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INSTITUTO FEDERAL FLUMINENSE CAMPUS SANTO ANTÔNIO DE PÁDUA

HISTÓRIA | CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECNOLOGIAS


PROFESSOR DIEGO GOBO PORTO

Eduardo Souza Benedito

Felipe Leite Simões

Jhonata Schelck da Silva Souza

ANÁLISE HISTÓRICA DA PRIMEIRA REPÚBLICA: GUERRA DE CANUDOS E


GUERRA DOS CONTESTADOS

Trabalho apresentado como requisito parcial para


aprovação, no segundo trimestre do Terceiro Ano de
Técnico em Administração integrado ao Ensino Médio,
na disciplina de História, que pertence à área do
conhecimento de Ciências Humanas e suas Tecnologias
no Instituto Federal Fluminense campus Santo Antônio
de Pádua.

Santo Antônio de Pádua


Agosto de 2018

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SUMÁRIO

1 Introdução…………………………………………………………………………………….3

2 Desenvolvimento…………………………………………………………………………….4

3 Conclusão…………………………………………………………………………………...11

Referências Bibliográficas……………………………………………………………….…12

2
1 INTRODUÇÃO

O presente trabalho tem por objetivo tratar sobre dois importantes conflitos da
Primeira República, sendo eles a Guerra de Canudos e a Guerra dos Contestados,
além de comparar características de ambas. Ambas as guerras ocorrem no contexto
histórico da República Velha na qual uma série de problemas sociais foram acarretados
pela construção política da época. Nesse período vigorava a política do café com leite,
neste sistema o governo brasileiro estava nas mãos das oligarquias cafeeiras e
pecuaristas de São Paulo e Minas Gerais respectivamente. Para assegurar a
continuidade dessa política havia ainda o chamado Coronelismo que consistia no
domínio político de latifundiários sobre a população de suas terras ou entornos
obrigando-os a votar através de favores ou coerção violenta a votarem em candidatos
indicados pelos mesmos. Esse último movimento denomina-se “voto de cabresto” e
vigorou ao longo de toda Primeira República.
É relevante salientar que neste período, a nação brasileira estava passando por
um processo de industrialização principalmente por meio de investimentos do capital
estrangeiro mantendo-se assim até o início da Primeira Guerra Mundial, a qual por
decorrência do conflito as oligarquias nacionais assumiram o controle do processo de
industrialização. Nesse contexto, o Governo tanto Federal quanto Estadual favorecia as
companhias internacionais em detrimento da população local.
Dado o contexto acima, surgiram muitos líderes com caráter messiânico que
mobilizaram a população oprimida em uma luta contra o novo sistema político que viam
como a personificação do próprio mal, semeando tudo aquilo que as tradições
religiosas que as populações interioranas viam como abominável.

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2 DESENVOLVIMENTO

O primeiro conflito tratado será a Guerra de Canudos (1896-1897) que se


desenrolou na região do Arraial de Canudos. O contexto, assim como listado acima,
era de extrema pobreza das populações sertanejas do nordeste além de forte
repressão dos latifundiários que detinham o controle das terras, oprimindo a população
camponesa muitas vezes por meio de milícias armadas chamadas de Jagunços. Nesse
plano, urge a figura de Antônio Vicente Mendes Maciel acunhado de Antônio
Conselheiro. O mesmo nasceu no Ceará em 1828 filho de comerciante, estudou
português, francês e latim tendo lecionado Português, Aritmética e Geografia, no
entanto sua vida foi completamente alterada quando sua esposa fugiu com um militar.
A partir daí ele se tornou um peregrino pelo sertão da Bahia, sendo um proeminente
pregador religioso, que durante três décadas construiu igrejas, reformou cemitérios e
angariou um grande número de seguidores e admiradores.
Com a proclamação da República do Brasil em 1889, Antônio Conselheiro
rapidamente se rebelou contra ela. Primeiro porque acreditava que o Imperador havia
sido posto no poder por Deus, sendo assim o povo não poderia retirá-lo. Além de uma
série de medidas que o desagradaram bem como a toda população sertaneja, pois
conflitava com suas convicções religiosas, entre elas temos: o casamento civil, a
separação entre Igreja e Estado e altas taxas de imposto, por conseguinte, o beato
chamava a República de Anticristo. Isso levou Antônio Conselheiro a fundar o refúgio
sagrado de Belo Monte às margens do rio Vaza-Barris, na região de Canudos a fim de
ser um lugar onde a população poderia se refugiar da opressão coronelista, das secas
e do governo republicano, tendo rapidamente atraído um significativo quantitativo de
pessoas de aproximadamente 25 mil. A organização societal era baseada em preceitos
bíblicos e os habitantes viviam em um sistema econômico comunitário, no qual, as
colheitas e rebanhos bem como toda a produção era repartida entre todas, somente
bens de consumo pessoal como roupas e móveis eram privados.

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A comunidade de Canudos conseguiu manter-se próspera em meio ao
semi-árido mantendo uma condição de vida de seus moradores superior à dos
sertanejos que viviam nas fazendas próximas. Não demoraria muito para que fosse
despertado a cólera dos líderes políticos e latifundiários.
O estopim ocorreu em 1896 quando o Antônio Conselheiro encomenda uma
remessa de madeira da cidade de Juazeiro, contudo o carregamento não foi entregue
mesmo pago. Tal acontecido alimentou rumores na cidade que os canudos enviaram
um grupo de pessoas para atacar a cidade, fazendo com que a tropa da polícia
enviassem um destacamento para Belo Monte que acabou por ser emboscado e
derrotado pelos sertanejos, muito embora a polícia tenha os infligido altas baixas. Uma
segunda expedição para o Arraial, desta vez enviada pelo Governo Estadual, e que
também foi rechaçada fazendo com que as notícias da insurgência chegassem à
Capital Federal e pressionassem o governo de Floriano Peixoto a tomar providências.
Como medida de reação, o presidente envia 1300 homens das Forças Armadas para
atacar o retiro. A chegada dos militares na região fez com que mais pessoas se
juntassem ao movimento do líder messiânico, essa terceira expedição também
fracassou, gerando um enorme constrangimento para os republicanos. No intuito de
pôr um fim definitivo no movimento, o poder governamental começa em abril de 1997 a
enviar soldados para a região na quarta expedição militar, formada inicialmente por
4000 soldados e 400 oficiais oriundos de todo o Brasil, número este que alcançaria
5000 antes do fim do combate, todos armados com artilharia pesada, o que gerou um
grande massacre da população de Monte Belo. Em relação a morte de Antônio
Conselheiro, há duas versões sobre o ocorrido. Uma afirma que o mesmo foi morto por
soldados republicanos e a outra diz que já estava morto quando a vila foi tomada e seu
corpo apenas foi desenterrado e decapitado pelos soldados, sendo enviado logo após
para ser estudado na faculdade de medicina de Salvador.

A seguir, encontra-se o mapa de localização de Canudos.

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Disponível em: <https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/8/81/Canudos-map.jpg> Acesso em:
09/08/2018

Abaixo, contém a imagem do 40º Batalhão de Infantaria (vindo da província do Pará)


em Canudos, 1897.

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Disponível em:
<https://pt.wikipedia.org/wiki/Guerra_de_Canudos#/media/File:40th_infantry_batallion_canudos_1897.jpg
> Acesso em: 09/08/2018

O conflito conhecido como a Guerra do Contestado se desenrolou a partir de


1912 com os seguidores do monge José Maria, que se instalou no município de
Curitibanos. O monge era uma figura extremamente carismática que apesar de não ser
monge oficialmente reconhecido pela Igreja, recebeu esse título pois exercia a função
de curandeiro, rezador e conselheiro da região. Além do referido monge, haviam
passado pela região outros dois viajantes também curandeiros e rezadores com nome
José Maria, O primeiro em 1844 e o segundo durante a Revolução Federalista
(1893-1895).
A região onde se originou a revolta era alvo de disputas entre o estado de Santa
Catarina e o estado do Paraná desde o séc. XVII pois não havia um acordo sobre onde
deveria situar-se a fronteira dos estados já referidos, esse litígio foi conhecido como a
questão do Contestado. Outrossim, a região constituiu o denominado “caminho do Sul’’,
uma área de 48.000Km² que ligava o Rio Grande do Sul à cidade de Sorocaba, uma
cidade interiorana de São Paulo. Tal caminho era comumente usado para transitar
expedições mercantis e manadas de gado, o que fez com que a região logo recebesse
o enorme quantitativo de agricultores e pecuaristas, que eram apadrinhados e
comandados por senhores locais. Em razão da independência do Paraná em relação a
São Paulo em 1853, o território acabou por tornar-se uma região independente.

A seguir, apresenta-se uma imagem que retrata o Mapa da Guerra do Contestado


(1912-1916).

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Disponível em:
<https://sanderlei.com.br/img/Ensino-fundamental/Santa-Catarina-Historia-Geografia-10-02-N.jpg>
Acesso em: 09/08/2018

Com o número cada vez maior de seguidores se reunindo ao redor de José


Maria, o presidente do estado de Santa Catarina Vidal Ramos, viu o grupo como uma
ameaça à República. No desejo de pôr um fim ao movimento, enviou tropas policiais,
forçando o monge a deslocar-se com seus seguidores para Iraní, uma localidade que
estava em peleja jurídica entre os dois estados. A chegada do grupo em outubro de
1912 foi vista pelo governador Carlos Cavalcante de Albuquerque como uma tentativa
do estado catarinense de tomar posse das terras para si, o que fez com que o político

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enviasse um destacamento de seguranças do Paraná com a finalidade de expulsar os
supostos invasores. No confronto, foram mortos onze soldados e seis seguidores de
José Maria além dele próprio. Não obstante, o grupo não se dispersou por completo
reunindo-se em Taquaruçu em 1913 com a expectativa do retorno do monge. A
liderança do grupo foi então assumida por uma adolescente de onze anos de idade
chamada Teodora, que afirmava conversar em sonho com José Maria e ter recebido
dele a missão de comandar os fiéis para uma guerra santa. Foi nesse período que o
movimento adquiriu contornos messiânicos e milenares agregando dentro de si,
indivíduos com mais diversos interesses. Entre esses indivíduos, haviam
desempregados da ferrovia, ex funcionários da madeireira e colonizadora internacional
Southern Brazil Lumber and Colonization Company que junto com a ferrovia
pertenciam ao empresário norte-americano Percival Farquhar, além de sem terras e
pessoas pobres, vítimas da desapropriação gerada pela chegada do capital estrangeiro
na região.

A partir de dezembro de 1913, o governo catarinense mobilizou e enviou


expedições militares para desmantelar o grupo em Taquaruçu, sendo finalmente
destruída em fevereiro de 1914 após algumas tentativas mal sucedidas. Apesar disso,
os rebeldes se multiplicaram expandindo-se por uma área de 28.000Km² que
comprimia diversas vilas sendo a maior delas Santa Maria que chegou a ter uma
população estimada em 25.000 habitantes. Tal crescimento fez com que o movimento
começasse a se organizar em torno de pautas específicas, como a deposição política
dos coronéis, o fim do litígio territorial favorável à Santa Catarina, a retirada das
multinacionais da região, a reforma agrária das terras distribuindo-as aos sertanejos, a
punição pelos crimes cometidos contra mulheres e crianças durante as ações militares
bem como a deposição do presidente da República, Hermes da Fonseca. Essas
reivindicações preocuparam não só governantes locais como também o Governo
Federal, tendo a mídia feito uma série de críticas às ações presidenciais e o estado em
que se encontrava as Forças Armadas.

Em agosto de 1914, os presidente de ambos as províncias deram aval e apoio

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para que o governo republicano reprimisse os contestados a partir de uma expedição
militar. Isso iniciou um grande movimento de reestruturação e mudança da imagem
pública das Forças Armadas, até então vistas como um local de banditismo, tortura e
práticas homossexuais. A mídia teve um importante papel na modificação de tal
imagem, a prestigiada revista Fon-Fon publicava fotos do exército brasileiro
mostrando-o como uma força moderna, bem organizada e comparada até mesmo com
o exército alemão. Em maio de 1915, o governo finalmente desmobiliza por completo o
movimento contestado prendendo a maior parte dos líderes e mantido os interesses
dos governantes locais e das multinacionais. No intuito de pôr fim à disputa territorial, é
assinado em 1916, o tratado que estipulava os limites territoriais entre Paraná e Santa
Catarina, além disso o exército brasileiro também saía revigorado do conflito.

Rebeldes armados que participaram da Guerra do Contestado (Fonte: Museu Paranaense)

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3 CONCLUSÃO

Dado o exposto, pode-se concluir que ambos os conflitos possuem semelhanças


dignas de nota. A primeira delas é sem dúvida o contexto em que ambas ocorre em um
período no qual havia um grande choque entre as arcaicas tradições do Brasil rural
marcado por uma religiosidade penetrante e um forte apreço pelo discurso moral bem
como um apego à tradição política monárquica. Tudo isso ofereceu um ambiente ideal
para a proliferação de movimentos messiânicos como podem ser notados em ambos
os movimentos, nas figuras de Antônio Conselheiro, José Maria e subsequente a jovem
Teodora. Aliado a tal quadro, estava características bastante peculiares da primeira
república que se faziam presentes em ambas as situações como o coronelismo, que
oprimia as populações camponeses locais que sem terras viam-se obrigados a
obedecer o domínio dos senhores das terras.

Ademais, as populações sertanejas viviam em condições paupérrimas de vida


muitas vezes com a assistência mínima do Governo ou dos coronéis que apenas a
faziam como forma de obter votos. Outra relevante característica é o anseio dos
participantes de ambos os movimentos em construírem uma espécie de nação própria
do território nacional para fugir do domínio republicano que viam como maligno.

Em virtude dos fatos mencionados ao longo de todo o trabalho, é possível


observar como tais guerras são extremamente relevantes para o entendimento do
contexto social e político do Brasil na Primeira República.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

SOUZA, Anna Gabriela Oliveira. Universidade Estadual da Paraíba. Guerra de


Canudos.PDF. Disponível em:
<http://dspace.bc.uepb.edu.br/jspui/bitstream/123456789/1566/1/PDF%20-%20Anna%2
0Gabriela%20Oliveira%20de%20Souza.pdf> Acesso em: 09/08/2018

WIKIPÉDIA. Guerra de Canudos. Disponível em:


<https://pt.wikipedia.org/wiki/Guerra_de_Canudos#cite_note-19> Acesso em:
09/08/2018

BRASIL, Atlas Histórico do. Fundação Getulio Vargas. Guerra do Contestado.


Disponível em: <https://atlas.fgv.br/verbetes/guerra-do-contestado> Acesso em:
09/08/2018

SANDERLEI. História e Geografia de Santa Catarina. Guerra do Contestado.


Disponível em:
<https://sanderlei.com.br/EDUCACIONAL/SC-Santa-Catarina-Historia-Geografia/10-A-
Guerra-do-Contestado> Acesso em: 09/08/2018

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