1) O documento descreve a revolta separatista de 1837 na Bahia liderada por Francisco Sabino e João Carneiro da Silva que derrubaram o governo imperial e declararam a província independente.
2) Havia divergências entre os líderes Sabino e Carneiro sobre se a independência deveria ser permanente ou apenas até a maioridade do imperador Pedro II.
3) O autor Douglas Leite argumenta que Sabino defendia a república enquanto Carneiro defendia a monarquia, ao contrário do que outro autor afirmou anteriormente.
1) O documento descreve a revolta separatista de 1837 na Bahia liderada por Francisco Sabino e João Carneiro da Silva que derrubaram o governo imperial e declararam a província independente.
2) Havia divergências entre os líderes Sabino e Carneiro sobre se a independência deveria ser permanente ou apenas até a maioridade do imperador Pedro II.
3) O autor Douglas Leite argumenta que Sabino defendia a república enquanto Carneiro defendia a monarquia, ao contrário do que outro autor afirmou anteriormente.
1) O documento descreve a revolta separatista de 1837 na Bahia liderada por Francisco Sabino e João Carneiro da Silva que derrubaram o governo imperial e declararam a província independente.
2) Havia divergências entre os líderes Sabino e Carneiro sobre se a independência deveria ser permanente ou apenas até a maioridade do imperador Pedro II.
3) O autor Douglas Leite argumenta que Sabino defendia a república enquanto Carneiro defendia a monarquia, ao contrário do que outro autor afirmou anteriormente.
novembro de , a ciN dade dadeBahia amanheceu sob goo dia
1837
verno de sabinos e diversos. Na primeira
hora, rebeldes liderados por Francisco Sabino lvares da Rocha Vieira e Joo Carneiro da Silva tomaram a Cmara Municipal de Salvador e declararam a provncia livre do mando imperial. A operao revolucionria entrara em execuo na noite anterior com a ocupao do Forte de So Pedro. Aps noite e madrugada tensas, fizeram soar, logo na alvorada, os sinos da casa da vereana. Os sonidos ecoavam pela cidade anunciando a nova. Comoviam uns, amedrontavam outros, e eram indiferentes a uns e outros tantos. Os primeiros corriam para a praa do Palcio. Os outros fugiam para o refgio do governo deposto: Cachoeira. Os diversos uns e outros tantos continuavam a dormir ou levar a vida normalmente. Esse estado de exceo perdurou por mais de quatro meses. Durante esse perodo, os revolucionrios lanaram mo de toda sorte e artimanha para efetivar seu poder. Ensaiaram alternativas. Construram possibilidades. Geraram tendncias. O conjunto dessas tendncias o objeto de Sabinos e diversos de Douglas Guimares Leite; que amplia, com dficit de vinte anos, a senda aberta por Paulo Csar Souza de A Sabinada. Em maio de 1987, Paulo Csar apresentava ao pblico sua anlise sobre a referida revolta separatista baiana. Seu estudo foi logo tornado referencial indispensvel compreenso do ocorrido. Estudiosos das coisas de Bahia e Brasil oitocentistas consideraram-no obra definitiva. Isso gerou consenso acerca da imestudos avanados
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possibilidade de se ter algo novo a dizer
sobre a revolta. A contribuio decisiva do estudo de Douglas Leite consiste na dessacralizao desse consenso a partir do lembrete de que, em histria, temas e assuntos so incomensurveis como possibilidade analtica; porquanto, a revolta baiana de 1837-1838 merece novos exames e interpretaes. Esses lembrete e recomendao conferem ao Sabinos e diversos o estatuto de abordagem inescapvel aos navegantes do Oceano Histria poltica de Bahia e Brasil do oitocentos. Cauteloso no trato de palavras e conceitos, Douglas procura efetuar interpretao poltica dos horizontes de expectativas e das formas de sociabilidade daqueles que assaltaram o poder na Bahia no memorvel 7 de novembro de 1837. De incio, admite que isso foi uma revoluo instrumentalizada por sabinos e diversos depositrios de acmulo poltico implementado desde a Independncia baiana, 1822-1823. Observa que os rebeldes ou melhor, revolucionrios envolvidos por arranjos polticos e identitrios consideraram sua revoluo a segunda e verdadeira Independncia perseguida por outros meios. Essa continuidade por outros meios visava reparar fragilidades institucionais que impediam o Estado de suprimir aporias polticas que alimentavam desigualdades diversas. A pilhagem do poder foi a alternativa dos rebeldes para resolver essas questes. A manuteno desse poder, sob domnio rebelde, impunha a ampliao do espao de atuao e consentimento revolucionrios. Ou seja, exigia a aceitao da causa para alm das
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cercanias de Salvador e a persuaso de
pessoas capazes de legitimar econmica e ideologicamente o processo. Essas condicionantes tiveram insucesso. Esse insucesso foi considerado razo importante do ocaso do movimento. De modo preciso, expressou o limite da revoluo. Acrescido a ele esteve a indiferena e o temor angustioso das incertezas da revoluo; o rareamento e encarecimento de produtos de primeira necessidade, o que promovia e generalizava a fome; o sabor do antigo a causar desiluso; e amotinados de primeira hora como Almeida Sande, Francisco Vicente Viana, Igncio Accioli de Cerqueira e Silva e Joo Gonalves Cezimbra e outros a debandar para Cachoeira procura do abrigo do statu quo ante. Alm desses complicadores, Douglas indica outro, pouco observado, que a divergncia programtica entre sabinos e no-sabinos; ou seja, sabinos e diversos. Esse o ponto nodal de sua anlise e de seu desacordo frontal com Paulo Csar. No plano revolucionrio apresentado pelos rebeldes no dia 7 de novembro, constava a seguinte determinao: A provncia da Bahia fica inteira e perfeitamente desligada do governo denominado central do Rio de Janeiro. Quatro dias depois, dia 11, essa determinao sofreu reparo que propunha a necessidade de considerar-se a Independncia somente at a maioridade do Imperador o Sr. D. Pedro 2. Douglas sugere que esse reparo evidencia divergncias no movimento. Segundo ele, os defensores do fixado no dia 7 eram liderados por Francisco Sabino e estavam imbudos de republicanismo antimonarquista. Os outros seguiam Joo Carneiro da Silva e militavam pela Monarquia. Em suma, considera que o
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projeto dos sabinos era republicanista, separatista e antimonarquista, e o
dos diversos, federalista, unionista, nacional e imperialista. Paulo Csar, acusa Douglas, no admite ou, qui, no percebe distino nessas tendncias, e por isso considera o movimento contraditrio, especialmente ao indagar como conciliar lealdade a um monarca com f republicana? e propor o seu reconhecimento enquanto repblica sui generis. Em contraponto, Douglas esclarece: Repblica uma coisa, federao outra. E sugere que os sabinos no intentaram conciliao com os carneiros; as pautas eram diferentes. Seria cabotino tomar partido da polmica de Douglas e Paulo Csar. Ela mais que controvrsia analtico-interpretativa. Expressa a interlocuo de duas geraes de estudos baianos mediada pela orientao de Joo Jos Reis. De todo modo, seria improcedente e penoso deixar de ponderar sobre o conjunto de algumas questes que essa interlocuo, vista em perspectiva, suscita. inegvel a contribuio de A Sabinada de Paulo Csar Souza. Da mesma forma, do Sabinos e diversos de Douglas Leite. Ambos desvelam aspectos expressivos da revolta e so significativos mesmo no que divergem. A anlise de Douglas procura se impor. Nalgumas vezes, consegue e desconjunta afirmaes de Paulo Csar. Mas um e outro, ao que parece, padecem de mal comum: falta de histria. Essa carncia de histria se deve a pelo menos dois fatores. O primeiro a aparente ausncia de respaldo analtico-interpretativo dos estudos baiano-brasileiros sobre o assunto. O segundo o amplo desmerecimento atribudo s mudanas estruturais estudos avanados
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LEITE, Douglas Guimares Sabinos e diversos:
emergncias polticas e projetos de poder na revolta baiana de 1837. Salvador: EGBA, Fundao Pedro Calmon, 2007.
que inferiram nas histrias do Brasil, da
Bahia e da revolta. Paulo Csar e Douglas Leite no admitem de forma sria a revolta como expresso de tenses polticas, econmicas e sociais do ruidoso processo de formao e efetivao da modernidade, e modernizao, que implodiu o Antigo Regime e o Antigo Sistema Colonial e orquestrou a emergncia de Estados nacionais no mundo ocidental. Esse processo, que cobriu o Ocidente de 1776 a 1848, produziu nova era. Nova forma de se pensar e praticar a poltica. Novos atores, espaos, condies, demandas, poltica. O Estado nacional brasileiro foi fruto disso. E a Bahia, enquanto poro expressiva do territrio e da sociedade braslicos, atuou de forma decisiva. Por esse pressuposto, o substantivo da revolta est para alm da polmica entorno da identificao de seu carter republicanista, separatista e antimonarquista ou federalista, unionista, nacional e imperialista. Reside na admisso estudos avanados
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de que essas concepes eram produto
de campo semntico dinmico que traduzia desejos e alternativas no interior do processo de mudana estrutural de esferas da existncia que ultrapassava as fronteiras da cidade sitiada, da Provncia conturbada e da prpria sociedade brasileira em construo. Eram reflexos centrfugos e centrpetos de acomodao e superao de crises forjadas por contradies e conflitos, revoltas e revolues permanentes que modificavam, de forma drstica, a percepo objetiva da vida. De forma especfica e retrospectiva, o baiano, acometido pelo carter replicante e desviante da identidade portuguesa durante o perodo colonial, foi se tornando braslico ao longo do setecentos e com a imploso do mundo colonial foi instado a ser brasileiro. Cada indivduo, circunscrito a determinada esfera social e localizao territorial na Bahia, respondeu de maneira prpria a essa imposio. Com o fim do primeiro reinado e a instaurao da regncia em 1831, essa condio de brasileiro foi se afigurando inevitvel. Cipriano Barata, em escrito de 1831, ano terrvel na Bahia, no Brasil e alhures, caracterizou com preciso essa situao ao julgar que duas geraes h s diferente, Virtude e Vcio; tudo mais engano. Virtude era admitir a condio de cidado brasileiro e concorrer, de forma incondicional, para a consolidao do Estado e da nao. Vcio era reiterar prticas do antigo sistema lusitano que a manuteno da escravido relutava em sepultar. Em suma, o passado presente e o futuro passado estavam em substantiva negociao. No Plano e Fim Revolucionrio documento encontrado na matula de
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Francisco Sabino quando preso no dia
22 de maro de 1838, sete dias aps o fim da revolta separatista baiana constava a seguinte advertncia: Esta Provncia deve se por a salvo dos golpes do partido e faco aristocrtica-portuguesa. Se essa premissa compunha o iderio dos revolucionrios baianos de 1837, o que quase indubitvel, o elemento principal da revolta era contestar, aniquilar a estrutura de dominao do passado, o vcio que se fazia presente na Bahia e obstrua a perpetuao da virtude. A via pela qual isso iria se processar fosse republicana, separatista, antimonarquista, federalista, unionista, nacional e imperialista poderia at ser assunto expressivo. Mas no era o essencial. Observe-se que, quando o movimento se viu esgotado, o general Srgio Jos Velloso, comandante em chefe das foras revolucionrias e responsvel pela rendio do grupo, expressou isso com muita clareza ao informar que os rebeldes se entregavam para evitar de uma vez o derramamento de sangue brasileiro. Ou seja, os rebeldes se consideravam brasileiros e virtuosos e desejavam a contemplao plena dessa sua condio que a recorrncia do passado, leia-se o partido e faco aristocrtica-portuguesa, obstava concretizar. Reconstituir a revolta baiana por um diapaso sedento de mais histria, certamente, ajudar a preencher o vazio de Histria que acomete a sua explicao e a conferir maior inteligibilidade s histrias da Bahia e do Brasil do perodo.
Daniel Afonso da Silva doutorando em
Histria Social pela Universidade de So Paulo. @ daniel.afonso@usp.br