Você está na página 1de 147

ETIENNE BALIBAR

CINCO ESTUDOS

02
.r,
,'ì

í O
ô-Ë
ukì4
=Éa
õ3
LlrJI
DO MATERIALISMO HISTÓRICO

t9
U
o.:
&,
o
=

=
ô
VOLUME II

H
' ':
d
Ë
Tradução de

9e
€Í

ELISA AMADO BACELAR

o
i
* LIVRARIA MARTINS FONTES
EDITORIAL PRESENÇA
PORTUGAL BRASIL

Un q mas
=a
da Ta EE

BisLiQIECA CrivarAL
t
Classif.

^-.j
.a

ì
hutor Pr.

È,i
èâ

ì.J'i

ú-i
rÌi
Ês.
J .o\

i(

-_J
-)

a1-
.t
Êa
O
õl

a'\
.'{

a\

MAIS-VALIA

o
s
L
E CLASSES SOCIAIS

6
o
u,
U'
1l"l
U)
UJ
L
f
Título original
:>83
9;É
go t ó
F.-
^ËZtr'

:: tsj É,i

CINQ ETUDES DU MATÉRIALISME HISTORIQUE


G
o

v2

::
Éì<
z

(O) Librame FRANÇOIS MASPERO


a)

11
"

Capa F. €.
_.
Ë

Reservados todos os direitos para a língua portuguesa à


:ã{'r
:*X
rÊì<

:z^'
bô- (2
A<j
ëFÉ

-(.}r
g,ìx
Ëa t

EDITORIAL PRESENÇA, LDA.


Av. João XXI-56-1.º — LISBOA
CONTRIBUIÇÃO À CRÍTICA DA ECONOMIA

<o-

Í<
LU
(J
o
z
ÍE

ô
z
É)
l
!l
Ír
POLÍTICA

\-.i
Introdução

A teoria científica marxista (materialismo


histórico) será uma economia política? Inclui,
como uma das suas partes, uma economia, polí-
tica? Parece-me necessário, na conjuntura
actual, responder claramente a estas questões:
não. Recusaremos igualmente falar a este pro-
pósito duma «história econômica» ou duma
«sociologia económica» (e mesmo duma «antro-
pologia económica»), pois estas disciplinas cons-
em
tituem-—se parte, de resto, sob o contra-
golpe do marxismo, em réplicas ao seu desen-
volvimento— como subprodutos, complemen-
tos ou variantes da economia política: a sua
problemática, quando ela é explícita, retoma
de maneira não crítica todos ou parte dos con-
ceitos económicos.
Bem entendido, não se trata aqui duma sim-
ples questão de palavras, de denominação. O
importante não é tanto designar ou classificar
o marxismo desta ou daquela maneira, é prati-
cá-lo, fazê-lo progredir.
No espaço teórico precxistente, política com esta extensão fica no entanto por

ele próprio

Ë:ãffËí ffiffiiiígiggil;gsísgs
íãËi !riããË;ËEiË'
í= ã,

ãff
determinado pelas condições da história política eriar |...|.» Tal seria portanto o objectivo do
e social, e em razão da participação directa que
ËfiãËËËÊ EgË;Ë Ë ìËÈË marxismo, ultrapassando cs limites da econo-
ele tinha nas lutas económicas de classe, o mar- mia política existente (burguesa), e mostrando

'u'Ë
xismo é definido de imediato como «economia o carácter historicamente determinado, relativo

Ë
política» (embora não só, note-se). Assim, Marx, (c não universalmente racional, humano ou

ãi;'
na Mensagem incumural da Internacional social) das formas da produção capitalista e da
(1864), unindo a luta teórica às pelíticas das troca mercantil,
classes adversas, ! opõe «a economia política Mas a referência à economia política é, na

ËË!ãuËrãã'ããïËË
do trabalho» à «economia política do canital». radição marxista, inseparável da ideia duma
Anunciando a preparação do volume T de O Ca- iËËï crítica da economia. política (subtítulo de O Ca-
pital), ela própria ligada à luta que dum ponto
pital, escrevia ainda: «Este volume contém o que
os Ingleses chamam «the Principles of Political de vista de classe novo, o movimento operário
Economy 2» [...l.» Tais citações pediam sem conduz contra a burguesia, tanto no terreno
iáff
dúvida nenhuma multiplicar-se, no próprio Marx ideológico e teórico como no terreno social e
como nos seus sucessores. Designam cm todo o político, para o derrubamento do poder de
caso a relação (histórica e teórica) com a sustado ce a abolição das condições materiais

: i ã ãËËã':;Ë; Ë,,ËË
economia política (ou pelo menos com a ccono- da exploração. Portanto, põe-se agora o proble-
ËËË i ËËËãÈËi ËëË iË

mia política «clássica») como um aspecto cons- ma de saber o que significa uma «crítica
titutivo da teoria científica marxista. da economia política». É a destruição de uma
Não retemos senão uma coisa mais, pois economia política particular e a sua substitui-
ji

cla fixou toda uma terminologia, retomada até cão por uma outra economia, da qual resta
aos nossos dias. Intitulando a segunda parte do então explicar o que lhe confere um carácter
HÊ Ë

Anti-Diihring «Economia política», Engels de- revolucionário? Ou então é, no princípio, a

íËËãããã iËËãËãË
finia-lhe assim o objecto e o método: <A econo- ruptura com toda à economia política e a consti-
mia política, no sentido mais lato, é a ciência tuição progressiva, sobre um outro terreno,
ËãËÉËÌ

das leis que regem a produção e a troca dos duma outra disciplina, que lhe seja irredutível
meios materiais de subsistência na sociedade e incida sobre um objecto completamente dife-
humana [...]. À economia política, como ciência rente, que ela apreende segundo outras formas
das condições e das formas nas quais as diver- de conceptualização e de explicação, radical-
sas socicdades humanas produziram e troca- mente novas?
ram, e nas quais, em consequência, os produtos Para que esta pergunta tenha um sentido,
í;

se foram cada vez mais repartindo, a economia tlaslss


não basta examinar definições gerais ou de-
signações tradicionais. É necessário referir-se
ao objecto efectivamente estudado por Marx
':!ç-

1 A propósito da obtenção da lei de dez horas,


e os seus sucessores (sobretudo Lenine), à
'a

!.39.Ë

s-ce
È3
È;
ã.x.: -
^S P. b4

C E:JN
c o.Êõ

dQ

limitando a jornada de trabalho e do desenvolvimento


È

" !;

das cooperativas operárias na Inglaterra natureza dos problemas que puseram e resolve-
"x

- Carta a Kugelmann, 28 de Dezembro de 1862. ram, aos conceitos que desenvolveram. Enfim,
õ
É

10 11
é preciso comparar a maneira como designam Marx, é neste sentido (por oposição aos «clássi-
a sua prática teórica e como tomam «consciên- cos», de Petty a Ricardo) «vulgar» (e as mais
cia» com esta prática e com os seus resultados. das vezes também universitária e académica).
Eis uma exigência elementar do ponto de vista lista constatação não é infirmada, mas confir-
materialista. mada, pelo papel que representaram no desen-
O que constatamos então, para o dizer esque- volvimento da econometria dos teóricos (como
maticamente? Que o desenvolvimento da teoria Kondratieff ou Leontieff) vindos do marxismo,
marxista não conduziu de forma nenhuma a que souberam inverter fragmentos da análise
uma extensão da economia política, mesmo fun- crítica de O Capital para «fabricar» novas técni-
dada numa concepção rectificada do seu cas econômicas.
objecto. É preciso então voltarmo-nos para uma
Os marxistas, no domínio da economia polí- outra terminologia, mais adequada. Marx foi
tica, não produziram, podemos bem dizê-lo, o primeiro a introduzir a partir de 1859 (Con-
nenhum conceito económico novo. Quando mui- tribuição à crítica da economia política) o con-
to, o que é bem diferente, reeditaram (com ceito de análise das «formações sociais» (com
êxitos diversos) a operação crítica de Marx: us variantes de «formação social económica»,
investigar através da análise dos conceitos «formação econômica da sociedade»), corres-
económicos e da sua função histórica prática, pondendo à aparição e à transformação histó-
os índices do processo social em que se cons- rica dos modos de produção determinados.
tituiram, os índices das suas contradições, que Apresenta o seu objecto (cf. o prefácio do Capi-
aí se reflectem de forma mistificadora na me- tal, 1867) como a análise do processo «natural»
dida em que tentem achar-lhe a «solução». Se (isto é materialmente necessário) de transfor-
os marxistas representaram um papel na his- mação do conjunto das relações sociais impli-
tória recente da economia política, foi duma cadas pelo modo de produção capitalista. Mos-
outra forma, muito indirecta: porque bastou a tra como as lutas de classe que constituem
sua presença (e por detrás dela a ameaçadora a sua estrutura tendem para a própria destrui-
presença do movimento operário) para obrigar cão, produzem as condições duma revolução
os economistas a «renovar» a sua disciplina social e dum novo modo de produção, sem explo-
deslocando-a indefinidamente, para iludir a cri- ração nem classes,
tica marxista (teorias «marginalistas» do valor) Nele, não se trata por conseguinte, somente,
ou para lhe opor respostas conjunturais (teo- de substituir à teoria económica existente uma
rias das crises, do emprego, do crescimento, do outra teoria do mesmo objecto, nem a fortiori
equilíbrio, ete.). Marx já o indicava (no posfá- um outro «modelo» dos mesmos «mecanismos»,
cio da segunda edição alemã deO Capital, 1883): mas também não se trata duma extensão. A
o próprio desenvolvimento da economia «vul- teoria marxista nunca consistiu, na prática, em
gar» é daqui em diante determinado pela exis- «mergulhar» a análise económica da produção
tência teórica e prática do socialismo cientí- capitalista num conjunto mais vasto, uma teo-
fico. Toda a economia burguesa, depois de ria sociológica geral ou uma teoria da história

12 13
universal (perspectiva que Marx po cm evidência a unidade objectiva da ruptura

ãËãiãiift slital
recusava expli-

ãiËil
citamente). Icorica (mudança de objecto de estudo) ce da
Em relação ao programa que Engeis traçava, ruptura política (mudança de ponto de vista de
num contexto polêmico (porque Dúhring, esse, classe) com a economia política existente. A
julgava-se e queria-se de pleno dircito «ccono- mudança de ponto de vista de classe realiza-se
mista»), a teoria marxista definia-sc antcs, na mun mudança de objecto de estudo, numa

i:Ë ãÈËã;ff ãi ãllãËiiãgË itiãïiffi


prática, como uma restrição. Entendamos por mudança de terreno teórico; a mudança de
isso que o que ela estuda não é a história das *bjecic realiza-se numa mudança de ponto de
formações sociais em geral, mas, até ao pre- vista (teórico) de classe.
sente, as tendências históricas apenas das for- Kis porque, muito esquematicamente, não
mações sociais capitalistas. E mais precisa- seria exacto dizer que a economia política em
mente ainda, é a contradição que, desde a cons- qcral & uma disciplina dividida em dois grandes
tituição do modo de produção capitalista em campos, em que se afrontariam para a solução
modo de produção dominante (desde a «revo- los mesmos problemas as teorias económicas
lução burguesa»), produz a necessidade e desen- oficiais e a teoria marxista, a economia bur-
volve as formas cada vez mais afirmadas duma uucsa e a «economia» proletária. A diferença

ïããig íãããËiÌËãË ãfi ãËiiã


outra revolução, a revolução proletária. O que não se situa ao nível das respostas mas já ao
ela estuda (e estudará durante tanto tempo nível das perguntas, e deve tornar-se tanto
quanto este problema histórico não esteja pra- mais irredutível quanto estas perguntas são
ticamente «resolvido»), é a unidade desta con- melhor compreendidas. Toda a problemática
tradição, com todo o conjunto das suas condi- cconômica é sempre, quer queira quer não,
ções históricas concretas, próximas, longínquas burguesa, Toda a formulação do ponto de vista
ou mesmo muito longínquas. Mas uma tal análise de classe proletário em conceitos teóricos ade-
não podia (e não pode ainda) ser feita do ponto quados, longe de «resolver» as dificuldades ou
de vista da gestão ou da política económica nas os impasses da economia política, não pode
relações sociais existentes, tal como se realiza senão introduzir-lhe contradições insolúveis. A
na problemática e nos conceitos da economia teoria marxista não é uma economia política.
política clássica ou neo-clássica. Ela deve, pelo Eis porque é também necessário, infeliz-
contrário, tomá-los como objecto, explicar-lhes mente, desiludir os economistas que em grande
a origem e a função na luta de classe da bur- número se voltam hoje para o marxismo a fim de
guesia. É portanto necessário que ela se colo- resolver os impasses da sua teoria e dos seus
que, realizando progressivamente este ponto de técnicos, na conjuntura do imperialismo e das
vista no dispositivo dos seus próprios conceitos lutas de classe encarniçadas que ele suscita. À
novos, na perspectiva da classe social que ideia de que o marxismo poderia «resolver» as
luta ela própria, sob o efeito do seu lugar na dificuldades da teoria económica é tão absurda
produção, para realizar a transformação revo- como a ideia de que os capitalistas poderiam
lucionária das relações sociais existentes: a utilizar a teoria marxista para gerir a acumu-


classe operária moderna (o proletariado). O que lação do capital. Ou de que a aplicação do mar-

14 15
xismo poderia permitir trazer uma «solução» da mais-valia e das suas formas (portanto da

gglgmffgm
;i-ff *Ë*ff Ëffi ãËË$ãfffËË;Ëilã.sãËã
às crises da economia capitalista, no quadro xploração) uma simples teoria do lucro, da
das relações de produção existentes, como se ização do lucro, da circulação dos capitais,
estas crises resultassem duma «má» concepção Ou ainda, reeditando à sua maneira o pró-
económica. À teoria marxista, por muito que as prio «círculo» que Marx tinha denunciado em
organizações de classe (e de luta de classe) do Ricardo, tenta definir a mais-valia (e o pro-
proletariado se apropriem dela e a desenvolvam, cesso de capitalização da mais-valia) em termos
não pode servir senão para agravar e utilizar dt lucro (e da procura do lucro), o que é a pró-
politicamente a crise. Ela mostra que a crise negação do princípio da análise de Marx.
nunca tem senão duas «soluções» histó- ta-se de um facto notavelmente constante, a
ricas possíveis bem diferentes: o reforço da que devemos prestar muita atenção.
exploração, que tarde ou cedo lhe reproduz as Não se trata, portanto, duma simples ques-
condições, ou então a transformação revolucio- tão de terminologia. Por muito abstractas que
nária do modo de produção. sejam ainda, estas teses, que não fiz mais do
Bem entendido, esta afirmação pressupõe que evocar, são duma grande actualidade, pois
que se possa identificar materialmente o que, observamos hoje uma dupla tendência oportu-
na teoria marxista e no uso crítico que ela faz nista entre os teóricos que se reclamam do
das categorias de origem económica (a começar marxismo:
pela de capital) é incompatível com uma pro- — por um lado, uma tendência objectivista,

Ëffirgg;gggiliËËã
blemática económica. que se esforça por explicar os novos fenómenos
Já há muito tempo que os economistas reco- do estádio actual do capitalismo (portanto as
nheceram na forma da rejeição e da negação, condições actuais da revolução proletária), ou
a fonte desta incompatibilidade no conceito então por dominar praticamente os problemas
de mais-valia, tal como Marx o «descobriu» da construção do socialismo, desenvolver, a par-
e definiu. Este conceito é aos olhos deles, por tir desta ou daquela formulação marxista isola-
excelência, um conceito «anticientífico», «espe- da, uma «economia política» do imperialismo, do
culativo», despido de todo o valor «operatório». capitalismo monopolista (ou monopolista de
E, inversamente, toda a tentativa teórica Estado), do socialismo, mesmo do comunismo.
que, no seio da tradição marxista, devido Tendência esta que pode ir até ao retomar
à luta ideológica ininterrupta de que é sede, puro e simples das técnicas (matemáticas) e
volta conscientemente ou não à constituição mesmo das concepções teóricas da economia
duma economia política (portanto trabalha burguesa em certos economistas dos países so-
objectivamente para anular a dupla ruptura cialistas (a propósito do «crescimento», do
inaugurada por Marx), assinala-se sempre pelo «equilíbrio», da planificação, ete.);
seu desconhecimento do conceito de mais-valia. — por outro lado, uma tenência subjecti-
Ou então faz dela um uso ecléctico, simplesmente vista, que renuncia à ideia do marxismo como
descritivo, revela-se incapaz de o desenvolver, teoria científica, ou como teoria científica autó-
a
ou tende mesmo a substituir de novo à teoria noma, tendo o seu objecto próprio, cujo conhe-

16 17
cimento positivo desenvolve, para lhe substi- Na exposição que se segue, tentaremos fazer

'A:Í ÊãgE qRõ'eg.ãlrË,*

ËÍoú
FÊs ÈËi
Ë3.q
Eè.. F:S
S
iiI
9:*
;;Q
9f d:
gae ;Ëa ëÊ:
ãEÊ 13"
00)
z,:.7 ei-ü ë;i""i
^ C) -
d.5È :ct:-
!]\ <ã:É. <EE:

ei,'Z
tuir o duma disciplina puramente negativa. A ob essair O que constitui a originalidade da tco-

€:

U .3,;.8
õ n!
teoria marxista não aparece então senão como mi miutxista em dois pontos essenciais:
uma «crítica», encarregada de comentar per-
manentemente os desenvolvimentos da econo- | A definição teórica do modo de produção

'e s Êi
'iHóE
-

.: -.;./: a)

ó (ll :!
ã;+
Olol
3!,s.s .õlü
E-õ
mia política, para lhe mostrar as contradições capitalista, que permite anaiisar a histó-
e os limites. Já não tem nem objecto nem ria das formações sociais capitalistas
história própria. Reduz-se a uma «economia pussadas c actuais;
política crítica», até mesmo a uma variante do
«anti-económico». A definição teórica das classes sociais

.E
.:È?

Eoã
,.d:
311
N

ú
a:cJ
cÌ":
q'3o
K'E
ah-,=
*,7,E
Hfr:
o9Ê-
Por um lado o sub-título de O Capital, «Cri- antagonistas, preletariado e burguesia,

ã
o.ü
tica da economia política», está de facto esque- tal como ela resulta da análise da sua

ã
cido. Por outro, é retomado sem o seu conteúdo, luta.
sem o desenvolvimento histórico real deste
conteúdo (e invertido).
É precisamente porque, sob uma ou outra
destas perspectivas erradas, se debatem efecti-
vamente os problemas que têm por alvo o conhe- 1 Modo de produção capitalista e teoria da

Ë ã ãí ïl;:ãËtãieçË
Ë !;*^ã;cË*fflË.e;g
Ë
;sãËËËãçËË
;sì iËffËiËEËiËi:Êã€
cimento do presente e o desenvolvimento da mais-valia
teoria marxista, que importa adoptar uma ter-
minologia exacta. Uma tal terminologia não
pode substituir-se ao próprio trabalho científico, au) A impossível história económica do capitalismo

:
?!
assim como não pode garantir-lhe com anteci-
pação a exactidão; mas pode contribuir, numa Lembremos rapidamente, antes de mais, al-

*ç;;,=:;íã*,[,
dada conjuntura, para orientá-la correctamente. “umas dificuldades permanentes das concepções

=l;;
.-:
Para tomar um termo de comparação, a correntes da «história económica».

i
situação é hoje análoga, neste terreno, à dos O liberalismo econômico clássico (de Adam
anos de 1914-1918, no momento da «falência da “Smith a John Stuart Mill), assim como a cco-

'7-==!
II Internacional» e da revolução soviética, nomia «nco-elássica» (saida do marginalismo),

ilçlË;ËË
quando Lenine e os bolcheviques tiveram de representavam um sistema económico autó-
renunciar à denominação de «sociais-democra- nomo, funcionando em virtude das suas pró-
tas», sob a qual tinham, depois de Marx e pras leis «naturais» fundamentalmente inde-
Engels, combatido, para adoptar a designação pendentes da intervenção dos factores «exterio-
cientificamente correcta e politicamente despo- res», de ordem social, institucional, política,
jada de ambiguidade de «comunistas». ulcológica (deixadas à conta de diversas «ciên-
Guardando a devida proporção, é a mesma vinis humanas», que se constituem a partir desta
linha de demarcação que se trata hoje de traçar mesma partilha para explicar a «irracionali-
Ël

no terreno da teoria. dade» residual da «racionalidade» econômica).

19

3
18
Nos anos 30 do século XX, em Keynes por cui das fases de equilíbrio e de desequilíbrio, os

ï:: :':;-Ëïl: lr:: : :r;: iïsìr iÊË; r


Ë PãËÈ

áËËiËË
-

ïãËgËï Ëtr Ëi Ëi

ËË ãËË
sË i,Ë,ËË*ËËË ríËËãËçËË;Ëã
-;;Ë

raË ËË ârËeË'ËËgiãËiiiiËËËÊãgËs
ãËi síÉ Lr; H Éë*EEE:
exemplo, esta representação naturalista e optk 15 de expansão e de recessão dos «negócios»,

ãËff Ê ããËË;
mista é substituída por uma outra, que implica wi efeitos conjunturais desta ou daquela política
pelo contrário a intervenção do Estado (pen- econômica sobre o estado do sistema.
sado como um «agente econômico» indepen- fi o que Suzanne de Brunhoff indica perfei-

: EËËË :ËË Ë ;fi


dente) para «arbitrar» as tendências inversas tunente a propósito das comparações recentes

FËÏ Ë:Ë ãëËãEËËËãË

$gsã Ë ËÈíiËËËËgËËíiãgË Ë* ã;Ë


para o desemprego e a inflação. Uma tal repre- culre «ciclos» econômicos sucessivos:

Ë
sentação estava evidentemente ligada às novas «Nestas análises comparativas, quer o passa-

iff
condições devidas à concentração industrial e do seja a norma do presente ou o inverso, a pró-
financeira, à concorrência internacional, aos pria noção de ciclo encontra-se conservada e
efeitos da guerra de 1914-1918 e da crise eco- designa uma flutuação inerente aos processos

ËËËËË
nómica mundial de 1929 e dos anos seguintes. mómicos num sistema capitalista. Os caracte-
g'

No entanto, tendo em conta o que nos inte- res particulares desta flutuação, a sua periodi-
ressa, uma representação não é fundamental- gãË rulade, o facto de que cada fase é induzida pelas
ãËËãi;fi [Ëru ËÃt:E ËÊË

mente diferente da precedente. Em lugar dum condições da precedente, relevam do movimento


determinado sistema, naturalmente equilibrado da economia. É numa segunda etapa que se pro-
Ë

siltg:;ãËíËãi
pela convergência das curvas de oferta e de cura completar a compreensão das causas
ËËË
$iËËsiËEïËËËãË ËËg

procura, dos movimentos espontâneos dos pre- c«conômicas pela dos «factores externos» que

íi3Ëãq€g
ços, da produção e da mão-de-obra, descreve-nos afectam o desenrolar do ciclo. Tarefa paradoxal,
um sistema relativamente indeterminado, com visto que cada fase depende necessariamente do
Ëã iËË Ë,Ë ããlËË Ë

duas saídas possíveis, pelo menos, das flutua- tesenvolvimento da precedente quaisquer que
ções, e que é necessário por conseguinte equili- sejam as peripécias, ou uma vez que é preciso

ff ãË ËË'ËËg
brar por meio de uma política económica adap- completar uma explicação económica já com-
tada. * Mas as duas saídas permanecem «natu- pleta ao seu próprio nível pela introdução de
FË ;Ëig íËã

ralmente» inscritas na estrutura do sistema, ruriáveis históricas que permitam descrever


predeterminadas por ela. toda uma constelação de causas ocasionais. Este
Não pode portanto haver história económica paradoxo é o preço da maneira como a noção de
:ËËËqgË

verdadeira no sentido dum processo de trans- ciclo sucedeu à de crise. Se a crise surgiu du-
formação do próprio sistema, no sentido dos rante muito tempo como uma espécie de produto

Ë
factos manifestando novas tendências, nem di «invasão do não-económico no económico»,

E;
numa nem noutra destas duas representações. “egundo a expressão de Labriola, a noção de
Não pode haver aí senão uma história anedótica
dos «factos económicos», ilustrando a alternân-
Ë

| Para uma exposição de conjunto da história

Ãq*.-'g4Ë
- 9 çË o õh

3€ pë õ aËc >

ãF.:.9"',d
Ë 3" --3È
-'çËÈ:;".*b

'c
!
aEÈ."s
Q!.õ . 9 ^ie"i

õç: S õ Y-
Fã ÈË:õ>
5E

EgF:e;
reunómica compreendida desta forma, cf. Maurice
E i* õ E r

-bF'9.ï1 F

> nfi e
ij of

o S dj.; õ

! F l ê3
.ÊiF.
Niveaun, Histore des faits économiques contemporains,

e€a
t+ Para a critica da noção de «política económica», »o U. PF. Paris, 1966. Para o enunciado das criticas e
'õúi

i ãb Ì
ü;it

.õ:È
ó'.:t

o F Èq

encontrar-se-ão indicações muito interessantes no livro lis correcções que ela suscita nos historiadores pro-
ã3*

>].

de S. de Brunhoff, La Pohtique monétaire, un essai d'in- tissionais, cf, Jean Bouvier, art.º «Crises económicas»,

s-
ã


terprétation marxiste, P, U. F., Paris, 1973. «m Encyclopaedia Universalis, vol. V.
S

o
20 21
X

S
ciclo não pedia destacar-se plenamente senão se- da produtividade do trabalho. * As transfor-

ssi sãsããËËi

Ëï
ËçËË;Ëg=ËÊËëè gEi
'*;rË;: H:r.;Eï
€:ËËÈË E: ããs5**;3Êsl; EËi:Ë +F;;
Ë s g i:í?l Ë I e; iF:E;ËE i iËe È*:Ë : - -
; iËi ïÃËiE ãËEsEãËi Ë Ëï Ë iï ããËË ËË

ië;ËË
.É#Ë* ËËEË È5€.Ëi
i H s ËE É,E.;Ë e:=üiàEiiË: ËË; ËË:3'ã; H

È ÉáE
- =-
ËïtZìË;; !siI Ë!aË:ÊÊç:cst
guindo uma ideia de Juglar segundo 52 qual «a mações históricas e sociais aparecem desde

;i ãi íË; sËË EiãiiíËiËiiË€ãËiËÉiiË

ç
única causa da dopressão é o regresso. Às com- culao como outras tantas «respostas» políticas

g!ãi;ii:
parações entre ciclos de antes e de depois dr v imslitucionais do sistema, que teriam por fun-

-.+=.2
guerra continuam fiéis à explicação eco: nómico, cao adaptá-lo às contradições características
sendo o jogo dos mecanismos cadóge cs unica- de cada grau de evolução. Quer o quisessem

=;
rËãs:-ir!93 ËiÍi
mente accionado ou inflectido pelo choque des quer não, estes economistas marxistas deviam
acontecimentos ou as modificações das estrutu- um atribuir à luta histórica das classes uma

H
ras institucionais. sociais, etc.»'! h icão derivada e secundária na explicação.

s:s€
Mas vamos mais longe: esta representação Esta interpretação do marxismo, já domi-
da realidade «económica» em termos de sis- nante em certos dirigentes socialistas da II In-

Ëc* Ëã:;i€ÈË;ç"i:Ëi
==z;EEi"
temas autónomos, que não pode fornecer uma ternacional (como Kautsky ou Plekhanov), foi
Ë

Eï€*E
explicação do processo histórico, mas somente retomada e claramente formulada por Staline
ãËíËË Ë Ëi

=ssãË;15
uma representação empírica abstracta (um mo- em várias ocasiões. Assim, tratando do movi-
delo) de alguns dos seus efeitos aparentes, foi mento stakhanovista, «exemplo da alta produ-

=*
e permanece paradoxalmente partilhada por tividade do trabalho que só o socialismo pode
inúmeros marxistas, ainda que em termos à pri- dar ce não o capitalismo», Staline escreve:

qíï;t

Ë; Ég€ Ëãã- g gEã


meira vista muito diferentes.À representação «Porqueé que o capitalismo bateu e venceu

ãoe;rrE'e a'òÊ e"is


dum sistema económico regendo unicamente a o feudalismo? Porque ele criou normas de pro-

itì:
esfera do mercado (produtos, capitais c tra- dutividade do trabalho mais elevadas, porque
balho), substituiram ctimallesihánio a de sisto- deu à sociedade a possibilidade de receber infi-
i

3:.sIFi iE I
mas de produção (feudalismo, canitalismo, so- unitamente mais produtos do que recebia em
il itãlË ãitla

eã; ggË:;

i:;ã8 ËËs
cialismo). À ideia de leis de equilíbrio, de varia- regime feudal. Porque tornou a sociedade mais

ii ! :s=iË
cão ou de crescimento económico, substituiram rica. Porque é que o socialismo pode, deve, e
a ideia de leis de cvolução económica (tendo vencerá necessariamente o sistema de econo-

Ësg€i
cada sistema a sua própria «lei de evolução fun- mia capitalista? Porque pode fornecer exem-
damental»: no caso do capitalismo, por cxemplo, plos de trabalho superiores, um rendimento mais
a lei de baixa tendencia] da taxa de lucro), per- elevado que o sistema de economia capitalista.

áá
mitindo ordenar « priori as «ctapas» do desen- Porque pode tornar a sociedade mais rica do
volvimento dos sistemas de produção, e justi-
ficar finalmente a subsiituicão dum sistema
por outro. sob o efeito duma tendência natural | Um exemplo clássico: o Manual de Economia

!ie-!ËEcE:;

B-Es",EliE
5*Ë gã eË I
.:;i:Ê-o9o

ëEEZ. -
tEã s Fï et
B9l
Èr-i ii E: - " *
-i.-8"ãi*I=
EiY zZiàa
i x !! Ë 9.-:'
"EgÃ59j.:
i:'ã
;HeEii:ë
o I É,i1.i áã
È

!-^.!"9 !

8ç8.ã
È:9.:gËÊ3ËB
pontico da Academia de Ciências da URSS, 1.º cdição,
para o desenvolvimento das forças produtivas ÊÈ

ïã; sã; s
ì-- z.:
várias vezes reeditado (em último lugar: Edições

ï- È o s
ian-Béthune, Paris, 1969). Note-se como indice
! i?: i
Ê ii õ b -
rtante, e no momento em que a econonua burguesa

cdE-

9!i
1 S. de Brunhotf, «Conjunturae história económi- substitui a noção de «crise» pela de «ciclo», que
.6
q-

ta

iì, õ)
iiÊ

o:

: - :i

ca», Critique. n.º 250, Março de 1968 (Sublinhado por 'conomia marxista introduz por sua vez a de «crise
.9
;=

3Íi

".:


mm, E. B. ). geral», isto é, continua (e definitiva) do capitalismo.

-
22 23
ôr

R
que o sistema capitalista de economia. '» Vê-se tvórico de evolução, que deve ser ilustrado

ËãËËË ã íËËË

*íeï

ËËËÊËËiiË ffiË;Ë;;

ããËãËãíãggËglgggls

iËËËãËïËËããtËËËiË;Ëí
nesta passagem que pelo próprio facto da sua aproximadamente pela sucessão dos factos.'
representação da economia, Staline devia ser o A menos que, infelizmente, a prática se
primeiro teórico da «coexistência pacífica», en- encarregue (como nos últimos cinquenta anos)
tendida não como uma característica relativa de criar para um tal esquema toda a espécie

ËsËãËãË
dos antagonismos da época imperialista, mas do dificuldades «imprevistas» (desde o desen-
como uma competição geral entre sistemas pro- cadear de revoluções socialistas nos países
dutivos. O que correspondia a colocar-se, teori- «atrasados», incompletamente submetidos ao
camente senão praticamente, no próprio terreno modo de produção capitalista, até aos períodos
da teoria económica burguesa. ? recentes de desenvolvimento acelerado da pro-
Para dizer a verdade, apesar de todas dutividade do trabalho em certos países capita-
Ë

listas, «impensável» em teoria).


as aparências duma terminologia completa-
ËË ãËËËãããç

mente diferente (e mau grado a opinião geral),


uma tal representação
: i:ãã: não é ainda fundamen-
É preciso, portanto, retomar a análise dos
problemas evocados pela história económica so-
bre outras bases: as que proporcionam o con-
talmente diferente das precedentes: toda a defi- ceito dos modos de produção, tal como o defi-
nição do capitalismo, do socialismo (até, por niu Marx, e a análise (dialéctica) das suas
analogia, do feudalismo e de outros modos transformações tendenciais.
;

de produção pré-capitalistas) em termos de


ãË

simples sistemas de produção conserva a ideia


Ë
Ë ãË
de leis «puramente» económicas, enquanto o de- b) Problemática dos modos de produção históricos
iÉãitËI

i ããg
senvolvimento das forças produtivas (causa ou
efeito da sua substituição) aparece como uma As dificuldades que acabamos de evocar
Ë ËË

lãã

tendência universal, natural, situada aquém ou esquematicamente conduzem a substituir o es-


além das conjunturas históricas concretas, e tudo das propriedades dum esquema puro de
ela própria inexplicável. Nem sempre se trata,
Ëã

portanto, de história real, mas dum esquema


1 Notemos que o que está aqui em causa, não é o

t;gË:!ËËí;ËËãË

Ë;Ëçtãïã:ËããËÉ

ËIiEËËËEËËiffã
ígããããíËiiËtË:
facto de privilegiar este ou aquele modelo, este ou aque-
lu «esquema de evolução das sociedades» (unilnear ou
1 J. Staline, Questions du Léninsme, plurilinear): é a própria noção teórica. Ou ela não cons-
tomo II,
:Ë ÈãË:;Ë:ç
Ë9

.i

ÊÈ .45 qEË "


;ï ;i;ã

ë
Èi
is EãËã'siã

3 ; r=Í;si
e
^:

p. 199, Editions sociales, Paris, 1946. litui senão um resumo a posterior: de algumas caracte-
Hsticas muito gerais da evolução histórica: apenas vale
* Conhece-se ainda muito mal a história da então pelas suas «excepções»,
Ë

tanto mais abundantes


= ^ -^s!
çrëË!3f,
3 i',s-E.!,3,3
Í:ïËiil
',E pÈÈ a

cn€ r:1È

URSS. Sugerimos simplesmente que o stakhano- quanto nos interessamos por processos mais determi-
g

" Êã eE

vismo, fenômeno profundamente contraditório, comporta nados Ou pretende determinar antecipadamente, à


ãË

ë ã,ã

também um outro aspecto, ausente desta formula- maneira de «previsão», a transformação histórica:
ção: uma certa forma, historicamente revolucionária, “ então, tarde ou cedo, desmentida pelos factos. Nos
ã:ã; -

de entrada da prática politica na fábrica (mas que não dois casos, é um obstáculo à explicação científica. Dum
ËË

@N
Ê

pôde materializar-se em novas formas de organização ponto de vista materialista, a história universal é um
E

do trabalho). resultado, não um dado. Não há linha(s) de evolução.

24 25

-
pelo estudo das condi-

cantadame
acumulação do capital 1
wa trabalho. Enfim, é preciso uliranacsar 09
ções históricas singulares, e por este facto “Finições «econômicas» “correntes ão enpita!

o
Susa
necessárias (visto que toda a causalidade his- "ja como quantidade de meios de pr

r3
Q
3
Er

O
tórica real é determinada, portanto singular, e mutoriais (de «rcecursos> disponíveis, segun
não universal-formal), que comandam a cons- + lorminologia nco-marginalis e )
tituição das relações sociais capitalistas e os auontidade simpnlesmonte monetá E c dejinir
seus efeitos económicos (a começar pela revo- o capital como processo social de produção das
lução industrizi, a formação do mercado mun- 1 rordorias, no qual,
U à escala de teda à ferma-
ininterrupta do capital ape- E BSS RECO
dial, a acumulação e rsrglsl, o trabal no ass co ES so o, ga O RSA
sy Gs crises cu rocossões temporárias, o nrimeiro «perante» o capita! como um «factor
desenvolvimento desigual das formações sociais de produção» entre outros, se verifica
capitalistas, umas «dominantes», outras «domi- constituir a determinação interna essencial do
nadas»). Isto (as relações sociais, que consti- capital. De maneira que o desenvolvimento do
tuem a estrutura de formações sociais determi- capital é comandado pclo desonvolvimento do
nadas) explica oguilo (os cfeitos económicos de trabalho assalariado, a história do canital
acumulação, de crescimento, etc.) e não o comandada pcla das form2s ce condições Co tra-
inverso. balho assalariado, o processo de desaparição do
Mas para nm pôr em acção este novo capita! comandado pelo processo de dese parição
ponto de vista, é necessário introduzir um con- do trabalho assalariado.
ceito que seja já o conceito duma variação, o Na prática, o que pode conduzir cada vez
conceito aum processo de transformação histó- mais, mau grado as dificuldades dum tal em-
rica material. E necessário introduzir não na
preendimento, a abandonar um ponto do visia
«análise económica», mas (transtornando o
reoncmista» actrca cos ejeitos económicos, €
objecto e a definição) na própria posição dos
a mesmo uma simples projecção das categorias
problemas que ele reconhece-dasconhcce,
transformação das condições históricas e as cconómicas sobre a história, c a transíormar
toda a problemática ceoncmista numa outra pro-
características do capital como relação social. É
necessário portanto estudar a inovação tecnoló- bl mática (a ds formas e d os cioitua hialóricos
!
da luta de cinsses), a duda deterreno» Loórie +,
gica em relação com o número, a qualificação,
as condições de trabalho, as formas de orga-
« ào sobretudo os fenómenos de ruptura em rela-
nização e de luta da classe operária, estudo io às regularidades aparentes da cconomia
que desembren el- prónriono reconhecimento das capitalista (mesmo essas regularidades inquie-
lutas de classos sociais como motor da evolução tantes que são as crises ou os ciclos): «sub-de-
económica. Mas sobretudo, é necessário estudar senvolvimento» ou «construção do ERP LLSADO,
teoricamente a relação orgânica do capital com Mas esta mudança de ponto de vista é também
o trabalho assalariado, a forma específica sob necessária no que diz respeitoàà BISA econó-
a qual ele desenvolve, concentra e acumula o mica do próprio capitalismo, logo que estes pro-

26 27
=
cessos não lhe sejam exteriores, mas lhe este-

ËË;Ë€ ËËËff ËiË Ëã:

ËËËei

+ rËëiçËËË ãËË ïEË iiËïiËãï;Ëã*ËË it


ã, ãËËãËr
O conceito teórico (abstracto) que é preciso

i
ãi
jam intrinsecamente ligados. '

.sã
Esta «mudança de terreno» usar para efectuar uma tal análise histórica é,
pressupõe

íiË ãËËlËËËËã=ËiË ËeÃiÈËiËËËEËËË


que sabe-se, o de modo de produção.

gãlËgïã* gËËigiiÈË
não nos contentemos com justapor uma análise
económica «abstracta» a uma história econó- Torna-se aqui imediatamente necessária uma

ËËìËigãË
mica «concreta», mas que se chegue a lutar radi- precisão, sem a qual se recairá num outro tipo

ggã
calmente contra a representação inculcada pela de formalismo, Não há e não pode haver teoria
economia «clássica» desde geral dos modos de produção, no sentido forte
os séculos XVIII e
XIX (e que resultava da sua própria ruptura do termo teoria: voltar-se-ia inevitavelmente

ã Ë ãiËËgË

;;;lr ãËi l giãËËËËããËËËË aË


teórica com o mercantilismo), representação à uma teoria do modo de produção «em geral»,
segundo a qual qualquer factor «extra-económi- uma teoria ideal da história universal. Por defi-
co» (no sentido de: exterior aos efeitos da con- nição, cada modo de produção implica uma teo-
corrência dos produtores-cambistas de merca- ria específica, simultaneamente no que diz


dorias sobre a própria produção) seria um efeito respeito à sua forma de processo social, às suas
«subjectivo» (em oposição à objectividade das contradições, às suas leis tendenciais e no que

ííÈ;Ët
leis económicas naturais). Lutar contra esta respeita às condições históricas nas quais
representação não significa recuar no seu rigor ele se constitui, se reproduz e se transforma.
ff

ËËãË ãËËì

Mas uma tal teoria específica implica sempre


relativo (em direcção a uma concepção «institu-
uma problemática científica geral dos modos de
cional», uma sociologia, ou até uma psicologia
ËËËËãt;ãeçãã iË

produção, e antes de mais algumas definições


económicas), mas ir mais além: pensar as for- gorais. 1
mas específicas (segundo os períodos) de com- Digamos pois, esquematicamente, isto: todo

gËiãgãgËgË

:ÈãËi:ËtãËËs
binação das relações econômicas, políticas, ideo-
o modo de produção se caracteriza fundamen-
lógicas, como combinações de processos objecti-
tulmente pela natureza das relações de produ-
vos. Pensar a determinação de todas estas rela-
vão que ele pressupõe e reproduz entre produto-
ções ou antes, das suas transformações tenden-
iË ËËã r ËÈ

res direetos (trabalhadores produtivos), não-


ciais, pela luta de classes material, na produção
-produtores e meios de produção materiais.
e reprodução das condições da produção. O que Qualquer modo de produção que implique como
está evidentemente ligado de forma directa à uma condição orgânica (necessária) do seu fun-
possibilidade de ultrapassar os limites no inte- cionamento (portanto da produção social) a pre-
rior dos quais a economia clássica reconhece sença e a actividade duma classe de não-produ-
e arruma o conceito de classes sociais, de for- tores que se apropria dos meios de produção,

e;
mular um conceito totalmente diverso das clas- é por este mesmo motivo um modo de explora-
ses sociais.
g

!
.9'c"õ Deve-se esta distinção terminológica a Yves

Ë;g e,3"i
io eõ*
?-i"ã
6ãfÉg

Éãã
H&".o
^ È;f
t 9;Ë
: s4

tt ã.oõ

:l I
|! Estudar o capitalismo «dominante» Duroux (Cf. Problêmes de Plamfication, Ecole pratique
é estudar
Íâo

ÈE
o S=
çÇ:
Êrú^

ãoE

ós

O processo de dominação do capital: é portanto também des hautes études, Paris, n.º 14, s.d.). Sobre este ponto,

o-
"8

estudar o capitalismo «dominado». ver também a discussão do seguinte estudo, «Sobre a

íi-

g
.'r
â

ihaléctica histórica», & 2.


28
&

29

6)
ção do trabalho social. Até ao presente (se sujrim sob o efeito de reluções de produção

;
ãËãËãË

EËãiiË

ËËi;:ããËãã ãlrË
pusermos de lado cs difíceis problemas postos determinadas. O indice essencial desta tenden-

ã; íËËËãEã
pelas socicdados «primitivas»), todos os modos cit, que representa a unidade histórica das rela-
de produção históricos foram, quer modos de eses de produção e das forças produtivas, é
exploração directa, quer modos de produção conslituído, no modo de produção capitalista,
dominados, dependendo de modos de exploração pela natureza da divisão sociotécnica do traba-
(por exemplo, a pequena produção mercantil tho no processo de produção imediato.
lããl

*âÊã'{iïiËËã
individual). Eis porque a problemática dos mo- Em terceiro lugar, todo o medo de produção
dos de produção é fundamentalmente uma pro- »e caracteriza pelas formas «supersiruturais»
blemática da abolição da exploração sob todas necessárias à reprodução permanente das rela-
as suas formas. ' «vcs de produção (que nunca é totalmente
Ë

Em segundo lugar, qualquer modo de produ- assegurada pelo próprio processo de produção),

,tËËiËËi tllï;iiiãEËË
ËËiet

ção se caracteriza (de forma derivada) pela na- ou antes pelos limites entre os quais estas for-
tureza das forças produtivas materiais que são mas variam historicamente sem que seja trans-
combinadas no trabalho social (instrumentos formada a forma social do processo de produção
de trabalho e formas correlativas da cooperação, (isto é, a natureza das relações de produção).

r* I
imediata cu indirecta, dos trabalhadores), pre- 'ara explicar estas formas (jurídicas, políticas,
Ë, ãc

cisamente nas relações de produção determina- ideológicas), é preciso no entanto analisar antes
das, e que constituem pois a base da sua exis- de mais a forma social sob a qual, devido
tência. a determinadas relações de produção, se
Mas esta formulação, tomada isoladamente, efectuam a circulação e a distribuição dos
EããÏããiiããsË

ËãëËã:E;eiÌË
i

corre o risco de sugerir, quer que as relações de factores da produção (os meios de produção e
sãË ËËã:Ëï

produção e forças produtivas existam indepen- os trabalhadores), e portanto também, secunda-


dentemente umas das outras (exteriormente riamente, a cireulação e a distribuição dos meios
umas às outras), quer que cada modo de pro- de consumo, que em geral deles dependem
dução corresponda a um tipo invariável de for- directamente.
cas produtivas, até mesmo a uma lista acabada
de técnicas, o que desmente absolutamente a
história, sobretudo a do modo de produção capi- c) O modo de produção camtalista: «a mmus-valia
talista. Precisemos, pois: todo o modo de pro-
dução se caracteriza pelas transformações ten- Marx utiliza os conceitos gerais, antes de
ur

denciais que as forças produtivas existentes mais nada, na análise dum modo de produção
particular, do qual são nele indissociáveis: o
modo de produção capitalista. O que o caracte-
1 Tese fundamental de Marx: o modo de produção riza fundamentalmente, são as relações de pro-

o; o
r?ãüo
...: F 5:
.! 3 i q
È.:!i:
Í

capitalista é a úllima forma possível de exploração de dução que opõem o capital aos trabalhadores
ã;sÈ
oJ

classe, o que significa correlativamente que o modo de


assalariados num processo de produção de mais-
o,
o"

produção capitalista não pode desaparecer sem abolição


-valia. À existência da mais-valia (as suas dife-


á,s 3

de todas as formas de divisão de classes


e
Õ
ã

30 31
* que no modo de produção capitalista os pro-

ãË

ËËHiËËãËËËãã:Ë
iËËã
rentes formas sucessivas ou simultâneas) dis-

aËHÈHEã'H:€HE;E
ã.Yç E fi F N E õ *'c
óájËÊ s ss.
ËegËËãËasËs'€ãËï*ËEãË

ïãË€iËË;trgFËãããËËË

;ËËgËiËãËEËiË;ËiEãË
dutos do trabalho (incluindo um excedente cres-

gã ;i;iËËl aiïge;Ëçãa
tingue o modo de produção capitalista de todos
conte sobre a quantidade necessária à reprodu-

ËiÈË
os outros. cão imediata da força de trabalho)
Mas o que é a mais-valia? Aos olhos dos tomam
necessariamente a forma de valor? Da mesma

gËËËËËËËpËE
economistas que tentam reformular o conceito
maneira, o facto de este excedente servir para a
na sua problemática, a mais-valia deve ser
acumulação dos meios de produção numa escala

Ë
definida de maneira puramente quantitativa !: «largada aparece sobretudo com o capitalismo,

Ëi ríËË I
é simplesmente o excedente do novo valor aeres-
mas caracterizaria da mesma forma um modo
centado pelo trabalho social ao valor dos meios
de produção comunista. Enfim, o facto de este
de consumo necessários à reprodução da força

g
excedente ser apropriado por uma classe de
de trabalho. não-produtores directos que lhe determinam o
Esta definição corrente é bem o índice dum emprego pertence a todos os modos de pro-
fenômeno importante : toda a produção de mais-

!
dução de classes. Para definir correctamente a
-valia implica a contabilização de valores e de

]ããííãËãËËË ËËËË

c
mais-valia, não se deve portanto defini-la

iíËãi
diferenças de valores. Mas é insuficiente e mas- apenas como uma quantidade (de produto ou de

ãË=


cara o essencial, pois por um lado, existe um valor), mas como a forma dum processo social.
excedente (se bem que sob outra forma) em O facto de o valor da força de trabalho

: ããË ïËË ËËãiãËãË


todo o modo de produção que comporta uma pro- (correspondente à parte «necessária» do tra-

s;ii i ËË'EïËË, íË
dutividade do trabalho suficiente, e, por outro halho) e o sobreproduto (correspondente ao

gãiËã
lado, uma tal definição é circular — pressupõe «sobretrabalho») assumirem logo um e outro
a resolução dum problema fundamental: porque uma forma monetária (forma desenvol-
vida do valor) é uma consequência, bem como
um meio necessário à reprodução da relação de
1 Digamos mais precisamente: de forma pura-

{Ë;
- iãË 3ãã: ï:t: ÌË eïË:

produção capitalista. *
- iË;: ïïË c ré ?g:a s Pi

ã",Ë3ãeË:. t*; .;g;-e


ËìËEEEggg;:_i;À:i^Ëi
Ést ãç # seg ãsË:iïeiâË
lo+ iõ tã:*'t a::'* S tËo*
ËïiËË i;:ãcË Ë':t;ãË
e+:í:Êse.*ãt"

s FïïË- i

mente contabilística. Pois podia julgar-se, segundo a áE:_-"<:


!:iÊ€ËËEÉË!Ë r€ÈÉF
ËEEãËÉe;ãaËã 3gEËE s

tendênc,a inveterada das tradições filosóficas, que par- O que é verdadeiramente característico da

;g=,, ˀ
ï

timos dagui em guerra contra a «quantidade», à pro- mais-valia, é portanto o modo segundo o qual
F"r:Ë, tËã! z"rÉEii

*,9*;i

cura da «qualidade», duma definição «qualitativa» da


mais-valia. Não existe «ciência da qualidade». Além
este excedente é produzido. É somente como
disso se a economia política, enquanto disciplina e técni- cfeito deste modo que devemos encontrar
ca contabilística da quantidade — valor de troca — não determinações quantitativas.

é como tal científica, a solução que a sua critica nos O modo de produção capitalista não asse-
aãï! Fï: s€E

*5e,9 ì€-oã

ËËË
propõe, não está numa ciência da qualidade -- por exem-
gura um excedente exercendo um constrangi-
á:

plo do valor do uso, portanto das «necessidades». Tudo


mento sobre o trabalho e o consumo dos traba-

i
isto constitui constantemente o circulo da economia
s

política (e do seu derrube).


No seu livro La Conception marxiste du capital

sl:'Ëi

(SED.E.S. Paris, 1952), Jean Benard tinha sublinhado 1 Sobre as contradições específicas da forma mo-
"' js s
.: -i È

'ü,9_
o-Èõ

PsFE

óa -q
logo, e muito justamente, que a concepção eco-

d?
ÈE:
Àq'r;
uetária, cf. as investigações de Suzanne de Brunhoff,
"

gËiÊ

tee

nómica burguesa do «capital» é uma elaboração das it Politique monétaire, op. cit, e do mesmo autor,
categorias e dos problemas da contabilidade de empresa

ã
La Monnaie chez Marx, Editions sociales.
(enquanto se espera pela contabilidade nacional).
s

33


m
32
lhadores do exterior, fora do processo de pro- Lvo (de valor e de mais-valia). Todos os eco-

gliËËãiãgãããËlãg
ieËÈÉgiãËïitE;
iËiÈEãË ËãËïËËãïã:a
dução imediato (como no tributo, na renda fun- stas, enquanto contabilistas, são esponta-
diária ou no imposto pré-capitalista), mas no wnte metafísicos — e não apenas «fetichis-
processo de produção imediato, incorporando di- Ê acham muito natural que o valor dum
rectamente a força de trabalho, a título de mer- objeto sobreviva à sua destruição «física», como
cadoria, no processo de produção cujos meios «alma sobrevive ao corpo, visto que está ins-
materiais estão sempre já reunidos fora dela. erito nos livros de contas. O capitalista, esse
Como se põe então o problema da forma “be bem que na prática o valor dos meios de
social? À partida, para cada processo de produ- produção não se conserva «sozinho». Também o
ção capitalista, os factores da produção estão valor conservado é, de facto, reproduzido como
sempre já dados sob a forma de valor (portanto, quintidade de valor determinada.
com um preço), À chegada, o produto (merca- O valor da força de trabalho é consumido
doria) é ele também dado sob forma de valor (destruído) no processo de trabalho. Os meios
(que «aparecerá» quando for realizada: na de produção reunidos sob a forma do capital
venda do produto; mas o capitalista antecipa “O 05 meios deste consumo, da «bombagem»
esta realização na sua previsão, e inscreve-a ln força de trabalho. Mas este, ao mesmo
como tal no balanço). tempo, cria um novo valor, proporcional à dura-
O valor das mercadorias produzidas pelo cão e à intensidade do trabalho dispensado. :
tï ã ã I
capital pode ser decomposto em três fracções: po então este novo valor, que provém do facto
de força de trabalho ter sido dispendida sob a
1. a que corresponde aos meios de produ- torme capitalista, isto é, como consumo produ-
l':*i ËãËãiãffi

ção; ivo de meios de produção já capitalizados,º


2. a que corresponde ao valor da força de
trabalho;
3. a que representa um excedente. Note bene: não esquecer nunca a intensidade

<:-:;
;= I : ã. ^ o -ì À5: c | -{ãt
::;:!'ã
Ë: ãE: ãÈ:Ë; s íËË;ËË

,P
:Ë! l:+ ás!: p[gq;*:

ci€gl ãi
rg,se;lÈFaìËlËIãirE
1I " Ë- i "È o; õe ïè EÈìE"
ËsS Ei,; q: ti 3 ã: E Ë:

ÈËg:; s3lËeÈËi3iE"
Ësá€È 3.si!àçqHEÉÉF
r èÈ=s :ãããëEI tF i; ã
Ëã"e3
ËìÀ hi ïÍ Ë*;ÈË:* g;:g
.:ÌË: *ie;ËEPëã39"
_"È:ì ã:É€+p"9FàF'
de trnbalho! A identificação da quantidade de trabalho

::-'=:1 :;ì;
.i-. =,. t:Ir.=;;::

g "^Fg
termina o valor, com o tempo de trabalho mensu-
Mas estas três fracções têm um estatuto
E

| não é válida senão para um grau determinado


completamente diferente, dissimétrico. do intensidade do trabalho. Trata-se da chave da
pro-

Ë!c
O valor dos meios de produção é conservado dução de «mais-valia
* ;ièiËË-ã

relativas,

;ã i cì ÉEãè 3^- d .
que os transforma, e O
consumo produtivo de meios de produção que
no processo de trabalho

Fïâ3ráPE-o.;E
et sado capitalizados, reunidos sob a forma de capital
transferido para os produtos. Mas assim, o valor

+Eì
..:
nto cera nenhum valor. Se o trabalho do pequeno
pro-
dos meios de produção não é conservado senão

!:;:ãass sE
tutus individual se cristaliza igualmente sob a forma de

IJÍ
na medida em que um novo valor é produzido: v é porque, como mostrou Marx a propósito do pe-

5ËE: I iê ã
dos meios de eimnponês, também ele está submetido às condi-
não há «conservação» do valor
=a.:----:
produção capitalista, por intermédio do processo
sem consumo produtivo material dos
produção
meios de produção pela força de trabalho, no Ì.li
unto da reprodução do capital: deve pois, para
nireviver, empregar os seus meios de produção como
processo de trabalho; portanto, sem consumo uu cão de capital, de forma a bombear a sua pró-
!
pit torca de trabalho, a extrair a ele próprio sobretra-
da força de trabalho, consumo também «produ-
i:=

l'Ì
halo (Marx nota que nestas condições, e tendo em

a
-

34
35

*
pode ser subdividido em duas fracções, das

áãE;ffi+,s;ffiÈiçË; ã;l;sffsË;iíãsffiiisj;;i

ãËËFêÈl; Ë[:sã*e:;
Ë:ËË
ËËrËi:Ëã íËËií;rËÈ

ïË:i:ËãËËrË$ËiËïã

:Ë;s +g:r ii1ÈË€;ËË


quais uma substitui o valor da força de trabalho portanto não é directamente observável. Esta

ã=ii: : i=€
; F= iËË
ËËË ËË ÈiiÌ;Ë
; ; iË r i E ïãs ; :;sË*Ëãg ïãeãi

tËi:;
*íÈl :Ël;rt;eiiEFËEÉ!Èg Ëi*ËËïg
ë,ÍËqiËËÊs
Ë+ËrË;;Èi;= a;Ë1+ËËHË:Ë à:;sgõË
e a outra constitui a mais-valia. A divisão do ilerença, ou melhor esta diferenciação, é «apa-
novo valor em valor da força de trabalho («ca- guilda» periodicamente na forma de mercadoria
pital variável») e mais-valia não intervém, pois, do produto material como na sua expressão

gÈia
senão demasiado tarde, como uma conseguên- monetária (forma-valor sob a qual o produto
cia do contrato de trabalho assalariado e da circula): esta diferenciação não existe senão

nsíËË
organização capitalista do processo de produ- no processo de produção em que o capital se

i? i l3Ë ã:l
ção. 1 mveste, o qual é o seu processo de valorização
Portanto, se existir sempre uma diferença (Verwertung, diz Marx), e que portanto o

rãË=
essencial, no capital inicial, entre a parte que se define como tal (a soma dos valores apenas é o

=?=í

a:: gi;:ËËËÈ!
investe em meios de produção, qualquer que capital na medida em que ela aumenta inde-

íï;
seja a duração da sua imobilização (capital iimidamente, em que é apanhada num pro-

;ËlÈ íãcãËËr' ;EÉ 3i sË


«constante»), e a parte que se investe em com- cesso de acumulação). Esta diferenciação só
*::lg
pra de forças de trabalho (capital «variável», »erá inteligível se tomarmos como objecto de

:=ii:i::

ËtËãËãçsË iË:esnË
essencialmente, senão exclusivamente, sob a análise a continuidade, à escala social, do pro-

iZi- e È; i.E;
forma do salário individual dos trabalhado- cesso de produção em que ela se opera, e do qual
res *), esta diferença não é dada
a
à partida, e 1 circulação dos capitais-dinheiro e das merca-
dorias apenas constitui um momento interme-

t
conta a mínima produtividade do trabalho individual, io. Sobretudo, não é inteligível senão consi-
i;g
não só o pequeno produtor não realiza qualquer lucro,
como não pode mesmo conceder-se o equivalente dum
Ëãã derando os capitais individuais, formalmente
autónomos, como fracções do capital social, de
«salário» médio normal).
ue preenchem simultânea ou sucessivamente as

:È= lS r: : i
1 Eis porque nada se pode compreender do meca-

Ë =:;ra;Ë
ãeËãiÊãiËilïËiã ie:Ë

ËigiãËãil:É;ãÉi ãiÊã
nismo de produção e de reprodução do valor se se isolar diferentes funções.
à partida o «capital variável» como uma fracção deter- Não estamos portanto perante dois pro-
minada que tivesse por si própria a virtude de aumentar censos sociais distintos, que seriam, por um

r:ì
gËi*FË
e de se anexar um novo valor. Se a relação aritmética
da mais-valia com o capital variável exprime a «taxa de tudo, a constituição do valor (Wertbildung) e,
mais-valia», isto é, a taxa de exploração do trabalho, por outro lado, a produção de mais-valia (Ver-
sob a forma do valor, é porque exprime o resultado do wertung). Se os factores iniciais da produção,

s. r
processo de exploração da força de trabalho, e não as
meios de produção e força de trabalho, têm
suas condições iniciais. Mas, bem entendido, no decurso
contínuo da produção capitalista, e por muito que se «empre a forma de mercadorias (e enquanto tais
abstraia das suas variações de escala (recrutamento de
novas forças de trabalho e variações no valor da força
de trabalho), pode sempre prever-se que fracção do capi- to trabalho»,
::-=.==:- modifica-se: mantendo-se a base
-:.==::;
=
_E,Ë
da

4r.-".=-,i

;ôã-tP9
:
{,8Èg:;
õÈã

iÈËE.õ

seãÉFF*
:: -

€.d_rõ!-5,F,Ì'6
*
ãF5 3E.e;

õ"ióã-f=
'8.,.5 l'È
tal-dinheiro de que o capitalista dispõe deverá ser dis- reintuneração, é em parte suprido por diferentes for-

ã-

bEÊ

õã: qõs
pendida em salários muto de «salário indirecto» (férias pagas, abonos de

fl úË>rõE

o, o.d
2 Com o desenvolvimento do mcdo de produção 1 seguro social), Mas o que se mantém absoluta-
9

õ-3

@ È EÈ
^ FiE
capitalista, e sob o cfeito conjugado da socialização invariável, é a forma individual da reprodução

sË;
da produção e das lutas de classe reivindicativas, "de trabalho, que permite vendê-la e comprá-la
"

s!
o salário individual, imediatamente ligado ao «preço te mercado e que o direito define como «liberdade» indi-
"

!
36
37

õ?
ìr
«têm um valor», — exactamente
representado dutividade pela mecanização e a divisão do

g,

; €ÈË;iËïËã iffËËËËgíããÊË

; rsÉ;ãË;:Ë Èf**E'asÉssÈ€ã
ou não — pelo seu preço), é porque o processo trabalho,
de produção capitalista reproduz o valor e de- Por outras palavras, a análise da mais-valia

ËgË

áËÈËãËEãã iËËËËãiãËËãE:
termina o desenvolvimento da sua forma na cir- ca análise duma combinação interna de formas
culação. À produção de mais-valia é ao mesmo determinadas de luta de classes, específicas,
tempo constituição de valor. constantemente constrangidas a ultrapassar a

gËff
Mas o consumo da força de trabalho, incor- resistência da classe operária que reage sobre
porado no capital num duplo processo de con- o seu próprio desenvolvimento. Formas caracte-
servação do capital constante (conservação de rísticas da sociedade moderna e inelutáveis en-
valor, primeira forma da sua reprodução) e de quanto o trabalho produtivo permanecer um

Il ËãË:ËËËiiii
reprodução «alargada» do capital variável (cria- trabalho assalariado, a força de trabalho uma
ção de valor, segunda forma da sua reprodu- mercadoria.

u
cão, que determina a precedente), é o meca- Vemos que a mais-valia não é nem uma
nismo especificamente capitalista de desenvol- forma de exploração capitalista entre outras
vimento do sobrctrabalho. Por outras pala- (mesmo a mais importante) nem o «funda-
vras, todo o «segredo» da produção capitalista, mento» económico das diferentes formas de
cuja resolução permite explicar a sua história, exploração (cuja descrição relevaria então dum
encontra na unidade contraditória do processo inquérito sociológico, completando a definição
que realiza permanentemente sobretrabalho (e ceonómica).? A mais-valia é a unidade orgânica
mesmo sobretrabalho máximo: não há explora- destas formas de exploração num mesmo pro-
ção capitalista sem tendência permanente para a cesso, é já a luta de classes no processo de
sobreexploração) a condição necessária do tra- produção. O que permite escapar tanto ao eco-
lho em geral. A análise da mais-valia, elemento nomismo na definição da mais-valia (como me-
característico da relação de produção capita- rismo económico de onde derivaria a luta


lista (precisamente a relação, porque o processo, dv classes) como ao ecletismo na definição da
que a constitui), é assim finalmente a análise
das formas sob as quais é crganizado e trans-
1 A falta de ultrapassar esta falsa alternativa,
formado o processo de produção imediato, de

iËËírËiÍi:ï::
!tã*rË;lã:ã;;

r f;;ç;ã'Ëã
iÈËffËË;ãÃ:iË
Ë:Ë:ri:iËËËãi

g'ãiÈ8:*Ë*sssÈs s
t-se mevitavelmente no dilema absurdo que opõe

;::;i,i;::ií.
forma a nele limitar ao máximo a parte do «tra-

u:Ë;;;;;i;
1» Yeivindicações quantitativas» (económicas) às rei-
balho necessário» e a alargar. inversamente, vindieações «qualitativas» (sociais); a luta sindical mos-
a parte do «sobretrabalho» no próprio trabalho tia entanto, sem cessar, que todas as reivindições
quiltativas» (condições de trabalho, formas da dívi-
necessário. São os capitais (e os seus «represen- o do trabalho, etc) são «quantitativas» (pois
tantes» capitalistas) particulares que, enquanto pec em causa o grau de exploração, a taxa de mais-
fracções concorrentes do capital social integral, valiny, e que igualmente todas as reivindicações «quan-
realizam esta transformação e esta organiza- tilnlivas> (nível dos salários reais) são «qualitativas»

ËsËE
os salários são determinados no interior da orga-
ção: prolongamento da duração do trabalho por o da divisão do trabalho, tendo em conta as con-
um mesmo salário real, intensificação do tra-

ïã
» de trabalho e as desigualdades de «qualifica-
balho e das suas «cadências», elevação da pro-

38 39
ç
--tì
exploração (como enumeração empírica de di- da moeda e do capital comercial), mas sobre-

eËÈ' ËËËíiË

ãEË

EËËËÉE3il ËËigËËË
versas formas de desigualdade, de opressão, de tudo actual (nas novas condições, que o próprio
alienação). cupilalismo cria). ' Marx di-lo constantemente:
Antes de prosseguir esta análise esquemá- todos os economistas, incluindo e sobretudo Ri-

Ë
tica das características do modo de produção cardo, estão obnubilados «enquanto burgueses»

ãËi ËË,
capitalista, abrirei aqui um parêntesis para (porque só este ponto de vista tem um sentido
tentar designar, à luz da definição precedente, em relação à prática contabilística do capita-
o que constituía, mesmo na sua forma «clássica» lista) pelo problema da determinação quantita-
(não «vulgar»), O limite intransponível, porque tiva, da variação quantitativa do valor e das
limite interno, da economia política. Podemos ao “uas diferentes fracções.
mesmo tempo tentar esclarecer já o que torna a Esta característica aparece nitidamente no

ËË ËË
análise marxista do modo de produção capita- enunciado que os economistas clássicos (os

E
lista uma coisa diferente duma economia polí- únicos a procurar uma explicação teórica, a não

íËiËËE
tica em geral. “o contentarem com «modelos» empíricos) dão
Para a economia política, a forma valor dos da «lei do valor», ponto extremo do seu desen-

ãË
produtos do trabalho (meios de produção, meios volvimento teórico: «O valor das mercadorias é
de consumo), «forma geral» de todos os pro- determinado pelo tempo de trabalho socialmente

ËËg,ff
dutos, que a sua equivalência com a moeda necessário à sua produção.»
materializa na troca, é um dado inicial intrans- Para os economistas, este enunciado (que

ËË

ËËËËË
ponível. Se a economia política se interroga conduz de resto a dificuldades imediatas na
sobre a «origem» desta forma, é duma ma- sua aplicação) define uma relação quantitativa

ËË Ë
neira necessariamente fictícia, «metafísica», de- entro duas grandezas variáveis: o valor (de
senvolvendo-lhe a génese ideal (por exemplo, froca) e o tempo de trabalho. Significa (teorica-

Ë
a partir da utilidade recíproca dos proprietá-
rios) na própria esfera da troca. A maior parte
das vezes, hoje em dia, os economistas já não 1 Ouço já a objecção dos economistas: não é evi-

ílË;ãËãËÊli;:;íË

ËEË;ËËËËsã;íiËË:

ËËË;ÍiãÊffË*;*ãu

ËË

ÍicËii$ç;çËFií
se colocam abertamente, numa perspectiva dente que a forma-valor precede historicamente o capi-

a=?..=a=a=-.=_a-=
Ud” (Evidência que geralmente basta aos economistas,
positivista, este problema. De qualquer maneira,

ÍËïÃs
“im que se trate de estudar a história efectiva
o problema constitutivo da economia política é 4 constituição da forma-valor e das suas relações com
o problema das variações quantitativas do valor ++ formas antediluvianas» do capital. Donde o mito
ti produção mercantil simples».) Mas esta objecção
(taxa de crescimento, nível relativo dos valo- vonta numa confusão completa: analisar a forma-
res), uma vez dada esta forma.


val não é remeter para uma origem histórica, é dar
canta do processo actual da sua constituição, portanto
Para o materialismo histórico, o primeiro

sÃÊE:Ë
li via reprodução. A história da sua formação pro-
problema é inversamente explicar a própria 11" Iva noutras condições sociais é um problema dis-
constituição desta forma, resultado dum pro- Hulo, ec não tem de representar o papel duma origem
*c ainda presente. Os filósofos sabem (ou deviam
cesso social e histórico, não apenas passado bei) que esta confusão foi posta em evidência, hã já
(através de toda a história do desenvolvimento tro. séculos, por um certo Spinoza.

40 41

ç
mente pelo menos) que o valor relativo de dife- nas colocar como

ãËãË
um facto, totalmente

ãËgããÈããËiã*iãËiã;Ëtã
enigmá-
rentes mercadorias varia proporcionalmente aos tico, a equivalência média entre o valor dos
tempos de trabalho que foram respectivamente memos de consumo necessários aos trabalhado-
necessários à sua produção. Mas não explica rese o valor da própria força de trabalho.
nem em que condições o «trabalho» (ou o «tempo São estas duas questões eliminadas pela eco-
iÊgãi ãËËËãããËiããËãããi{iËg*,iË;Eãã
de trabalho») se torna uma grandeza «mensurá- nomia política (porque não têm formulação pos-
vel» (a não ser por uma tautologia: o trabalho “ível no espaço teórico duma problemática con-
é medido quando os seus produtos circulam uni- tabilística, onde todos os conceitos são já deter-
versalmente e se trocam uniformemente uns minações quantitativas particulares do valor,
pelos outros no mercado); nem como se efectua quantidades de valor particulares) que a aná-
a determinação duma grandeza por uma outra (e lise de O Capital de Marx põe, pelo contrário, à
determinação não tem aqui senão um sentido partida,e que abrem um campo de novos proble-
aritmético, funcional); nem por que motivo a mas. Mas estas duas perguntas não pedem ser
quantidade de trabalho se exprime «indirecta- tratadas independentemente uma da outra, nem
mente» sob a forma, ela própria quantitativa, mmdependentemente da existência da exploração,
desta representação que é o valor (de troca). cujas formas históricas elas obrigam a estudar.
Como demonstra Marx, o ponto de vista A equivalência entre valor dos meios de con-
constitutivo da economia política evita e elimina sumo e valor da forca de trabalho (portanto a
sempre duas questões fundamentais, que estão determinação do valor da força de trabalho no
ligadas uma e outra à estrutura histórica de processo de reprodução da força de trabalho
exploração, à natureza da relação de produção como mercadoria) assenta nas formas de luta
capitalista: «dt» elasse que reduzem o consumo dos trabalha-
1. Elimina a pergunta: o que é o «tra- dores à simples reprodução da sua força (e da
iïãããriËã

balho social» que determina o valor? Qual "ua qualificação): assenta portanto na expro-
é a estrutura do processo social que implica priação dos trabalhadores, depois na manuten-
uma determinação quantitativa dos produtos cito da sua concorrência permanente, que asse-
sob forma de valor? A única «resposta» que a gura sob formas específicas do cada fase do
economia política fornece a esta pergunta (res- capitalismo o desenvolvimento dum «exército
posta sem pergunta explícita) consiste em evo- industrial de reserva».
car a divisão do travdalho em geral, independen- Mais fundamentalmente ainda, a análise do
temente da forma social sob a qual ela se “trabalho social» como fonte do valor remete
efectua. lirectamente para a exploração. Como mostra
2. Filimina a pergunta: quais são as con- Marx desde o início de O Capital, o desenvolvi-
iiã!çË

dições que fazem da própria força de tra- minto da forma valor implica ele próprio o
balho (a economia política diz: «do trabalho») luplo carácter do trabalho», ao mesmo tempo
uma mercadoria, tendo um valor determinado, e (segundo a terminologia original de Marx) tra-
que permitem assim contabilizá-la na avalia- balho «concreto», diferenciado segundo os ra-
ção do produto? A economia política pode ape- mos duma divisão social do trabalho (que o

42 43
Aos olhos de Marx, já vimos, éf o próprio

Ë
capitalismo aprofunda e modifica sem cessar),

ËãiÈlgÈ
ãË

gËËË€ËíiËEËËËj
processo de produção de «mais-valia» (portanto

ËËËÈãiËËË ËãÈiãË
e trabalho «abstracto», incorporado nos meios
de acumulação do capital, de concentração e de
de produção, trabalho que existe materialmente
Ëi i Ë ããË i Ë EãË ËËãË ããË ãË: ÈãËËiË Ëggã: lE
monopolização dos meios de produção) que
a título de «simples dispêndio de força humana». reproduz permanentemente a forma de valor de
Analisar a «fonte» do valor, esquece-se demasia- todos os produtos e da força de trabalho (não
das vezes, é pois estudar oprocessono qual cstes sem que intervenha por vezes, brutal ou pro-
dois aspectos aparecem e se condicionam reci-
nressivamente, uma «desvalorização» quan-
procamente. Ora só o modo de produção capita-

ãË sãagÈ I ããl
titativa mais ou menos importante: mas esta
lista lhe dá uma forma desenvolvida e universal, desvalorização significa precisamente que a
à escala da sociedade inteira: pois só ele trans- forma geral é mantida).
forma universalmente os meios de produção em
Em lugar de definir a exploração como a
«monopólio» duma classe particular, separados consequência dum mecanismo económico (e de
da força de trabalho, o que permite utilizá-los entrar, como o socialismo utópico e reformista,
como meios de «bombear» trabalho humano in- no debate que visa saber se os mecanismos eco-
dependentemente de toda a utilidade imediata nómicos arrastam ou não inevitáveis antagonis-
deste trabalho (para o produtor, mas também mos de classes), Marx define pelo contrário as

ii
para o proprietário dos meios de produção). formas económicas como momentos e efeitos
A análise de Marx conduz assim a um da exploração, de que ele dá pela primeira vez

gEË
«derrubar» paradoxal aos olhos dos economis- um conceito objectivo (em vez de se contentar
ff ããËãËË

tas: em lugar de desenvolver as consequências com lhe descrever os diversos aspectos empi-
duma definição geral do valor ou as conse- ricos e com reclamar de modo utópico a sua

i*ËãËË
quências dum princípio quantitativo de deter- abolição).
minação dos valores (ou dos preços), uma e Pode então compreender-se porque é que a
outro abstraídos da prática do capitalista, expõe cntegoria valor é de imediato (e se mantém ao
uma forma particular de organização social do longo de toda a história do capitalismo) a cate-
trabalho, que confere universalmente aos pro- poria teórica nevrálgica, descriminadora. Ela é
dutos a forma de valores (de mercadorias simul- v ponto de «conflito», isto é, o ponto de diver-
t ËãË ãË ããlË

taneamente objectos de uso e quantidades de Jência permanente, inconciliável, entre a econo-


valor), uma forma particular de organização mia política eo materialismo histórico. Conforme
do trabalho social implicando um antagonismo » ponto dessa divergência for ou não claramente
permanente, inconciliável. Deduz, daqui, as con- «percebido, o próprio objecto da crítica de Marx
dições históricas às quais se encontram subme- “ ou não reconhecido. O termo «valor» cobre
vom efeito, para nós, ao mesmo tempo uma cate-
tidas a acumulação, a circulação e a repartição
voria económica, que figura explícita ou impli-
do capital social (subdividido em capitais par-
"amente na base do raciocínio económico, e por
ticulares e concorrentes). E abre ao mesmo
ro lado (materialismo histórico) uma deter-
tempo o problema da transformação histórica minação de forma do processo social de produ-
destas condições.

44 45
minual e do trabalho intelectual na produção.

E
do processo social de explo-

; ! iË Èg iãË l iËãeË ËË! ËãË i ãË ãi ËãËËi

ËËE
ção de mais-valia,

ãtã;st*: ïg;;ã;ËiãÉ:ËËËËËã,ËãlãËËËt íi
ËãtËstr iË1Ëli=ËEiË!;çËËã ffãÈËË;Ë
ração. É por isso que se põe sempre de novo A divisão do trabalho manual e do trabalho
a seu respeito o problema da «crítica da econo- intelectual, e havemos de lá voltar, é com efeito
mia política». A economia política não pode dar a unidade real, complexa, do desenvolvimento da

ãt
conta do materialismo histórico. Mas o matceria- produtividade do trabalho (pela mecanização) e
lismo histórico pode dar conta da economia to desenvolvimento da intensidade do trabalho

È
política e explicá-la, como sistema de represen- que, no modo de produção capitalista, não exis-

ãË
tações ideológicas implicadas nas técnicas tem independentemente um do outro.
objectivas da exploração capitalista. Notemos de passagem que o que os historia-

t*
Esta situação foi, bem entendido, compreen- dores chamam vulgarmente «revolução indus-
dida e reconhecida na tradição teórica marxista. trial» (arriscando-se a descobrir em seguida
Mas muitas vezes — num contexto acadé- uma «segunda» e uma «terceira» revoluções in-

;I
mico, com o fim de apresentar o marxismo no tustriais), é apenas um aspecto da primeira
decurso duma «história das doutrinas econó- fusc deste processo, no qual se encontra destruí-

gg
micas» — foi deslocada para um outro terreno, da (não sem resistências violentas) a estru-
que é ainda um terreno económico: a oposição tura artesanal do processo de trabalho (aptidão

$ËgãËË
das «teorias objectivas» e das «teorias subjecti- de ofício, correspondendo à utilização de ferra-
vas» do valor (incluindo as primeiras «o mesmo mentas individuais especializadas), e no qual
tempo Marx e os economistas clássicos, Smith, “tt criam pela primeira vez as condições mate-
Ricardo). Mas esta oposição é secundária, e, Hiais dum processo de trabalho colectivo e con-
tomada à letra, é falsa. Marx não faz uma «teo- línuo (fábrica). Mas esta base técnica é por
ria do valor» no sentido dos economistas. É sua vez revolucionada ao longo da história do

Ë
precisamente por isso que pode fazer uma teoria "apitalismo, tanto no que respeita à natureza

i*
objectiva, histórica, da forma-valor como efeito dos meios de trabalho, como no que diz respeito
e momento dum processo social real. às qualidades correspondentes da força de tra-


hilho e da divisão do trabalho.
Enfim, o modo

ã
d) O modo de produção capitalista: base e de produção capitalista
superstrutura varacteriza-se por um mercado, primeiro «con-

lãï ff
correncial», em seguida relativamente «planifi-
Podemos agora voltar ao enunciado das
cado» (graças à concentração do capital finan-
características gerais do modo de produção capi-
“rtro), onde os meios de produção como a força
talista, tal como resultam da sua história.
de trabalho devem ser trocados contra o dinhei-
De maneira derivada (mas bem entendido
ro a título de mercadorias, a fim de serem con-

ËEarË
absolutamente necessária), dissemos que o modo
epntradosËãsïï nas empresas (unidades de produção
de produção capitalista implica um processo de
típicas do capitalismo).
revolução industrial ininterrupta das forças
Mas, retomando estes termos, que
produtivas, incorporando a força de trabalho

ËË?
são corren-
tes no uso dos economistas e até dos historia-
num sistema de máquinas em parte automati- tores, é preciso ter em
i atenção que a época

i
zado e aprofundando a divisão do trabalho

-
46 47
'
«concorrencial» da história do capitalismo é de

Ë;e ËïÊËãËË ã;E:ã;:É

ËË$
Correlativamente, a época muitas vezes de-

;ãÌ Ë-*s"=-' ;;;;p.8Ë


egÈ:ËËËËtËEã,ï1ËËF
: ã; :ãeEËËE ;ËËãËiiã
ËËËËïãËË+rã:+:tïËãËã

".ì EÈ.c Eãol9.e^q


srEì.õõd
rF !E Ê sE

.Qa!-E).P

ËE
gÉ'1Ë

õó oEs.+
SSaSÈï' =Ë
flÈ 3È sr E c õ.F c P $.ã ^.= c; ç g *- a9

EáËHfl"ã

.s E'H*, H iE
â;; íft€ : si is iÊ Eã â s dF",;"ã.Ë
__gËã È ! É .ro*.Ê fl ËÉ 3;: dÈ È s s :
Èçe-eeF,'
Ì H'eiË"'Ea s Enfr;;
ë i7 c
'sÈáEãi
facto aquela em que a concorrência é ainda nominada «monopolista» é de facto aquela em

=?!iaâÍ
a menos intensa, a mais desigualmente desen- que a concorrência é mais intensa, resultando

g:i"ãã

g õ! Ë. +Í.EE'úE:

ã õÈ.o I õ'õ'
volvida: os «entraves» nacionais que ela conhece preci-

" È :E'3* o u ãÈ ó"YE.!! ".3ÉI ìË'


— devido à sobrevivência prolongada dos «mente deste grau de desenvolvimento extre-

Ë::

ó i.
modos de produção pré-capitalistas, ao mes- mo. O monopolismo, e voltaremos lá, não é a

Ê.
r'Ë

.d
mo tempo na «periferia» dominada e nos «cen- nbolição da concorrência, mas a sua exacer-

g
I

n u s*
tros» dominantes do mercado mundial; bação.,
— pelo facto da concorrência entre os capi- Podemos agora introduzir aqui uma preci-

$iË

.+ãd'EÉ:,iã
E
*:Ë 3EË EÌÉ ã'Eì P,s se

Ë.HÊEEËEË!:ËE
psíaÊE.tE3?EÌEËË.F
iEïFSsFsÈËç!õ,e.gE
ï i Ë'9$È,s sÊ;;P ! ဠE
õôo:õ-vã!d^d

.^;áçÈS:*HÉ:
tais ser geograficamente limitada e retardada sto teórica e terminológica. O processo social

l'd,tfE:È +E:-*E'*'ì F
ie.i'úi::i;i.r;1
pelo fraco desenvolvimento relativo do capital de exploração da força de trabalho assalariada,

*'Ë S

I,:F: ü'Ë.i: Fe EÉ
financeiro; o processo de produção de mais-valia, constitui

EË*E;E
— pelo facto, enfim, de o mercado mundial

ËËËËËïË
o clemento fundamental das relações de produ-

O
ser então dominado pelo poder industrial, cão capitalista: aquilo a que podemos chamar a

g'E

ãËE
comercial e financeiro dum único país capita- relação de produção capitalista fundamental.

TT
lista (a Inglaterra), que conseguiu durante O movimento dos capitais, no mercado finan-

Eta

Ê:

g; g;Ê ÈEFË
meio século (1820-1870) impor a todos os outros ceiro do capital-dinheiro e no das mercadorias,

p.iË.EiË,+s

H€,HqF
países uma relativa «liberdade» das trocas portanto o movimento da sua concorrência e da

E3

ËÈ E H;:3
internacionais, isto é, o livre escoamento dos sua concentração, com as suas contradições
seus próprios produtos. * próprias, depende deste aspecto fundamental. É

ì s.Ë Ë
o que podemos chamar o elemento secundá-

-x"

F'ã.ãP

iE;:
rio das relações de produção capitalistas, neces-

dj ã
1 Ver a excelente exposição de E. J. Hobsbawm, Ër :ÈËË; *Ë:i;Ë:Ë:ËË;
:È;:Ëã:!ËãËËËËããË;gË

Ei i;eË:r;:ãi?ï;Ë;:sg
íiËËã;ãíiïIiiÈ*iË:i
:E c,iãsïãgr:,r iË;r; í
;Ë iiEEËI-g:g;gi'cEãË

ã; ;?ï:Ë:Ë Ë:ÃÊ 3gEËãÈ


siriamente implicado na sua reprodução de con-
i=_;qEËË;iËË::!Ë;,=_

ÊË
Industry and Empire, Pelbcan Economic History of
Britain, 1968. junto. Quando falamos das relações de pro-

È
A forma fundamental da concorrência, como o
demonstra Marx, é a concorrência dos capitais que
procuram investir nos ramos de producão em que a taxa vu exterior é mais importante entre os países «desen-

Ëe:e€ Ë re

ã;:;gãEãçIã;cËË

;i;ciãi;ã:;;ËÊË

Ëã:
: ilcï5ãE;'Ë: H:'ã*
::!:É,!'=:i=7'=z-!,.

E3

e s€ã i:'ÉiË:! e e ããE


â?Ëi;ËË;Ë:Ë*ËEg
;ë€:ó.ËË!üËãã:
de lucro é a mais elevada (cf. O Caprtal, livro III, sect. 1). vidos» do que entre estes e os países «sub-desenvol-
Mas a concorrência dos capitais não pode ser final- s»: isto tem a ver não só com a desigualdade dos

ç 3 É3,^ì
mente sancionada senão pela venda dos seus produtos: mercados de consumo solventes, mas sobretudo com as

ËË*Ë;üãiËË!
ela implica portanto a concorrência das mercadorias possibilidades muito desiguais que oferecem à exporta-
no mercado No século XIX, se a exportação das merca- » dos meios de produção Quanto mais forte a expor-
:-::
dorias se estende ao mundo inteiro, a exportação de

i 9E Ée:3 ! f
capitais (dinheiro que dá lucro) é fraca e daí, igual-
mente, a tendência para o estabelecimento duma taxa vsportar simultaneamente (notoriamente para os U.S.A.)

=
ti
r ::::

geral de lucro Bem entend.do, a exportação dos capi- o mesmo tempo o material ferroviário e os capitais

ç
tais, que caracteriza a fase actual (e que favorece a mvestidos na construção dos caminhos de ferro. Nos

E
concentração das sociedades multinacionais e dos ban- nossos dias, os U.S.A. são simultaneamente o principal

u}
cos) não suprime a exportação das mercadorias: pelo utador de capitais (os grandes monopólios america-
contrário, intensifica-a, sobretudo no que diz respeito nos possuem unidades de produção no mundo inteiro)
ca
'@
: I

aos meios de produção. Sabe-se que o volume do comér- 1 principal exportador de meios de produção.

48 49
ç

s
dução capitalistas, designamos sempre a uni- o modo de produção em formações sociais (con-
dade destes dois elementos, desigualmente de- eretas): donde a necessidade de dar mais um
terminantes. pesso, e de introduzir novos conceitos.
É a forma de circulação e de distribuição
historicamente resultante do desenvolvimento
das relações de produção capitalistas, a qual im-
plica por sua vez a generalização da propriedade O Pormação social
jurídica individual («privada») como condição
da disposição dos bens materiais quaisquer que O que é, pois, analisar uma formação social?
eles sejam (incluindo e antes de tudo os que não Pergunta que envolve uma outra: como definir
entram num consumo individual, os meios de nina formação social, por exemplo, a formação
produção). Daí resulta tendencialmente que, se inl francesa actual?
a posse do dinheiro se transforma no único meio Abstractamente, pode propor-se vários ele-
de aceder à propriedade, a propriedade jurídica mentos de definição, que correspondem a pro-
se torna essencialmente, por seu lado, o meio de blemas diferentes que surgem na análise:
dispor do dinheiro, «equivalente geral» das mer-
cadorias. 1. É o conjunto das classes sociais, histori-
É enfim a própria forma da relação de pro- nente constituídas. Ou, mais rigorosamente,
dução fundamental que implica o desenvolvi- “o conjunto das relações das classes entre si,
mento tendencial da liberdade individual (pelo “ quais constituem a estrutura da luta de
menos civil) dos produtores e dos não-produ- classes histórica.
tores, num pé de igualdade formal. Portanto, é
2. Estas relações de classes não se situam
no conjunto desta base que é possível articular
as relações de produção as formas supers- Lodas no mesmo plano, se bem que sejam todas
com
truturais» desenvolvidas pelo modo de produção materiais (práticas). São desigualmente deter-
capitalista, em particular as formas políticas e minantes em última análise: eis porque disse-
ideológicas do Estado capitalista (que se apre- mos esquematicamente que uma formação so-
senta, pela primeira vez na história, como um vinl é o conjunto duma base material de rela-
Estado de «todo o povo», isto é, de todos os indi- cocs de produção e de circulação dos produtos
víduos, de quem deve surgir como o «repre- (relações que não são em si próprias «econó-
sentante»). micas», mas que produzem efeitos econômicos),
A teoria do modo de produção capitalista é v duma superstrutura de relações jurídicas,
a teoria do processo no qual estes diferentes políticas e ideológicas.
aspectos são combinados e «agem» uns sobre 3. Mas o que significa, na ocorrência, «con-
os outros, através das lutas de classe de forma junto» de relações de classes? Em última aná-
determinada. Mas para desenvolver esta teoria, bic, significa que a unidade contraditória das
não basta considerar o conceito (abstracto) relações sociais numa formação social nos
do próprio modo de produção, é preciso analisar remete para o processo de conjunto da re-

50 51
produção" das próprias relações de produção,

ËíËËiË

ãËË+Ï;ËËã+ËË

ËËiË;ÃíãiËFË ;ãïi:ËËËËiÏËËË ËËt


ãË;ËisËç:9;Ë
s;ËË ïng
Rad
iço, sem dúvida. Z as
Mas há uma razão

;; sË: p!: ãË ÊËË n ÈËË


Ë eru i I: El-'aeÈti eã;
mais

s:*eÈËFj*;sl;**ËËË
;tËEii:Ërc:ËcF:EsÈ
que é a chave da «correspondência» histórica

íË;ëïE:siÍËiËÈiËËïË

Ê=ü'q*ãëi3;,:*ÈEgË;
$:Ë Ë:ËËB$:íË::ããËË
Eg;:ËãEEisË:Ëãsã:s
amental: é que a análise duma formação
entre base e superstrutura social, e que traduz
o papel determinante das relações de produção. al (tal como a praticaram efectivamente os
melhores teóricos do marxismo) nunca é à re-
No entanto, uma tal unidade não existe
prescntação duma totalidade, nem a tomada
teoricamente senão sob uma forma concreta,

F
cm consideração de «todos» os aspectos da prá-
que resulta do desenvolvimento, no seio da for-
ãËË ãã

mação social, dum modo de produção particular,


tica social «sem excepção» na definição dum
processo (ou do modelo dum processo) único,

Eg
historicamente dominante, e das lutas de classe
que implica. No que diz respeito às formações como se fosse preciso esperar a realização mí-

iËË- I
sociais dominadas pelo modo de produção capi- lica deste conhecimento total para conhecer
talista, esta forma a «verdadeira» estrutura da formação social e
concreta é tendencialmente
IÈË

a forma nacional. 15 causas «últimas» da sua transformação histó-


Detenhamo-nos aqui rea. Uma tal ambição de totalidade unificada
um instante. Cada

F s Ë 1Ë$Pi ËË: ËËn àsi


iË:ËËiËËãÏãefË
uma destas formulações abordadas
vc um fantasma teórico (de resto não exclusivo
permanece
Ë

abstracta e contém termos que em si próprios dis ciências sociais), que pode obnubilar o eco-

'i
i ËiËË ;Ë ãËiË Ëï

precisam de ser definidos. Não procuremos, no uomista insatisfeito com a «abstracção» da sua
entanto, construir formalmente, com a ajuda
discíplina, mas que não corresponde nem às
destes elementos de definição, uma formulação normas da objectividade científica nem às exi-
única (uma definição «geral» da «formulação réncias da prática, 1
social»), nem eselarecer-lhes as obscuridades ao
mesmo nível de abstracção. É apenas na me-
dida em que eles se investem nas análises ! Acrescentemos isto, em

Ë
intenção

Ë;i;ígÉãËãËerË;rsãËËc

ËË;È:f
dos «filósofos»:

;:g;Ë:Ëi:; ilË:;*ËËËãi

ËÌË;illlËËËetËËËãËËË;
No seu artigo «Sobre a dialéctica
efectivas que se pode precisar a definição de materialista»

z
igË;iËËiË i; iËË ËgËË Ëã
(Pour
Vurr, Maspero, Paris, 1965),

j
Althusser desenvolveu,
tais conceitos científicos abstractos do materia- preco, uma teoria da totalidade; em particular uma

r:
lismo histórico. As formulações precedentes do «todo social», tal como o concebe o mar-
deveriam apenas ajudar-nos a orientar correcta- Opôs a categoria marxista do todo à do

;
todo
«no Mas é preciso, seguindo
mente a análise,

=
Althusser no porme-

;;tffË:lffËËËiã
da sua argumentação, dar atenção a que,

:ã.
É evidente que não vamos no entanto repro- do
to de vista marxista,
Ë

a dialéctica não se define nem


FãË

duzir aqui a análise completa duma formação peln totalidade mem pela totalização. É precisa
ii

mente
social, mesmo eoqme Althusser demonstra:
esquematicamente. Por falta de não apenas a dialéctica
=
meirsista (materialista) implica uma concepção
tnlo
li
:i;Ì=
e uma concepção
duiléctica
da contradição diferente
hegeliana
do
da
a (idealista), mas devido
cita transformação interna, desloca a relação
1 O conceito do processo de conjunto da repro- das
"!
^ ãol cR

e8Y.i

(,,

'=: Èf

j E*;ìú'
, s g8

íã;;i
9!:
a'qE:'
3.ü>

É's.e E Ë
cËi?
"_;ã@

i.9s9

dução das relações de produção e, antes de mais, da iris entegorias. A dialéctica marxista
não se define
€ g fl>È

^
";]"-n

relação de produção fundamental nº li totalidade, mas pela contradição, e mesmo


(capital/trabalhado- por uma
=.iì;;'
^ s bÉ

q õõ

res assalariados), fo pela primeira vez enunciado por “entradição que, no seu princípio, não é absolut
amente
*H

Marx em O Capital, livro II (1885), Editions futulirzáver (visto que é irredutível à unidade simples)
Sociales, .
Êì
rF

Paris, 1960. bi tito não por um defeito de totalização (uma contra-


furo que não seria nunca totalizada, sempre em via de
52

53

ffi
De facto, o objectivo duma análise científica, revolucionária, conduzindo à4 tomada do poder

:Ê!

gË,áËs ËËg E ;:E E:


{E ìs à:!Ë Ë gE

:EfirÊrsËF:€Ë:
Ë

:e+ãtFFE* :Eë.hT*
Ë
€ë iE Ë: Ëé s+ ã{Ë,s:

Fs€ E'' ES -i €:Ël=


aË'"ìt:Éi
ã; i eìË;:E 3*Ë;*
õ ãE.eÈËË:

jaj
é, para cada processo, aspecto particular da luta de listado. É neste sentido que Lenine definia a

.diÈõOc,üx

a,Ë; iÈË
Ebã
iË.*iÈ:ÊEË;ï*ç*
a;
de classes, poder determiná-lo nas suas relações «política» como «o concentrado da economia».

U),;:J.!.
g€
desigualmente actuantes com r todos os outros. lila supõe portanto a possibilidade de «situar»
gl -
O que importa então, não é representar (ou vm relação ao próprio proletariado, e antes de

Ëh.Zi

figurar) a totalidade, mas captar a determina- mis do ponto de vista dos seus interesses mate-
Ë,s=*cd.á
ção tendencial, a desigualdade (isto é, a comple- reis c das suas relações de força numa conjun-

"' q -!.
diË
xidade) das determinações, portanto também tura particular, todas as classes sociais em

$3F:; íËl,
a forma concreta sob a qual, numa dada con- luta. Portanto, a necessidade de hierarquizar e

= !eÈt=
juntura, elas se combinam. Ë
i;i!'E articular diferentes formas de antagonismos de
í H.<,r.0
Ê Èe.dij

Na teoria marxista, a «formação social» é, classes, para mostrar como o antagonismo fun-

..idOc'i
E,.I3EË
por este facto, o objectivo por excelência da dimental (capital/proletariado) é «sobredeter-
õ'g'.-

prática política que supõe para o proletariado minado» por todos os outros e os determina por
âEË
a definição e a rectificação permanente duma ua vez.

Ëç
táctica e duma estratégia unificadas de luta No
seguimento desta exposição, abordare-

(d
c

mos apenas um primeiro aspecto deste pro-


hlema: encararemos de mais perto (indo buscar
totalização: concepção adiantada por Sartre, que faz vleumas ilustrações à formação social fran-
retroceder do idealismo hegeliano para o idealismo trans- cega) o conceito de antagonismo de classe
cendental), mas pelo contrário porque comporta sempre entro o proletariado e a burguesia.
já um «excesso» de determinação (gue Althusser chama
Enunciemos agora, sob uma forma abstrac-
sobredeterminação). A contradição da dialéctica mate-
rialista é, se assim podemos dizer, mais que uma tnta- t1, algumas teses que nos parece necessário
lidade (mais complexa que uma totalidade). Na con- propor:
cepção idealista (hegeliana) da dialéctica, a contradi- Em primeiro lugar, a análise marxista das
ção é sempre pensada em e sob à categoria de totalidade classes
em e sob o pen- não é uma simples descrição histórica,
(da mesma forma que o real é pensado
samento, a representação). estatística, sociológica das classes. E uma
Digamos as coisas doutra forma: o que distingue explicação do processo permanente da sua divi-
a dialéctica materialista, é que ela exclui toda a possi- mo, e das suas formas sucessivas. É portanto
bilidade de fazer da totalidade o conceito (isto é, a
explicação científica) dum todo concreto e da sua hi's-
tundada na análise da própria relação social
tória. A totalidade não é o conceito do todo real, ela rapitalista, do «capital» no sentido rigoroso
não é senão a imagem (a imitação). O conceito do todo do termo: deve partir daí e aí voltar constante-
é o conceito das suas contradições e das suas delermi- mente.
nações. Assim as formações sociais capitalistas (e
também socialistas) da época actual, a do imperialismo,
tm segundo lugar, a análise marxista das
reflectem nas suas contradições internas o conjunto das classes põe em evidência a sua dissemetria
contradições do sisteme mundial do imperialismo e o essencial, no próprio seio da relação que as
lugar que elas aí ocupam: mas não há «formação social enc, isto é, que as opõe. A relação do proleta-
mundial» na qual estas deternunações possam aparecer nado com a burguesia não é portanto represen-
como os aspectos complementares duma mesma totali-
dade. Livel nem como uma hierarquia numa escala

54 So
,
contínua nem mesmo como um par de termos Se, portanto, nem todo o grupo social é

iiilïËËff
l ;ããggglËËãÉËËãËããã*ãËgããããËiãËËËtË ËË

ãËãiË

ãa*ËiË i:ËiËËãã*
semelhantes, colocados face a face. Uma classe, uma classe (se, neste sentido, é absurdo querer
no processo da sua constituição, não é a ima- repurtir exaustivamente os indivíduos e os
gem invertida da outra. Relação de antago- s“rupos numa classificação social), nenhum está
nismo não é correspondência termo a termo. situado fora do antagonismo de classes e dos
Em consequência (terceira característica), sous efeitos. É portanto este que é preciso estu-

l e issgs
convém distinguir cuidadosamente o conceito dar em primeiro lugar.
de classes (quer dizer, o antagonismo de linfim, as próprias classes, na sua existên-
classes) do conceito sociológico de grupo social, vim histórica, reúnem ou dividem sempre os
de que se é levado a fazer uso para fins descri- diversos grupos sociológicos, que não subsis-

ri
tivos. Não apenas qualquer grupo social, que se tem imutáveis. 4 história duma classe social
distingue pelas suas funções na produção, na (proletariado, burguesia) não é a história dum

ggilg*;
circulação, no Estado, não é em si próprio uma unico grupo social e da sua transformação
classe, mas sobretudo as próprias classes ïgË (pro- mterna, continua: é a história da sua repro-
letariado, burguesia) não se definem como sim- lução sob novas formas, a partir do conjunto
ples grupos, mesmo dominantes ou principais. das condições criadas pelo desenvolvimento da
Nem todo o grupo social é uma classe. Em
todas as formações sociais capitalistas actuais gÏ exploração.
Examinaremos
ËË ãËË ËãË ËË

portanto sucessivamente o

gggËËËããËËÈiËËËã;i
(as do imperialismo), não há tendencialmente problema colocado pela definição do proleta-

fiiï
senão duas classes reais, o proletariado e a bur- riado e o que a definição da burguesia põe, a
guesia, mesmo quando subsistem, ao lado da partir da sua relação com o capital, tal como
produção capitalista dominante, outras formas icabamos de o definir. Cada uma destas defini-
de exploração, portanto outras formas de orga- cocs aparecerá primeiro como um desenvolvi-

rgËgã
nização da produção, portanto, outras contradi- mento diferente do conceito do capital. Se a
ções além do antagonismo fundamental. Pois «leia que acabámos de propor duma dissemetria
estas formas de exploração são dominadas pelo “ justa, devemos poder baseá-la na análise do
capital, que destrói tendencialmente as classes próprio capital como relação social: de facto,
anteriores como classes autónomas, e «simpli- vuremos que é preciso encarar dois aspectos
ãi, Ëgã*lt le

lËËËËaËsu
fica», isto é, radicaliza, os antagonismos de aticamente inseparáveis mas teoricamente
classes legados pela história. liferentes no desenvolvimento do capital: a
O próprio desenvolvimento do capitalismo organização da exploração na própria produção,
cria funções sociais novas, que fazem com que que estã na base do proletariado como classe;
surjam grupos sociológicos novos (as famosas v processo de circulação e de acumulação de
«camadas intermediárias»). Mas estes grupos capitais individuais, com as suas contradições
não constituem classes: longe de modificar a específicas, que estã na base da burguesia
forma do antagonismo fundamental, são os como classe.
efeitos do seu desenvolvimento, e são apanha-
dos no processo da sua reprodução.
g

56 57
2. O primeiro aspecto do antagonismo de definido, pela sua relação (a maior parte do

ô
;€ ïa;*ffsËËËãÈïËs;EÊ;r;;ãiE*g

:i *aËrãã
*

Ëi i

ã;

ãF3Ë
s* t: * * ËËËãËEËËËãEË*Ëãf,ããË
$=

:ãl;Ë; iË: Eç

ãËi;ïiíËÈ ff € ;Ë ;ãË Ë ;ËïiË ï!ËË;Ë-íËiiË


Sg Es3Êëã ìelEËqü=i.rg€:!EËËËiE
ËË ï€Êi
ãÈ *Ë:#5Ë 5Er.?:;

F esâï$m

íÍÊgË ;ii* te,í,


classes: proletariado e capital tempo fixada e consagrada por leis) perante
«3; meios de produção, pelo seu papel na orga-

ff 5Ë;i $g á;ï ; i ã;; i,tssglc;


nação social do trabalho; portanto, pelos

gi
É notável que os grandes teóricos do modos de obtenção e importância da riqueza
Éì


ig;F1* ã:l;;;:Ë*e:lÏËÏÏË

:: sìs u;e áËÏ !ËËËË EE Ë ::i$ËËËf sËãã


marxismo se não tenham praticamente preo- social de que dispõem. As classes são grupos

; ì ÌËF iE Ë, Ë Ë- Ë iË íË ãfi íËËããËË!


ËtË

Ë
cupado, ao contrário dos sociólogos, em apre- de homens entre os quais um podc apropriar-se

í3Ê
sentar quadros de classes sociais, ! se bem que du riqueza do outro, por causa do lugar dife-

ËË
os comentadores se tenham por vezes dedicado rente que ocupa numa estrutura determinada, à
ü**"

ËË
a fazê-lo, reunindo indicações dispersas nas suas rconomia social. '


análises. Aqui, a ordem é aparentemente invertida:

=
ã
O próprio Capital, que assenta integralmente parece pressupor um quadro, portanto uma
ãËliËËÏË:s;nË;Ë;íïãi

gg#r't:rtp.[Ë::ãuã ãíË
t;
na análise do mecanismo de produção e de re- classificação estatística, segundo critérios
ËË: ËËi: ÉE€ã"iÈ

È:H

r:;ËeËË
partição da mais-valia, opondo classe operária económicos e sociológicos, e chegar à estrutura
e capital, não parece consegui-lo senão como da luta das classes. De facto, o conteúdo da
s.es hE c a ãE Ì s.g a f; Fã

EË HË H.s
conclusão (num capítulo incompleto). Por este «definição» de Lenine confirma a nossa cons-

I;Ée.;;
facto, ouve-se muitas vezes sustentar que a aná- tntação inicial: o que constitui o objecto da
gis*;
lise das classes estaria praticamente «ausente» snálise marxista das relações de classes, é direc-
de O Capital. Na realidade, neste capítulo. ane- tamente a sua estrutura de antagonismo e o
nas se trata duma análise da distribuição dos sou processo de transformação, e não uma

iË:È iïE ãs +r s; se{


rendimentos. Ora esta distribuição, como o classificação prévia. Dai a ausência de quadros,

l*i:9Ëë
demonstra Marx, é apenas uma consequência da que não é paradoxal senão na aparência: o que
fE.i;

[Ëg;:
relação de classes na produção da mais-valia. º permite, com efeito, constituir quadros de clas-
Também se cita sempre a seguinte definição seg sociais, hoje pelo menos, são essencialmente
de Lenine (cujo contexto é necessário relem- os critérios jurídicos ou sociológicos e as
brar: é formulada para esclarecer a natu- escalas (lineares) de rendimentos. Mas o
gãËilïí

reza do processo de supressão das classes a quo é determinante, a relação com os meios de
$

;egËËã*ãËl
seguir à revolução socialista) : produção, o papel na organização social do tra-

Ë*
$'E

«Chamam-se classes vastos grupos de ho- halho, o mecanismo de apropriação do sobretra-


É

mens que se distinguem pelo lugar que ccupam balho por uma classe de não produtores, não

t t lË Ë Ës
íË

num sistema de produção social historicamente possui geralmente uma forma tão simples.
E

Para esclarecer estas dificuldades, vamos


buscar alguns elementos à análise da formação

H
1 Uma das principais excepções é constituída pelo
F- B É"q>
ë.'st
.ÉìüeõÈÈ

ãSR","Éi
ã H6o.s 4
È<
!€ H.:
.ËÈâ;ï"

social francesa actual. E para simplificar ainda,


Ë
3E!*È.:E
ãs F

@Pì ã*d i P
3,r
áÊ õ 9 õ
ü

3 , i:-Êa
:ËË.eÈiú

célebre texto da juventude de Mao Tsé-tung, Análise


g'sEÈ.8

-C;

qP

das classes da sociedade chinesa (1926), «Obras Eisco- façamos abstracção, aqui, da análise das rela-
ËË
a

eãì

lhidas», em francês, Pequim, sd, t I O texto de ções de produção na agricultura e do conjunto


m
-õ't:
..9 ã

Marx, muitas vezes citado a propósito, O 18 do Brumário


ã gl
ãÈÌ
P ":-ê

de Luis Bonaparte, não é um quadro das classes sociais 1 Lenine, 4 Grande Iniciativa (1919), Obras com-
Ë
I

-g

q
2 Marx, O Capital, op. cit., livro III. pletas.
Ë
-

58 59
ffi
das relações sociais no campo. Omitimos assim industrial). Mas esta tendência é menos acen-
problemas importantes, tais como o do proleta- tuada, relativamente, do que a da salarização
riado agrícola, o da «proletarização» dos campo- em geral,
neses pobres, o dos laços de dependência que — Terceiro facto: o aumento da produtivi-
ligavam ainda recentemente ao campo uma dude do trabalho, muito mais rápido do que o da
fracção não desprezível do proletariado indus- própria classe operária.
trial, ou até continuam a ligá-lo. O nosso resumo
diz respeito apenas, e de maneira incompleta, Estes três factos são correlativos. Expri-
ao proletariado industrial: a classe operária mem todos o desenvolvimento do modo de pro-
como proletariado. lução capitalista na formação social francesa.
Na literatura actual, analisar a classe ope- Com o desenvolvimento do modo de produção
rária é, antes de mais nada, capitalista, a actividade social, produtiva ou
dar um recensea-
mento estatístico dela. Ora, assim que procura- não, tende a apresentar-se como «trabalho» em
mos avaliar a importância numérica da classe geral, sob a forma jurídica do salariato, incluin-
operária actual, encontramos do no serviço do Estado ou na direcção das em-
uma série de difi-
culdades devidas à significação presas. * Para esta tendência concorrem eviden-
restritiva do
termo «operário» na estatística corrente, temente a concentração da produção e da distri-
à im-
precisão das estatísticas de desemprego, etc. buição, a eliminação dos produtores e comer-
As estatísticas fornecem-nos apesar disso o ciantes individuais. A grande indústria capita-
índice de três factos essenciais, que é necessário sta subtrai sem cessar (mau grado as desigual-
apresentar antes de mais: lades e as excepções) trabalhadores imediatos
tos modos de produção «tradicionais». Mas o
— Primeiro facto: a parte sempre crescente modo de produção especificamente capitalista é
também, historicamente, aquele em que o niúme-
dos assalariados na «população activa», onde
podemos ver o índice duma tendência para a ro dos produtores directos é proporcionalmente
salarização generalizada (no sentido puramente o mais fraco, * porque a intensidade e a produti-
jurídico do termo).
— Segundo facto: a importância numérica ' Segundo os recenseamentos do IN S.E.E,

F;Ëiíaiïãã"Ëi
os

iË::ff;iiË
Ël;ff iãíi

;EÉLE
r

rãïËi ;ãË:
"nsúlariados eram, em 1954, 62% da população activa
absoluta da classe operária, incluindo todos os

::::: =^, = =.\=


'ì-.

"Èsã
total; são, em 1968, 76%. Pelo recenseamento de 1968,
trabalhadores directamente empregados na pro- operários (incluindo os operários não especializados e
dução de bens e serviços materiais: os que, à “vs menores), contramestres e técnicos constituem 40,3%
ln" população activa.
escala da sociedade inteira, produzem merca-
* Ver a este respeito os desenvolvimentos de Marx

Ë
dorias portadoras

ÊI:S
de mais-valia, acrescentando “bre o «salário de direcção» do capitalista, a propósito
i-:=

É-+ã
um valor novo àquele que os meios de produção da distinção entre capital portador de juro e capital
já representam (nos quais é preciso natural- ustrial (lucro de empresa): O Capital, op. cit.
mente incluir 'o HI.
os dos transportes, das tele- s Tendência já notada e analisada por Marx, no-

'gã;

íË'
comunicações, até de certos estabelecimentos

È:*

AE

;s
meadamente segundo o recenseamento de 1861 na Ingla-
-a
.=i

de investigação científica organizados à< escala terra: O Capital, op. cit., livro I.

60 61

d
vidade do seu trabalho aumentam constante- de «fracções» repcusam sempre sobre diferen-

ilgããgãg;sgtsggs

ffËËËËããiËìã{ËiãiÉãËiÊiããíã*ËãËïuË
mente. É aquele em que se observa ao mesmo cas de «qualificação profissional» e de estatuto
tempo a mais forte concentração de trabalhado- nas empresas, as quais são tidas como recor-
res produtivos e a mais forte proporção de popu- tando a diferença das condições de trabalho,
lação improdutiva, « mais forte produtividade las remunerações, das condições de existência.
e a maior improdutividade da história. Contra- Mas estas características concretas são instá-
riamente a uma opinião generalizada, o papel veis por definição, e sobretudo não podem
histórico crescente (portanto o papel político nunca ser apreendidas através das classifica-
crescente) dos trabalhadores explorados nas cações oficiais sem deformação nem mistifi-
formações sociais capitalistas não assenta no cação, pois estas classificações, que têm por
seu número crescente, mas na sua concentração objectivo essencial o estabelecimento duma
acelerada e na forma radical! da sua exploração. hicrarquia de saláries, com a pressão perma-
A importância numérica da classe operária nente que ela implica, nunca correspondem
deve portanto e sempre ser apreciada tendo em «xactamente às diferenças objectivas na natu-
conta os efeitos conjugados da concentração reza dos trabalhos efectuados e nas condições
industrial e da elevação contínua da produtivi- de existência. Na prática, de resto, a posse
dade do trabalho. individual duma qualificação não implica de
modo algum a ceupação dum posto correspon-
doente na produção (em particular para os
a) «Pracções» e divisão tendencial da classe
i,

trabalhadores «demasiado jovens» ou «dema-


operária
stado velhos», que correspondem a massas consi-
Daremos agora mais um passo. As preci- deráveis).
glggãgggsl;ãlssãl

sões anteriores não têm sentido, como se sabe, Na prática, portanto, é necessário utilizar
se as não completarmos pela análise das «frac- os fraccionamentos recebidos apenas como ou-
ções» da classe operária, que é o objecto privi- tros tantos indices, indirectos, da forma social,
legiado da «sociologia do trabalho»; e se não historicamente transformada, da divisão do tra-
analisarmos a relação necessária destas fracções, balho, primeiro no processo de produção ime-
que é a condição do uso dos meios de produção diato, depois, sobre esta base,no processo de con-
existentes, ao mesmo tempo que da sua trans- junto da reprodução da força da trabalho. Mas
formação histórica. É aqui que começam as é preciso ir mais longe: é preciso definir a classe
dificuldades. Pois, dum lado, a classe operária operária, enquanto proletariado, pela sua unida-
não se define como classe social (digamos como de histórica. Ora esta nunca é dada de uma vez
proletariado) pela sua importância numérica para sempre: não é, em cada época, senão
global, isto é, como uma simples população o resultado dum processo tendencial. O proleta-
homogénea em relação a um ou vários critérios riado define-se de imediato pelas divisões, e até
de classificação (para enunciar tais critérios é ns contradições, que reflectem na sua própria
preciso limitarmo-nos a abstracções muito ge- unidade o desenvolvimento das formas de explo-
rais). E, por outro lado, as análises tradicionais ração. Ele constitui-se pelo jogo destas divisões

62 63
di população «operária» activa. Esta proporção

ËËgt
como unidade tendencial no processo de produ-

,r ËËsE ËI;:Ë3 € $ËË ;!ËE;,Ë; g rËÈËiËËÈ !Ëã


ËËgËË;i;Ër:artãrnãËE ãËË ËËËË; c Ë EË: g

Ë lË
risËrFçïËnÈ È itËãËãiE
Ë

ãË ËlËËlËËiËãËíãËl

ãËïË;ÏËÍ;$ ilËEEiËi È:ËãEË:*EÊ:.Ë3


ção imediato e no processo de reprodução da varia consideravelmente dum ramo para outro:

ãÈË
força de trabalho. superior a 50% na indústria petrolifera; 28,3%
Assinalemos em seguida a necessidade de na indústria poligráfica. Na mesma data, os

ËË
não nos limitarmos ao processo de produção operários não especializados são 1 489 140, ou

ii,ãi

imediato (mesmo que seja a base da nossa aná- seja 22,4% da população «operária». As varia-

*$ËÈi'eËEËi
lise), pois esta limitação conduz directamente coes são igualmente fortes: 33,7% na indús-
íï
ao «tecnologismo», que afecta profundamente fria do vidro, 11% nas construções eléctri-
a sociologia do trabalho actual. Entre as ten- cus e mecânicas. O total da mão-de-obra não

rËÈËf
ããgãË€

dências do processo de produção imediato e as qralificada estabelece-se assim em 62,8% dos


condições de produção da força de trabalho, «operários» (51,1% em 1954).
pode haver não só desfasamento, inadaptação, Comporta uma «mobilidade», isto é, uma ins-
mas contradições, que devem ser colocadas no tabilidade de emprego máxima, portanto uma
centro da análise da classe operária (e que per- concorrência directa também ela máxima entre

ËËË
mitem compreender por que motivo os pro- trabalhadores, tornados praticamente intermu-
gl

blemas da escolarização, da formação profissio- táveis. É em relação a esta fracção sobretudo


nal, da imigração, são hoje, num país como a que o mercado da força de trabalho aparece
iË,ËãËËËËi Ë ãããããÈíË

ïËËigËËËËãËc
França, pontos teórica e praticamente nevrál- claramente como aquilo que é: um «mercado de

i;,ãiçgããi
gicos). compradores», um monopólio de compra domi-
Voltemos então, para os examinar de forma nando os vendedores individuais."
tíË Ë*;ããËiiËÈ;ã

crítica, a alguns dados bem conhecidos que di- Notemos desde já, as condições de reprodu-

ËÊ iË
zem respeito ao fraccionamento da classe ope- «ão desta fracção da classe operária são muito
rária, na repartição corrente. particulares, e características da fase histórica
A massa da classe operária é hoje consti- uctual: encontramos aí uma importante propor-
cão de jovens trabalhadores (pois o trabalho

ËgÉãff Ë uu Ë
tuída por trabalhadores oficialmente classifi-
cados como trabalhadores não qualificados de operários especializados «gasta» muito de-
(trabalhadores não especializados e operários pressa a força de trabalho). Sobretudo (volta-
especializados) e trabalhadores desqualificados. remos a este ponto), esta fracção compreende a

ãËjËËËË
Esta fracção da classe operária é a mais nume- maioria dos trabalhadores imigrados (mais de

i! s'se
rosa. Mas sobretudo, sabêmo-lo, sofre um dois milhões ao todo em 1971), cujo número
aumento regular, sob o efeito das transforma- aumentou consideravelmente no último periodo.
ções tecnológicas da produção, essencialmente É essencial não confundir esta fracção da
pelo aumento do número dos operários especia- classe operária (incluindo trabalhadores imi-
tizados, que constituem o seu elemento novo vrados) com um «sub-proletariado», mesmo se,
e característico (ao contrário, a manutenção
tende a mecanizar-se em parte).
Ë

Em 1968 (números do I.N.S.E.E.), os operá- 1 Cf. sobre este ponto J. Benard, A concepção
Ë

çË

ã*
..ü4

Êa
e-

8"r
murasta do capital, op. cit, pág. 72 e seg.
rios especializados são 2 650 380, ou seja 39,5%
Ë

64 65
pelas suas condições de vida, pelo desemprego Halar de «fracção inferior» da classe operá-

'?iï?
È.8ëE
Ë".ãr-ã"-

+i
ae; :ËËgtããi
iá3*-Ëlsr
ËËrËgi€
ec 3-+*Ë ã Ë

ËïË
àOi Olb a,

&ã ás ã E'&
ËËFËil;E
xE
;

^;itoì^.

ii* ;ç; i:ãã*rËt *cc[ËËË ããïïjË :


:]j
ã:EËã:ã $
o Po I

rË:ã:ËEÈgËËÊËE
E:õ&ï'ficE
periódico relativamente importante (inclusive ria (por causa da posição destes trabalhadores

Í:;Ël;*ã:;ã íi ËË iiËãË: ËË*a; ei


E:ã
em período de «expansão» e de «pleno emprego», na basco da escala dos salários) tem como

v!:3

u5ËËEË
s Pr

v d
pois trata-se para o capital de manter uma rota- tado induzir em erro: pois, pelo seu

ar; ï:iËËi gË cs ã;*r;:


á,3 c)
cão rápida do pessoal, ao mesmo tempo por papel inteiramente integrado no sistema de má-

Ei
3 s,Èã
^
c)1
causa do desgaste da força de trabalho e como umas e subordinado a ele, na extremidade da

õi Íq ã
cd O ^
ã'9Ë otr
meio de luta contra o sindicalismo), tem um pé divisto do trabalho, os opcrários vspecializados

E
E€
no pauperismo propriamente dito. du grande indústria estão cada vez mais no

ã
centro do processo de produção da forma capi-

üË ï ruË -€ËË;
lialista. A grande produção industrial repousa
1 Um autor universitário sublnhava-o recente- à vez mais nas novas qualidades da força

ËyÈËE+:: EË tË:;ããí *3eÌe

;-,i;
Ê:
; :: E' IË ;?Eï H; Ë;*ãïË EsïËÊ ã€ *ã;íË;ãË1
Ë
:ÈaÏ
À

i:Ë;ËÊi
:;€ gËË gãi:i iïÊ *:Ërirèsei; ãËã;s€Ë aas
F,3 3 r !: A QáEã ÊeIë'7
:EË iãiËËfi

1
mente, «este fenómeno de pauperização, que não é de trabalho que pouco a pouco desenvolveram

súe eËË
grã;ÈtE

ãíã Ë iÉ íËËãËËãËËË F
p;Ë

específico da I'rança, é em geral mal conhecido [.. ]


fpira compensar a desqualificação e manter
iËË ïi;+
as estatísticas são estranhamente pudicas. E preciso re-
correr a um estudo de 1962 para obter informações in- " intensidade do trabalho). Primeiro ponto mui-
ËËã:IE Eã;ËãËtãËÈiãËãgE ãaiËãËiËã

discutiveis. Revela que 27% das famíhas dispunham en- to unportante.

Ë-1Ë
tão dum rendimento anual inferior a 4000 francos, isto
No entanto, uma fracção importante da
:i;i:

ii:ffiEíãË* ãË
é, que lhes permitia com dificuldade, mesmo juntando-
ilusse operária é sempre constituída por traba-

ËE;ã aÊ: r ËH;91;tiuË*sËÈi i:: E Í


-lhe os abonos familiares, cobrir as necessidades elemen- q Eã Ë EÊ eg

EÂsãÊ;;
tares de alimentação, alojamento, vestuário |.. ] Quan- * ;EEË'E thadores «qualificados» («profissionais»). Me-
s l; ;
ã:** iÌ:Ë; Ë€* ÊË; Ë; bË€E EqíË:

tas serão hoje ao todo? Puderam ser feitas diversas nes numerosa do que a precedente, constitui
avaliações, muito diferentes na medida em que não apli-
no entanto quase um terço dos efectivos de con-
ãE

í: i;ãËÉiE
cam o mesmo critério de pobreza. Podemos adiantar
com alguma certeza o número mínimo de 5 milhões de punto dos trabalhadores industriais. Saída do
lt;i:
*ãã! ;ie q::c:::ËË: ãFE;?

pobres «primários», isto é, que se encontram aquém ou processo da revolução industrial, que durando
;:ïï*3

mesmo ao nível do «standard» de vida mínimo. Mas es- quase um século, mecanizou sob uma primeira
:* ãHïts ãËtÈ e n E âíïãïl

iiïE
tendendo-se a «linha de pobreza» até 20 ou 30% acima do
turma todos os ramos de produção importantes,
=

«patamar mínimo vital», reagruparia provavelmente até

ãa€gËq
10 milhões de pessoas , isto é, 20% da população». (Mau- iormou a base histórica das organizações sindi-
ÊÍ:Ë; Ë ál a?Ëe;r:i:

rice Parodi, «História recente da economia e da socie- rius e políticas da classe operária (graças à
Hi"âË ËE
dade francesa [1945-1970]», Historre de lu France, dir. ma relativa estabilidade de emprego).
E! ì:È ç ã;ÏË s:;È3

G Duby, Paris, Larousse, 1972, tomo III, p. 359-360.)


Como se vê, a «teoria da pauperização», antigamente Hi essencial não confundir esta fracção com
ËË: aãli laa:e;

sustentada por certos marxistas, tinha pelo menos a mma «aristocracia operária», no sentido de cer-

Ë
vantagem de pôr em relevo um facto fundamental. Bem
entendido, os cálculos acima dizem respeito ao mesmo
Eâã:

tempo à classe operária (incluindo desempregados,


pessoas idosas, doentes, de quem a estatística burguesa HO UGO trabalhadores com um salário inferior
::

3 3 ÉÈ< ã!{
==::-:'a

ã."i:
!"ri
:3,,EPãÊÈ

ã õ.r - oë
{ c.r: d ! o
F.3,,; a ÀF

'l-e

'- o Rg õ

33'3 ;1e3
oco
EÃd . ó $-
a 1000

EË* ,ã,
"Ë'

dm!
i-;
se desembaraça dando-lhe o nome de inactivos) e a ca- o por mês (cf. Documentos do 38 Congresso
madas muito importantes de pequenos exploradores agri- n nal da CG. T, Le Peuple, número do 1.º
ì5
o de 1972). a
gâi*:;

e
colas, pequenos comerciantes, empregados, criados, assa- M, E vo éh de
lariados agrícolas, etc. No que diz respeito à classe ope- tA alta dos preços é de tal forma

l;9

$:9
" ã!
rápida

ãÈ -
F i: I
que,

E
6.:
rária, a realidade e amplidão do fenómeno de pauperiza- Per um mesmo poder de compra, este número teve de
:::

É
cão foram trazidos a lume em 1972 pela campanha dos De em começos de 1974 para 1500 francos

ã
-
sindicatos C. G. T. e C. F.D T. contra a existência de JutsS

66 67

io
E
tos ofícios do século XIX:' não se trata, com

:n

'HÊt

X a R HÉ É
ÈE!6Ë3
'ÊExi*E

s H3 !.-d
E € ã 9E.N

;ã o':i or É

rF5ü E ã.s,ç
- 3È e: ã

EÉtre:
o
I cË.: i: .Q :i

a5õ{
3;õEúH
;i- u:

3*gapë
a X a- j

5'õ,- ^9f
efeito, de trabalhadores industriais pertencentes fas. Trata-se de trabalhadores

i Ëtr ËiËï

ãíËffi*ffËgãËËãglãããiË
cujo trabalho,

c) :- u€
:" - ^õ '"
11
a corpos de ofício colocados acima do tra- “xteriormente,

-}{v
num dado momento,

rË ?*"qQ
parece

o=ã:
balho estandardizado, mas, sobretudo na grande completo», mas que se encontra
apanhado ten-

E E Fr

1r n
cd:.:

=.

: .! a
indústria, de trabalhadores eles próprios espe- lencialmente no espaço entr
e as tendências para

-;
cializados, integrados na parcelização das tare- à desqualificação e a sobrequa
lificação do tra-

N
balho. A sua repartição é desigual
: numerosos
hoje nas indústrias metalúrgicas
“u
e mecânicas
1 Cf. Engels, O ainda no vestuário: cada vez
problema da habitação (1872): menos nume-
tosos na indústria automóvel,

3ãiãíãiËË!; iaãiFË.
ìãiiËËËiiiítãËãff iËiiË;ãË liãi

:ãisãË

Ë
«f. | um operário construtor de máquinas ou
outro qual- petrolífera, qui-
iã;r

quer trabalhador mica, na construção eléctrica,

Ë$Ë ËiË
pertencente à aristocracia da sua
classe [ .]», Editions sociales, Paris, 1957, p. 68. (Engels etc.”
Esta fracção da classe operária
descreve esta «aristocracia» operária associada à peque-
nem
não é pois
na burguesia em certas operações de poupança estável nem isolada: o desenvolv
e colo- imento da
tevolução industrial, desigual seg
ãããËs: ;s ãiã:

cação; mas indica um pouco mais longe, sempre a pro-


undo os secto-

iil iËË e;
pósito do pequeno número dos «operários melhor remu- res, Cria novas «qualificações»,
nerados que a generalidade» e dos «contramestres», a di- mas faz desa-
parecer outras existentes, ou
ferença que separa, no século XIX, o operário, cujo aproxima as con-
ren- lições de remuneração e de trabalho das

;gËËËE;
dimento, no melhor dos casos, permanece idêntico ou dos
baixa em proporção ao aumento da sua família e das operários especializados: em muitos
suas necessidades, do pequeno-burguês ou do empregad “o um inquérito pormenorizado pode caso s, que
o, pôr em
cujos rendimentos crescem em geral progressivamente.)
lênc ia, a distinção nominal é artificial.
O problema da «aristocracia operária» é ao mesmo Se
na grande indústria formas diferentes
E
tempo um dos mais importantes e, é preciso dizê-lo, um da
( nanização do trabalho e da expl
;ãËÈËãË
dos menos conhecidos da teoria marxista do proleta-
oração, nem
nado: em Engels (gue dele trata demoradamente no por isso há, na maioria dos casos,
graus desi-
ísit lliill lãÏ i ãii ããã

prefácio da edição alemã de 1892 de 4 Situação da classe rms de exploração. Sobretudo, exis

ilËË
trabalhadora em Inglaterra), depois em Lenine (que lhe
pressitgem permanente duma forma te uma
faz referência sistemática em todos os textos que tra- a outra e à
tam, a partir de 1914, da «falência da II Internacional» uparição de novas formas, aspectos comple-
e do imperialismo), a expressão não designa sempre
a mentares dum mesmo processo, *

mesma fracção da classe operária dos países capitalis-


tas «avançados»; tão depressa visa uma «minorias
i

relativamente privilegiada, como visa «um grande |


Sobre a repartição das difer
lãËãËãiãËãÊ

ïEe
ËËËStpSs,sflË*
;

ËË;ãËilËí;ããË:
,R.Eb:=.ËgrãËe
sësgË;c;E Ëí!
EÈu9 .6 b.!i ;,s-t
)ìeiÈ=rú.sEÍõe;
ï EsiEE

Ëg sí:
número» de trabalhadores. É sempre pensada de forma


gs:E:âgËs
entes categorias de

3 oü,Ê Ê-E 3

bo^84".F F-Èü
s c!ïËEËi g ciì
hadores (segundo a classifica

::i:=
:-v.'--<:--
sobredeterninada, ssmultaneamente em relação às trans- ção oficial) nos ra-

É
formações da divisão do trabalho, ao papel dos sindica- + indústria, cf. M. M. Krust
e J Begue, Structure

!:
mplos au 1º" janvier 1968

i:_g
tos (antes de mais nada às «trade unions» mnglesas) e (Colecção I N.S. E. E.).
aos efeitos na classe operária duma posição dominante faz infehzmente falta, é uma

s
«ventilação»
erentes categorias de traba
gff

do capital lhadores em função

ã+
nacional

F^.s
sobre o mercado mundial («monopó- inização
i!::" «técnica»
-=<aZ ::
dos processos

"
ho industrial») De facto, é o índice dum problema essen- de trabalho.
Miuises úleis, mas que ficam

Ê:úË q ÈË
cial e aberto: o efeito da hislória das formações sociais marcadas por uma abor-

ã*
iË .àë

Ë3 €.ËS 3
da
;',

capitahstas (e imperialistas) sobre a estrutura do prole- «tecnológica», nos trabalhos de Tourame, de


tarado, portanto sobre a forma da relação de produção v e das suas equipas.
Cf. a obra simplesmente descritiva

çËË
e de exploração fundamental. mas

qË:
o@;
documentação de rica
(uma boa descrição vale dezen
:=
?;.

as de mãs
» de J Frémontier, La Forteresse ouvri
68

a
êre, Re-

69
Mas a enumeração poderá parar aqui? Não factor de atraso relativo que constituiriam).

ãiiÈ ãlËiËãiíË

ËããiãËËËË
ïiË{FËËïãEËãïa ;!ËïËËrË ãïrlË€ïë
E
*

[Ë;Ëc;s: rËË:bâ L;;è


r:ËË*iïËïïFití
:g ÊEËËEË[; s ËÈu= çëË ËËÉË:íl ïËã:ËË ï
Ëg:ËçãË; ;; qrË E : iË H;Ëa: [Ëar :tË n b
ãË{ï
será preciso ter em conta igualmente uma «frec- A tendência histórica não pode ser esboçada

i
tË.E*;ËB:: s;
rãããË [iË
tao simplesmente. Pois o seu aspecto funda-

ï:
ção superior» da classe operária, constituída
pelos trabalhadores altamente qualificados e mental é o desenvolvimento desigual no inte-
por diferentes categorias de técnicos que traba- rior do conjunto da produção social, cujos dife-

ã:
*iïEãã:ãi q ãitit [i*
lham na produção, no seu controlo ou na sua rentes ramos são cada vez mais estreitamente
preparação? Não se tratará dessa «aristocra- dependentes, em particular sob a influência da

ËËï; ËËiï
cia operária» dum novo tipo (ou dessa «nova prefabricação (que é, vimo-lo bem desde há
classe operária», segundo a expressão equívoca. vindo anos, muito mais do que a automatização,
duma certa sociologia do trabalho, impaciente o grande meio de chegar à continuidade do pro-

tãËãlãËi ;IËiãaÉff
ËailËaËlËic

por enterrar, com a «antiga» classe operária, a cesso de trabalho, de fazer coincidir «período
experiência e as tradições de luta que acumu- dr produção» e «período de trabalho» efectivo,
lou), característica da época imperialista e da para utilizar ao máximo a força de trabalho). !

E;
suas tendências no seio do próprio processo de A intelectualização relativa de certos ramos

gIãã ãlÏË;:ËËËiË:iËãË
produção? ou de certos estádios de fabrico implica directa-
Notemos de imediato que esta camada de mente a simplificação e a desqualificação em

ãËeË ËË Ë! ËËË ãË
;ãËËËEËÍ
rabalhadores permanece no conjunto muito certos outros, que os completam ou lhes utili-
minoritária. Vai actualmente (numa formação “im os produtos,
social como a nossa) crescendo em número. Mas Tomemos um exemplo esquemático, mas par-
(ponto decisivo), em certos ramos de produção tirularmente significativo: a indústria electró-
i:tg Ëçr:Eç;Ë
apenas: pode então representar (como no petró- mea conheceu uma revolução tecnológica no
g;çË

leo, na electrónica, na acronáutica, na energia decurso do último período de vinte anos (com

Ë
atômica) mais de 10% do efectivo assalariado os transistores, depois os circuitos integrados).
total das empresas. Ora, no ramo dos «materiais profissionais», a
"iËËí*i;

Nada seria mais falso, no entanto, do que proporção dos «quadros e empregados» (in-
iã!:ãlëã
E

proceder a partir destes exemplos a uma pro- chindo uma forte proporção de quadros pura-
nqËaüËi

jecção futurista, vendo aí o futuro do traba- mente técnicos, técnicos, desenhadores) em


lho produtivo no seu conjunto (quer seja no ação ao conjunto dos assalariados é de 62%,

ËËËlË;
quadro das relações de produção capitalistas, mero considerável. Mas, no ramo dos «mate-
quer para lá da sua transformação revolucio- mais de grande público», onde a produção é em

gff
nária, uma vez levantados os «entraves» que prande parte realizada em cadeia pelos fabri-
trariam ao progresso das forças produtivas, O vantes de componentes, esta proporção desce
«baixo dos 30%, enquanto a dos operários (dos
ËË
nais uma forte proporção de operários especia-

í
nuult, Fayard, Paris, 1971. Compare-se ao testemunho

t€E^-<
* d2Â
.2

; ìÊ3 '

!i -';

;H:õ
üq
, in
ã ' **"i

ã e€ X+
ìE EË5
: dFru.o
È o.or: ti
: .1È.: O

apaixonante de Louis Oury, Les Prolos, Denobl, Paris,


õ* X

=..1

1973. E aos inquéritos publicados em L/ Humanité em


È;:
Êò'

Outubro 1970, Novembro de 1971, Junho de 1972, Outu- "+ Sobre estes conceitos, cf. Marx, O Capital, livro

Ò
:

il-
9Fr
9
'>

bro de 1972, Abril-Maio de 1978. Ho cap 12-13


o.r

TO mam
t!
v
lizados, mão-de-obra sobretudo feminina) se de direcção do trabalho. Voltaremos

:**ËË EË ri ËiËrË?È〠IãiË ËËËããË ÈËiãã

csss :gsi;Ë
tËËË ËËËËËi:ËïìãË iãËãããiËããiiËãíË

ÊãEi ãtããã;ËiË ;ËËãËrËËËËËíËíããïË+


a

lç Ë ãË*ËË rãËÈãiÈ Ëë ãËãiËË Ë :ËË;Ë i*g


falar
eleva a 70%.' Encontraríamos esta comple- disto a propósito da burguesia. Os outros não
mentaridade característica noutros exemplos (a escapam a isto senão tendencialmente, em con-
construção civil, ligada aos materiais de traba- lições históricas transitórias (que podem ter
lhos públicos). cteitos ideológicos e políticos importantes), por-
Que nos mostram pois estas análises, mesmo «ue não figuram no processo de trabalho como
muito sumárias? Que as divisões sociotécnicas simples força de trabalho (mesmo qualificada),
da classe operária são uma realidade que muda, mecorporada no sistema de máquinas, e porque
mas que não se atenua. E sobretudo que não 4 reprodução da sua força de trabalho (por-
são independentes umas das outras, pois cada tanto a sua circulação no «mercado do traba-
«fracção» é submetida aos efeitos dos mesmas ») depende sempre dum processo separado,
tendências da divisão do trabalho, na sua forma distinto do da grande massa do proletariado.
FËi
capitalista. Assim acontece com os trabalhado- Mas é preciso nunca esquecer que esta situação
res «não qualificados»; e também com os tra- «superior» é por definição instável, sendo amea-
balhadores «qualificados». O mesmo se passa «ua pelo desenvolvimento e a extensão dos
com a camada «superior» dos trabalhadores limites da mecanização (ver o exemplo recente
«altamente qualificados». Constituir uma cate- da informática).
goria autónoma dos «engenheiros, quadros e
técnicos» não tem significado histórico real, e
não pode deixar de baralhar a análise da classe b) Processo de reprodução e história do proleta-
operária. Se é verdade que todos sofrem os riado
efeitos (muito desiguais) do salariato em geral
(desnível entre os preços e dos salários reais, Podemos agora compreender como se coloca,
concorrência entre os assalariados, que implica vm geral, o problema da constituição do prole-
o risco de desemprego e de desqualificação), luriado. Para lá das classificações, para lá
nem todos ocupam a mesma posição no processo duma simples descrição tecnológica, é preciso
de exploração e de reprodução da força de tra- em primeiro lugar sublinhar que a classe operá-
balho. Uns situam-se sempre fora do pro- rim não pode ser definida como classe indepen-
cesso de proletarização, ao mesmo tempo por- dentemente da sua própria transformação his-
que o nível dos seus rendimentos ultrapassa torica. O «proletariado em si» não existe.
a média de reprodução da força de trabalho O que normalmente se retém sobretudo nesta
simples ou complexa, e porque juntam à sua Iransformação, é a constituição do modo de
função produtiva uma função de organização, produção especificamente capitalista em detri-
mento dos modos de produção anteriores. Assim,
un formação social francesa dos anos de 1860-
1 Números de 1964, segundo Kuhn de Chizelle,
z'ã P

õ.1

9-@

ISTO, a seguir às primeiras fases da revolução


ÈËts
-? !:
ÈÈo

9!9 =

ú;.a

«Situação da indústria electrónica francesa», Relatório



5t)

ao Conselho económico e social, Journal officiel, Abril de mdustrial e da concentração dos meios de pro-
E

1966. ilnção, encontramos, segundo os ramos


Es

de pro-

72
73
dução, pelo menos quatro formas de produção e utos, quasc todos crianças, subordinados aos

; iE::

E:esË Fi EsÉ Ëe ;:i€:iËãil!*;::ã* x ! Ë:s$Ì:#

E?
3EÈ.8 ã.8
E-EE p eÈ ã- EE à Í
e r;s ú: agr F
ËãËËiËãËËËÏ
Ëã;:iãã;
i:ííãË;ãiii;

:reËaïËi:ëË ;:nE;:ãËS:t:ïãE
ãËËËÊËE; s: * ËËËãËËãÈ iiËr [ã:
ã:íãiq;ËËi€ 1ËÈË!t,sr

siË FIÈ ï gcl Ëeg!ËËËg;;Ë

eEq!r I5:ç -ï* Ë;9FlEËEËE'jÈ€oãi -s €14Ë


i'$ [l;
pÈ-ã
oPã-E È.Èõs s :s
"'r.E F.r !.!"Er s.- ú;

EqËF:Ì;ruãË3,f :€ÊãËË.eg:f fi ËsiïË


H:3:ì$'*ÈËË; ËIÈúÉËËéó ErP"E
ETeia E P: ËÈ s íúI'E s#õÈÈ: ã,ïË
de exploração do trabalho nitidamente diferen- primeiros. Entre estes últimos alinham mais cu
tes, das quais apenas as duas últimas relevam menos todos os feeders (alimentadores), que

9ã"€'3e
do modo de produção especificamente canita- fornecem às máquinas a sua matéria-prima. Ao
lista (e assentam sobre o trabalho assalariado), lulo destas classes principais toma lugar um

íi :1È€,fr -.
se bem que já dependam todas da sua domina- pessoul numericamente insignificante de enge-


ção de conjunto: a produção familiar combi- nhriros, mecânicos, carpinteiros, ete., que vi-

F
nada com o trabalho agrícola, o artesanato, o uam o mecanismo geral e tratam das repara-

iËË:Ë
=

ilËEËË
trabalho a domicílio (nas cidades ou no campo) cões necessárias. É uma classe superior de tra-
Ë

.a
ïP i e iïE * F.E
por conta dum negociante fornecedor de maté- balhadores, uns formados cientificamente,

"3
eãe

rias-primas, as fábricas e as oficinas propria- outros tendo uma profissão exterior ac círculo

it
mente ditas. dos operários de fábrica, aos quais são apenas

a
-+E áxãi ïìËãË *ËErëlÈ

Mas este processo histórico não comporta anregados.»


Ë;**:i::iÍ;Ëff*

ï"
Ë

apenas o desenvolvimento dum novo modo de A divisão sociotécnica do trabalho tem, pois,

.F

: 3àË3 Ë úË:Ë'E á,rE õË


ã
E
!ç*:fËËËF;Éã
iÌ#

ËrËlË; r,È,g { s lÊ; i


[ãf

produção, que «cria» a classe onerária moderna, uma forma típica para cada fase da história

*
Is;,e*
1=Í,=ït:Ë: Ë" zizrï - .=::ì:
ec o desaparecimento mais ou menos rápido dos do modo de produção capitalista, incluindo sem-

iËãEË:
antigos, assim como as formas de transição pre as sobrevivências das formas anteriores.

È
ãï;ã:lãff fi

que esta transformação suscita. Comporta Constatamos hoje que o desenvolvimento histó-

E:ËE
sobretudo, no próprio seio do modo de produção rico, destruindo praticamente a distinção entre
capitalista, a história da divisão sociotécnica o sector propriamente capitalista (a grande

n;ã g.i3e-a:
do trabalho, que é o primeiro elemento que con- meliústria) e o sector artesanal e manufactu-

Ë
ïiai;ru.

fere à classe operária a sua unidade e, corre- reiro, deslocou ao mesmo tempo as divisões inte-

F: ã*e€ g*

Ë;;i
fr " Ë.'l; r.
lativamente, as suas divisões actuais. Nos ramos riores para a grande indústria. ?

iXËi:ï:
típicos da grande indústria do século XIX (a O que constitui, no próprio processo da sua
têxtil, mais tarde a metalúrgica), a classe ope- iransformação, a classe operária, é pois em pri-
rária era ainda tal como a descrevia Marx para meiro lugar a relação funcional que une, no

gË gfr
Ë€'3
g-=
Ë

ilustrar os efeitos do desenvolvimento da «mais- “seio dum mesmo «trabalhador colectivo» à


-valia relativa»: escala social, fracções cujos papel técnico e
«A classificação fundamental é a de traba- posição social são diferentes, com vista a uma
i!:Ë

È
ËÈrã

:Ë sË

o
-s;
r

lhadores das máquinas-ferramentas (incluindo


gsa

alguns operários encarregados de aquecer a


l:

1 O Capital,
máquina a vapor) e de operários não cspeciali- livro I, ed Garnier-Flammarion,

o <;l i3 ú -
s :Ë le ;;Ê

" ; ãt;E:E
€ € gr^q;:-
3 :Ë{:ÈÉ
Ê
-r,,:::,:,i.:.

I Í 2Àtz "
i

i
d fi€tifo:
E
í

- ! n-'j::
A obra fundamental sobre a história da classe

€ d:'N

e
t "ì.;:5
ã..ã
:e:l*Ë
operária, duma extensão única, continua a ser a de

H r-ieÈ
1 Cf. J. Bouvier, «O movimento duma nova civiliza- Nirgen Kuczinsky, Die Geschichte der Lage der Arbei-
^ i.: >ã I

; a: Ã*

= úã!

tt'. 4 X!. e

!:i,l;i
rÈÊ ãË

9"r:à'È
! *È E :

oú o.9
6(-)

,t
É-is.!

ção», Historre de la France, op cit, p. 13-14. Cf igual- ter unter dem Kapitalismaus, Berhm, Dictz Verlag, nova
,3

i;

-:i-
mente as várias Histórias do trabalho cm França, “ão, 1981 e s, donde procede a notável obra de vulga-

Eõ*

o ò

",

..:

entre clas a de Bouvier-Ajam, Librairie gênérale de wão sobre Les Origines de la classe ouvriêre, trad
è

droit et de jurisprudence, Paris, 1969. HR anersa, Hachette, Paris, 1967.


t .t

74 75

P
De facto, esta divisão constitui a forma his-


*ãËËrãËËiËËË;àsçïsçt

çÍãËËiíã:Ë;ãËi€ããËËi
produtividade

Ë;Ëãã3Ëã;EiããFËÈ9ãËË

Ë€gtËiIËË:Ë:sqËãiËË:
de mais-valia máxima, quer no

ff Ë Ëi ËË lüsË tr ËËËã iËffËËËË

Ë
tórica sob a qual se efectuou o «crescimento»

iíËigii ËË;ËËËisil ãi ËË Ëã ì,
seio duma mesma empresa, quer em empresas

íËËiËËf ËgËËãtË
diferentes. É a unidade funcional que, sobre económico, crescimento da produção e sobretudo

':ËÈ;
da produtividade, que ela explica directamente
uma base determinada de meios de trabalho, (não esqueçamos que «produtivo», no modo de
faz do trabalho de cada um o meio de explorar
produção capitalista, significa sempre: produ-
ao máximo o trabalho de todos os outros. ' Por-
tivo de mais-valia). Ela permite, com efeito,
tanto, é a unidade contraditória das tendências
compreender os dois aspectos significativos e

srÈËãË:ËÏi; ï;
que correspondem à constituição destas frae- inseparáveis: por um lado a aplicação dos
ções, e que não são inteligíveis senão tomadas conhecimentos científicos, a «revolução cienti-
em conjunto. Mais precisamente, é a unidade fica e técnica», ininterrupta desde a constitui-
contraditória da tendência para a parcelização, cão do modo de produção capitalista, por outro
para a desqualificação, para a simplificação à mtenção igualmente ininterrupta do trabalho
máxima do trabalho (de que os operários espe- de execução. Longe de se tratar dum simples
cializados actuais são o resultado), e da tendên- efeito do desenvolvimento natural das técnicas,
cia para a «sobrequalificação» (em relação à us transformações da produção material depen-
média, bem entendido) que constitui, na outra dem das condições nas quais o capital encon-
íË
extremidade do trabalhador colectivo, e do tra e concentra a força de trabalho que lhe
outro lado em relação aos meios de trabalho, é necessária. Ou em termos mais abstractos:
ËË

uma fracção relativamente numerosa de traba- no interior da «base económica», o de-


lhadores técnicos, que controlam o sistema de
ËE ËË È

máquinas em vez de estarem subordinados ao


seu funcionamento. A mola desta unidade con- trabalho intelectual, que representa sempie um papel

qË;í:9; j
;Ê'ãFiËï::ï;ilsË;:::
ËiËãËiiËitiË:;i:íãã:
ig;:iÈri:strãËËÉËËïË

iãiËEru ËËã:ËííËiiiri
t*;:ã;Ïaã:Ë:€iE:s','

íi ËiieË:ã: iËãi:ãggËE
ss$ç:* ãt;;iË i;s r;
traditória é portanto e antes de mais nada, tundamental na reprodução das condições de explora-
“io, não passa essencialmente para q organização
a divisão do trabalho manual e do trabalho produção, ou pelo menos não representa nela senão
intelectual, e suas formas sucessivas. * um papel secundário; passa essencialmente entre a pro-
i

lução (que não comporta ainda a separação radical


dos trabalhadores e dos seus meios de produção) e
outras práticas sociais (que podemos atribuir à «su-
peistrutura»). Com o modo de produção capitalista, a

?!:;,ï::;
! Cf a análise por Marx das primeiras formas
; gq;Ë!Ë;;ii5
et"i;::: igËa
''e^SË.;:.ããfEË

ãË

ËË Ë;Ì Ë:ã'gÊ

eg

tivisão do trabalho manual


.

r: 'sIi;;"
ag
i"
ee fÊseç€;Ë:

do «management» e do trabalho intelectual


industrial (Babbage):
€:

O Capital, sumeça a passar também e antes de tudo para o pro-


ã :-Ë,:

livro I, cap. 15.


troso de produção. Reveste aí, como sublinha Marx,
* O problema da divisão do trabalho manual e do
sïi::gãrË

;ËruËi:ïi

; aseE i.ã ËE

+ Was formas, dando lugar a combinações complexas: a


E;g,Ëã

trabalho antelcetul é um problema histórico e político


'-= = i-= =
ËãgË: e EË. S

da divisão entre o trabalho de execução e funções de


fundamental da análise do modo de produção capita-
riunização, entre estudos tecnológicos e fabrico,
lista. Estudá-lo-emos noutro sítio. Há várins formas também a da divisão entre vários tipos de «exe-
históricas da divisão do trabalho mannal e do trabalho
*ução» Não há portanto processo de exploração sem
mtelectual, que não se podem confund'r, mesmo quando
sE

divisão do trabalho manual e intelectual crescente, mas


E

',,
se «fundem» no capitalismo, em particular por causa do

r;
ui há, escusado será dizê-lo, correspondência mecã-
3Èe

Ëã

papel que este confere à escolarização. Até ao modo de


utca entre divisão de classes e divisão do trabalho.
s'

produção capitalista, a divisão do trabalho manual e do


E

76 qq

F
4
senvolvimento das forças produtivas é coman- tinbalhadores de qualificação diferente, que

ëãËËËËe; Ë; ÊËiË ;ËlË FËË;Ë:

ËËãi

ãs;ãËãië ; i f rã;Ëi *,BEi ãEã iËË


B; Ëe ;; ì?ãne

€: ; i*ëiËËË ; i,iï,;ilçÈç
ËÈË sit;çÏË i Ëãq ËË ã:ãï ããi iËããã Ëï
ÈãÈËiÉËËã: ïigãË ãËËt ËËiE ã tsË Ë Ë

:ÈËãc:ãËI ïgÉèËir i€' Ë€ *:e.E e e ü = Ë

iãff íE ÈiãiËãË,í iËËiËËãËËtïãã;;

ÍE
ÈËË:Ë:
dado, dominado pela história da relação social ocupam postos diferentes em relação aos meios

iï: Í:ËË ËË isË, !;


de produção de que elas permitem a realização. de produção. Mais do que uma «concorrência

ËfËË;ã!ËËË
Mas este primeiro elemento, por si só, não entre os trabalhadores e a máquina», deve falar-
basta. A análise da classe operária no processo -se aqui duma concorrência entre as técnicas

Eãti *ãã:ËlËu riË ËËçïË ïËÈ


de produção imediato deve combinar-se com a de produção, segundo o tipo de mão-de-obra
análise histórica do processo de reprodução que clas obrigam a utilizar (e a formar), e duma

p
da força de trabalho. O domínio das relações concorrência entre trabalhadores, segundo o

i
de produção sobre as forças produtivas não pode po de mecanização que servem. ' Escolher, em

ãEã iã€ìe i ï:EiãË


em condições históricas determinadas, exercer- função das condições existentes, a combinação
-se e perpctuar-se, não pode, no sentido mais que maximiza a produção de mais-valia, tal é o
forte, realizar-se a não ser se a reprodução da objecto principal da gestão dos factores de

s;;:o E Q H{'F""È H; b d;'P "


força de trabalho possuir ela própria uma forma produção, do «management» capitalista.
social determinada (e contanto que não seja Um fenómeno histórico como o emprego

ËËËËË
abalada de forma revolucionária). crescente e a repartição selectiva da mão-de-
As características da divisão do trabalho vbra «imigrada» (antes de tudo na fracção
;

(que são observáveis no processo de produção “Inferior» da classe operária, acima evocada)

E
imediato) são indissociáveis das característi- toma aqui todo o seu sentido: a estrutura actual

ËÍËË
cas do mercado da força de trabalho. À base da classe operária, na formação social francesa,

g
material da existência dum proletariado não não traz simplesmente a marca duma nova

:Ëïãiï
é apenas a incorporação dos trabalhadores no fasc da industrialização, resulta também dum
.;

sistema de máquinas e o «consumo produtivo» novo estádio na história do capitalismo: o está-


Hg
:i ãË i Ëã,ïË

ï:: iËË
da sua força de trabalho, é também o conjunto dio do imperialismo, isto é, o estádio da parti-
das condições que assegurem a concorrência lha econômica do mundo entre os capitais dum
! Ëã:ËË

entre os trabalhadores. Ora a concorrência di- pequeno número de nações «avançadas». Os

c
recta entre trabalhadores semelhantes, substi-
dois fenómenos, exportação de capitais, impor-
tuíveis uns pelos outros, não só não desaparece

Ê
ËË
inção de mão-de-obra, são correlativos, ?
com a fase actual da revolução industrial, como
insere-se numa concorrência gencralizada, mais
vasta e mais complexa: uma concorrência entre
Ë

"| Uma tul concorrência é para

*,"è

ËE e ÉPÈc*
a concorrência

i iË.Ér,e
:#Ê

;l.:l *'qÊ*:
;ã;€;:;:

!9.;
i

Ëei ã;Ãq ï
ú;,:-9 ''E",ãE Fo'o,ëÍ.9õ
ËáãÉ ãgE:


;ta Ë- aããr
es, imediata, o que, no outro lado da relação

É=è'ï!iz!
É

eBí
de produção, a exportação dos capitais é para a

'i
1 Podemos considerar que uma nova fase histó- “mples concorrência das mercadorias.
é€
*39*ES

Ë
f;Uç3?ú
'!oü-frr

q *.r ÍÈ õE
È.€EÍ 3ã
€ Èx õ ãÈ .

ü E E.Y-E:
a

EÉá€gi
-.9:-:!õ
Fï Hir
-ã:
ã
o 9t cd.! oü
",p
Ë.E€'sÉ
,o9ãEgS

ãã 3.3..
19-ãã*

rica da revolução industrial se iniciou no começo do * Enquanto se espera estudos mais completos,

.ËÈËãg e
='3.,i

B
"X "-3€
:;Ë!€ È
d?4.=eS

século XX com o «fordismo» (a produção em massa, O te-se com vantagem o artigo de E. Pletnev,
o

ã;!ÊË

úÂ:
^yo)éY
"!Ì!

trabalho em cadeia «estandardizado»), as técnicas tay- Mizrações de trabalhadores na Europa», Recherches



d0.:
Ëól
g

loristas ou post-tailoristas da organização «científica» Internationales, n.º 52, Março-Abril 1966, p. 64-72, que

E:
do trabalho, a automatização: fenómenos a estudar em dá relevo à luta encarniçada dos monopólios pela «re-
Ë

ãá
Ê€
$

conjunto. istribuição» dos mercados de mão-de-obra


g

78 79
P
Como o demonstrou, entre os primeiros, Le- trabalhos melhor remunerados. O imperialismo

Ëi

ËËcã;iËË gËr

ËrË ËÉeËtíËË;sËËffË ilãï+ËËiËË


ãai Ëï:ËËer í;*Ëç ;Ë Ë ËË'ËË'Ëi,Ëç
F;i, ÈË:E ã;Hg il"s! õsã eFsS.g,EïFõÈ
iÈË€Ëãqë::rtrãËãÊ :Ë Ë Ë;a;s *g:g

EtË !;Ë ËË í*
nine, «o que caracteriza o capitalismo actual, tende a criar, também entre os operários, cate-
onde reinam os monopólios, é a exportação dos norias privilegiadas e a destacá-los da grande

ii
capitais». Isso significa que, no estádio do impe- massa do proletariado.» !
rialismo, a dominação dos países capitalistas Depois de cinquenta anos de história do im-

ÃËlË
mais poderosos sobre o mercado mundial não perialismo, estamos aptos não só a apreciar o
leva apenas à ruína da indústria artesanal na desenvolvimento desta tendência, mas a meter
«periferia», de maneira a abrir um mercado à ombros à análise do seu papel fundamental nas
produção de mercadorias industriais (o exem- transformações do próprio processo de produ-

ËËËËËiËË íËËË
plo clássico, desde o começo do século XIX, era «io que levam a que, «no conjunto, o capi-
o da concorrência entre o artesanato indiano e a lnlismo se desenvolva infinitamente mais de-
grande indústria têxtil inglesa); mas esta domi- prossa do que antes, tornando-se porém esse

ïËËãË ;

ü4
nação desenvolve agora o próprio capitalismo desenvolvimento geralmente mais desigual».2
nas regiões da «periferia», de forma desigual, lim cada formação social imperialista, o pro-

gbË; f
segundo as resistências que encontra e as con- cesso de reprodução permanente da classe ope-
dições de rentabilidade. Ora, no processo deste vária tornou-se por seu lado tendencialmente
desenvolvimento, a ruína dos modos de produ- um processo mundial. Pela primeira vez, com o
ção «tradicionais» é sempre muito mais rápida imperialismo, um mercado mundial (senão

ãi+rE:, Ëetãï:
do que os próprios investimentos: cria-se uma homogêneo) da força de trabalho começa a exis-

* 3i
forte sobrepopulação relativa, «exército indus- tir realmente,
trial de reserva» na qual os países imperia- Mas o facto de acrescentar à análise do pro-

rËË
listas podem abastecer-se (e que disputam entre cosso de produção imediato a do processo de
si). reprodução da força de trabalho comporta uma

g íã:B'Ë Ë
Já em 1916, Lenine concluía assim a sua aná- consequência suplementar, de tal natureza que

íi iËiïí
lise do imperialismo: «Entre as características esclarece uma série de debates actuais, por
do imperialismo que se ligam [à exportação dos vezes confusos, dizendo respeito à definição
capitais], é preciso mencionar a diminuição da (lo proletariado: é precisamente a análise deste
emigração que provém de países imperialistas e processo de reprodução que permite compreen-
o crescimento da imigração, para estes países, der o lugar que ocupam, em relação à classe

ft
de operários vindos dos países mais atrasados, operária, outras categorias de trabalhadores,

{
onde os salários são mais baixos [..]. Em
França, os trabalhadores da indústria mineira
são em grande parte estrangeiros: Polacos, Ita- ' Lenine, O Imperialismo, estádio supremo do ca-

o o :-
-Ê,-

Êõ

È EE"Ë s


q
evÈ
E-ã

õã
È
sÀ É

!õ !.!;F
È ã:!Ê

o
lianos, Espanhóis. Nos Estados Unidos, os imi-

Ë. g Ê
"
õ
t
mituiismo, Obras Completas.

d5.-.

b
grantes da Europa oriental e meridional ocupam “ Ibid.
os empregos mais mal pagos, enquanto os ope- * E este processo dá, em compensação, um pode-

.d**3

õYE
"d:.d
q ^ cE

ÜÈ
!4.ã ;;
o9ã

a.F. q

E
Ài-
;, 19
t950 Impulso à tendência para a igualização das taxas
ã.í
rários americanos fornecem a maior proporção
-Eo

i!-

S3
di" mais-valia nacionais, portanto das taxas de lucro
ËE
õõ
de contramestres e operários que executam os ntcionais, portanto à concorrência dos capitais.
at
R

n
80 8i

cO
Êr
igualmente constituídas e transformadas pelo trema forma que se identificam em parte as

ËsËff ÏiËs

Ëã ïiff {Ëç Ë:È ËgE È€ Ë;iËË


Ëi;Ë;
ïi *;ãa;, ;ëãE ;c?Ë ieÈ Ë iËï *Ë ÊË *:caì i

IË;
:eËËË
ãEË ËÈËË€

;;-!i7

iËãEËã rË ; ;t

;Ëãi,ãiË ,
8.::i'e gsF,.:t"ã!EEütEët
desenvolvimento do capitalismo. Pode então condicôes de reprodução da força de trabalho
definir-se não apenas o «proletariado» de deter- feonvém sublinhar aqui o papel decisivo da
minado período, mas o conjunto do processo de larização generalizada, nas formações so-

; ïËe *:;ËsE Ër# fi:ËÌ


proletarização que as formações sociais capita- cus do «centro» imperialista.) !
listas comportam. Ii a existência objectiva deste processo que
A proletarização diz respeito antes de mais permite afirmar que a classe operária constitui

iëe;ãiËãã*ËËËãËi
giEiËËË

..:-:s: ËãË: !i ËËi ËË


a todos os trabalhadores classificados nos recen- à núclco histórico de todo o trabalho explorado,
seamentos como «empregados», quer do capital vc anisar-lhe as novas formas.
E

comercial e financeiro quer do Estado, e cuja ialando abstractamente, apenas existe

Ëï:íi
tã sï

força de trabalho pode ser explorada, não no proletariado histórico sob o efeito dum

i=.:ÉË Í.===-:?==
processo imediato de produção de mais-valia, processo desigual de proletarização, e a estru-

g;
mas na medida em que o seu trabalho permite tura do proletariado nunca é senão o índice
ao capital comercial, e ao capital financeiro dis tendências da proletarização, nas condições

ËË
gËËË

(«privado» ou «público»), reapropriar-se duma


fracção. ' Contrariamente à classe operária, por- ï:i Iistoricamente determinadas duma dada forma-
» social (não podemos transpor mecanica-

ãË ËËãÈË

íãç
tanto, estes trabalhadores não encontram na mente a análise duma formação social para
ëËãããiÈ ïãEãã$ã:Ë
sua própria função produtiva o princípio da sua outra, sem referir as categorias formais a estas
*ÈË

unidade (ou duma unidade) de classe, reunindo Irnlências e à sua história). Eis porque é essen-

;;;;
tendencialmente fracções desiguais pelos seus tin] fazer intervir aqui o ponto de vista e a
rendimentos ou a sua posição hierárquica. De análise da reprodução da força de trabalho.
ffi:

facto esta tendência, para muitos de entre () proletariado não se reproduz a partir dele
eles, provém historicamente da sua relação
ËË;ËË

com a classe operária: a concentração do capi-


tal, seguindo a do capital industrial, estende-se "à preciso não esquecer que o mercado da força

;; ïFËg;; *-Ëã sE:ì



sãË E€

të: Ë:9Ëããïg; s;ËË


íïËi{iËíËËìããËËÊs
iËgËËïËËsÍiiíãiã

ãâË;;ïsËïïs;iffË
lho é um «mercado de compradores»:

i=t;,,i7::i! i; ãi:,
ao capital comercial e bancário, e permite intro- o que

: iË ;i sËã::; Ë ies
a não é a qualificação individual dos trabalha-
duzir nas operações da circulação mercantil as mesmo socialmente reconhecida, mas a procura
formas de cooperação, de divisão do trabalho, empresários. A ideologia dominante
ãi *ãËe

inverte esta
"tminação falando
até mesmo de mecanização, que caracterizam já sempre de «população à pro-
um emprego», e não de empresários capitalistas
o processo de produção; em consequência, uma " procura de mão-de-obra, Ela tende assim a reforçar
gËe

fracção importante dos empregados tende a segundo o qual o capitalista «faz viver os seus
apresentar-se num mercado de trabalho único, 05», «dando-lhes trabalho» Marx demonstrou
:: a=:::
»I de O Capital que não é o capital que adianta
comum aos operários e aos empregados, da
i
Ë

mlhador o seu salário, mas o trabalhador que


à permanentemente ao capital o seu trabalho,
“| não recupera senão uma parte. E o fundo da
1! Sobre o mecanismo do lucro comercial e bancá- tuo CÊ também Engels, prefácio à terceira edição
s AF
- o6

Ë
pãa

oÈã

@ ã=
Pã9

rio e a exploração dos trabalhadores «improdutivos» A de O Capital (1883), Editions sociales, tomo I,
9d
riÉ

na esfera da circulação, cf. Marx, O Capital, llvro HI

82 83
ôt
CO
próprio, por uma descendência directa, contínua.
Reproduz-se a partir do conjunto das condiç
ões “ senão mecânica) : as classes soci

ËgËlrËAgËãíËËgËãËgËËgËËgË ËãiËïËiiËgËË

iitã ffiu ËgãgËtãËËlgiãËlË


sociais (escolarização e formação profissional
, ais não prece-
tem a sua relação, mas ante
organização da família, concorrência e migra- s resultam dela.
À divisão da sociedade em
ções de trabalhadores) determinadas por um classes sociais não
“anterior à sua luta históric
dado estado do processo de produção, mas que a, mas é o efeito
da luta de classes.
podem também entrar em contradição com ele,
como é hoje o caso na maioria dos países capi- lústa «inversão» torna-se nece
ssária se qui-
“mos passar duma simples desc
talistas (crises da escola, crises da família, cri- rição econó-
uuea ou sociológica das classes
ses da «juventude», tantos outros sintomas
da sociais a uma
teoria materialista da sua história
crise generalizada da reprodução da força
de .
trabalho), Contudo hoje, a maior parte dos soci
(uo empregam o conceito de ólogos
Em que podem estes elementos de análise classes sociais, es-
Iorçam-se ainda e apenas, cem
da classe operária esclarecer o problema geral anos depois de
da Murx, por definir os critérios econ
«definição» das classes sociais, e antes de ómicos, jurí-
ticos, culturais, que os auxiliem
mais do proletariado? Permitem-nos compreen- a classificar, a
der como se resolve o «círculo» teórico deste 'epirtir exaustivamente os indivíduos em dife-
rentes divisões; por outras palavras
conceito no tratamento histórico de cada caso , nunca, pen-
concreto. É preciso, com efeito, para falar de vim as classes sociais senão como
colecções de
classes, observar a forma como elas se mani- indivíduos agrupados em função das
suas «pro-
festam, de algum modo «à superfície» do pro- ades sociais» comuns, como grupos soci
Jeos Ora, este é justamente o obstácul oló-
cesso social, como população, agrupament
o de o princi-
pal que é preciso evitar a fim de cons
indivíduos mais ou menos «semelhantes»,
como tituir uma
classificação. Mas uma tal observação não teoria científica das classes sociais,
pode portanto
dt história das formações sociais:
ser puramente empírica: em nenhum período é necessário
conseguir ultrapassar a ideia de classificação,
histórico as classes sociais se apresentam
por “e hem que seja, na prática, inevitável
assim dizer por elas próprias, trazendo escrito per
começar
al.
o nome na fronte, ou declinando a sua iden- Os economistas (e os sociólogos) ret

gËËff
tidade na sua «consciência de classe» unificada. omam o
O que permite identificá-las, é a maneira como renceito de «classe» da tradição lógi
ca do empi-
tismo filosófico: esse conceito
elas agem umas sobre as outras em condições neles designa
mma representação abstracta, a
materiais dadas, são as relações que se
estabe- dos «traços
lecem entre clas. Ora, destas relações
comuns» ou da «essência comum»
resulta a um
unto de indivíduos. A teoria

iËiÈilË
precisamente a sua transformação: portanto marxista
não existe nem composição nem lugar determ ujeita-o a uma profunda mutação.
i- denena
Nela, não
nado duma vez para sempre das classes sociais, a semelhança dos elementos dum
Digamos, por
Junto, mas um sistema de diferenças ou
outras palavras, que é preciso
inverter a ordem de divisões: diferenças que se desenvolvem e
que pareceria natural (e não “ lransformam sob o efeito dum antago-
umo fundamental, materialment
84. e determina-

85
lis porque diremos, sob a forma duma tese:

li
Ël ÈËiiiãËlgllgll
do. Esta revolução teórica refuta de ante-

iãi ã

ËãË giË€ i ÀïE


È
4 análiso marxista das classes socinis não é
mão as conclusões superficiais que a sociologia
l ëïiãããËË

l ïËs ï: !ËËïË Ë
uma classificação, A análise das classes sociais,

gl
entende extrair das «semelhanças» que observa cabe facto a análise das lutas de classes.
entre as condições de vida, os comportamentos,

Ë
A análise marxista tem como verdadeiro
as formas de consumo ou as atitudes ideológi-

: ílËãi;iiiËË
ã
objeto as relações sociais que opõem as
cas duma parte da classe operária e as da bur-

gËËËgË
ou da «pequena burguesia» (não há, de classes entre si, e por este facto as produzem
guesia,
resto, convergência destes diferentes critérios). e as reproduzem sob formas contraditórias,
evolutivas. Nas formações sociais capitalistas
Sobretudo, esta revolução teórica explica e sus-
tenta a teoria política desenvolvida por Marx actuais, para poder estudar a estrutura e as
e Lenine: as lutas reivindicativas que as dife- transformações do proletariado e compreender
ËË ã Ê

rentes fracções da classe operária conduzem o sen alcance histórico, é preciso ter em conta
;Ël
contra a exploração não desembocam «esponta- dois processos, que derivam um e outro da rela-

Ë-Ë ïã:ËáË+
neamente» numa prática revolucionária única, vio de exploração fundamental, mas não podem

ïË3ïËg:ïË
mas exigem a passagem a outra forma de luta, »r pura e simplesmente confundidos: o desen-
atãË ãË ïË
rãeãiïÏËÈ

cujo instrumento é o partido proletário e cuja volvimento tendencial da divisão do trabalho na


condição é uma «solução» das contradições no producão, e o desenvolvimento das contradições

gË gËi g;ËãËËËËãËgããË,


seio do proletariado. Foi também o que condu- na reprodução da força de trabalho social, como
ziu desde há muito uma organização sindical mercadoria.
como a C.G.T. a repudiar o mito do «apolitia- Tentemos completar e verificar estas indi-

IËããgïgËgãããËããËË
mo», na medida em que tem como objectivo a cacovs examinando brevemente alguns proble-
unidade dos trabalhadores na sua luta de classe mas relativos à definição da burgucsia, a classe
económica. ! que se situa em relação ao proletariado num an-
taconismo directo. Ainda aqui, é de relações so-
demonstrou Lenine em várias oca-
E: ?Ë sÌ ã::3 Ê:F !eE
ÍËË;gì a.ïEÈ se s,le :
1 Conforme
;l
iE a:i
ë!..-:

cus, portanto de formas


s::ãËËiïaã€É:ss;!ã
C á;:; ig: Ëi r Ëü H:Ës $

sË$ iiÊË il:a:;tËËs


e efeitos da luta de
q: r E!* gr ri'ãË !#:ã
;;:;:
:'ÉEË:

"is:eÈe:l*::Ë;-Ee
'

s?

s 6es, 9 empirismo da soc:clogia possui um elo histórico


i5:È F ô Í-Ee !;3€E;;:
i:

ésrecto, tanto com o economismo anarco-sindicalista classes, que deve tratar-se, e é necessário ter em
ãiÈ Ë ËËsi l, ae;+ã:

Ë 3-F

como com o eleitoralismo político Tentar repartir exaus- consideração a «resultante» de várias tendências
sE;ãËç

tivamente os indivíduos entre classes (ou categorias)


que não se confundem. Mas remetem-nos para
ËI *ë EÈ: FE *si!!

sem mais nem menos, sem serem afectadas do anterior


Ë,.";.
ïË:i ÉrË:
e:!E F * g ï;€t R
ã:€g; r iËË s# É s

pela sua diferença, constitui a exacta correspondência vm outro aspecto das relações de produção: por
teórica da dedução dos «eleitorados», dos «votos» que um lado, para as formas da concentração e da
sociologicamente, isto é, naturalmente, vão ou deviam ir
para os partidos da esquerda, da direita, do centro, etc.
"mm as condições da exploração; por outro
Éã

Problemática que apaixona em certas ocasiões cs políti-


Ë-=Ui.

cos reaccionátios: “Qualquer aque seja o talento do outro Lulo, para o desenvolvimento do aparelho de
e:;ã:ls *

candidato [Giscard], nada pode contra a sociologia | |] Eitido e da sua articulação com o processo de
há pesos sociológicos, viscosidades sociológicas que fa-
produção social, enquanto reproduz as condições
1iF"r2

zem com que o eleitorado resista [| 1.> (O ministro


U D. R. Peyrefitte, num debate radiodifundido a 26 de da dominação política de classe, ao serviço da
Abril de 1974, Alguns dias mais tarde, os «pesos socio- exploração,
È

á
s
?^<

lógicos» jogavam no outro sentido)


P

8T
86
3. O segundo aspecto do antagonismo: capi- da produção, e as actividades anexas que se

ãËËgËËi;iËËããciuÈe ïiËiË

{;ãtilg;gËigËãlã3gii*ígisíi:iËgl
tal e burguesia desenvolvem nesta base), e o «capitalista» exis-
tv porque as relações sociais que comandam
estu processo devem ser realizados através de
O que é a burguesia? prálicas económicas e sociais determinadas:
Não se pode responder a esta pergunta di- ltundamentalmente, e desde a origem, o capita-
rectamente, por uma descrição dos níveis ou dos lista não é mais do que o agente, mas o agente
géneros de vida, nem mesmo pela definição ncecssário, destas práticas, o «representante»
duma função social única, mas apenas pelo des- do capital, sob formas que evoluem historica-
vio de uma outra pergunta: quais são as for- mente com as próprias relações sociais (ao passo
mas de divisão e de concentração do capital que não se pode dizer, simetricamente, que
numa formação social determinada (como a «» trabalhador seja «o representante do traba-
formação social francesa actual) ? lho>!). Por outras palavras, a classe burguesa
Porque é este desvio necessário? não conserva, ou antes, não reproduz o seu
direito de propriedade sobre os rendimentos do
Porque proletariado e burguesia não ocupam
“apital senão na medida em que exerce simulta-
posições simétricas no processo de conjunto da
neamente (ou delega a uma das suas fracções)
produção social. À classe operária, como força
as funções de organização, de gestão, de con-
de trabalho, está incorporada materialmente, de
trolo da reprodução do capital, que realizam
forma periódica, no processo de produção: o que o seu «monopólio» social dos meios de produção.
lhe faz frente no processo de produção não é w» o que a distingue fundamentalmente, en-
antes de mais o capitalista, mas o capital, do quanto ela existe, de todas as classes possi-
qual ela se torna uma parte (a título de «capital dentes anteriores: o senhor feudal pode ter
variável»), e que é então materializado em face intendentes (mais tarde rendeiros), não é ele
dela pelos meios de produção que ela acciona. próprio senão o beneficiário dum tributo ou

i:ËilãiiË'
Eis porque a definição da classe operária se luma renda, cuja permanência é assegurada
deve apoiar na descrição das diferentes cate- por meios de constrangimento exteriores ao pro-
gorias de trabalhadores assalariados no pro- cesso de produção (em cuja organização não
cesso de produção imediato: o trabalho não é pirlicipa). O capitalista, pelo contrário, é
mais do que a actividade directa dos trabalha- antes de tudo organizador («manager») da
dores. prolução e da circulação numa forma deter-
A relação da burguesia com o capital e com mimada, à qual deve submeter-se, para asse-
a sua propriedade jurídica não se deixa definir purar ao próprio capital o lucro máximo e por-
da mesma forma. O que aqui está em primeiro tanto a acumulação.'
lugar, é o processo de circulação e acumulação
do capital social dividido em capitais distintos » Se, como afirma Marx desde o Manifesto, O
;ií

iãi
e mais ou menos independentes (produção e capitalismo é a última forma de exploração de classe,
comercialização de mercadorias, financiamento nv qual não pode suceder nenhuma forma nova, não é

88 89
Além disso, a burguesia como classe não se nustas

ft,ãËlË$ËËiiËï Ëã:ÊïËã
E ï€ÉËÍËãïçËãËË:Ëïïç í
deram a este termo).

!EËËËãEËi;tíãEíÏËgË:

ËiãiËçËãËËEãiËiãíiiË
Voltaremos mais

Ëe
ãq9ã;:iïãË9;ËiËË*ãËi

t!ãg:ËïiËËi

; ãËiËÈËËï íãËiËËã{ rïËiiËãã*ãl


i" ËËÈËËËçã ËË íËi:ÏãËËËãËËíË
ËÉí-;;

r Ë;iãi liã
constitui nunca na única base da sua posição Lirde a este ponto.
«econômica» (ou da sua posição jurídica na pro- Eis porque a separação jurídica relativa das

*SEiË;ËEË;*gEËËËËË
dução e circulação). Conforme notava já Marx funções de direcção e da propriedade dos títu-
no Manifesto, ela constitui-se em classe (demi- los, por muito característica que seja dum
nante) por intermédio do Estado. A análise das período histórico novo (e seria necessário preci-
funções de propriedade, de organização, de re- sar cuidadosamente até que ponto ela sc esten-

ã
presentação implicadas pela reprodução do ca- de), se mantém secundária em relação à perma-

Ë:; ;tïíãgãË
pital e evoluindo com ela nunca é portanto nência deste aspecto fundamental da relação de
senão uma parte (a primeira, é verdade) duma produção que, longe de a abolir, assegura e
análise da burguesia como classe. Porque, desde reconduz.
os começos da constituição do modo de produção É também, notemo-lo desde já, o que faz

:;ËeËËËïã;Ëãã*ifu ãËËi
capitalista. o Estado (isto é, os diferentes cpa- 1 complexidade histórica do precesso de «cons-


relhos do Estado) preenche uma função neces- trução do socialismo» em que, desde 1917, ele se
sária no processo de reprodução do capital. empenhou. Neste processo, longo, contraditó-

?: i?Ë
As modalidades desta função transformam-se rio e desigual, a classe «burguesa» não desa-
historicamente, com o conjunto das condições parece de repente: nem a relação de produção
da reprodução, mas, em geral, não é de forma capitalista pode ser «abolida» de repente, por
nenhuma uma característica recente (não houve mm cdcereto. Uma e outra devem passar por for-
nunca <Estado-polícia», no sentido que os econo- mas novas e contraditórias, nas quais os dife-

1ËËãï;;ãiiii;
=i
rentes aspectos encontram relações novas, em-
bora instáveis.' E nomeadamente, em lugar

::=t=,Ë!ëËÌ
porque o papel do capitalismo na produção social se de a propriedade jurídica do capital preceder e
::s.Ë Ég*
.r
siËÊ:ei
ãïÈ;Ëãil:ËiE:Es ãgt:
*;;Ë:Ë EË;UFíÊËi::;i
aÌ ãËtÈgËã:i r cïEis
;:ãË;.:ã:l

: li ã; geããlt! b;*'Fi:*
!ËÊ;rEËËf,;:;l;ïã-'àt
ï: É lã: :Ë ! : ã s iE s-e ì*e
i è r : * ãaI : ã xããFáee ,
ÉËgÊiiiÈrÈËrËsut*rË+
i::!È li€,q e s tÉÊË:ujË:è,"
::e; F, É1e áE l* al# ï g s

tornaria um dia inevitavelmente supérfluo, como se


tornou o do proprietário de escravos ou do senhor bene-
comandar a função prática de organização da
ficiário de trabalho e de renda; é, pelo contrário, porque produção, é esta que deve antes de mais passar
; ç . a.29\...E":1J.g.9ã

diferentemente de todos os exploradores anteriores, abertamente ao primeiro plano, e comandar a


nunca se torna espontaneamente supériluo, «<exte- propriedade jurídica (desde logo transformada
rior» à produção. É precisamente o que obriga o pro-
principalmente em propriedade de Estado).
aË :.!l r:5r 3Ëç

íËËE $
letariado a introduzir imediatamente a revolução nas
1:r É:e:eiEË€

relações de produção, e na organização das forças pro- Para dizer as coisas por outras palavras,
dutivas que comandam Que o capitalista que ler todas as revoluções proletárias até ao presente
Marx se não tranquilize com a sua perenidade: dizer tiveram de mais ou menos rapida e completa-
ã:

'i
que o seu papel não desaparece com o desenvolvimento
do capitalismo, não é atenuar as contradições que o mente eliminar a burguesia, enquanto «grupo»
lig

aniguilarão; é, pelo contrário, sublinhar o seu carácter


inelutável e radical. Mas para que precisa ele de ler
Marx? Basta que apure o ouvido ao murmúrio que '
Sobre a persistência das classes,
=:;e g

(4 È das quais

E: H.S
r : ãì
"È ':

'õ 6 Èo
- -.ì::

o., è_-
e I R S:
.! E ãõ*
3.!; È

Í.,l1e

*,F ÉS
i"",ê
P
sobe das suas cadeias, e depois ao canto de luta cad uma se transforma, e cujas relações se transfor-

i.!
que ressoa na sua fábrica ocupada. Os servos revol-
» processo do socialismo, cf. Lenine, A Economia
"a
tados não «ocupavam» o castelo do Senhor: deitavam- ra Política na época da ditadura do proletamado (1919),
Ë
i

o
-lhe fogo us completas.
3

90 91
I

ó
calos) e, inversamente, tentativas das empresas

;[ËãËidËÌlïË'ìËÌË;ã

ËãiiãË
iiãËtçËËãïiËa;sããÈiis
gi;ilË ;,ÈËËËËÈ:st€ :ËEaË

íËrffi ;ËË;iã ÈËã: Ëeçl


social herdado do passado, em virtude das pró- para suprimir o «desemprego escondido», isto

ãËË

ÊããEãË' Ëã;ãËãËgËËl
prias formas tomadas pela luta revolucionária, é, o «sobrenúmero» dos trabalhadores assala-
historicamente inelutáveis. Mas não puderam rindos, que é um obstáculo à intensificação do
evidentemente eliminar no mesmo lance a fun-
iËãi ËiígiËËËgiãËËãããlssllgggãgããl trabalho. '! A transformação das classes, é tam-
ção social que este «grupo» preenchia na produ- bém a transformação das formas de luta de
ção e reprodução, e que o define como classe no classes.
sentido marxista do termo. Encontramo-nos E preciso, pois, examinar sucessivamente

i ËËãã: :Ë:Ëï Ê ,u,,


portanto perante uma situação paradoxal: é o três pontos:
proletariado — uma parte do proletariado— — Às transformações históricas do capital
que teve de assumir esta função no lugar da e das relações de propriedade; por outras pala-
burguesia, ao mesmo tempo que travava a luta vras, as formas sob as quais, através da utili-
pela sua transformação e abolição. Vemos as
zação da propriedade jurídica, se realiza o mo-
«vantagens» desta situação: visto que ela per- nopólio de classe dos meios de produção
mite ao proletariado agir directamente sobre
“ociais;
o conjunto das condições de existência da rela-
ção de produção capitalista. Mas vemos também — À natureza da fracção do capital domi-
os «inconvenientes»: visto que ela instala, sob mente na época do imperialismo;
uma nova forma, o antagonismo a ser resolvido — À natureza das contradições internas e as
no próprio seio da prática do proletariado, onde formas de unidade tendencial da burguesia como
ãiËãããi iEËgËËãgË;ãËI

se desenvolvem desde então novas e temíveis classe, implicando o papel do Estado na sua
constituição.
contradições. É todo o problema da fase histó-
rica de «ditadura do proletariado», cuja aposta
é a supressão efectiva e completa das condições
da exploração, e que se esforça por dominar a) Transformações históricas da propriedade

È- gË:Ë
capi-
uma política revolucionária correcta. talista
Na maior parte dos países socialistas, sobre-
tudo na U.R.S.S., o trabalho assalariado sofreu O desenvolvimento histórico do capitalismo
uma profunda transformação revolucionária, vonduz inelutavelmente (mas não uniforme-
que atingiu acima de tudo as condições de repro- mente) a um resultado fundamental: a concen-
dução da força de trabalho: notoriamente pela trução dos capitais. ?
generalização efectiva e a democratização duma
escolarização de longa duração e pelo desapa-
recimento do desemprego, mesmo temporário e | Cf as precisões reveladoras de Francis

* o
Cohen,

€È ":o
*s 3d õ
:, 1

'õF
8t.,.5È
o.-ô O . -
?u I E;
,aa i-'- 3

H9 c\È
od

:'F:É Ê:
marginal, o que modifica directamente as con- Y cmpresa na UR.8S.S.», La Nouvelle Critique,
<-'
n.º T1,
-:
ì! ! o 3
Vevereiro de 1974,
dições da exploração do trabalho. A impor-
Marx, O Capital,
tância desta transformação é atestada pelas livro I, cap 24; livro III,

= Ê

-;F!êl
-o6i
.ao,;

E-R
! Ë^i

i:'
tomas VI e VII, Lenine, O imperialismo, estádio supremo
próprias lutas que ela suscita: interdição legal
::
:-:

to cupmlansmo, capítulos 1 e 2, Obras completas,


ãË

o
dos despedimentos (sob controlo dos sindi-
93

R
92
A concentração do capital, aumentando a O desenvolvimento da concentração, enten-

E :í! Ég3ã:Ë Ë;
.P"
aíçg;ËËrË;fËt*:€ ãË:: l; i +:Ëi ç
;. n, o*;'ss

; iËfi

Ë;
'i ËeF"ËË:Ëï;Ë; sEË: iÍ gãËËËgt€
E aiás. F!íi e p'úË eË ãË iË'ì ç Ë_i ï Ese
íãÉã; c: as ãç :; êË;ë ãË:; Ë Ë E Í E:.!

:ë Èo,; EBiH
ã $ " n õ 5 i Ë :Ë,ú:;ã;ËÍËsEiËaãËËç
Ë€'9ì* 5.9t::
S'Ë o l 5 ã Ó s
üü *Eo - õo:õo -: Ëls qrs'Ë.s
o,3 Ë qE.e Eai Ê'q; "Í õ &., Ë E É.8 * +E s á'+í
B=€::ì u 1:È ï; e-Ëg S r3:Ë H i:,ã: lt $
È." i l.: E'83: Ë;: &:Ë: !ã: e õ õ 3;3 ï o
escala da predução, assegura o domínio dos dido neste sentido," produz por sua vez trans-

"
mercados e portanto a racionalização da pro- formações fundamentais nas formas da propric-

lt;ãËE ãËãËíããËãiãiËi

dução (a produção de massa), a elevação da dude do capital, transformações que Engels já

È s ' i E r ; ,p i sc : Ë i 3.? ã ã Ë * : !.: 'Ë s ï


mais-valia pela utilização de novas técnicas. assinalava no fim do século XIX, ao cri-
A concentração do capital comanda, em ticar a ideia confusa segundo a quai a «produ-

Ë
última análise, o movimento histórico complexo vão capitalista privada» seria incompatível com

ãib õ3 bõ eã.^ç "'il

ãËlsË ãgsssËËÈiËg;
É* i.È,'i : H:
que, tão depressa divide e reparte entre capitais toda a organização da produção e da circulação,
individuais diferentes, como reúne no interior com toda a «planificação»:

".Í o.9 õ
dos mesmos grupos industriais e financeiros «Conheço, escrevia ele, uma produção capita-

í+Èã38Ë* fi Ë; ï-:+:
as diferentes «funções» da reprodução do capi- lista como forma de sociedade, como fase eco-

q
tal: produção material, circulação de merca- nómica, e uma produção capitalista privada

ËËË s;:e
".,1.i:: b,R3ë í:;-q : Í
dorias (portanto comcrcialização), circulação como fenómeno que se apresenta de uma manei-
de dinheiro (portanto crédito). Em todos os a ou doutra enquanto dura esta fase. O que

-jì É -€ o'
casos, trata-se de acelerar a rotação do capital, significa, pois, «produção capitalista privada»?
tendo em conta o grau de desenvolvimento das Produção pelo empresário particular, isolado? E
forças produtivas, para aumentar a taxa de uma tal produção não se tornará cada vez mais
:Et.ië EÊ3Y
lucro," abrir as possibilidades do crédito, sem uma excepção? A produção capitalista das
o qual o financiamento da produção em gran- sociedades por acções já não é uma produção

i;
de escala e a concorrência dos capitais são privada, mas uma produção por conta dum
ãrõ oìr o e ë
impossíveis. Na história da concentração, é pre- grande número de associados. E se passarmos
ï B : Ís s*
g"lágl *.1
ciso ter em conta ao mesmo tempo, cemo faz das sociedades por acções aos trusts que se
Éíq l ã3''"

Marx, a concentração propriamente dita — acu- submetem e monopolizam ramos inteiros da


mulação de novos meios de produção por capita-
lização de mais-valia — e a simples «centrali-
' Numa interessante passagem do seu estudo sobre

':Ë:::
sstg:ïiË;ËiËÈãg;
zação» — reunião jurídica sob uma mesma pro-

ËtËãçãËïËËi;iË!i

ep !
li
;ïËeï sr;;ç qiaã!
:;*E*€issiÉ€prH
ã;tãËãË;Ësfiisê

tu Pohtique monétaire (P. U. F, Paris, 1973),
priedade de capitais individuais distintos Suzanne de Brunhoff nota que é necessário não identi-
E.3

ãg;;ïg1;çË5Èã
(absorção de firmas, fusões, etc.). car a constitução do «capital financeiro», concen-

Ê.8
traindo a propriedade dos capitais bancários e indus-
nos grupos monopolistas, pela criação de

É{!';9
holdings», os controlos e participações recíprocas, etc.,

Ë:: : ?;i:
1 A taxa de lucro, considerada à escala de con- com a confusão e a ausência de contradições entre as
Ë;l
sYãHEn
. ee! É fl Êo€ì
:-qÈã."õç
: Ë!;;
:"gaEr Ë úFç ú,
* úlÊ È Í: á
:! s^.";ã
<s Sãx ÌÀt

õ
ÈeÈÉ3!õq
- "gsiteãË

ce -:.õ d l:

ãecE: çs:
laããã s c:

junto da produção social, é a relação da mais-valia diferentes «funções» da reprodução do capital


(e os
ãg-e! *Ëë

capitalizável com o conjunto do capital (capital constan- movimentos de capitais correspondentes): «Produz-se
e Sc. e.S

Ë ^ ì-e i.

te e capital variável). Exprime a rentabilidade capita- issu, na altura a que Lenine chama o estádio imperia-
ÉÈ4 üË
r; -E:
õ
*

lista. A taxa de mais-valia, definida como a sua relação lista do capitalismo, ao mesmo tempo uma «fusão» do
(n
õ

RdÃH
apenas com o capita! variável, fornece-nos imediata- vipital buncário e do capital industrial, e uma «separa-
ii!
o
E

mente — cf. acima — uma «medida» económica do grau 110» do capital-dinheiro e do capital produtivo, separa-
de exploração, que é a fonte de toda a rentabilidade “ao contemporânea do capitalismo, mas aqui muito mais
e

i:
capitalista. vasta» (op. cit., pág 103).
$s

94 95

E
indústria, então não é apenas o fim da produ- nante, e suplantam as precedentes ou juntam-se

eË i;ËËËfËgi

Ë*ggggs iigËããËiçËËiËËË sËffglg,


Ëi ËiãËË:Ë;ËH ããiË;;i:iicrtËiËËiË
lË çËãïÉËË:ãi ããËËËïiËãËìËËïËËiãg

ËeïËãË ãËãËilF,ãËËËËãPË íIiiËãË


Ëi íïË:ËiË3il iEE:ËãisÈËãIE ãssËsH

Ë ff;l ÈËtËíi Eã;ãilã- *Ë:ílËË


Ë

;E ^Ë á*;ãffig5s* ËÏgÈ;'ë ::giEËHgãã Ë :


ção privada, mas ainda o cessar da wusência de + clas, fundem-se até com elas. '

Ëg'= sã;Ë ãrËt â'eËËE íãË€e+e;*c Ësï;


plano.» Esquematicamente, as formas da proprie-
E Lenine acrescentava, em O Imperialismo: dade do capital que constituem a base da exis-

E
Ë
«O que é próprio do capitalismo é, em regra tência da burguesia actual podem ser assim
geral, separar a propriedade do capital da sua classificadas, apesar da imprecisão das cate-
aplicação à produção; separar o rentista, que sorias jurídicas:
vive apenas do rendimento que tira do capital-
-dinheiro, do industrial, assim como de todos os 1. O (pequeno) capital privado individual.
que participam directamente na gestão dos capi- 2. O capital das sociedades anónimas ou
tais. O imperialismo, ou o domínio do capital das sociedades por acções com outro estatuto.
financeiro, é o estádio supremo do capitalismo Em França, estas duas formas de proprie-
onde esta separação atinge maiores propor- ade do capital são regra geral puramente
ções.» * «nacionais» (pela localização dos capitais e a
Em suma, o modo de produção capitalista extensão do seu mercado).

sË;EIptìË iËi$:üË*BËË
implica necessariamente que o capital seja con- 3 O capital monopolista das maiores em-
centrado em face do trabalhador assalariado na presas industriais, comerciais e bancárias, que
estão elas próprias estreitamente ligadas entre
forma jurídica da propriedade. Mas de modo
nenhum, salvo em certos períodos da sua histó- st (pelas participações recíprocas de capital).
ria, que a burguesia que o representa ao organi- 1. O capital de Estado constituído pelas
zar praticamente a sua reprodução e a sua acu- empresas nacionalizadas e o conjunto do «sector
mulação, apareça uniformemente como uma público», incluindo os organismos bancários,
classe de proprietários privados, sem outros enixas económicas e de crédito do Estado.
laços entre si para além da concorrência que os
opõe, e apropriando-se individualmente duma São necessárias algumas precisões sumárias
sobre a definição destas duas últimas formas.
parte do capital social. Fundamentalmente, esta
situação não tem senão a função histórica (tran- » bem que não haja, entre o capital mono-
polista e o das outras sociedades por acções,
sitória, mas decisiva) de assegurar a destriição
nenhuma diferença jurídica fundamental, a dis-
das formas précapitalistas de apropriação dos
linção entre o capital das simples sociedades
meios de produção. Por este facto, a história da
por acções e o capital monopolista não é menos
burguesia como classe é o aparecimento sucessi- vssencial.
vo de novas fracções burguesas, que «repre-
O carácter «monopolista» duma

gg
as formas sucessivas do capital domi- empresa

Ëã
sentam»

íË
no se mede pelo ultrapassar dum limiar prede-

1 Engels, Crítica do Programa de Erfurt (1891),


-a
Ìr

| Excelentes indicações sobre


iõ.

as primeiras etapas

1>
op. cit. dele processo na obra já citada de Hobsbawm, Industry
=-
*E

2 Obras completas mu ltimpire.

96 97

ì..
a —
terminado na parte do mercado nacional ou finfim, estando a existência do capital mono-

ãEËtsË*bú=.:!ú
rÊalÍ:3;"ïE*ã

ËËËiËiËËgsgËiii

ãããËiËËíãiËãËiË
"!:E;g3esI
?è:É.iidiE-Pse "FEE € 3k+*ÈlE*
:; ït:Ë* +Ëï*ã ãi si ËË Ê;ËË*ç;

Ëe5ïes:áÊu&ë dHEi È :'!E+sïË:


!],ç..:ëi,É,"8.

-Ë;9E+afqa-ËÊ
;r*üã;4:ã-c,-'
steãsi:*ãrãFH EË:Ë È :E:ËÊÊEE
ËÈË ËËËË; EËË

i3ËEH*g*:ËËÍ
:i ;;
internacional que ela se atribui, ou no mon- polista essencialmente ligada à exportação dos
tante dos capitais próprios (ou do volume de capitais,é necessário acrescentar que o capital

e.s-sËH,:e€* áal; Ë ;gïËlË;a


negócios), se bem que estes números sejam nopolista já não é, tendencialmente, um
índices preciosos: mede-se antes pela possibi- al puramente «nacional»: quer os monopó-

sËãÈaiÊã,ËiÈe, Ë;iË':ËããiiË
lidade prática de dominar um sector do mer- lwr: franceses» na origem tenham transbor-
cado e da produção, até vários ao mesmo tempo, dido para o estrangeiro (exemplos: Péchiney
subordinando as empresas dos ramos que for- unt-Gobain, Pont-à-Mousson, cte.), quer as
necem os seus meios de produção ou utilizam sociedades «francesas» provenham de grupos
os seus produtos (e apropriando-se assim de estrangeiros» (exemplos: Creusot-Loire, Ra-
forma relativamente permanente duma parte da dho-technique, Matériel téléphonique, ete.). O


mais-valia que as empresas subordinadas pro- vumpo de acção necessário aos monopólios in-
ËE'g:ËË É Ë* ãÊEãã?

duzem). dustrais ec financeiros é «multinacional», é o


Sobretudo, o capitalismo monopolista é o mercado mundial dos meios de produção, do

.'è*?
t--o ! õ'-e-<'*sr
,.tro:
ËÉEË
a'õõo
:ãËâ r !á!!gËË:Ë
o'x$-
sistema das relações económicas que dependem dinheiro, da força de trabalho, do consumo de
do capital financeiro, no sentido definido por massa.
Hilferding, depois rectificado e desenvolvido por lixiste, bem entendido, numerosas

;lãlgËËãg ;gssËlËÏsgsg
formas de

ËË*ãiËË
Lenine: | transição entre estes diferentes tipos. Assim,
— a concentração (horizontal e vertical) da no que diz respeito à participação dos capitais

:^'ã.È3rtE,..c
E
;
Q EoÃÍì-._Ëa.,
.,

produção, e do listado: em França, depois da Libertação,


— a fusão do capital bancário e do capital assistiu-se à criação de numerosas sociedades

cd'd -=È l3õj


E,,iis*ËËí
-:iríí

industrial, segundo diversas formas jurídicas: dl" economia «mista». O capital monopolista
a banea não é então mais do que, como em rela- privado» e o capital de Estado são duas for-
ção ao capital das sociedades não monopolistas, mas distintas, mas que interferem por vezes, e

iË Ëãããi$iËãggË
- '' -õÈ

um simples «intermediário» exterior, que forne- "a concentração do capital tomou historica-
ce empréstimos à indústria; controla a reparti-
cão dos capitais entre diferentes sectores em Na realidade, a análise das formas do capi-
função da sua rentabilidade própria e orienta tal que coexistem no capitalismo actual, não é
r'

a política industrial. * "implesmente a enumeração das diferentes cate-


rorias de empresas: é o estudo das condições
"ociais do seu funcionamento. Assim, a utili-
1 R. Eilferding, Le Capital financier (aparecido
is

«nção do crédito e do financiamento públicos,



ÈE.rìs9'
t3

-:

ËÁ' cÈtdÈ.
3-È,ÊìõË3

Ë'itr E È'ã ÈË
rgriãËËË

- .: êÉ s ld ói i-
E

Fõ:=ì-.o-:
S":qplEÈ
ÈE 3ã.: rãã
ËEìlËÀeËE

"' Èã:
* -.E5ç ".83
tr9 9a . i *o

ss sÉoE: ts
i;^
- rr..d

em 1910), trad. francesa, Editions de Minuit, Paris,


mas também a importância das encomendas do
ãã ÈeËËe 3

1970: Lenme, O Imperialismo. , op. cit., cap. III


i9E.*69

"-ã.Q* e I
L ï !É o=
o

2 Sobre a concentração industrial e financeira em ado ou a existência da contabilidade nacio-


ãËi+E
.!
- d.:i ÀÈÈ-

França, cf. Henri Claude, La Concentration capitaliste mil c da planificação capitalista, são os índices
:E È.::
:a::
F-È 9.! i^

en France, Paris, Editions Sociales; F, Lagandre, «Pro- do desenvolvimento dum «capitalismo de Es-
É;;È
ü'ü

blemas postos pela concentração das empresas» (Rela-


tório ao Conselho económico e social), Journal officiel, luto», que transforma as condições de repro-
õ

dução de todos os capitais individuais. As for-


^:1

Janeiro de 1967.
c

98
I
mas que enumeramos esquematicamente são as
formas históricas, desigualmente desenvolvidas trutira» organizada da

.!rd di:",'áe
*
=

E.ïËe
ai'-2"ú:E!;ÈÉFâ

g:.É(s
ÈS.e.;3,õ
l;
õ u':xXï.Yi r.5 E.i.l l'i'ã
À-o.a
:E !n -: ar
sociedade burguesa,

7i 7..- a - :; í'= - :--=-


-=:==

tr
-,s úã: Él Ei; Ë e ÈË
---

õ.9 ts

c!: gt o x,i
"1;':Ë
9 3.! - ã.dì5
ii L:Ì)

ã5- Ê P P r r;E J: ÀK
Ë..d
í"EEE
i !1J e P5 ^r ?.= 9 6iP3
NËi .AEEãõ.EÊE fiNÉ
^
em cada formação social capitalista, duma instituições juridicamente «privadas» (familia-

=i-.:
c-r.-;


E E &.I E
mesma relação social de produção: não são inde- 'ºs, religiosas, escolares,

1í nÉ .-t

d õ E 9.9
') também sindicais,

,
pendentes umas das outras, mas constituem um hi cvidentemente aspectos do

Ê o:
HE'E.e€

ãE: -P: õ-eéË 3s-ç


único sistema instável, em vias de transforma- funcionamento
dos organismos públicos que pre

ï^:
À'^ Q ; ô.., !!.: -

c
ú Fõ -!iir

IEEu,
ar ^ X;ì H.F
*..ÉË i: F d Ëe
ção. Mas seria completamente errado represen- enchem uma
função puramente «privada»:

õ ti .1 a! 'q
È
= =.-.,:- --:

"r.;:1+l
tarmo-nos uma tendência
não ressaltam
uniforme para a portanto directamente

oJ o c.ì
= Ë,o
Ë.Ê ã.õ E do 3
"'3 s 3l c3EI
da teoria marxista do
desaparição das formas «inferiores» com vanta- listado, como teoria

n FÈ^, =ç; -
da superstrutura.

ci É

X c.j €9 a) o È

á:9 v A_ -à
ãÈ H':E.g,R

r..:.: FE
gem para as formas «superiores», por exemplo, cuquanto Assim,
fracções do capital social,

cr(2

ü:'ãE
=.cJ

-'> *Í:
o capital privado substituído pelo capital mo- os capitais
públicos» não têm um movime

F=
u ? Èo ?

^! õil

q;9.EH= Í!
nopolista, e este pclo capital de Estado: a nto diferente
do movimento dos capitais «pri

9:

i I LâgE
vados». ?

^
prática mostra que não é assim, e estas duas Repare-se que quando Marx resolve anal

!l lr

l! rd

c/ q()
últimas formas são uma e outra «superiores», “+ [raccionamento do capital social isar

q!
conforme as considerarmos de conjunto
no processo
do ponto de da reprodução,

o
portanto as condi-
vista da evolução das formas da proprie-

ll<ls'"/ çrc
dade jurídica ou do ponto de vista da inter-
nacionalização da produção. É este sistema "| Cf. L. Althusser, «Ideologia
e aparelhos ideoló-
de conjunto que ressalta duma análise histórica pres de Estado», tradução
Portuguesa da Editorial Pre-
"nica, Lisboa, 1974.
concreta.
Cf. As notas de Lenine, em
É preciso portanto, do ponto de vista do opósito da função
O Imperalismo |,
comum dos bancos,
materialismo histórico, reconhecer ao mesmo "eonomicas, dos P.T.T. E caixas
mais longe, a propósito das
tempo toda a importância prática das transfor- trilesoes da revista Die
Bank sobre a nacionalização
di produção
mações jurídicas da propriedade capitalista, dl Standard
eléctrica alemã, réplica à concorrência
Ol americana:
visto que é o próprio jogo destas formas juri- dio as que são obrig «Eis as confissões pre-
ados a fazer Os economistas
dicas que permite a concentração do capital, “os da Alemanha, bur-
Mostram nitidamente que os

3,1
sem por isso confundir estas transformações 'os privados e os monopóli mo-
os de Estado se interpe-
com o conjunto das determinações do processo ) o< m na época do capitalismo
*s não sendo mais que elos
financeiro, uns
de cadeia da luta impe-
e
de acumulação e de monopolização dos meios de “la entre os grandes mono
pólios para a partilha
produção. E preciso também, ao mesmo tempo, do mundo.» Não se teve
sempre em conta, parece-m
1 e
transformar profundamente a representação
utilizar as análises de
Lenine, este duplo traço
notável: por um lado, Lenin
dominante do Estado, que é uma, representação "idade de Estado e do monopóli
e insiste no papel da pro-
da ideologia jurídica burguesa: todas as defini- o capitalista de Estado
tende o começo do periodo
imperialista; por outro lado,
ções do Estado na ideologia dominante repou- nao cessa de insistir no carác
ter fundamental, na teoria
niuxista, da distinção entre
sam na distinção do «público» (interesses, ins- base e Superstrutura, e so-
Vimpossibilidade de confundir,
tituições e propriedade públicos) e do «priva- mente umas das outras, as
ou de deduzir meca-
do». Mas, da mesma forma que é preciso incluir transformações «econó-
s da base e ag transformações «políticas»
no funcionamento do Estado, enquanto «supers- rslrutura. (Neste ponto, Lenin
e opõe-se sobretudo a
da
| tendência «de esquerda»
rita», cf. Obras compl do «economismo iImpe-
100 etas.)

101
)
I

É loI.í.rEõ!È
bj

È
=
Imperiahsmo

S . E:
:

:
e domínio

Ë tliiÈ
ções históricas gerais do movimento dos capi- do

*F

È
capital

È d c = ádÈ. E E
È
R ËE õF Eã'iÌ:
monopolista

È E.r.: g: Ë ã;
È E $á8 3:lË
F 9 - e F E:'g P"
;: Eã ã; e.3 Hã õã.8
tais individuais, não estuda nunca uma fracção
do capital do ponto de vista do seu estatuto Para compreender a configuração actual da

- +:: ^::. o=

(Ë .d
SREËËi*Ë!
HãËxËEEu-g
9 ü.9 c', ãõã€
-!cd
.!!.!9õ?:õ
'=.o
jurídico, mas unicamente do ponto de vista classe burguesa num país capitalista como a


.-=..=.*=..--
da sua função na realização das metamorfoses Iranca, é preciso no cntanto dar mais um passo

o cr
à':=À*CC
sucessivas que o ciclo de conjunto da reprodu- v pôr um problema cuja importância política, e

Fdà
d C

õ.= "ï;
ção implica (capital-dinheiro, capital-mereado- não apenas económica, é evidente: qual é a

cJ
re

ui: U ËÈ
ria, capital produtivo.) ! A propriedade pública ma do capital actualmente dominante? Pode-

l.c-.
icrvi
^
modifica as condições particulares, mos pôr a questão: é o capitalismo de Estado?

Èi c e
não a fun-

" cd

oi.g
ção dum processo económico. º o capital monopolista? ou trata-se duma forma

c0
E portanto encontrar-se inteiramente prisio- tendencialmente única, resultante duma fusão

o
E
.3
neiro da ideologia jurídica pensar que o capital
«público» não seria objecto duma apropriação
(isto é, duma monopolização) privada (no sen- emu cfeto, a expressão «propriedade econômica» é
tido do materialismo histórico, isto é, no sen- aditória nos seus termos; «propriedade» é de qual-
tido dum monopólio de classe). Não há npor- maneira uma categoria jurídica que destgna um
to, «propriedade»/<«possessão» (ou disposição) é um
tanto contradição entre a reprodução dos capi- de categorias jurídicas, que representa um papel
tais «privados» e a reprodução dos capitais amental no pôr em prática o direito de pro-
«públicos» só pelo facto de o scu estatuto juri- te, Trata-se de facto do processo de apropriação
dico ser diferente. Esta é, na épeca do imperia- “trabalho e do monopólio de classe dos meios de
Por outro lado, este desdobramento faz
lismo, uma das formas de apropriação privada, e a forma jurídica é, como tal, inútil ao pro-
da apropriação dos meios de produção por ums o de apropriação, ao funcionamento das relações de
classe, a burguesia, que se constitui nesta apro- ição, e que ela vem apenas «exprimir» e «sancio-
priação. É apenas no precesso de conjunto da t tútulo póstumo a apropriação capitalista. Não é
li disto: se o processo de apropriação não deve ser
apropriação que pode haver contradições. * undido com a simples forma jurídica, esta não é
Oh um momento indispensável do processo, como o
"a Marx no livro I de O Capital, capitulo 24 A par-
" Cr. O Capital, livro HI ste texto fundamental, pode compreender-se que o
; +iiË c:;Ë.Ët
-EË:erif:Ëi:sã
ã Éã Ë ËË: ã! iË: ãs
oo!.-Ë:fãçãËË9
: !: li ËË'P íã:Ë

I eÍr:ErEr;É€qã

* Convém aqui indicar de passagem porquê a dis- volvimento do modo de produção capitalista, o
Ë
.e'J.
Fl:ã!íiãÈïitË
ííËËsËÊ:t;ic:
=l-
"r.r,Zï=Eë

tinção entre «propriedade jurídica» e «propr.edade eco- so de acumulação e de concentração do capital,


çE ã È;;i iÊç +g
ËËÉë 3ËËË

nômica» ou «possessão» (sem falar da «propriedade 1deo- pode realizar sem uma utilização sistemática
d c\

lógica») introduzida por Charles Bettelhasm nas suas recursos do direito de propriedade: em particular,
obras mais recentes (cf. nomeadamente Caleul économai- 1 possibilidade de se assegurar a «posse» do capital-
ã 3 i ú€ t Í 1F

que et Formes de propriété, Maspero, ' ro de numerosos «detentores de poupanças» e


1970). não me
parece feliz Veio perfeitamente que se trata de rectifi- misias* pela instituição da propriedade «anónimas».
o:

car a confusão muito frequente, em particular no estudo mdica Lenine em O Imperalsmo (e Jean Bouvier
=

das revoluções socialistas, entre as relicões do produção to em pormenor em Naissance d'une banque:
ìe
",8:."v;

e as formas jurídicas da propriedade. Mas esta termino- rédit Iyonnais, Flammarion, Paris, 1969), a estru-
ãfi:€

| monopolista do capital financeiro assenta inteira-


iËãI

logia cria uma outra confusão, e arrisca-se a arrastar


c v !

por uma inversão mecânica, o desconhecimento do papel na técnica jurídica da contabilidade das socie-
histórico c prático da propriedade jurídica Por um lado, dules anónimas.
l

102 103
Ë
,
das duas precedentes («capitalismo monopolis- rito de propor uma formulação aberta, rigorosa,

Ë,

ã ËËËí;ï;ËËããËgËïsï{ËËËãí

Ë Ë!,:ããEËgËËg[EiãiãI !EÏË
Ëi €s

Ëi

Ë
ta de Estado») ? para o conceito do marxismo como economia

iãããËãËãããiË
Esta última tese é, sabemo-lo, a que desen- política. Com efeito, apercebe-se aí claramente,

gãÈiËgili
ËËÌfi ËËiãË írãËËËiËË
Ë
volvem notoriamente os autores do recente Trai- à tendência que notâmos na introdução: tendên-
té marxiste Wéconomie politique." É certo cia para substituir a análise de mais-valia pela
que precisam que «entre os monopólios e o do lucro, em lugar de a fundar sobre ela; ten-
l;ç c *'Ëã*Ë;ãi iã:
Estado, não há fusão nem separação, mas dência para definir o capital não como relação
estreita interacção, cada um tendo ao mesmo social de exploração, mas como grandeza conta-
tempo um papel próprio e um mesmo fim». Mas bilizável; não como processo de produção de
parece que se trata essencialmente de preser- mais-valia, mas como fonte de lucro; tendência
var a importância exelusiva das diferenças para analisar a história do modo de produção
jurídicas na forma de propriedade. E em parti- capitalista não como resultado das lutas de

ããgígËããi
cular, de preservar a originalidade do capital classes que o determinam, mas como resultado
«público» que, segundo estes autores, já não se- tuma «lógica do lucro».
ria, pela força das coisas, um capital no sentido Mas, do facto de a sua posição económica e

iãgËgIËlããlãË
estrito, procurando valorizar uma taxa de lucro política permitir aos capitais monopolistas dre-
máximo, donde resultaria uma contradição nar permanentemente um sobrelucro, enguanto
interna entre as fracções do capital social. Os outros capitais, quer sejam privados ou públi-
autores não insistem menos no facto de que o cos, são constrangidos a contentar-se com uma
«capitalismo monopolista de Estado» constitui taxa de lucro inferior, não resulta de forma
um «mecanismo único», que funciona «como alguma que os segundos sejam «desvaloriza-

li ltË ãi eË iãi Ëgt


explorador colectivo», e «neste sentido constitui dos» ou não contribuam já para a acumu-
ãËÊããËËãË I ËËÉË

Ëi l;r

uma fase realmente distinta no seio do estádio lição à escala social. Esta diferença não inter-
imperialista», para além do «monopolismo sim- vêm, com efeito, senão ao nível da repartição da
ples». Portanto, quer se queira quer não, um mais-valia socialmente produzida entre os dife-
: iiËËËàËÈË
«neo-imperialismo». rentes capitais, e não ao nível da produção de
Não se trata aqui de examinar em pormenor, mais-valia. Pelo contrário, o aumento do sobre-
ãËË Ë ËË

ËËEãÀËËis

com toda a seriedade requerida, a «teoria do lucro pressupõe que a taxa de mais-valia

ÏËãËãËËs
capitalismo monopolista de Estado» que foi ela- aumenta também nas empresas públicas, ou
borada nos últimos anos pelo que podemos cha- ns pequenas empresas que o capital monopo-
mar «a escola» da revista Economic et Politique. ita domina. A exploração do trabalho é aí,
Tem o grande mérito de descrever pormenoriza- no cntanto, tão intensa, ou mais, do que nas
damente as formas institucionais de monopoli- empresas que pertencem directamente às socie-
Ë;

zação do «sobrelucro» num país como a França. dades monopolistas, e «a valorização do valor»
Tem também, se assim o pdemos dizer, o mé- (Marx) não é aí menor. É o que mostra quoti-
n

1 Editions sociales, 1971.

104 105
r-l

t-l
dianamente a amplitude das lutas de classe rei- seus primeiros elementos, quer se trate de pro-

llããËïfiãËiiãiËããËïï
iË i ãËË Ë
vindicativas que aí se desenrolam.' priedade de Estado (nacionalizações), de finan-
Parece-nos portanto preferível, seguindo a cinmento e de mercados públicos, ou de organi-
análise leninista do imperialismo, reconhecer ao “ação nacional da produção incluindo uma certa
mesmo tempo a cxistência dum verdadeiro cepi- planificação financeira, aparecem separada-
talismo de Estado, no sentido pleno, e a domina- mente e desenvolvem-se ao longo do século XX,
ção persistente do capital monopolista sobre £o- revestindo uma importância desigual nas dife-
das as outras formas de capital, incluindo o pró- rentes formações sociais do «centro» imperia-

gl
prio capital de Estado. Certamente esta domina- lista (Estados Unidos, Europa ceidental e cen-
cão toma formas diferentes, na época actual, em tral, Japão), sob o efeito dos fenómenos caracte-

ããiãïãgË Ëi È Ë lËË; ËlgÈt


formações sociais difcrentes, e são precisa- rísticos do período imperialista: economia de
mente estas formas, reflectindo o lugar desigual guerra, crises monetárias, aumento da luta sin-
que ocupam no capitalismo mundial, que as dife- tical e política da classe operária (que repre-
renciam e as singularizam. Só o domínio gene- senta um papel directo no desenvolvimento
ralizado do capital monopolista permite com- duma política do emprego, dos salários e da for-
preender hoje (na época do imperialismo) a mação profissional). São hoje o mais sistemati-
diferenciação das formações sociais capitalis- eamente combinadas e o mais aparentes, por um
tas (dominantes/dominadas), as características lado em certas potências imperialistas: as mais
profundamente diferentes da sua história con- «fracas» relativamente ou, antes, aquelas cujo
creta, comandada no entanto por um mesmo desenvolvimento interior é o mais desigual
antagonismo de classes fundamental. (França, Itália); são também, note-se, aquelas

ËË
A existência do capitalismo de Estado, se em que as organizações revolucionárias da
bem que a sua importância e as suas funções classe operária são as mais poderosas, onde

ãil ËããËãuiii
o
sejam variáveis, não é nem um fenómeno re- movimento operário tem resistido melhor ao
cente nem uma característica exclusiva dos paí- desenvolvimento do reformismo. Por outro lado,
ses capitalistas «avançados», pelo contrário. Os em certos países «sub-desenvolvidos»: aqueles
que, à custa de lutas de independência prolon-
“ndas, conseguiram adquirir uma relativa auto-
1 Pode pertanto supor-se que, contrariamente à nomia política e económica (Argélia).
;eËãq;l::ãËã
ïeeË:Ëlãããiãl
;;Ëãïfftii:iç
'ËtããsgiË;Ë3a s

íË:iË;ããiiË*í

maneira como ela própria se apresenta, não é ag


a teoria económica da «sobre-acumulacão-desvaloriza- A análise leninista do imperialismo, como se
sabe, considera o «capitalismo de Estado» como

ËË
ção» do capital que funda e torna necessária a periodi-
zação dos «estádios» do capitalismo (monopolista, depois 1 consequência das condições sociais e econó-
monopolista de Estado) E, ao mesmo tempo na sua micas nas quais as nações,
íl Ë na época do impe-
génese real e na sua organização teórica interna, cxacta-
mente o inverso: a teoria dos estádios, a teoria dum rialismo, fizeram face (e fazem face) à con-
novo estádio no imperalismo (neo-mmperiahsmo) está corrência e à guerra. ! Ora as guerras da época
na base, e é ela qu” é preciso analisar primeiro do ponto
de vista do materialismo histórico A teoria económica
da «sobre-acumulação/desvalorização> não foi, e não é " Lenme emprega concorrentemento os termos

2.:
E


óõ
sempre, senão uma justificação a posteriori, eopitalismo monopolista de Estado», monopólio capi-
:j

106 107

È--
empréstimo de capitais, sobretudo junto dos

ËilãË ; HËã?Ë: **ËãËïË


:iË iËiïËËËË Fãï
; sçt ;ïi
ËË
?1
imperialista, a começar pela de 1914, que a inau-

Ëã;ããË ãÏ íËãÉãã;Ë ã:

ËËlËË

*'
Hovernos estrangeiros), a colonização francesa

Ë:ËrÈnE Ë!t";cË1;EF

gtggiããiiïËËË
gura, são os efeitos necessários da «partilha do a que mantém os modos de produção mais ar-

ï:ïËIs

i' ;sË Ë* ËË ffiEËË; g íË ãËEË Ëãg


mundo» em esferas de dominação económica e caicos. Uma parte destas características remon-

EEÈ-,;$ËË
política. A fase imperialista da história do capi- ta igualmente às condições em que, depois
talismo começa com o fim da primeira «partilha das lutas de classes dos anos de 1936 e seguin-
do mundo», nos primeiros anos do século XX, tes, depois da derrota de 1939-1944 e da Liber-

íããËÍããËïËis
enquanto o período precedente, de expansão tação, se pôs o problema da concorrência eco-

Ë:Ë ãgãi[Ë Ëe 5:Ë a;ï IËc


e de colonização propriamente dita, aparece nómica, face aos Estados Unidos, à Alema-

iË Ë?É
apenas como um período de transição para o nha sobretudo. Houve durante muito tempo um
imperialismo. Mas o desenvolvimento desigual «atraso» relativo da concentração monopolista
das capacidades de produção nas diferentes em França, atraso que não começou a ser recu-
potências industriais implica então inevitavel- perado rapidamente senão depois de 1945 e,

ËãËÍ;ã
mente a luta pela transformação desta partilha mais ainda, depois de 1958. E o que permite

ÉíËËËË;iËïi-
(assim, a Alemanha e os Estados Unidos que compreender o papel decisivo representado pelo

ísa;* Ë I *Ë:cHÌ

it: :
têm, no começo do século XX, o desenvolvi- listado francês no desenvolvimento do capita-
mento industrial mais rápido, são ao mesmo lismo monopolista, o facto de certos elementos
tempo os menos contemplados por uma parti- do capitalismo de Estado se terem desenvol-
lha colonial), vido antes da própria concentração monopo-

í: ËË ! egË
Ë áiãËrËËË
De facto, o capitalismo de Estado é uma lista, e como sua condição de possibilidade.

ãËãË

ËËã{ãjË ËÏËËff ËiË

:Ë;3ëË. HËu$€:
característica necessária do próprio imperia- Pode explicar-se assim, em parte, a tentação de
lismo e não um ultrapassar do capitalismo mo- designar a sua combinação por um conceito
;eãËi

nopolista, que é a sua base. O desenrolar quase novo («capitalismo monopolista de Estado»).
ininterrupto das guerras imperialistas (<«locais» No entanto, ela representa antes a forma sin-
[iË

ou «mundiais») desde 1914 até aos nossos “ular sob a qual pôde desenvolver-se e manter-se
dias, veio confirmar a análise de Lenine. ra concorrência internacional um capitalismo

:ËË
É verdade que a formação social francesa monopolista francês relativamente indepen-
Ë

;ãff

H
apresenta deste ponto de vista características dente.”
ËãË

particulares. Uma parte destas características


remonta ao período histórico anterior (prece- ! Sobre as características históricas do imperia-

Loâ:-E
;g;ãÉs*qsË

ËíËË:ËËiËi

ÍiÍff;!Ë;;
- .._+=:l9--=.!=

Ëçt*Ë:Eëles

:Ër;;i:Eas
dente e seguindo imediatamente a guerra de

g ."

FgËÈïiË;Ï:
;gr

r'ff ;

leao francês, que começam apenas a ser estudadas

! - :: : . -> ::
" Í
1914-1918): a França é então o menos indus- onto de vista marxista, cf. J. Bouvier, Les Origines

Ë ti t=:{:

9,!ÈË ã.Ë:È
trializado dos grandes países industriais, o capi- tt tes trmis particuliers de Pimpéraisme français,
rËa

* d'études et de recherches marxistes, Paris, 1970


talismo francês é o mais «usurário» (aquele
ËË

ribuido por Editions sociales). Sobre o processo de


que dá relativamente o maior lugar ao simples
ãtÈ oÈtr
entração na economia francesa depois de 1945 e o
| do Estado, exposição clara e documentada em
rice Parodi, «História recente da economia e da
talista de Estado», «capitalismo de Estado»: cf. Lenine, cidade francesa», Histoire de la France,
gÈ5
.S Ec

.g

op cit.,

oìP
ãçY
É.:Iô

Obras completas, notoriamente: A Catástrofe iminente tomo HI,


ã3

(1917), O Estado e « Revolução (1917).


è

109

rl
108
E
Mas, conforme já indicámos, o capital mono- res» de acções), estes efeitos são alenuados
polista é ele também cada vez menos um capi- pelas vantagens que a burguesia francesa retira
tal puramente «nacional», está cada vcz mais da sua posição no grupo das potências imperia-
profundamente imbricado na internacionali- hstas, mais ou menos preservada. Esta caracto-
zação do capital. À dominação do capital mono- rística permanece portanto, apesar das profun-
polista sobre o capital de Estado reflecte pois das transformações de estrutura social.
igualmente, na formação social francesa, a lim segundo lugar, o facto de a burgue-
dominação tendencial das relações económicas Ma ser sempre, como a ciasse operária, uma
«interiores» pelas relações económicas interna- classe dividida em várias «fracções», cuja uni-
cionais e, em última análise, a dominação do dade tendencial é o próprio objecto duma análise
capitalismo francês pelo capitalismo interna- materialista. Mas o princípio desta divisão é
cional. completamente diferente, o que se manifesta por
vfcitos políticos igualmente diferentes. As dife-
rentes fracções da burguesia estão em con-
c) Unidade e contradições da burguesa como
corrência pela repartição da mais-valia que é
classe produzida na sociedade: cada uma tende a
mimentar a sua parte, incluindo a fracção dos
Voltemos então ao problema da class: bur- próprios capitalistas industriais, e é apenas
guesa. À diversidade das formas do canital que imdirectamente, nas formas da sua concorrên-
coexistem numa mesma formação social (se- eu encarniçada, que os diferentes representan-
gundo o duplo ponto de vista da sua função e tus do capital trabalham assim por um objectivo
da sua concentração), e à complexidade comum: o crescimento da mais-valia social
das
suas relações, corresponde necessariamente uma tonde provêm, em última análise, todos os
igual complexidade da burguesia como classe seus rendimentos e todos os fundos de acumu-
social. lação.
Se retomarmos o exemplo da formação lim terceiro lugar, o facto de a evolução
social francesa, teremos de dar contas de vários dis formas do capital introduzir na burguesia
factos: nao apenas uma concorrência de fracções, mas
Em primeiro lugar, o facto de a burgue- uma diferenciação de estatutos jurídicos e eco-
sia francesa ter sido sempre, e continuar a ser, númicos: nem todas as fracções da burguesia
enquanto «grupo» social, relativamente nume- «representam» o capital da mesma forma. O
rosa. Se o movimento de concentração dos capi- desenvolvimento do capitalismo polariza a
tais tende a reduzi-la por um lado (o lado dos classe burguesa entre vários tipos diferentes
proprietários nominais do capital), tende corre- de actividade «profissional» (incluindo toda
lativamente a multiplicar as funções de enqua- wma série de actividades formalmente «assala-
dramento, de direcção, de circulação, mais ou ridas»), que os recenseamentos inventariam à
menos parcelares. Se tende a empobrecer certas parte, e que não correspondem directamente
fracções (incluindo a dos «pequenos portado- nem à hierarquia dos poderes nem à escala da

110 111
riqueza individual, desde os proprietários das tação mecanicista das contradições

iìËËËiã;
ËË
ËãggiËl l Ë
internas

fitãËgffi i*Ë'Ëiãl
da

ffiffi*ffiffi*ffi*,ffiË
pequenas empresas industriais até aos princi- burguesia, a qual isola nela um único aspecto
pais accionistas e dirigentes dos grupos mono- tendencial (a oposição dos interesses), sem ver

ËãígËEËìgËiIËçãããelËËãiËãlE!ËËrËËËïã
polistas, passando pelos «quadros» e os «fun- » sua ligação interna com o aspecto contrário;
cionários» do capitalismo de Estado. Não só a por outro lado, como veremos, uma representa-
burguesia como classe não é uma reunião de cão igualmente mecanicista da relação histó-
proprietários, como não é também uma simples rea entre a constituição da burguesia como
reunião de «capitalistas», se bem que seja sem- classe e o desenvolvimento do Estado.
pre dominada por capitalistas (pelos mais “onvém antes de mais compreender bem que

il lr aeiË;aíf
poderosos dentre eles). mio há incompatibilidade entre a unidade de

gËt
A burguesia como classe implica portanto à classe da burguesia e as suas contradições in-
unidade de grupos entre os quais as diferenças Iivrnas. Elas desenvolvem-se conjuntamente
jurídicas e as desigualdades económicas são con- pois a unidade da burguesia não é (e nunca foi

i Ël: ËgiË
sideráveis. Eis porque é impossível defini-la historicamente) uma unidade de interesses ma-

l
procurando neles simplesmente um carácter des- irriais espontaneamente convergentes, mas o
critivo comum. É por isso que é indispensável tado duma dominação (Lenine fala de he-
estudá-la em relação às transformações histó- onia) exercida pela «grande burguesia»
ricas do próprio capital, A constituição da bur- * representa o «grande capital» da época)
guesia como classe é antes de tudo um pro- "e todos os grupos sociais que se apropriam
blema. duma parte de sobretrabalho (desigualmente
Numa formação social como a nossa, a bur- “ sob formas diferentes). Em cada estádio da

3;ËEËËËÈËËËcËËqe;
guesia é hoje, parece, ao mesmo tempo muito iÊËãËcieËïï história do capitalismo, uma fracção da burgue-

gËgË
mais heterogénea e muito mais centralizada do ua tom tendência para dominar todas as outras
que no século XIX, tal como a própria produção “ sujeitá-las no processo de exploração e de
capitalista. O imperialismo, assim como reforça senmulação: precisamente a que representa
as desigualdades e as contradições da economia um «progresso» nas formas de acumulação, um

eãl i
mundial, reforça também as desigualdades e as progresso» no desenvolvimento da exploração
contradições da burguesia em cada formação tutu em conta a resistência da classe operária
social capitalista. Mas «o mesmo tempo, reforça cessa luta de classe organizada. Esta domina-
a dependência de toda a burguesia em relação cao foi primeiro a do capital comercial e do

ËË
ao capital financeiro, e portanto a sua «unida- capital fundiário sobre o capital manufactureiro
de» de classe. “a pequena produção artesanal e agrícola, mais

ËãiËl;Ë
Detenhamo-nos para terminar neste ponto, Euile a do capital industrial sobre o capital
i3ï,ËË

que representa a principal dificuldade duma comercial e a propriedade fundiária (pelo menos
análise da burguesia como classe, e que não é wi: «metrópoles» do capital, que foram no
sempre compreendido correctamente. “eulo XIX os «ateliers» do mundo inteiro):
Dois obstáculos ideológicos correntes devem mou-se, com o imperialismo, a do capital
ser aqui levantados: por um lado, uma represen- neciro, concentrando e fundindo o capital

113

=
112
conjunto dos capitalistas, dos pequenos patrões,
industrial e o capital bancário. À unidade de

Ëï

ãËË;;ãii

ãïiã;ËíiËãËEËËi ïËËËËïËËli ïËiËËãÈËËgËis


classe da burguesia é inseparável das suas con-
«rentistas» (accionistas, subscritores de
fenó- obrisacões e empréstimos do Estado), dos
tradições internas; nunca é, como todo o

eei:
ico, mais do que uma unida de empregados, das profissões «ideológicas»,
meno histór
ele, Cc pode assim «atingir toda a socie-
tendencial, submetida ao efeito das causas que tributo para vantagem dos
dade com um
a contrariam. monopolistas» (p. 252). Mas o que é mais
Se assim é, é necessário fazer (contra toda a

ËãË
de miportante na análise de Lenine, é que ela põe
tradição da economia política, incluindo a vm evidência o modo segundo o qual se efectua
menta l entre dois

gãËl,i
Ricardo) uma distinção funda
cita dominação, insistindo em particular no pa-
tipos de contradições sociais: a oposição de

:iËsËËãÈ
pel dos bancos (quer eles sejam, de resto, priva-
interesses e o antagonismo propriamente dito. dos ou públicos, quer assumam a forma do ban-
Entre a burguesia e o proletariado, não há ape- cos de depósito, de negócios, de crédito, de com-
na
nas oposição de interesses (em particular,
panhias de seguros, de caixas económicas ou de
determinação do nível dos lucros e dos salá- ministração de cheques postais) : os bancos são
por-
rios), mas uma relação de antagonismo,

âi
rande instrumento desta dominação porque
que não se trata apenas de «partilha» desi- elos contralizam e organizam, à escala da socie-
gual dos rendimentos, mas de exploração

íiil
os difere ntes grupos dede inteira (e à escala internacional), a circu-

Ë
na produção. Entre
época, a bur- Inção do dinheiro e, a partir daí, as possibilida-

gíã*Ï
que constituem, numa certa
há oposição real ds do crédito, que se torna a condição material
guesia (a classe dominante),
económicos, mas apenas Opo- da produção e do consumo no seu conjunto.

ËË
de interesses
repartição desigual e luta «A função essencial e inicial dos bancosé ser-
sição de interesses: vir de intermediário nos pagamentos. Fazendo
pela transformação ou acentuação desta repar-

ïãiÈlã *iãÈii-ËËã
reto, transformam o capital-dinheiro inactivo
tição desigual. Eis porque, por um lado, é pre-

!ãi
nunca estas oposições, nem cm capital activo, isto é, gerador de lucro, e,reu-
ciso não subestimar

o rr
da classe burguesa mmndo os diversos rendimentos em espécies,
imaginar que a unidade
um bloco sem pocm-no à disposição da classe dos capitalistas.

Ëãi ! ÉËiiËËiË
constitui uma uniformidade,
mas, por outro lado, é necess ário jamais «A medida que os bancos se desenvolvem
falhas; e “e concentram num pequeno número de esta-
o,
confundir esta oposição com um antagonism em cimentos, deixam de ser modestos interme-
o inconc iliáve l, quer desere -
uma contradiçã “rios para se tornarem poderosos monopólios
o antag onism o da burgu esia e do pro-
vendo dispondo da quase totalidade do capital-dinheiro
inte-
letariado como uma simples oposição de do conjunto dos capitalistas e dos pequenos
e sociais , quer apres entan do
resses económicos patrões, assim como da maior parte dos meios
e burgu esia como «expl orand o» a pe-
a grand de produção e das fontes de matérias-primas
quena burguesia. dum dado país, ou de toda uma série de países.
Em O Imperialismo, Lenine insistiu longa- tinta transformação duma massa de interme-
mostran-
mente, e por várias vezes, neste ponto, diários modestos num punhado de monopolistas
a «oligarquia financeira» submete O
do como
115

=
114
constitui um dos processos essenciais da trans- "ona, arruina o conjunto da burguesia, e ali-

ãgËgËlËggsiggllliËã:

gËsi
formação do capitalismo em imperialismo capi-
La-a (a crédito). Eis porque, conclui Lenine:
talista.» “A proporção gigantesca do capital finan-
«Os números que citâmos sobre o cresci- "ulro concentrada nalgumas mãos e criando
mento do capital bancário, sobre o aumento do uma rede extraordinariamente vasta e cerrada

lãïgil:lãassãsãlãËËËff ãË ;Ëff
número das agências e sucursais dos grandes de relações, por intermédio da qual submete ao
bancos e das suas contas correntes, etc., mos- «eu poder a massa
«contabilidade
não apenas dos médios e
tram-nos concretamente esta pequenos, mas até dos muito pequenos capita-
geral» (Marx) da classe inteira dos capitalis- listas e patrões, por um lado, e a luta violenta
tas e mesmo não só dos capitalistas, pois os bon- contra os outros grupos nacionais de finan-
cos reúnem, pelo menos por um tempo, toda à criros pela partilha do mundo e o domínio
espécie de rendimentos em dinheiro provenien- mibre os outros países, por outro lad
— tudo
o
tes de pequenos patrões, de empregados e da
uso faz com que as classes possidentes passem
estreita camada superior dos operários. A “re- cm bloco para o campo do imperialismo.»
partição geral dos meios de produção” (Marx), Torna-se então evidente que a dominação do
cis o que resulta, dum ponto de vista absoluta- capital financeiro sobre toda a burguesia está
mente formal, do desenvolvimento dos bancos liyada historicamente ao controlo que ele exerce
modernos [...). Mas quanto ao conteúdo, esta sobre o conjunto do processo de produção e de
repartição dos meios de produção não tem nada ri produção das condições da produção. Não é
de “geral”; ela é privada, isto é, conforme aos tanto um fenómeno isolado, interno à bur-
interesses do grande capital [...|.» nucsia concebida como um grupo social fechado,

ãËÊ
Assim, o desenvolvimento do capital finan- mas é o efeito na e sobre a própria burguesia do
ceiro, ao transformar a função dos bancos, pro- desenvolvimento do antagonismo fundamental:
duz simultaneamente um triplo efeito: uma «so- + constituição da burguesia como classe, sob a

ãËiãI,Ë9íiãËãËË
cialização» capitalista da produção e da circu- forma específica de cada época, é realmente
lação, uma dominação do grande capital sobre mm aspecto (e um efeito histórico) da relação
toda a sociedade, compreendendo os trabalhado- de classe que opõe o capital ao trabalho produ-
res explorados (pois, com o formidável desenvol- tivo. Vamos reencontrar em breve este ponto
vimento do «crédito de consumo» e da «moeda Lo importante.
bancária», o processo descrito por Lenine não Há portanto, tendencialmente, unidade de
deixou de se ampliar), enfim uma organização classe da burguesia nas suas próprias contradi-
da classe capitalista sob o domínio do capital covs. Mas esta situação, de que acabamos de
financeiro (que os ideólogos pequeno-burgueses
ir as bases materiais, não é realmente
denunciam como um verdadeiro «terrorismo»). mteligível se não tivermos em conta uma outra

ËísËË
Porque, se não é verdade que o capital «faça determinação, não redutível à precedente: a
viver» o proletariado que explora (como queria vxistência e a acção do Estado burguês.
a apologética patronal), é verdade que o capi- 2 preciso, ainda, esclarecer sumariamente
tal financeiro, simultaneamente, domina, pres- um ponto tradicionalmente obscuro. Muitas ve-
116
117
presentado pelo Estado burguês na organização
zes os teóricos marxistas, entendendo num sen-

Ët


Ëãt Ëff
Ëtï:ãË
du clusse dominante não resulta unicamente,
tido mecanicista a noção de «superstrutura», “Innto, do facto de o Estado ser um «agente
estudam a relação do Estado e das classes «pe-

liË Ëi ËÈsaËt iit

;; FãË Ërã Ëãi;c;ãËËãË!ãããËãiãÈË


úmico» e preencher funções directamente
nas num único sentido: descrevem a constitui- cconómicas (do facto de haver uma economia
ção (a génese) do Estado a partir dos interesses pública). Pelo contrário, este papel resulta do
duma classe (ou de várias classes, ou «fracções facto de o Estado burguês ser antes do mais
de classes»). descrevem a maneira como uma outra coiso que não um organismo «económico»,

iÈt: uãïtgAAlffigglgiãaË
classe dominante utiliza a «máquina» já pronta
» bem que tenha sempre por base histórica a
Portanto, consideram a classe domi-
existência do capital, da produção e da circula-

do Estado.
nante como um dado prévio para a análise do cão capitalistas.
Estado. “e retomarmos aqui a tese de Marx e Lenine:
Mas é preciso pôr também um outro pro-
ilfu gË

a existência do Estado prova que as contradi-


ao
blema, e, para dizer a verdade, é preciso pô-lo cocs de classes (em todas as sociedades de
mesmo tempo: o problema do papel do Estado sses) não podem ser conciliadas», vemos que
(e do desenvolvimento do Estado) na constitui- e necessário desenvolvêla acrescentando-lhe
ção da classe dominante. Sem colocar este pro- uma nova precisão. À existência e a forma par-

ËlËiËgËi
blema não se poderia articular efectivamente os ticular do Estado burguês, o papel do Estado
dois aspectos da questão geral do Estado, tal
ããlË

como organização da (unidade da) classe


como a apresentam sempre Marx e Lenine: por lominante (isto é, da dominação duma fracção
a
um lado, à sua reprodução e a sua permanênci birguesa sobre todas as outras) provam que as
histórica enquanto aparelho de domin ação espe-
do contradições e as oposições de interesses cco-
cializado que traduz o carácter inconciliável
ããÉe'sl;ffi

lado, a trans- nómicos na burguesia podem ser conciliadas.


antag onism o de classe s, por outro e devem sê-lo, com vista a preservar
da IHolem
formação da sua forma histórica em função 1: condições de exploração do proletariado e a

gËsulssr
transformação das formas de exploração. ma submissão política: mas jamais podem
A circulação das mercadorias, a dos capi- sê-lo de maneira «puramente económica». Ou,
tais, a organização prática do processo de explo- mais claramente: o processo histórico atra-
ração na esfera da produção criam os bascs vos do qual se desenvolve a dominação cconó-
materiais de existência duma classe burguesa. mica da grande burguesia sobre toda a classe
de
Implicam a formação histórica progressiva burguesa pressupõe sempre a existência, a acção
grupos sociai s tende ncial mente distin tos das
ca transformação do aparelho de Estado (re-
classes dominantes anteriores, e opostos ao pro-
ãcíãËËË

de pressivo e ideológico).
portanto «burgueses»
igããËË

letariado: elas criam Mas digamos as coisas doutra maneira. Esta


uma
diferentes espécies. Não bastam para criar

ËãËgë
uma primeira observação podia levar-nos a uma pro-
classe burguesa. Por outras palavras, blemática mecanicista, na qual se tentaria jus-
s produ to
E

classe burguesa não pode ser O simple


ção capita - tupor, para dar conta do desenvolvimento da
produ
Ëã

da existência do merca do, da


O papel re- classe burguesa, dois «critérios» sucessivos, for-
lista enquanto produção mercantil.
119
118
mulados na terminologia do marxismo: o da tunto necessário colocarmo-nos no ponto de

ïeãË ; Ë Ëiffs;:ËEÊË
ã::;*l ïe-:È:si ïï;*
Ë:ãããË [i
Êãã

rëË Ëá;eËË ãËËËËi


produção (da «economia», da «base») e o do vista das contradições que esta reprodução com-
Estado (da «política», da «superstrutura»). O porta.
que não se explicaria pela economia explicar- Ora estas contradições, para o dizer esque-
ffi: ;ï
-se-ia pela política (ou a ideologia) e inversa- maticamente, são cristalizadas em dois pontos
mente. O materialismo histórico põe em evi- diferentes, da mesma forma que o processo de
dência um processo mais orgânico: enuncia conjunto da reprodução das condições de explo-
uma tese mais forte, da qual encontramos uma racão capitalista comporta dois movimentos
abordagem no próprio Marx, desde O Mani- distintos: o processo de circulação e de con-
ããÈ ;Ë Ë uËëã ã iË

iÈËËïïËËãË Eãfi
festo comunista, As lutas de classes em França,
O 18 do Brumário de Louis Bonaparte. Se o de-
enrrência dos capitais, no mercado,
le reprodução da força de trabalho, fora do
e o processo

senvolvimento do Estado comanda o da burgue- mercado.


sia como classe, se q história da burguesia é ao As contradições do mercado, que assumem
mesmo tempo a do Estado (e dos Estados) bur- uma forma diferente segundo os periodos da
gueses, é porque o funcionamento
Ë e a acção do história do capitalismo, não deixam de implicar
Estado estão implicados no próprio processo da sempre a «organização» do mercado pela inter-

ïÈiËÈfiËE ãË u:çea
circulação dos capitais e da organização da venção do Estado: definição do equivalente
exploração à escala social, é porque um e outro veral (toda a moeda é de Estado), fronteiras,
são impossíveis sem esta intervenção. É porque tarifas alfandegárias. Sobretudo, o equilíbrio

íËãËiË ËËtãË;ã
a representação dum funcionamento automático relativo entre os diferentes sectores da produ-
r

do mercado (e antes de mais uma fixação auto- cão, de que depende a realização da mais-valia,
ifi: ãi ;f Ë:
mática dos seus limites, das suas fronteiras), portanto a reprodução dos capitais por inter-
Ë

e da «economia mercantil», independentemente médio do mercado, não se realiza senão pela con-
;ï;

ËËgË íËË

da existência do Estado, é fundamentalmente corrência dos capitais, portanto pela dominação


errada e mistificadora. ' de certos capitais sobre outros. Para cada época,
Para apreender esta implicação, não basta « portanto a dominação de certos sectores da cir-
'Ëi

colocarmo-nos no ponto de vista descritivo, é culação sobre outros e a tendência do capital


necessário colocarmo-nos no ponto de vista para aí se acumular e centralizar sob a forma de
da reprodução histórica das condições da pro- capital comercial, de capital produtivo, de capi-
ÈËËË

dução: reprodução das forças produtivas (meios tal portador de interesse, que se deve realizar.
Ëeã

de produção e forças de trabalho) sob as pró- 5 ao mesmo tempo, na própria produção, a


prias relações de produção capitalistas. É por- lominação dos capitais investidos em certos
g

ramos (agricultura e manufacturas, indústria


têxtil, depois indústria «pesada» de bens de
1 Não é difícil compreender para que tende esta produção e minas, indústria de armamentos,
n!õ
ËÈ

9NE;
,J.98
- ft9ç3g

H:E€
õõ!
^ '!-

representação, constitutiva da ideologia «hberal»: para ctc.), através das taxas de lucros superiores
3,i 9B
ãe.F
geËú R

reforçar a ilusão do Estado como esfera autónoma,


mantidas por longos períodos (a igualização das
"ۍ

acima da produção e dos antagonismos inconciliáveis


Ê
c'r
q

^;

que nesta se desenvolvem taxas de lucros não é senão tendencial, deve ser
ã
ü

120 121
;.ì
sem cessar contrariada). É preciso portanto não Mas as contradições do mercado c da con-
nos contentarmos com ligar a intervenção do corrência dos capitais não existem sozinhas: cs
à regulamentação e à us cfeitos são sobredeterminados peios das
Estado à constituição,
do mercado interior: é preciso, contradições que se desenvolvem nº outra ver-
«protecção»
analisá-la como o meio € O efeito tonto da relação de produção, no processo de
lentamente,
«: produção do força «2 trabalho. Em condições
da dominação de certos capitais sobre outros,
históricas próprias de cada período, de cada for-
de certas formas de acumulação do capital sobre
ou antes, a polí- mação social capitalista, trata-se então de asse-
outras. A «política econômica»,
(incluindo tanto a guerra e à rurar a «liberdade» do trabalhador sujeitando-o
Lica simplesmente “o mesmo tempo à exploracão capitalista, do
colonização como 2 legislação social c a política
ponto de vista da sua «qualificação», mas tam-
dos salários) é portanto sempre o efeito e o meio bém do ponto de vista do seu comportamento fa-
duma certa relação de forças entre os próprios miliar, religioso, político, enfim, da sua ideclo-
capitalistas, assegurando a dominação interna
«in. Assim, trata-se permanentemente de lutar
de certas fracções da burguesia, e o seu desen- contra o desenvolvimento da organização e da
volvimento à custa das outras.
autonomia ideológica do proletariado, na fami-
É aqui que assume todo o seu sentido a lia, na escolarização, na assistência pública, nas
definição do «monopólio» desenvolvida por Le- instituições políticas, ao mesmo tempo pela re-
nine em O Imperialismo, quando escreve que «a pressão e pela acção ideológica contínua. Só uma
cssência do imperialismo, é o monopólio». Esta fracção burguesa que possa, num perícdo deter-
definição escapa simultancamonte às duas esta relação de
minado, organizar ec manter
variantes do econom ismo que, ou ignoram a bas?
a uma
forças em face do proletariado, poderá também
económica do imperialismo, e o reduzem a sua dominação interna no seio da bur-
manter
política conjuntural do grande capital, ou redu- «mesia.
zem a transformação das relações de produção a Todo o desenvolvimento do Estado na histó-
um dos seus aspectos (a concentração da produ- ria do capitalismo tende portanto para um duplo
ção ou da propriedade, a supressão da «livre» resultado, que atinge desigualmente: reproduzir
concorrência). Para Lenine, o monopólio não é as condições de conjunto da exploração do prole-
um fenómeno simples: é a combinação das dife- tariado, assegurar-lhe a continuidade «normal»;
rentes tendências saídas da história do capita- e reproduzir, à custa de «compromissos» even-
lismo (concentração da produção, açambarca- tuais, a dominação no próprio seio da burgue-
mento das fontes de matérias-primas e de mão- sia duma fracção dirigente, uma fracção que
-de-obra, desenvolvimento do capital fmanceiro, representa a forma de exploração e de acumu-
política colonial ou neocolonial e partilha do lação mais eficaz em condições históricas dadas.
mundo) ; é, não o simples produto duma política, Este segundo objectivo é sempre prosseguido
mas uma transformação das relações sociais com base no primeiro. de forma que a vnidade
que inclui necessariamente a do Estado bur- de classe da burguesia, através des suas pró-
guês. prias lutas internas, depende da manutenção

123
122
e do desenvolvimento veito, por cinquenta anos, a questão da unidade

::ËïËi'i'Ë ìEãE íisËtãEË"ËÉ;ii ËË


da exploração.

;;: n í: âen eEËÈ Ë; eïË Ët:r fË;;:ii


tËËiË

Ë üËËË
Mas o pri-

1$: ËEËË;98
i n5;:ËËËe ri*;: FË;:; Ë,3í:5 ii:Ë rft
9e?:i*p l*ãÈ;E P Eü i E: ã igË F FËË:"

ë!
:ËÈËÜE:
3.É3 i"fi-E

ãËËE* :ã :;çs:FgiËgÍgË
ãiããËãËËããËãËãããllAlãglËggi:;ãããiË

eãËlË i;ãË *Ëi ; qãgã*lãgggã$gggi


meiro objectivo não pode ser atingido se o da burguesia, da sua hierarquia de interesses
segundo não o for também, de maneira que o mterna. Como sublinharam constantemente os

ã. se' f ."=È-::i*l:t:*É
desenvolvimento da exploração é directamente rlússicos do marxismo, a burguesia, como classe

H
ameaçado de todas as vezes que a unidade de dominante, distingue-se essencialmente duma
classe da burguesia tende a romper-se. custa esclavagista ou feudal.
Digamos as coisas doutra forma: é sempre Adiantaremos pois, a título provisório, as

Ê Ë[i;iiËIiiEÏË

;
por intermédio do Estado (detenção do poder de duas hipóteses seguintes:
Estado e portanto desenvolvimento 1. O Estado não é uma forma histórica

Ë Ë'Ë:iË'Ér
dos apare-

E ÈË.Éi!
lhos repressivos e ideológicos do Estado) que imóvel, que a burguesia retomasse a seu cargo

-.".F ^Z*24i.ç=^:
a burguesia «se organiza em classe dominante» trrancando-a tal como é às classes dominantes
(Marx). É pois uma característica histórica da anteriores. Pelo contrário, o desenvolvimento do

gE:;; EË::Ë sF;Ê;:i iï


burguesia como classe: os meios da sua unidade capitalismo transforma a estrutura do Estado
são os mesmos que os da sua dominação sobre (tanto no funcionamento dos seus aparelhos
o proletariado e o conjunto dos trabalhadores repressivos como no dos aparelhos ideológicos)
explorados, repousam na organização de toda « só esta transformação permite à classe bur-
a sociedade no Estado (o Estado aparece como guesa constituir-se. Neste sentido, não há his-
uma potência universal, acima das classes, por- toricamente nem anterioridade da burguesia

Ë€ Ë
que abrange toda a divisão do trabalho). sobre o Estado nem anterioridade do Estado
Pode assim compreender-se a forma parti-
sobre a burguesia, de que ele é a condição per-
cutar sob a qual o estado burguês assegura a manente de reprodução: mas história de trans-

É EÉ s 3É:
manutenção da exploração capitalista e das formações recíprocas.
suas condições: a forma da «participação» de 2. Pode dizer-se que toda a burguesia como

ËË€ËEEË
ãË:ËEËt
g

fiiiÊI;#
todo o povo no funcionamento do Estado (quer classe é, historicamente, uma «burguesia de Es-

".b
sob as formas da república democrática, quer, tado». Não apenas no sentido de ter como única
quando é impossível, sob formas brutais ce base de existência material um capital de

tË "c
menos eficazes, o bonapartismo, o fascismo, Hstado, um capital «público»: mas no sentido
etc.). As classes de trabalhadores do a existência e a acção do Estado serem initcr-
explorados
são, com todos os riscos e dificuldades que isso sas ao processo da sua dominação e da sua uni-

È
comporta, a «massa de manobra» da domina- dade de classe. ?
ção duma fraeção da burguesia sobre todas as
ãËËg$ãlã

'* Esta formulação permite-nos recusar de passa-

H
gËegËsË*c

,ç'9 à'9,È a ' 9


outras. À grande burguesia domina tanto me-

-l:ri*!ãË

iïsÉãrËê
õ!.

t'3rtsÇiL:ã
a?E
E 9:g Ë

ã s::ÉË!Ë
.;,0 gã
E!5gle:"
qEË.FÈ!:
i:q5*:Ë 5,
Ë:€ãI i; r
*
“em as tentativas de explicar as contradições sociais

ú.o c +o

H
lhor quanto mais consegue desenvolver esta na história dos países socialistas pela constituição duma

g5Ë*

E;gË"{€
hegemonia geral: assim, graças à protecção nova classe», que sera uma «burguesia de Estado»:

I
-õo*
não que estas contradições não existam, mas, é evidente,
ideológica, política, militar que lhe asseguraram

ãË Èeg
EÌ! r s
esta explicação é puramente tautológica. Mascara assim
a instrução pública, a colonização e a política

Qc'S
Eãr,

o problema da história simultânea da transformação das


agrícola, a burguesia financeira e industrial inlações de produção e de exploração, e da forma do

ãg
4

francesa da III República ajustou em seu pro- hstado, nos países socialistas iõ
124 125

'-i
K
Esta caracteristica, sob formas necessaria- tário (o que não quer dizer que ela o produza

:l ïã$ ËËiËggçgsËí;Ë:ãï€ËËËrËgiãiË
ã l:l
;:
.;3 E: ã"S E - ".3 ì'' E :Ë ã!

diË E*
ç;

.!

H!: s;:* È.ü E.Ë U BÈ á i'ú1 r 3ã* H Y ! õ É


fr â-;52ú - i ì i I E:=ãÈ o i v Ís er.t o ã o: o
õ f r Ë.F .: úÈ i ;: É.F e _: HiE Ë gs;ËE ï;.
r È* *r Ë€E ! E I ".s. :Ë * iEïÉ; fi fuË,çË rr
È'
x3ã E^r I.q9I Eá€E
ê
. i F P.q r ^: i sË Ë : *.;
È6ì!!E
!'-ì
: È.;,ãE
mente novas, é sempre válida na época do impe- iulomaticamente)

E _ -2. = ; - x.õ"h ì !.n.ã C


3Ë:ì
ã" ïÈ€t *-È i ËtqEÊ I aE g:'H*.$3 E 1ã:
F,?
gE'8.Ëa.iã:8.5 $E ãFË
rialismo. Arrasta então uma neva contradi-

;
e
i€
Ë
ção. Pois toda a burguesia é também, pela mes- «...JX PARA CONCLUIR, A LUTA DE

5
^o

n.:
c c :l;Ë:Ëi:ï
ma razão, uma «burgucsia nacional». Na história CLASSES, QUE É O MOVIMENTO E A RE-

È
S.õ F 3'ì.! 3 TE * Ë3È É Q r É *e
I
\ ocjE .: ?ãú-j ?ã.9 ãëË i !.:e
do capitalismo, a forma necessária do Estado SOLUÇÃO DE TODA ESTA MERDA» '

gË ãi
!.i,,.È
3*
é a forma nacional (única forma sob a qual

-!
eEi,
Nas páginas precedentes, tentámos, indo

iãtirãããssgaãiltíããígããgiËi
podem articular-se o seu aspecto repressivo
beber a várias fontes, aclarar alguns problemas
E n i É:.
ã
e o seu aspecto icleológico, ou se se quiser a sua
clássicos do materialismo histórico. Não se
s'È",s{eE
«ditadura»
9.1-'É:.
— Marx — c a sua «hegemonia» —
trata portanto duma nova teoria. Trata-se duma

**
,
Gramsci). ' Mas, na época do imperialismo, o
=o

aio
capital já não é inteiramente, é cada vez menos, contribuição para o estudo do materialismo his-

Í
um capital «nacional». Torna-se, pelo contrário, tórico que deve necessariamente, nas condições

t
" ú;.rqJ.E,i,
ãEgd
Ë

enquanto capital financeiro, um capital mul- actuais, apresentar-se como uma contribuição
EË *St:P ã t Ëi Ë ãË para a crítica do ponto de vista da economia

I,;ç
r'; áúB

tinacional, cuja repredução passa pela ex-


política nos próprios marxistas.
qs;e:

portação e a reexportação. A história da bur-


Tentemos, sem pretender concluir, retomar
.,É
_ i. B€Ë,8E.Ë;
{,eã.ú.U

guesia torna-se então, em cada formação social


em conjunto as teses mais significativas que
-.s'-.eã
oÈ íi,3 ê'9.E E ãË "
8ËE

capitalista, a da contradição interna entre as


nos apareceram progressivamente.
F:í!ì .;i:
i
: Yds F,^ Ín! Ha

condições «económicas» e as condições «políti-


Estas teses, e é nisso que elas são incompa-
*i
p
u B.Ëz E;:'8.Ës

cas» da sua dominação. Não há verdadeiramente


tíveis com o ponto de vista da economia política,
FB
ã: e Ë Ë ç EÌ

internacionalismo possível para a burguesia.


têm um mesmo fio condutor: desenvolvem e
rE
ìË - Êo É b

Não há senão coligações nacionais sob a hege- explicitam o carácter fundamental da luta de
iü g:
Ë Ë;Ë
!

monia dos imperialismos mais poderosos, que clusses na análise marxista. Mostram
- x ..j Ëg
Ë.:íÈ Ag

que
não conseguirão jamais abolir as suas contradi- à análise marxista não tem outro objecto senão
ú\../ **
âË* e

ções. Não há ultra-imperialismo. O único inter- à luta de classes, e, correlativamente,


^E.9

que nada,
nacionalismo que a internacionalização do capi- na história da sociedade capitalista, escapa à
d


tal torna possível, é o internacionalismo prole- determinação da luta de classes. Não há pro-
o)

cesso social que esteja situado pura cá ou pura


tá da luta de classes. E, por conseguinte, a luta
1 E evidente, e sem Jogar com as palavras, que de classes não pode explicar-se por uma coisa
È$ãg:EilE
.;14 k

:Èiãiei

Ë ÈiegarE; i

i 9ï ji o.,@- oi

ÉáË'*ç
F
eãpÈlË;,c,Ë
:. t ^[!i "'"r.g
*!; Èci€
x;.s9'Ë'i'
: r.9 á F HË
- ïÉ93=b'ÉïË

a
É g d:qo
õ Ë õ Ã!:

a burguesia «nacionul> pode ser uma burguesia antina-


tiforente dela própria, por uma necessidade

:ri,rt9!ìie

ï*

cronal, isto é, enfeudada aos interesses duma outra bur-


i,9.i Ë ó:3

guesia, do capital estrangeiro, visto que a reprodução natural ou ideal preexistente, mas apenas pela
i 33 - P-e
^


I

das condições da exploração e da acumulação dos capi- dialéctica concreta das suas formas diversas e
Ë

o aa a 6

tais individuais não são possíveis senão nesta con- da sua acção recíproca.
s€i:

dição: Pétain, Soeharto ou Thieu e Pinochet simbo-


lizam bastante bem esta situação histórica, general-


-o

Ë9
.d o

zada pelo imperialismo, e a violência das contradições


ï

que ela implica. ' Carta de Marx a Engels,


O

30 de Abril de 1868.
d

126 127

ôÌ
È-
E
Convém aqui parar um instante e formular Há mais: se o materialismo histórico afirma
um aviso. Se não há processo social exterior que todo o processo social é interno à luta de
à luta de classes, é porque a luta de classes classes, representando um seu aspecto, mostra
está «em toda a parte». E podemos ver imediatamente que a luta de classes se desenrola
esboçar-se aqui um perigo de formalismo, que, de repente a vários níveis, sob diversas formas,
sabemos, causou danos à história do pensa- não separadas, independentes umas das outras
mento marxista. A luta das classes veio por (como os andares sobrepostos dum edifício,
isso a funcionar como uma chave universal, metáfora que tem pelo menos um valor pedagó-
como uma resposta a todas as questões, como gico), mas praticamente combinadas e, por esta
a primeira e a última palavra de todas as aná- razão, distintas, nenhuma delas podendo substi-
lises, isto é, como o maior obstáculo a toda a tuir-se à outra — o que a tradição marxista re-
análise real, Em vez de representar o fio con- conhece distinguindo as lutas de classes «eco-
dutor para um conhecimento efectivo progressi- nómicas», «políticas», «ideológicas». Falar da
vamente mais objectivo, não passou então, para luta de classes, só pode ser portanto falar
falar como Engels, de «a noite em que todas as das diferentes formas da luta de classes
vacas são negras», ou, para falar como Spinoza, e da sua articulação numa conjuntura dada.
de «o asilo da ignorância». Se pôde ser assim, E estudar a sua determinação por uma dentre
é porque ao mesmo tempo a luta de classes elas, de forma a ultrapassar a simples consta-
foi erigida numa essência imediatamente dada, tação duma diversidade, e a compreender a
portanto absolutamente simples. Em lugar de se articulação interna que explica a extrema varie-
procurar explicar a luta de classes, quis-se expli- dade das suas formas. Dum ponto de vista
car todas as coisas pela invocação da luta de materialista, esta determinação, em última
classes, sem haver preocupação em desenvolver- análise, não pode ser senão a da luta de
“lhe o conceito, considerado como cvidente. 5» classes na produção material, sob o efeito
as teses que enunciamos têm um sentido, é pelo das relações de produção, pela permanência
contrário porque cizem respeito à análise da ou a transformação das relações de produ-
própria luta de classes, na sua complexidade, ção. De resto, a prática mostra que é apenas
é porque tendem a determinar, e por isso a dife- descobrindo e analisando esta determinação, sob
renciar, o conceito da luta de classes. Por outras as suas formas concretas, que se pode reconhe-
palavras, o marxismo não invoca nunca a luta. cer a existência da luta de classes a outros
de classes como uma resposta, uma solução, níveis, quer se trate da política, do direito, da
mas sempre e antes de tudo como um pro- literatura e da arte, da filosofia, etc.
blema: fazer a análise concreta dum processo E, ainda, é preciso que o conceito desta de-
histórico concreto, é procurar e encontrar as terminação, ele próprio claro, e que o processo
formas, não adivinhadas de antemão, da luta de produção esteja já correctamente anali-
de classes, em condições dadas, que são elas sado do ponto de vista da luta de classes. É
próprias o produto doutros momentos da luta aqui, como se sabe, que se perpetuam, na pró-
de classes. pria tradição marxista, os equívocos e as con-

128 129
trovérsias. Queria voltar a este ponto por mo- A experiência prova, no entanto, que é extre-

ãgiËilgããtãiaaã lãI

ãr:ËãiãraËËãE
mentos, com base nas propostas precedentes. mamente difícil fazer admitir a muites dos
No texto que acabámos de ler, recordei, nossos «marxistas» actuais, formados por uma
como uma posição essencial do materialismo tradição cconomista e evolucionista tenaz, esta
histórico, o que podemos chamar «primado» da dupla substituição do eciectismo pela diaiéctica.
relação de produção fundamental mo interior lim particular, é extremamente difícil fazer-lhes
da combinação histórica das relações de produ- admitir que, na produção imediata, a luta de
ção e das forças produtivas. Indicava que é pre- classes não começa com a «resistência» da classe
cada modo de produção, pri- operária à exploração sob as suas diversas for-
ciso caracterizar
meiro e essencialmente, pela natureza da rela-
mas (prolongamento da jornada de trabalho,
intensificação das cadências, desqualificação,
ção de produção (e de exploração) fundamental,
apravamento das condições de trabalho, baixa
em seguida, de forma derivada, pela natureza
das dos salários reais, etc.), mus logo com estas pró-
e o processo de transformação tendencial
prias formas. Por outras palavras, que não é
forças produtivas. é lula de classe do capital (c da burguesia)
Resulta duma tal definição que a análise do

tiË ããiEËã:t
contra o proletariado que constitui uma «répli-
modo de produção e a análise das classes (ou ca» à luta de classes do proletariado pela satis-
a sua «definição») não são dois problemas teó- facão das suas «necessidades» colectivas, o me-
ricos distintos, mas sim um único e mesmo pro- lhoramento das suas condições de trabalho e de
blema. A análise das classes, que é a do pro-
t ã lãã

v<istência, etc., mas exactamente o contrário:


cesso histórico da sua divisão, portanto da sua ni sempre antes de mais, e desde sempre, uma
relação, é a única que permite compreender a luta de classe sistemática do capital contra o
articulação interna e o movimento histórico proletariado, que é o motor permanente do de-
tendencial do modo de produção. Eis porque senvolvimento das relações de produção canita-
é preciso admitir que cada classe não pode ser listas, e, sob este desenvolvimento, para o
ãsã!r iãËããËããE

definida independentemente do processo histó- tornar possível, do desenvolvimento das forças


rico da sua própria transformação. produtivas, portanto das formas de organização
O que é essencial, em última instância, v de instrumentos de trabalho mais avançados.
:iãããËgãfi,

numa tal definição? É o facto de ela inscrever Este facto vai talvez contra o «hom senso»
a luta de classes não como uma simples consc- de numerosos teóricos «marxistas» impregnados
quência do modo de produção e de exploração, das lições da ideologia burguesa, que bebemos
mas na própria definição do modo de produção. desde a escola com a ideia da «neutralidade»
Por outras palavras, não somente o modo de das técnicas e das formas de organização indus-
produção capitalista (como já acontecia com os trial, etc. que não remeteriam senão para O
modos «pré-capitalistas» aos quais sucede) não progresso do saber e da cultura da humanidade,
passa de um modo de exploração, como a pró- anterior ao seu bom ou mau uso, à repartição
pria exploração não passa de a forma histórica justa ou injusta dos seus encargos e dos seus
fundamental da luta de classes. frutos, etc. Mas este facto, cujo reconhecimento

130 131
teórico representa simplesmente a aplicação do

ãããË,ãËããiËïãïËãiiãíãËËËi
€ãËlr:EÈ

sst i t I *aiË;ËË
ËïË E,HEËÈiãs;Ei
ponto de vista proletário de classe (do ponto Iransformação das próprias relações de produ-

sËãigglggËíãËiiËlËËtiËãËËËËËiËËËgiËãËË

gãff gããíËããËÈ
de vista da luta de classes) à própria estrutura cio Mas justamente, isso quer dizer que a pri-
da produção, este facto é no entanto conforme mena forma sob a qual o proletariado encon-
à experiência como à teoria de Marx. Uia « pratica a luta de classes, é uma forma
1. É conforme à experiência directa, quoti- defensiva, que responde a uma ofensiva perma-
diana, da classe operária, que sem isso não seria nente do capital, E não está no poder de nenhum
constrangida a resistir passo a passo a cada capital, privado ou público, grande ou pequeno,
novo «método» de produção, mais «avançado», quilquer que seja a conjuntura de «crescimen-

introduzido pelo capital, sem poder nunca disso- lo ou de «estagnação», deixar de desenvolver
ciar praticamente a «máquina» do seu «uso eta ofensiva: pois não basta ao capital, para
ia;

capitalista», senão por esta mesma resistência ir c se reproduzir, «explorar» o trabalho:


e na medida dos seus sucessos parciais (seria como sabemos (e Marx o demonstra), é-lhe
preciso, definitivamente, uma perturbação de preciso, por uma necessidade imanente, sobrees-
li
áËïãïË

toda a divisão do trabalho actual). Ora, sem rlorá-lo, explorá-lo sempre mais, sem o que

íãi;,Ë:Ë sããËi,
esta resistência, a classe operária não poderia ele vê o seu lucro capitalizável fundir-se na

muito simplesmente manter as suas condições concorrência capitalista. E este o preco da


de existência. Cada jornada de trabalho e de acumulação, e a acumulação é o preço exigido
ãËlËi

luta da classe operária moderna prepara-a pela própria existência do capital.


assim, mesmo obscuramente, para compreender 3 Enfim, este facto está conforme à aná-
ã

que o uso do maquinismo industrial, das aqui- lc pormenorizada de Marx no livro I de O Ca-
íËiËag;ãËËËã*ãiiiË,

sições históricas da técnica ao serviço dos pro- pitul, análise histórica da manufactura e da
dutores e da satisfação das suas necessidades, prande indústria, que Marx apresenta como for-

não deverá ser rcencontrado para além da má nus sucessivas da produção de mais-valia rela-
aplicação capitalista, mas sim descoberto, in- tira (e não como estádios tecnológicos na base
ãgi

ventado, produzido pouco a pouco, graças às dus quais o capital instauraria por uma espécie
ïiË

novas formas de divisão do trabalho que a dl constrangimento, de «violência» externa,


detenção dos meios de produção pelo proleta- uma cxlracção de mais-valia).
riado torna possível. No entanto, uma vez este ponto bem com-

ã
2. E conforme à tese fundamental do mar- precndido, é preciso não cair numa concepção
ëËËããËiiã

íã;i: ããËãË
xismo, segundo a qual a luta económica de classe cubijcctivista (e relativista) do primado da rela-
do proletariado (cujo órgão por excelência é o tao de produção. À este respeito, a expressão
sindicato de massa) é uma luta defensiva. Claro que cu empreguei acima, designando a natu-
que isso significa: uma luta apenas defen- rec das forças produtivas (ou antes do seu
siva (e só os revolucionários pequeno-burgue- processo de transformação tendencial) como
ses de salão desprezam este «apenas»), enquan- 1 característica «derivada» do modo de pro-
to a luta política, que se edifica sobre esta o capitalista, não deve ser desviada do seu
base, pode ser também ofensiva, e tender para a do. Não esqueçamos que se tratava duma
dr Irução, ainda abstracta, na qual deve reflec-
132
133
t
tir-se, muito simplesmente pelo lugar número - nem, enfim, que a relação de produção
um que aí ocupa formalmente, o primado da capitalista, que aparece necessariamente antes
relação de produção. Neste sentido, eu não fiz de descnvolver as suas forças produtivas espe-
mais que demarcar a própria ordem de exno- cíficas, na base do ofício artesanal puro e
sição da análise de Marx em O Caenita!, que cor- «mnples (cooperação simples, trabalho a domi-
responde rigorosamente a este primado, e que é vilio), possa subsistir sem desenvolver as for-
de tal maneira contrária ao «bom senso» eco- vas produtivas: o que é uma contradição nos
nómico dos nossos marxistas modernos (mas termos, visto que a mais-valia é sobre trabalho!
tão conforme à realidade histórica): Marx não Sob reserva de nunca esquecer que a existên-
dá primeiramente a descrição do estado das tencia da relação de produção, corresponde aos
forças produtivas, depeis, «em consequência», o - us efeitos materiais, às suas formas de reali-
desenvolvimento das relações de produção «ivão cfectiva no processo de trabalho, uma ta!
canitalistas; mas formula primeiro a definição definição não pode portanto cair no subjecti-
da relação de produção capitalista fundamental vismo, no idealismo.
(venda e compra da forca de trabalho, produção Na realidade, se inúmeros marxistas, mais de
de mais-valia pelo consumo produtivo da força vem anos depois da publicação de O Capital,
de trabalho: a forma geral da exploração e das continuam obstinados neste falso dilema (ou
relações sociais que ela implica), definição primado» mecanicista das forças produtivas,
enunciável qualquer que seja o grau de desen- ou então idealismo subjectivista, voluntarista,
do desenvolvimento das relações de produção
volvimento das forças produtivas na história
do capitalismo, depois a análise «derivada» das mete pondentemente da sua realização material
formas da mais-valia absoluta e sobretudo rela- na base das forças produtivas existentes, e da
e explicam o desenvolvi- ma transformação tendencial), é simplesmente
tiva, que comandam
mento das forças produtivas (cooperação, ma- porque não conseguiram (sob o efeito de causas
qu: não examinarei aqui) ser suficientemente
nufactura, grande indústria).
multerialistas para se tornarem dialécticos,
E, bem entendido, isso não significa:
«sundo uma inconseguência que Lenine nunca
— nem que a relação de produção capita-
exista scm a base material das forcas xou de destacar.
lista
Convém a este respeito estudar de novo (e
produtivas (portanto.. sem produção!);
Iixor estudar) os textos onde Marx, antes de
— nem que a aparição da relação de produ-
mis ninguém, ultrapassa explicitamente este
ção capitalista seja possível em qualquer está-
dio de desenvolvimento das forças predutivas talso dilema ideológico. Mencionamos em par-
(e da produtividade do trabalho), se bem que Lcular o capítulo 7 do livro T de O Capital:
o desenvolvimento da produtividade quo resulta Processo de trabalho e processo de valoriza-
do capitalismo não tenha qualquer medida cos, isto é, de colocação em destaque do valor
comum com aquele que outrora o tornou posst- (Arbeitsprozess und Verwertungsprozess).'
vel (mas não inevitável: foram precisas outras
causas); » “Tradução portuguesa da Editorial Delfos.

134 135
Lembremos como Marx procede neste capi- sob esta forma qualquer existência real. Em

;ËËi:Ë

gãËiãËËË*íã;ËËgiËããËãããggããËã

lË! ; ËË

g;gis;gËËãggËããËã:ËgãËãgãiãgËËËãi
tulo, que é uma verdadeira lição de dialéctica, particular, o «homem» do qual falamos não
do ponto de vista do problema que nos ocupa: cristo, no sentido forte. Eis porque, de resto,
Marx começa por analisar a forma mais esta tese é essencialmente negativa. Para que
abstracta do processo de trabalho, na qual o alquira um conteúdo positivo, é preciso acres-
«homem», transformando materialmente a «na- centar-lhe uma segunda, ou antes, é preciso
tureza», se torna ele próprio «uma força natu- determiná-la por uma segunda tese, dizendo: o

ËË ËËlt iË íËï
ËïãËËtgãï tãËíËãËiãËãã;ËããËËiË ËãË,
ral», e se transforma ele próprio (o homem não «homem», na realidade, é uma sociedade deter-
pode transformar-se, senão transformando a mimada, uma forma social historicamente dada.
natureza; vamos ver dentro de instantes que, [5 preciso também pôr o problema da estrutura
dum outro ponto de vista, não pode transfor- social do processo de produção no qual se rea-
mar a natureza senão transformando-se). O tra- lizam as determinações precedentes. O que é um
balho, é então uma combinação de forças mate- único e mesmo problema, porque uma sociedade
riais num processo de produção que é inteira- não é uma soma de instituições ou de indivíduos,
mente «natural» (não há lugar em Marx para musmo «concretos», mesmo historicamente de-
a velha ideia filosófica de artifício): entenda- terminados, mas fundamentalmente um pro-
mos que o «homem» não desempenha aí de modo cesso de divisão do trabalho, no qual os indivi-
algum (e jamais desempenhará) o papel de um duos não agem sobre a natureza senão agindo

ff ËËgããi iËÈ iiËËË *Ësl ã


demiurgo, de um Sujeito soberano, que viesse uns sobre os outros materialmente, sob o efeito
impor à natureza a sua marca, submetê-la aos de relações sociais dadas que este mesmo pro-
seus fins, ao seu projecto e ao sey empreendi- cesso reproduz (e tranforma). Apercebemo-nos
mento de humanização (ou de hominização, va- então de que, na primeira definição, abstracta,
riante laica, conforme à ideologia burguesa da so estava perante o processo de trabalho ape-
história, da providência divina). Desta primeira nas pelos seus elementos (objecto de trabalho,
tese materialista, resulta logo que nenhuma for- meio de trabalho, força de trabalho) e pelo seu
ma social de relações de produção pode existir resultado (o produto de uso), mas de forma
fora da determinação pelas forças produtivas nenhuma pelo conjunto das suas condições reais,
existentes (no seio das quais a qualidade da for- de modo nenhum enquanto processo, mesmo se
ça de trabalho humana depende da natureza dos este processo foi pressuposto. É agora que se
meios de produção utilizados). Irata de analisar o processo como tal, definindo
Mas esta primeira tese, como o demonstra a sua forma social, determinando a natureza
iËããgËËl

imediatamente Marx, é ainda inteiramente das relações de produção que comandam o


abstracta. Afirma-se aí que os meios de produ- encutcamento necessário das suas fases e a sua
ção (a natureza e o «grau de desenvolvimento» exceução.
dos meios de produção) comandam a qualidade Compreende-se então que o processo de tra-

ËiãË
e o desenvolvimento da força de trabalho; mas balho «em geral» não existe, ou melhor que ele
não se explica como e porquê. Os termos que ela não existe (como dispêndio de força humana
põe em cena, «homem», «natureza», não têm le trabalho aplicado a uma transformação ma-

136 137
terial) senão em e sob formas históricas par- cia da relação de produção fundamental. Não há

:;ïãËã:t'Ë ãiËisËã;iËË*ã
gãgËg
ticulares, que se transformam, c às quais ele portanto dois processos, um processo de traba-

ãËãã
não preexiste. Trata-se do ponto delicado, em que balho (natural), e depois um processo social
se joga a possibilidade de ultrapassar ao mesmo (por exemplo, um processo de exploração) que
tempo o mecanicismo (evolucionismo, economis- viria sobrepor-se a ele extemporaneamente, mas
mo, etc.) c o subjcetivismo (historicismo, relati- um único e mesmo precesso social complexo, no

iãÈiãigãËãiliËËiãi
I
vismo, etc.): teda a prática, e antes de tudo qual a forma da relação social de produção (e,

lgi ãff ãË ËËËãïËiïË ËËãË ;ãïE


o trabalho social, é determinada pela existência é hoje, de exploração) é a condição interna do
objectiva da sua matéria-prima, dos seus meios processo de trabalho, materialmente realizada
de trabalho materiais, que preexistem aos indi- na disposição das forças de trabalho e dos meics
víduos e à sua actividade; mas como é que esta de produção, e no seu modo de acção recíproca.
determinação opera? Unicamente na medida em E esta condição interna que exprime a tese do
que eles próprios realizam uma relação sccial “primado da relação de produção», que se pode
determinada, que disnõe (distribui). uns em re- desenvolver assim: o primado dos meios dc pro-
lação aos outros, meios de produção e forcas de dução sobre a força de trabalho nas forças pro-
trabalho, submetendo as secundas aos pri- dutivas (e no processo de trabalho) reflecte, sob
meiros. uma forma específica de cada modo de produção
Assim, demonstra Marx, no modo de produ- histórico, o primado da relação de produção
ção capitalista, os meios de produção não exis- sobre as próprias forças produtivas. Com efeito,
tem realmente enquanto tais (não são utilizados à relação de produção não é primeiro que tudo
produtivamente, apropriados pela força de tra- uma relação social entre os homens (as pes-
balho) senão na medida em que eles já se torna- soas), é em primeiro lugar uma relação entre
ram, sempre (enquanto capital «constante»), 04 homens (isto é, as classes) e os meios de pro-
meios de apropriação da força de trabalho pelo lução materiais. ?
Surge então claramente que a tese dia-

1ãËË
capital, meios de «bombear» a força de traba-

ËËËËËËlgïË€
lho despendida e de lhe impor a forma de«valor» léetrica do «primado da relação de produção»
adicional. De tal forma que a força de trabalho a figura inversa da tese mecani-
não é a inversão,
não pode ela própria recuperar-se, reconstituir- cista do «primado das forças produtivas», como
-se à saída do processo, senão passando pela for- «slguns poderiam julgar. Ou antes, compreende-

iË|çããÊ
ma social do valor, metamorfosecando de novo, -se em que condição esta tese não pode ser con-
pela troca, esta parte de valor produzida que lhe fundida com um idealismo ou um voluntarismo,
é concedida numa mercadoria (um objecto de como numa certa tradição «esquerdista» do mo-
uso) consumível por indivíduos. Assim, a pró- Ëvimento operário: com a condição de que o pri-
ËãË
pria força de trabalho (e podíamos fazer um ra- mado da relação de produção não seja identi-
ciocínio análogo para os meios de produção) ficado de maneira confusa ccm um primado do
não existe, na sua continuidade relativa, como
clemento sempre dado do processo de trabalho, 1 Como Althusser voltara a explicar em Lire le

sB
<.9
3N

.'1

õó


g>
gqi
senão como o produto da causalidade, da eficá- Capital, 2" edição, Maspero, 1968, tomo II. p 39 es.

Fi
;
138 139
dele indissociável? Quem poderá,

tËii

iããË ãËgãË ãïrËËãiËËË:ãËËËËË IËËËiËË


com efeito,
«homem», do «factor humano» e, em particu- vxplicar-nos de maneira materialista de que
lar, da força de trabalho sobre os meios de pro- modo o papel histórico do capitalismo poderia
dução (e a sua distribuição social), o que é ser pensado fora da sua estrutura social espe-
absurdo. Retornar-se-ia então, sob pretexto de cífica?
crítica do mecanicismo, à própria confusão que Mas talvez esta formulação seja ainda

iãËgË ãigËlãËãiËiiigËtË igããããã


o habita. Com a condição também de que o con- abstracta. É que Lenine não tinha ainda desen-
junto das relações de produção historicamente volvido uma teoria das fases históricas sucessi-
desenvolvidas seja correctamente analisado: vas do capitalismo, em particular do imperia-
com a condição de não confundir a relação de tismo. No livro que lhe consagra, poderá escre-
produção fundamental (aqui, capital/trabalho Ver:
assalariado) com as relações de produção «se- «Monopólios, oligarquia, tendências para a
cundárias», que daí derivam (movimento dos dominação em vez de tendências para a liber-
capitais, relação dos capitais entre si). Cair- dade, exploração dum número sempre crescente
-se-ia então não só no subjectivismo, mas numa de nações pequenas ou fracas por um punhado
outra variante de economismo. de nações extremamente ricas ou poderosas:
Não só Marx enunciou esta tese dialéctica tndo isso deu nascimento aos traços distintivos
e a demonstrou ao longo de O Capital, como do imperialismo que fazem com que se caracte-
Lenine, a seguir a ele, deu dela ilustrações par- Ze por um capitalismo parasitário ou em putre-
ticularmente claras, fundamentando-a final- Eeção |...]. Mas seria um erro crer que esta ten-
mente numa teoria mais completa da história dência para a putrefacção exclui o crescimento
do capitalismo. do do capitalismo; não, certos ramos da
Em O Desenvolvimento do capitalismo na istria, certas camadas da burguesia, certos
Rússia, Lenine escrevia já: paises manifestam na época do imperialismo,
«Esta extensão da produção sem uma exten- com uma força maior ou menor, tanto uma como
são correspondente do consumo corresponde mutra destas tendências. No conjunto, o capita-
precisamente ao papel histórico do capitalismo lismo desenvolve-se infinitamente mais depressa
e à sua estrutura social especifica: o primeiro do que antes, mas este desenvolvimento torna-se
consiste em desenvolver as forças produ- “oralmente desigual.» '
tivas da sociedade; a segunda exclui a utiliza- Nenhum equívoco, desta vez: o desenvolvi-
ção destas conquistas técnicas pela massa da mento rápido das forças produtivas na época
população.» do imperialismo é o efeito do desenvolvimento
Faremos nós de Lenine uma espécie de da relação de produção capitalista, sob as novas
Proudhon, derramando, consoante os casos, ora formas que lhe confere o imperialismo. Podemos
mercês ora condenações sobre o capitalismo? dizer que, assim como o capitalismo desenvolve
Ou então, seguindo o que ele próprio nos ensina "1 forças produtivas sem nenhuma medida
acerca da dialéctica (cujo eclectismo é a cari-
catura), saberemos reconhecer que a contradi- "| Obras completas, tomo XXII, p. 323-324,

X
Ê.
o

ção entre estes dois lados constitui a sua uni-


141
140
comum com os modos de produção anteriores, implamente demonstrado, de sugerir uma inter-
também o imperialismo desenvolve as forças protação duplamente inexacta: por um lado um
produtivas sem nenhuma medida comum com movimento autónomo das forças produtivas,
todas as fases históricas anteriores do capita- exterior à luta de classes, e por isso mesmo
lismo (e observamos os efeitos disso todos os mexplicável; por outro lado, uma fixidez imu-
dias). Sem dúvida, este desenvolvimento é cada tável das relações de produção, por tanto tempo
vez mais contraditório, cada vez mais desigual: quanto não intervier uma «revolução». Convém,
o que reflecte o primado da relação de produção a luz de O Capital e de O Imperialismo nomea-
no desenvolvimento das forças produtivas. Mas lhimente, reetificar esta formulação: o que eles
não é, bem pelo contrário, cada vez mais amor- analisam é o desenvolvimento contraditório das
tecido, cada vez mais refreado pelo obstáculo forças produtivas, a contradição no desenvolvi-
das relações de produção em geral, não escapa à mento das forças produtivas, sob o efeito da
sua determinação. Quando Lenine analisa a «so- relação de produção e de exploração fundamen-
cialização da produção» que caracteriza o impe- tal que aí está historicamente realizada, contra-
rialismo, mostra qual é o efeito. do desenvolvi- dução que é portanto praticamente indissociável
mento dos bancos! Para aqueles de entre nós das lutas de classes específicas. Para retomar
tentados a maravilharem-se (como tem acon- uma formulação tornada proverbial, o que é
tecido aproximadamente todos os trinta anos, necessário colocar em «correspondência» histó-
desde que o capitalismo existe) perante as rica não é o moinho de água e o senhor feudal, a
«revoluções científicas e técnicas» de hoje, e máquina a vapor e o capitalista, a fortiori a cal-
a verem nelas um fenómeno incomputível, a culadora electrónica e o socialismo ou o comu-
longo ou mesmo a curto termo, com o imperia- mismo: são as contradições da mecanização e da
lismo e o capitalismo dos monopólios, o re- divisão do trabalho na grande indústria com
gresso a estes textos clássicos poderia real- à capitalismo e a revolução proletária, de que
mente constituir um grande passo em frente ele produz inelutavelmente, senão repentina-
(arrisco esta sugestão). mente, as condições.
Podemos então, em princípio, esclarecer um Eis-nos, pois, de novo no nosso ponto de par-
último ponto: as análises concretas de Marx e nda: a luta de classes, enquanto conceito geral
de Lenine mostram claramente o que se passa do movimento das relações sociais. E podemos
com o «motor» da transformação do modo de caracterizar-lhe abstractamente a estrutura.
produção. Retomando uma formulação que lhe Proletariado e burguesia constituem-se pelo
tinha primeiro permitido reflectir sobre a crise “cu antagonismo, que divide a sociedade perma-
económica de 1847-1848, Marx tinha falado, no nontemente, sob uma forma latente ou mani-
célebre prefácio de 1859 à Crítica da economia testa. Na base deste antagonismo, « relação
política, de «contradição entre o desenvolvi- de produção característica do modo de produção
mento das forças produtivas e a natureza das dominante: o capital, isto é, a extracção de
relações de produção». Mas esta formulação mais-valia. A história da relação de produção,
apresenta o inconveniente, como a seguir foi portanto a história das formas de exploração e

142 143
das condições da sua reprodução, comandam a tempo de trabalho, que faz viver toda a socie-

fi*ll;
Ë iÏãi*ËãÏ*i*.iËãiË

i3ÉÈsË; i:iËistiiËËË ãË ËãËË


i *ãËËË;ãiãËfiuu üãEã ËËËi-
ãï;ããËï
estrutura das classes. dade. Para fazer a teoria histórica do prole-
Mas, já o indicámos, se proletariado e bur- tnriado, é preciso regularmo-nos pelo seguinte
guesia se definissem um e outro pela sua rela- ficto: a relação dos proletários com os capitais
ção com o capital, como efeitos do seu desenvol- mdividuais (e os seus «representantes» burgue-
vimento, esta relação é logo assimétrica. Pode- “en) não é mais que a expressão e o meio da
mos ir até à afirmação: proletariado e burguesia relação com o capital social no seu con-
não são «classes» no mesmo sentido do termo, Junto. *
ÈË

como dois casos particulares dum mesmo tipo

-ã*ïffi**i
A burguesia constitui-se a partir da esfera
geral. Não há classe em geral, não há senão da circulação da qual, para ela, a produção não
ãËr ãË ãË ãËË ã;,

uma. problemática geral de exploração, portanto é senão um momento. O capitalista torna-se


da divisão da sociedade em classes de cada vez organizador da produção (e recruta os seus
singulares.' O carácter científico do conceito organizadores às suas ordens) enquanto repre-
marxista de classes, irredutível a toda a socio- suntante dos capitais que faz circular. Para
logia empírica ou formalista, assinala-se preci- fazer a teoria histórica da burguesia como
samente nesta assimetria: o conceito de classes classe (que não é a teoria das origens pré-capi-
foge imediatamente à abstracção da ordenação Ialistas da burguesia, nas condições da «acumu-
e das classificações e pode ser investido na aná- Inção primitiva», mas sobretudo a teoria das
lise histórica das contradições que resultam da transformações e das formas da sua domina-
exploração e a desenvolvem. cao), é preciso pois:
Mas resumamos o princípio desta assime- — por um lado, ter já analisado a produção
, ËãfiË
tria. le mais-valia e o papel do proletariado, nas con-
O proletariado constitui-se na esfera da pro- licões próprias a cada época;
ËËË

dução e no processo de reprodução da força de — por outro lado, regular-se pelo seguinte
trabalho, directamente incorporada no processo tucto: a relação dos capitalistas e do conjunto
de trabalho. A «substância» do valor (e o capi- dit classe burguesa com o capital social não se
ËË

tal não é mais do que valor acumulado), é o seu realiza senão na sua relação com os capitais

! Que vás polémicas para definir, por exemplo,

-::Ëë
çlË;uiigffiu

ïeË:íFËi?Er

,'! 9ËE È:ã s,ã
ãËËlãã;ËããËi

ãâiËáËF;?:Ê;
: iË ii;*; p
+ Cf. O Capital, livro I, cap

:Ë::;ËgËF.ËsS
23 e 24
;ËÀl:ïËgããËË

't)=;r:1.=É..É
rE Ël o Ë? â
iËããgãããËããã=

ã:;-ËãtËF,gaË

ãË.ÈÊËlË.".aie
ii

o campesinato como classe pelo modelo do proletariado,

liüg*ãÊËË:
Recordemos,

È *! 9'l-*:È -
EÌr:ËlE*-E
para evitar qualquer

âã. Flà ãi
equívoco, que

=l:::fi::::
quando desde O 18 do Brumário que Marx tinha demons-
capital individual» não designa o capital enquanto pro-
ssËëlË;

trado que o que o constitui como tal é também o que


ade dum indivíduo único, mas qualquer fracção
opõe o seu processo de constituição ao do proletariado: a
mma do capital (que pode ser considerável), circu-
dispersão de produtores individuais e concorrentes! Mas
Lodo separadamente.

ã*Ë ?àË
E precisamente para assegurar
que dificuldades também, nos teóricos do proletariado,
" à circulação separada que cada fracção do capital
para hbertarem-se do esquema simétrico: a burguesia vetal deve cair sob um direito de propriedade defimdo:
actual (ou a «grande burguesia»), reduzida a «duzentas ma os «capitais públicos» são, sob este ponto de vista,
famílias», parece então diminuir e desvanecer-se! Ilusão EÈ*E

s
io —ndividuais» como os «capitais privados». Este

';e
i: i

que só pode servir demasiado bem os interesses da bur-


di o de propriedade define-se

É
sempre a partir da
guesia: ela não procura nunca ser vista como classe.
toma dinheiro do capital

144

3
145
:
individuais e com as formas «desenvolvidas» aperações.» ! Leis «externas»: leis inelutáveis,

Ë s. F; H Ë áÌ: 8.A H 3,gq; {Ë,:Eã Ë Ê x'"

Ë
ã XFs õF;"elEg;:''isE=-*ó4aE?
È

i,Ë É ii i*Ë ^ : :;

ËïãËËË;Ë ã,Ë: e;::riË iãiçEtËË; r


:ã:!;ËêH;
ËÊ
E;

i í;*l Ë: i Ë;i iëíilË I iqËsË *sË;c


ï ã.'úE
Ed .eÈq eõ€E*IEã;.rrlinYÈËãl> s; :Èâ
ft
È ü",: Èe:lã'i:;ËÈ3H:ÈExeËEãÊ
â 3sÊ.
:7
ã
:Ë Ë Ê ti â;Ëe:iËËÊslËrrË ís$t:ËË

í j!;7tEgE;E :È i,a:s e". e: f;;. -ãEÉ ã r:


s

;ri;iË:Ë ËËËËËËi5Ës: sEsc rÊ i:r


?=a: -=í:: = ; ::.= i:: I =:= 1È i=i -=;í.

s
(Marx) da sua reprodução. mas inexplicáveis ao seu próprio nível. É a ex-

stË; Ë;3E È; ËËË:i; E qi;g* Ë,Ës gï:

+ l ïg;s

i! lÍ e re ,Ë:E* ãË ãË FE ág! $E:;ç "'


lracção de mais-valia e a sua acumulação em
É por isso que a teoria da burguesia como vista duma nova extracção que comandam a

."Ë

Ì1"- sã5È;.sËãrÈEã1r:gEEËiE

E€Ë :ssE-E3ËãFs.ã;EsFPã33o"'
i€'fi
$:3 E=ãi-€::Èì1.:s.EËën'Ë3.4Ë
ãiÈ;:s;Ë::Ë ãËx ïãgãã8 uÊt; Ë
frfr
i;gËË sS iãç; Ë*ì iÈã8fi HËE;H*
classe jamais é possível do ponto de vista da procura do lucro. São as condições históricas da
própria burguesia: apenas é possível do ponto
gËuÊË ËËËËgË ËËi Ë Ë: $eËi: e vxploração que determinam a forma sob a qual

i3:EÈ: Ë: Ë *,Ë q: iãË:3s sÊ ã;

ãï H ã ãë'3;
de vista do proletariado. “e pode realizar o lucro, Elas transformam-se

"
Estudar a relação social capitalista (e o con- no decurso das fases sucessivas da história do

Ë,F"ÈËsiËEeR:'Ë;iËEì:Er:o

ÈÈ€inï,a,3.:ËËÊP3.ÉH,$íÈsË
.*ãrÉ,rrí3iÊ4ã'H{:ÍiiÉ:

*
junto das relações de produção) do ponto de capitalismo.
vista do proletariado, é subordinar a análise do A economia política, como «ciência» do mo-

;Ë l,ËËj ãË iã+tËË

Ë: EËË3ÈËËEË:lEEtË iËË
movimento dos capitais individuais à do movi- vimento dos capitais (portanto «ciência» do
mento do capital em geral, tal como ele se movimento do dinheiro e das mercadorias como
reflecte em cada processo de produção onde se produtos de capitais, e «ciência» do movimento


desenvolvem as formas concretas da exploração, diferencial das fracções de capitais individuais
e depois no processo de conjunto de reprodução mais ou menos longamente «fixados» na pro-

ËÈÈËEE F :ËËsË: :H
das condições da produção. É portanto subordi- dução), * realiza por princípio o ponto de vista
nar a análise do lucro à da mais-valia. ' É reco- (Ivórico) da burguesia. O movimento da mais-
nhecer que a procura do lucro e a concorrência
valia não pode reflectir-se aí senão indirecta-
dos capitais individuais, mesmo à escala das fir- mente, em condições em que a transformação
mas monopolistas gigantes que se afrontam no da mais-valia em lucro já está sempre realizada
mercado mundial, não são, em última análise, os
(e o seu mecanismo sempre disfarçado pela re-
motores do desenvolvimento histórico da explo- presentação contabilística dos factores
ração. São apenas, como disse Marx, a maneira da pro-
dução enquanto factores da variação do lucro).
como «as tendências imanentes da produção
capitalista se reflectem no movimento dos capi- À economia política neste sentido não tem histó-

ã
tais individuais, se fazem valer como leis coer- rin teórica própria: apenas tem a história dos

::
da concorrência, e, por isso mesmo, se efeitos da transformação do lucro e da sua re-
civas
impõem aos capitalistas como móbiles das suas presentação (em particular a história dos pro-

Ëãã
o

blemas técnicos e teóricos postos pela adapta-


cao da contabilidade capitalista às novas dimen-
1 Não pode portanto, evidentemente, tratar-se de
f
ËËiiËã:tÈË
ËEËE:EiíãË

Ëqeiãi gE!l
ç 9€

È!ã.3.9j:3.:Ë
ËãEÉãEË!ËË

ËãçËËËËË:g

:ÈE.s.5ÈEiH
"ËË;ssËcËls

colocar no princípio da teoria uma representaçãoda soma


ÈÈ
h 3e ɀ.e
ororã(!vPrÊEFr

dos capitais individuais, uma análise «macro-económica»


do tipo da desenvolvida pela economia política desde que 1! O Capital, livro I, cap. 12.

^ tE Ë ã
3 ï 9:i:ÊH
È ã'È.-g ãie
€.eÈ 4 -ã È
=Ë:;F::À
.:ËE!Ëb'Ê-È
- . - 9.r;

iI q IH*ç ã.Ë
ã" o
. È-i.!
3€Ë
Fa

a concentração capitalista deu corpo às técnicas de * Cf. a análise crítica por Marx da distinção do

>Eo gE;

òãÈ.ãAÈ
"d
iHô
:Ë;s:9
o

ã Í"
x:-È€ Ëì

ã
F.;ã5SÈ
oo1.' Èo
«contabilidade nacional» Uma soma de capitais indi- capital fixo» e do «capital circulante», que está na. base
:::;ì:

ol E'6S
*o

ãj ;,o r.

É.'Èf;
viduais não é o capital social como processo, é apenas ta veonomia clássica (livro II de O Capital). Os econo-

uma soma. Da mesma forma que uma soma de lucros mislas actuais requintaram estas distinções conser-

5õ E
-ã'4

rÊI
g

não é a mais-valia, uma taxa geral de lucro não é a taxa vindo-lhes a problemática: cf. J. Mairesse, VEvaluation
f ,i

qiÈ
qÈú,

ãt
d

da mais-valia. Marx demonstra-o no livro III de O Ca- du capital fixe productif, méthodes et résultats, Colecção

!
lJ

!E
ã

pital. du TIN SEE, Paris, 1972.

!i
146 147

Ì-
I
,-i
s
sões históricas da reprodução dos capitais indi-
escudo semelhantes, ' sendo a única diferença

:;i===-i
Ë

;Eii iËËËiã;ã'iËËiãËïËë

gIËË
viduais).
É apenas sobre a pedra angular duma defini- entro eles apenas a sua força desigual e a mu-

*iiË ËiËãËi
da desta relação de forças (o mais fraco

ifi ;ïì===-::i=-
ção correeta da mais-valia a duma concepção
das classes sociais no modo de produção capita- Iorlalece-se, o mais forte enfraquece no de-
lista imediatamente ligado à sua história que o correr da história).
materialismo histórico pode desenvolver-se, e As classes não estão face a face como indi-

ÈHËgËffi ãiÏãËiãËi
oferecer-nos os meios de análise das formações ruluos imutáveis: cada classe transforma-se na
sociais actuais. lula. Esta transformação tomou historicamente

ieïË i;;:ïËEËi
uma figura privilegiada (com as variantes pró-
Proletariado e burguesia, na luta que os opõe pras a cada conjuntura nacional): unificar o
no seio de cada conjuntura histórica, não tive- proletariado, é dividir a burguesia (precisa-
ram nunca a mesma «base» de partida, a mesma mente o que certos partidos comunistas, nos

Ëtr 1ËË lË
«base de apoio». É o que nos permite também, unos 20, na época da estratégia «classe contra
em princípio, compreender a desigualdade carac- vlisse», tinham desconhecido).
torística da luta de classes (de que Mao, nos E também por isso, e qualquer que tenha
nossos dias, fez a teoria) no duplo sentido do udo a utilidade para o marxismo de assimilar

.=z|=+: i
desenvolvimento desigual das classes e da desi- as lições teóricas da arte militar, que a teoria
gualdade da sua relação de forças, que a própria murxista da luta de classes se distingue funda-
luta transforma. As lutas de classes do proleta- mentalmente da estratégia e da táctica militar
riado e da burguesia opõem dois «adversários», clássicas. Estas nunca tiveram de pensar (a pro-

HË Ë
isto é dois sistemas de forças que, certamente, pósito das guerras feudais, e sobretudo burgue-

:q
se afrontam numa mesma aposta (desde a as) senão no afrontamento de adversários se-

-::
aposta particular desta greve reivindicativa, melhantes, com um grau de organização aproxi-

i
daquela luta contra as cadências de trabalho ou
a desqualificação, contra a baixa dos salários
reais ou os despedimentos, etc. até essa + Ou como o duelo da lança e do escudo, cujo con-

ã suËÂ

:
È
ëãiÈË:HiãËr;teE
t;:! ã;;Ë:Ë È!Ë;;-
sgi:;i;r ËË Ë,; Ën;
- Í-õ'So-aõcÈoc:ç

E:t;;E:È
o ã *l.dõ

8'Ë

í;Ëç!!Ë;Í;5;!gË
áE:*Ëï!€çËFàe*È Fs
franto não é dissimétrico senão na aparência, superfi-
aposta superior, que tudo decide: o poder

È
.--::
=

Ê-Ë e ,6.Ê,o liE ó" ã

I üË --Ë;õ "'È i
mente, visto que um é a imagem inversa do outro, a

= = ! a= - I + t . :: - .
político). Mas estes dois adversários, para falar


=c.=ì
ofensiva. correspondendo exactamente à arma de-

È* Ë Ë : * : Ë FE-
metaforicamente, não estão face a face, não se miva, Desde há algum tempo, os nossos intelectuais

fiÊË{! s ãã> P ã
confrontam nunca exactamente, porque os seus sienses descobrram o chinês. Bravo! Deram-se

tÍ;,i à:E i:
i
vemin de que a palavra sigmfica, em chinês, «contradi-
objectivos e as suas armas não relevam nem

9! ì Èã
- -=:-:
“an , era a unidade dos dois caracteres da «lança» e do
da mesma condição nem da mesma «lógica». Os : o», e maravilharam-se por a dialéctica ser assim

ËËs 5ËË
adversários não são aqui como dois combaten- nita à língua e à cultura chinesas. Pode-se, sem
tes dum duelo, em que cada um é independente nção, aconselhá-los a abandonar os jogos etimoló-
a ler um pouco Mao, para ver como a sua con-
do outro, munidos cada um duma lança e dum

: ,e gso
z,: a

do da contradição, que desenvolve Marx e Lenine,

F,Ë
e sepeara desde logo do jogo desta imagem idealista
-:

di contradição, e lhe substitui um conceito


- materia-
lota

148
149
mado (mesmo sob a forma extrema da guerra

:ágrÈËi:Ësësu=ffiã
E

çE;
ffËËiËiËË;Ëiï:'t::

Ë:;sËËËÍ;ilEiãËlí
;Ec rÈïË:,Ë

*ileial*::91€'E,ü::
Ëi
que opõe um Estado nacional de conquista a

iËãËËf;ËËiËs
uma resistência nacional popular, se bem que

3E p,ï'EË Ës
esta situação contenha já os clementos dum

ãË
outro tipo de luta, uma luta de classes antago-
nistas, entre produtores e exploradores). É a

t1ËËi'FãE I o", *
luta de classes que comanda a estratégia e não
O inverso. A história da luta de classes entre
burguesia e proletariado não é somente a evo-
lução duma relação de forças, ANEXO

"
,
é também a des-

íi iïËiãË .
locação do próprio lugar da luta, do terreno

tiË?Éeg
(económico e político, portanto ideológico) da
classe «dominante» para o da classe «domi-
nada» (a partir do seu lugar na produção). O

B
LENINE, OS COMUNISTAS

:Ë tË
E A IMIGRAÇÃO

=
üË
z ÈËËltãËËãieËËl;ã:
*€:3*

proletariado visa o poder de Estado (nesta for-


ma superior da luta de classe que é a luta poli-
tica), não para aí se instalar e para o consa-
grar, mas para o abolir. Ao chefe de redacção de L'Humanité

I
"

Caro

*;ÈÈÍËeë:igËrËEe
camarada,

Ë.fl Ë.Ë.E.EãË ë ãEË€.$


Acabo de ler, simultaneamente com todos

!rrë;aË*m:*ËsË
ëËËÊãEË EEigÊ

ËËE*ËrÈeaatii:Ë
vs leitores de LV Humanité, a crónica histórica
de Jean Bruhat «Sobre os trabalhadores imi-
srados» !, que nos convida à reflexão colectiva,
sobre uma questão que a actualidade impôs
1 atenção de todos os comunistas: é por isso
que chegou a minha vez de te pedir a hospita-
hdade das colunas do nosso jornal para algumas
observações sobre o mesmo assunto.
Mas antes, que me seja permitido saudar,
curto de interpretar o sentimento geral, a qua-
lidade e o alcance político das crónicas de Jean
Pruhat: concebendo o passado do movimento

iãË
operário numa perspectiva de combate, des-
pido no entanto de qualquer apologética, elas

E
1 LHumanité de 15 de Maio

de 1973.

rí)
rl
rl
lr)
trazem-nos informações indispensáveis a todo tórico mundial e põe-nos face a face com a classe

i!ílgã,ããtgga;g;

fflËlË iËË;ãErËi ãí;Ë*ËËËliffiíË

ããã ãããËlggifilããrsi ÌããiËíËigigsgËlti


:ãiff:Ë

ïËï;;! ;ËËíËËãË ;ÊãËEËEïiËEËrïË

E
o conhecimento do presente, mostram-nos a immternacional poderosa e unida dos industriais».

!,:;r iï ïËiËl:;Ë
via para uma análise crítica, marxista e leni- Esta constatação conduz em breve Lenine à
nista, das tendências actuais da história do “seguinte observação:
movimento operário, dão assim à nossa edu- «Sem dúvida nenhuma que só uma extrema
cação política permanente uma notável contri- miséria força as pessoas a deixar a sua pátria,
buicção. que os capitalistas exploram da maneira mais
Volto ao problema dos trabalhadores imi- ilescarada os operários emigrados. Mas só os

ËËãËË!ËãE
grados. Jean Bruhat limitou-se voluntariamente renccionários podem tapar os olhos perante a
ao exame dos factos do primeiro período da his- significação progressiva [sublinhado por Leni-
tória do capitalismo industrial, contemporâneo nº| desta moderna migração dos povos. Não há
da constituição do movimento operário interna- nem pode haver libertação do jugo do capital
cional, Sob que novas formas o problema se sem desenvolvimento contínuo do capitalismo,
desenvolveu em seguida? Aos textos citados por sem luta de classes no seu terreno. Ora, é preci-
Jean Bruhat, podemos aqui acrescentar vários samente a esta luta que o capitalismo leva as
outros, designadamente de Lenine. massas laboriosas do mundo inteiro, quebrando
a rotina rançosa da existência local, destruindo

=iãË,
ts barreiras e os preconceitos nacionais, reu-
Lenine e a imigração nindo os operários de todos os países nas maio-
È ;ã*ËËff3ËãëffÊE

i ËËãËãëËËiË.[Ë*iË

ros fábricas e minas da América, da Alemanha,


Em Outubro de 1913, Lenine publica um ele.»
artigo pouco conhecido sobre «O capitalismo E Lenine examina então a base económica

ËËËËãiì
e a imigração dos operários».' Aí indica ele que da imigração, constituída pelo desenvolvimento
o capitalismo «criou uma espécie particular de desigual do capitalismo: citando as estatísticas
transmigração dos povos. Os países cuja indús- da imigração nos E, U. A. e na Alemanha, de-
tria se desenvolve rapidamente utilizam sobre- monstra que a progressão da imigração dos tra-
tudo máquinas e expulsam os países atrasados balhadores não para de acentuar-se, mas que
do mercado mundial, fixam entre eles, os salá- a sua estrutura mudou a partir de 1880-1890:
rios acima da média e atraem os operários enquanto no período precedente a imigra-

ã+;:':! iï1
assalariados dos países atrasados. Centenas de «to europeia provinha essencialmente dos «ve-
milhares de operários são assim transplantados lhos países civilizados» (Inglaterra e Alema-
para centenas e milhares de verstas. O capita- nha), onde o capitalismo se desenvolvia mais
lismo avançado fá-los entrar à força no seu depressa, são daqui em diante os países «atra-
turbilhão, arranca-os às suas províncias retar- idos» (começando pela Europa oriental) que
datárias, fá-los participar num movimento his- fornecem à América e aos outros países capita-
listas «avançados» trabalhadores cada vez me-
1 Aparecido em Za Pravdou; cf. Obras completas, nos qualificados. Nestas condições, não só
o
a
s

tomo XIX, p 488-491, "os países mais atrasados do velho mundo,


X
Éc\

152 153
aqueles que conservaram mais vestígios da ser- res como um aspecto fundamento! do imperia-

Ë[ïïË:i ËïiÊ$lãããË ããilã: ïFi;ã


ËÏããIãË
ãEãããâË,3ãËãËããsÍËË
vidão em todo o seu sistema de vida, passam lismo, estádio do «parasitismo e da putrefacção
por assim dizer pela escola forçada da civili- do capitalismo», ao mesmo tempo que as con-
zação» (isto é, do capitalismo), mas também tradições no progresso das forças produtivas,
este processo acentua o estado de «atraso» dos “e que a transformação na estrutura das classes
países que são já os mais retardatários, trans- dos países imperialistas (marcada pela forma-
formados em fornecedores maciços de mão-de- ção da «aristocracia operária» e pela baixa
-obra. relativa do número de produtores). Estas
No entanto, passando do plano económico rnracterísticas estão organicamente ligadas,
ËËË:lliiiãi i
ao plano político, Lenine nota que se os traba-
lhadores russos são neste sentido os mais atra-
conduzem de novo Lenine a sublinhar-lhes as
consequências políticas, incluindo as consequên-
e

sados, estão porém avançados na luta contra as cias negativas («a tendência do imperialismo
tentativas de divisão racista da burguesia: para dividir os operários, para reforçar entre
«Os operários da Rússia, comparados à res- cles o oportunismo, para provocar a decompo-
tante população, são o elemento que mais pro- sição momentânea do movimento operário»).
cura escapar a este atraso e a esta selvajaria A análise de Lenine é tanto mais actual
[..] e que se une mais estreitamente aos operá- quanto abre, sem os resolver definitivamente,
rios de todos os países para formar uma única uma série de problemas teóricos e práticos.
força mundial de libertação.» Obriga-nos a considerar a imigração, as condi-
«ões de vida e de trabalho dos trabalhadores
migrados, a partir da teoria do imperialismo,
Imigração e imperialismo fora do qual as suas formas actuais permanece-
Ë ËiËiËËarylEl

riam ininteligíveis. O conhecimento concreto


Citei durante muito tempo o artigo de Le- das causas e efeitos da imigração é, recipro-
sÏsËËË ËãiËË

nine para pôr bem em evidência o duplo pro- camente, um fio condutor para o conhecimento
blema que a imigração põe logo de início: pro- do imperialismo, isto é, do capitalismo no seu
blema das suas causas económicas e da sua estádio actual.
transformação na história do capitalismo, pro- Jean Bruhat, citando Marx, mostra a impor-
blema dos seus efeitos políticos sobre a luta do tância da concorrência entre os próprios tra-
proletariado. balhadores desde o começo do capitalismo in-
Para nos convencermos da extrema impor- dustrial. Ora esta concorrência não é um fenó-
tância destes problemas, basta reler O Imperia- meno passageiro ou secundário, constitui a pró-
lismo, estádio supremo do capitalismo Lenine pria base das relações de produção capitalistas,
analisa aí de maneira muito mais lata q inver- que opõem a massa dos trabalhadores indivi-
são de tendência na emigração dos trabalhado- luais, «livres» vendedores da sua força de tra-
balho, ao capital proprietário dos meios de pro-
dução, cada vez mais concentrados. Constitui
* Obras completas, tomo KXII, p 305 a base do saleriato como modo de exploração da
o

x
X
Ê.

155
L.)
força dado. Mas não é tudo: porque o desenvolvimento

ËËããËãi
de trabalho,

EË;ËËìË:;ãg .ËiËtEËãË Ë íË íilËË;


e não poderá desaparecer
senão com ele, com o desenvolvimento revolucio- da exploração capitalista conjuga estreitamente

ããË
nário de novas relações de produção, das rela- à pressão sobre os salários, o prolongamento da
ções de produção comunistas. duração do trabalho e a transformação (técnica)
É verdade que as formas desta
do próprio modo de produção, que permite ele-

iËãã:tË,*!Ëã';ËãË
concorrên-
cia se transformam historicamente: mas esta var ao mesmo tempo a produtividade e a inten-
transformação não faz mais do que substituir sidade do trabalho. Afloramos assim problemas
as simples práticas de contratação periódica nos hoje escaldantes, que dizem respeito a todos os

ãsã* ãÈãËË; ãË iËË í*


países vizinhos, onde a «taxa de salário nacio- vfeitos da «revolução industrial» incessante do
nal» é mais baixa ?, por uma «organização» mais capitalismo. Em particular, o trabalho dos ope-
complexa do mercado do trabalho, realmente rários especializados na grande indústria mecã-
internacional, dispondo umas ao lado das outras, nica, electrónica, etc.
umas contra as outras, grandes massas operá- E eis o ponto importante: é necessário não
rias de «qualificação» diferente, desigual. Esta rxaminar separadamente, de forma ecléctica, os
transformação não é mais do que o próprio aspectos actuais da exploração que estão liga-
desenvolvimento das relações de produção capi- tos à mecanização, à parcelização do trabalho,
talistas. à sua intensificação, e aqueles que estão relacio-
E certo também que as lutas da classe ope- nados com a concorrência internacional entre os
rária, os progressos da sua organização, tendem trabalhadores, com a imigração. Estes aspectos
a contrariar os efeitos da concorrência, e obri- condicionam-se mutuamente. É portanto necos-
gam o capital (de que a burguesia não é mais sírio, como o provam tantas lutas recentes,
do que o instrumento) a procurar sem cessar reconhecer aí os aspectos dum mesmo processo

;;ããiãË ;íãËËËã
novos métodos de recrutamento, de selecção e de sobredeterminado. Não é de forma nenhuma um
utilização dos trabalhadores, novas fontes de acaso se, na maior parte dos grandes países
força de trabalho: é que, precisamente, o desen- imperialistas, a proporção de trabalhadores imi-
volvimento das relações de produção capita- vrados é máxima nas cadeias de fabrico e de
listas resulta duma luta de classes quotidiana montagem, na construção civil e nos trabalhos

giã*
e ininterrupta. públicos, onde a força de trabalho é submetida
a uma exploração intensa, que desgasta com
uma terrível rapidez, e exige a sua renovação

ãËËËÉË
Imigração e revolução técnica acelerada. No seu notável inquérito, ' Jacques
trémontier mostrava eloquentemente (ou antes,
Ë
Mas é preciso dar mais um passo: conforme deixava os próprios trabalhadores demonstrá-
indica ainda Jean Bruhat, a luta em volta do
ËíË
-lo) que a divisão dos operários «qualificados»
salário (comprimir os salários para uns, defen- º dos operários especializados, por vezes ínfima
der o seu salário para outros) ér o primeiro

1 La Forteresse ouvriêre, Fayard, 1971


'e
1 Cf. Marx,

a
O Capital, livro I, cap. 22.
O

Èi'

157

|r)
È-
ou artificial no plano das qua
lidades profissio- “emboca numa

ffggslssg;ggigs
nais reais ou mesmo

gãiËããããããã;ãt,
das condições de trabalho, nova forma, superior, do inter-
retira a sua persistência do nacionalismo, numa nova etapa
facto de recortar movimento
da história do
maciçamente a divisão dos operário.
trabalhadores «na-
cionais» e «estrangeiros», incl Além disso, chamando a nossa aten
uindo o corte polí- ção para
tico e cultural que a vem refo às formas sucessivas que permitem
rçar e perpetuar. ao capital,
Trata-se, pois, de compreender “pesar das lutas operárias, desenvol
a partir daí de ver a con-
que modo as características do currência entre os trabalhadores,
imperialismo, au que constitui
nível das relações internac 4 base da sua exploração, a questão da imig
ionais de produção, ra-
se reflectem necessariamente cão mostra-nos de novo, concretamente, por-
no processo de
produção imediato, nas formas (ué o movimento operário deve travar
sob as quais o uma luta
capitalismo não deixa de transf constante contra as armadilhas do econ
ormar as forças omismo:
produtivas existentes, leixando à luta sindical o seu lugar
na forma com justo, in-
lutas de classes que estão inscrita plexa das “ubstituível, mostra-nos ao mesmo temp
s no próprio o a ne-
cora ção da produção. cossidade absoluta da luta política
unida dos
trabalhadores «nacionais» e «imigrados»,
para à
revolução socialista que, só ela, perm
itirá des-
Os comunistas e a imigração truir todas as bases da exploração.
: ãgggsaiãËiiËãaãËiãã

Citarei uma última vez Lenine,


evia que escr
Apesar da brevidade em Outubro de 1917, a propósito da
destas Indicações, revisão
podemos agora compreender a do programa do partido bolchevique:
ËïtssslãËcãËiËããËËã

extrema impor-
tância política do problema da «Adoptar a proposta de Sokolnikov:
imigração, para no pa-
o proletariado e as suas orga rágrafo que trata do progresso técn
nizações. ico e do
Nas novas condições da noss crescimento do trabalho das mulheres
a época,
a pre- e das
sença dos trabalhadores imigrado crianças, acrescentar: «da mesma
forma a mão-
s e a sua luta -te-obra estrangeira não especializad
fazem do internacionalismo mais a, importa-
própria condição da luta de libe que nunca a ta dos países atrasados». Adição preciosa
e ne-
rtação dos tra-
balhadores, como sempre def cessária. Precisamente esta exploração
enderam e expli- rários
de ope-
caram Marx e Lenine: elas exig pior remunerados vindos dos países
em que este atrasados,
internacionalismo encontre meio é característica do imperialismo.
s sempre mais particularmente sobre ela que se funda, É
concretos, mais orgânicos, para em par-
O próprio futuro dos trabalha se afirmar. te, O parasitismo dos países imperialista
dores de cada s ricos
país depende disso, já que não ue corrompem uma parte dos seus
têm apenas de s operário
combater para
lelamente, e cada um por com a ajuda dum salário mais elev
sua ado, ao
conta, um mesmo adversário, mesmo tempo que exploram, sem limit
e e
tuir em toda a parte «desta
mas que consti-
vergonha, a mão-de-obra estrangeira «bar sem
camentos» duma ata».
única força combinada, amalga Acrescentar as palavras «pior remunera
mad dos» e
próprio desenvolvimento do impe a. Assim, o “por vezes privados de direitas», pois os
explo-
rialismo de- radores dos países «civilizados» aproveit
am-se
158
159
sempre do facto de a mão-de-obra estrangeira ia classe operária, quer para abandonar

'iìiE;1?
+*;nçç.õ[i*íËEí
aff

Ëg;

ËãïËËËã ËË;ËãËËgËiEiiË[Ë ËËËÈËÈ;:Ëã

*
i =--ìi- Ës? i F lÈ;

o,,d F 9
-SH-: È -< s ú
::.-'-=È::l:ìrii:_

*:.?:";Í

-.U38ã€õãá?fr].S
iá-U e .e..s i;È
L;ì - (r.rl
s ÉÊ
9õ üg.E
.

Ë!*E Êg; :!È{


: l
- - ì--1
importada estar privada de direitos. É o que se v5 mmigrados à sua sorte, quer para considerar

::ì

"1 E; qcrã :-

ËË qf ;g;iâËËË
observa constantemente não só na Alemanha que cles colocam um simples problema de desi-

l:

:-r
em relação aos operários russos, mais exacta- euealdade cconômica, jurídica e social, não recla-

ruII

*.1 q:
mente vindos da Rússia, mas também na Suíça mando senão uma melhoria da sorte dos mais


=
=!Ía

- õ I- =-E -.:*;

Ì.Ëi
!
em relação aos Italianos, em França em relação desfavorecidos». Quanto a nós, comunistas,
ËAiË Ë Ëãi

! E Í i;€.X

v
^.Ë
aos Espanhóis e Italianos, etc.» ' (Sublinhado olhamos tanto melhor estas contradições de

!.r
,^ () o ^:i r. ;;
ã
!
por Lenine.) frente, para lhes reconheeermos as causas

i.E.is r,i

F;

=S ã Ps.
Como se vê, aos olhos de Lenine, é final- objectivas e os limites, quanto é certo que toda

iãIgËiËãËgtËilËçïËãËiãE

: -!
=-=:-
È-õ.::F

ãÍ d o
mente no terreno da luta e da organização poli- 1 nossa acção visa sobretudo a ultrapassá-las.

> ó a'9"

::F

vi
ticas que os trabalhadores de todas as naciona- sabemos que toda a classe operária pode assim

a!

õ'Ë

Ê.*
lidades podem forjar a unidade necessária. Mas cuperar uma formidável libertação de energia

g:
ij7
esta unidade não é espontaneamente adquirida, revolucionária, um grande passo em frente para

F
u0-
E

É
deve ser conquistada contra as relações de à sua emancipação.
iããiË È ËËãã ãË ï Ëã íËu ãi*

F
exploração desenvolvidas pelo imperialismo,
pelo preço duma luta política e ideológica difi-
cil. É, mais que nunca, o objeetivo primordial
dos comunistas que, segundo a palavra de ordem
de Marx, «nas diferentes lutas nacionais dos
proletários põem à frente c fazem valer os inte-
resses independentes da nacionalidade e comuns
a todo o proletariado», e «nas diferentes fases
que a luta entre proletários e burgueses aitra-
vessa, representam sempre os interesses do
movimento na sua totalidade». *
Confrontado com o desenvolvimento das
Ë

lutas conduzidas pelos trabalhadores imigra-


dos, com as suas formas originais e dificuldades,
o oportunismo «de esquerda» pretende ver na
imigração o «verdadeiro» proletariado, a reali-
zação duma ideia mítica do proletariado, exalta
as divisões, e reforça-as, para maior luero do
eitã

capital. Por seu lado, o oportunismo «de direi-


ta» nega a realidade dessas divisões, das con-
tradições desenvolvidas pelo imperialismo na

'it
1 Este artigo apareceu em VHumonité de 8 de

tsì
x
X
Fi
oi
ã:

nho de 1973
=

2 Manifesto Comunista.

160 161
r.l
co
ì õ Ëï
SOBRE A DIALÉCTICA HISTÓRICA

õ
fii
= ã-
3
b H;
i
.5
É
o
o
Algumas anotações críticas a propósito

;r ;eEi:He:dsEe
ã
sg
":

-s {-srF;:5
de LIRE LE CAPITAL

i nÈ $Í!;çË; !€ëEE r ï+o


Wizcram-se algumas críticas às teses e às

=i7: =+ !'Í !::.r.:ei ì is

*asi:gËEã3ã.íiËËËâi

È,:ÌËÉÈËFË:85*rEÈl
Er n!È siË l: s;i ËËgir
ËHEÈíãeElËgsãlËËç=
m1;ëilËi*t:Ëçë*Ë*iè

FH;pIgg19"!.ìnlEËi-tS
;"qãç'58I3ãEt,ËË:Ìl$

*"rL:ËiËË*fiã=sEfeË

:ìÈst:ftE13Êç ;:qã!g
Iormulações expostas em Lire le Capital.

===l
lnversamente, estas foram largamente invoca-

vli3lE:Ë,9:
das e utilizadas entre aqueles que, em França
“ no estrangeiro, tentam colocar e resolver os
problemas teóricos das ciências ditas sociais no

-: i:=ì:a =: iì
terrono do materialismo histórico. Torna-se

g
possivel, nestas condições, distanciarmo-nos um

Hãë:Ë iç ËÈ"i
pouco em relação ao que não era, explicita-
nte, mais do que uma primeira tentativa de
«Jnhoração, necessariamente destinada a uma
sério de rectificações no trabalho colectivo.
Creio além disso que não é inútil.
Queria aqui, pela minha parte, e sem qual-

"*Ei-
3ã;rã
quer privilégio, contribuir para esta rectifica-
» nalguns pontos que dizem respeito ao meu
“prio ensaio «Sur les concepts fondamentans
du mutérialisme historique»." A ocasião foi-me

1 Tire le Capital, Maspero, 1965, tomo II, p. 187-


.:!:ã
".ì:"

-dt

> E b.ü

Êõ

ã ü-.
a,ì
P
i lô r

6 5È
Reedição com algumas correcções e acrescontos em
''.-

õ-Fl

Fõì
«“ Collection Maspero», 1968, tomo II, p. 79 a 226.
õ ",

{;
€Itarer esta segunda edição: L. L. €.

-
o

163
DO FETI-
fornecida sobretudo pelas questões pormenori- 1 A PROPÓSITO DA «TEORIA

ggï
ãlË Ë ËÈiãËËs;*liiã

íãl ËãirH'Ël iããËl iã€Ëãí;ã;Ë*

Ë ã;e *ËËiEiËifiããËËããsËãËËÈËãËËË;
_
i=,iãÈËlËl::cËËj;

e ãËË ËÊÈË!iËËË*iË;ã;ËËãËlËíËÈt+g
I :€Ë
zadas dum grupo de jovens filósofos ingle- CHISMO

'
ses, a quem desejo agradecer pela sua leitura
sem concessões. ' O primeiro ponto ao qual queria voltar

|
da respeito ao uso que tinha feito das formu-

:t_,1,=
Ë
Considerarei de cada vez: « de Marx a propósito do «fetichismo da
mercadoria».
— Certas formulações dizendo respeito ao
iiã!;Ë!!;lËã;ã, ËfiËig*:gg
isto texto célebre, do qual se julgou poder
«fetichismo da mercadoria», com que então

ãËË;:Ëãã;;ssçg;;Ë+ëïìËË€.lãË
inzer o ponto de partida duma teoria do feti-

i
argumentei para tentar elaborar a categoria chismo, que seria essencial ao materialismo his-

::
de «determinação em última ins- «teoria marxista do
materialista tornico e, mais ainda, à
tância» na história das formações sociais; conhecimento», representou desde há muito um

:i
— A própria categoria de determinação em pipel considerável na história das investiga-
última instância: pode parecer o meio de redu- eoes « controvérsias sobre a dialéctica posterior
zir o materialismo histórico a uma «teoria geral


à Marx. Isto não aconteceu, evidentemente, por
dos modos de produção»; ncaso. Será necessário, muito em breve, consa-

"??=::Ë;
— A definição justa do conceito de «modo "ar a esta utilização uma análise histórica es-
de produção» e o uso que é preciso fazer t, ao mesmo tempo crítica e completa.

:.i iËãã5;; ;:ËgËËËË


dela para romper realmente com toda a pro- r-se-4 assim, em particular, distinguir cla-
blemática ideológica (burguesa) da periodiza- rimente na tradição marxista duas tendências
ção histórica, portanto da transição revolucio- completamente opostas, pelo seu ponto de par-
nária. tida c pelos seus objectivos. Por um lado a re-
presentada por Lenine que, no seu ensaio ina-
Voltando a estes pontos limitados, mas im-

E: : iË:i:: íï:
ããÈËiËËãi1ï

cnhado A propósito da dialéctica, * invoca a dia-


portantes, tenho em vista um triplo objectivo: teelica da mercadoria, exposta por Marx no
insistir de novo no rigor científico dos concei- começo de O Capital, mas sem fazer alusão ao
con-
tos gerais que estão investidos nas análises tetichismo, e a fim de ilustrar a sua tese fun-
o forma-
cretas de Marx; evitar todo o desvi damental: q universalidade objectiva da contra-
itos; e em parti- dição. Por outro lado, Lukáes e os que como ele
lista na aplicação destes conce
tenta ção para subst ituir o de- ou depois dele, insistem pelo contrário no feti-
cular, qualquer
pró-
senvolvimento dos conceitos gerais pelos "ismo (donde procede o tema da «reificação»
eta efecti va.
prios conceitos, na análise concr ts relações humanas na sociedade mercantil)
que nunca impor tante , para melhor recolocar, na realidade, o problema
Esta orientação é mais
ament e ao traba lho destes últim os da contradição (e das contradições históricas)
devido exact
anos.

= O Capital, livro I, cap. 1 58 4: «O carácter (de)

È.:x
'-tx
{.:>

;È-
9QÔ

!o@P

:rl
3íF

õ.D
c.?
hcì
Theoretical Practice, 13 Grosvenor
Avenue, tubo da mercadoria e o seu mistério.»
aF

Pd
3co

9.ã

1 Cf
=

ãX
=

_J
completas, tomo XXXVI, p. 367-372.
5, n.º 7 e 8, Janeiro de 1973 Obras
sq

London N

165
164
sob a jurisdição do problema filosófico da cons- coltutura das relações sociais seja transparente

sËËlr
ãËEgË
ciência e das suas formas, autênticas ou aliena- pura os agentes. Aí o fetichismo não está ausen-
das. Encontram-se aqui, esquematicamente, as Le, mas deslocado (sobre o catolicismo,a política,
duas vertentes, opostas, de Hegel e do «hege- ele) ..| Este ponto [...] está, no seu prinei-
lianismo» na história do marxismo. pio, muito claramente ligado ao problema da
Não posso desenvolver aqui esta análise. determinação em última instância. Com efeito,

iíalì;gããgã lãlttgãËïËiËãiËËãËlËã
Ë3ËãËËË
Mas queria, para avançar um primeiro passo, pareceu que a “mistificação” incide precisamente
examinar alguns problemas levantados pelas não sobre a economia (o modo de produção ma-
formulações de Marx, tomando como pretexto O terial) enquanto tal, mas sobre a das instâncias
uso que delas eu tinha feito em Lire le Capital. da produção social que, segundo a natureza do
A referência ao fetichismo era aí introduzida, modo de produção, está determinada a ocupar
com efeito, no decurso do exame que eu consa- o lugar da determinação, o lugar da última
outra questão geral, também ela mstância.» !
grava a uma
il:i,;lglïgËãÏããiããiiiËïã,

clássica: a da «determinação em última ins- Neste texto, como se vê, a questão do feti-
tância» na história das formações sociais, por- chismo intervinha de maneira indirecta: eu ser-
tanto a da estrutura dos modos de produção his- via-me, duma forma de certa maneira empírica,
tóricos. do facto de que, precisamente na secção de O
tupital sobre o «fetichismo da mercadoria»,
Escrevia eu em Lire le Capital:
«Por uma dupla necessidade, o modo de Marx esboça um quadro comparativo da mani-
festação das relações sociais em diferentes
produção capitalista é ao mesmo tempo aquele
modos de produção reais ou simplesmente possí-
em que a economia é reconhecida mais facil- a economia
veis (como o «comunismo», e até
mente como o “motor” da história, e aquele no unaginária de Robinson), conforme os produtos
qual a essência desta “economia” é por princí- do trabalho aí tomem ou não a forma de merca-
pio desconhecida (naquilo que Marx chama o dorias. Este quadro comparativo (de que lem-
“fetichismo”). |...] Marx substitui à falsa con- brarei os termos em breve) aparecia assim como
cepção desta “economia” como relação entre uma espécie de tipologia, permitindo remontar
as coisas a sua verdadeira definição como sis- ntó às características estruturais do modo de
tema de relações sociais. Aí ele apresenta ao produção capitalista, comparado a outras estru-
mesmo tempo a ideia de que o modo de produção inras históricas possíveis. O fetichismo da mer-
capitalista é o único no qual a exploração (a loria, que reina no modo de produção capita-
extorção do sobretrabalho), isto é, a forma tempo comparável a outros
ao mesmo
específica da relação social que religa as classes cícitos de «mistificação» ideológica e diferente
na produção, é “mistificada”, “fetichizada” deles, podia figurar como o índice deserimi-
sob a forma duma relação entre as próprias mnlor entre diferentes formas de «determina-
coisas. Esta tese é a consequência directa da cao», de causalidade histórica.
demonstração que incide sobre a mercadoria...
[mas] a tese de Marx não significa que, nos
modos de produção diferentes do capitalismo, a | LLC, p 100-108.
,l
d

166

ì.-
Esta aproximação, apoiada em certas for- undliso da mercadoria ou, melhor, a análise da
mulações de Marx, significaria por isso que a torma mercadoria (die Warenform). Em pri-
tecria da «determinação em última instância» metro lugar, o duplo aspecto imediato da mer-
devesse passar por uma teoria do fetichismo? cadoria: “objecto de uso e valor (portanto quan-
Quer dizer que é necessário incluir o fenómeno ade determinada de valor). Em seguida, para
do «fetichismo» no próprio mecanismo da «de- e rplicuar este duplo aspecto, o «duplo carácter»
terminação em última instância»? Mas toda lo trabalho social: trabalho «concreto e traba-
a resposta a este tipo de questão (ou antes lho «abstracto», isto é, divisão do trabalho entre
toda a nova formulação, rectificada. da própria diferentes ramos qualitativamente distintos,
questão) pressupõe uma concepção clara do depois equivalência quantitativa dos diferentes
que representa, na teoria de Marx, o «feti- trabalhos, enquanto dispêndio de força de traba-
chismo da mercadoria», e uma análise crítica tho humana, sob relações sociais determinadas
da sua definição. que comandam a divisão do trabalho. Enfim,
Regressemos pois ao texto de Marx, e lem- nesta base, Marx expõe o desenvolvimento da
bremo-nos antes de mais do seu local na ordem torma valor, a forma social sob a qual a equiva-
de exposição de O Capital. lencia dos trabalhos materializados em merca-
lorias distintas se manifesta como uma proprie-
dade das próprias mercadorias, na troca, depois
A análise do fetichismo e o seu lugar em «O a forma valor simples até à forma geral na
Capital» qual uma mercadoria particular (o dinheiro)
aparece como o equivalente universal de todos
À primeira secção de O Capital estuda «a ou outros.
mercadoria e o dinheiro», isto é, o processo de lista análise constitui a base teórica sobre a
circulação mercantil, sob a sua forma social mais qual se constitui toda a exposição acerca da
geral. É anterior a toda a definição do capital, virculação. O seu ponto essencial é a exposição
a toda a análise do processo de produção capi- do «duplo carácter» do trabalho social, que põe
talista. Com efeito, o modo de produção capita- em evidência a determinação das relações de
lista aparece como um modo de produção de troca pela estrutura da produção social, que
mercadorias, com vista à troca e não ao con- Marx analisará mais adiante em pormenor.
sumo directo dos produtos do trabalho, e de Cumo o diz Marx: «|...] o que há de melhor no
que todos os factores (meios de produção, força meu livro, é 1) (e é nisto que repousa toda a
de trabalho) são eles próprios já mercadorias. mteligência dos factos) pôr em relevo, desde
Na primeira secção, a produção capitalista o primeiro capítulo, o carácter duplo do traba-
ainda não aparece senão como «produção mer- tho, consoante ele se exprime em valor de uso
cantil», do ponto de vista da circulação dos seus vu cm valor de troca; 2) a análise da mais-
produtos e da forma social que ela lhes confere. valia independentemente das suas formas par-
No primeiro capítulo, Marx desenvolveu
sucessivamente três pontos, que constituem a | Carta a Engels de 24 de Agosto de 1867.
O

!
168 169

F.l
ticulares [... que] a economia clássica confunde

ËËiËÈËãÊË Ë

Ë:ËtãË:Ë,i

Ëã!iËËsËii iiËiËãËËËãliËËiãgãËËiËËãËl
ËË

iiãËi ËãããË ãããËËiËË;Ë ãã;i


constantemente com a forma geral.» E ainda !: pricdade social que parece pertencer-lhes
«l...! enquanto a determinação do valor pelo muturalmente. Em virtude desta propriedade,
iÈÈtempo de trabalho permanece tão pouco «deter- ctus entram em relação entre si (trocam-se
minada» como no próprio Ricardo, não faz tre- numa proporção determinada), não sendo os
mer as pessoas. Pelo contrário, logo que é posta homens mais que os instrumentos desta rela-
'i

exactamente em correlação com o dia de tra- cum. Elas possuem pois um movimento autó-
balho e as suas variações, vêem iluminar-se nomo (as variações do valor) sobre o qual os
uãI

uma luz que lhes é muito desagradável |.. 1. homens não têm poder, antes lhe estando
Uma coisa muito simples escapou a todos os »ubmetidos. Tal é o «mistério» da forma mer-
economistas sem excepção, é que se a merca- vudoria.
Ë

;ii;i e;*iË l ïËËgqããã! iËil


íËËËíËillfi
doria tem o duplo carácter de valor de uso e
iiÊi

Mas a análise desta forma mostrou que o


valor de troca, é bem preciso que o trabalho valor de troca (em particular o preço) é o
representado nesta mercadoria possua igual- desenvolvimento da forma do valor, a partir do
mente este duplo carácter; enquanto a sim- seu conteúdo (o trabalho socialmente necessá-
ples análise do trabalho, tal como se encontra rio). «Donde provém, pois, o carácter enigmático
aEËiã;ãË ff ;È*ra,

em Smith, Ricardo, etc., vai sempre de encon- do produto do trabalho, logo que toma a forma
tro, fatalmente, a problemas inexplicáveis. E de (te )mercadoria? manifestamente, desta própria
facto todo o segredo da concepção crítica.» Em forma.» O que produz o mistério, é que o desen-
particular, é o que permite imediatamente a volvimento da forma valor leva a uma inversão:
Marx «resolver» o problema que a economia a equivalência entre os trabalhos humanos des-
política não pôde nunca resolver, e que a arras- pendidos sob diversas formas aparece como
tou na via sem saída das filosofias da natureza equivalência dos seus próprios produtos. «O
ou da convenção: o desenvolvimento da forma
ããiË

rácter misterioso da forma mercadoria con-


valor (valor de troca) a partir da definição do siste portanto simplesmente nisto, reflectir aos
trabalho como «fonte» do valor, e a génese da
olhos dos homens os caracteres sociais do seu

iiËËÉ:Ëï ïlË
forma dinheiro (da moeda como relação social).
próprio trabalho sob a forma de caracteres
É aqui que intervém na exposição de Marx,
EËi ããËË

objectivos (gegenstiândliche) dos próprios pro-


a análise do fetichismo. Ela entrelaça três
lutos do trabalho, sob a forma de propriedades
grandes temas, que se deixam facilmente orde-
sociais naturais destas coisas; e portanto, tam-
nar:
bém a relação social dos produtores com o con-
1. As mercadorias, enquanto coisas (Din-
:

junto do trabalho como uma relação social exis-


ge), aparecem dotadas duma propriedade ime-
ãii

diata: o valor. Elas têm um valor de troca deter- tente fora deles, entre objectos.» Inversão aná-
minado. Portanto, independentemente de toda a loga à que, na religião, faz com que os produtos
do cérebro humano apareçam como seres autó-
nomos, em relação com os homens. Daí o termo
1 Carta a Engels de 8 de Janeiro de 1868. fetichismo da mercadoria.
o

171
È-
pela sua ori- forma do valor como uma forma social, histori-
Mas esta inversão explica-se

lËãg;ãiãi

ããlã;ËãËãËãiiïãiËi iiïãËã*ËËËËEãiËi
mercadorias são o produto camente determinada (daí a oscilação per-
gem «prática»: as
de trabalhos privados (eis porque aparecem manente da sua teoria do dinheiro entre os
como propriedade privada), independentes uns ias ideológicos da natureza e da convenção).
dos outros; o trabalho social, é o conjunto de «Se as mercadorias pudessem falar...», dizia
em relação Marx, clas conservariam a linguagem do econo-
trabalhos privados, que não entram
senão pela troca, portanto postumamente. É nusta, à linguagem da inversão: «A riqueza ma-
somente nas formas da troca dos produtos que o terial (valor de uso) é uma propriedade do
carácter social dos trabalhos (a sua igualdade) homem, o valor uma propriedade das mercado-
rias (das coisas).» De facto, é o economista que,
pode constituir-se, portanto reflectir-se no cére-
ããlãËàËãËãiãÊ: * ËAli ig;lãËËÌ

bro dos produtores. E assim, se, por um lado, «o no longo do seu discurso, não é mais do que a
voz das mercadorias. E é assim que as catego-
valor não traz escrito na fronte o que é», é
rias da economia política são objectivamente
necessário dizer também que, «para os produto-
sociais entre os seus trabalhos cstabelecidas (objektive Gedankenformen) so-
res, as relações
bre as condições históricas da produção mer-
privados aparecem como aquilo que são, isto é,
cantil, enquanto produtos do desenvolvimento
não como relações imediatamente sociais das
próprias pessoas nos seus trabalhos, mas como da sua inversão-ilusão interna.
relações materiais (sachliche) das pessoas e 3. Para dissipar o mistério da mercadoria,
relações sociais das coisas». para o desmistificar, é preciso pois «sair» das
tema da análise de Marx diz relações mercantis, é necessário transportar-se
2. O segundo
para «outro lugar», deslocar-se (pelo pensa-
respeito à economia política (clássica): a eco-
nomia política tende a analisar o valor e desco- monto). É o que faz Marx:
bre a sua determinação pelo tempo de trabalho «As categorias da economia política bur-
social. Mas esta descoberta não dissipa de rucsa são formas de pensamento que têm uma
forma nenhuma a ilusão objectiva em que são validade social, portanto uma objectividade
para as relações de produção deste modo de
apanhados os produtores-cambistas. Pelo con-
Aos olhos dos produtores que produção social historicamente determinado, a
trário, reforça-a.
exclusivamente pela grandeza produção de mercadorias. Se portanto nós lhes
se interessam
este parece dotado dum movimento esenpamos para outras formas de produção,
de valor,
natural imprevisível; os economistas, que re- veremos desaparecer imediatamente todo este
nusticismo do mundo da mercadoria, toda essa
flectem uma produção mercantil desenvolvida,
neblina de magia, de fantasmas, que rodeia
generalizada, fazem uma teoria dos preços:
das trocas realiza a vs produtos do trabalho na base da produção
descobrem que o «acaso»
mercantil
regulação do dispêndio de trabalho social pro-
Visto que a econcmia política aprecia o
porcionalmente à necessidade, e fazem assim da
«lei do valor» uma lei natural. estilo Robinson, façamos, antes de mais, sur-
vir Robinson na sua ilha. Modesto como é
Apanhados nas relações da produção mer-
ãi

ËË

do nascença, nem por isso deixa de ter várias


cantil, os economistas não podem analisar «à
173
172
necessidades a satisfazer, e precisa de executar plena consciência as suas numerosas forças

Ëãã ïecËËãããËi
g
trabalhos úteis de género diferente [...]. Todas mmdividuais como uma só e mesma força de tra-

!ËãÈ[lËiãËËËËË:ËãËã
Robinson e as coisas que o social. Todas as determinações do traba-

;: ï : ïËËËip ï
as relações entre
formam a riqueza que ele próprio criou para si de Robinson se reproduzem aqui, porém
são simples e transparentes [...]. E, no entanto,
todas as determinações essenciais do valor nte ao que se passa na produção mercantil,
estão aí contidas. pressupomos que a parte dos meios de
Transportemo-nos agora da ilha luminosa
de Robinson para a sombria Idade Média euro-
peia. Em lugar do homem independente, encon- trabalho representaria pois um duplo papel. Por
tramos aqui a dependência generalizada: servos um lado, a sua repartição socialmente planifica-
e senhores, vassalos e suzeranos, laicos e clero. da regula a justa proporção das diferentes fun-
Esta dependência pessoal caracteriza tanto as cocs com as diferentes necessidades. Por outro,
relações sociais da produção material como as mede a parte individual de cada produtor no tra-

ËËËã!

ãËËff
outras esferas da vida que se edificam na sua balho comum, e ao mesmo tempo a que lhe cabe
base [...]. Qualquer que seja a maneira como se na porção do produto comum que pode ser dis-
julgue as máscaras sob as quais os homens tribuída pelos indivíduos. As relações sociais
se encaram aqui, as relações sociais das pes- dos homens com os seus trabalhos e com os
soas nos seus trabalhos respectivos não apare- produtos do seu trabalho permanecem aqui

íã ËËË Ë Ë;itËãËïA*
cem menos como as suas próprias relações pes- imples e transparentes, na produção como na

ii'ËËFËËËEÈ
soais, em vez de se disfarçarem em relações distribuição.» |
sociais das coisas, dos produtos do trabalho. Só a produção de mercadorias é pois afecta-

ËËff Ë;'- l;Ë l;Ë


Para contemplar o trabalho comum, isto é, da pelo fetichismo. Em todos os outros lados, as
imediatamente socializado, não temos necessi- relações sociais de divisão do trabalho são
dade de recuar até à sua forma natural primi- transparentes». Mas, como nota Marx, esta
tiva |...]. Temos um exemplo muito perto de transparência tem como contrapartida, nas so-
nós, na indústria rústica e patriarcal duma fa- cirdades históricas não mercantis, o reino da
mília de camponeses que produz para as suas iusão religiosa, que remete para o fraco desen-
próprias necessidades [...]. A medida do dis- volvimento da produção, e para a ausência de
pêndio das forças individuais pelo tempo de tra- melividualidade humana consciente. O desenvol-
balho aparece aqui desde o princípio do jogo vimento da troca, destruindo pouco a pouco os
como determinação social dos próprios traba-
lhos, porque as forças de trabalho individuais
!ãËii
modos de produção tradicionais, destrói também
alusões religiosas, mas cria a ilusão da forma
não funcionam senão como órgãos da força de mercantil, o fetichismo, religião moderna do
trabalho da família. homem em geral, do homem abstracto.
Representemo-nos enfim, para variar, uma
reunião de homens livres, trabalhando com
meios de produção comuns, e dispensando com 1 O Capital, nvro 1, 3 4
o

174 175

È-
As contradições duma dialéctica problema fundamental. Mas, e chamo a atenção
para este ponto que nunca se deverá perder de
Quis, para dar bases sólidas à discussão, vista, poderá este problema ser completa-
lembrar a própria letra do texto. Podemos mente resolvido no momento em que o reencon-
agora pôr uma dupla questão: em que é ltramos aqui, na ordem de exposição seguida
que a análise do «fetichismo» é essencial à anáâ- por Marx? Neste momento, lembramo-nos, Marx
lise de Marx em O Capital? Mas também, ha- inda não expôs nem desenvolveu uma defini-
verá, propriamente falando, uma teoria do feti- cão do capital, isto é, uma definição do modo de
chismo em Marx, e que alcance se deve atribuir produção específico que se manifesta, à «super-
a esta teoria do ponto de vista do materialismo fícic>», como produção de mercadorias, produção
histórico e do seu desenvelvimento? exclusivamente mercantil. 4 fortiori, não desen-
À primeira pergunta, a resposta é, em prin- volveu ainda uma análise do processo de con-
cípio, clara: a análise do fetichismo é essencial junto no qual se constitui e se determina, a rela-
à definição do «económico» na sua relação com «ito das categorias económicas na produção capi-
a «forma mercadoria». O econômico aparece lalista. É por isso que, na realidade, o problema
como o sistema prático-ideológico das «catego- que nos aparece se tornará claro somente
rias mercantis» e do seu desenvolvimento. Mas «quando avançarmos (graças ao próprio Marx)
o económico neste sentido é o próprio objzeto no estudo dos diferentes aspectos da reprodu-
duma «crítica» de Marx: é uma representação ção das relações de produção capitalistas, visto
(ao mesmo tempo necessária e ilusória) das re- que a forma mercantil se realiza ao nível da
lações sociais reais. Fundamentalmente, é ape- circulação dos produtos do trabalho e do fun-
nas devido a esta representação que os econo- cionamento das «superstruturas» jurídicas e
mistas elaboram abstractamente, mas que já ulcológicas implícitas na própria forma do pro-
está inevitavelmente partilhada praticamente cosso de troca. A manifestação das relações
pelos proprietários-cambistas de mercadorias, sociais (sob as quais é despendido o trabalho
que as relações «económicas» aparecem como social) sob a forma duma «coisa» é com efeito
tais, numa aparente autonomia natural. À re- estritamente correlativa da manifestação dos
presentação está implícita na própria forma de próprios cambistas como «pessoas» jurídicas.
manifestação das relações sociais. O que per- O par antitético das «pessoas» e das «coisas»
mite precisamente aos produtores-cambistas (que o texto de Marx nos mostrou há pouco
reconhecerem-se na imagem que cs economistas er sob uma forma «directa», quer sob uma
lhe apresentam. A «representação» do cconó- torma «invertida») constitui o nó do direito e da
mico é pois, segundo Marx, essencial «o pró- «leologia burgueses. Vamos em breve reencon-
prio económico, ao seu funcionamento real e [rar este ponto muito importante.
portanto à sua definição conceptual. Podemos então fazer uma primeira constata-
A análise do «fetichismo» (e com ela toda a cao, respeitante à análise do fetichismo e, em
teoria da forma valor como «representação» particular, à operação de «deslocação» que per-
na secção I de O Capital) é pois o índice dum mite a Marx dissipar-lhe a ilusão. Toda esta

176 177
,
passagem, ter-se-á notado, é marcada pelo ca- listamos, pois, muito aquém da análise que,

ã-õFS
.: gÈ Fi! r H:;Ë,8; E€ï:ãÊ:lEX
Ë.Ëi

E irË
!o, l3eH9=Etr9à^*)

;giigffgË
ãË

ËË;ãiËËgËËãËi
: Ê E E:ãg Ë F
t q i3-{ Êt : Ê b3.È.EË È fE,:gSAIË
Ë:ìÈE 9FÊ Ë.: P'sïã õ;
t S iÈ
c o F i t :,Q tó P c,o ^ I ã 3s. P',F b E "g ïi

d a; o.: F:y e u o, p.= E i 5: F: i:g4? E"'íe'Ë
rácter duma variação imaginária, que encontra Marx insiste sempre nisso, permite fundamen-
apoio na própria forma das categorias da eco- tar cientificamente o desenvolvimento da forma

; ã " =Eã o€ BË
*Fë [ã'!
;ËitEËË ãt ãË;ËËË*ï;;ãïçïã*,
nomia política burguesa: em particular, quando mercadoria, e que é aberta pelo conceito do

1ft;ú 3.I t ï:
il Ë s ãigëË iËãííËËÈÉÈ ËËË i ã

:! i
desenvolve esses pares de noções opostas, de- duplo carácter do trabalho. Mas, é verdade,

ï:i
Hs E íË:Ë
pendência e liberdade, troca espontânea e plano nesta variação o que pode também aparecer de
concertado, pessoas e coisas, natural e social. algum modo pelo simples jogo interno das suas
É o caso da representação do trabalho humano representações, e por pouco que as confronte-

* í 3i ËË rÈ
mos com a exposição precedente de Marx, são
como o acto criador dum sujeito que se incarna
E

os limites negativos da cconomia política, que


nos seus produtos (representação que será por

h : s
pËËlëg,Es;€

requerem que passemos a outro ponto de vista


outro lado totalmente repudiada por Marx): de

g:gËgËí:gËËËËg:
(positivo). A «dialéctica» que é aqui posta em
Robinson à «reunião de homens livres» da socie-

H Íëã
negão é essencialmente crítica e preparatória
ãt:E Ë;Ër:i; iËsx,i
dade comunista, se o meu produto é para mim
(propedêutica).
",

(o nosso produto para nós) transparente e sim- No entanto, esta primeira constatação não

glãiËãiiËliËgËlËrËË
ples, não mistificado, é porque, no que eu faço,

ÌlË'*::*È [ëË;
^
basta nem para esclarecer todas as dificuldades
não encontro mais do que eu próprio. ! E, acima

1ã'B:Èãã
do texto de Marx nem para nos explicar os efei-

i; cçn !+:Ë i.!:.r


it,e
de tudo, éocaso do uso que é feito aqui da noção tos Leóricos contraditórios que ele produziu na
de medida: toda esta variação pressupõe com

E. * ç€ ô.4: ".8
história do marxismo. É um facto: os marxistas
efeito (longe de lhe explicar a constituição)
representação do trabalho abstracto como a
sã;:Ë a não puderam nunca apoiar sobre a análise do
felichismo senão filosofias do conhecimento ou
rs ilE ËË3S-e

existência natural, evidente, dum «trabalho em untropologias idealistas, com grande prejuízo
geral» do qual os diferentes ramos da divisão do do movimento operário c revolucionário. Inver-
gE
trabalho não realizam senão formas particula- i€ snmente, os desenvolvimentos do materialismo
res: exactamente o que, algumas linhas mais dialéctico (sobretudo em Lenine) tiveram de
ï€
*
Et F:
:ï Ë ï
o

longe, a propósito de Franklin e de Ricardo *,


3

«ignorar» o fetichismo. Constatação pelo menos

ËiÈãgiËãã
o próprio Marx marca uma vez mais como O perturbante. Para a compreender, precisamos
3
ÊE

limite ideológico intransponível da economia tomar em consideração o contexto da análise do


b
F

política. «fetichismo», e lançar um olhar crítico sobre o


vxposto na seeção 1 de O Capital. É-nos forçoso
descobrir aí as raízes profundas da dificul-
estupefacto ao constatar que tantos
Esã;ã355

1 Fica-se dade. Mas esta dificuldade é altamente instru-


f;.getsE ei

ëãÉiiRszi
i*
Íi ã õE.g BE ç
BisiããËs *

" Ë s S€e
u:;9ËËc
;5;5

EE+:"99ï
">
*e õ;ìE É É > o
-ËrçËÊ;s"
iÉÊçsee;Ë8
,:3á;Ë tF È

comentadores do texto de Marx não tenham sabido, ou


I Èlle.õN

não tenham querido, aperceber-se de que a pequena liva e fecunda para o desenvolvimento teórico
Èq€30Ë
ãã: s,È ô't

«robinsomice» que ele nos oferece, e sob à qual se encon- do marxismo. Expliquemo-nos esquematica-

i ËiE
tra exposta a própria «definição» da produção comu- mente.
sgÊÇ "

grano
nista citada mais acima, devia ser tomada cum Na secção de O Capital, Marx parte da forma
salis! Mas a «seriedade» dos nossos especialistas de
glã
B.Ë

Marx só tem igual na rapidez da sua leitura dos textos. sob a qual aparece (erscheint) a riqueza das
2 O Capital, op. cit. sociedades capitalistas: «uma imensa acumula-

178 179
r
VE

]
cão de mercadorias». Mercadorias não são

iË ã; ÈËËi: iËãËsãË Ë I Ë ãsËË ËããË iiããiË

ËËË!i


lorme (nem, por conseguinte, elementar), é pelo
à mercadoria, nem mesmo q mercadoria «em si» contrário (como explicava já a introdução à
(salvo para um filósofo idealista). Deste fenó- Critica da economia política de 1857) necessa-
meno, no entanto, Marx extrai imediatamente

'iff
riamente mais complexa e mais desigual. Tal é
a forma elementar: a forma da mercadoria, para à primeira condição que a secção I pressupõe,
a tornar o objecto da sua análise (a mercadoria

tigË: iggË* ã ;ËË ãË!ËíEãEË


“da qual faz explicitamente abstracção.
é, imediatamente, valor de troca e «valor» de Mas, nesta base, há uma segunda: é o con-
uso). Em que condições se pode assim conside- Junto do processo social que produz «a aparên-
rar « mercadoria como forma elementar, abso-

i u"ïlãffãÈËluiËãËiãiãiËiË
cia» como tal. Quando se lê, duma forma em si
lutamente simples e universal? mesma crítica e materialista, a constatação
O próprio Marx no-lo diz, de resto: com a micial de Marx (a riqueza burguesa aparece
condição de pressupor efectivamente um duplo universalmente como mercadoria, e a mercado-
processo, de que se faz porém, ao mesmo tempo, ria apare—ce
ou apresent
— imediat
a-se amen-
abstracção. É, em primeiro lugar, o processo tv como a unidade de facto, a unidade dada dum
histórico que, através da história de dife- objecto de uso correspondente a uma necessi-
rentes formações sociais, precedendo e incluindo dade e dum certo valor de troca, expressão do
o desenvolvimento do modo de produção capi- valor em geral), não se pode deixar de pôr a
talista, faz da mercadoria a forma universal questão: o que é essa aparência? para quem
e necessária de todos os produtos do trabalho: existe ela? Trata-se, sabemo-lo, duma aparên-
pois é somente quando a produção é universal- cia para os «sujeitos» económicos, ou antes,
mente produção de mercadorias que as merca- para os indivíduos (trabalhadores assalariados
dorias possuem, cada uma por sua conta, a ou representantes a diversos títulos do capital
mesma forma simples, uniforme, que faz o “ portadores das suas funções, ou pequenos pro-
objecto de análise no começo de O Capital, e que iutores individuais, ete.), todos igualmente
podemos falar da mercadoria como tal, no sin- constituídos em «sujeitos» independentes (cam-
gular. Por outras palavras, como explica entre bistas», portanto proprietários) na sociedade
outros muito claramente o Capítulo inédito do 'italista. Trata-se duma aparência que não
Capital, ' a mercadoria não é forma elementar reside nas simples representações individuais
geral da riqueza senão na base da produção onde ela se materializa quotidianamente, mas
i Ëi

capitalista, e na medida do seu desenvolvimento mtes nas formas sociais institucionalizadas do


tendencial. O que, bem entendido, não impede direito, da ideologia jurídica e económica, que
que a existência (a produção e a circulação) investem as práticas quotidianas da troca das
iãri

de mercadorias seja anterior ao capital, e uma mercadorias (e da força de trabalho como mer-
das condições da sua constituição: mas a sua loria particular). Não há troca entre valores
ËË

forma social não é então nem simples nem uni- vquivalentes, sabemo-lo, sem contrato entre
proprietários iguais e legítimos; nem há con-
tratos sem «acordo das vontades», portanto
2 “Tradução francesa U G. E, colecção 10/18, 1971.
tsì
ü

“sem representação ideológica da pessoa e da


180
r.{
@

181
sua livre capacidade de disposição das coisas. O diato do «auto-movimento» da mercadoria desde

Ëff
{ $:ã Ë *;**'rËgglã

ãËãËiiiigã:glÏãff
que fica aqui pressuposto, é pois a presença o abstracto (a sua forma elementar, simples)

!
e eficácia dos elementos da supersiruturo juri- até no concreto histórico (a sua inserção num

Ë
dica e ideológica directamente implicados no processo complexo, incluindo o dinheiro, e mes-

iiiãi
;
processo de troca, mais geralmente no processo mo o capital e as suas tendências históricas).

ïËËi
de circulação das mercadorias. De novo, Marx lintão, não somente o fenómeno da mercadoria
faz abstracção disso, o que quer dizer que con- (o seu carácter de «coisa» com duplo rosto,
sidera apenas os efeitos particulares, e que os «valor» de uso e valor de troca, e as formas
introduz à medida que prossegue a sua análise desenvolvidas do valor de troca), mas até os

ËãË

iãgËËãi ËiiiiããË
da «mercadoria», em particular a partir do «sujeitos» (proprietários privados-cambistas)
capítulo II («Das trocas» — mas o título alemão para quem este fenômeno está representado, nos
é mais explícito: «Der Austauschprozess»), que nparecem como as manifestações de si da mer-

iËãË,
tem precisamente como objectivo a realização cudoria, no seu processo continuo de diferen-
da forma mercadoria num — fora
processo do cinção e de alienação (para falar como Hegel).
qual ela não existe em sentido profundo —, mas A porta está aberta para a teoria do «feti-
sem que o processo seja ainda considerado «no chismo».
conjunto das suas condições reais» ', visto que Que Marx tenha desenvolvido com efeito esta

ãËËËË
estas condições dependem elas próprias da for- tcoria, mesmo brevemente e localmente (outros
e,iãã
ma social do processo de produção. leram-lhe mais alcance, até fazerem dela uma
Dai duas possibilidades se nos oferecem, teoria universal), pode servir-nos de índice per-
abertas pelo próprio texto de Marx, e pela moda- tincnte do facto de que ele entende assim o
lidade muito particular da abstracção que o objecto da secção I, e a sua ordem de exposição.

ËìËËÈÈrË ;ËËË!
comanda: — Ou tratamos esta abstracção não como
— Ou tratamos esta abstracção como uma uma propriedade imediata do real, mas, o que é
laii;ïtffi

Ëii ËËl*iEEãË
propriedade constitutiva do objecto real que completamente diferente, como uma propriedade

gÈtlsllilsiËÏã
Marx analisa, a «realizamos» de certa ma- do conhecimento na sua relação objectiva com a
neira directamente, e apresentamos a aná- realidade; não dizemos que o real é «abstracto»,
lise ulterior das condições reais do processo mas dizemos que, neste começo de O Capital, o
de troca e até de produção das mercadorias eonhecimento é abstracto, sobretudo pela ne-
como o desenvolvimento desta abstracção ini- cussidade em que se encontra de criticar e desar-
cial, que conteria nela própria as condições da licular do interior as categorias da economia
sua própria produção. Então a ordem de expo- política na qual vai produzir uma determinada
sição e de análise de O Capital aparece-nos como Iransformação: isto é, não parte, teoricamente,
uma ordem continua e teleológica (ordenada de mada, mas duma ideologia teórica existente,
pela presença do seu fim no seu começo), uma que tem a sua necessidade histórica (não há
iËãã
ordem que não seria mais que o reflexo ime- começo absoluto para o conhecimento). Então
Já não podemos ver na «mercadoria» um Sujei-
1 O Capital, livro I. lo-Objecto sempre idêntico a si próprio e pre-
o

182 183

sente duma extremidade à outra da exposição mento do retorno crítico das categorias econó-

;ËiiËt ãgãiigl ËËËËi ã ; iiËgãi ãiËãlËgË


Ë

ËiËË*ËËããËgãããËãÍËi Ëãi
!ë! ã;ËËigË*ç ütÏi i !ãã a s
Ë€g ilÏ:ïë:g: :'selcct:!
Ëã;;3;e;ã:;i;;Ë

Ë
ï:E ãËe: ïÍ s3ËÏËif ;ÈÈi; FË 3Ë ; ; rË
Eã:; ËËìlË $€ïËÈ€ ï; uçr: ËËË:Ëi.''
;; + ËËè:g Ë:

ãË€ff i âl:i
rã s H::sis!i i:e€; Hi!ãütËgïiãe ËE cg
da secção I, segundo a «dialéctica» dum auto- micas contra si próprias, contra o seu uso «apo-

Ë;ËËË
ìsË h *È*;Ë r;iiËãËgËË:ËËiË
-desenvolvimento conceptual (ideal) continuo. vético» na teoria e na prática económicas
Constatamos, pelo contrário, que a análise de burguesas. E, por outro lado, vemos abrir-se
Marx comporta necessariamente ' uma série de uma série de novos problemas, objectivos, deri-
rupturas, que correspondem à definição e à vados do materialismo histórico, dos quais uns
introdução dum novo objecto de análise, que se serão tratados em O Capital (a forma das rela-

Ë:AË
substitui ao precedente, ou o completa, sem côvs sociais de produção capitalistas), enquanto
nunca poder reduzir-se ao seu desenvolvimento os outros aí serão em parte deixados por tratar
interno (à passagem do «em si» ao «para si»). (por exemplo, a história da constituição da

1ËË{ ËãgããË,
Assim é quando à análise do «duplo aspecto forma monetária, e das suas condições jurídicas
-:ËË sãF nËË i!ír

ãã=ËÈ
da mercadoria», Marx substitui a do «duplo “ políticas; por exemplo, a análise do processo
carácter do trabalho» de que a mercadoria é o de desenvolvimento da dominação da ideologia
produto”, portanto a determinação da forma burguesa). Nenhuma solução destes problemas
mercadoria pela forma das relações sociais de pode ser pura e simplesmente deduzida duma
ËÈãÈ*ãs ããË scËË :Ë

produção, e do processo de troca. pelo processo abstracção inicial: é precisamente por isso que,

aËi
de produção. Assim acontece quando à análise à posição de cada um dentre eles (eles são desi-
da forma valor geral, como simples relação de sualmente determinantes) corresponde, para o
expressão dada entre o equivalente geral e o conhecimento, um passo do abstracto ao con-

ii
conjunto das mercadorias sob forma relativa *, creto.
Marx substitui a do processo de troca,'* cuja O facto de Marx ter aberto explicitamente

:ããff
Ëe
estrutura económico-jurídica (reprodução da estes problemas desde o começo da sua análise
gËÉË;

relação contratual entre proprietários priva- pode servir-nos de índice pertinente do facto
iã; lË:Ë

tt; ie de que se entende (isto é, pratica precisamente)

giugËiÃ;
dos) supõe por sua vez a produção e a codifi-
cação históricas do dinheiro como equivalente assim o objecto da secção 1, e a sua ordem de
exposição dialéctica, não teleológica.

ãgEË íE;Ë,ãË
geral, o qual confere ao processo de troca uma
i,;ççË

ïËï{

forma única e abstractamente representável. Que devemos concluir daí? Chegamos a duas
Ï;;

Mas então, por um lado vemos desfazer-se conclusões opostas, a uma contradição. É con-
65;

a possibilidade, e até a utilidade, duma teoria traditório, mas é um facto. Não afirmo outra
do «fetichismo», a não ser como um simples mo- coisa, em primeira análise. Querer suprimir
Ê

esta contradição por um decreto ou um comen-


tário conciliador, é reduzir Marx a não ter

!iËË
1 Conforme e muito bem tinha visto P. Macherey passado de um vulgar fabricante de sistemas,
È:^:r;'i"

i:Ë.-
È.iC^ gg
.S€
ãr

Ès
i=
^ !i
Èã
., ú- .i .i : c
E ii.g,i-'^
ã
^{Eõ e<
ã lÈ
,È:,i

h(s
'.9! t;;t

na sua contribuição para Lire le Capital, 1965, reeditada “ não o primeiro artesão duma formidável revo-
Éo
dE

hË--
@.Prì

em 1973, Petite Collection Maspero. lução científica. Ter a noção da sua grandeza, é
c: ããõ

2 O Capital, sec. I, cap. 1,5 2


^

* Ibid., cap. 1,83.


4 Ibid., cap. 2: «As mercadorias não podem ir elas
€*

,õ:
ç1

õ
<

Í!

próprias ao mercado nem trocar-se entre si.»


ÌO.

184 185

FI
a
i't
co
começar a pôr os problemas da história do pró- Filosófica pré-marxista,

:a

Ër
f^
o
E
; Ë

Ëi
tanto mais interessante

Ë'ãii,i,ËeiË;ËãËããii;i*ÏsãfftËËË

c!
íE
1Ë È :sÊÈ*E;l'ÍãlE:H;ïEËeBiE
É9 Ë3 ã!Fì!ËËHãsETE#eÈã:""ic:ã=ç
prio materialismo histórico. ' quanto é mais instável e contraditória.
Se esta afirmação

ãii
é justa, isso significa
simplesmente que neste ponto particular mas
Fetichismo ou ideologia decisivo, Marx não rompeu ainda totalmente
Ë *ãËËããiÊ:ÈËiãilâËEËëËãË
{Ë ËiËiEÈEcËE[ãËIËiãËË!ËËii
com a ideologia que combate. Situação que não

ãËËi
Estamos agora à altura de voltar ao pro- lovemos pensar de maneira ecléctica, como uma

ç E-E+ã ìE.F È F ç'E: i'q dv ã! - -s= g


.8,P,ã Ê E iË r!:È.9.i'0 ! lP:e ã.{ E *
;;:r;EËiË*il9ç:gËã:ËË;Ë;
, áEì ì F +i-.s i iEP b,E s": l.ëTË
: EE*e- #EF!ç,;5 6 ;!P; is Ëfl
ããiË:ãqËÈr:gCÀãi-E
é
blema que há pouco anunciei e que já não pode-
së FË:::Ë ËEi.Ë: e.!l H1.s e., " imperfeição, como uma justaposição de proposi-

Ei r;!:ã; ! rëËË€:i Xgã"3Ë';

d+ó
mos iludir: enquanto teoria, e insisto nestes ter- cões «idealistas» e outras «materialistas». Mas
mos (para marcar bem que os problemas levanta- de forma rigorosa, como a contradição, necessa-

fi
dos por Marx existem indiscutivelmente, e exi-
rismente instável e transitória, de posições

t€*,3t'*:'EÈ'. á,Fs i.g


gem pois uma solução demonstrativa, que ponha
materialistas e idealistas numa só problemática,

Ë
em acção conceitos teóricos adequados), a expli-
cuja forma teórica resulta desta mesma con-

ËãË
cação de Marx (que inclui a própria definição
tradição, e do seu «grau» de desenvolvimento.
do «fetichismo») é na verdade materialista?
No trabalho de Marx sobre este ponto, não
Poderemos sempre considerá-la como tal? Será
houve, mesmo em O Capital, ruptura objectiva e

ËiãË Ëi
compatível, sem levantar graves contradições e
criar verdadeiros obstáculos teóricos, com a definitiva com esta ideologia (e portanto com
o idealismo que ela contém, e que lhe comanda
problemática do materialismo histórico? Penso
que não. E não só devido à experiência quoti- em última análise os efeitos), mas somente uma
diana dos regressos à filosofia humanista, à mudança de forma desta ideologia, a descoberta
psicosociologia e à antropologia que se recla- duma forma de «crítica» interna do idealismo.

j
Fsta forma representou um papel necessário no

Ëãïããlii sãsisãfi
mam do texto de Marx sobre o «fetichismo», Ësl +; ãç
cuidadosamente isolado, processo de constituição do materialismo histó-
e da sua exploração
repetida. Mas sobretudo por causa das caracte- rico, mas permanece ideológica (no sentido
rísticas internas da problemática que aqui se
Hç preciso da ideologia que critica: ideológica bur-
realiza na explicação teórica de Marx. guesa). Em princípio, esta situação nada tem
Ora esta
problemática não é, em última análise, mais que em si mesma de surpreendente ou de escan-
uma variante determinada duma problemática daloso. E até, se quisermos reflectir, mani-
festa aos nossos olhos o carácter dialéctico,
E
E

isto é contraditório, desigual e ininterrupto do


! É esta contradição, que Marx não pôde nunca
processo de constituição do materialismo histó-
* t? * aiËË:ç
;se:

s;sú;ã;Ë

Ëí:l

aï::"r il
ËE
-esËËËËËï

rico, como é o caso para toda a teoria científica,


iËËlË::Ë
Ë Fã -,' d X F

s*t Íç ËP s
íËÈËãËËË

resolver completamente, se exceptuarmos as formula-


ções esboçadas nas Notas sobre o tratado de economia mas sob as suas formas próprias.
Ë

política de Wagner (1883, o seu último texto), que o


Porque é que se pode

rË;gi
afirmar que a «teoria

obrigou a remodelar sem cessar a secção I de O Capital,


do fetichismo» é, enquanto teoria, ideológica, e
ïX : iï

ora sozinho ora com a colaboração de Engels É ela tam-


i iãÊ

Ei:

bém que faz deste texto, ao mesmo tempo que um labo- acaba por produzir um efeito idealista? Porque
ratório da teoria científica, um grande texto filosófico do facto constitui um obstáculo (e constituiu
e até literário.
historicamente um obstáculo) a uma teoria ma-
Ë

186
E

E
187
terialista da ideologia e da história das ideolo- Bem entendido, uma tal concepção teórica

*ËË:iËE

ç;sí:ËÉiËË:€ãsDr:
ËËË

lËIË;ËããËe që;ËÈil ËìËg ËfiËËËífÈ


ffËf Ãããi ãËãËËËÈjg [Ë: ã ãil iËËiÏ ã
ËË
Ë

ËiËËËiãËËËãEËãÈãËã

iËËa;ì
ËËãFEËã1lËËËÈíËËFË

ËËEËEE

gias, constitui um obstáculo precisamente onde das relações sociais ideológicas tem a sua veri-

ã;ËËËB;ãË ãËãËgËËE
esta teoria é requerida: para explicar um efeito ficação na prática. Verifica-se na prática da

ï{Ë
l:i
ideológico. Conforme começamos agora a saber, luta de classes, em que o proletariado descobre

iãa:gïçr'ã;tË ËËi gÈË* Ë ËË* Ëffiã


um efeito ideológico (isto é, um efeito de alu- a existência, a necessidade das relações sociais
são/ilusão, de reconhecimento/desconhecimento ideológicas (que, enquanto relações, se produ-

áE:ËËË ËË ;ÈËï sË
E,Ë Ë
objectivamente produzido por e na prática so- zem muitas ilusões, não são elas próprias ilusó-

nË:Ë.$

!Ë;ËiËç€E€Ë
cial) não pode explicar-se senão por uma causa rias, não são simples «ilusões», mas uma reali-

ãË
positiva, pela existência e o funcionamento de dade material). E descobre aí ao mesmo tempo a

g;Ë:Ë'r
verdadeiras relações sociuis ideológicas (jurídi- necessidade e os meios de as transformar. Além

pcsËËS* ËËË:Ër':Ë
cas, morais, religiosas, estéticas, políticas, etc.) disso, uma tal concepção já está esboçada em
historicamente constituídas na luta das classes. Marx, não tanto em O Capital, mas em função

s:; içcË
Relações sociais específicas, realmente distintas de certas conjunturas da luta política (na NI
das relações de produção, se bem que determi- parte do Manifesto comunista já, depois em As
nadas por estas «em última instância». «Real- Lutas de classes em França, O 18 do Brumário,
mente distintas» significa realizadas, materia- A Guerra Civil em França, etc.). No entanto,
lizadas em práticas específicas, dependendo de não começa a tomar forma e consistência na
aparelhos ideológicos particulares, etc. história do marxismo senão com as experiências

ËÈËË
práticas da transformação das relações sociais

:Ëç [i
ideológicas das revoluções proletárias, com to-
! Ver, sobre este ponto, Althusser, «Ideologia e das as dificuldades e hesitações que isso im-
Aparelhos Ideológicos de Estado», tradução portuguesa
da Editorial Presença, Lisboa. Althusser escrevia isto plica.
Sejamos completamente explícitos Logo que

Ëff:;ru í
(p. 83 e 84): «A ideologia tem uma existência material.
Já aflorámos esta tese quando dissemos que as «ideias» o proletariado, historicamente, começa a orga-
ou «representações», etc. de que parece ser composta
nizar-se e a desenvolver na sua luta de classe


a ideologia, não tinham existência ideal, espiritual, mas
material. Sugerimos que a existência ideal, espiritual, uma ideologia proletária «consciente», pratica

Ë
das <ideias» relevava exclusivamente de uma ideologia necessariamente a luta ideológica como uma

ËËË
!Ëc !
da «ideia» e da ideologia e, acrescentemos, de uma luta social material. Mas quando, no decurso do
ideologia do que parece «fundamentar» esta concepção
a partir da aparição das ciências, a saber, o que os
desenvolvimento da revolução socialista, mais
práticos das ciências se representam, na sua ideologia ou menos cedo segundo os casos, e sob for-

Ë'Ë
espontânea, como «ideias», verdadeiras ou falsas. É mas nacionais que podem diferir (mas sempre

Ë
claro que, apresentada sob a forma de uma afirmação,
esta tese não é demonstrada. Apenas pedimos que lhe
seja concedido, em nome do materialismo, um precon-
de uma ideologia (sendo a unidade destas diferentes

'-
Ë ^ e€.98

E.rË?.e
E

i -c
õãË:

.:ã - ;.9
ceito favorável
E ËÍ õó g
[...]. A tese presuntiva da existência :€

99d!
F,9t

.íEFãi
ã qç

ã --Ë d ã
õ Á'F"E

qì..1,.í
não espiritual mas vlogias regionais — religiosa, moral, jurídica, poli-
material
9õ - ."j o.

Ë?'P.
das «ideias» ou outras
«representações», é-nos de facto necessária para avan- vw estética, etc. — assegurada pela sua subsunção à
"€

car na análise da natureza da ideologia [.. ]. Dissemos, ologia dominante). Retomamos esta tese: uma ideo-

ãÃ

ii 9

A
lograr existe sempre num aparelho, e na sua prática

F
ao falar dos aparelhos ideológicos de Estado
-';

o
e das
práticas destes, que cada um ou suas práticas. Esta existência é material.»
:jj
H
deles era a realização

"
188 189

'i
cO
oJ
sob o efeito principal das contradições internas possível, e na própria altura em que lançava as

ãliãË ãË:Ï Ëããi iigígË* ãËãããË


típicas dum tal processo), surge a necessidade suas bases longínquas.
política de «revolucionar» também as formas A teoria do «fetichismo» distingue-se duma
da superstrutura ideológica da sociedade, para teoria das relações sociais ideológicas e da sua
que seja assegurada e desenvolvida a revolução história pelos seus dois traços fundamentais:
nas relações de produção e no conjunto da base — Por um lado, faz do desconhecimento/re-
económica, a natureza das relações sociais ideo- conhecimento um «efeito de estrutura» (ou de
ããË

lógicas e a sua história tornam-se necessaria- forma) da circulação das mercadorias, um sim-
mente também problemas teóricos. Só então ples efeito sobre os indivíduos do lugar que
esta transformação revolucionária específica, ocupam enquanto sujeitos na estrutura da troca,
ggãËËËfi
que tem o seu objecto e as suas leis próprias em relação à mercadoria.
(se bem que nada isoladas), pode receber uma — Por outro lado, faz da mercadoria em
denominação explícita. Assim Lenine, no perío- si, «objecto» deste desconhecimento (enquanto
do pós-revolucionário, no auge da luta pela a «substância» do valor é o trabalho social), a
edificação socialista na U.R.S.S., pela instru- origem ou o sujeito do seu próprio desconheci-
ção técnica e política do proletariado russo mento, que resulta do «auto-desenvolvimento»
«atrasado» e de todos os produtores, pela da sua forma. É uma consequência directa da
democratização do partido e do Estado, e con-
maneira como ao longo da seeção I de O Capital
$ï ããË 3 ãli Ëãi

tra os seus desvios burocráticos, introduz a (local privilegiado e quase único do seu «na-
moro» com o modo de exposição hegeliano),
noção de «revolução cultural». Noção que reto-
Marx representou a mercadoria como Sujeito
mou, aplicou e sistematicamente desenvolveu
(primeiro «em si» idêntico ao trabalho social,
nos nossos dias a revolução socialista chinesa.
depois manifestando a sua essência «para si» na
Um marxista não se admirará por a teoria da «em si-para si» na constituição
troca, e enfim
ideologia como conjunto de relações sociais do dinheiro como equivalente geral). É pois
reais (teoria hoje simplesmente aberta) ter uma consequência da forma como Marx desen-
necessidade, historicamente, de se apoiar na volveu «logicamente» a forma abstracta (uni-
prática da sua transformação efectiva, e nos versal) e concreta ao mesmo tempo (imediata-
problemas que ela põe. mente presente em «não importa que» troca
Uma teoria materialista (marxista) das quotidiana de «não importa que» produto do
ËË

ideologias não pode existir sem a base prévia trabalho) da mercadoria.


ãË

duma teoria materialista da produção e do A teoria do fetichismo permanece portanto


iãçi

Estado; mas esta implicava antes de mais uma ainda, em O Capital, uma génese (filosófica) do
ËË

crítica das ideologias econômicas (e políticas) sujeito, comparável a outras que se pode encon-
burguesas. A «teoria» ainda ideológica, não trar na filosofia clássica, mas com esta variante
ÉãËË

marxista, do «fetichismo», é o preço pago por «crítica» (que representou um papel histórico
Ëãã

Marx por uma crítica da ideologia económica na decisivo, produzindo na conjuntura teórica
z
de
ausência duma teoria das ideologias, ainda im- então efeitos materialistas imediatos): é uma

190 191
TT

génese do sujeito enquanto sujeito «alienado». Ora, notemo-lo aqui de passagem, o «estru-

ggË1aãg
ËË
pr *süg:3ËE á.Êiï gëB,:ãËfrëbs9Ëti
€E ËËitãËi*ËEËiËEtã;rËigrffã;
BË Ïqã
;;
ËHË

ãË
a
ffi
É uma génese ou teoria do conhecimento en- turalismo» é o estrito equivalente teórico desta

cs3s
quanto desconhecimento. combinação. E é por isso, finalmente, que estru-

ãÈË
Ëã€Ë8fi
E--ãEãÈËÉ'c íEãsãËãËã íE c ÈE ÉE
É por isso que, depois de ter sido enunciada Luralismo é igual a humanismo (e, na conjun-

ËË F:e
ãíi ; : ilããgï +Ë:cËïff i4a€ËËi,
por Marx numa problemática hegeliana-feuer- tura actual, acasalam-se bem e fazem filhos um
bachiana, esta teoria pôde ser retomada e desen- ao outro): porque a questão do lugar (estru-

ããii
E,Ë

volvida com entusiasmo numa problemática tural) equivale à questão do sujeito (humano),

;; ãE ã$;'gãËÈãïE:ü;EË FË 3 ? :
humanista (ver as filosofias da «reificação» e se o simples facto de ocupar um lugar no sis-
ËEË s p

da alienação, que são sempre ao mesmo tempo tema das relações sociais (em especial das

*rr
;,Ë ãËË
filosofias da consciência e da tomada de cons- relações de troca) instituir por acréscimo um

ããË
ciência), depois, por muito curioso que isso ponto de vista, uma representação, enfim, uma
pareça, numa problemática estruturalista ou, consciência (ainda que «falsa») desse sistema,

ËsÊË
mais geralmente, formalista. A problemática cv o explicar apenas a ele.

ã'ËlãËËcË
yëiiï g*ii

de Marx era então uma combinação original de

iffiãlg*ã
Em conseguência, não só a teoria do feti-
:Ëat!gr
Hegel e de Feuerbach, elaborada por Marx na chismo da mercadoria impede a explicação cien-
época da constituição do materialismo histórico Lífica dos efeitos ideológicos particulares impli-
Ë HË

(1844-1846). Muito precisamente, como o indica cados pela circulação mercantil (fundamental-
Althusser, «Hegel em Feuerbach»: a alienação mente: pela sua estrutura jurídica), como impe-
hegeliana (que é determinação e objectivação do de também pensar verdadeiramente a sua trans-
gïFË Ëlgã*E

conceito na realidade) é pensada na aliena- formação revolucionária: faz crer que a «trans-
ção feuerbachiana (que é projecção da essência parência» das relações sociais é o efeito auto-

humana real num céu de ideias, donde regressa mático (mesmo se não for imediato, o que, de

Ë
ËËç

aos homens reais sob uma forma estranha, resto, coloca outros problemas insolúveis, como

ã
Ë
:€ :

invertida). Nesta combinação filosófica, «hege-


lianismo>» significa mesmo processo, e até pro-
ÊiË;€Ë

cesso «histórico», mas processo de manifestação

Í:Ë;si;'
€F
iì!:
ïEc:EiEí ã;Ë;eÍ

ã1s€iËãá
I:is:,llÈ ,ç;3$ã
colocados pela «filosofia de Marx», e das etapas da sua

.oÈsEesi 3Ë!ë:;
g3l*sãË! s€sT:í
*,3ÈEã"{õ;.:3ÉEE;

r a E 3; !; * : gï ïtE
'-gíe;*_;
ãít3::iq;ï;sË;*
i : Ì iã, ,:
e;i:;

dum sujeito, na ocorrência um sujeito alienado transformação, enquanto não se decidirem a ler e a
— no sentido de Feuerbach —, no qual a rela- estudir Feuerbach. Evitarão assim, sobretudo, tomar

ã
por «descobertas» de Marx o que vem de Feuerbach, e
ïs!

"e
cão «real» da essência com o atributo está

is e: rË;ïli
poderão entender em que sentido, sob que condições e
«invertida». do materialismo dialéctico

EEï iÉEZl'í
nas, o desenvolvimento
e ec teve de recorrer à via dum «retorno» critico «a
gel», em torno da categoria central dum «processo
1 Sobre este ponto, remeto para os textos de sen sujeito»,
'Í:=
8É+EeíÈE
Ë!
ËeËËìr

*iÈËirçe
Iíd;.J€
€ r ï efi* s n

Éì ã Ëi E E:
* q:ËÈe

E€EEE:

Ë:;Egr
Ë

^
'fr

"ieãïi
&s s â:,sE s

No texto de Marx sobre o fetichismo, a marca


--.:ã^--r.ã

Althusser, em Pour Marx (1965) e em Lénine et Ia Philo-


_r*ri

*aÈo!i@i
ãEáÍ€Ë

irrofutável de Feuerbach é o uso da noção de inversão


ì"EÈ€ig ã
lãsË

sophie, seguido de Marx et Lénine devant Hegel, 2." edi-


ì*

ção aumentada, Maspero, 1969. E remeto para o próprio 1 tefloxo invertido, extraída directamente da teoria
183*c'3

=.i:
! -.-: o

texto de Feuerbach, PV Essence du christianisme, prece- ieuerbachiana da religião, e que permite a Marx, como
3Ë Ëã

vimos, afirmar a analogia do «fetichismo» e da religião,


õ

dido da apresentação de Jean-Pierre Osier (Maspero,


1968). Repetimos uma vez mais, os marxistas não con- " depois a sua relação de substituição histórica reci-
Ëãã


N o
s;
E f,

seguirão nunca perceber seja o que for dos problemas proca


"'=
=
Ë,
*

g
192 193
È
o famoso problema do «atraso» das superstru- rrupos particulares de trabalhadores

ãËãË ãgËiËËË ããË

Ëãi;ãi*ãËËããËËããìã:Ëãt i ËãË ËãÈËiiËg


[...]. A

ËggËiËEËËËit

liãËË:Ëãiff
turas ideológicas em relação à base) da supres- sociedade, no seu conjunto, está portanto provi-
são das categorias mercantis, isto é, da merca- de todas as espécies de trabalhos e de produ-
doria. Tomada à letra, é uma teoria filosófica tos. Estes produtos aproveitam, em grau maior
da ideologia em geral, do papel histórico transi- on menor, a todos os membros da sociedade, por-
tório da ideologia em geral. A acreditar nela, aque o trabalho é um trabalho comum, é funda-
um belo dia, não só deixará de haver ideologias mentalmente distribuído e organizado de forma
de classes mas, como já não haverá mercadoria planificada por alguma autoridade [...]. A eco-
nem, portanto, troca, como a produção terá nomia desta sociedade é-nos inteiramente clara
reencontrado uma organização social directa, 1. .|» (porque, diz-nos R. L., ela só aponta
também não haverá sequer qualquer ideologia. para a harmonia, para o jogo concertado das
Alienação e depois supressão da alienação. e«ncecessidades» de todos e da sua «vontade
Rosa Luxemburgo fornece-nos involuntaria- comum»).
mente um extraordinário exemplo da lógica da Rosa Luxemburgo conta-nos então a histó-

:ËiiiËËgËËlíl;tËãiËËËiiËl

gãËff
ilusão que está na base desta utopia (e que, ria (o belo mito) da «catástrofe» que, «uma bela
gãËÈËËãËg

pensando bem, é a própria lógica do «fetichis- manhã», fez desaparecer a propriedade comum,
mo»!), quando, nos seus cursos de Introdução à portanto o trabalho comum e a vontade comum
economia política, * pretende explicar o que é a dos homens. Esta catástrofe tem exactamente
«produção mercantil»: «Uma sociedade não o mesmo estatuto teórico que a invocada por

iiËËËËãËËËl
pode existir sem trabalho comum, isto é, sem Rousseau no Discurso sobre a origem da desi-
um trabalho planificado e organizado. Disso qualdade, para explicar a passagem do «estado
encontramos as formas mais diversas em todas de natureza» ao «estado de sociedade», passa-
as épocas [...]. Na sociedade actual, não lhe rem fora da qual o estado de sociedade seria ele
encontramos rasto: nem dominação, nem demo- próprio inexplicável e ininteligível, e que é
cracia, nenhum vestígio de plano ou de organi- necessário, por conseguinte, supor, ainda que
Ë

zação: a anarquia. Como é possível a sociedade jomais tenha realmente existido. Devido a esta
sei s:

capitalista? catástrofe, ao mesmo tempo nada mudou e tudo


«Para descobrir como é construída a torre de mudou. Nada mudou, cito de novo Rosa Luxem-
Babel capitalista, imaginemos de novo por ins- burgo: «O que vão fazer todos os homens, assim
tantes uma sociedade em que o trabalho é plani- entregues a si próprios? Vão antes de mais [...]

ËËËãËiiiË,
ficado e organizado. Seja uma sociedade em que trabalhar, exactamente como antes», satisfazer
gl

a divisão do trabalho está muito desenvolvida, a diversidade das suas necessidades pela divi-
onde não só a indústria e a agricultura são dis- são do trabalho. Mas tudo mudou, pelo menos na
Ë

tintas mas onde, no interior de cada uma, cada «purêncio (e na forma de se evidenciar a si pró-
i

ramo particular se tornou a especialidade de prio) desse trabalho social: «Agora o todo já
g

não existe, cada um existe por si» A aparên-


cia não realiza a essência senão na medida
1 U. G. E. Colecção 10/18, Paris, p. 214 e seg. em que a contradiz: os homens (pelas suas
É

p.

194 195
Ì'l
necessidades) dependem todos uns dos outros,
rudo; ela perde pois até o benefício pedagógico
mas são todos «livres e independentes» uns dos
rítico da exposição de Marx; cai tanto mais
outros. A solução desta «contradição» ideal, é...
“epuramente na realidade do «fetichismo» e da
a troca, de que se deduziu assim a necessidade
sua mistificação ideológica quanto mais uso faz
histórica. do nome, No entanto, Rosa Luxemburgo tinha
Vê-se aqui numa pureza exemplar como se tdo, e lido bem, a I secção de O Capital. Nao
pode efectuar por vezes o regresso do idealismo devemos concluir daí que esta utilização da
nas próprias palavras de Marx. A sociedade troria do fetichismo podia de certa maneira
capitalista real, onde reina e se desenvolve a te pode ainda) encontrar em que se fundar?
troca das mercadorias, que comanda o próprio Ou melhor: não deveremos concluir que esta
processo da divisão social do trabalho, não é utilização não poderia encontrar aí à letra
mais do que a inversão duma sociedade ideal o que a excluiria, a proibiria definitivamente
(«o processo é inverso», diz Rosa Luxemburgo), (te que, no entanto, figura noutro lugar
necessariamente explicada a partir do seu explicitamente: vão lá agora tentar recon-
modelo especulativo. Mas uma sociedade ideal duzir a análise da exploração da força de tra-
será uma sociedade? E a perspectiva do resta- balho, da extracção de mais-valia e das suas
belecimento da inversão, através do qual a socie- tormas históricas à «inversão» duma «vontade
dade capitalista reencontraria a sua transfe- comum» sob o efeito duma «repentina catás-
rência (logo a sua harmonia) primitiva, con- lrofe»! Seriam precisas desta vez muitas contor-
forme à essência das coisas (e que nunca per- socs intelectuais e deformações)? De facto, é
deu realmente), portanto anularia até a possi- o que acontece na secção I, e que explica a neces-
bilidade duma «máscara» ideológica, será mais sidade histórica das suas interpretações diver-
do que uma figura particular da ideologia bur- “entes (o que não significa evidentemente que
guesa da troca, para a qual os acasos do mer- sejam todas objectivamente justas).
cado passam sempre por realizar uma ordem, Não penso que se saia fundamentalmente
um plano, uma equivalência, uma harmonia deste círculo ideológico substituindo a estrutura
essencial da natureza? da «forma mercadoria» pela estrutura mais
Indo mais longe, é claro que na sua expo- geral dos modos de produção sistematicamente
sição Rosa Luxemburgo faz algo diferente variados, portanto, o «lugar» dos indivíduos
do que Marx fez no começo de O Capital: na circulação mercantil pelo seu lugar na estru-
onde Marx, precisamente, exibia os limites da tura do «todo» e em relação a este todo, e ins-
ideologia burguesa, dando-lhe de certa maneira tirando assim a possibilidade de fazer variar
a palavra (mas para a retomar em seguida, o ponto de aplicação do «fetichismo». Porque
noutras bases, que ela não pode admitir), v que permanece então ininteligível (porque
Rosa Luxemburgo faz do mito induzido pelas supérfluo) é uma prática social de transforma-
categorias económicas a base da sua exposição cio material das relações ideológicas (como
«economia política» científica do proleta- prática revolucionária específica), e portanto
da
à realidade distinta dessas relações. Se o efeito
196
197
de ilusão é o efeito para o indivíduo do lugar no

Ê;ãtËËaË;Ë;EgËïçãËã
ÈËiã:ãiiÈrËËãËsiiË
ì:.ï:i€iãiËïi=*ËïE Ë;
ãiËã:?ËËËãËilsïãgË
iãËãËãËãÃ;ããËËË.Hi
mina as relações que mantêm entre si as diver-

gËË

rsÈ

ï;Ë
=
«todo» que o constitui em sujeito, então o aca- sas instâncias da estrutura [social], quer

ï
bar da ilusão nunca é mais que um assunto dizer, finalmente, a articulação desta estru-

Ë=
subjectivo, individual, mesmo que seja social- tura?»
mente condicionada pela estrutura do todo, E mais longe, depois duma análise do texto

ãË ËãiËËËËãËãÈiiããiËËïËffiËËËã

ff ããËËãË,ËËËËËËËËËËË€Ë$*ïÈiËÊ
ËÈ ËãiËEã Ëi:ËËËË,ãïËfËíãáËËëà
ainda que repetida «milhões de vezes» para de Marx sobre a Génese da renda fundiária capi-

is ËËiË Ë F
milhões de indivíduos que ocupam um lugar talista: 1
semelhante: não é mais que o efeito de um outro «Pode extrair-se deste texto [...] o princípio,

Ë
lugar ou duma tomada de consciência imediata. explicitamente presente em Marx, duma defi-
Por outras palavras, a teoria do fetichismo nição da determinação em última instância
não pode nunca pensar verdadeiramente que à pela cconomia. Em estruturas diferentes, a eco-
noção de «sujeito» seja uma noção ideológica nomia é determinante pelo facto de determinar
(elaborada primeiro no seio da ideologia juri- a das instâncias da estrutura social que ocupa
dica). Faz pelo contrário, parece, da noção de o lugar determinante.» ?
«sujeito» o conceito «científico» da ideologia, Estas formulações tentam retomar um argu-
o conceito que permitiria explicar as relações mento já exposto por Althusser no seu artigo

ËË
sociais ideológicas, quando são estas relações «Contradição e sobredeterminação»,* a propó-
que explicam a forma ideológica do «sujeito». sito da conjuntura histórica, e generalizá-lo.

iËË
[li daí que provém, com algumas simplificações,
a terminologia: determinação, dominação, des-
locação de dominação. Mas esta «generalização»

gË: Ëi ËãËËËËi 3
SOBRE A DETERMINAÇÃO «EM ULTIMA é o pretexto dum grave mal entendido.
Ë,

2.
:=

INSTÂNCIA» E A «TRANSIÇÃO» O texto de Althusser sobre «Contradição


v sobredeterminação», qualquer que seja o

Ë
carácter provisório de certas formulações, mos-
Volto agora à questão da determinação «em tra bem isto: a «dialéctica» da história não é
fiâËtì3ïãã
se:iiBËËË*
;iAEEãCEgã
gÊãËiËËËËË

í*ËiË;';a

última instância». Escrevia, em L. L. Gu a pseudo-dialéctica do desenvolvimento (linear,


«O problema |...] é, pois, O seguinte: como apesar de todas as negações que se quiser, e
é determinada na estrutura social a instância teleológico, portanto predeterminado, apesar
determinante numa época dada, isto é, como de todas as «reviravoltas materialistas» que se
é que um modo específico de combinação dos quiser), é a dialéctica real da «luta de classes»,
elementos que constituem a estrutura do modo cujas estruturas materiais são irredutíveis à
de produção determina [...] o lugar da deter- forma do desenvolvimento linear, do progresso
minação em última instância, ou ainda: como « da teleologia. É, pois, a dialéctica dos diferen-
é que um modo específico de produção deter-
1 O Capital. 3u
2: LLC, p. 110.
1 LLC, p. 105
ciS
rai

4 Cf. Pour Marx, op. cit.


^o

198
r-l
co

199

rl
tes aspectos da luta de classes, realmente dis- outras palavras, as «formações sociais» não

liËãiiififfiHfilr
ã:ããilËËãããiããlgiïi ããiÈËffitu
tintos uns dos outros na sua unidade, como o são simplesmente o lugar (ou o meio) «con-
ensina a prática do movimento operário (e não ereto» no qual se «realizaria» uma dialéctica
aparentemente distintos, como uma «essência» «scral, abstracta (por exemplo, a passagem do
ec o seu ou os seus «fenómenos»). O aspecto capitalismo em geral ao socialismo em geral, de
econômico (a luta de classes económica) não determinado estádio a outro em geral do «de-
é senão um destes aspectos, desigualmente senvolvimento» do capitalismo), elas são, na
desenvolvido, desigualmente decisivo segundo realidade, o único objecto que se transforma,
as conjunturas históricas, e nunca susceptível porque o único que comporta realmente uma
de produzir por si próprio efeitos revolucioná- história de lutas de classes. Este ponto é deci-
rios. O que de modo algum impede mas exige, sivo. Acrescento que não é de maneira nenhuma
pelo contrário, que em todos os períodos his- por acaso que Althusser tinha podido adian-
tóricos, qualquer que seja o modo de produ- tar-se neste sentido, a partir duma análise da
ção dominante e a conjuntura, o conjunto da prática política de Lenine e dos textos que a
luta de classes permaneça determinado pelas roflectem, pois Lenine não só é mais explícito
suas condições materiais. Pois as próprias que Marx neste ponto, mas opera mesmo uma
classes sociais, ou melhor, a luta das classes, verdadeira rectificação, cada vez mais cons-
na e pela qual somente existem classes, não ciente com o tempo, de certas formulações do
têm realidade histórica senão como pressu- materialismo histórico, uma rectificação a par-
ãgli:ÈiãÈ i ãËãielãsg

postos e resultados do processo de produ- tir da qual devemos, pelo nosso lado, incansavel-
ção material e de reprodução das condições mente, retomar, desenvolver e eventualmente
materiais da produção. Definir e estudar, rectificar todo o conjunto da teoria do materia-
por cada período histórico, a forma específica lismo histórico. Retomarei este ponto dentro
como cada aspecto realmente distinto da luta em breve.
de classes («económica», «política», «ideoló- Voltemos então às minhas formulações de
gica») depende assim das suas condições mate- Lire le Capital citadas mais acima: é claro que,
riais, é precisamente o objecto do materialismo na sua tentativa para «generalizar» a ideia de
histórico. Althusser, elas lhe modificam o ponto de apli-
Deste texto de Althusser (e do seguinte, cação. O que a ele servia para tratar da «con-
i;llËËiËËË,

«Sobre a dialéctica materialista», que o com- juntura» histórica (sobre a qual, na prática, se
pleta), ao lê-lo atentamente, pode concluir-se trata de influir), elas aplicam-no à comparação
uma tese completamente justa: não existe dia- dos modos de produção. Fazem da variação ou
léctica histórica real a não ser o processo de da deslocação da «dominante» o princípio
transformação de cada «formação social» con- duma análise (e mesmo duma teoria) compara-
creta, processo que implica a interdependência tiva das formas (ou dos tipos) de modos de
real das diversas formações sociais (dando-lhe a produção. Esta deslocação está cheia de conse-
forma da sobredeterminação interna do processo quências: não só introduz um equívoco que vai
de transformação de cada formação social). Por daqui em diante acompanhar todo o uso dos con-

200 201
ceitos «tópicos» ! introduzidos por Althusser (o to modo de produção em geral, e das suas «va-

Ë g frIÉç
ã[

FãË

f ÊËË ïã;: I ËÈáËeË Ëç :sÈ í; :Ëj.Eú.F Èõã33.ãgõd


+Ë.Ê
tópico das instâncias do «todo» social «comple- riações» possíveis: em resumo, uma teoria que

Ël,
í; e ËtE€ ã c*:,s[= gEi;.Ëã
x0»), como transforma de novo o objecto do se arrisca a cair, não sem contradições, sob uma

iã;
qual este tópico deve permitir analisar a dia- inspiração tipologista ou estruturalista.

I ãËff Ërg +*ru;


Não

Et::iË:$:â
léctica. Em vez de se tratar das formações sem contradições, pois é preciso,

s
bem
sociais, trata-se agora (e de novo) dos únicos entendido, e ao contrário das posições positivis-

gËï

g€gc
modos de produção, isto é, duma generalidade tas que implica espontaneamente o estrutura-

ei ãã
ainda «abstracta», de que, na prática, as for- lismo, tomar esta ideia (esta tentação) de
mações sociais não aparecerão senão como a «teoria geral» no sentido forte: não como um

íe-,sï
«realização» particular e concreta. Isto conduz- simples sistema de «modelos», mas como uma

E9*
teoria fornecendo verdadeiras explicações da

Ë ËeãËiËËãÈ
-nos a uma questão de alcance geral.
história real. É preciso, pois, compreender que,
numa tal perspectiva, a variação (a combina-

E
Existe uma «teoria geral dos modos de pro- ção variada) do jogo dos «elementos» possa

ãH;38ËËãË
5
dução»? por si própria explicar efeitos históricos.
Mas há algo de mais fundamental, e mais

g:ãE't.*e;
grave: é que, numa tal perspectiva, a própria

gËç,:
Com efeito, a ideia surge assim que a teoria
dos modos de produção particulares (entre os denominação das «instâncias» na formação
quais o modo de produção capitalista, anali- social não pode senão tender a designar de novo
sado em pormenor por Marx) releva, ela pró- os elementos, de essência invariante, da análise
histórica, contrariamente ao que era postulado,

Ëi

ã:
pria, duma teoria geral dos modos de pro-
dução, que não pode ser senão uma teoria a justo título, no início do meu texto de L.L.C.

è;€.:Ëç9
Eii.;'l-l <'E'o'ËËlP+EÊ
t
presentada

€'Ë Ë esçi ã
:Ëã ,Ët Ët :g

ãËeËËË;' ËiËãEËtËiË
ãËiãËtËË;ËËË:iËãsi
por este tópico

e3ËÊ

;ã-:iq:
: E; ãËE i ãEs€
(e desenvolvida

áÊúrE!Êe õ;tÈ€h'eeg
Hs.:EãeE -ElaËú.ieÈE
e E.:d.oa^='oY:.ì^--.
t+
Lembro que o termo tópico (empregado sobre- pelo mate-
ËçA::tÊ"ãëË:i:ËeiË;
rialismo histórico)
ã: ã ïËË e ïË;Ë€

se distingue radicalmente
Ë:;sË
ãi
:: I ãFeË
ìEËËïËEgE

!'F";EÈ

ã
Ë,9Ë*
€È Hãg ã Ë;ïÈ:q;E i:ë

da concep-
i q -Ë[Ë e { E€È ã,t€! ge;

;* g5oo6Ëõ^.9
@
ããEei: EË â*:9:!ãrL"s€
. ï.$ËlelsEÊ3üeeP:Ë:

tudo por Freud, que o retoma da tradição filosófica)


ção ideausta hegeliana duma totalidade
EËËËi3eÊËcãËãeãiE

designa, segundo uma metáfora espacial conceptual- expressiva,


centrada num princípio ou numa ideia única, e tinha
*ËËãÈE Ëã Ë*l:sãÈ:

mente regulada, o esquema dos lugares relativos atribuí-


tentado desenvolver as categorias dialécticas que ela

$ËÈs
s-iiã l,ã;t
ÃY! ooÈ1Y.3-

dos a diferentes aspectos ou graus da realidade. A filo- implica (diferença real das instâncias sociais, determi-

Ër^ Ë: EE âpËgËË
sofia clássica comporta numerosos tópicos (idealistas),
nação em última instância, desenvolvimento desigual,
*:-ç
Ëi::i ÈÈt;:Ëi s

que têm nomeadamente como fim situar os «graus»


causalidade sobredeterminada, etc ).
e

do conhecimento em relação à filosofia (e a própria


s,ã i:

.geqlÈ€pâã
1 «Esta ciência das combinações não é uma com-

€::E'Ë:ã:'Ë
Ê

5zH,3E-É€'
P
filosofia em posição dominante), como a «linha geomé-
trica» de Platão ou a «árvore» cartesiana. No prefácio binatória, na qual só mudam o lugar dos factores e a

i
a
Ë;ã;ËËii

sua relação, mas não a sua natureza, que é assim não

se
Ê€: ì e s F Ë
da Contribuição à critica da economia política, Marx
Ë;E s q!-€

construiu um primeiro tópico materialista, onde se ins- só subordinada ao sistema de conjunto, mas também
e,F.9 e
s
;Eõ

em última instância» do con- indiferente [...] uma ciência à priori dos modos de pro-

Ë;ËËËë
creve a «determinação
r::
í;

junto das relações sociais pela sua «base» econômica dução [...] implicaria que os «factores» da combinação
à-X-

(a «estrutura»), assim como a realidade ea eficácia, sejam os próprios conceitos que

ï;;E
enumerei [=<rela-
ft:s

por sua vez, das «superstruturas»> políticas e ideoló- ções de produção» e «forças produtivas»], que estes
-àj.

ãl3

conceitos designem directamente os elementos duma


ãt'

gicas. Em Pour Marx e Lire le Capital, L. Althusser


como a concepção do «todo social» re- construção, os átomos duma história. Na realidade

3
tinha mostrado
Ê
Ë
B
o

H
202 203
c,
R
dência» e de «contradição» que constituem a
Usando de maior clareza, isso quer dizer que sua unidade) não fazem mais que indicar e de

t:Ë
i Ë:ËÏ tãËËE ËãËËãÏiËËË ii
iE IËiËËÏëãËçãË $[ËEËk ãrEË;:

Ë Ë'Ë ;iãËãË

lËe ãÉãi íãË ËËi ËiãiËã


haverá uma essência unificada dos fenóme- corta maneira orientar formalmente (precisa-
nos «económicos», e também dos fenómenos mente: num sentido materialista) a problemá-
«políticos» e «ideológicos», preexistente ao

ii
tica geral (digo problemática e não teoria) do
processo da sua transformação histórica. Por
«materialismo histórico» aplicado em análi-
outras palavras, preexistente ao processo da ses teóricas definidas de Marx. Não podem

g:Ëi:ì;ËI
sua determinação sob o efeito da luta de
untecipar-lhe o conteúdo. Logicamente, isto quer
classes. Isso quer dizer que, a um nível de gene-
dizer que podemos, quando muito, adiantar isto:
ralidade suficiente mas susceptível todavia de
explicar uma causalidade
quando muda a forma (social) da combinação
histórica, e efeitos
contraditória que caracteriza o modo de produ-
:; E íãíã*Ë9 rãËsãËE! E:ÌE ;
definidos, o termo «económico» teria o mesmo
sentido no modo de produção feudal e no modo ção no sentido restrito (combinação de «rela-
ções de produção» e de «forças produtivas» de-
de produção caiptalista, e de facto em qualquer
modo de produção. Em suma, é o risco de um terminadas), mudam também necessariamente
regresso aos pressupostos ideológicos da eco- de maneira determinada as condições em que in-

Ëãff
nomia política e da historiografia burguesas. tervêm historicamente uma instância «económi-
Não há dúvida de que esta tentação foi induzida ca», «política» ou «ideológica», isto é, as condi-
no meu trabalho pelo cuidado de evitar toda a cões em que se constituem e se reúnem, numa
interpretação «historicista» da crítica de Marx, forma complexa de unidade, lutas de classes es-
EË pecificamente «económicas», «políticas», «ideo-
e, por conseguinte, de acordo com a metáfora de
i iË lËã:Ë ãÊËËg

Lenine, «virar o pau ao contrário». Mas o lógicas», e em que elas produzem efeitos eles
;
pau não pode ser virado sem discernimento, ou, próprios combinados. E por isso que, contraria-
Ë

se se quiser, o espaço da sua viragem não é mente a todos os economismos, o conceito de


íi ãï i ÈïãÏ :
iÈ ËËi ãËã íË

um simples plano. Bem entendido, esta recaída modo de produção designa bem em Marx, mes-
não se deu por acaso, e creio poder afirmar que, mo a um nível abstracto, a unidade complexa
sob esta forma ou outras análogas, é o indício de determinações que relevam da base e da
duma dificuldade real. Voltarei a este assunto. superstrutura. Mas não podemos de forma
Na verdade, os conceitos gerais (ou formais) alguma deduzir nem o modo desta constitui-
ËËËãã

de Marx («forças produtivas» e «relações de ção nem o processo de funcionamento e as ten-


produção», «base» e «superstrutura», ela pró- dências históricas das relações sociais consi-
pria articulada em «jurídico-política» e «ideoló- deradas, nem as leis de combinação dos diferen-
gica», assim como as relações de «correspon- tes aspectos da luta de classes, do simples dado
desta combinação pelas suas características
formais, quer dizer, sobre a base de uma com-
[...] estes conceitos designam só mediatamente os ele-
g E9

paração
's 1E ãci
€qÈdõ

entre
:9; r*.9

as
'-Ë.d úÂ
':!::Docd
i,F

diferentes
E;Eèn
ú ,tsY "
É

formas
3,8'R E T
õ " Ë 0.3
i
o'ü69 ú

possíveis.
- I frg

mentos da construção T[...], o que poderiamos chamar


ã'k átsi

& por isso que não se podem inventar modos de


oã.9È
3 €.8 d

as pertinências da análise histórica. [. ] Há conceitos


èÊ 3

=o o

gerais da ciência da história sem que possa jamais produção históricos «possíveis».
B:
-r

haver história em geral» L.L. C., tomo II, p. 113-114


E
'.

204 205
N
a
*l
Se nos perguntarmos o que é responsável
,
& csse, abstracta e resumidamente, o objecto

3i-ËÈËiËëëËËiˀˀËãË

Ë;:ËË$iË:;ãË;ffÉiËgË

Ë;ËtËËËËuããËËËËË:Ëffi

Ë=*tEËEãË:Ë1ËËËíËããË
ËËË

Ë€ãËâ* ËËããE é ËãËËf

ÈËËË* lE E gËg:9sË:Ëïg:èËs{
ítãÈã
por um deslize teórico sobre este ponto, pode- de O Capital, designadamente no livro 1.
remos dizer que é designadamente o duplo sen- Mas, ao lado deste primeiro sentido, há um
tido em que pode ser tomado aqui o termo «com- segundo completamente diferente: é a ideia de
ãËË
binação» (Verbindung), segundo duas acepções que a teoria do materialismo histórico procede,
totalmente diferentes. em diferentes circunstâncias, tanto a respeito
Num primeiro sentido, deve dizer-se que o do próprio modo de produção como, ulterior-
ËtËããiãgË{ÈË

Ët ;:ëíËcãË;ãËgËiËËË
materialismo histórico, ao analisar um modo mente, a propósito das formações sociais con-
de produção determinado, tem como primeiro cretas, por combinação de aspectos distintos
objecto definir e explicar uma combinação («síntese de múltiplas determinações», dizia
(melhor: um processo de combinação) parti- Marx na esteira de Hegel). A bem dizer, esta
cular dos «factores» sociais da produção, última formulação não pode ser mais que provi-
que se pode descrever como «combinação das sória, precisamente porque esta característica
relações de produção e das forças produtivas», formal da teoria se antecipa simplesmente ao
com a condição de indicar que esta combinação conhecimento das características do objecto
se faz sempre, sobre uma base dada historica- material de que ela nos permite «apropriar-nos»
mente, na forma (social) e sob o efeito das teoricamente. Em todo o caso, os dois aspectos
próprias relações de produção. Por outras pala- não poderiam ser confundidos sem jogo de pala-
ËãiËi

vras, que as «forças produtivas», embora seja vras, ou antes, sem passagem sub-reptícia do
íã lãÈE

essencial distingui-las das relações de produção, materialismo histórico a uma espécie de «meta-
a que não são redutiveis, não existem, no
entanto, como tais (como sistema de transfor-
mação e de apropriação material da natureza) «lo ponto de vista marxista, esta distinção não é senão
3Ëã

ã:

it.*íE ã I Ë* i gïl:
;Ë;:ãEi
E

:€:âããil 3ËÊãtï ã3+;:


gÉË:q3il

Yq9ã"!.3'Ëïi!FsËá+e
ËìÈ cíF 1g:ËËsãi iÉ5Ë

ËËE;e;ËËËgiË
' ,3 " i 9 1'; c ; o 3 e. ;

:ïËË 93Ë:ÈËãã ; F qÈE 5

E:

ã,Pi.:i;€.i.E
FEÉË;EË:âsË
senão sob o efeito da sua própria combinação a contradição das relações de produção e das forças

á;;
produtivas, e seu desenvolvimento. Ora esta contradi-
com (nas) relações de produção determinadas.!

Éz:lÌ:.i::ã Ãìi:: i:
:

i'; Ë; t li;95!c g8 r à
cao, no sentido forte, é ininteligivel fora do primado
da relação de produção antagonista, de que é o efeito.

õg
Podemos compreender assim porque é que a tese inversa,
1 Na sua intervenção perante o Comité Central a do «primado das forças produtivas» (que é a forma
ËillããËiãËiËãË,

g;IãËããigããiËË

fr^à''
ËiiËgËïãÈãËããã

de Argenteuil (cf. Cahiers du communisme, Maio-Junho privilegiada do economismo no interor do marasmo),


1966, p. 69 e s.), Henri Jourdain censurava o texto de conduz inevitavelmente à eliminação pura e simples

Y;;g Ë sitË Ë*
L.L.C., exactamente neste ponto, por efectuar uma redu- das relações de produção e do seu estudo científico (ge-

*Ëeïõ*" ËËl

ãsï e'ç* i ì


ção das forças produtivas às relações de produção, e por ralmente substituído pela simples referência às formas
«privilegiar demasiado unilateralmente, senão exclusi- jmridicas da propriedade dos meios de produção).
vamente», as relações de produção. O que dá de facto Quando se sugere, como o fazia recentemente Phi-

É:ËËgi;
gll;:*:

'.Ê
lugar a confusões é o facto de não ter pensado clara- ippe Herzog (Politique économique et Planification em

F ËÊ ËË
^.S
mente o primado da relação de produção fundamental senme capitalste, p 37), os perigos que haveria em

F riÈ ã
na combinação produtiva. O primado implica uma »obrestimar» o livro I de O Capstal, é preciso ver bem

i fr -=
distinção real; mas, reciprocamente, uma distin- quo é precisamente o primado da relação de produção
ção real das forças produtivas e das relações de pro- fundamental, analisado em pormenor e sem qualquer

ãt
dução nunca pode ser efectivamente pensada sem "quivoco no livro I, e em nenhuma outra parte, que é
i,
i
o primado da relação de produção fundamental: porque, visado.

206 207

H
-história». Aqui também, é a distinção rigorosa tórico», pois é necessário prestar atenção aqui

ggglãe
ãÈÈiíË

ãËËã:

:s

ãËil ãíËË si,


do objecto real e do conceito, ou objecto de para não tornar aquém do que era justo, do que

gËãg;
conhecimento, que se impõe observar, se se quer é em Marx uma revolução teórica da qual
permanecer na corda bamba, sem inclinação depende a construção do materialismo histó-
nem para «a esquerda», no empirismo, nem rico: a definição do conceito de modo de produ-
para a direita», no formalismo. cão, a propósito do capitalismo (modo de pro-

ËËffi
dução material na forma necessária da explora-

Èï
cão) e das suas tendências históricas. Mas o
Problemática ideológica ou problemática desvio reside no uso que dele se faz, e que, me-
*c,g,ã,ËãÈËËËãÈiãEãããi ïËÏãiË

;e

ËË
científica da «periodização» diante um outro movimento das coisas, pode
reconduzir finalmente ao economismo.

I ãËïl
Mas por aí atingimos qualquer coisa de Digamos esquematicamente isto: pode dizer-
ãgÈg iãËËlããËËãuãÃEi 'ãËiãE

*ã'*s

ã* ïãË ËãË,leË
muito mais profundo, que nos pode esclarecer -se que o objectivo principal deste texto" é
sobre a raiz, na própria história do marxismo, mostrar que a «transição» ou a «passagem»
das dificuldades precedentes, até de certas con- (digamos claramente a revolução social) não
fusões. podem ser explicadas de forma evolucionista,

ãË
Esforcei-me, em L. L. C., por mostrar como mesmo traduzindo uma evolução na linguagem

EËË
a construção do conceito de «modo de produção» da «negação da negação», da «mudança da quan-

gËeãï
por Marx transforma de facto, radicalmente, a Lidade em qualidade», etc. O objectivo era mos-
problemática existente, não marxista, da «perio- trar que a transição não é, nunca é, por razões

Ë:u * rãE,
dização» histórica. Marx transforma assim um de princípio, o simples ultrapassar, resul-
a priori ideológico formal num problema cien- tado «interno» de «tendências» lineares obser-
tífico, cuja solução é justamente o conheci- váveis no próprio modo de produção e respon-

ËË ãË

gl
mento de tendências contraditórias, implicadas sáveis pelo desenvolvimento das suas relações
nos sistemas de relações sociais definidas, e de de produção características, mesmo se este

Ë*
processos eles próprios definidos de transição desenvolvimento é ao mesmo tempo desenvol-
ou de transformação das relações sociais. Há vimento de contradições (e de crises).

ãii ËË ãËË
pois duas noções de «periodização», ou antes, Excluindo-se de qualquer maneira que se

ËËiËË!;

ËËË
dois usos da noção de «periodização», um que frate dum efeito «externo», visto que não existe
releva da ideologia burguesa da história (Vol- rxterior do processo histórico. Mao lembra-o,
taire, Hegel, etc.), e o outro marxista e cien-
« seguir a Lenine, fixando assim uma «lei»

Ë
tífico. (isto é, uma tese de princípio) da dialéctica:

ãËi
Mas é claro também que, nesta demonstra-
“A causa fundamental do desenvolvimento das
ção, o meu texto de L.L.C. comporta um erro, ,
coisas e dos fenómenos não é externa, mas
ou antes um desvio. Este desvio não diz res-
peito de maneira nenhuma ao facto de conside-
rar o conceito de «modo de produção» como 1! Exposto por ele próprio no capítulo IV, «Elé-

>:
Êa x
um «conceito fundamental do materialismo his-

@.É
ments pour une théorie du passage», L. L. C., p. 178 e s.
a

208 209
interna.»' Mas é precisamente a modalidade relações de produção. Chegava assim, tenden-

glçgggãtsËl ggiiãiãËiËiËËãã

ËËããË;iããiËilãlgããg!Ëã$ãÈ,ËãgãiãË
ï ËË;iËÌ ËãiiË
aiãi i ïffiË ãËÈ fi
Ëi aã Ë ãt
estrutural desta contradição interna que cabe cialmente, a uma divisão mecânica dos «perio-
explicar, desde que ela é irredutível ao simples dos revolucionários» (transição) e dos períodos
desenvolvimento linear. A partir do Manifesto «não-revolucionários» (não-transição). Por ou-
comunista, Marx tomou como objecto o seu tras palavras, se me fosse necessário reconhe-
aspecto principal: a posição ela própria con- cer à «transição» os caracteres duma «história»
traditória do proletariado como classe — na no sentido forte (imprescindívelna realidade ne-
estrutura das relações de produção capitalis- cessária das suas formas concretas), era com a

tas, mas irredutível à sua simples reprodução. condição de recusar à «não-transição» a forma
Era preciso pois, do ponto de vista teórico, duma história (no sentido forte) e de a reduzir,
*ãiãËËËi;

mostrar que a transição requer a análise dou- quer se queira quer não, ao esquema do econo-
mismo.
tras condições materiais e doutras formas so-
ciais que não as que estão implicadas no único Esta concepção ficava assim inevitavel-

ããËË
conceito (abstracto) do modo de produção mente prisioneira da própria ideologia que
(na ocorrência: capitalista). Ou ainda, que a subentende a prática corrente da «periodiza-
ãË

cao», e que se trata de criticar radicalmente.


transição requer a análise dos resultados mate-
Com efeito, ela reduzia-se a identificar as noções
riais e das formas sociais (re) produzidos pelo
ã* Ë; ããiïËãËãËËËËà
ËãËËiËãËËãË

de história e de «transição». Simplesmente, em


desenvolvimento do modo de produção capita-
Ingar de dizer: tudo é sempre transição ou está
lista sob uma outra relação que não a relação de
ãÈ'Ë ïËË ÉÈËËãË ãããË

em transição, visto que tudo é histórico (o que é


produção unicamente capitalista.
“ historicismo corrente), eu dizia: não há histó-
Mas, paradoxalmente, esta «demonstração»,
ria real se não houver transição (revolucioná-
no meu texto de L. L.C., consistia em admitir
para o próprio modo de produção e, ao mesmo
ria), e nem todo o período é período de
se assim posso dizer, para os períodos transição. O que, seja dito de passagem, é um
tempo,
belo exemplo de aplicação da representação
de «não-transição» um desenvolvimento ou uma
empirista-linear do tempo como forma a priori
dinâmica «interna» simples, linear e, por isso
pressuposta pela periodização.
mesmo, predeterminada. Um tal desenvolvimen-
to seria perfeitamente a simples reprodução
Ë

alargada e a acentuação puramente «quantita-


ÊãÈ

O equívoco persistente do conceito

È
tiva» das relações de produção capitalistas tal de «re-
como são constituídas desde a origem: com as produção»
contradições inerentes ao próprio processo de
g

Mas, sobretudo, isso quer dizer que eu não


acumulação e de realização do capital, que se
Ë ã,Ë,

vonseguia sair do equívoco corrente sobre a


resolvem em «crises» mais ou menos periódicas,
noção de «reprodução» das relações
mas não põem em causa a própria natureza das sociais.
ã

Continuava a pensar sob este conceito simulta-


neamente a forma social da (re)produção das
1 Cf. Da contradição. condições da produção modificadas e em parte
O

210 211
ri
I'-.-_
destruídas pela própria produção e por outro lado mos que é a filosofia persistente da substância,

Ëi
a identidade consigo, a permanência das relações do argumento ontológico e do «princípio de
de produção dadas.' Eu dizia, em suma: visto incrcIia».
que na análise de Marx, a tendência para a acu- Mas o que explica também esta «recaída»,

ËËããiãËãÊg lÈãlããËiËgãgÈgilgiãiË
gtlËlË
mulação do capital (e todas as tendências é a força duma velha ideia económica, uma
secundárias que daí resultam, incluindo a baixa + ideia dos economistas, que lhes tinha
tendencial da taxa de lucro) é idêntica ao pró- permitido definir o seu objecto como um con-
prio processo de reprodução das relações de junto de leis naturais, contra as representa-
produção, é porque, por um lado, esta tendência covs estreitamente «políticas» e institucionais,
existe por si própria durante tanto tempo “ que se conserva mesmo através da tese pre-

íËËll*ãËgË;lÈiggãglt!ËiãeããgË
quanto as relações de produção capitalistas tensamente «marxista» da autonomia do pro-
«permaneçam imutáveis», e por outro lado,
vesso «económico» (em relação ao «resto» das
esta tendência não pode por si própria exceder, práticas, instituições, ete., sociais). Refiro-me
«fazer rebentar» os próprios limites da sua 1 velha ideia de que o processo econômico
existência. é assimilável a um mecanismo automático, «self
Ora, por detrás deste raciocínio, há uma
regulating», com a condição, bem entendido, de
velha representação filosófica. Há a ideia de
permanecer nos limites «naturais» do seu funcio-
que a identidade consigo, a permanência (in- namento. Ideia que os economistas procuraram
cluindo sob a forma da permanência relações verificar com sucessos provisórios ao nível do
implícitas num processo cíclico) não tem ne- é
mercado, do equilíbrio dos preços, etc. Mas
cessidade de ser explicada, explicando-se por si
preciso dizê-lo também, ideia «economista» à
própria, não tem necessidade de ser causada qual pode parecer que Marx, em alguns dos seus
(ou produzida), sendo causa de si própria. Só textos, tomados isoladamente, não escapou to-
a «mudança», enquanto mudança «real», isto é, tnImente, mesmo quando ele deslocava o seu
abolição-transformação da essência, teria ne-
nhjcetLo da esfera «superficial» do mercado para
cessidade duma explicação e duma causa. Diga- à esfera da produção e da «reprodução» de con-
mento das condições da produção. No próprio O
1 Cf. L.L.€., tomo II: «O conceito da reprodução
(upital, pode dar-se isso, se se isolar a teo-

!
;Ë;E:ïEBi:;çs

::Ë:Ë:,ËEËE:ã€
Ë!:iËlïËlËãË
;Ë:il;;:;:Ëã:

:3?b*õÊ3F;3ç-r
ËÊ:ëÉqËËáiE€
q -z-\9-õlão*

| .€] o da determinação necessária do movimento da ria «cconómica» do livro II, que é o lugar
:aãË-:e'ËcA*

gËc ËãeË

produção pela permanência desta estrutura; é o con- onde emerge, da «crítica da economia política»
ã..Ee
fl

ceito da permanência dos elementos iniciais no próprio


(designadamente a dos fisiocratas e de Adam
SBË:;r::

funcionamento do sistema» (p 1776-177); e mais longe:


«Este par de conceitos [=estático/dinâmico] permite “Smith), o conceito científico da reprodução das
5;E::3ãËi

| ) dar conta do movimento na medida em que relações sociais. Se ela for isolada (e quantos
depende unicamente das relações internas da estrutura, vconomistas, mesmo marxistas, a isolam assim!),
em que é o efeito desta estrutura, quer dizer, à sua exis-
esta teoria pode aparecer como uma teoria com-
gt

ãff
tência no tempo. O conhecimento deste movimento não
implica nenhum outro conceito senão o da produção e da plcta da reprodução do «conjunto» das condi-
ã

reprodução na forma específica do modo histórico de coces da produção. E como a teoria isolada do
Ë€
a:

produção considerado» (p. 194). livro II não faz mais do que mostrar como «se

g
212
n

213
Marx tomadas isoladamente estã directamente

Ëiã Ë iãËc+ Ë lËiËË


Ë

iÊËãËiËËË:ËãEÏ
entrelaçam», à escala social e por intermédio ligada a esta ideia que o próprio Marx fazia do
.

ãgggiã*

iãËaãËã tãlËËËËlã Ëgiããeu

ãiãËËË
da circulação mercantil dos seus produtos, os objecto de O Capital, e que logo de início,
diferentes processos de produção imediatos, isso nos pôs tantos problemas, devido ao seu carácter
faz crer que o processo de produção não repro- evidentemente empirista-formalista: a ideia de
duz só uma parte das condições da produção que O Capital estuda «o sistema capitalista na
(meios de produção, meios de consumo), mas a sua média ideal». Precisamente a ideia de que,
sua totalidade, ou as reproduz todas «potencial- nos nossos dias, todos os professores de economia

Ë
mente». política exploram para desenvolver sábias com-

ltfi
Mas esta perspectiva é manifestamente fal- económico «marxis-
gãiããËãlg narações entre o «modelo»
sa, pelo menos porque a simples reprodução ta» e outros «modelos económicos». Ideia que é
dos meios de consumo não é ainda, por si só, necessário transformar profundamente para
a reprodução da força de trabalho e não hasta pensar o objecto do materialismo histórico como

ãatããË ËI ËÈi
para determinar a sua forma social, mas cons- o processo de transformação de formações so-
titui apenas a base material prévia. A reprodu- ciais concretas, como tais singulares, e por con-
ção da força de trabalho (verdadeiro nó cego sequência não susceptíveis de aparecer como va-

íãËËÍ
do economismo) inclui com efeito necessaria- rintes dum megmo «modelo», ainda que, o que
mente, no seu processo, as práticas da supers- « bem diferente, a história das formações sociais
trutura.) ri época moderna seja fundamentalmente a
Por outras palavras, esta tendência errada história do desenvolvimento e dos efeitos da
ãlãããlllff,sgg

consiste em assumir a forma do processo de pro- «ua transformação por um mesmo modo de

ËËg
dução imediato não só no que determina mate- produção dominante, primeiro constituído «lo-
rialmente o conjunto do processo de reprodução cnlmente», mas de extensão necessariamente
mas também no que o constitui completamente, mundial.
pela mediação do mercado (um ponto carregado
de consequências, que será necessário analisar «média ideal» do capi-
por si próprias), e de que, por consequência, 1 Note-se bem, a ideia duma
l;lgt

EËË

ËËÍãËÍËiàËt:ã;rl
iiïlruiËËÉi;íËËã
ài ÉâFi::s*
:
tiËËãËEËãËËÊiãË[

EËÊt'ï;;;;ãËB Ë;:
l-ilççrï 9Ë*::ã:r
forma nenhuma implicada de ma-
todos os outros processos sociais (não «econó-
«mo não estã de

lË!iiËi:
ra mecânica no facto de estudar os efeitos tenden-
micos») não podem ser mais que expressões is do modo de produção capitalista sobre um
exemplo
ou fenómenos inessenciais (nos quais se mani-

eËiiËËãã;'ËËË:
parte em
histórico privilegiado, como o faz Marx em
privi-
festariam só a «lógica», as «necessidades» da D Capital, escolhendo o exemplo inglês. Pois este
lério (ao mesmo tempo que os seus limites) é cle
pró-
produção). o historicamente determinado pelo desenvolviment
o
Seja dito de passagem, podemos ficar conven-
ãíË

da Ingla-
modo de produção capitalista: o que faz
a
cidos, ao examinar os textos de perto, de que
capitalista
terra o país onde, no século XIX, a produção
formula ções de
I à forma mais típica, é o lugar da Inglaterra no
tentação «economista» de certas possui

e
(e
?!ii:i
mereado mundial, o seu «monopólio industrial»

s+ B:
precede
Hnanceiro), a sua dominação imperialista (que
da longe à época do imperialismo e não constitui senão
1 Cf. provisoriamente, sobre este ponto, o começo é o facto de a
ji

Não
6:

preparatórias).
.E?
'iã.
t.goõ

õ!
P"ò

condições
Ée7
õ dq
d(i
P,Ë

e apare- mm; das


do artigo de Althusser, já citado, «Ideologia os outros países,
'úÊ

ideal de todos
bo
"q

Injluterra ser a imagem

Ë
thos ideológicos de Estado».
A
ú
E

215

^
5
ôi
.+l

214
Não existe «teoria geral» da transição histórica « estrutura do modo de produção capitalista» '

;fiïcËgiËli!

ã'*iËËìËË:

gËsïrËÈËËei
(capital-dinheiro e força de trabalho «livre»),
não se trata, evidentemente, de dizer que o pro-
Podemos agora voltar ao meu texto de cesso de transição é ele próprio uma «génese»
L.L.C.. Pode ver-se aí de forma bastante ins- ou «genealogia» (o que, de resto, não teria muito
trutiva como o equívoco sobre o conceito de wntido), mas que Marx devia e não pôde senão
«reprodução» (de que a leitura isolada de certos tratar este problema sob a forma teórica (pro-
textos de Marx é em parte responsável) teve visória) duma genealogia, isto é, duma série
um resultado bastante lógico se nele reflecti- de «sondagens» históricas retrospectivas a par-
mos, no que diz respeito à «teoria da passa- lir de elementos do modo de produção capita-
gem». lista, tomados um a um. O que nos leva a

!
Com efeito, depois de ter assim posto o pro- constatar ao mesmo tempo:

'
blema, é de perguntar se o próprio Marx tinha
abordado, em O Capital, os problemas da «tran- — que é esta mesma forma teórica que lhe

ãggËËãËããË
lir;eiiãiËË
ïããíiËïããËg ËIïãï;ããE:
sição». O que se apresentou muito naturalmente permite descobrir, e expor-nos, a independência
era o conjunto dos textos sobre a acumulação relativa, e a distinção real, dos processos his-
primitiva, a génese da renda, as origens do capi- tóricos nos quais se constituem os elementos
tal mercantil, etc. Não há necessidade, parece- capitalistas da relação de produção (força de
-me, de modificar, no essencial, a orientação irabalho-mercadoria, dum lado, capital-dinheiro
desta análise. É fundamental aproximar os dife- do outro entre as mãos duma burguesia mer-
rentes textos e tirar conclusões desta aproxi- cantil); portanto, o facto de que a constituição
mação. Uma precisão simplesmente sobre este la relação de produção capitalista não é prede-
terminada, quer dizer, que o processo de consti-
ponto. Quando mostro nas análises de Marx
tuição não é teleológico;
uma «genealogia dos elementos que constituem
— e simultaneamente, que é esta mesma

iããããiÌãiã
ï!,=:çËrEr
é pelo contrário o facto forma (ou antes, a condição que a impunha a
de a «Inglaterra não dever ser
Marx: a sua teoria ainda incompleta da repro-
ãËï:s'ãgEtEãfËH

Ë;ËlÊ'!Ë:ËF;Ëã

; a;;
gfiÉ-3a"ËÊÈÊ,iÈE
s:ã;ãia::ï*

;?rt $i"ËÈi;;e í
c

Ëâ:EiãË;; iËi ËÍ

ËiË;ËilÊËãÍËËË

tratada como um país entre outros países. Ela deve


ÊãF- ÉË -9oÈ

ser considerada como a metrópole do capital» (Carta dução do capital) que de facto impediu Marx
do conselho geral da A.
Suiça românica, Janeiro
I. T. ao Conselho federal da de tratar a transição do capitalismo para o
de 1870, Marx-Engels-Werke,
socialismo da mesma maneira. É esta mesma
e;ll:i;

tomo XVI, p. 387). É pois, na realidade, o efeito dum


desenvolvimento Iistórico desigual desde a origem. forma que o levou portanto a tratar (em O Capi-
Engels desenvolveu esta ideia num texto fundamental: tul, insisto nesta precisão) a transição do feuda-
o prefácio da edição alemã de 1892 de 4 Situação da
classe trabalhadora em Inglaterra. Nos nossos dias, um
lismo para o capitalismo com base num modo
historiador marxista compreendeu notavelmente este
«histórico», se bem que incompleto, e a transi-
P

problema, e fez dele o motivo principal da sua análise: é


ãte
ã:t
"

Eric Hobsbawm em Industry and Empire, The Pelican


p;

Economic History of Britain, tomo III, Penguin Books. "+ LLC, tomo II, p. 186.

F-i
O
i

216
217

êq
F.l
Ì'-
cão do capitalismo para 0 comunismo sobre um da relação de produção fundamental sobre as

mlll
ãËãËÈËÈ

lg ãisl

;* ËË:rs ËEÈrËÈããilËãããËï
modo «lógico», isto é, praticamente a não tratá- forças produtivas na sua «combinação». '
-la. E isto, quando a conexão histórica necessá-
ria entre o desenvolvimento do capitalismo e à 2. Introduzia uma aporia indefinidamente
revolução proletária (conduzindo ao socialismo renovável dizendo respeito à formação deste
e ao comunismo)é, do começo ao fim, o próprio novo modo de produção, ou, se quisermos, à
objecto da teoria murais «transição» para este «modo de produção de
transição».
Para remediar este estado de coisas, pos-

iãlããiiãïããã!ããïlãã ËÈiãl
IïË
3. Sobretudo, introduzia a ideia duma «teo-
tulei, em L.L.C., que estes dois problemas eram,

ËããããÈËãgsgggllt
ria geral da transição» ou «das transições», ela
deviam ser formalmente da mesma natureza. E
uma
própria concebida como um aspecto duma «teo-
como a «genealogia» não pode ser senão
ria geral da combinação — ou da articulação —
íËããËlããããËãËuãããã,

forma teórica provisória, procurei conceptuali- dos modos de produção». Uma tal teoria é de
zar aquilo de que se tratava. Mas o único con- facto o substituto duma elaboração real da dia-
ceito de que eu dispunha para dar conta da léctica da história das formações sociais, no sen-
necessidade e da causalidade dum processo his- tido em que Althusser a tinha esboçado a partir
tórico era o do «modo de produção». Adian- do texto «Contradição e sobredeterminação».
tei, pois, que a análise da transição consiste na Mas tudo isso não podia aparecer clara-
definição dum novo modo de produção, dife- mente enquanto não pensassemos distintamente
rente do próprio modo de produção capitalista, os dois conceitos de «formação social», por um
se bem que «complexo», ou «contraditório», por- tado, e de «modo de produção», por outro lado,
tanto «instável» (caracterizado por uma «não- e a natureza da sua relação (excepto como a
-correspondência» fundamental entre relações simples relação do «concreto» com o «abstrac-
de produção e forças produtivas). Com isto, to», que tende sempre a passar ideologica-
anulava uma parte dos pressupostos anteriores,
visto que, logicamente, um novo «modo de pro- * Este problema não existe simplesmente quando

ãgïããËff;ãËÈln
ËË;ÉsãiiËËiãi
iiiËËËËË:ËËËiË
dução» não pode ser outra coisa senão um novo se nega o primado da relação de produção: pode-
processo tendencial de reprodução, como o pró- mos então contentar-nos com descrever o socialismo
em termos de «libertação das forças produtivas», de
prio modo de produção capitalista. Mas sobre- - planificação», de transformação das formas jurídicas
tudo: da propriedade e das condições da repartição dos pro-
dutos. Por seu lado, Marx pôs o problema em termos
que, por si só, o tornam solúvel, definindo o «socialis-
1. Introduzia o germe dum problema inso-
iiËãí,

mo» como «a primeira fase da sociedade comunista»:


lúvel: qual é a especificidade das relações de mostrando assim que o socialismo, como período de tran-
produção que define um tal «modo de produ- sição, não tem outras relações de produção senão as que
resultam da contradição entre a exploração capitalista
ção»? Problema ao qual se pode tanto menos ta mais-vaha) e o trabalho comunista, e das suas for-
escapar quanto melhor se reconhecer o primado mas sucessivas.

218 219
cocs surgem uma e outra do facto de nos colo-
mente à relação do «real» com o «teórico»).
Eis porque é particularmente interessante carmos separadamente dois problemas que, na
que
alguns tenham tentado, na linha destas formu- teoria de Marx, não constituem senão um:
lações de L.L.C., definições da formação social
como simples «combinação de vários modos de -— o problema do carácter historicamente
produção», isto é, como modo de produção «com- relativo dum modo de produção;
plexo», ou ainda modo de produção «de catego- o problema do papel da luta de classes na
ria superior», numa espécie de escala de tipos. história, e das suas condições de existência.
Sem querer alongar-me aqui sobre as difi-
culdades duma tal teoria, da qual a ideia de «teo- A partir do momento em que estes dois pro-
ria geral da transição» é uma aplicação particu- blemas são separados, o que os une na teoria de
lar, faço apenas notar isto: uma tal teoria é Marx (e constitui por isso mesmo a base da sua
substancialmente equivalente, se bem que mais «descoberta» revolucionária), a análise da mais-
complicada no pormenor, às formulações provi- -valia como forma específica de exploração de
sórias de Marx no prefácio à Contribuição à crt- classe, torna-se rigorosamente impensável. E
tica da economia política (1859), que reto- cada um destes problemas, artificialmente isola-
mam temas de 4 Ideologia alemã que dizem do, dá lugar a formulações ideológicas simétri-
respeito aos estádios do desenvolvimento das cas, seja relativistas, seja evolucionistas. Por
forças produtivas, formulações que pesaram exemplo, dir-se-ã que o modo de produção capi-
muito na história do marxismo depois de Marx. talista não é um modo de produção da riqueza
É equivalente por sugerir, se bem que por material «em si», mas somente «nem mais nem
meios diferentes, a existência dum mecanismo menos» que a feudalidade ou o esclavagismo,
universal da transformação das formações um modo de apropriação do trabalho de outrem
de não pago, que se distingue apenas por uma
sociais, que se pode deduzir do esquema
estrutura «da» formação social em geral (é o
«maneira diferente» de o extorquir. Dirigindo-
-se ficticiamente ao capitalista, diz-se-lhe: «a
mecanismo da contradição da forma e do con-
do invólucro das tna mais-valia não é mais que uma variante da
teúdo: a famosa «estreiteza»
corveia ou da renda», e desenvolve-se uma cri-
relações de produção que o desenvolvimento
espontâneo das forças produtivas faria periodi- tica do capitalismo que consiste simplesmente
em mostrar a sua relatividade histórica.
camente «estoirar»).
Inversamente, para explicar o papel da luta
Esta aproximação ilumina ao mesmo tempo
de classes na história e ligá-lo à perspectiva
um facto epistemológico fundamental, que é a
revolucionária da sociedade sem classes, dir-se-á
solidariedade e até a interdependência necessá-
que ela vai buscar a sua origem a condições
ria das representações evolucionistas e das re-
materiais muito antigas
— a «raridade» dos pro-
presentações relativistas (tipologistas ou estru-
dntos, o «não desenvolvimento» das forças pro-
turalistas) da história, aparentemente opostas,
dutivas —, e que está destinada por isso mesmo
mas simétricas, e umas como as outras não
a abolir-se na base das novas condições que são
dialécticas. É claro que estas duas representa-
221
220
o «desenvolvimento impetuoso» das forças pro- tinham então sossobrado um grande número


Ë *ËËëËi;Ëiiaft

E
i íËff {!€ lããË:ããtËtg a;€iã*ãï
* : t í; Ê i lE g I ïã: ãËãiËEËe sËï Ë i r: Ë Ëï

ïpsïE ;;,E.iaeeg;gïcxqá+Ëi ã3H+gË


ËËãÊË

5ËËãi EËã'ïË*;tiii$r?Í*Eq,
ciËÈã Ëq:ãËããããããËËËtiË:

.El

Ë Ë: ã'*':*lã€ç
;
,
=2
gã€Ëi ;FicììEi-eË;ÍsËãi:Ë
Ë

:E t
o s:ËÈ ã sËt
ã, ! Ë E! [É H "$"r3BE;ã3 Ë ['1: ge ï'Ét,g ã'E€
dutivas, «a abundância». Reconstituir-se-ia de marxistas.

iË; E

Ea'15
i.EgË ËãsE,:'Eï'9s ï s$Ëi ã +# ïÉEE s E=
assim uma teleologia, de aparência «materia- De facto, a própria existência do materia-

€È1Êese
l;
ÉEüE
* Ë È,9:333e3É ÈE€ a à aâ;r È s ã H I E
lista», mas apenas de aparência (e, de facto, o ismo histórico implica a seguinte tese: há uma

Í á...:Ë Í:.fÈ f i:;-Ëê*



evolucionismo é a teleologia sob uma aparên- problemática geral da «transição» nas forma-

n;*ËÉE gËfË-È ã.;E.Eã=ã! a:ã


cia materialista). cocs sociais, isto é, da «revolução nas relações
Ë"il€

q,
t
A partir do momento em que estes dois de produção», das suas condições materiais e

Ë ËEE

Ê-
È g€ 9*; *:-3 o 3 õI: E ì?F:: È'ã
problemas são separados (como estiveram mui- dos seus efeitos. Pois o próprio conceito de

s.€ s e_€ iE aË gì i: sEÍ


tas vezes depois de Marx), já não podemos «suciedade de classes», assentando em modos de

Qç; E;,9g
colocar nunca mais em termos científicos produção que são ao mesmo tempo modos de

c.sé,8ïãË gÈË f;EH cEã.98"


3: Fi:F,F;::il,F BE ; Ë q tË :
a questão de saber por que motivo nenhuma exploração, não pode ser constituída sem refe-

Ë:*E x E$;ÃrE

eÉ:-i4 ã er;Ë.; p.g Éã Fïgõ À-


ïËgËïËããËË

forma de relações de exploração nova é rência à transformação histórica dos modos de


possível para lá das relações de produção exploração (por outras palavras, não há explo-
capitalistas. A revolução social que destrói ração em geral, mas apenas formas determina-
as relações de produção capitalistas aparece das de exploração).' Mas nem por isso há
como um simples caso particular do mecanismo teoria geral da transição, no sentido forte da

:i iËïïËËiËËËã
geral de contradição/reajustamento das relações explicação da causalidade real dum processo.

io Y:=
de produção e das forças produtivas. E o seu re- Pelo contrário, constata-se que cada «transi-
sultado específico,a abolição de todas as formas ção» histórica é diferente, materialmente e por-

eÈ.8Ër Ë ;$ÈÉ
de dominação e de exploração de classe, perma- tanto conceptualmente, e é precisamente esta
nece inexplicável e até impensável, isento de con- diferença necessária que a problemática do
Ë€

teúdo próprio. Pode deixar-se o campo livre, em materialismo histórico permite compreender.
Ë'EË ïËËË93

E t:; s 3'
conjunto ou separadamente, ao relativismo na Este ponto é duma importância política fun-
ãt:Ës-.Ët

definição das relações de produção e ao evolu- damental, se é verdade que os teóricos marxis-
cionismo na análise do desenvolvimento das tas, a começar pelo próprio Engels, tiveram por
forças produtivas. ! vezes tendência para considerar como processos
É crível que a tendência relativista inega- análogos a «passagem» do feudalismo
ËãããËË

para o
pEre:-
uËìFiE

Ë*
velmente presente em algumas das minhas for- capitalismo e a «passagem» do capitalismo
mulações de Lire le Capital (a maior parte das
vezes com uma terminologia de tipo estrutura-
gËË

lista) não foi mais que o contragolpe, e o efeito t Como notou Marx muito claramente, em O Capi-

?:;gËE Eãg

ã

ÌË;Éi.À.õ^
s.,see-Ès fEe

:5È'Ê
"-
::::;gã:8ã
ÈlËË;eEep*

t:gË::erc
içs8-9ë.8€
3ÈE

iFg:;ËËÃ;Ë
indirecto, da tendência evolucionista na qual tal e na Critica ao Programa de Gotha, o «sobre-

! -oe ; ?! 7 " .'ã

"i ãs,â ïÊ
oãõI B
È:iËg!l
trabalho», considerado quantitativamente, isto é, como

E,:;;ËË
excedente em relação ao «trabalho necessário» à

Eã õ,9Íì 3
"sfi
reprodução da força
!.3!de trabalho social, existe em
* Esta complementaridade ideológica do relati- todas as sociedades, incluindo a sociedade comunista. O
r:)

Ë.:Ë: ã

.E
F d- o,;

sã;È
*cgÊÈ

*çã 8*

o í; S
"Eãii N
E;õËE
ç; " !'à
:.:1 F i
c

gõEF
I d -!i

^
_ã Ë

vismo e do evolucionismo, que só na aparência é sur- "Subretrabalho», neste sentido, não pode pois constituir

aE r€
> o-9F

".

!d;õ;^

aF.Ê
-"9

preendente, foi claramente relevada, ultimamente, por o conceito geral da exploração. É necessário considerar

ã
ÉÈ

Claudia Mancina, «Struture e Contradizzione in Gode- formas sociais definidas de exploração do trabalha-
"36,
qo

ãà

lier>, Critica Marxista, 1971, n.º 4. dor e da sua força de trabalho.


É'

.
222

N
C\
para o socialismo, Por exemplo, definindo o pro- aliás ser o desenvolvimento ou a evolução dum

Ë:; í;;;

,iiËPsãHgsEËE;F3rHt:Ëg

:9ãgEs;cE:i=Ë;;Ë.:ïàt.E s ir
ELEP*èãiÈqãsÈÉl:ï ËË= Ë :i
;iEÌËi eE S:9Ë
É3-"ãFõã:Èl.ia,Rd"q'ã"õòo i ã;.

;
íË

EtËl:iËlË*i33ere':,:sii
.;F*EH.gdeFs*!ifrEï=;,aã
:X:lii.tsE,F.ËqoeoqEFEEg+X

:€xic!;È:ts€:*tËEË:fË
E"ÈËÕËi;ftEiE;súã:,bEEH s ËE *EËãÊtËËte
roBalcd.,Èar

ããË$ËãËËËËÈ; ã:
letariado moderno como o «representante» do modo de produção (nomeadamente o capita-

gl
EK
movimento das forças produtivas da mesma lismo). Para disso termos consciência, basta

ËS
maneira que a burguesia «representava» este dizer isto: é impossível dar conta da especifici-

ggrggff gff
H
movimento no seio da sociedade feudal. Ou dade de cada «transição» revolucionária se não


ËãÉIãË€fiË€ËËËÈ HËËE
explicando que a burguesia se torna em certa à ligarmos não apenas à forma geral caracte-

.9.o.S
época uma classe socialmente «supérflua», por- rística das relações sociais anteriores (por
que «exterior à produção», da mesma maneira exemplo, a forma capital/trabalho assalariado,

X'õ S b o c.9
que o feudalismo se tinha tornado uma classe e o lipo de combinações contraditórias das rela-
«supérflua» de rentistas, etc. ! Lenine, pelo con- «ões de produção e das forças produtivas que
Ãü;:

j.
trário, insistiu na diferença irredutível dos pro- ela implica), mais ainda à história específica

,r.
cessos, sem o que não teria nunca podido com- do modo de produção anterior, isto é, à histó-

ásÈ;

tr
preender e explicar a sua combinação, a sua ria das formações sociais que repousam no

ôú
condensação «excepcional» e «paradoxal» nas desenvolvimento deste modo de produção.
gãE

Q
revoluções russas de 1905 e 1917. É preciso - De facto, o primeiro que, como consequên-

ffi
".

o o .!

ffgiÏiËff ËãËff ËãË ffãii'Ë,


assentar nesta tese geral de que o materialismo cia do constrangimento material das circuns-
b

Ë HË
histórico não é apenas teoria da necessidade da tâncias sobre a sua própria orientação teórica
I

, * . .,

transformação (revolucionária) das relações revolucionária, tomou toda a medida teórica


Èie5

@
sociais, mas teoria da transformação do modo deste facto, não foi Marx, mas Lenine. E esta

a
o

de transformação das relações sociais. De forma


$: Ë .È descoberta implica finalmente uma rectificação

ggíisssssg
cs
que duas «revoluções» não têm nunca o mesmo de certas formulações provisórias de Marx. É
Ï

o
conceito. Lenine, na medida em que demonstrou que o
processo de «transição» revolucionária «socia-
lista» não estava ligado à existência das rela-
Subtrair do conceito de «tendência» todo o
ÈÈ Ë-

ìi +-
€È

è
I Ë Ë ËË
!C
!

o
ções de produção capitalistas em geral, mas à
evolucionismo
ì

cristência dum determinado estádio da história


to capitalismo: o imperialismo, que, por este
Esta tese está ela própria estreitamente
.:Ë
?E

tH i;;!,ËUp"9
;:
l,A

facto (e apenas por este facto), se torna o está-


ligada a uma rectificação do que nós pensamos
dio «último» («supremo») da história do capita-
p

1 Marx contentou-se com lembrar que o proleta-


lismo. O processo de transição revolucionária
Ë;:tg:uçsxs

;o s,^
:
ii
: Èü fla FEã I ae

c fÌJ'"tJ
ooã;Ê^õ"'ã's
; õ;: È ^ 9:: i,'o)
;ìs;iïlgiq,
F 1Ë.E e ËÈ ? ets

3ãÈ I3S.i"tË a

riado deve fazer por sew turno «a sua» revolução, como depende pois de «formas transformadas» deter-
l:s:ïËE e:5

e
"treEË

a burguesia fez a dela. Mas Engels quase fez a teoria minadas das relações de produção capitalistas e
t9:ËÈËFas
gE:ËË--f ãi

i:i:Ë;!Ë

desta analogia, ou antes, fez desta analogia a própria a luta de classes na época do imperialismo (e
N.::1â\,áì*e

base de exposição do materialismo histórico, sobretudo


em Socialismo utópico e Socrulismo científico, e mais nao somente, bem entendido, das forças produti-

g
È:f

claramente talvez no seu artigo «Notwendige und lber- vas no interior do «quadro» exterior de relações
i
fliissige Gesellschaftsklassen», Classes sociales nécessai- de produção por alterar). De forma que o pro-
ãË

res et classes sociales supérflues (1881), M. E. W.,


.: - o

blema duma análise da


"

tomo XIX, p. 287 e s., em que Kautsky se inspirou


revolução socialista
(proletária) e do que é o próprio «socialismo»
ã

Lenine, ele, nunca o fez.


q

224 225
N
da ciso, pelo contrário, perguntarmo-nos de que
como época histórica, se torna inseparável

ËãtãËã;
ÊËãËË;ËÍËËrã

iãË'ãì
Ë
imper ialis mo, porta nto do probl ema modo uma «mesma» tendência pode achar-se
análise do

ËËË * Ë:r
his- reconduzida, reproduzida como tendência, de
dos estádios (ou períodos) determinados da
Forçoso é constatar, para forma repetida, de maneira que os seus efeitos
tória do capitalismo.
das
voltar ao meu ponto de partida, que uma
de acumulação, de concentração, ete., sejam
orientações do meu texto de Lire le Capit al con- cumulativos segundo uma aparente continui-
vergia precisamente para tornar rigor
osamente dade. É a luta das classes, nas suas conjunturas

"*ËËËËË
estes estádi os, isto é, estas trans- sucessivas, na transformação da sua relação de
impensáveis
uÉË€Ì *

to no forças, que comanda a reprodução das tendên-


formações históricas qualitativas: excep

ucã*
cioni sta corre nte de cias do «modo de produção», portanto da sua
sentido economista e evolu
«estádios de desenvolvimento», etapas lineares própria existência. É preciso então perguntar-
na realização duma tendência em si própr
ia por mo-nos sob que forma uma tendência pode reali-
zar-se (produzir efeitos históricos), tidas em
alterar.
esquematicamente, vemos conta as condições da sua própria reprodução
b::a=:ãi *i;ËË ;eËaus
iÏ ãÈãilË ãËË+çËiËl Ëã

ïË ËãËãïãËããËÊ1ãËïiã
muito
ã

Sempre
ição na luta das classes. É preciso perguntarmo-nos
pois que o exame do problema da trans
ãËE

s uma reto- de que modo é possível esta reprodução mesmo


socialista pressupõe entre outra - que, na formação social, único «lugar» real do
nto do probl ema da histó
mada crítica de conju
capit alism o, e uma refun dicçã o da nossa processo de reprodução, as suas condições mate-
ria do
iË : Ësi ããÈËÈ ãã:Ë

- riais (incluindo as suas condições políticas e


«leitura» de O Capital em função deste proble
quant o O própr io Marx ulcológicas) tenham sido historicamente trans-
ma, tanto mais difícil
Em formadas.
o não abordou senão muito parcialmente.” na
e, mesm o Por outras palavras, é preciso romper,
particular, isso pressupõe que se retorn prática, com a ilusão ideológica de que eu falava
à quest ão da repro du-
ao nível mais abstracto, «cima, e que faz com que a existência duma
e das «tendências» do modo de produção
ção
so sem tendência» histórica surja ao mesmo tempo
capitalista. Deste ponto de vista, é preci como a tendência desta «tendência» para persis-
a formulação habitual: não se
dúvida inverter
dizer que há no modo de produção uma ur, portanto para se realizar, etc. E para isso, é
deve necessário compreender que não é o modo de
ões de
tendência para à reprodução das relaç que «repro-
ncia (para a acu- produção (e o seu desenvolvimento)
produção ou, antes, uma tendê
ão do capita l, a eleva ção duz> a formação social e «cngendra» de corta
mulação, a concentraç maneira a sua história, mas pelo contrário, a
realize
da sua composição orgânica, ete.) que social que reproduz (ou
de produ ção. É pre- lustória da formação
a reprodução das relações não) o modo de produção no qual ela assenta, e
explica o seu desenvolvimento e as suas trans-
Nada seria evidentemente mais ruinoso
do que lnrmações. A história da formação social, isto é
; ç x."j j
Z', P,t o
i i? Ëe
';Ié,!-

È
: I"Ãx
iSox

»
ú

retomar aqui por nossa conta a idea dos coment ado- « história das diferentes lutas de classes que aí
*..
gg",È

O Capital seria
res burquescs de Marx € de Lenine: »* compõem, e da sua «resultante» nas conjun-
à-.

XIX), O Impe-
a teoria dum estádio histórico (o século turas históricas sucessivas, para empregar uma
rialismo a teoria do estádio seguinte.
ã

227
226
ãì
frequente em Lenine. Nesse aspecto

= 3:Ê€
.ÚÈHÍ€?

ç *€
fórmula

- t/) or Yrd
-Hr
,EEÈ sã Ë

-e

n!
óa) ã Ë s
ã,3ÈËÊ;
33! I u.È

sf o ÍÈ ã
9I
ïcÊËËLs
tr a,L o =
F h F õ,H:ç
f 0, X,:iot Ê t5

iY* sõ Ê
í N u ^ -'o.â
estaremos talvez em posição de contribuir efec-

9.Ën
Ei'F"i s x
tivamente para o marxismo-leninismo, segundo

r9*:
ã.a
È.I àtrg,9
as exigências do nosso tempo e das suas contra-

N.É
dições: não para o marxismo seguido do leninis-

ç:

t;
o
mo, mas, se me é permitido dizê-lo, para o mar-

*
Ë
È
gE
__
xismo no leninismo.

E
^
i
V

'È*sÈÌ:ÈËtËtÈÈÈigê::iiÈ
MATERIALISMO E IDEALISMO NA HISTÓRIA

F
-.
;:Ë ;;i ãs ;
=>
ãã Ëq:ç
is r
Ë Èii :
F
DA TEORIA MARXISTA

Com efeito, nunca mnguém luciou em mudas

;;È

ia; Ë'
çÉ€,
:l:
o sentido duma palavra, ao passo que se lucra


muitas vezes em mudar o sentido dum texto

SPINOZA, Tratado teológico-político, 7

Um adágio muito conhecido diz que, se os

;g$Ë:ltiãË*ìrÈi_

tËiSe:È::è€;iÈi
È;tlsã;ì$:f!3sí
*;ÈË;ìi!:È;tÈii
ãÈË:;:ËÈcì;ÌÈìÈ

rì:;ltËii:ÈÌr
ìËi::Ëi3Èì;;Ë;; Ë
axiomas geométricos fossem contra os interesses

tË{ii,s;lrFÌF.:Ès
dos homens, tentar-se-ia certamente refutá-los.
As teorias das ciências naturas, que iam con-
tra os velhos preconceitos da teologia, susci-
taram e suscitam ainda uma luta feroz. Nada
de espantoso no facto de a doutrina de Marx, que
serve directamente para esclarecer e organizar
a classe avançada da sociedade moderna, indicar
as tarefas desta classe e demonstrar que, como
consequência do desenvolvimento económico, o
regime actual será inevitavelmente substituído
por uma nova ordem de coisas, nada de espantoso
no facto de esta doutrina ter tido que conquistar

i;
com lutas violentas cada passo dado no caminho
da vida.

ã LENINE, Marxismo e Revisionismo, 1908

Ë
229
ôT
c.l
ao

ft
6 preciso denunciar q ticos, económicos, ideológicos, que têm as clas-

!ìdsB
ser marxista,

ã.Fts.
.I ËeÈ
e Éì":Ê

!:È:i
ëoéP
. sÈ i
ts u 3
rQrEs P-
ÈÈ

3"3
Para


s€ F.s i
-qr^:Èq
!*l?Ãs
E:tltR
è
ç o.s "
'.È og
«hipocrisia marmista» dos chefes da II Interna- “es sociais por actores (tanto quanto as classes

c.! È I
5
cional, é preciso encarar sem receio à
luta das sociais são pensáveis como «actores» na histó-

Ê;
b! Ë Ëg
Èg
duas tendências no seio do socialismo, é preciso luta); mas também os efei-

3:
ria da sua própria

r! u
È
esta
reflectir a fundo nos problemas postos por
tos prolongados das contradições internas, dos

P
F
luta.
conflitos de tendências anteriores, que não
LENINE, O Pacifismo inglês e q aversão foram abolidos pela história. Basta, para se

,3
ËÈ
a.È
z
Êi:
o{

3,^
e

9 "g

õÈ
inglesa pela teoria, 1915 ficar convencido, considerar a literatura actual.
Mais que nunca, é à volta do «leninismo», à
volta do «maoismo», para não falar do
«Lrotskismo>», do «stalinismo» ou do «luxembur-
suismo», que se desenrolam as lutas teóricas
propor aqui alguns elementos de

iç: ã:i Ë ïfu ,ËïiË!*:


Ëãsãi
ãilãÈã'iãËãããããïsïËt;ãi

Queria cuja aposta é uma política justa.


apreciação e algumas reflexões dizendo res- Em segundo lugar, é igualmente claro que
peito à seguinte questão: O que é q história da colocar uma tal questão, é reconhecer a necessi-
teoria marxista? E queria demonstrar que esta dade de aplicar à própria teoria marxista
questão, se não se confunde de maneira ne- (incluindo no que diz respeito à sua constitui-
nhuma com a exposição da teoria marxista, No
*ãã:

cão na obra dum teórico chamado Marx) os


seu estado actual (que não é uma recapitula- princípios de explicação do materialismo histó-
ção das suas etapas anteriores), não é por isso rico c dialéctico. A teoria marxista é, como tal,
uma simples questão de erudição. É essencial uma realidade histórica. Não, portanto, um
ao próprio desenvolvimento do marxismo. objecto de veneração, mas um fenômeno social
Farei primeiro duas observações. questão hoje
Ë

explicável. No entanto, pôr esta


Em primeiro lugar, é evidente que a posição
ã: t

é também reconhecer que esta aplicação consti-


desta questão comanda toda a apreciação (ui ainda, no essencial, uma tarefa a cumprir,
objectiva duma «novidade» teórica na teoria “o bem que tenha sido esboçada, sob a forma
Há «novidades» que são velhas luas, de elementos, desde o início. É preciso portanto
gt

marxista.
simplesmente revestidas duma nova terminolo- que seja colocada a questão das causas histó-
gia, e há novidades efectivas, dotadas de um
Ë

ricas desta «lacuna», se realmente ela existe.


conteúdo actual e revolucionário: em últi-
Ï I i:ãããã ãl

ma instância, é o «critér io da prátic a» que 6


ããïËãËÊ

aparec er. Mas toda a posiçã o teórica ,


faz | HISTÓRIA DA TEORIA, HISTÓRIA DO
depois de cem anos de história do marxis mo, A IMPOSSÍVEL
MOVIMENTO OPERÁRIO:
se insere no jogo das tendências distintas, até OBJECTIVIDADE
opostas, que o partilham entre si, e cuja diver-
ããã:Ë,

gência não pode ser reduzida a um incidente Afirmar que a «história» materialista da teo-
desagradável. No jogo das tendências opostas ria marxista ainda não existe, que está ainda
do marxismo ressoam profundamente, positiva
Ë

hoje por constituir, no sentido forte, não corres-


negativamente, acontecimentos e processos polí-
[

231
230
ponde a dizer que nós nada sabemos de preciso, Em O Capital, em particular no posfácio da

ËËiËËã
ãiããiïiãggglãgggg,g
de útil e de exacto sobre a história do marxis- segunda edição alemã, e no livro IV («Teo-
mo. Significa que não sabemos ainda como rias sobre a mais-valia»), Marx estuda sob uma
explicar esta história no seu conjunto, que cau- forma ao mesmo tempo muito sistemática e
sas lhe atribuir, como determinar-lhe os mo- cxtraordinariamente minuciosa a história duma
mentos e as tendências objectivas, como fazer disciplina «científica», a economia política. Mos-
dela a teoria materialista. tra como constituiu progressivamente uma, defi-
Que significa esta afirmação? nição objectiva do valor, definição que se apoia

*íiãitãËiï
Evidentemente, para quem quer que conheça num conceito abstracto fundamental, o do
um pouco os textos, o marxismo não deixou, «tempo de trabalho socialmente necessário» à
esde os seus começos na obra de Marx, de pôr produção das mercadorias. Mostra ao mesmo
este problema e de lhe trazer elementos de res- tempo em que limites internos intransponíveis, e
posta. Avançando a tese acima, não só não pre- no entanto contraditórios, este conceito perma-
tendemos ignorar, ou recusar, estes elementos, nece encerrado até Ricardo inclusivamente. Mos-
mas afirmamos que eles são ainda praticamente tra como são articulados na própria teoria
subestimados, que não são utilizados na sua os novos conceitos, revolucionários, que fazem
totalidade para contribuir para a solução do «saltar» esta limitação: o conceito de mais-
-valia e a análise do «duplo carácter» do tra-
problema.
balho social, etc. Mostra como, tanto esta cons-
Assinalaremos apenas alguns, muito alusi-
Ë Ë'ËããËiËiË
Lituição como esses limites da economia política
vamente.
estão ligados a fases determinadas do desenvol-
Assim, Marx e Engels, em A Ideologia alemã
sliïgfuãËi

vimento do capitalismo e das manifestações da


e outras obras do mesmo período, colocam esta luta de classes, da mesma forma que a consti-
tese essencial: toda a teoria (incluindo e antes tuição do socialismo científico e a decomposi-
de mais a teoria da história) é ininteligível se cão correlativa da economia política «científica»
não for reportada às suas condições materiais em economia «vulgar».
de reprodução, e o conhecimento científico da No que diz respeito a Lenine (voltarei aí
sociedade resulta ele próprio dum processo dentro de momentos), não só desenvolve estas
social, na época em que as contradições do capi- indicações, as apresenta sistematicamente em
talismo fazem surgir, como uma tendência numerosos textos, como acrescenta explicações
natural, o movimento revolucionário do prole- fundamentais, em particular a propósito da rela-
tariado. cão entre a história da teoria marxista e a do
No Manifesto comunista, no Anti-Diúhring, movimento operário, das suas formas de orga-
ããËãi

entre outros textos, Marx e Engels estudam nização sucessivas, das suas lutas internas
Ë

em pormenor as diferentes formas do «socialis- entre várias tendências.


íÊ

mo utópico», e as condições históricas que tor- Não basta prosseguir este trabalho, desen-
naram possível e necessária a sua transforma- volvê-lo, como o fizeram e bem, alguns historia-
cão em «socialismo científico». dores marxistas? Que mais precisamos de
g,

232 2833
pedir? E não será uma extraordinária presun- todo o movimento operário (penso na invasão
cão pedir alguma coisa mais? da Checoslováquia).
Antes de responder, permitam-me antecipar Como é tratada hoje a história do movi-
e deitar uma vista de olhos sobre um problema mento operário e do socialismo, do marxismo
vizinho, que descobriremos ser fundamental- nas relações com o movimento operário?
mente o mesmo problema. Quero dizer: como é ela tratada pelos marxis-
O marxismo não é apenas uma teoria. Se não tas, os únicos dos quais, se me for permitido na
insisto mais para já, é porque em princípio ocorrência, espero uma explicação materialista?
todos o sabemos. O marxismo é também e antes Esta história é sempre tratada duma forma
de tudo uma história prática, que se confunde directamente política. Não é caso para nos
cada vez mais, mas nunca totalmente, com a admirar nem para nos embaraçar. Estamos
história do movimento operário e do socialismo persuadidos, pelo contrário, seguindo nisso a
modernos. lição de Marx e de Lenine, que citei mais acima,
de que a história do marxismo e do movimento
Não temamos chamar aqui pelo seu nome os
operário é uma questão fundamentalmente poli-
momentos desta história. É a história da 1 Inter-
nacional e das suas lutas de tendências entre tica, toda ela submetida às lutas da actualidade,
entre marxistas e que a iluminam e de que ela faz parte, pois
marxistas e sindicalistas,
sentimos todos os dias as consequências mate-
anarquistas, etc. É a história do desenvolvi- riais desta história, temos que ver com as ten-
mento dos partidos socialistas nacionais, no dências que ela manifesta já. Pensamos que esta
começo do século XX, das lutas entre marxismo história não pode ser compreendida senão dum
«ortodoxo» e «revisionismo» ou «oportunismo», ponto de vista político porque apenas pode ser
até à crise da II Internacional, aberta pela
compreendida de um ponto de vista de classe.
guerra de 1914, e conduzindo ao seu eclodir. É Mais que isso, como marxistas, não vemos
a história da constituição dos partidos comu- como poderia sê-lo doutro modo, exigimos que
nistas, do seu antagonismo ou da sua aliança a forma da explicação corresponda ao seu
com os velhos partidos sociais-democratas, objecto material.
cujos efeitos ainda hoje se fazem sentir. E toda Mas ao mesmo tempo, somos obrigados a
a história violenta e contraditória dos partidos constatar— digo bem, constatar, ainda que
comunistas e da União Soviética, a seguir da toda a gente não queira, tendo contudo estu-
revolução chinesa e dos partidos socialistas. tado as obras científicas do marxismo, ou não
É a história que conduziu, nos nossos dias, ao possa, ignorando-as, fazer esta constatação —
lado dos seus imensos sucessos, que fizeram que esta história nunca é, ou quase nunca, tra-
recuar o imperialismo, a exploração, a guerra, tada, estudada de forma científica.
a miséria (estou a pensar no Vietname, em Pelo contrário, hoje esta história é sempre
Cuba), a cisões irreconciliáveis (penso no (ou quase sempre) tratada dum ponto de vista
antagonismo da União Soviética e da China «pologético. Naturalmente, não viso aqui os sim-
Popular), a tragédias que fazem estremecer ples e indispensáveis trabalhos de documenta-

234 235
,
mente à inteligência da história devessem de

iígiigilãgigããËããggË*

;'ãËËËËi ãïãu"
cão empírica: mas o seu próprio desenvolvi-
repente ser esquecidos. Tudo se passa como se o
mento ressente-se desta situação. Se pensar-
mos que, nesta ou naquela das suas partes, a marxismo fosse capaz de os aplicar a todos os
momentos históricos (ao menos em direito),
prática actual do movimento operário está
salvo à sua própria história. Salvo à história
correctamente orientada, temos de constatar
das formações sociais e das lutas de classes do
que, nos pontos essenciais, esta prática ignora
a sua própria história. Também não há ainda presente, visto que ele aí está implicado, como
cfeito e como causa, a título de actor, e por
uma verdadeira história marxista do movi-
mento operário, em particular da II Interna- vezes de actor principal.
cional e da III Internacional, dos partidos Situação paradoxal, da qual noderemos tal-
comunistas, dos países socialistas. Há, por um vez dizer mais tarde que bastava reflecti-la
lado, histórias edificantes, que justificam a pos- correctamente, assumi-la como tal, para deter-
teriori este ou aquele momento da história do minar já alguns elementos da sua solução. Mas
marxismo (ora como um bloco sem falhas, ora é preciso reconhecer para já que ela é à pri-
distinguindo os «bons» e os «maus» lados a fim meira vista completamente desconcertante.
por outro, histórias
de responder aos críticos),e, Viu-se bem tudo isso quando se tratou, nos

ËïË;
também edificantes que condenam e marcam países socialistas e nos partidos comunistas (não
de infâmia este ou aquele momento (eventual- falemos do que podemos encontrar por fora), de
mente os mesmos). Não há ou quase não há, tirar as consequências do XX Congresso e das
quem os explique pelas suas causas materiais e transformações políticas que se seguiram à mor-

-Ë*
a dialéctica destas causas, da mesma forma te de Staline. Desenvolveram-se então de diver-
como Marx explicava pelas suas causas mate- sas maneiras as implicações dum conceito acerca

gsi
riais e o desenvolvimento das suas contradições do qual Althusser diz justamente que é «inexis-

1;5;'ãËËiËEiãËiË,
internas a história do capitalismo, a revolução tente» na teoria marxista, o conceito do «culto
industrial, as lutas de classes em Inglaterra, em da personalidade» de Staline, e com ele o concei-

gi;iglgsiiËËíí
França e na Europa, o socialismo utópico , etc. to da «violação das normas da legalidade socia-
lista». Conceitos inexistentes na teoria mar-
Spinoza dizia, duma forma profundamente
materialista, que, para o «filósofo», não se trata xista, porque são conceitos ou psicológicos e
de rir, não se trata de chorar, não se trata de psicosociológicos, ou então jurídicos e que rele-
se indignar, mas trata-se de explicar (intelli- vam da ideologia jurídica das instituições e do
natureza das coisas, a natureza dos Estado. Conceitos que não valem mais do que os
gere) a
dos «crimes de Staline», da acção da «burocra-
homens vivendo em sociedade, relacionando-a
com as suas causas. E isto, como ele próprio cia», ou da «degenerescência da revolução ope-
não se opõe ao facto de agir, de tomar rária», etc. ou ainda que o da retomada do
mostrou,
partido. Pelo contrário, é uma condição. poder por uma «“clique” de dirigentes», que lem-
bra a forma como o racionalismo do século
Tudo se passa como se, hoje (mas esta situa-
XVIII explicava a religião pela acção duma
ção não é nova), os princípios materialistas de «clique» de padres. Não conheço, até agora,
explicação que o marxismo aplica universal-

236 237
qualquer tratamento deste problema (ou dou- obscurecer aquilo em que a história da teoria é

ïËË
*lËllgliïiãiiããillãtliËsl:l;lltssï
tros semelhantes e igualmente escaldantes) que indispensável à história do movimento operário
aplique verdadeiramente a problemática do ma- e do socialismo, que o engloba, e que é simples-
terialismo histórico, colocando a questão: quais mente a nossa história.
são asrelações sociais de produção que se desen- É preciso acrescentar isto: o que dificulta

ËËË*'ÈËëË
volveram depois da revolução socialista, quais a história do marxismo como teoria, científica
são as suas contradições históricas? (Não bas- e filosófica, é uma muito velha mas muito insis-
ta, bem entendido, dizer o que elas excluem — tente representação da verdade teórica. Nesta
as formas do mercado, a «lei do lucro», etc. representação, fundamentalmente, a verdade
— nem aquilo para que, em princípio, tendem. (o conhecimento, portanto) não tem história
a satisfação das necessidades individuais e real. O que é «verdadeiro» (e «justo», em rela-
colectivas, a planificação social da produção, ção à prática) é verdadeiro duma vez para
etc). E visto que se trata aqui manifesta- sempre, em si e por si.
mente do Estado e do funcionamento dos seus Nesta representação, a única história que
aparelhos, já que a teoria marxista enuncia a
tese segundo a qual não há Estado sem con-
:iÈ íiigããËã ËËããËãËgltllg o verdadeiro possui é a história da sua revela-
ção e dos seus progressos, isto é, dos novos cle-
tradições de classes, a questão impõe-se por mentos de verdade que se lhe acrescentam, ou
si própria: qual é a natureza das contradi- então das circunstâncias em que os homens o
cões de classes que produzem os efeitos reco- encontram (ou não), o formulam, o reconhe-
bertos pela noção do «culto da personalidade»? cem, o difundem e o comunicam entre si.
Como se reflectem elas aí? Que transformações A única história que o verdadeiro possui
sofrem em relação às formas que revestiam então é também a história da sua ignorância,
antes da revolução? Trata-se simplesmente de do seu desconhecimento, é a história dos erros
colocar cientificamente estes problemas, para que o contradizem, quer os homens ainda o não
se lhes poder responder. tenham reconhecido, quer o tenham esquecido,
Mas voltemos à história da teoria marxista. disfarçado ou contornado.
Poderia. contentar-me com dizer: a história da | A única história que o verdadeiro possui
teoria marxista não é mais que uma parte da é assim uma não-história, que pressupõe que
história do movimento operário e do socialismo; cle sempre está, como um dado desde a óri-
o que vale para o todo vale também para a par- gem (Marx ou Lenine ou Mao podem muito
te, e, na medida em que nos falta uma história bem representar, para o nosso caso, uma tal
marxista, uma, história crítica e materialista do origem. Já vemos que tudo isto implica a ques-
movimento operário, não podemos dispor duma tão de saber em que sentido os podemos consi-
história satisfatória da teoria marxisia, nem derar como os autores do marxismo, nos diver-
duma teoria satisfatória desta história. sos sentidos deste termo). Ou então é a histó-
Mas esta razão é ainda muito geral. Negli- ria de algo diferente de si, por exemplo, a his-
gencia o que a teoria marxista, enquanto teoria, tória individual dos homens, dos grupos, dos
es

tem de específico. E, em contrapartida, pode partidos, que reconhecem ou não a verdade

238 239
preexistente do marxismo, não só nas suas medida em que nos descobre a presença simul-
opiniões e consciências, mas sobretudo nos seus tânca, mas desigual, do materialismo e do idea-
actos, e que, assim, «participam» da verdade lismo, portanto a sua luta no interior duma mes-
ou, pelo contrário, dela se excluem. mu teoria, duma mesma problemática. Porque
É tempo de dizer que esta representação a tese marxista (Engels, Lenine, Mao) que
— que apresento evidentemente de forma muito afirma que toda a história da filosofia é a his-
esquemática — é profundamente idealista. É tória da luta entre materialismo e idealismo,
mesmo constitutiv a de toda a história idealista esta tese não afirma de forma alguma que as
até aos nossos dias, compreendendo a de Hegel, filosofias se dividem mecanicamente em duas
que lhe dá, no entanto, uma forma extrema, classes, umas uniformemente «materialistas» e
contraditória e, por fim, insustentável, porque outras uniformemente «idealistas». Esta tese
afirma que esta presença original, sempre dada afirma, pelo contrário, que a luta do materia-
já, da verdade teórica é simultaneamente, e lismo e do idealismo determina a história da
de resto não o é senão na sua história, a história filosofia: portanto, é bem preciso que as ten-
da sua produção. dências materialistas e idealistas se afrontem,
É tempo de dizer também que esta repre- sob formas diferentes, no interior de cada filo-
sentação está presente com insistência, mesmo sofia.
com obstinação, na história do marxismo. E E, por outro lado, esta situação nada tem de
por conseguinte devemos reconhecer que o mar- escandaloso nem de ininteligível no que res-
xismo nunca deixou de comportar no scu seio peita ao próprio marxismo, que deste ponto de
um elemento de idealismo, que contradiz a sua vista não foge à regra comum. O que define o
problemática materialista, e que ele não conse- marxismo aos seus próprios olhos não é surgir
guiu nunca eliminar completamente. Um ele- de repente como uma teoria puramente e defini-
mento de idealismo que incide, precisamente, tivamente materialista, mas constituir pela pri-
sobre a representação que deu de si próprio, da meira vez na história uma filosofia em que o
sua própria história como teoria (e, através materialismo é dominante, portanto explicita-
desta, mais geral e gravemente, como força mente desenvolvido, de forma «consequente»
social). Podemos dizer que a história do mar- (segundo a expressão de Lenine: sabe-se que
xismo, a própria história da teoria marxista, esta «consequência», é a própria dialéctica), e
permaneceu nesse sentido a brecha idealista da pode portanto trabalhar para ultrapassar, para
sua filosofia materialista, exactamente na me- criticar, eliminar o idealismo, de acordo com
dida em que ficou fora do alcance da sua con- uma tarefa infinita, mas efectivamente cum-
cepção científica materialista da história. prida, em parte, em cada uma das suas etapas.
Mas, à luz da reflexão, ou melhor, do exame Mas resta que, se esse trabalho se interrom-
em pormenor, esta situação nada tem de escan- pesse, o predomínio filosófico poderia sempre
daloso, de ininteligível, ainda que tenha tido encontrar-se invertido.
efeitos teóricos e práticos desastrosos. Esta Podemos então virar-nos para os textos de
situação não é de modo algum ininteligível na Marx e de Lenine (e de outros clássicos do mar-

240 241
xismo) de que há pouco falava. É preciso exa- v implica o reconhecimento

'Êì

.9X
da sua posição

ËËìËiïiËãËgãËe!ËglË:

ËËiãËEEËË*ËËãËããigl

ËilËËËgËãlã*Ëï'Ë
CJã
q>
oa)
s,g
3o

,-o

à:gí:ilËË3ã;ËïiË
miná-los com atenção e trabalhá-los de novo activa, enquanto teoria, na prática, ela teve de

..0
sem cessar. Não se trata de os amalgamar com ser “o mesmo tempo o seu «nó cego» e o objecto
uma qualquer literatura apologética que se da sua constante preocupação. Qualquer passo
oculte sob o nome do marxismo. Não só seria em frente, na história do marxismo e do movi-
injuriá-los extraordinariamente, mas privar- tento operário revolucionário, teve de compor-
-nos dos meios essenciais para fazer avançar f o reconhecimento «no estado prático», ou
o nosso problema, seria voltar costas à sua mesmo o reconhecimento teórico sob uma moda-
solução. lidade particular ditada pelas circunstâncias, das
Mas precisamente, na nossa análise eserupu- 'aracterísticas originais desta história. E, por-
losa desses textos,é preciso fazer a pergunta: ao Lanto, exactamente na vizinhança daquilo a que
lado de todos os elementos duma explicação ma- Julguei poder chamar as teses «idealistas» da
terialista da história do marxismo que compor- filosofia marxista, e por vezes indisscluvelmen-
tam, e combinados com eles numa mesma pro- te ligadas a elas nas mesmas análises e nos
blemática complexa, não haverá também, por mesmos enunciados, que nós poderemos encon-
vezes, um elemento de idealismo a entravar trar também as proposições materialistas mais
esta explicação, impedindo-a de se desenvolver esclarecedoras.
de forma «consequente»? E este elemento para- ' Tentemos não nos cingir a essas formula-

ËË
doxal de idealismo não estará sempre ligado «ocs que podem parecer paradoxais, e demons-
estreitamente à concepção da «verdade» teórica trá-lo com maior pormenor.
que se encontra investida nestes textos, ao
mesmo tempo sob a forma de teses epistemoló-
gicas, de teses incidindo sobre a história das
ciências, e de teses respeitantes à história do
movimento operário? 2. MARX E LENINE HISTORIADORES

ôi

;# ËF:ËiËïËx
DO

4. iã :
v oE:;;:È
r
B
=
I
Ë
p
3
Parece-me que tal é o caso, que podemos MARXISMO

>
descobrir os indícios precisos disso e, tendo-os
descoberto, tentar fazer com que a teoria mar-
xista dê um novo passo em frente, baseado na Darei dois exemplos desta situação

ôË -õ
típica,

-e
eEEE*ÊFãE
Ê:E:E.ÊËçE 3
'gE'r^ " I ã ".8 Ë.
..?Ì's8ÈÈ;Ë
X-õõqo.''"'g

o.4 ! - eê q'S
iíË€
rectificação dessas teses, e graças aos elemen- que mereceriam um e outro uma análise mais

=
ËÊ: ã i*i,.á'E

i
tos materialistas fundamentais que as acom- «profundada, mas que nos permitirão já de-
1.]-i.i

gd
panham. “ignar pontos sensíveis da tradição marxista.
È-

*.; I
Digamos mesmo mais: na medida exacta em Primeiro exemplo: como analisa Marx a histó-
E-

lË,trË

.
que a questão da história da teoria marxista, Ha da economia política e o lugar da sua teoria

o
das suas origens (ou das suas «fontes»), das em relação a ela? Segundo exemplo: o das aná-
:;:i

1-'E

È.;€ Ë
condições do seu desenvolvimento e dos seus ses que Lenine consagra aos destinos histó-

üË
destinos históricos representa para o marxismo ricos do marxismo no movimento operário do

3
a figura concreta da sua própria «verdade» neu tempo.

242
Marx e as «teorias sobre «a mais-valia» tóricas da exploração do trabalho. Este con-

glgËsilgãgÈiíiããgg

Ë ãË
evito novo realiza na teoria, enquanto conceito
Não se trata de estudar aqui em pormenor tcórico, uma posição de classe nova. Pode dizer-
todas as análises consagradas por Marx à his- -se que não só institui uma teoria para o pro-

iãiËiã*ËiiËËlË g;gËgËgg;ã;ligãiËiËã
tória e à crítica da economia política «clássica», letariado, que lhe explica a sua situação histó-
porque essas análises são praticamente coex- rica e lhe dá as armas de que ele necessita
tensivas à sua obra. Quereria apenas assinalar para a transformar, como institui uma teoria do
de novo um «paradoxo», que sabemos directa- proletariado, que, pela primeira vez na história,
mente ligado à problemática da filosofia mar- permite ao proletariado (e geralmente aos tra-
xista. balhadores explorados) existir também, como
Quando Marx estuda a relação da sua «des- classe autônoma, no terreno da teoria. Em todos
coberta» da mais-valia com a história da eco- os aspectos, epistemologica e politicamente,
nomia política clássica, trata-se sempre para este conceito e aqueles que dele derivam
ele de pôr em evidência uma diferença relativa- são pois irredutíveis à história teórica anterior,
mente ao materialismo histórico: diferença das o que não quer dizer que não tenham sido pro-
conclusões, mas sobretudo diferença das pre- duzidos q partir dela, das condições e dos meios
missas, da própria problemática. Trata-se por que ela fornece. A posição de Marx é, neste
isso mesmo de estudar a transformação históri- ponto, perfeitamente clara.
ea da problemática dos economistas, donde resul- Mas que faz Marx, em numerosas passagens
ta, por um lado, a problemática do materialismo de O Capital (particularmente em «Teorias so-

Ë: ï
histórico. Trata-se pois duma transformação bre a mais-valia»), que contradizem assim tan-
no sentido forte, distinta duma simples meta- las outras? Afirma, ou antes, esforça-se por de-
morfose, ou duma inversão termo a termo das monstrar que os economistas clássicos (os fisio-

l'llsËtgiËËËÈgií
conclusões da economia política em «crítica» da cratas, Smith e sobretudo Ricardo) já desco-
economia burguesa, tal como se pode encontrar briram implicitamente a mais-valia, ainda que
por exemplo em Sismondi. Uma tal trans- com outro nome. Muito precisamente, os econo-
formação pressupõe ao mesmo tempo a crítica mistas já teriam descoberto a mais-valia sob o
interna das confusões de princípio, nada ino- nome duma ou outra das suas partes (renda,
centes ou arbitrárias, nas quais se realizava lucro ou juro). Seria o seu lado científico, que
a sua posição de classe ideológica burguesa, e à permaneceu escondido por vezes mesmo aos
importação, do exterior, de conceitos completa- seus próprios olhos (o «lado esotérico» de
mente estranhos à economia política, à sua utili- Adam Smith). Assim, Marx esforça-se por mos-
zação como «meios de trabalho» teóricos para trar que onde os fisiocratas, Smith e Ricardo,
operar a transformação da economia política. falam explicitamente de renda, de lucro, de juro,
Esta transformação é assinalada, Marx não se " da sua variação em função da dos salários,
cansa de repetilo, pela aparição dum novo mt é implicitamente, da mais-valia e das suas
conceito: a «mais-valia», que corresponde ele leis que se trata. Bem entendido, este «equi-
próprio a um problema novo: o das formas his- voco», esta sub-repção da parte pelo todo, é

244 245
directamente responsável pelos seus erros, tanto Althusser constata-o de resto ele próprio, no
no que diz respeito à mais-valia como no que decurso da sua análise, visto que a questão
respeita ao lucro, à renda, etc. Mas estes erros, da «terminologia» e a da «historicidade» se en-
saídos dum equívoco sobre o nome do objecto contram finalmente na questão da diferença
que estudam, não incidiria senão sobre a ter- de problemática da economia e da teoria de
minologia e sobre as consequências particula- O Capital. Althusser mostra que a ideia duma
res. Em suma, quer se queira quer não, Marx historicização» das categorias económicas é
esforça-se aqui por mostrar que a verdade que uma ideia profundamente equívoca, visto que
«descobriu» é por ele, não produzida mas ape- não põe em questão o objecto teórico da eco-
nas revelada, está já de certo modo dada e nomia política, mas somente os limites no inte-
presente «em si» na economia política antes rior dos quais a sua representação pode ser
de se tornar «para si», consciente, no materia- creditada com uma validade histórica. Em vez
lismo histórico. Não é exactamente a repre- de remeter para as próprias condições sob as
sentação ideológica de que falava há pouco? quais uma teoria pode apropriar-so do real (na
Em Lire le Capital (1965), no capítulo sobre modalidade do conhecimento), e portanto
«L'objet du Capital», Althusser já examinou transformá-lo» em objecto de conhecimento,
longamente este problema. Assim podemos condições que dependem da naturcza dos con-
apoiar-nos na sua demonstração e contentar- critos que ela define e do tipo de causalidade que
-nos com prolongá-la. exprimem, em lugar de pôr em causa por con-
Althusser distingue, entre as «criticas» de seguinte as condições de objectividade da teoria
Marx contra a economia política, as que são cconomica, a ideia de «historicização» não
apresentadas como críticas de pormenor, e uma remete senão para as condições subjectivas da
crítica de fundo. Entre as primeiras está a relação entre a teoria e a história, mesmo se
censura feita por Marx aos economistas por esta subjectividade não é a subjectividade indi-
designarem (e disfarçarem) a mais-valia sob o vidual dos economistas, mas a subjectividade
nome do lucro, da renda, do juro, que não são «transcendental» implicada na sua consciência
senão as suas formas particulares, transforma- teorica, e nos limites históricos desta consciên-
das. A crítica de fundo, é o carácter a-histórico, cia. Pode assim imaginar-se que o objecto de O
eternitário, fixista e abstracto das categorias Capital é o mesmo objseto, tem a mesma. estru-
económicas, que são na realidade o produto tnra que o da economia política, é definido pelo
duma história, de que não reflectem senão um mesmo tipo de categorias quantitativas, pelo
momento determinado. Partindo dum inventário mesmo empirismo das grandezas «variáveis»
das formulações críticas de Marx, que ele pre- diatamente dadas na experiência prática dos
tende analisar à letre, Althusser tem razão em I etos económicos», e pelo mesmo sistema de
não confundir estas duas críticas, que não têm Ae cgorias antropológicas subjacentes (a antro-
o mesmo ângulo de ataque (uma «técnica», pologia das «necessidades» humanas e do com-
outra «filosófica»). Veremos no entanto a se- portamento do homo oeconomicus, que os desen-
guir que estão intrinsecamente ligadas. volvimentos da economia política não deixaram

246 247
de enriquecer com novas faculdades fictícias, bastam para nos explicar a passagem duma

iisËii

r*g:
desde a «propensão para investir» até à «pre- problemática a outra, na medida em que ele
ferência pela liquidez», etc.). Contra esta re- realiza uma nova relação (teórica) com o real.
presentação, Althusser mostra que O Capital Elas são constrangidas a apresentar-nos essa
tem na realidade um outro objecto, irredutível passagem por seu turno como um «facto», à
ao objecto da economia política, pois não se maneira da «descoberta», do «é assim».

gggËãËgÈrËË
contenta com limitar, tornar relativa a validade E deste modo somos remetidos para o equí-

Ë
das categorias económicas (essa, é a finalidade voco alimentado pela ideia da historicização.

gsË
dum Stuart Mill, verdadeiro pai da «antropolo- Trata-se propriamente do historicismo como teo-
gia econômica»), mas desenvolve a teoria das ria do conhecimento, como variante do empiris-
próprias relações de produção. Eis porque mo filosófico. Se há passagem duma problemá-

sËsËãff s; iË ssËislggissË ããã


Althusser dá uma particular importância às for- tica teórica para outra, transformação da teoria,
mulações de Engels no prefácio ao livro II de O seria simplesmente porque a realidade muda,
Capital (1885). Pois as formulações de Engels porque as relações mercantis se desenvolvem, se
são directamente o eco desta ruptura teórica generalizam no modo de produção capitalista, e
decisiva que consiste, em Marx, em reconhecer esta mudança se reflecte imediatamente na teo-
a irracionalidade da expressão «preço (ou va- ria. Sublinhando nomeadamente este equi-

íãËãËËiiËËiËËi
lor) do trabalho», para colocar no seu lugar o voco no célebre parágrafo da Introdução de
problema do valor da força de trabalho; elas 1857 sobre o «método da economia política»,
levam Engels a caracterizar a obra de Marx Althusser mostra que uma tal «explicação» do
como uma mudança de terreno teórico, inscrita desenvolvimento da economia política pressu-
numa mudança de problemática. Às mesmas põe sempre uma concepção idealista e teleoló-
palavras, tanto quanto designam conceitos, não gica da história, na qual a teoria (incluindo a
podem ter o mesmo sentido duma problemática tcoria científica) representa directamente a
para a outra: o que as investe dum sentido teó- consciência de si dum tempo, o presente histó-
rico determinado não é a sua significação ime- rico de cada época que se torna consciente de si,
diata, isolada, mas a sua função num sistema enquanto totalidade unificada, na forma refle-
teórico de conjunto. xiva da teoria. E visto que a teoria de Marx é a
No entanto, conforme logo nota Althusser, crítica das categorias económicas, visto que ela
estas notáveis formulações estão ainda limita- deve também ser por seu turno a reflexão do
das ao aspecto formal da revolução teórica de presente, é necessário supor que este presente

ãËË:ËEËi
Marx. Se bastam para marcar, sem contestação encarna a figura privilegiada duma consciência
possível, o «corte» que separa o facto de «pro- crítica de si, dum momento histórico que é ele
duzir» a mais-valia, numa problemática em que próprio a sua «autocrítica», enfim, dum mo-
ela é impensável como tal (a dos economistas), mento histórico que coincide com um saber
do facto de a «reconhecer», de a explicar e de absoluto, Portanto, a novidade revolucionária da
fazer dela a base duma nova problemática (a teoria marxista não pode ser pensada senão
ii
de Marx), estas formulações de Engels não como o «fim» da história teórica anterior (no

248 249

R
duplo sentido deste termo), como a verdade da falsas sobre as causas de alta e de baixa da taxa

Ë
economia política, para a qual a economia polí- de lucro, etc.

;'
tica já tendia desde sempre, mesmo que fosse Lucro e mais-valia não são idênticos senão

ÏËãã;ilgíÈll
sob as formas (alicnadas) da contradição, do na medida em que o capital avançado é idêntico

ãËiïãËEË
erro e da inconsciência. O que na realidade ao capital directamente despendido em salá-
anula a ideia de uma mudança de terreno e rios [ ..]. Nas suas considerações sobre o lucro
duma transformação revolucionária, no sentido c o salário, Ricardo também faz portanto

ã;-'lggg*llËiãiiããËãlããi
forte. nbstracção da parte constante do capital, que
Queria tentar prolongar estas análises, e ao não é despendida em salários. Trata a questão
mesmo tempo, num ponto preciso, trazer-lhes como se todo o capital fosse directamente gasto
uma correcção Trata-se, num sentido, de as em salários. Nesta medida, é pois a mais-valia
agravar, de mostrar que esta representação que ele considera e não o lucro, e pode falar-se

ãË ËE ãË
idealista da sua própria posição histórica-teó- nele duma teoria da mais-valia. Mas, por outro
rica teve em Marx consequências que vão longe, lado, julga falar do lucro como tal e de facto
mas trata-se também de mostrar que no pró- vemos multiplicar-se na sua exposição os pontos
prio Marx, em condições históricas determi- de vista que procedem da pressuposição do lu-

ËE: s Ë
nadas, os elementos duma outra posição do pro- ero, e não da mais-valia. Quando expõe correcta-
blema, completamente diferente, figuram igual- mente as leis da mais-valia, falsifica-as, enun-

'
ciando-as imediatamente como leis do lucro. E,

Ë
mente com todas as letras.
por outro lado, pretende expor as leis do luero

ãË:
As consequências, primeiro. Para lhes medir
imediatamente, sem os elementos intermediá-
o alcance, tomemos um dos textos nos quais
rios, como leis da mais-valia.
Marx expõe sob a forma mais sintética a natu- Quando falamos da sua teoria da mais-

ãi'i*,,
reza do «quiproquo» dos economistas: -valia, é portanto da sua teoria do lucro que

;;,,
«Em parte nenhuma Ricardo considera iso- falamos, por ele o confundir com a mais-
ladamente a mais-valia, independentemente das -valia, isto é, o lucro trazido ao único capital
suas formas particulares — lucro (e juro), variável, à parte do capital despendido em salá-
renda. Igualmente, as suas considerações sobre rios [...l.
a composição orgânica do capital, problema O facto de a mais-valia não poder ser tra-
duma importância tão determinante, limitam-se tada senão em relação ao canital variável (ao

* Ë iË

sËËËãã
às distinções teóricas herdadas de Adam Smith capital directamente despendido em salários)
(e dos fisiocratas), que provêm do processo — e sem teoria da mais-valia nenhuma teoria do
de circulação (capital fixo e capital circulante) ; lucro é possíve — estã
l tão ligada à natureza
mas em parte nenhuma menciona nem reco- da coisa que Ricardo trata todo o conjunto do
Ë
nhece as distinções relativas à composição orgã- capital como capital variável e faz abstracção
Ë

nica no processo de produção propriamente dito.


Daí a sua confusão do valor e do preço de pro-
dução, a sua falsa teoria da renda, as suas leis

250 251

c\
F.l
do capital constante, se bem que o mencione na lização». Para Ricardo, o conceito de «trabalho»

ëË

g
; I : E i; 3Ë:;ãi !íããE*ËË
E;€ ìË íË ËsEEã;;ããËiË; F+g;i*ïru;
Ë
Ë*

*ã íg*
Ëç Ë Ëi

ãr

Ë. ËçãËËÏ
altura sob a forma de adiantamentos.» ' é um conceito indiferenciado, o «tempo de tra-

ãË lgÉËËãïËËËË
Texto notável, e, se o quisermos examinar balho» não é tanto a medida duma força de

ËËeã;l;ãa:iËaãÍ
i

íg;iË ;iiEËËï
bem em pormenor, muito surpreendente. Imagi- trabalho despendida como o prazo necessário

Ë
; I ãË Ë ãÈËi à l iãÊããeË ËËt Ë s ËËãi Ë í íË
na-se com efeito, facilmente, o que poderia à produção, o tempo que o trabalho do operário

ã $ËËËeËãË
objectar a esta argumentação um economista «poupa» ao capitalista (o que exprime, sobre

ËËË
;ãçËiËl
ricardiano, ou simplesmente um leitor de Ricar- o tempo de trabalho, o ponto de vista do capital,
do: todas as «dificuldades» e os «erros» subli- c não do produtor).! Inversamente, faz entrar
nhados por Marx não provêm de ele querer por na definição do valor relações de distribuição

isiËI
giË
força fazer falar Ricardo duma coisa diferente (porque o capitalista individual contabiliza
daquela de que ele fala, de mais-valia quando como gastos, despesas suplementares de capital,
se trata de lucro, e reciprocamente? Bela crítica, as fracções da mais-valia que deve retroceder

iE
dirão, a que começa por acomodar o texto à sua sob a forma de juro, etc.). Se, em Ricardo, as
ËãlË iÉ'iËãË ; tËËì

maneira para melhor o criticar! Mas seria es- relações de distribuição são efectivamente o

ËË Éã.ãËË Ë ËË
Ë

il [ËE EËËËË ãËãËE


quecer não só as dificuldade inelutáveis e as «avesso» das relações de produção, é porque as

ËËËãË€tïËËëÈl; ãt Ë ËË:

íËgrEsËËiiËiff íË
ËËËãË
contradições de facto da teoria de Ricardo (em relações de produção não passam de relações de
particular a sua contradição imediata na defini- distribuição dos rendimentos (com o seu anta-
ção do valor pelo «tempo de trabalho necessá- gonismo próprio: o salário opõe-se ao lucro).

=ecÉi
rio», de que só a análise de Marx pode explicar Tudo isso, Marx explica-o claramente. Mas
a origem), mas onde reside o ponto essencial da vejamos a contrapartida desta explicação. Resu-
iE ËËÈEãã:i'ãiã

crítica. Este ponto não reside no facto de tomar me-se numa frasc: uma regressão manifesta

È;
uma palavra por outra, mas no facto de na definição da mais-valia, que deve saltar aos
Ë

Ricardo, esse «economista da produção por olhos se nos reportarmos ao texto de O Capital.

Ët€Ë icË :
rï;eïã;Ë
Na sua crítica, Marx «mede» de certa maneira,

; ï Ë Ë;Ë :
excelência», ser na realidade incapaz de fazer
uma teoria verdadeira da produção capitalista. a teoria de Ricardo pelo padrão da sua própria
Ricardo não faz senão uma teoria da produção teoria da mais-valia. Mas realiza aí uma opera-
do ponto de vista da circulação, como o mostra cão de logrado, porque esta «medida» se efectua
em particular a sua definição da «composição pelo preço duma definição não marxista da
iË€ËãË€
i ËË,r+s

orgânica» do capital, que perpetua o ponto de mais-valia. Podia ir-se até dizer: pelo preço
vista dos fisiocratas e de Smith. Ricardo atribui duma definição «ricardiana» da mais-valia, se,
o lucro (e a taxa de lucro) não às condições
nas quais o valor é produzido, mas às condições ! Assm, a economia políti — incluindo
ca Ricardo

{ i!,8 Ë iã;

ãÊã3

:o oË Ê"Éi:ë
;- - i ." -ó5
Èt* ile..*
€.eo'oü3ó
a;-: o3:E ã
-; ' ! dl o,: o;i
. i; eËuE!
ãa9
9ÉE ü.9.-s1 ô
Ë
i.:P
:s..d
"r oE Ë," e o
ï 5;:"sr ãe

ã S,Fì gEg E
nas quais as diferentes fracções do capital cir- representa-se sempre o trabalho como uma «potência

i x E-Ê ã 9=
".!
9a.óaat,"
o,.l ..: -ì 6

ïe á -o;
culam, aos diferentes períodos da sua «imobi- do capital», tal como o explica Marx no livro L É o
fundo da sua posição teórica burguesa. Eis porque é

at ã.:d
^,- È{ì:

dj.9iS.:
ficiente classificar as teorias económicas, na his-
iË::

i; 8.ãl
1, segundo elas fazem ou não do trabalho a base

E
1 Marx, Théories sur la plus-valie, Dietz, 1959, da sua problemática. E necessário ainda perguntarmo-
Fa L')

Ë€
i:

s€
9!
ã3

tomo II, cap. 15, 8 1, p. 369-370. nos que conceito do «trabalho» é aí aplicado.
ic\

õ
252 253

ã(
a!
por hipótese, Ricardo tivesse formulado alguma do capital constante. Muito precisamente, não

ígãiísãsããËË ãig ãgãsísgígl

gi g:
ã;iãiË ;Ë*:ãËÈ:tiãlã1;ËËËrr
;íËãii llIËËïiãiãËgrËlËuiãË,
ãË Ë sË
(mas não é isso, precisamente, a hipótese de denuncia este esquecimento na teoria do lucro
Marx?). É exactamente o equívoco da ideia de le Ricardo senão com a condição de o perpe-
«crítica» que aqui se revela, mostrando-nos que luar na sua própria teoria da mais-valia: «O
uma crítica que não fosse senão isso nunca facto de a mais-valia não poder ser tratada

ãil
poderia verdadeiramente sair do horizonte do senão em relação ao capital variável [...] está
ãg= íecË ãr
adversário. tão profundamente ligado à natureza da coisa
Com efeito, é claro, antes de mais, que Marx |...|.» Tudo se passa então como se se pudesse (e

lËËË Ëãi
raciocina aqui do princípio ao fim como se a como se se devesse), para explicar a produção de
dejinição (teórica) da mais-valia não fosse mais mais-valia, fazer abstracção do capital constan-
do que a definição (aritmética) da «taxa de te, que representa, sabemo-lo, o valor dos meios
mais-valia»: relação da mais-valia com o (ape- de produção. Mas, fazer assim «abstracção» do
nas) capital variável (m/v). ' Sem contar que capital constante e dos meios de produção, não
esta definição é manifestamente circular, ela é somente ignorar o problema da «conserva-
desloca completamente o problema, tal como cão» e da «transferência» do seu valor para a

ËiÈ
ff Ê ãã iãã;ããgËË

Marx o expõe, de resto: definir a mais-valia, mercadoria produzida, é ignorar o papel dos
não é avaliar uma relação numérica, tal como ela meios de produção na produção da mais-valia. É
se estabelece fora do tempo, depois da produção, ignorar que o trabalho social produz mais-valia

Ë Ë ã sËËËãË :ËË
é explicar a significação desta relação, explicar na medida somente em que é incorporado, como
porque é necessário «medir» a taxa de explora- tso duma mercadoria específica, nos meios
ção pela relação da mais-valia apenas com o de produção já capitalizados, já «monopoliza-
capital variável, é portanto definir a forma dos» por uma classe possidente. Enfim, é sim-
social do próprio processo de produção, como plesmente fazer «abstracção» das próprias rela-
processo de produção de sobretrabalho. Neste ções de produção capitalistas. Porque tudo o
sentido, e pode devolver-se-lhe a imputação, que acabamos de lembrar constitui o próprio
a «definição» na qual Marx, aqui, se apoia para núcleo da exposição de Marx no livro I de O Ca-

glãËru
criticar Ricardo, é perfeitamente «a-histórica». pital."' O que pode significar, assim, o uso do
Primeira consequência. termo «mais-valia» e a interpretação (crítica)
Mas há algo de mais grave: porque esta defi- da economia política à luz da sua descoberta?
ãÈË

íiãi

nição Marx retoma inteiramente por sua conta, Vemos agora, no caso de pelo menos pres-

ãi
exactamente na altura em queocritica a Ricardo, tarmos a Marx a homenagem de o ler à letra,
"

o «descuido» dos economistas, o «esquecimento» por que preço é paga em textos como o que aca-
Ë

stã

íãË
bamos de citar a representação do marxismo
como «verdade» da economia política, através
1 Enquanto a taxa de lucro=m/(c+v). Não esque-
za õ"

!ã.E o qr;

'!!-ç:

:"9É-
I úã ú0,
iF9hq

1sì. Í

gãí,
.o
ãs *Ë o
ij - q:6

FüF;*
o I ÈÀ-

camos que o lucro é uma grandeza que o capitalista


ã!E
9
sáS?

procura ele próprio, pelo menos em certas circunstân-


È
i.e

cias, medir (aplicando-se geralmente em dissimular 1 Cf. supra, cap. 3, o estudo «Mais-valia e classes
C)

9l()

'i

esta medida na contabilidade que publica). SOCIAIS».



P

254 255
R
prio efeito da luta de classes na época bur-

r,siiãÈËãEgËfiÈff gz=
Ë ËíEiiÈË1ËEËËsEÍã:ç
desta «dialéctica» da mais-valia e das suas «for-

Ë ËãÈlsãí;ËiËi;silËg

: sË:ËFiËËãËl:E €iãË
1i i!:Í;:;=;E=-í

i lËi;ããiãff:Ëg ËËËã
Ê;
ffi Ë ãËiÈÈtËËÈãii i aË ïããËËcããiãË ãiãg
È+i ;ËeìÈ Ëãii ïËãããËt ËËEãÈ ïí:ËËãËãi
r'Iç

c
é a impossibili- guesa, !
mas particulares». Este preço

et ;*ãe [ÈË!c;
Podemos então dizer isto: a chave da passa-
dade de se manter no terreno do materialismo

a ËË ËÌsËËç n sË Ë:ãi€Ë Ë.E: s-ËEË* i ü:'F


gem da economia política ao materialismo his-
histórico. tórico, e portanto a chave da «crítica» da eco-
Mas, mesmo nesta situação, encontramos
Ë
nomia política, é o reconhecimento e a análise
uma indicação preciosa. Constatamos com efeito
ËïËÈÈãiËË
da luta de classes na própria produção. É pois
que o que foi apagado, o que desapareceu o reconhecimento do seguinte problema: como
(momentaneamente) da definição marxista da é que a luta de classes, que não é de maneira
mais-valia é precisamente o que não podia figu- nenhuma um processo teórico, produziu efeitos
rar na problemática dos economistas: o mono- no terreno teórico, ocupado até então pela pro-
pólio de classe dos meios de produção e os seus blemática ideológica burguesa da economia
efeitos sobre a forma sob a qual é despendido política, da filosofia, do direito, ete.? E esta
o trabalho social, Na extraordinária regressão questão histórica (e não historicista) que
(momentânea) que a sua repetição do «esqueci- comanda a compreensão do «corte epistemoló-
mento» dos economistas constitui, Marx revela- gico» realizado em O Capital. ?
ii

-nos também o sentido preciso deste «esqueci- Mas tudo isso, perguntaremos, não o disse
mento», e revela-nos que não se trata de um
ÊãÈ ËËË

Marx em qualquer parte, «claramente»? Acon-


esquecimento, visto que o objecto sobre o qual

iiË
loce que sim, e em condições notáveis: sobre-
incide nunca foi pensado até então. Com efeito, tudo no posfácio da segunda edição alemã de
mostra-nos claramente: 1) que, na incapacida-
de dos economistas para colocar o problema da
mais-valia como forma geral (de que o lucro, a ! Todas as coisas equiparadas, pensar-se-á aqui

Ë:ìã;ãárilr;Ë;Ë:;ii;

Ëï.:.uÈg::i;Ë!'"
renda, o juro não são senão formas particu-

ï,Éj: a. ìËs !;:r *; I ",413


iírã;;s aiil:ã:Ë:áiãË
;;r;ï:,siËiCãÈrìç:ç:
ã€: É:; t ã+ ï Ée! Ë:É a,i5 ë
Ëiã:5iï Ë Èí: P;*i;**Ë:

ËâëË;i-
;g:ËiëÉ:;El'E:Ë
*is?tËa:*li:ÉËÈ lï

Ê:tiis;trf
ãÏãããËíÍi;ËI

nas explicações decisivas de Engels a propósito da


lares, transformadas pelo processo de circula- mmutdade (Anti-Duhring, 1.º parte, cap. 10): na rer-
ção-distribuição), se realiza duma maneira pro- vndicação da igualdade, enquanto é retomada pelo pro-

i:; l, ! ï: j.::" i: :
priamente teórica a incompatibilidade entre a , É preciso não procurar mais do que a rei-
«indicação da abolição das desigualdades de classes e
problemática da economia política e o conceito dis próprias classes. Na reivindicação da «historici-
da exploração, da luta de classes; 2) que, sob dade» das categorias económicas, é preciso não pro-

':;lãi
a reprovação formal dirigida à economia polí- curar mais do que o reconhecimento da luta de classes
nm própria produção. Notar-se-á que o texto da Introdu-
tica (as suas categorias são abstractas, a-his-
cedo de 1857, ao qual fizemos alusão mais acima, e no
tóricas), não se deve procurar outra coisa

:Í::r
o subtítulo «método da economia política» valeu
senão a forma específica da sua relação com a = sagradável privilégio de figurar frequentemente (ou
luta de classes: a economia política é denegação es, demasiado exclusivamente) como exposto canó-

íi :
o da dialéctica marxista, não fala nunca nem de con-
teórica activa das relações de classes, sob o pró-
É

Hiutição nem da luta de classes!


* Note-se aqui, sem poder insistir demasiado, a

,;Í
i;i
i"'
Ëã3
nuportância que Marx e Engels atribuem um e outro
à sublinhar o papel do movimento opcrário inglês e das
cnlicas» socialistas de Ricardo.

257

F
256
ro
(o
O Capital (1873). Para lá remeto o leitor, pois Internacional (cf. por exemplo Salário, Preço c

; ;Ë: Ë 5l : ËÏ ËÈ ; :ËIg:g Ë ËË E: ïicI


3Ëc ÊE: iE3ËãrËÊ

Èi a:
ÊËã;ËËËã ËËï ËË Ë ;Ë: ííÈ

:FËËfi: Ë?iËtHË9ËËË ârtiË


Ël;

ggãËgËËã:i
t-- ::

H Í1
arh
AH
o
-a
o texto é facilmente acessível e seria muito Lucro, assim como os artigos de Marx e Engels

i
c.)
longo citá-lo na integra. sobre o sindicalismo) e dos primeiros dirigentes

ËËi: Ëi*

i
I ã : IË.ïi
Ëã
Para compreender bem o alcance deste tex- «marxistas» do movimento operário (nomeada-

l ãi Ë ii I ã: ããl ËãË iããilËl

ÊË
to, é preciso em primeiro lugar lembrar a sua mente na Alemanha). O texto de 1873 pertence
iãi È lã: ff ã ËE r ii

Ê
situação. Os textos das «teorias sobre a mais- ussim a uma nova conjunture na relação da tco-

F
r i3ï ï5ËãlËËËËï
-valia» (e a fortiori os de 1857-1859) são textos ria marxista com o movimento operário e com as

íË
anteriores à redacção do livro I de O Capital lutas do proletariado. O problema da «posição»
(datam de 1862-1863) : são os «laboratórios» em de O Capital na história não se põe mais, desde

;;
que foi elaborada a teoria da mais-valia na sua ºí, como um problema puramente teórico, reflce-

íÍ
forma definitiva. O texto do posfácio (do qual tido apenas na relação entre textos (os dos eco-

E
È
habitualmente se comentam as formulações nomistas, o de Marx). Põe-se abertamente como

ËÈË

;;-
i

re
sobre a «inversão» da dialéctica hegeliana) é problema duma relação prática entre enuncia-
ÊË

c.ï s ãËi!ç 3:i =.'ã5 Eq


posterior não somente à redacção de O Capital, dos teóricos ce um movimento de massas, como
mas à sua publicação (1867) e aos seus pri- problema do seu «reconhecimento» mútuo e
ãËËËff ËiÉÈãi : ã

Ei Ë Ë ïÈËsËãïË;:
E:€ PEÈ È:ãn s 8'Es h
!i#l ïËÈìlçt g ïi:
Ë
meiros efeitos históricos no movimento operá- dos seus efeitos recíprocos. Se é verdade que
rio. Esta situação é em si própria muito impor- Marx, em 1873, reflecte o conteúdo e o alcance
tante: se, com efeito, é preciso não sobreestimar teórico de O Capital em termos novos, é porque
a vastidão da difusão das teses de O Capital na os reflecte numa nova conjuntura que inclui
classe operária antes da época dos partidos já, materialmente, os efeitos práticos da teoria
ãË

iË:t:i;t i í
marxistas da II Internacional, seria igualmente marxista sobre o desenvolvimento do movi-

!Ë iãb* :Ëi
inexacto negá-la. Entre 1867 e 1873, O Capital mento operário e das lutas de classes. Nesta
Ëitãx ï

e, duma forma geral, a teoria do materialismo conjuntura, a teoria marxista adquire o que ne-

trilËic
histórico já penetraram no movimento operário, nhuma teoria económica burguesa poderia com-
segundo uma dupla modalidade. Por um lado, portar, uma «influência» prática, «experimen-
através da leitura e da influência dos próprios tal», sobre o processo histórico, através das
ãË Ë

textos. * Por outro lado, e talvez mais, através vicissitudes da sua própria «fusão» tendencial
da acção prática de Marx, do Conselho Geral da com o movimento operário. Esta influência ex-
i

perimental constitui-a como teoria científica. !

Ë
* É necessário desejar urgentemente que os his-
üE€ eX:
.:^eo^ÊRdõ
g ˀ

.:"Y3ã E! rË

-!
Ë É o õ oH E ã
iYo;-È^-
--ëã!ÈgdfiË
I sE !Pr',
EÊõ
útEàË1.<"

9'I*á'à.2Pa
ÊËE:iË;.
. Y.@at -.4.2
!i flè re€€
e!'e.:€Ëi
E eoÉ3 r.g qr

eËÊiEÈ.ãë
È€i9à5E3
E'3 E EÀ ã.P.

o.-dË.ã98:é
e ,i È ; --l ã Ê

toriadores marxistas nos restituam em toda a medida » Acrescente-se que, por esse facto, o posfácio de

€Êi€
f q", ô *È dÈ
:Ëir:ËÈ5 ^

'É!;E:ÈË

;5.t.;!Èa
.9È

:r*Ê i t€"i
9oí:Êr-,"
s!3!i5È,
oJ "
-".FEãltla
-;: Pl;: t
o.ô i"@23 o o
;"<ã:ã3=
s ã"Ë" * !i
ãlç c; ã lã
- j:È
E
d *. o FüS d
;E.b * F áÈ
3 e.i 9 ã c,B<
i

q r\r- õ ôit

do possível a história da penetração de O Capital no mo- I873 ilustra bem o que eu propunha chamar o período
iÈ-::i -S

áE E
?Ë *ËD'q

ts

vimento operário. O capítulo de Jean Bruhat sobre «O de «rectificação» na actividade teórica de Marx (recti-

o; É F "!
3?
t.?€Ê;ü Ë. ôi

bbÈS€

í;!sE

lugar de O Capital na história do socialismo», em His- "encão que é a própria forma do desenvolvimento da

"
È86 e s

torre générale du socialisme de J. Droz (tomo I, Paris, teoria marxista), e deve ser aproximado por 1sso dou-

* eF
i"ìi;
õ oÌJ !
0l ;-

P.U.F., 1972), não aborda, infelizmente, este problema. tros textos deasivos como 4 Guerra Civil em França,
Éã

Será falta de suficientes informações disponíveis no a Crítica do Programa de Gotha, as cartas a Vera
E

_-

presente? sassoulitch e a Mikhailovski, as Notas sobre Wagner.

i
i F
o

258 259

fi
O texto do posfácio, apesar da sua brevi-

igãl

ãË;ããËiËËãËËËãíËgË ããË;Ëããr
dade, distingue-se doutras exposições anterio- Também o período clássico da economia
res de Marx por não se contentar com ligar política pára em 1820, com Ricardo, que for-
o desenvolvimento da economia política ao mula a oposição dos interesses económicos de
desenvolvimento das categorias mercantis e do classes (salário e lucro, lucro e renda) como
Ë
valor de troca, nem apenas ao predomínio his-
iãË uma lei natural, «limite que a ciência burguesa
tórico desta ou daquela «figura» do processo não ultrapassará». Em seguida, na própria
cíclico das metamorfoses do capital: ? estas con- altura em que o antagonismo do capital e do
dições aparecem apenas como a base necessária
gãËãËËi proletariado permanece mascarado pelo do capi-
para o desenvolvimento da economia política tal industrial e da propriedade fundiária, desen-
(pois não há teoria senão do que existe, a práti- volvem-se as contradições internas da economia
ca precede a teoria). A economia política desen- política. «É em 1830 que estala a crise decisiva.
volveu-se em França e sobretudo na Inglaterra Em França e na Inglaterra, a burguesia apode-
porque as próprias relações de produção capi- ra-se do poder político. A partir daí, na teoria
talistas aí se desenvolveram; permaneceu na como na prática, a luta de classes reveste for-
Alemanha como uma escolástica imitativa por- mas cada vez mais acentuadas, cada vez mais
Ë

que o desenvolvimento da produção capitalista ameaçadoras. Dobra a finados pela economia


ãg,

aí conheceeu por muito tempo um considerável burguesa científica.» Depois das revoluções de
atraso. 1848-1849, entra-se no período da decomposição
Mas Marx vai agora mais longe: expõe como da economia política, da sua transformação
s

um único processo complexo, com os seus des- em economia «vulgar». E ao mesmo tempo, o
ffi si I

fasamentos e as suas deslocações, as suas fases socialismo adquire uma forma científica, desen-
sucessivas, o desenvolvimento (contraditório) volve a crítica da economia política: «Tanto
da economia política e a história das lutas de quanto uma tal crítica representa uma classe,
classes na Europa. «Enquanto for burguesa, não pode representar senão aquela cuja missão
isto é, conceba a ordem capitalista não como histórica é revolucionar o modo de produção
um estádio de desenvolvimento histórico tran- capitalista, e, finalmente, abolir as classe—so
Ë

sitório, mas pelo contrário como a forma abso- proletariado.»


ãããgiË

Ëã l

luta, última, da produção social, a economia E preciso ver aqui algo de bem diferente de
política não pode continuar uma ciência senão um simples «sociologismo», que faça da econo-
com a condição de que a luta de classes perma- mia política, depois do socialismo,
ggss

a consciên-
neça latente ou se manifeste apenas por fenó- cia colectiva dum tempo ou mesmo duma classe.
menos isolados.» Em particular, enquanto não A partir do momento em que o efeito das condi-
for organizada do lado do proletariado. cões históricas sobre a teoria passa pelas fases
Ë

da luta econômica e política de classes, o mo-


1 Cf. O Capital, livro II, cap. 1 a 4. Diga-se de mento histórico já não pode ser representado
-;

9êo
dõl
,

passagem, um dos mais extraordinários exemplos de


èo sl

como «totalidade» simples, unificada na prenhez


^91

análise «estrutural» que se poderia 1r buscar à obra de


o

Marx. dum mesmo «princípio». E a história da teoria



x^

não remete termo a termo para a posição de


260
261
cada classe, mas para a forma da sua contra- Esta combinação não pode subsistir quando

-!Ë:Ë;ì!iãË-ig:ËsËËËÉË'-
Ë:ãËl:ËiËËfr[ìi:n**;s:Ë ì ;;Ë ãã:t.$:ã=

Eg:EËil,:ísE ia€Ëã;Eë
.:á.iq3eõ;gá
i;Hg#;É3; :IB:ËEÊPË I
#9s3i€oÈEg;:ËíË;:::áËï i! ;ÈË

Ì -cctrro:i€>
ciE!FiãcËã;i;ËãcaËËï:É
ãËËïi;ã:eá"ãËËtfieíËerf c :Ëx È3:3:F.-'õ;
EËËãEEËEHt .'€ã€ii'ãe+5 â Ë;ç ÈsË"!ci'o E!Ë$
iiËaËs;FË:q ËìãsiËf a

ãE:ãã93;gË fr.r;ri€€"e ã
iïViiiFË;! :ç;ljËse 7a ïË,;
dição de conjunto. A relação está não entre cada " contradição dominante se desloca, quando o
classe e «a sua» teoria, mas antes de mais entre antagonismo do proletariado e do capital passa
a forma das contradições de classes e a forma como tal ao primeiro plano. A economia política
das contradições na teoria. torna-se então uma economia puramente vulgar,
Do lado da teoria, temos pois três termos: uma técnica e uma ideologia da gestão capita-
economia política «científica», economia «vul- lista. A economia política desanarcee enquanto
gar», socialismo científico. A economia clássica «ciência», no próprio momento em que se cons-
é «científica» formalmente, enquanto procura titui uma teoria do socialismo científico, que
explicações objectivas que remontam aos prin- tem precisamente por objecto o desenvolvimento
ípios e não se contentam com elaborar a ideo- da luta de classes.
logia económica implicada nas técnicas da ges- Marx chega assim à ideia de que

.=:b6È9ü
-eoe€,8Ëe *
a posição
tão capitalista dos «negócios». É que ela remete ec os efeitos da teoria na luto de closses são
para a luta do capital (industrial) contra a pro- eles próprios comandados pelos efeitos da luta
priedade fundiária (e quanto mais o modo de de classes na teoria. Abre o problema filosó-
produção capitalista se desenvolve, incluindo na fico ao qual será fixada toda a filosofia mar-
agricultura, mais esta luta se limita a uma xista: explicar a objectividade científica duma
teoria na medida em que ela depende, historica
luta por uma repartição determinada da mais-
e praticamente, da posição de classe determi-
-valia entre as fracções da classe dominante). nada que nela se realiza.
Nesta medida, não pode representar a oposição
Nesta via, temos de

Ë rË ;*È
nos juntar agora a


k
dos interesses do capital e do proletariado senão Lenine para dar mais um passo. !
como uma contradição secundária, não antagó-
nica. Já contém portanto, sempre, um elemento
«vulgar», «apologético» (o elemento «exotérico» Lenine

Ì
e os «desvios» do marsxismo

È
" €E*
de Smith, constantemente presente no cerne da
teoria de Ricardo: a «teoria» dos três «factores» Lenine, todos o sabem, é por excelência o

5ËË

Xie
E6.e
;áE
;;- -"f {-!a!ËË:

çËã
da produção: Terra, Capital, Trabalho). teórico das tendências e das lutas de tendências
Pode então sugerir-se isto: o que confere na história do marxismo. Não deixa de tomar
à economia clássica a sua forma «científica»,
o que comanda do interior a produção das suas !

si' isëïã

sË,'
Bem

.g

È
entendido,

âË;g:ËËËi
de Marx

çÏÈE;it;l
..E

ã:eú:;t*s
c E Ís-
'Í!
@
a Lenine, a «passa-
«abstracções científicas», é precisamente a com- vem» é mais complexa do que a simples heranca duma

F Ê",J
Ë

voH
binação do elemento objectivo e do elemento rEii:ïiei
formulação. Comporta todo o «desvio»

i! ll Èi'Ì
da prática, do
frabalho da II Internacional,
vulgar: a combinação do elemento de reconhe-

Ë Ë F Ë Ës
Notemos que é Engels
que enuncia com toda a clareza o conceito da

õ 9F

Èc" ô.9
i,s.E E:
luta tcó-
cimento e do elemento ds desconhecimento das nem de classe (luta de classe na teoria), num

F I'E \
! :. 3
texto,
lutas de classes na unidade duma mesma pro- “ prefácio de 1874 à Guerra dos cimponeses, que

i !;
Lenne
blemática. Combinação necessária e contradi- colocará no centro de Que fazer?, comentando-o
Ë
i!e
-dì,q.l
demo-
rudamente. Cf Althusser, Réponse à John Lewis,
tória, constitutiva da economia política. pero, 1973, p. 12,
Mas-

262

R
263
activamente partido nas lutas de tendências, dador. A esta primeira característica, a tradi-

Ë
ËË
leãããËãi iË Ë ã ãËË ìi Ë ËËËËi ãããË i ËËãËi ãË
e organiza a luta encarniçada, sem concessões cão marxista acrescenta uma segunda: lutar em

1—
ssã
nem perdão, contra esta ou aquela tendência, duas frentes, não é ocupar uma posição eclécti-

íããË
segundo a conjuntura que a impõe, distribuindo ca, no «centro» do seu dispositivo, recorrendo a
golpes ao mesmo tempo «para a direita» e «para uma e a outra. Mas é «ultrapassar» realmente

iã:Ë ; r sËããi ãË:ËË ãËËË9ËãË IËËsËËg


a esquerda». Esta polémica interior (que o tor- a sua oposição, descobrindo a raiz comum dos
nava odioso para a maior parte dos teóricos oportunismos «de direita» e «de esquerda»,

ãããËrïËi Ë i íi ;Ë Ë íi Ë ËËËãiiËË Ë ; Ë
marxistas do seu tempo) imprime a toda a sua de que a oposição dogmática não tem senão um
obra um «estilo» específico, que exclui todo O carácter mecânico (o oportunismo «de esquer-
«liberalismo», um estilo que os partidos e os teó- da», é um oportunismo «de direita», simples-
ricos leninistas do século XX herdaram em parte mente invertido), para se instalar noutro lugar:
(nem sempre com o seu conteúdo real). Ao o da «análise concreta das situações concretas»,
mesmo tempo, sabe-se também (ou pelo menos o da dialéctica.
redescobre-se, desde há vinte anos) que Lenine Queria, certamente, retomar aqui por minha
é um teórico da liberdade de discussão e de cri- conta esta lição tradicional, que a história con-
tica na unidade do partido e do movimento ope- firmou. Mas também mostrar que ela não fun-
rário (com vista a preservar e construir esta ciona sem pôr problemas, que não devem
unidade), o adversário de todas as lutas de ser «esquecidos» na sua solução se quisermos
«fracções», mesmo e sobretudo quando elas são que, por sua vez, ela não se preste a qualquer
disfarçadas sob uma unanimidade oficial.” Sa- desvio, a qualquer dogmatismo. Pois não basta
be-se que, até à sua morte, nas condições mais registar a resposta prática de Lenine à questão
difíceis, cle se bateu por uma solução demo- da história do marxismo e das suas crises; é
crática, não burocrática, das contradições no preciso também perguntar: o que é uma ten-
seio do partido e do proletariado revolucionário. dência? o que é um «desvio»? Em relação a que
A tradição do movimento comunista registou critério, a que ponto ou a que direeção «fixos»
esta lição sob uma forma simples: o marxismo se pode detectar um desvio? Lenine não deixou,
é constantemente ameaçado por um duplo «des- de facto, de reflectir sobre estas questões de
vio» na teoria e na prática, desvio «direilista» orientação, e a nossa primeira tarefa é lê-lo
e desvio «esquerdista». Lenine luta ao mesmo atentamente. Ao fazê-lo, ele elaborou progressi-
tempo contra estes dois desvios, mantendo-se vamente, desde os textos sobre o «economismo»,
igualmente afastado dum e do outro. Só o leni- na época da constituição da social-demoeracia
nismo, entre as correntes saídas de Marx, pode russa (1900-1905), e os que anotam a «falên-
ser assim simultaneamente fiel e completo: só cia da II Internacional», durante e depois
ele consegue desenvolver o marxismo na «linha» da guerra imperialista de 1914, até aos que se
correcta, prescrita pelos princípios do seu fun- ligam à fundação da Internacional comunista,
os elementos duma verdadeira teoria da his-
X Congresso do P. C. (Db), tória do movimento operário, que será pre-
À
O

do
O
io

Cf. os trabalhos
1
ciso um dia expor por si própria. Não rete-
^.9

1921, Lenine, Obras completas.


i
9N

265
264.
mos aqui senão o que diz respeito à teoria trução dum partido revolucionário, ce da redac-

**sãs
ãË;ËËËã
marxista, não concebida numa pureza ilusória ção de Que fazer? (1902). A palavra de ordem
mas como um momento no desenvolvimento do de Lenine é então, como se sabe: «Sem teoria
socialismo moderno (o momento da «consciên- revolucionária, não há movimento revolucio-
cia» científica e da «organização»). nário. |...) Só um partido guiado por uma teoria
Para esboçar esta leitura, não examinarei de vanguarda é capaz de preencher o papel de
aqui senão os quatro pontos seguintes: combatente de vanguarda.» '! E esta teoria no-
cessária não pcde ser sonão a tecria marxista,
1. Sobre que terreno coloca Lenine o pro- o socialismo científico ié claborado fora da
tlfi
:ËE:i;:;ï:ËEgÉiËEê8ff

blema da história do marxismo, já que esse classe operária russa, que deve apropriar-se
terreno não pode ser puramente teórico? dele e aplicá-lo na prática. Lenine retoma e
2. Por que motivo, aos olhos de Lenine, a cita a tese de Engels sobre a existência e a
luta de tendências é inelutável no desenvolvi- importância da luta tcórica, retoma e cita a tese
mento do marxismo? de Kautsky sobre a necessidade duma fusão
3. Como pratica Lenine a luta de tendên- da teoria marxista
fi ltlfiffiiãlligAr iïll
e do movimento operário,
cias e a crítica das tendências «deviacionis- que surgem inicialmente duma forma indepen-
tas»? dente, de «premissas distintas»: uma da trans-
4. O que faz, finalmente, a originalidade e, formação teórica das formas mais avançadas
para nós, a actualidade desta crítica? da ideologia burguesa, a outra da experiência
Examinarei estes quatro pontos através da das lutas da classes económicas, espontanea-
evocação de alguns textos importantes, que mente suscitadas pela exploração capitalista.
representam 20 mesmo tempo etapas históricas Para combater o «espontaneismo», o «tradeu-
na formação do leninismo. Serei obrigado a nionismo», que pretendem reduzir a luta de
fazer em grande parte abstracção do próprio classe proletária à luta sindical, ao movimento
conteúdo das lutas travadas por Lenine contra grevista, submetendo-a assim, quer o quisessem
o populismo, o marxismo «legal», o menche- ou não, à política burgucsa, Lenine retoma a
vismo, o oportunismo da maioria da MH Inter- Kautsky a tese da separação inicial da luta de
nacional, o «esquerdismo», etc. É toda & his- classe (económica) e da teoria socialista cien-
tória do marxismo em meio século que era tífica, da «importação» necessária desta na-
necessário escrever. Limitar-me-ei ao movi- quela, levando à «fusão» das duas.
ËËËË

mento de conjunto da constituição das catego- Paremos aqui por um momento. Nestas
rias nas quais Lenine reflectiu a forma e a análises, importa notar que Lenine toma de re-
jogada histórica destes combates. pente por «objecto» não a teoria sozinha, ou a
prática apenas, mas precisamente a relação his-
1. Lembremos antes de mais, brevemente, tórica da teoria com a prática revolucionária,
:Éâ:

em que terreno, e portanto em que termos, Le-


nine pôs logo de início o problema do desenvolvi-
mento do marxismo: a partir da época da cons- ! Lenine, Obras completas, tomo V, p. 374
o e s.

E
266 267

ôì
È-
H
volvida, uma tese complementar: uma tese que

lggi; ã

lãi :Ë ËË Ëa : Ë ;cËË lãi


para lhe estudar as formas concretas, numa

ËãË

;ÊËãËË
ïfi í!Ë [: sÊg; :
diz respeito ao efeito da relação

e ii,r,t l;* iËËË ËtãiËË;Ë[Ë HïËiË:ãï ËËã


teoria-prática

Ës,Ët*+i:Ëii :* ;*ããËË;ãtËï:f íË iË,ÉËãË'

Ëi
dada conjuntura. É esta relação que constitui o sobre a própria teoria. A análise de Lenine
verdadeiro objecto da história do marxismo, implica que, tendencialmente, o desenvolvi-


porque remete para a sua determinação mate-
ii ff ËËããËiãËË;ËëËiËãË mento da teoria marxista é, também ele, afec-
rialista. Certamente, em Que fazer?, Lenine tado pela sua «aplicação» e a sua «importação»

Ëèü
encara-a antes de mais do ponto de vista da prá-
H

para o movimento operário: é, como o notáva-

ggãããgÏ
tica, e podemos pensar que ele não a considera mos já acima a propósito do próprio Marx, cada

í,=il€ËË:
senão num único sentido: da teoria (já dada)

ËË
vez mais profundamente comandado pelos efei-
para a prática (que se trata de organizar e de
tos da sua própria «fusão» com o movimento
transformar). O próprio Lenine reconheceu e operário revolucionário, que lhe fornece a base

Ët
explicou, ulteriormente, esta orientação unila-
prática, experimental, os seus problemas a re-
teral, imposta pela conjuntura. ' Mas esta orien- solver, as suas condições de intervenção.


tação dominante não significa de forma nenhu-
Para o compreender, é preciso prestar aten-

';tË
ma que Lenine ignorasse a complexidade da

Ëe
-lãsËËË
ção ao que, no próprio retomar destas formula-
relação da teoria com a prática; desde que se
releia a sua análise em pormenor, podemos pelo ções, distingue já Lenine de Kautsky. Sem ter
assumido então a forma de uma oposição, esta

tËe iËs
contrário convencer-nos de que ele a pensa de
distinção adquire, ao conhecerem-se as conse-

ããi Ë;;
imediato como uma relação dialéctica, impli-
quências, particular relevo. O que de facto

if! i Ëff iiãË íËË Ëiã$$!


cando a história dos seus dois termos. A prova
caracteriza a formulação de Kautsky (for-
é precisamente o facto de, para ele, o objectivo
mulação que, repito-o, Lenine cita e dá como
principal do momento, objectivo prático (orga-
Ei;

nizar a luta política da classe operária russa, exemplo) é que cla analisa a «fusão» do socia-

g
criar o instrumento material desta luta que é o L lismo e do movimento operário em termos
sociologistas e, portanto, mecanicistas. Kautsky

g;
partido), passa por uma insistência sem prece-
leËã,Ë

L; i
dentes sobre o papel da teoria (científica) no considera o socialismo (teórico) e a luta de
classe do proletariado (note-se bem, trata-

ããii
movimento revolucionário. Esta dialéctica per-
Ë

maneceu, para falar propriamente, incompreen-


-se na formulação de Kautsky, da luta de
iãËËãíÈË

rï Ë :Ë 3Èe

sível para os adversários de Lenine, que nela


classes em geral) como dois efeitos indepen-
não souberam ver senão quer um «teoricismo» dentes das relações cconómicas actuais: «O
I; ïãË!

socialismo e a luta de classes surgem para-


(um cientismo e um dogmatismo), quer um
«praticismo» (até um pragmatismo). Podemos lelamente e não se engendram um ao outro.»
Paralelismo e, assim, exterioridade recíproca
pois esperar que os próprios termos em que Ëremetem nele não para as condições duma con-

giËff
Lenine define a teoria impliquem também,
juntura determinada, mas para a estrutura
mesmo sob uma forma muito geral, não desen-
permanente da sociedade capitalista, que faz
1 Cf Lenine, Discurso sobre a questão do pro-
com que «o portador da ciência não seja o pro-
'Ëç qx
Èì
q

È=ãn
? -"r

i> i

grama do partido (1903), Obras Completas, tomo VI, letariado mas os intelectuais burgueses». Cada
: -
:õ È

èE

p. 515; e prefácio à recolha km doze anos (1907), Obras um dos elementos do movimento revolucioná-
I

Completas, t. XIII, p. 95 e segs.


p.

0.,
,

269
268

rio é assim imediatamente atribuído à existên- ções formalmente retomadas a Kautsky uma
cia dum grupo social distinto: dum lado os ope- significação muito diferente. Diferentemente de
rários, do outro os intelectuais; e a fusão da Kautsky, Lenine não concebe a «separação» ini-
teoria e da prática revolucionárias torna-se cial do movimento operário e da teoria cienti-
a expressão imediata da união dos intelectuais fica sobre um modo sociológico (e psico-socioló-
com os operários. gico), como uma confrontação entre o grupo dos
Se é verdade que Kautsky pode assim des- «operários» e o dos «intelectuais», e entre as
crever, nas suas grandes linhas, um «facto» suas «consciências» respectivas. Estuda as con-
histórico (o facto de Marx e Engels terem dições sociais, historicamente determinadas,
sido «intelectuais burgueses»), a explicação desta separação relativa, e depois da fusão, o
que ele dá disso na sua formulação é pro- que é uma coisa completamente diferente.
fundamente idealista: o socialismo teórico Em primeiro lugar, Lenine mostra que o
parece constituir-se fora da luta de classes, conceito de «espontaneidade» não tem sentido
porque fora da classe operária como grupo absoluto: «há espontaneidade e espontaneida-
sociológico, «no cérebro de certos indivi- de»; há muito precisamente uma história da
duos» da burguesia. Este «facto» encontra-se «espontaneidade» operária, isto é, uma história
assim privado do seu significado histórico real, dos graus e das formas da organização das
ou antes, encontra-se sempre representado fun- lutas do proletariado em cada país. É esta his-
damentalmente nas categorias do «espontaneis- tória (e não uma dedução sociológica) que per-
mo» que se considera que Kautsky criticava: mite constatar e explicar este facto capital: a
simplesmente, ao lado da espontaneidade operá- «espontaneidade» operária, se é um começo ine-
ria (que gera a luta de classes mas não a cons- vitável, não é por isso nem simples nem ime-
ciência teórica), há também uma espontaneidade diata, é pelo contrário, sempre e já, complexa
intelectual (que engendra o conhecimento cien- e contraditória. Não é, pois, o vazio de qualquer
tífico). A partir daí, a «fusão» reclamada por posição política, mas o pleno duma. política bem
Kautsky não pode explicar-se senão por uma determinada, ditada pela ideologia dominante,
harmonia preestabelecida entre a luta dos ope- uma política burguesa. Eis porque o «esponta-
rários e o pensamento dos intelectuais; e, no neismo» (ou o «tradeunionismo»), que faz da
plano prático, o da organização do partido, não espontaneidade um mito e um ideal, não pode
pode conduzir senão a um primado dos inte- senão reforçar o domínio da ideologia burguesa.
lectuais, a um papel dirigente dos intelectuais A espontaneidade é o facto de a classe operá-
como tais (imagem invertida do obreirismo). ria estar sempre (incluída, diz Lenine, a
Mais adiante voltaremos a encontrar estas classe operária alemã, então a mais «avançada»
características do pensamento de Kautsky. quanto à consciência revolucionária) dividida
Ora, ao longo de Que fazer? (e dos textos entre várias ideologias (proletária, burguesa),
contemporâneos), Lenine desenvolve outra ar- entre as quais se trava uma luta incessante.
gumentação, que rompe completamente com o Em segundo lugar, Lenine recusa com toda
sociologismo, e que confere assim às formula- a força qualquer privilégio dos «intelectuais»
270 27
enquanto grupo social a respeito da teoria revo- nha por um lado (condição negativa) o facto de

ãëgËããgg


ãe;iããÍgiãg;ã:Ëã iËãËãgË'íiEËrããËÈãËsíË,
lucionária. Como grupo social, os intelectuais a teoria ser «exterior», não às relações e às lutas
não são mais avançados que os operários, são-no de classes em geral, mas à esfera das simples

ËËã;ËËiËËËiËãã ËËÈËãíË'ËËËËff
infinitamente menos. Se hã uma tendência relações económicas entre operários e empre-
espontânea dos intelectuais, é «uma propensão sários, das lutas económicas implicadas na
desmedida para passar ao liberalismo», que pro- jogada das condições de compra e de venda da
duzirá os seus efeitos no próprio scio do movi- força de trabalho. Mas a teoria é de imediato
mento operário. Esta tendência enraiza-se nas submetida aos efeitos da luta política de classes,
condições materiais e nas formas sociais do que põe em presença todas as classes da socie-

íãi
próprio «trabalho intelectual», na sociedade dade. Por outro lado (condição positiva), salien-
capitalista, em particular na forma universitá- ta o facto de a luta de classe proletária, desde
ria e académica da actividade científica, diree- as suas primeiras manifestações, ter sempre

íãËËgãiËÈçÈË I ËËgËããããËËÉËff
tamente ligada à estrutura do aparelho de começado a produzir efeitos na ideologia econó-
Estado burguês. Os intelectuais são assim, mica, política, filosófica dominante, efeitos pri-
materialmente, não «funcionários da humani- meiro indirectos e desiguais, mas bem reais, e
dade», como o pretendia a filosofia, mas funcio- detectáveis nas próprias contradições da ideo-
nários da ideologia dominante, e não está nas logia dominante.
suas mãos libertarem-se colectivamente, en- Assim, Lenine concebe a relação da teoria
quanto reinem as relações sociais capitalistas. revolucionária com o movimento operário como
Constatar que os fundadores do socialismo cien- a relação entre duas formas, desigualmente de-
tífico foram na origem intelectuais burgueses, senvolvidas, e desenvolvidas num terreno dife-
não é registar um simples facto, contra o fundo rente, da luta de classes. A importação metódica
duma harmonia preestabelecida, é colocar um da teoria marxista para as organizações nasci-
problema difícil. É pôr em evidência que a cons- das da luta económica, a fim de as transformar
tituição do socialismo científico não está em em partidos revolucionários, não é pois senão a
continuidade com o trabalho intelectual ante- contrapartida,o efeito dericochete dum processo
rior, mas é o resultado duma profunda ruptura em que se desenvolviam já os efeitos duma mes-
com a ideologia dominante, assim como com as ma luta de classes, irredutível a uma forma sim-
formas anteriores do trabalho científico. ples. Pode compreender-se então o destino his-
Esta ruptura seria ininteligível se se repre- tórico singular da teoria marxista: importada
sentasse a teoria como uma actividade autó- «do exterior» para o movimento operário, mas

:t sfi ;Ëã
noma, tendo a sua origem em si própria ou na «reconhecida» por ele através das lutas econó-
invenção criadora do teórico (no seu «cérebro»). micas e políticas, torna-se a condição interna da
A teoria não tem Sujeito individual, tem apenas sua organização, o elemento graças ao qual esta
«operários» intelectuais, que põem em acção os organização se subtrai à influência política e
meios teóricos existentes em determinadas con- ideológica das classes dominantes, para con-
dições. Tudo depende portanto destas condições. quistar a sua independência, o elemento que
Lenine analisa-as por um duplo prisma: subli- desenvolve o carácter propriamente proletá-

272 273
rio e revolucionário da luta política de classes. Para o compreendor, é-lhe preciso primeiro

íliiããgi

'íil'iãil !
Pode compreender-se também que esta «impor- ir até às próprias condições nas quais o mar-
tação», se não é um começo absoluto, sc é já xismo se constitui. Na história teórica do mar-
um resultado, não é também um fim, o termo xismo, a polémica, a luta contra as ideologias
do desenvolvimento da teoria: ela cria, pelo con- adversas, não foi um aspecto derivado, secnn-
trário, as condições dum desenvolvimento novo, dário, posterior à sua própria constituição.
ao qual dá as bases próprias. Longe de perpe- Ela era-lhe necessária. O ponto de vista teórico
tuar as condições que a tornaram possível (pelo de classe não se constitui isoladamente, cons-
prego de formidáveis dificuldades), transforma- titui-se na luta indefinidamente retomada, rea-

;gff ãltgffi ã;ãE


-as e deve afastar-se delas cada vez mais, dando justada, contra a ideologia dominante que pene-

'i"
lugar a um trabalho «intelectual» de tipo novo. tra o próprio socialismo: pois toda a posição
No princípio, a análise de Lenine abole as Ori- de classe é uma divisão em acto, um processo
gens e os Fins. Guardemos este primeiro ponto de divisão. Eis porque o desenvolvimento teó-
na memória, pois comanda tudo o que se segue. rico do marxismo não foi a simples conseguên-

Ïi,iËãiiÏ
cia das «descobertas» de Marx; é o cfeito desta
2. Para dar mais um passo, temos agora polémica inevitável, é o anti-Proudhon, o anti-
que nos cingir aos textos em que Lenine pôs a -Bakounine, o anti-Diihring.
questão dos desvios como um problema geral, Se se reconhece que esta luta entre o mar-
fora do qual a história da teoria fica ininteli- xismo e o socialismo pré-marxista afecta do
gível. Fê-lo no mais forte da luta contra O interior a própria constituição da teoria mar-
revisionismo e contra a corrente de «liquida- xista, pode compreender-s: a natureza do pro-
ção» na social-democracia russa, depois de 1905. cesso que se desenvolve depois da vitória do
Lenine procura então as causas que fazem do marxismo sobre as outras doutrinas socialis-
«revisionismo» (termo inventado pelo próprio tas:
Bernstein, que adopta como palavra de ordem «Por volta de 1890 esta vitória, nas suas

iiËgããã:ãïi*Ët
isggs;gããiËïiã
a necessidade de «corrigir» e de «rectificar» o linhas gerais, é um facto assente [...]. A orga-
marxismo, desembaraçando-o dos seus elemen- nização internacional do movimento operário,
tos «hegelianos», «blanquistas», etc.) um fenó- ressuscitada sob a forma de congressos interna-
meno geral, com as suas variantes nacionais cionais periódicos, coloca-se de imediato e quase
(bernsteinismo, jauréssismo), incluindo as suas sem luta, em todas as questões essenciais, no
variantes «de esquerda», anarco-sindicalistas. terreno do marxismo. Mas quando o marxismo
«O que é que torna, pergunta-se ele, o revisio- suplantou as teorias adversas, um tanto ou
nismo inevitável na sociedade capitalista? Por- quanto incoerentes, as tendências que estas teo-
que é ele mais profundo que as particularida- rias traduziam procuraram novas vias. As for-
des nacionais e os graus de desenvolvimento mas e os motivos da luta tinham mudado, mas
do capitalismo?» a luta continuava. E a partir do segundo meio-
-século de existência do marxismo começa (de-
Revisionismo (1908), Obras com-
e pois de 1890) a luta duma corrente hostil ao
o

Margismo
,i

1
g

pletas.

ata
marxismo no seio do marxismo [...]. O socia-

igãããËËãË: Ë I Ë

ËgËr
cão «integral» da maioria da população: a luta
lismo pré-marxista é batido. Prossegue a luta, já

gããÈËËiËãíË

sËË
actual entre o marxismo revolucionário e o revi-
não no seu próprio terreno, mas no terreno
sionismo, aq continuação da luta (teórica) de
geral do marxismo, como revisionismo.» |
pré-marxista e «revisionismo» classe no marxismo, aparece assim como a pre-
Socialismo

ïËsããËff ËËËÍËËËã

st;sgãËff
históricas duma mes- figuração, e um dos aspectos, da continuação da
são portanto duas formas
duas formas cuja sucessão, em luta de classes na ditadura do proletariado, que
ma tendência, tem as mesmas bases gerais. No entanto, nesta
conjunturas diferentes, reproduz uma mesma
análise, Lenine trata ainda apenas da «socie-
tendência. Também, do mesmo modo que a luta
dade capitalista» em geral, descreve um pro-
contra o socialismo pré-marxista foi a condição em
cesso permanente, que subsistiria imutável
interna da constituição do marxismo, a luta
torna-se a condição toda a sua história (o duplo movimento de pro-
contra o revisionismo
interna do seu desenvolvimento. Mas esta cons-
letarização e de reconstituição duma pequena

iããËËíããffglãuËff
tatação levanta pelo menos três questões: a das burguesia). O revisionismo seria conduzido por

bases sociais duma tendência, a do seu conteúdo esta pequena burguesia em vias de proletari-

ããËËglgãgg
zação, como o socialismo utópico, o anarquismo,
teórico permanente através das mudanças de
gãgsg,

conjuntura, a do «lugar» que é preciso atribuir etc., eram conduzidos pelos artesãos do século
à luta no dispositivo da teoria marxista. XIX. Neste sentido, a análise de Lenine não se
questões, em 1908, Lenine não dá prende q uma fase determinada da história do
A estas
ainda senão respostas parciais, mas com muito capitalismo, e tende a esbater a especificidade
interesse. do revisionismo. Da mesma forma, tende a loca-
Sobre o primeiro ponto, mostra que «o que lizá-lo nas margens da classe operária, do lado
gI
ãËi sãËgãË

torna o revisionismo inevitável, são as raízes das suas relações com a pequena burguesia,
com as camadas incompleta ou desigualmente
sociais que ele possui na sociedade moderna»: é
gËËãËËãÉ

o carácter desigual do processo de proletariza- proletarizadas.


sempre ao lado da classe ope- Sobre o segundo ponto, trata-se de com-
ção, que mantém

ËigããËËËË
rária uma pequena burguesia, ao lado da grande preender quais são as «vias» específicas da
produção capitalista uma pequena produção ideologia burguesa «no terreno do marxismo»,
mercantil, céo próprio desenvolvimento do capi- isto é, já o vimos, no terreno não apenas da teo-
talismo, que cria inelutavelmente novas «cama- ria, ou apenas da prática, mas da sua unidade,

iuË ããsã ãË
das médias». Não é, portanto, uma simples <«so- que torna possível a união da teoria marxista e
g

brevivência», mas um processo permanente, do movimento operário. É preciso ir aqui até ao


iËËËi

lgigs

actual. E Lenine mostra que este processo conti- ponto nodal, que comanda progressivamente
nuará a produzir os seus efeitos depois da pró- todo o processo de revisão teórica (sobre a con-
pria revolução proletária, que não tem de ma- centração capitalista, sobre as crises, sobre a

iigã
neira nenhuma como condição uma proletariza- teoria do valor, sobre as contradições do capita-
lismo) e prática (reformismo e reunião ao par-
lamentarismo burguês, ao liberalismo). Este
r
1 TIbid. nodal, aos olhos de Lenine, é o
ponto
õocd

o
o

qt

ob- ì.-
276
ôì
D-


reconhecimento efectivo do socialismo cien- «desvios» teóricos do marxismo são desvios

Ëe,Ë,ËËËãÈ;Ë â;È

Ë'!

::!Êã;Ëì ;;':; i:;Ë1; i ÈÊã8,Ë É ì :. ;'


ïËË:ãËrË
Ë

; i ïË íã ËËti ã;EËËiËËlgËË;ËËã!lÊ
Ë Ë Ë ; A*Ën lSi,:È:
tífico como uma ciência de partido: não uma filosóficos, realizados no terreno do conheci-

; ãFËË nËËEãiË;ãiIËËãã; íË rËË


ciência posta ao serviço dum partido, mas uma mento científico, e as «revisões» são antes de

itiãËEËËË ri :Ë ï:
ciência sempre já comandada, no seu materia- mais revisões filosóficas, que produzem os seus
lismo, isto é na sua objectividade, por uma posi- efeitos na teoria marxista ao mesmo tempo que
cão de classe e portanto de partido. Donde a na linha do movimento operário.
aproximação com a filosofia: «| . | não se pode Como se vê, pelos elementos de resposta que
acreditar uma palavra de nenhum dos professo- traz às duas primeiras questões, a das bases so-
res de economia política, capazes de escrever ciais do revisionismo e a da via de que se serve

gËi E ãi;:Ã; Fr ;i : Ëg[Ë5Ë


obras de grande valor no domínio da investiga- para de certa maneira minar o marxismo do
cão especial, acerca dos factos reais, assim que interior, a análise de Lenine faz surgir uma
se trata da teoria geral da ceonomia política. terceira questão: a questão do próprio «lugar»
Pois esta última é, tanto como a gnoscologia, do desvio. Digamos, mais precisamente: a ques-

;:
na sociedade contemporânea, uma ciência de tão do «lugar» em que ele se enraiza historica-
Ili;;; iãÈãËëË+ ãïE:

partido. Os professores de economia política mente e a questão do «lugar» em que se pro-

EPs ÚFE
não são, de maneira geral, mais do que sábios duzem os seus efeitos teóricos, com as suas
escriturários da classe capitalista; os professo- conseguências em cadeia. Nos dois casos, tra-
res de filosofia não são mais do que sábios es- ta-se de saber se este «lugar» é bem central,
i*"*;i I a *; ; i iËË

criturários dos teólogos.» ' Digamos as coisas determinante para a existência e o desenvolvi-
por outras palavras, pois não se trata aqui dum mento do marxismo, ou sc é apenas marginal,
simples paralelismo entre a «economia política» secundário. E trata-se de saber o que lhe con-

i i F È€t É;
(on a «sociologia», diz ainda Lenine, que é obri- fere a sua importância. preciso pôr este
gado a seguir os seus adversários no terreno problema para poder compreender quais são
académico *) e a «gnoseologia» (de resto, a gno- as formas específicas da ideologia burgucsa
seologia não é «uma ciência»): o que faz do «no terreno do marxismo»; e quais são as con-
materialismo histórico uma ciência de partido, dições de possibilidade, no próprio marxismo,
e lhe determina assim a orientação (e também, deste «regresso do recalcado» ideológico bur-
portanto, o progresso ou a regressão teórica), é guês.
ï:rï

a relação interna com a filosofia dialéctica c Lenine tende cada vez mais a «localizar»
;Ë ï

materialista, de que depende uma união correcta o desvio ao centro da relação de união da teoria
ãË

da teoria e da prática. Em última análise, os c da prática que é constitutiva do marxismo: na


própria desigualdade da relação de «fusão» da
teoria marxista e do movimento operário, por-
1 Lenine, Matérahsme et Empirioertique (1908) tanto na estrutura dos partidos sociais-demo-
i
ôç.:
.!? ns ã ú
Ê^ t ü:

É"r
ÂÌì à
È; " Q:

^R-'
-1.,q,^

"*- 3 ì

F;Q"

I
1ã ?5,e

Obras completas, tomo XIV, p. 357.


cratas, que reilectem as contradições do pro-
.è E''

2 «Wer den feind will verstehen, nauss im Feindes cesso de proletarização. E na desigualdade do
;
>

as
iF

lande gehen (quem quiser conhecer o seu amimigo, deve desenvolvimento teórico do marxismo, em par-

õ
9

ir ao pais desse immugo).» Ibid. ticular na fragilidade persistente, porque cons-

278 279
Ì:-
tantemente ameaçada, e nos «derrubamentos» que parece professar, no plano da teoria «eco-

ãËlËãg ãïËËiËãiff:gl**-Ë*'iË
Ëã;ãË:,

Ëã

Ë€
í;fiçffi;ËE:Ë

:*ËËëiËtr;Ëii+iËEiËÏïËÉiËËËirsgËsãËËË
da sua posição filosófica (cujos «regressos» a nómica», um marxismo inatacável, manifesta-
este ou aquele filósofo idealista são índices -se: 1) pela denegação do aprofundamento e

íËãã;

Ëi
conjunturais). No centro, isto é na organização agravamento das lutas de classes no capita-
do partido, na determinação da sua linha polí- lismo dos monopólios (donde a teoria do «ultra-

ffi ãËËãEït;; .iË ; :ã


tica, na prática duma «posição de partido» no -imperialismo», de Kautsky); 2) pela incapa-
seio do trabalho científico. cidade de reconhecer e analisar a mudança de
conjuntura na luta das classes, a passagem

ãËË ËËãgË
3. E agora, podemos colocar esta questão: dum período «pacífico» a um período de con-
nËi

como é que Lenine, na sua crítica dos desvios fronto revolucionário violento (o «esquerdis-
da social-democracia, põe estes princípios em mo», esse, manifestará uma incapacidade simé-
prática? O exemplo mais significativo, e o mais trica para reconhecer outras conjunturas que
Ëããilãiilã:Ëff

importante historicamente, é o da crítica de não sejam a luta violenta); 3) pela incapaci-


Kautsky, de Plekhanov e, mais geralmente, da dade para reconhecer e analisar os efeitos do
maioria dos teóricos e dirigentes dos partidos desenvolvimento desigual do capitalismo nos
da II Internacional, na época da guerra impe- diversos países, na época do imperialismo, e a

gãËË
rialista e da revolução soviética. É a denúncia possibilidade da revolução socialista em certos
e a análise da «falência da II Internacional». países capitalistas «atrasados» (o trotskismo
Esta crítica concentra, num momento histórico continuará esta tendência, na sua teoria da
decisivo, os traços característicos do «leni- «revolução permanente»); 4) pelo seu des-

ãiff
nismo»: foi ela que dele fez, à prova de fogo, à conhecimento e deformação da teoria marxista
forma autêntica do marxismo para toda uma do Estado, ponto decisivo no confronto das ten-

E
época, a que pertencemos ainda. dências e característica comum de todas as

ÈÉËË: rË€
O aspecto principal desta crítica é, variantes do oportunismo, desde a recusa da

gãi
evidentemente, o afrontamento de duas práti- ditadura do proletariado por Kautsky e Plekha-
cas políticas opostas: por ou contra O apoio nov até aos erros dos «comunistas de esquerda»
ãË

da social-democracia à guerra imperialista («a sobre a questão nacional; etc. Todas estas ca-

ggË
sagrada»), por ou contra a transforma- racterísticas manifestam, e Lenine insiste nisso
ããlg;ãËãlã

união
ção da guerra imperialista em guerra civil, por constantemente, mostrando-o em pormenor, a
ou contra a revolução soviética, primeira revo- ignorância da dialéctica (mesmo e sobretudo

ãËËiiã;Ë
lução proletária vitoriosa da história. Mas quando é formalmente invocada: a dialéctica,

ËÈíiË È,
este afrontamento inclui imediatamente uma «infelizmente», não é um método que se possa
luta teórica, à qual devemos alguns dos princi- aplicar como um sistema de regras). Cada
ã-ãi-

pais textos «clássicos» do leninismo. É esta luta ponto destes é, já o sabemos, o lugar duma
teórica, como tal, que nos interessa aqui antes «descoberta» original de Lenine, dum desen-
de mais nada. São conhecidos os seus temas volvimento teórico que acrescenta novos conhe-
principais. O oportunismo da social-democracia, cimentos à teoria marxista.

280 281

-
U

Pressupondo conhecidas estas criticas,

ug

a: ã; i1!; ËëËE

ËËi3teËã ãÍáa F"ãX*Ë"€gË"esË<ã'E


;Ë É; ã;;Ë

:gÈ;ãe;:g
ããEúïgËË ;ãSs

*ãr:isç: !t;: E:;:fÊFín;;;3F*


s:,fiËEïii

'E

r;5*;.; !ï [I*Ë Ë€ ËeÈ i E i s i: ã Ë:


com as formas

=ZçiËíio: EgiË
de consciência

ï r ã:íliE ! Ë $ 3ãË*ËËËË;ËËB*s z E È o,=ìï


subjectiva, com

€:-s.q.tsã..
3-Ë.3È

'frãÈ
; E i Ë.'ã !ãË;

.*PÊ*3
o u

EãEË:
Ë.ãseïÈgË

.íõgÈÈ
detenhamo-nos um instante na sua forma e

, 3 c:i b È l-ì I

i.*_ïÊ
" L
õ.!.=

;.F^ËÈs :3
a.e ,lë

;.i,,9 s.Ë à F
v-.i
ÉoQ""ô
a maior ou menor inteligência subjectiva do
mesmo no seu «estilo», em que se exprime a con-
F marxismo

i: í: íE Ë;ì Ë i; Hïl ìËçã: ãË;Ë


entre os indivíduos, mas refere-se

^
cepção que Lenine tem da luta de classes

qr
$Ë; rEËEs'Ë,'ãËËË:Ë íãË
a posições teóricas c práticas objectivas, ne-
teórica. Em particular no exemplo privilegiado

A'9+j

g}! d t'.!
1:È Ë i g*-:* ËS Íe;iÈ
c,
cessárias, que orientam c inflectem a história do
de Kautsky, cuja posição, e a tendência que

Õ
movimento operário.
representa historicamente, ocupam um lugar
No entanto, na sua crítica de Kautsky e do

go
ËË
determinante no desenvolvimento das teses de

ËE

E.

"-

cr
oc)
oportunismo, Lenine invoca constantemente

ÈÈ
Lenine.

A.)
três argumentos:
Ora a crítica do kautskismo efectua-se duma
Ë9",i
E;:Ë 5.;t

i3g; xiiã:€"3ã!Ëii:Ë
forma paradoxal, que não pôde deixar de susci- 1. O oportunismo esqueceu ou iludix certos
tar dificuldades e que produziu ela própria

È
ËËË;ËE: È;ËË3
FãËÉãËiãËã:Ë
aspectos do marxismo, em particular
cfeitos contraditórios. Tentemos mostrar por-

rÍ lE:
toda uma sério de textos de Marx e
quê.
Engels: antes do mais, «csqueceu» as
Em primeiro jugar, Lenme não deixa de
ï5iãrËãtËËPc;ÍH
árnE;ilY.*;:!s*r!
eãi::=-* Ëlë:Ë

3ç$IEe!ïlE:eFÈ'Í
conclusões que Marx e Engels tinham ex-
sublinhar que Kautsky (e, dum modo geral,
traído da Comuna de Paris, e a «recti-
os dirigentes «ortodoxos» da social-democracia,
ficação» do Manifesto Comunista daí
que foram os protagonistas da luta contra

!
resultante. '
Bernstein e o revisionismo declarado) não 2. Em consequência, o oportunismo defor-
l;ÈçËÈËsËËË

ôt
devem ser considerados como indivíduos. «Indi-

; ils€g
mou, desnaturou a teoria marxista da
víduos e grupos podem mudar de campo. J não
luta de classes e do Estado, de forma
só possível mas até inevitável, sempre que se
a poder apresentar a teoria da luta de
produz uma grande «devastação» social; o
*;

classes scm a teoria da ditadura do pro-


carácter duma dada corrente não se modifica
letariado. ?
por isso, minimamente, nem sequer o elo ideoló-
iísãË

3. Nestas condições, o oportunismo não foi

ËCui;ãá

.õ,_.:: o' ! d
.9Evgol-
gico entre correntes determinadas e a sua signi-

á É a"EÁ q P

iõ(P./ico!1

:.: >= x'

,9..9
€,!,rq.
ÇÌY.:-:
,Á ca.;2
oí"''!c.9
o Y *O

Ë.8

o õ È È= -
marxista (nem revolucionário) senão
ficação de classe»? A crítica do oportunismo

Èd-Ê,i
na aparência, «nas palavras», intenção

È 9Sã Ê
nada tem a ver essencialmente com os indi-

Í
e promessas, mas não realmente. na prá-
víduos (mesmo considerados em grupo), isto é,

{ Ë
fl Ë
tica. Não praticou o marxismo mas uma
5

s.

r!

H3

"a
«fraseologia marxista», que releva da

È
1 Cf sobretudo 4 folência da IL Interrncional,
«hipocrisia». *

<
:.3 È !,u
,.;o'!
€!õ -sç
€;Ë€;E
€o3;o!
- i!ÊËÊË-s

<S FÈt3=
!i.Eq'Po
.sÊ;.õao
-i* ":", Ê--

uo:S&!
'3i

=Ei!!c
Ê.çì:,S" i

:Si
: ãs.È., E ;

!siÊ-vã
ìÈ^c^Fi
s"È;l,q

Obras Completas; O Imperalismo, estádio sunremo do


5

i.siuï ,::

capitalismo, Obras Completas; Uma caricatura do mar-


itãcs"

rismo e a propósito de «o economismo imperialista»,


" 5È:i
!! s

! Obras completas, tomo


j.-

XXV, pg 4329-440, 518-


Obras Completas; O Estado e « Revolução, O Esquer- À t-+ts.
.- :s õ'^
o
E 2i; rô./.>

Ëí!*

?ss
:ìt
ôa)y
dismo, doença infantil do Comunismo, Obras
-520.
Com-
- o9cn

pletas, etc. 2 Cf. nomeadamente Obras completas, tomo RKXV,


2 Cf. por exemplo, Obras Completas, tomo XXI, pg. 416, 418, 446, 513, etc
Ê

È
ã

i'i
r
F

pg. 152 à Cf. por exemplo Obras -x completas, tomo XXI,


x

p. 226; tomo XXV, p 457, etc


L
H

283

cil
u
seguida, que se formou de repente pelo menos

ããff

ËããË
Destas acusações, Lenine apresenta as pro-

ËãËiËËtËiãËãgËËiããããË

Ëggi
uma tendência organizada que pôde e teve de
vas, citando, explicando, desenvolvendo demo- romper historicamente com o oportunismo, e
radamente os textos de Marx e Engels, confron- assim lutar contra ele sem nenhuma concessão
tando-os com os comentários de Kautsky e (o bolchevismo). Significa, enfim, que há uma

gËËË

ËigËgËãËiËË * ËãilËË;
Plekhanov às suas obras e aos seus actos.

iïËiãËãtlãããË ËiÈigË ãggg;


contradição inconciliável entre a posição de
Entendemos que a forma desta crítica é oportunismo e de traição dos dirigentes da so-
comandada pelas condições práticas nas quais cial-democracia e a tendência revolucionária das
ela tem lugar: trata-se de fazer juizes das próprias massas (o que faz com que a «falên-

ãl
massas de militantes operários revolucionários, cia» da II Internacional não seja a das massas
que sancionaram largamente este julgamento, mas a dos dirigentes, não o fim do internaciona-

ãgË
fundando e ingressando nos partidos comunis- lismo, mas pelo contrário uma condição do seu
tas. Mas, exactamente na letra desta argumen- desenvolvimento e da unidade real do proleta-
tação, deve surgir-nos mais tarde também uma riado: pois a unidade do proletariado, é a sepa-

ãã,
contradição, precisamente por causa dos seus ração dos elementos burgueses da social-demo-
imensos efeitos práticos. Todos estes argu- cracia !).
mentos têm um ponto comum, que se terá Que traduzem antes de tudo estas constata-

ËãË
notado: pressupõem de facto a existência dum ções? Este simples facto, decisivo, de Lenine,
ponto «fixo» do marxismo, duma referência estudando e denunciando as causas do oportu-
teórica preexistente ao desvio oportunista, nismo, não se colocar no ponto de vista da pró-

ãÈË
duma linha precisa previamente dada (da qual pria tendência oportunista, como se fosse a
houve afastamento). Para que o marxismo única, como se ela fosse por natureza a ten-
possa ser «esquecido» e «deformado», para que dência historicamente dominante, a longo termo
i [ËËËãff

Ë
possa ser reencontrado sob uma fraseologia (mesmo quando diz: é momentaneamente domi-

ããããããii Ë ãiË
hipócrita, é preciso que seja primeiro consti- nante nas organizações da classe operária).

gff
tuído e fixado. É precisamente o que constitui Coloca-se, pelo contrário («estrategicamente»,
um problema. Que significa, com efeito, esta dirá Mao), no ponto de vista da tendência
«existência» do marxismo autêntico, em relação oposta, da tendência objectiva da classe

iãii ËË Êi
à qual se poderia assim medir a amplitude e o operária ao abraçar uma ideologia revolucio-
sentido dum desvio? nária, e no ponto de vista dos meios prá-
Significa, na argumentação de Lenine, pelo ticos e teóricos de realizar e acelerar esta
ËËiiEËãiË,

ËËãËgg

menos três coisas materiais, cada uma segundo tendência. No entanto, estas constatações são
a sua modalidade. Significa primeiro que os completamente problemáticas, ou mais exacta-
textos de Marx e Engels existem, visto que mente, são circulares: pressupõem o resultado
estão escritos e publicados (por vezes pelo preço do processo histórico sob a forma dum «dado»
duma longa luta política, que é já um combate
contra o oportunismo, como no caso da Crítica
lgg

do Programa de Gotha: não pode tratar-se de 1 Cf. Obras completas, t. XXI, p. 15, 105, 150, 462.
o
o

X
X
Fi

11)

lir
Ài|rJ
um acaso); portanto, podem ler-se. Significa, em
285

ôI
284
prévio. O problema não
t
é unicamente, com Kautsky era «ainda» marxista,
ãiËiãggãËãiËiËíiËiËg*ãlã:
quando se

iËgãgËãiãiËggËig; ãlËã íËËË ËãËËËff iigãË


efeito, que as massas sejam objectivamente deve dizer que «deixou» definitivamente de
levadas a separar-se dos dirigentes oportunis- o ser? A esta questão, tão depressa Lenine
tas da social-democracia: o problema da hora, responde dando uma data (por exemplo,
em 1915-1920, é a constituição de organizações a da brochura O Caminho do poder, 1909)
revolucionárias de forma nova (comunistas) em a seguir à qual Kautsky teria abandonado
todos os países, a exemplo do bolchevismo. O o marxismo, tão depressa responde mostran-
problema não é somente o facto de os textos do que desde o início, isto é, desde a época da
autênticos de Marx e Engels «existirem», pois a sua luta contra o «revisionismo» de Bernstein,
existência de textos marxistas não é a existên- Kautsky apenas lutava contra o oportunismo
cia do marxismo: o problema da hora, é saber fazendo-lhe concessões de fundo. Ora esta
onde e como eles existem, é que sejam conheci- questão não é senão a contrapartida do prin-
dos e reconhecidos pelo movimento operário. cípio implicado na crítica de Lenine: o da pre-
Constatando a existência do marxismo, «esque- cxistência do marxismo autêntico às suas lutas
cido» e «desnaturado» pelo oportunismo, Le- de tendências e aos seus desvios, princípio que
nine, exactamente no momento em que o realiza, arrasta, por sua vez, a possibilidade dum
obscurece em parte o sentido e o alcance histó- juízo retrospectivo, teleológico, sobre a his-
rico da sua luta contra o oportunismo: uma luta tória do oportunismo. Diremos que este prin-
nova por uma teoria marxista que ultrapassa cípio introduz em Lenine, pelo menos na forma
as tendências para o economismo e o refor- da sua crítica (mas esta forma pode ser histori-
mismo, uma luta nova pela difusão das ideias camente determinante), um elemento de idealis-
revolucionárias do marxismo nas massas, por- mo? Porque não dizê-lo, visto que tudo se passa
tanto, uma luta por uma forma nova e supe- aqui como se Lenine não tivesse podido criticar
rior de fusão do marxismo e do movimento ope- Kautsky senão voltando contra ele o seu próprio
rário. Uma luta que deve, antes do mais, remar conceito ideológico do marxismo: o conceito da
contra a corrente. «ortodoxia», que leva consigo o seu contrário,
Desta dificuldade, que conduz finalmente
ísff

o do erro, da heterodoxia e da heresia. Apre-


Lenine a apresentar o seu objectivo real sob sentando finalmente a sua crítica nestes termos
uma forma «invertida», podemos encontrar o (mas não esqueçamos que esse é o aspecto
indício exactamente na forma duma questão secundário, contradito pelo seu conteúdo), é
colocada por Lenine (e a si próprio também)
sãaígsiã,

possível dizer que Lenine preparava algumas


com insistência. Uma questão paradoxal, que das condições que permitiriam mais tarde apre-
poderíamos dizer também «inencontrável» na sentar, por sua vez, o leninismo como uma
teoria marxista e, por isso mesmo, tomada à «ortodoxia», isto é, como um dogma. Não,
letra, necessariamente insolúvel: a partir de como o quereriam os críticos burgueses do leni-
quando, a partir de que texto Kautsky «aban- nismo, por causa do conteúdo da sua crítica
donou» de facto o marxismo, na prática ou (porque Lenine tinha mil vezes razão em
em palavras? Quando poderemos dizer que defender sem concessões a posição do partido
286 287
a
revolucionário face à traição, à ideologia bur-
ËãÈÉiËãgËËiff ËããgËff ë ã:ígËã;ãË $g

ffi,gggilËg;ãgËãËffffÈgËssË
perspectivas, para «endireitar» as formulações

aã;t ; II eEËI-

ff
guesa da social-democracia), mas por causa
isoladas que acabamos de evocar. Da mesma
deste elemento (e só deste elemento) na forma
forma, na linha de Que fazer? e da luta contra

gliaisããã
teórica da sua crítica.
o revisionismo, poderemos descobrir em Lenine
A mesma dificuldade manifesta-se de resto
os elementos duma teoria da história do mar-
no que diz respeito à análise da situação do
xismo que é ao mesmo tempo muito mais mate-
oportunismo no próprio movimento operário,
rialista e muito mais dialéctica que tudo o
portanto a sua natureza de classe. Deve lem-
que podemos encontrar nos seus predecessores.
brar-se que Lenine tinha, a partir de 1908,
Uma teoria que está ainda hoje «avançada» em
caracterizado o revisionismo duma forma con-
relação à forma como a maior parte dos mar-
traditória: no movimento operário, «sobre o
xistas e dos leninistas se representam esta his-
terreno» do marxismo, mas marginal, represen- tória.
tando um corpo estranho ao proletariado e ao
Na base desta teoria, é preciso com efeito

iïiiãËsiïiãi
Ë
movimento operário, um enclave burguês ou
colocar duas «descobertas» correlativas de Le-

Ë
pequeno-burguês. Este problema (propriamente
nine, das quais cada uma mereceria um estudo

ËãããË
«tópico») adquire uma importância muito maior
particular, pormenorizado: uma dizendo res-
quando respeita não a uma fracção isolada e
peito ao princípio teórico do oportunismo e da
extrema da social-democracia, mas à maioria
sua variação; a outra respeitando às suas bases
dos seus dirigentes e teóricos. Como pensar
materiais na história presente.
então o estatuto contraditório desta direcção:
A primeira grande «descoberta» de Lenine,

ëil
simultaneamente «exterior» ao movimento de
que permite retomar as teses de 1908, ajus-
massas, junto do qual desempenha o papel
tando-as, é o facto de a forma fundamental do
dum cavalo de Troia da burguesia, e ao mesmo
oportunismo na história do marxismo depois

ãË
tempo «interior», porque representa, durante
de Marx não ser nem o «revisionismo» nem o
um certo tempo (de 1870, ou de 1889, a 1914), à
«esquerdismo», mas o que se poderia chamar o

ããÏË

gggsglsiË:ããËã
forma histórica necessária da difusão do mar-
oportunismo «do centro», cujos desvios extre-
xismo, da organização de massa dos operários
revolucionários? Opor o oportunismo dos diri- mos, imediatamente percebidos e perceptíveis
(porque acabam rapidamente por propor «cor-
gentes ao instinto de classe das massas é pô
recções» ao marxismo), não representam mais
em evidência uma contradição real: não é expli-
car porque, numa conjuntura dada, esta con-
ãËãË ËË ãË
do que efeitos e variantes. É o facto de o núcleo
tradição permanece insolúvel. teórico do oportunismo residir no próprio eco-
nomismo marxista, isto é, na interpretação
4, Sugerirei que estas dificuldades são no mecanicista e evolucionista, não dialéctica, do
egíÊs

ãgËã

materialismo histórico: no «derrubamento» in-


entanto, em princípio, resolvidas pelo próprio
terno da sua problemática, que procura pensar
Lenine, ou, se se prefere, que desaparecem logo
que, apoiando-nos no próprio conteúdo das crí- a luta de classes sem a ditadura do proletariado
e, finalmente, a existência das classes sem a luta
Ëi

ticas de Lenine, procedemos a uma inversão de


de classes de que elas são o produto. Revisio-
288
.

289
nismo e esquerdismo aparecem a partir daí como

gs
pela escravatura do salariato, a necessidade e a

sffgË'liËígiËiilígËËãËïãuu'Ë

ãËiËË

Ë$ffËË;ig;ggg
efeitos segundos, por vezes paradoxais (por- miséria das massas. É por esta razão, e só por
que opõem ao economismo o voluntarismo ou o esta razão, que nas nossas organizações polí-
sããË
humanismo que ele próprio implica já), do eco- ticas e sindicais os funcionários estão corrom-
nomismo, que é, para toda uma época, o desvio pidos (ou, mais exactamente, tendem a está-lo)
interno fundamental do marxismo. pelo ambiente capitalista e manifestam uma ten-
A segunda grande «descoberta» de Lenine dência para transformar-se em burccratas, isto
ËgiË

ãFE
permite explicar este facto: ela mostra a sua é, em personagens privilegiados, separados das
base material, não sob a forma dum fenómeno massas e colocados acima delas, Aí está a essên-
de sobrevivência, ou que permanece marginal, ciy do buroeratismo. Enquanto os capitalistas

ËEãÈEã;ggggt
mas sob a forma duma contradição profunda,
Ë

não tiverem sido expropriados, enquanto a bur-


ligada à fase histórica actual da história do
ããff

guesia não tiver sido derrubada, é inevitável


capitalismo. Para o dizer abstractamente, esta uma certa «burocratização» dos próprios fun-
contradição advém de que a teoria marxista, cionários do proletariado.» !
tal como o movimento operário e como o pró- O oportunismo tem pois uma base política,

ã-;ËiË-ã
prio proletariado, não são exteriores ao desen-
ËË

inseparável da própria existência das organi-


volvimento da sociedade capitalista e das suas zações e dos partidos proletários. A história dos
contradições. Eles não são aí, segundo as pala-
ËãããËËËãi igËãããgggggg

partidos proletários é a desta contradição, dos


vras de Spinoza, «como um império noutro impé- seus efeitos e das suas «soluções». Para a com-
rio». As contradições materiais da sociedade ca- preender, é preciso elaborar uma teoria dos apa-
pitalista reflectem-se no proletariado e nas suas relhos ideológicos de Estado burgueses, do seu
organizações, portanto na teoria marxista, aí jogo concertado e da luta de classes que aí se
produzindo sem cessar novos efeitos. Desta con- desenrola.
tradição, Lenine salienta sempre simultanea- Mas o oportunismo tem também uma base

ggglggggiãii

ËËiËËËËËãÉË
mente dois aspectos. Primeiro, a contradição
económica: na época do imperialismo, o desen-
inerente à existência e à organização dos par- volvimento desigual do capitalismo, a partilha
tidos da classe operária, que são as organiza- e a pilhagem do mundo inteiro pelo capital
ções necessárias da sua luta de classe contra concentrado em algumas nações imperialistas
o Estado burguês (o que o anarquismo e o têm por resultado a divisão inevitável da classe
espontaneismo ignoram), simultaneamente afec-
t;

operária, a formação tendencial duma «aristo-


tados do interior pela existência e a forma do cracia operária»: tendem ao mesmo tempo, diz-
aparelho de Estado burguês: -nos Lenine, a agravar a exploração para a
«Nós não dispensamos funcionários em maioria do proletariado (e a proletarização das
È*Ë uËi

regime capitalista, sob o domínio da burguesia. massas de trabalhadores não assalariados no


O proletariado é oprimido, as massas laboriosas mundo inteiro) e a atenuar (mesmo provisória

i
são subjugadas pelo capitalismo. Em regime ca-
pitalista, a democracia é reduzida, comprimida,
truncada, mutilada por este ambiente criado 1 O Estado e « Revolução, Obras completas.

õ
290

ôl
e irrisoriamento, ao3 olhos da aeumulação enpi- progressivas, cutras revisionistas ec regressi-
talista) a exploração para uma mincris de vas). Dialéctica ainda, porque mostra que q cca-
preletários, que perteneom precisamento, no trudição opera no desenvolvimento da teoria,
essencial, aos países imporialistes «cyancadoss sob formas específicas. Porque mostra que a
nos quais se desenvolven primeiro o movimento verdade objectiva do marxismo não está ng
operário, É cesta divisão tondeneio! Guo constitui, origem e aquém das lutas internas, mas é, pelo
em última análise, a base permanente do oportn- contrário, o seu resultado. Porgus permite assim
nismo, sob as suas diferentos formas, ne mat- cscapar ao dilema do «dogmatismo» (a ver-
=ismo. ce quo aí produz os seus efoites prec:- dis é cterna, não muda, não so transforma) €
samente por cansa da «fusão» cada vez meis “o ceiciismo (não há verdade absoluta, não há
avançada entre o marxismo e o movimento en-- sudo «verdades relativas», opiniões subjectivas,
rário. Mas é também o desenvolvimento do por cutras palavras, não há verdade nenhuma).
imperialismo, o agravamento dos antagonismos Porque pormite assim compreender por que mo-
do clase num cscals elargada, que suscitam tivo a hislória do marxismo csiá à cada momen-
a crítica do oportunismo, o fortalecimento ds, to aberia a novos desenvolvimentos chjsecLivos.
tendência revolucionária. Vamos até ao fim desta concepção: isto
Uma tal crplicação, de que Tenine nos dm quer dizer quo, na históris do marxismo, há
os primeiros elementos, nressunãe quo nós con- nm «núcico» de conhecimentos objcetivos, de
sidorarismos o Mrxismo não esmo dedo uma «verdade absoluta», que se enriquece semnro,
vez por todas na obra de Marx o do Engels (nes prosisamento porque não há ponto fixo anterior
textos que nos legaram), mas como predugi?a ao conflito das tendências, nem linha justu que
num processo ininterrupto, que depende da rela- seja traçada duma vez para sempre ua relação
ção prática do marxismo com o movimento one- entre a teoria e a prática. Porque é esto con-
rário, e no qual a luta entre a ideologia burguesa ifivo que produz, pela prova da prática, uma
e a ideologia proletária pressegue ainda, não linha justa, E, por conseguinte, não há outra
como um fenómeno «estranho ao marxismo» fidelidade ao marxismo que não seja a do seu
(segundo a cxpressão corrente), mas como o desenvolvimento e da sua transformação, com
nróprio «motor» do sau desenvolvimento. Uma todos cs riscos que isso comporta.
tal explicação é materialista porque pode Talvez Lenine não pudesse dizê-lo exacta-
designar c anelisar as bases históricas do descn- mente assim: mas é precisamente na medida em
volvimento teórico e a sua transformação É que toda a sua actividade teórica era a prova
dialéctica, porque mostra a lização necessário disso em acto. Lenine designa-se como o redes-
entre a produção de novos cnunciedos, repro- cobridor da verdadeira teoria de Marx e Engels,
sentando um acréscimo dos nosces eccnheei- que o oportunismo esquece e desnatura: mas é
mentes chjcciivos, e a rectificação dos enun- na realidade a acção de Lenine e dos boleha-
ciados teóricos existentes (cuja letra dá lugar, viques que, pela primeira vez, inscreveu real-
pela sua própria falta de acabamento, a intor- mente a teoria de Marx sobre a ditadura do pro-
preiações divergentes, umas revolucionárias e letariado (e os textos que a expõem) na prática

292 293
do movimento operário e, porianto, na sua
e

'--:--
sË c s .'E ì ã'i e z-=È;
È Ë gï ;Ë F3ÊËË ËË i

g*€F€E: ïË I EË* iËiËËËËËË EË;i


á:i e 1i* Ë€ p i:ËË:ã
;r si H Ì: EË;Ë; qiE 5EË írË g€ï E: s s

sseË:;:iËËçË j'F ËEï:Ë$Eì:F


", s.Ei{ã,F.".F.ïÈ !# is , stiì # J.í E Í Í'
ãi ËË F;lïsËíf ;; * ËE EËï: ãË;g g:

Ëü
-Eã:'ãEãã; J
ãã;*€Ëi
«consciência» teórica, Lenine rectifica Kautsky
I iÈ $:?;ÉËã 1:Ë:Ë- 5 i H 5:Ë Ë;ããË

e E+ E Ë:: ci EË* ï
e, atravês desta rectificação, acrescenta algo a

I€ i.s ì
Marx e Engels, que eles não tinham podido ante-
cipar realmente. Lenine designa a exactidão
e a fidelidade à teoria revolucionária de Marx
e Engels como uma condição prévia, na altura
em que a produz como o resultado duma
ÍNDICE

".:Ì:f
Ë55ËEaÊ* ËãÉ'E ::ìËË€

2a

.\
a\

,..
prática simultaneamente teórica e política, que
nada garantia à partida. É que Lenine (e com
Ë;

ele os revolucionários bolcheviques) sofria, pela

l* s;'e
primeira vez na história do marxismo (mas não

E ='5
PAG

0.
u6ì
a última, sem dúvida), os efeitos duma conjun-

4
tura revolucionária, no decurso da qual a teoria II.
l:

MAIS-VALIA E CLASSES SOCIAIS (Con-

<p
ul=
ãE

>,ã
-ì 4í

ut:
a
vo Ê
ut

,"9
fi .:
e a prática do movimento operário têm de

F*
sËËEi

ç
tribuição à critica da economia política) 9
refundir-se em bases novas.

9
ÉúbE
sl:i i ïl i u;: AË*

Hoje ainda, sob formas muito diferentes,


:5 Ë E ãç V Ë +i 8 i
tã r" qEE n,R'9;
Introdução .. sã . RR 9

ã
Erâi
y, :E
o movimento operário estã dividido; há no seu

, !r âEË9çÁiE'g àH
,
, 3, õLË,.g,,3,
,ã:
, E sd Ë: *.c t*
:,3, à.*:!:a,::
seio tendências para o oportunismo e há tendên- 1. Modo de produção capitalista e teoria da

€á <EEE€ËiËãE
Ë
'q, 8,3:!,€
ã. ::'n

;'
a

3€'3o".,.õ
cias revolucionárias, que se fundem e fundirão
q

ï: ã ËEo.{ *3

=;
mais-valia 5 a 14
com o movimento das massas. Compete-nos sa-
;H Ëi ËE s'fi

ber analisar-lhes as causas c tratá-las não de **


È E':; E;

A impossível história económica do capi-

i,È:":g!ã eE

v,g,ü
È '3 ; ã3
forma eclética, procurando a sua «conciliação», talismo . . 19
mas de forma dialéctica. Estudemos a história Problemática dos modos de produção his-

d o Õ È oÈ ïE5gõ
do marxismo e do movimento operário: este

c'!
-.=

tóricos á ;

a
e
estudo não bastará para nos revelar os caminhos
i:

O modo de produção capitalista: a mais-


do presente, mas fornecer-nos-ã os meios da
ts

-valia 31

ã 9Ë
necessária luta de classes na teoria. O modo de produção capitalista: base «

áEË
ï
o superstrutura . 6
' Formação social 51

-'' 3.ì :,8


' 3€ ç'ã
, €: Ë:Ë
2. O primeiro aspecto do antagonismo de

Ë=

â,
Ë;'g'Èa
eë:
õÉ *Ë,8'
Ê
classes: proletariado e capital 58

3
«Fracções» e divisão tendencial da classe

! 'e
^.C

fr,È
operária . RPA

g
Processo de reprodução e história do pro-
letariado g

P
294
PAG PAG

Â.
,<i

Êi
<N
c;ciã-:.n
3. O segundo uspecto do untagonismo, Capi- Eaverá uma «teora geral dos medos de
.;
È:

; zËZ':: ,!t
rI
i: ;;i!i;É:-
5Á :!!n\
^i
3:
il :::l !a :Ë
o
ã
;;

'?õEzã!ç.9f>

é,i
ì
d
; : i i 3a ;

'n;-^>,7

.9 È i
I

:,:.:aú'õ
o"
õ
!
un
a

:õ-':..
:r"i:rá,eSãã
: YÈÉ 9 Y.. c.:ã
r^.2ì^Àr::::

-
tal é burguesia produção» º

-
Co
ro
Problemática ideológica ou problemát ec

€ ! ç
4'Ê^
9, ç'i

oc
- !! -
=ì9:
c:9
cientifica da peoriodização»

o
o!
o
Irunsfulmiações históricas da propriedade
:1 s 5

: :" ã
p
i3Ëi:é.i: 5t
7;=-"

;i i3 ï .:

i:\
'.^;

o.
í;
capitalista O equívoco persistente da conceito de uo-

o
os
.'

t=

:, L
Impenalhsmo e donunação dv capital mo- produção»

:
nopolista 103 Não há «teoria geal> da transicão his-

):
P -
a:çã
ú 9o
: :;
:)
Unidade e contradições du burguesia como tórica

;,!.
ú È Í"

í
i,'4-
''
Ho Subtrair do conceito de «tendência- todo


classe E

ç
q:
"9
« e, para conelur, qa «luta de classes», que o evolugionismo

ii

E
J::
"j:

2:
Éï: -À

-:
^.-
é o movimento e a resolução ds Luda
v MATERIALISMO E IDEALISMO NA HiS-
esta imorda» 327
TORIA DA TEORIA MARXKISTA 229

ANEXO LENINE, OS COMUNISTAS E A IMI-


4a
fiõ

7.o
z

?
4
2
Í
Lo
r
<
1. História da teoria, história do movimento
GRAÇÃO
operário: a impossível objectividade 231

Lenho e a mnigiação
:.33

do mar::!'omo
;3T: ?;í
t::â :-i;E:
c-'-!

i:i"ir'

historadores
:4,2.= jn
:;;à.Ë;
+a;:

Marx e Lenine

=
Inugracão e muperial suo
'eet

"Çí
-:e *i

Irugiação e revolução técnica sobre a mais-valia> 244


;? :â

Marx e as ctevorias

ô:
Y. 9.

l,:
9^
Os comunistas ev a inugtacão e os «desvios» do marxismo 263
Lenin>2

1V SOBRE A DIALECTICA HISTÓRICA (AJ-


;ú"
Ë=ü

Éz
:s
9!

i\
-r

gumas notas críticas au propósito de «Lire


le Capital») 165

1 A propósito da teona do ftetichusio- 165


n

A análise do feticlusmo e O seu lugar em


o.ã
a.õ

"O Capital» 168


As contradições duma dialéctica 176
Felichismo ou ideologia 186

2 Sobre a determinação «em últina instân-


õó

õv

9r

cia» e a «transição» 198

Você também pode gostar