas na FSA como forma de regulação.
Uranaka (2018) explica que tanto o órgão regulador quanto a indústria foram
criticados depois que cerca de US$ 60 milhões foram roubados da empresa de criptografia
Tech Bureau em setembro de 2018 no Japão. Antes disso a empresa recebeu dois pedidos de
melhoria de negócios pela FSA, após o roubo de US$ 530 milhões em moedas digitais (em
Janeiro de 2018) na Coincheck Inc, que possui sede em Tóquio. Alguns oficiais da FSA
afirmaram que a indústria das criptomoedas precisam de uma abordagem regulatória mais
pesada, sem querer reprimir o seu crescimento.
Andrade (2017, p. 54) afirma que os procedimentos baseiam-se em três critérios
gerais para ser definido como dinheiro eletrônico: o armazenamento das moedas digitais de
forma eletrônica; e a emissão por intermédio de fundos com o valor superior ao valor
monetário emitido e aceito como forma de pagamento por outras instituições, além da
emitente. Entretanto, no Brasil, o Banco Central ainda não possui um posicionamento
definido quanto às negociações com as criptomoedas, o que demonstra que a instituição ainda
não reconhece a relevância dessa tecnologia para o sistema financeiro brasileiro,
consequentemente, pelo fato das criptomoedas não serem regulamentadas, pode aumentar
ainda mais o seu uso (podendo incluir também o uso escuso de criptomoedas).

77
Em abril de 2014, a Receita Federal do Brasil citou como trataria a detenção e o uso
de Bitcoins e outras moedas digitais. Segundo Andrade (2017, p. 54), o Brasil está tratando as
moedas digitais como ativos financeiros, mesmo a Receita Federal impondo um imposto de
15% sobre os ganhos de capital no momento da venda, no entanto, há algumas diferenças
consideradas importantes e que podem ser positivas para os usuários de criptomoedas no país,
especialmente o Bitcoin como o mais utilizado. O fato é que, aqueles que vendem moedas
com um valor inferior a R$ 35.000,00, não terão de pagar o imposto. Isso significa que os
usuários de Bitcoin no Brasil não precisam calcular os impostos sobre os ganhos de capital ao
fazer pequenas compras com as moedas digitais. Além disso, a Receita Federal exige também
que os usuários façam a declaração de contas anuais quando possuírem mais de R$ 1.000,00
em participações com moedas digitais. Conforme Andrade (2017, p. 54), em maio de 2017,
“a Receita Federal do Brasil incluiu o Bitcoin nas instruções da declaração anual do Imposto
de Renda de 2017, devendo ser declarado na Ficha Bens e Direitos como “outros bens”, uma
vez que pode ser equiparado a um ativo financeiro”. Portanto, há uma preocupação entre os
usuários com o efeito que a utilização e posse de Bitcoins em larga escala pode ter sobre a
estabilidade do sistema financeiro, principalmente porque o preço varia muito entre um dia e
outro, além da irreversibilidade das operações e anonimato dos usuários.

6.4.3 Cenário internacional e regulamentação

As questões sobre a utilização das criptomoedas são de extremo interesse dos


Estados, pois são eles que instituem e que possuem a capacidade normativa de aplicar a lei
àqueles que não sabem conviver com os preceitos básicos da sociedade. Logo, como citado
por Souza (2017, p. 73), “as criptomoedas apontam para um cenário jurídico diferentemente
daquele sobre o qual se apoia o Direito”, visto que no futuro próximo, as moedas virtuais
poderão ser grande parte das transações financeiras em todo mundo. O Direito Econômico
concebe reflexões sobre ordens jurídicas que falam sobre os limites de um território, sendo
impróprio (ou até mesmo impossível) falar em território geográfico no espaço virtual,
impondo aos Estados um limite na sua legislação quanto as criptomoedas. Para Souza (2017,

78
p. 73), mesmo que fosse possível, esbarraria nas questões de soberania internacional, que
seriam diretamente ofendidas.
O ciberespaço é internacionalizado, sendo um território múltiplo, ou seja, utilizado
por todos do mundo inteiro e que não guarda identidade específica com nenhum daqueles que
o acessa. Segundo Souza (2017, p. 73), o ciberespaço não pertence a um Estado ou uma
cultura específica, mas é o resultado do conjunto dessas diferenças ao mesmo tempo. A rede
mundial de computadores possibilita a realização e criação de várias novas tecnologias e
conceitos que desafiam a legislação estatal. O descompasso normativo é evidente, porém, é
possível assegurar os critérios e instituir normas em escala mundial, no sentido de buscar um
ideal “legislativo” internacional para circulação das criptomoedas que seja aceito pelos
usuários, ou seja, uma regulamentação das criptomoedas mundialmente, que funcione para
todos os Estados.
Considerando a possibilidade dos Estados criarem normas para si próprios, tem-se a
possibilidade da elaboração de um tratado, através do qual seriam estabelecidos critérios
quanto à conduta dos usuários das criptomoedas. Conforme Souza (2017, p. 73),

“Para Del ́Olmo, a convergência de posições de dois ou mais sujeitos de Direito


Internacional Público, por meio de acordo, no qual práticas costumeiras
preexistentes se tornam formalmente fontes de direito entre eles. Esse autor
apresenta o tratado como fonte formal do direito. Porém, é plausível que a
positivação de um costume surja incoerente com as manifestações dinâmicas do
ciberespaço, cedendo espaço para uma possível autorregulação da circulação das
criptomoedas pelos próprios usuários — um costume, sem a pretensão de ser
chancelado pelos Estados, que se adapte frequentemente às necessidades dos
usuários.”

No cenário internacional, as pessoas buscam a integração dos povos visando sempre


a prevalência da dignidade da pessoa humana, sendo consubstanciada também, nos Direitos
Humanos de 4ª geração, que de acordo com Souza (2017, p. 73) citando Bonavidas (p. 571)
em seu artigo, diz que a “globalização política na esfera da normatividade jurídica introduz os
direitos da quarta geração, que, aliás, correspondem à derradeira fase de institucionalização do
Estado social.” Portanto, são direitos de quarta geração o direito à democracia, o direito à
informação como também o direito ao pluralismo (reconhecimento a diversidade).

79
O ​direito à informação é reafirmado pelos Direitos Humanos de 4ª geração e segundo
Souza (2017, p. 73), se os Estados soberanos, que possuem personalidade jurídica
internacional, algum dia criarem um tratado a respeito da circulação de moedas virtuais no
ciberespaço, no artigo 5º e parágrafo 3 da Constituição Federal de 1988 do Brasil, afirma que

“Os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos que forem


aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos
dos votos dos respectivos membros, serão equivalentes às emendas constitucionais.
(Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004) (Atos aprovados na forma
deste parágrafo)” JUSBRASIL (2018)

Percebemos, portanto, que se for aprovado algum tratado da circulação das


criptomoedas, no Brasil ficará como status de Emenda Constitucional. Sobre a questão de
tratados, é possível que algum Estado negue o reconhecimento dos termos e se oponha à sua
assinatura. Como consequência, todos os negócios jurídicos garantidos em moedas virtuais
dentro do Estado, seriam contrários a seu direito. Souza (2017, p. 74) apresenta também uma
segunda alternativa para tentar contornar a “impossibilidade” de criação de leis a serem
aplicadas no espaço virtual, que são as regras costumeiras, tendo base na conduta que já vem
sendo adotada pelos usuários que transacionam sobre as criptomoedas.
O ciberespaço guarda semelhança com o comércio marítimo internacional que existia
na Europa medieval, onde até a Paz de Vestfália, os comerciantes não podiam recorrer aos
seus direitos pessoais. Souza (2017, p. 74) explica que isso acontecia pelo fato dos Estados
não serem reconhecidos como soberanos, cabendo a eles (comerciantes) o respeito mútuo e o
bom senso como ferramentas para solucionar os conflitos. Essa prática tornou-se hábito entre
os comerciantes e sua repetição resultou no “costume”, nascendo assim a Lex Mercatoria, que
era (e ainda é) como cita Souza (2017, p. 74), “um conjunto de procedimentos que torna
possível a solução de impasses sem a necessidade de invocar o direito positivado de qualquer
comerciante”. Como já demonstrado a dificuldade de se criar leis que se apliquem ao
ciberespaço, considerando também o fato da dificuldade de criação de um tratado que tenha
todos os Estados como signatários e apoiadores, a Lex Mercatoria virtual entra como uma
possível alternativa a estabelecer regras para circulação das criptomoedas no mercado,

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atreladas ao fato dos costumes não serem atentatórios a qualquer ordenamento jurídico, e por
não representar ofensa à soberania de qualquer Estado.
Assim como a Lex Mercatoria surgiu como uma solução aos comerciantes medievais
que possuíam ausência de legislação, a ideia também pode ser aplicada ao território múltiplo
do ciberespaço. Segundo Souza (2017, p. 75), o problema da falta de critérios específicos para
“coordenar” e regular as transações comerciais com as criptomoedas, pode ser solucionado
com a adoção de costumes, como foi feito, pois enxergando a semelhança do livre mercado
com era dos comerciantes medievais, conforme o autor, a prática repetida de determinada
conduta resultará na autorregulação do mercado de criptomoedas, surgindo de forma natural a
dinâmica, atualizando-se constantemente com as transformações do mundo virtual.
A utilização do costume, ou seja, Lex Mercatoria, para aceitar as transações com
criptomoedas é perfeitamente coerente, pois conforme citado por Souza (2017, p. 75), possui
as características do ciberespaço: disruptividade e descentralização. Uma lei positiva
demonstra incompatibilidade com um espaço sem território, mas nem por isso deve-se
considerar a falta de qualquer parâmetro ou regulação para as transações das moedas virtuais
e que, como explana Souza (2017, p. 75), “as regras devem ser definidas por aqueles que
deles se utilizam”, o que de certa forma, já é feito, pois as criptomoedas são autônomas e
possuem suas próprias regras. Portanto, para o autor, verifica-se que a Lex Mercatoria
demonstra ser uma ferramenta mais adequada para estabelecer critérios para a utilização das
criptomoedas, pois rompe com a total inexistência de critérios para a circulação das moedas
virtuais no mercado internacional, reafirmando a autonomia de todos aqueles que utilizam do
ciberespaço para realização de negócios.
A questão sobre a soberania dos Estados, segundo Teixeira e Silva (2017, p. 112), é
analisado por Carlos Roberto Husek, onde o mesmo pontua que o Estado não perde
característica soberana sobre as criptomoedas, mas deve agir de modo a refletir questões para
uma coletividade mundial, com maior cooperação com os demais Estados que possuem o
objetivo de melhorar os desarranjos inerentes ao mundo capitalista atual.
A pretensão de controle sobre as questões de tecnologia, imigração, terrorismo,
crime organizado e outros temas, como afirmado por Teixeira e Silva (2017, p. 113), “tem por

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causar um verdadeiro retrocesso do Estado Constitucional Moderno”, o que se pode
denominar como uma “super soberania supranacional”, onde estas questões seriam tratadas
em âmbito coletivo de Estados, e não mais individualmente por cada um e com diferentes
vertentes (ideologias), de tal forma que os Estados têm perdido legitimidade e cedido espaço a
questões de inovações transnacionais (como por exemplo o Bitcoin), as quais ligam pessoas
de diferentes nacionalidades e fortalece cada vez mais a ideia de cidadão do mundo. Portanto,
em concordância com Teixeira e Silva (2017, p. 113), a tecnologia possui o papel de destaque
e reforça a ideia de que vivemos em uma sociedade global, no qual a comunicação entre as
pessoas e a diminuição das fronteiras é muito importante, pois assim, com os Estados mais
unidos é possível que a economia global venha a melhorar.
A “utilização” da soberania para regulamentar a economia, portanto, não significa
necessariamente que o Estado deva ser totalmente autoritário, interpretando as novas
tecnologias e fenômenos de forma individual, mas sim, deve olhar de um modo globalizado,
entendendo as implicações e benefícios que tais inovações (como o Bitcoin) podem trazer, e,
principalmente, segundo Teixeira e Silva (2017, p. 114), se os juízes concordam e dão
legitimidade à tal restrição dada ao sistema, para que se estanque o desgaste estatal que se
apresenta atualmente. Portanto, o prejuízo que os bancos (principalmente os públicos) podem
sofrer em razão da livre comercialização não pode resultar em aversão ou ódio as moedas
digitais. Isso porque, “não há obstáculo à sua absorção pelo sistema financeiro atual”
TEIXEIRA E SILVA (2017, p. 113), o que revela que a opção da regulamentação mínima,
como a possibilidade de identificação e rastreio de operações caso necessário e caso houver
uma justificativa plausível para o caso específico, é suficiente e possibilitaria a evolução (não
ruptura como pretendiam os criadores) da economia mundial.
Analisando todo o contexto estudado, podemos perceber que as criptomoedas
envolvem muitas questões. Vemos que as mesmas possuem muita vantagem no mercado
internacional por serem moedas descentralizadas, ou seja, sem a necessidade de bancos e
terceiros para sua funcionalidade, dependendo apenas de pessoas interessadas em minerar as
moedas, e que ainda recebem benefício por esse trabalho. Muitas vezes, isso acaba gerando
empresas de mineração, o que também gera maior economia para os países além dos próprios

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investimentos gerados pelas criptomoedas. Porém, é importante também enxergar as suas
desvantagens dentro do mercado e do sistema internacional, que inclui a segurança das
carteiras virtuais, os gastos duplos, o uso escuso das moedas, onde as mesmas são utilizadas
para fazer compras proibidas pelos Estados (como armas, drogas etc), e a dificuldade de
controlar as transações feitas pelas moedas.
Estas questões citadas, trazem um impacto para os Estados, pois as criptomoedas
fogem da sua regulamentação e do seu controle Estatal, fazendo com que além dos benefícios
da geração de economia, tragam também a questão da fraude e pessoas criminosas. Portanto,
como sabemos que há dificuldade em regulamentar pelo fato de cada Estado possuir sua
cultura e suas diferentes leis (apesar de alguns Estados já aceitarem) podemos dizer que a Lex
Mercatoria é uma alternativa para tornar as moedas virtuais em uma nova moeda de poder
monetário, que como já foi citado em capítulos anteriores, é uma alternativa para a circulação
das criptomoedas se tornarem legais aos Estados, melhorando a questão da insegurança no
mercado e gerando mais investimentos. Portanto com a “regulamentação” através da Lex
Mercatoria, há chances de termos uma nova era do Sistema Monetário Internacional
futuramente.

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7 CONCLUSÃO

O início do Sistema Monetário Internacional era basicamente apolítico, onde os


Estados não tinham tanto interesse em se envolver com o dinheiro. Portanto, começou a
mudar nos séculos XVI e XVII com a descoberta do ouro e da prata. A partir desse momento,
o dinheiro passou a ser interesse do Estado, pois enxergavam que podiam ser trocas que
levassem a riqueza. Ao desenvolver da história do sistema, surgem momentos históricos como
o Padrão Ouro, a hegemonia britânica que anos depois passou a ser a hegemonia americana
sobre o Sistema (e que vivemos até hoje), e consequentemente o dólar passou a ser a moeda
mais forte, surge também os acordos de Bretton Woods, as crises dos Estados, e atualmente,
vivemos num Sistema Monetário Internacional com crises frequentes e o dólar ainda como a
moeda mais forte mundialmente.
A globalização trouxe ao longo do tempo a comunicação, maior desenvolvimento
tecnológico, inovações etc, necessitando que o sistema internacional acompanhe as
transformações ao decorrer dos anos. Entre as inovações tecnológicas, as criptomoedas se
encaixam no Sistema Monetário Internacional justamente por serem moedas descentralizadas
sem a necessidade de intervenção de terceiros, como os bancos, e que utilizam a tecnologia e
poder computacional para gerar as moedas através da mineração por usuários interessados,
podendo realizar transações no mundo todo.
As moedas digitais não possuem regulamentação na maioria dos Estados, o que
acaba se tornando um desafio para ser considerada uma moeda forte mundialmente, pois cada
país possui sua cultura (mesmo algumas culturas serem semelhantes), soberania e leis, e nem
todos aceitam as moedas por considerarem uma ameaça ao sistema, já que os Estados não
conseguem controlar as transações realizadas, porém, alguns pensam em criar suas próprias
criptomoedas, como a Arábia Saudita, Canadá, China, entre outros, pois pensam na
necessidade da inovação do sistema monetário e enxergam benefícios, pois há muitas
empresas que utilizam esse meio de pagamento, além da diminuição da usabilidade de
dinheiro em papel.

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Conforme analisado, as criptomoedas possuem grande chance de ser uma moeda
forte no Sistema Monetário Internacional, porém, levaria alguns anos para isso de fato
acontecer. Com a análise realizada, vimos que as moedas não precisam ser necessariamente
regulamentadas (pois há dificuldades), e sim, utilizar os princípios da Lex Mercatoria como
uma forma de legalizar as moedas, já que é um sistema jurídico onde não é imposto uma
autoridade central e que utiliza os costumes para regularizar as transações e relações
econômicas. Portanto, com a Lex Mercatoria, as criptomoedas poderiam ser utilizadas através
de um conjunto de princípios, regras e costumes de forma regulamentada no Sistema
Monetário Internacional, de forma que os Estados não se sintam “ameaçados” e que consigam
acompanhar as transações realizadas.
As criptomoedas são um tema importante para as Relações Internacionais pois
trata-se da movimentação econômica entre os Estados, além da evolução do Sistema
Monetário Internacional ao decorrer dos anos, onde as criptomoedas fazem parte e que tem a
possibilidade de futuramente ser a moeda mais utilizada mundialmente à frente do dólar. É
um tema atual e pouco pesquisado atualmente comparado a outros temas da área (visto que foi
encontrado dificuldades na pesquisa do tema na área das Relações Internacionais), porém, é
importante para o mundo acadêmico e é importante também entendermos como os Estados
lidam com as moedas que não possuem o controle em suas mãos, adquirindo o conhecimento
de que o sistema está evoluindo e que podemos vivenciar grandes mudanças futuramente
através da tecnologia.

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