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I - A paisagem fronteiriça:
Hoje, por exemplo, dos 3307 quilômetros de limites do Rio Grande do Sul,
1727 são compartilhados com os dois vizinhos do Prata. A Argentina, com 724
quilômetros, e o Uruguai, com 1003 quilômetros. A diferença entre um e outro consiste em
que, enquanto o limite com a Argentina é inteiramente natural, interpondo-se o rio Uruguai,
com a República Uruguaia o limite é do tipo artificial ou convencionado, obedecendo a um
padrão que varia de topográfico, como o da Coxilha de Santana, a geométrico, como
Aceguá. A extensa fronteira internacional do Rio Grande representa mais de 10% do total
das fronteiras do Brasil. Entre as unidades da federação, somente o Estado do Amazonas
tem uma extensão maior que o RS. Todavia, enquanto aquele que é o maior Estado da
União apresenta fronteiras internacionais em sua maior parte quase despovoadas, o Estado
sulino possui as fronteiras mais ocupadas do país.2
2
Sobre o assunto ver: MOREIRA, Igor e COSTA, Rogério. Espaço e Sociedade no Rio Grande do Sul. Porto
Alegre: Mercado Aberto, 1986.
II – O GRANDE ENSAIO
O Uruguai , assim como o Rio Grande do Sul deste momento , está longe de gozar de uma
unanimidade política. Os desacertos entre blancos e colorados são muitos . Aliás , nem
mesmo o Partido Blanco é coeso , haja vista as divisões internas as quais desenham um
campanha - tema que será objeto de análie mais acurada no próximo item .
Neste sentido , não haveria de ser um " erro colossal " a pretensão de servir-se
das divisões políticas dos orientais . Os federalistas ,por exemplo , apesar de manterem
boas relações com os colorados , levarão para lutar ao seu lado os caudilhos blancos e
utilizarão os departamentos do norte como verdadeiro quartel general para suas operações
de guerra . Os blancos , por sua vez , promovem um verdadeiro ensaio para os movimentos
pode-se concluir que as divisões internas existentes na República serão , sim , exploradas
Por seu turno , o governo oriental , colorado , tem consciência de que a oposição blanca não
está morta , apenas adormecida e que as conturbações no país vizinho poderiam despertar-
lhe os ímpetos .
O expediente não será puramente circunstancial , visto que será repetido em 1897
Fazendo uma outra leitura sobre a argumentação do jornal uruguaio , desta vez
não em termos dos interesses especificamente do Rio Grande , mas em termos das
sobre o Uruguai , numa gradação que variaria de uma pressão política até uma possível
anexação do território limítrofe .Esta discussão será temática constante ,tanto do discurso
oficial , quanto das notícias veiculadas pela imprensa de ambos os países , indicando , que ,
Por último , e ao nível das cogitações ,pois não possuímos elementos que o
que "não seria tão fácil fazer tudo o que dizem e muito menos tudo o que desejam "
possa estar implícita a idéia de que , caso o Uruguai fosse de fato ameaçado na sua
soberania , a Argentina estaria pronta para interferir em seu auxílio . Ora , este é um
não consolidada , ameaçada por conflagrações estaduais , pelo trabalho sistemático dos
monarquistas que achavam possível a restauração ( ver Janotti, Maria de Lourdes M. .Os
subversivos da República , SP,Brasiliense, 1986 ) e por cisões no seu aparelho militar( em
sobejamente uma articulação defensiva naquele estado que ,por imposição de sua condição
Janeiro e Rio de Janeiro- Montevidéu .Em segundo , a instância que diz respeito ao local
onde a tensão revolucionária pode ser melhor percebida , isto é , a área de fronteira .
envolvimento menos direto com ela . Da mesma forma ocorre no Uruguai ,onde os
Silveira Martins .
aos blancos. Estes , expulsos do poder pela violência da revolução de Venâncio Flores ,
menos 5.000.
( Washington Reys Abadie . Historia del Partido Nacional . Montevideo , EBO ,1989 .)
Em 1870 , reunidos em Concórdia , os emigrados subscrevem uma Ata de
Exército da reação, que defenderia a bandeira blanca .A Revolução de las Lanzas , como
Durante mais esse período no qual o Uruguai conheceu o drama da guerra civil, as classes
destruição dos ovinos de raça ,do consumo indiscriminado dos bandos , da falta de
Após dois anos de embates entre colorados e blancos , assina-se o tratado que
reconciliava os bandos orientais. Constituído por sete artigos , o mais importante para os
blancos viria a ser não a letra do tratado , mas sim , um acordo verbal através do qual o
chefaturas foram designadas para as localidades de San José , Florida, Cerro Largo e
Canelones .
Essa nova etapa da vida política do país, que ficou conhecida como o regime de
cooparticipação , alterou a situação criada pela Constituição de 1830 que outorgava todo o
blancos gozarem de representação política e de obter um certo grau de autonomia local, tão
caro aos seus líderes .Constituindo-se titulares dos departamentos , os blancos logravam
garantia de eleições livres nessas jurisdições e , como eram maioria , vitória .Além disso ,
reservavam para o Partido a ocupação das câmaras legislativas ,que , de zcordo com o
aqueles que ,seguindo o tom dos principistas , defendiam uma reorganização partidária
baseada na depuração do partido através das idéias e princípios, em lugar das três
tidos como tradicionalistas. A nova face do partido seria resumida na existência de uma ala
não ampliar a cooparticipação do Partido Blanco ,concede apenas três Chefaturas Políticas
massas populares blancas permaneciam afastadas da vida política , em uma uma fase de
gerais de 1893 são uma prova da cisão partidária : uma parte do partido proclamou a
abstenção , alegando falta de garantias ; enquanto a outra , que havia acompanhado a gestão
entanto , não só em razão da crise interna que enfraquecia o Partido Blanco , mas
resultado da modernização tecnológica que atinge o campo . Na campanha oriental não será
produtiva da campanha .
Os estancieiros , que agregavam em suas propriedades indivíduos sem uma
ocupação definida que acabavam convivendo com a peonada regular e mesmo com os
radicalmente este estilo de vida crioula , condenada a desaparecer diante do avanço das
toda sua produção no mercado , reduzindo o montante que antes sobrava e era consumido
XIX , quase um milhão .As causas deste boom populacional podem ser atribuídas a vários
ferrovias , inexistentes ainda na década de 1860 , mas plenamente implantadas entre 1884
e 1892.
adveio uma séria crise que atingiu a campanha em proporção maior , pois atrás da
de uma região para outra, do litoral ao norte fronteiriço; esplendor pecuário junto ao
cada vez mais agudo da população rural trabalhadora . ( ver Barran-Nahum . Historia
adoção de novas técnicas de produção como ,por exemplo, o cercamento das propriedades
que passaria a exigir um número cada vez menor de peões para controlar o gado ; a
da estância mais pessoal requeriam . O considerável aumento das linhas férreas também
contribuiu para abortar a ocupação da peonada , uma vez que suprime , em parte , a
15/10/1879 . p 418-419 )
A modernização , por paradoxal que possa parecer à primeira vista, deixava
atrás de si um contingente de peões ociosos que não encontrariam acolhida nem nas
atividades agrícolas pouco desenvolvidas e nem nos centros urbanos, visto que neles a
sorte . Em uma comparação entre antes e após estas transformações , o texto que segue
da miséria da classe trabalhadora rural , que será confinada ao pueblo de las ratas ,tal eram
criação de gado vacum , cuja demanda por mão-de-obra era bastante inferior àquela da lida
com o gado lanar. Entre os anos de 1891 e 1892 , em Cerro Largo, deparatamento onde
predominava o vacum, havia um peão para cada 1.054 hectáres ; já em Soriano , com
interior como lavadeiras, cozinheiras e mucamas. Este ,porém era um mercado cuja oferta
de trabalho superava em muito a demanda , tendo de ser muito disputado. Aos homens
que esta classe optasse por atividades ilícitas ,como a prostituição , o jogo e o
do exército . O soldo , no entanto era muito baixo e além do mais praticamente nominal,
descontadas pelo governo ; isso sem citar o fato de que eram pagos com atrasos de três e até
quatro meses .Este era o último recurso ao qual lançava-se mão, após o fracasso das outras
escassas opções.
Ao apresentarmos este quadro de empobrecimento das peonadas e de seu desejo
de derrubar as cercas que lhes tomava a oportunidade de colocação nas estâncias , não
queremos dizer que as guerras civis das quais estamos tratando - 1893,1897 e 1904 -
em nenhum momento pretenderam desalojar a classe que estava no poder . Tratava-se , sim
de substituí-la por outra fração da mesma classe e , para isso , o pobrerio disponível em
canhão , numa luta que se não era a deles , lhes proporcionou aire limpio y tripa gorda,
como eles próprios referiam-se . Com isso , não estamos descartando a existência de um
característico das relações que se estabelecem na política da zona fronteiriça, cujo cunho
servirem-se de homens para seus exércitos em solo oriental , não foi possibilitado,
mãos do Partido Colorado ; e a de Cerrito , do Partido Blanco , cujo líder vinha a ser
chamada zona de fronteira , a qual já nos referimos . Do mesmo modo , percebemos que
1890 , constituiria um duplo marco para a vida política do Uruguai . Primeiro , porque
Partido Colorado ,respectivamente com Alberto Capurro, Blas Vidal e o general José
O mesmo cuidado não foi tomado em relação às chefaturas que ,por força do
pacto de 1872 , deveriam ser entregues aos blancos . Ao invés das quatro acordadas ,
Herrera y Obes confiou aos nacionalistas apenas as de Cerro Largo , Treinta y Tres e
do país diminuía sensivelmente. E, mais grave do isso , era o fato de que Flores e Treinta
y Tres não eram mais do que complementos dos departamentos de San José e Cerro
Largo . O Partido Blanco não pleiteva somente alguma ingerência no poder , mas que essa
fosse "decorosa , que guarde relação entre o que se concede e o que representa o partido ".
(nota: La Epoca - 22/03/1890 )Uma vez ignorados os termos originais do regime de co-
Herrera , aos blancos não restaria outra solução que não fosse dada pela via
revolucionária .
política seletiva , convencido de que o povo não tinha aptidões suficientes para gerir o
processo político-eleitoral. De acordo com suas próprias palavras , considerava que "é
inquestionável que o governo tem e terá sempre e é necessário e conveniente que a tenha ,
então do que se poderá acusá-lo é do bom ou mal uso que faça dessa influência diretriz ,
mas não de que a exerça , e muito menos poderá dizer-se racionalmente que o exercício
dessa faculdade importe despojar do direito eleitoral dos cidadãos " ( nota: Washington
Reyes Abadie. Julio Herrera y Obes.El Primer Jefe Civil . Montevideo ,EBO , 1977 . )
postura elitista , típica do temor que a classe política tinha do ingresso das camadas médias
e do proletariado na política nacional .Pela sua ótica , a política configurava uma atividade
mas também causou fissuras dentro das hostes coloradas. Elementos como José Batlle y
coloradismo . Mais afim com sua época , Batlle antecipava-se na incorparação dos novos
partido a ala doutoral urbana , sendo que esta também encontrava-se dividida .
Por ocasião das eleições de 1890 , o Partido Nacional rompeu sua já precária
unidade, dividindo-se em dois grupos . O grupo de Juan José de Herrera adotou a prática da
mais restava-lhes que não fosse o caminho da abstenção , uma vez que não podiam
compactuar com tais práticas fraudulentas que apenas visavam a perpetuação do partido
Martín Aguirre e inclinava-se a concorrer aos comícios mesmo que fosse para votar em
tornasse possível a evolução dos partidos políticos ,destituindo-os de seu caráter passional .
idéia , de seções onde votavam 1.000 inscritos, compareceram 150 pessoas . O Partido
futura legislatura ; contudo , admitia que a abstenção não poderia se converter em uma
modificar sua condição de ostracismo e falta de atrativo político na qual estava imerso .
partidos políticos que deveria ser pautada pelo gozo de absoluta igualdade e direitos . Sem
condução do processo eleitoral , por muitas vezes pleiteada pelos blancos . Outras
diferença entre blancos e colorados neste momento . O tribuno blanco dizia o seguinte :
(...)
restritiva . Mais ainda, sabiam os blancos , sem perspectiva de uma mudança pela via
eleitoral . Aos blancos - nacionalistas restaria a mesma via da qual os federalistas gaúchos
estratégico , mas sim na questão de que , da mesma maneira que a oposição federalista não
tratava-se tão somente de um assalto ao poder , mas o mote dessas revoluções é o dilema
daí desencadeia uma perseguição sem trégua à oposição . Por sua vez , a situação uruguaia
negócios da cidade-porto .
Entendemos que aquilo que distinguia uma situação da outra, e por isso o
levante federalista toma proporções mais significativas que a guerra travada pelos blancos ,
era o fato de que, desde 1872 vigorava o regime de co-participação . Ao firmarem este
acordo , que encerrou o que se pensava ter sido o último levante blanco , Las Lanzas , os
nó que impedia à oposição de penetrar no reduto das decisões . Mais grave do que isso :
Partido Blanco , melhor dizendo , a ala tradicionalista do partido , capitaneada que seria por
representação irregular seria exercida pelos caudilhos . A partir de 1891 , quando se criou a
atuação de Aparício Saraiva na guerra civil gaúcha , de 1893, seria o grande ensaio que o
O sistema eleitoral então vigente no Uruguai era aquele estabelecido pela lei de
1830 , que obrigava efetivamente aos partidos submeterem-se a uma severa militarização a
fim de somar o maior número de votos em favor de uma mesma lista . Isto acabava por
desvirtuar a natureza do sufrágio e também das coalizões , já que estas ocorriam , na
prática , mediante as listas mistas ou cruzadas nas quais figuravam candidatos dos distintos
. Porém , na vigência dos governos militares não foi possível levá-la adiante , somente
Foi por ocasião das eleições de 1887 que se investiu de forma mais contundente
contra o sistema eleitoral estabelecido pela lei de 1830 , que consagrava o predomínio
Em 1889 , o Dr. Carlos Berro apresentou à Câmara dos Representantes , da qual fazia
analisá-lo e emitir seu parecer . Possivelmente , a causa tenha residido no teor do artigo 74
obtiverem maioria de sufrágios para os cargos , até completar o número integral dos que
corresponda eleger a cada departamento . " Até aí não se modificava muita coisa em
relação à lei de 1830 . Porém , no projeto de Berro a Junta Eleitoral que nomearia as
corporação chamada " Junta de Maiores Contribuintes " , que constituir-se-ia em todos os
permanente ou renovável por completo a cada período eleitoral - ; a forma como deveriam
Presidente Herrera y Obes enviou-o como projeto de lei ao Parlamento , somente levando
Registro Cívico , prescindindo de tudo quanto nele referia-se à representação das minorias.
Apesar disso , ainda houve um setor parlamentar que apôs desconfianças aos projeto ,
sendo que as discussões decorreram num tom polêmico e apaixonado . Após muitos
ao projeto de 1891 .
departamento ,três delegados do Poder Legislativo e três cidadãos sorteados de uma lista
proposta pelos três primeiros chefes indicados . Dessa forma , fica patente que todo o
processo eleitoral , desde a inscrição do cidadão até o escrutínio , ficava sob controle de
Deve-se admitir que, apesar de seus limites , a lei de 1893 representou um avanço
momento em que o povo começava a recuperar sua liberdade , depois da fase militarista ,
não era conveniente deixá-lo vulnerável à influência dos caudilhos departamentais . Nesse
que foi realizado por Herrera y Obes justamente no momento em que mais se agravavam as
críticas contra esse procedimento e reclamavam os partidos sobre a representaçãodas
minorias .
entendendo que a promulgação da lei do Registro Cívico havia sido uma grande conquista .
Os partidos , por sua vez , julgavam que o complemento para todo esse mecanismo advinha
concomitantemente à lei do Registro Cívico , será responsável pela articulação dos blancos
campanha com sua exclusão da política nacional . Os caudilhos mostrariam que o triunfo
da cidade-porto e do domínio político dos doutores sobre o Uruguai não era , ainda ,
caudilhos blancos não poderiam ser desprezadas . Talvez ,a força do Partido Blanco na
zona fronteiriça tenha sido melhor avaliada antes pelo governo rio-grandense , do que pelo
de aliança que o PRR faria aos blancos da fronteira ,seus inimigos até então , após o
CAPÍTULO IV
permanecia ativo, se bem que com desdobramentos peculiares aos dos anos anteriores . A
nas respectivas estruturas de poder. Do lado gaúcho, isto deve-se, em larga medida, à
adesão dizendo que, uma vez morto o primogênito do clã Saraiva, carecia de sentido o
Devemos ter muito presente que, nesta fase, serão as ocorrências uruguaias que
1896 .
4.1 - O Enfrentamento Político-Partidário no Uruguai de 1896-1897
antecessor , Julio Herrera y Obes. A vigência da influência diretriz fez com que os partidos
eleitorais em mãos do Executivo e à sua crítica não escapava nenhum ato da administração
colorada.
Ordoñez e do jornal El Dia, uma prédica contrária ao governo de Idiarte Borda. Somente a
facção coletivista apoiava a política oficial. Outro grupo opositor, La Unión Cívica , com
elementos do Partido Constitucional e do Partido Nacional, colocavam-se, porém, contra a
conhecidos como Jacobo Varela, Alberto Palomeque, Enrique Castro, Luis Melián Lafinur,
os a tentar um supremo esforço de opinião que ponha por terra a prepotência da oligarquia
que se apoderara de todos os postos de origem popular e ameaçava perpetuar-se neles. (nota
: DEVOTO ,Juan E. Pivel . Historia de los Partidos Politicos en el Uruguay . op. cit. ,
p.501)
O intuito deste discurso era o de avivar a massa popular, cada vez mais alijada da
era inegável. Exacerbadas críticas faziam-se à ela, principalmente no que tange à lisura de
Montevidéu. É preciso que se diga que esta aludida corrupção talvez não fosse nem maior,
nem menor do que a conhecida em outros tempos ( nota : A respeito da face corrupta do
presidente Idiarte Borda, Batlle comentava que " Borda esta por consolidar outra parte
importante de sua grandiosa fortuna... Não quer somente estâncias e palácios... quer um
lhe proporcionaram".El Dia , 18/01/1897 ). Contudo, o que havia mudado era o contexto
Borda colocaram-no numa situação propícia para torná-lo o bode expiatório das culpas de
todo um regime que, embora ele não houvesse criado, tampouco permitiu que se
transformasse, sendo, isso sim, inflexível na sua manutenção.
tendo sido absorvida em outra atividade, tornou-se massa disponível para engrossar as
por cabeça ), melhorou a qualidade dos flocos de lã com um corte mais apurado, diminuiu
OLIVERA, Enrique Arocena. El Desgaste de las Levitas. op. cit. , p134-141). A aparência
de progresso, no entanto, era quase que toda montada sobre o endividamento externo, cujo
outro, pelo caudilho da campanha cujo nome neste momento era Aparício Saraiva. A falta
de coesão dos blancos havia sido, inclusive, explorada durante a presidência de Julio
Herrera y Obes, apoiado por uma minoria nacionalista que foi premiada com um ministério
internos foram, em larga medida, responsáveis pelas sucessivas abstenções decretadas pelos
blancos durante os períodos eleitorais, o que acabava por agravar o isolamento do partido
na política nacional . Para os nacionalistas as eleições eram um verdadeiro beco sem saída,
que nada mais faziam que confirmar e perpetuar o desterro interno a que estavam
submetidos. Parecia que este partido resignava-se com o papel de minoria que a falta de um
processo eleitoral autêntico tornava impossível saber se eram ou não. ( nota : ABADIE,
Washington Reyes . Crónica de Aparicio Saravia.Montevideo, El Nacional, 1989, tomo I ,
p. 156 )
especial de uma nova geração blanca que entrava em cena e à qual deveu-se a revitalização
e logo após de clubes permanentes que atingiriam o número de um por seção. Estes clubes
não da capital onde, em 1889, 47% da população era composta de estrangeiros. ( nota :
idem . )
destacado porta-voz Aparício Saraiva. Nascido em Cerro Largo em 1856, o quarto filho de
Francisco Saraiva havia abandonado a escola aos treze anos para engajar-se no exército de
Timoteo Aparício, no qual obteve a graduação de cabo. Aos dezenove anos participou da
Revolução Tricolor, marchando depois para o Rio Grande do Sul onde, ao lado do irmão
quilômetros e lutando mais de setenta combates. Dali voltou general, com uma dura lição
muito bem apreendida. ( nota : A respeito da biografia de Aparício Saraiva existem várias
obras editadas, as quais podem ser consultadas a fim de aclarar detalhes sobre os quais não
nos deteremos. Entre elas estão : ABADIE, Washington Reyes. Crónica de Aparicio
Saravia. Tomo I e II, Montevideo: El Nacional, 1989 ; CHASTEEN, John ." Aparicio
Saravia: mito y realidad " . Hoy es Historia. Montevideo, s/e , 1987 ; GALVEZ, Manuel.
1956; )
até aqui.
gem ?
guerra?
Revolucionário Rio-grandense ?
bombos.
irmão .
O extrato da entrevista com o caudilho blanco permite perceber que não era de
todo infundado o rumor corrente desde os idos de 1893, que atribuía parte de seu
premiére causara fundo impacto em Aparício, que logo mais prepararia a revolução no
Uruguai. Mais ainda, o caudilho, estrategicamente ou não, deixa patente sua desconexão
castilhistas, o que de fato se deu, em prol, agora, de uma causa especificamente sua : a
revolução blanca.
minoria ilustrada, vinculada por seus interesses aos capitais estrangeiros, impulsionava o
governo a uma política de sacrifícios para o povo. Atrelava Idiarte Borda a este grupo, ao
sugam tudo quanto podem e no qual participam não somente colorados, senão também
alguns blancos "( nota : ABADIE, Washington Reyes. Crónica de ...op.cit., p. 141). A
insatisfação do caudilho tinha muito a ver, também, com a própria estrutura de seu partido
campanha.
A inconformidade do caudilho ganhava eco na imprensa regional, que
outros, veteranos de 1870, como Agustín Urtubey, Fortunato Jara, Celestino Alonso,
Nicásio Trías, Manoel Rivas, Pedro Francia , que consideravam não haver outra saída
para o restabelecimento das liberdades democráticas que não fosse a revolução popular
nacionalista.
Saravia , em agosto de 1896, cujos propósitos resumiam-se em lutar para que o direito de
voto fosse respeitado, terminando com as vexatórias fraudes eleitorais. Inaugurado o club,
resolveu-se que no primeiro domingo do mês de outubro iniciariam-se os exercícios
decidiu-se publicar a ata em El Nacional , o que causou certo alarme no governo que,
em todo o país .
que se fazia na campanha sob o comando de Saraiva. Em Buenos Aires, desde setembro de
1896, estava constituída uma Junta de Guerra, integrada por Juan Golfarini, Duvimoso
Reyes. Julio Herrera y Obes- el primer jefe civil. Montevideo: Ediciones de la Banda
Oriental , 1977, p. 114)
do Diretório, o caudilho vê frustrada sua estratégia quando aquele lhe pede que adie por
um ano a revolução, visto que o Partido não possui recursos para manter a luta. Diante de
e Mariano .
no caudilho, coincidindo seu ponto de vista com o do governo Borda, que não atribuía
É inegável que este primeiro encontro, tão pouco estimulante, com os dirigentes
doutores, nem os caranchos viriam comer minha carniça quando eu morresse " ( nota : ver
MENA SEGARRA, C. Enrique.Aparicio Saravia- las ultimas patriadas. op. cit. ,p. 43)
vários locais da campanha como Cerro Largo, Tacuarembó, Treinta y Tres e Durazno.
El Deber Cívico , da cidade de Melo, em artigo publicado nesse mesmo período,
nacionalistas locais, tanto que o Diretório, em Montevidéu, não pôde ficar alheio às
solicita informações detalhadas sobre a situação denunciada pela imprensa, às quais Saraiva
postulando uma linha de conduta diferenciada da proposta por Aparício, que continuava
Apesar do apelo do Diretório, cujo intuito último era o de organizar com perfeição
a seus adeptos, por onde pode-se inferir um certo temor pelo fracasso de um movimento
condena todo movimento anárquico. Ao inteirar-se da circular, Aparício apenas exclama "
quanto mais sós nos deixam, mais nos vão dever " ( nota: Idem, p. 150 ), e prossegue na
encontros, visita a don Eduardo Acevedo Díaz que lhe fala de um possível acordo entre a
Junta de Guerra em Buenos Aires e o Diretório Nacionalista. Interpretando mal as
declarações de Acevedo Díaz, Costa transmite a Aparício a notícia de que deveria ativar o
opinião de que a situação de Aparício era bastante cômoda. Uma publicação de El Siglo ,
pública .
o país inteiro.
realidade. Aparício contava com pouco ou nenhum apoio dos montevideanos anti-
E o citado povo, por seu turno, carecia da consciência necessária para tornar efetivas suas
situação.
A insistência do Diretório Nacionalista em retardar a ação revolucionária seria
8° seção de Rivera, por exemplo, lançava aos seus correligionários a seguinte convocatória:
" Os que subscrevem, cidadãos nacionalistas, re-
fissuras nas suas hostes, como aquela representada pelo grande adversário local de Aparício
Saraiva, o general Justino Muniz. Blanco de origem, mas prestando serviços ao governo
colorado, Muniz gozava de certo prestígio na região, em parte devido à sombra dos feitos
de seu tio Ángel Muniz, chefe supremo da revolução de 1875, e em parte por seus méritos
próprios por sua atuação em várias batalhas como as de 1863; a guerra de 1870; e a
Tricolor, em 1875.
Justino Muniz considerava-se blanco. Para afirmar essa condição havia pintado
sua casa com as franjas azuis e brancas da bandeira oriental e adornado as paredes com
retratos de chefes nacionalistas, caudilhos de passadas revoluções. Muniz, contudo, não via
problemas em estar servindo os governos colorados desde 1880 e tampouco de ter aceitado
o grau de coronel outorgado por Máximo Santos, e o de general, por Herrrrera y Obes. O
caudilho Muniz era um gaucho analfabeto, que nem sabia assinar o próprio nome.
Mantinha certo relacionamento com os Saraiva, porém, nem Aparício e nem Chiquito, e os
demais blancos do departamento, salvo alguns que dele obtinham vantagens, consideravam-
no membro do Partido Nacional. Marca borrada, dizia Aparício dele e dos outros que
Manuel. op.cit.; MONEGAL, José. op. cit. ; MENA SEGARRA, C. Enrique. Aparício
colorado. A espantosa situação era retratada com fina ironia pelo diário La Razón :
Largo, no caminho para Coxilha Grande, a fim de que entrasse em tratativas com o
caudilho, que ali costumava passar as manhãs, para que colaborasse com a patriada em
blanco.
O que tinha tudo para ser um episódio pacífico transformou-se em uma grande
supõem-se para perturbar as eleições marcadas para o dia 29. O caudilho ruma em direção à
por Saraiva e lido por Sergio Muñoz, um dos poucos homens ilustrados que o cercavam.
e políticos.
dade institucional.
encontro.
e estranhos.
Correligionários: não o duvideis, o fiel elemento mi-
Viva a Revolução !
Abaixo o governo !
Por sua vez, o exército governista, armado de modernos fusis e carabinas tipo
políticos. Em primeiro lugar, demonstrou que, não obstante a superioridade dos recursos
civis.( nota : MENNA SEGARRA, C. Enrique. Aparicio Saravia- las ultimas ..., op.cit., p
49 )
muitos o mentor intelectual da revolução- e também com a agitação dos clubes. Apesar de
relevantes, estes fatores não eram capazes de levar por si só, às armas a massa ansiosa por
Vários contatos haviam sido mantidos entre Aparício Saraiva e elementos rio-
grandenses durante a fase que antecedeu o levante de 1896. Logo após seu retorno a Melo,
noticiava-se que o líder blanco, havia retornado aos campos gaúchos. O jornal Gazeta da
Manhã, de Bagé, publicava que, " pessoa chegada do município de Dom Pedrito nos
Santa Maria, acompanhado de oito homens " ( nota : Gazeta da Manhã , Bagé ,
20/01/1896)
No mesmo período, O Commercio, da mesma cidade, noticiava que :
" Faz alguns dias passou por Santa Maria, com destino
20/01/1896)
Aparício espalhou os boatos que lhe davam como futuro fazendeiro rio-
grandense, porém todos já sabiam que o propósito oculto desta insólita viagem era o de
obter armamento com alguns chefes federalistas, seus antigos companheiros de armas, para
estado das armas deixadas em Alegrete,ao final da revolução gaúcha. O contato específico,
entretanto, dar-se-ia com Torquato Severo, grande amigo e companheiro federalista de
Aparício, homem de sua absoluta confiança. O encontro ocorreu em Santa Maria, tendo o
se no Rio Grande ? Prepara, então, o terreno político que lhe permitisse, em situação de
conhecia "meio Rio Grande", que falasse com Julio de Castilhos e que lhe transmitisse que,
uma vez morto Gumercindo, "considerava-se desligado dos federalistas ". O mesmo recado
fez chegar aos ouvidos do comandante da fronteira, João Francisco Pereira da Silva.
Crónica de ... op cit, p 142 ) Seguro de ter plantado uma base de aprovisionamento,
final de 1896.
dos acontecimentos orientais, deixando claro que nada tinham a ver com a revolução
blanca. Atribuíam qualquer auxílio que eventualmente pudesse ser dado a uma das facções
A Reforma, que "lutaremos nas urnas e pelas armas faça quem quiser, sem co-participação
de Torquato Severo não foram cumpridas, bem como o apelo a outro federalista, Estácio
Azambuja, também não surtiu efeito, tendo este alegado que estava "espionado e
Márquez que deslocou-se várias vezes entre Porto Alegre e a estância de El Cordobés,
haviam sido bem sucedidos. E, diante da possibilidade de que a guerra civil no Uruguai
oportunizasse uma nova ação dos federalistas gaúchos lá assentados, Castilhos julgou mais
interessante ter os blancos como aliados do que correr o risco de vê-los novamente junto
aos federalistas. Dessa forma é que desde os primeiros momentos da revolução, os blancos
discretamente, faziam vistas grossas aos preparativos bélicos dos blancos, permitindo que,
desencadeará em 1897. ( nota : FRANCO , Sérgio da Costa . Júlio de Castilhos ..., op. cit.,
p. 169 .)
batalhão do Cati, atesta que o governo castilhista acobertava os planos dos insurrectos
orientais, porém, cercando-se de todas as precauções para não tornar o fato oficial. Nas
SEC/RS, 1978,p. 90 )
fronteira obrigatoriamente repercutiam nos dois territórios. Foi assim desde o início da
ocupação das porções meridionais da América portuguesa e espanhola, seguiu sendo com
Capítulo I . Não seria diferente em 1896/1897, se bem que aqui já se encaminhava para o
ressurgia para logo depois aplacar-se; no caso gaúcho, a hegemonia do PRR impunha-se
entre Castilhos e João Francisco para atestarmos a interconexão entre os grupos daqui e de
lá. Explícitas eram as instruções do líder peerrepista ao seu subordinado militar no Cati ,
incomodava . Tudo deveria ser feito para desestabilizar esta cogitação, inclusive aliar-se
aos antigos desafetos orientais. O que não podia, no entanto, era oficializar este fato,
Os federalistas, por seu turno, avaliaram que seria mais vantajoso seguir
governo gaúcho para que coibisse sua ação na República Oriental. Nestas circunstâncias, o
Saraiva na revolução de 1893. Extratos de uma entrevista sua em A Reforma provam o fato
inicialmente, Castilhos acreditou que o levante blanco poderia ir contra seus interesses e
da Junta de Guerra que funcionava em Buenos Aires, Dr. Duvimoso Terra. Este deslocou-
se a Porto Alegre para entrevistar-se com Castilhos, tendo obtido êxito em suas gestões.
Temos indicações que nisto tomou parte Eduardo Acevedo Díaz (nota : ver: GALVEZ,
contar com a passividade do Rio Grande: sem ela não era possível preparar a revolução. E
( grifo nosso)
Concordamos que Castilhos até possa ter tido seu momento de desforra na
revolução de 1897( nota : o próprio João Francisco alegava que através de Aparício
Saraiva os castilhistas poderiam desforrar-se do governo colorado que tanto havia auxiliado
presidente gaúcho colocava a efetivação da hegemonia do PRR como condição sine qua
non para emprestar seu apoio à causa blanca. Ou seja, enquanto os federalistas mantinham-
blancos, havia um risco não desprezível de novos atentados contra o governo gaúcho.
Ora, mesmo tendo Silveira Martins retornado à Porto Alegre por ocasião do 2°
decide dedicar-se à fração de campo que ainda lhe restara no departamento de Tacuarembó.
Contrai empréstimos com os amigos e povoa de gado a sua estância do Rincão do Pereira,
Rincón. Ali era constantemente procurado pelos chefes federalistas de maior prestígio que
iam solicitar-lhe conselhos ( nota : ver SILVEIRA MARTINS, J.J. Silveira Martins. Rio de
Janeiro:São Benedicto, 1929, p. 411 ss).É compreensível que o fato causasse sérias
desconfianças nos castilhistas, ainda mais devido à situação pré-revolucionária pela qual
sempre trataram com passividade todos os revolucionários. Aos chefes federalistas que
governo castilhista foi rigoroso. Torquato Severo, por exemplo, foi violentamente
perseguido e logo após internado e até preso por algum tempo. Os movimentos dos
nas cidades e estâncias do Rio Grande e também para reunir-se em numerosos grupos. A
única precaução que deveriam ter era a de ocultar o armamento, pois as autoridades
gaúchas zelavam por manter a aparência de neutralidade. Assim, as armas, que eram
depositadas na chácara Gentil, em Bagé,na qual vivia Aparício, deveriam ser transportadas
federalista Rafael Cabeda tramava no Uruguai um novo movimento rebelde, junto a Gaspar
Silveira Martins e ao governo de de Idiarte Borda. Haveria um compromisso de que, em
auxílio aos chefes governistas daquele país no enfrentamento da rebelião saraivista, aqueles
forneceriam aos federalistas meios para organizar uma nova invasão ao estado gaúcho.
quer GALVEZ( nota : GALVEZ, Manuel.op.cit), o impulso básico para que Castilhos
É certo que a revolução blanca de 1897 não foi improvisada como o levante de
colorados independentes fazem côro contra o governo e a Câmara cuja eleição originou-se
são reveladoras de que, nem mesmo num momento de relativo consenso, esquecia-se o
antagonismo partidário . José Batlle y Ordoñez pronuncia-se nos seguintes termos:
tipo de apreensão do problema revolucionário. Dizia ele: " O Partido Blanco tem o direito
Juan Carlos Blanco, também colorado, publicava um artigo na imprensa montevideana que
teve imensa repercussão, a ponto do jornal ter que reimprimí-lo várias vezes. O conteúdo
blancos acabariam por fazer a revolução sozinhos. Do Rio Grande do Sul, a partir dos
potreiros de Ana Correa, Aparício Saraiva, proprietário de mais de 6.000 hectares,
trabalhou junto aos seus soldados para reunir dinheiro, vendeu 5.000 de sas reses e
comprou com o montante as armas que utilizou para invadir novamente em março de 1897.
Guerra, ex- Comitê Revolucionário. Composta por nomes como Juan Angel Golfarini,
Rodolfo Vellozo, Jacobo Berra, Antonio Paseyro, Duvimoso Terra e Dionisio Viera, a
mesmo tempo, organizava os exilados, para cujo comando obteve duas incorporações de
engajado-se ao exército argentino, como outros uruguaios de seu tempo costumavam fazer.
Ao reunir-se à Junta de Guerra, Diego Lamas abdicou de uma promissora carreira, tendo
sido nomeado Chefe do Estado Maior do exército revolucionário , com o grau de coronel.
Muito diferente do protótipo do caudilho, Lamas era descrito como culto, sociável em alto
grau, muito aficcionado à literatura . Ao lado de Aparício, Diego Lamas será o grande
nome da revolução de 97.
de Corrientes, ficando famoso por seus atos de violência. Na empreitada de 1897, aspirou à
das autoridades daquele país, tão insistentemente requisitadas pelo embaixador oriental, Dr.
Ernesto Frías. Diante dos reclamos orientais, a Argentina invocava o artigo 16 do tratado de
1889 entre ambos os países, cujo teor era de que "o asilo é inviolável aos perseguidos por
delitos políticos ". Mais do que isso, entretanto, pesava o litígio entre Argentina e Chile,
desde 1892, sobre o qual Idiarte Borda insinuou uma imprudente inclinação para o Chile.
( nota: Sobre este assunto ver : MENA SEGARRA, C. Enrique. Aparício .... ,Op. cit. ,p.
55 ; e OLIVERA, Enrique Arocena. O Desgaste de las Levitas. Op. cit., p.147 ss.)
simultânea de três pontos. Aparício Saraiva entraria pela fronteira brasileira de Aceguá; o
Colônia para encontrar-se, com os setecentos insurrectos de São José e Flores, liderados
pelo coronel Nuñez; e uma terceira expedição, menos numerosa que as outras duas, partiria
de Entre Rios e penetraria em terra oriental entre as cidades de Salto e Paysandú. As três
forças deveriam reunir-se em Paso de los Toros, no centro da República, para dar
para esta tese é a forma como, através dela, foram mediadas as relações entre o governo de
o Brasil.
seu superior pelo fato de que constava que "anda em trabalhos subversivos para fomentar a
atento aos movimentos que se fazia na fronteira, visto ser por ali que passavam armas e
munições aos rebeldes blancos. Alguns cônsules, porém, custavam a admitir a existência
informações de que por ali seguia material bélico para abastecer os saraivistas. Alegava o
cônsul Suarez que era impossível ter passado armamentos por ali, visto " ser a costa do
Uruguai muito bem guarnecida, o que torna difícil a passagem " . ( nota : Archivo General
orientais à fronteira brasileira, Suarez atribuía "ao simples temor de uma revolução, mas
não com o fim de alistar-se nas filas revolucionárias. "( nota: idem) . Mais tarde, porém, os
fatos provariam que ao cônsul oriental a movimentação revolucionária tinha passado
despercebida. Em seguida, Suarez iria rever sua posição, o que fica explicitado em sua
(grifos nossos)
distensão nas relações com o governo oriental, não impediam que fosse de conhecimento
público o favorecimento que dispensava aos blancos saraivistas, como bem o demosntra a
missiva do cônsul em Uruguaiana. O mesmo acontece em Santa Vitória do Palmar, com
movimentação insurgente, os cônsules relatam que "as autoridades, da mais alta hierarquia,
perfeitamente, um clamor pela intervenção do governo federal nos assuntos gaúchos que
República Oriental por ocasião dos sucessos de 1893-1895, quase levando o Brasil ao
rompimento das relações diplomáticas com o país vizinho, agora era a vez das autoridades
969 )
Tranqüilizados pela cobertura proporcionada pelas autoridades gaúchas os
que,
ra alguma cumpridas."
04/06/1897.)
indisfarçáveis e ocorriam sob às vistas dos gaúchos. O foco das reclamações recaía sobre
blancos, tais como Eduardo Acevedo Díaz, Luis Gil, Juan Francisco e Ignacio Mena,
Abelardo Marquez, sobre os quais recaíam pedidos de internação imediata por parte do
governo uruguaio que eram, em quase todos os casos, ignorados pelo Rio Grande que, por
seu turno, " prestava-lhes decidida ajuda (...),sem molestá-los, nem desarmá-los "
De fato, fazia-se um grande apelo ao governo gaúcho para que procedesse com
maneira:
to. 02/08/1897)
titular da pasta da Guerra, que, por sua vez, cobra explicações do Comandante do 6°
Distrito Militar, no Rio Grande do Sul, Comandante Carlos Eugenio. em telegrama ao seu
Se, por um lado, tudo contribuía para facilitar a movimentação blanca no Estado,
por outro, as autoridades consulares não ficavam de braços cruzados frente à correria
forças legalistas lideradas pelo general Justino Muniz. ( ver documentação proveniente do
agosto de 1897 )
desagrado da República Oriental pela conduta desleal utilizada eplo Brasil no concernente
aos assuntos da fronteira.( nota : Archivo General de la Nacion. Rio de Janeiro. 05/09/1897.
Carpeta 969. )
O estremecimento entre as autoridades ministeriais uruguaias e brasileiras
blanco. Tal assertiva ganha maior dimensão ao analisarmos uma variável na qual temos
Afastado do poder por ter apoiado o golpe de fechamento do Congresso dado por Deodoro,
sua volta ao poder, o que se dá em julho de 1892, através de um golpe que derruba o dito
capítulo anterior, sobre as razões que levaram o governo federal a consentir na reinstalação
nesta tarefa.
central, a qual já referimos, encontrará em Júlio de Castilhos uma disposição férrea em ser
que encontrou nele seu mais ardente defensor e praticante. Todo o poder deveria
jacobinos que cercavam Floriano e que tanto pleitearam pelo seu continuísmo.
estaduais, interferindo em questões cuja natureza não seriam de sua alçada, como por
exemplo, tratativas políticas com governos estrangeiros que, a rigor, pertenciam à esfera do
Ministério das Relações Exteriores. Tal fato fica perfeitamente patente no caso das
relações com o Uruguai, as quais foram caracterizadas por uma grande dose de autonomia,
gaúcha, no que tange à República Oriental, durante os anos que cobrem a revolução
paz em 1895, coordenadas pelo general Galvão, a partir de conversações com o General
protocolo assinado por ambos, Tavares afirmava não ter-se revoltado contra o governo
federal, e sim contra o de Castilhos, apenas.( nota : sobre estas transações ver: LOVE,
intervenção federal no Rio Grande e o outro à anistia. O primeiro será rechaçado após uma
consulta a políticos influentes da capital federal, por entenderem que feria a autonomia
gaúcho.
O que mais contava, no entanto, para o governo federal era a pacificação do Rio
Grande, pois isto estava diretamente relacionado ao processo de afirmação do controle civil
Nesse sentido, entendemos que analisar a postura de Castilhos no que concerne às relações
com a República Oriental é, também, desvendar seu relacionamento com o governo federal.
Argumentava ele ao Ministro das Relações Exteriores do Brasil que não entendia a razão
das autoridades brasileiras não tomarem providências contra os revolucionários blancos
estabelecidos em Livramento. Nosso Ministro dizia não ter conhecimento daquela presença.
A explicação para tal fato era dada pelo próprio Angel Dufour, nos seguintes
termos:
( nota : idem)
No contexto que analisamos, fica patente o desacerto entre o Rio Grande do Sul e
o governo federal no que tange às tratativas com as autoridades orientais. Enquanto o Rio
de Janeiro procede de uma forma; o governo de Porto Alegre simplesmente ignora suas
orientações.
Governo da República.
( nota : idem)
Um misto de descaso e má vontade caracterizava a atitude das autoridades gaúchas.
Podemos especular que, de certa forma, aproveitavam o momento para uma dupla
atrelados os blancos aos castilhistas ficava mais difícil para os federalistas encetarem
qualquer manobra contra o governo gaúcho. Segundo, na condição de fronteira viva com o
de Janeiro. Prova cabal está contida no documento citado acima, no qual observa-se que as
líderes blancos, foi finalmente preso Duvimoso Terra. Detido em Porto Alegre,
que um navio zarpasse rumo ao Rio de Janeiro para embarcar o revolucionário. Terra, no
cidade. O episódio causou sérias desconfianças não somente no governo uruguaio, como
também no General Cerqueira, chefe do comando das tropas federais na fronteira, que em
diligências viu confirmada sua suspeita de que a fuga havia sido facilitada por funcionários
do governo rio-grandense.
imprensa a respeito de uma suposta missão oriental que estaria em contato Júlio de
31/04/1897)
justificativa de Castilhos frente à acusação feita pelo General Muniz, chefe das forças
um tom encontrado em grande parte de seus discursos sobre o assunto, assim pronuncia-se
mantida (...)
04/09/1897)
mesmo tempo em que defendia-se usando a penúria finaceira do Estado para justificar o
invadiam o território gaúcho, o fato não era de inteira responsabilidade de Castilhos, tendo
o governo federal, nesse caso, parte de culpa. A precária situação dos corpos federais na
fronteira gaúcha era um excelente expediente para explicar a invasão blanca e encobrir o
beneplácito da autoridade rio-grandense.
que se verificou até o momento. Os pontos de maior trânsito dos blancos não constituía-se a
zona guarnecida pelos batalhões estaduais,entre D. Pedrito e Quaraí, mas justamente aquela
localizada entre Jaguarão e Bagé, esta última sede da fazenda de Aparício Saraiva, cujo
estaduais para esta região, no entanto, sempre acabavam esbarrando na falta de recursos
financeiros, o que tornava-se adequado às tratativas de Castilhos com os blancos, os quais
tropas para o sertão baiano. É assim que Castilhos reforça ainda mais seu domínio no Rio
ardiloso governador usava o tom ameno e diplomático a fim de escamotear uma ação
Estado.
( grifo nosso)
( nota: Idem)
Tal fato era registrado, inclusive, pela imprensa montevideana que, ao primeiro
sinal das escaramuças na fronteira, apontavam a forma independente com a qual o Rio
Rio de Janeiro:
junto ao Ministério das Relações Exteriores do Brasil, pouco ou nenhum efeito prático
federalista na zona fronteiriça. E, numa tediosa repetição, o Rio Grande assumia posição
Castilhos questões de caráter internacional. Isto era aventado pelos jornais uruguaios
oposicionistas ao governo, mas este evitava pronunciar-se muito sobre tal assunto,
preferindo uma atitude discreta que não fosse capaz de fomentar mais especulações.( nota:
favores ao governo Borda. Ao menos é o que atesta seu telegrama ao Ministro no Rio de
27/07/1897 )
uruguaio, Castilhos tinha de, obrigatoriamente, oferecer uma justificativa para sua postura
para o tão propalado temor de uma nova invasão federalista no Estado.Em mensagem à
pública.
Muitas circunstâncias fazem crer que os ex-rebeldes,
( nota:
governo no Rio de Janeiro. Prova de tal afirmação, são as palavras de Alberto Fialho a
Dionísio Cerqueira:
27/10/1897 )
O texto acima desenha com clareza o uso que Castilhos fazia de uma possível
ameaça de invasão federalista no Rio Grande, usando-a para legitimar suas ações
autoritárias na política interna do estado sulino, bem como seu procedimento desconectado
fim de habilitar todo e qualquer ato coibidor daquele movimento, agora usava o mesmo
de seu governo.
A parcialidade do governo castilhista frente ao conflito urugauio era patente. Os
público sua insatisfação que era coadnunada inclusive por alguns orgãos da imprensa
Como dissemos no início deste capítulo, as relações entre o Rio Grande do Sul e
o Uruguai, neste período, passam a ser mediadas pela revolução blanca. Tentamos
foi a aliança com os revolucionários blancos, liderados por Aparício Saraiva, que tinha
como liame gaúcho João Francisco Pereira de Souza, não por coincidência , o controlador
da fronteira oriental.
Ao mesmo tempo em que encaminhava sua política com o Uruguai nas bases de
do Rio Grande que, terceiro estado em importância nacional, se não podia enfrentar a
hegemonia do café-com-leite, utilizava como trunfo sua condição de fronteira viva com
oposicionistas.
insurgência blanca ,em 1904, a qual encerraria o ciclo de instabilidade política interregional
e asseguraria ao PRR o fim das ameaças oriundas da zona fronteiriça. Sobre os sucessos
de 1904, e o encerramento do ciclo de instabilidade bilateral nos debruçaremos no último
capítulo.
Suas relações com o Diretório, entretanto, eram muito complexas visto que
ambos constituíam dois centros de poder partidário separados por sua formação intelectual,
pelo ambiente em que se moviam e pela própria distância geográfica, suprida, via de regra,
por delegações do Diretório que tomavam o rumo de Cerro Largo para conferenciar com
Saraiva.3
5
Palomeque publicaria depois uma obra intitulada El Año Fecundo, na qual retrataria suas diferenças com o
Partido Nacional e com Saraiva.
6
ABADIE, Washington Reyes. Crónica de... Op. cit. p. 312.
Saraiva contava também com a cooperação do Chefe Politico de Rivera,
Abelardo Márquez, que adquiria armas no Brasil e as passava a Cerro Largo; e de Carmelo
Cabrera, convertido em agente do caudilho, responsável por contatos com o Diretório
nacionalista e com lideranças políticas do Rio Grande e da Argentina.
3. O PREÂMBULO REVOLUCIONÁRIO
Pelo Partido Colorado surge candidato José Batlle y Ordoñez, chamado Don
Pepe, imediatamente rechaçado pelos nacionalistas, que por seu turno não tinham votos
suficientes para indicar um candidato7. O discurso de Batlle apontava para problemas caso
fosse eleito presidente. Vejamos o que dizia às vésperas das eleições:
8
MENA SEGARRA, C. Enrique. Op. cit. p. 136.
9
Ver: HIERRO, Luis Antonio. Batlle - democracia y reforma del Estado. Montevidéu: Ediciones de la Banda
Oriental, 1977.
Apesar de não terem indicado um candidato, os nacionalistas entendiam que
poderiam eleger um presidente colorado, mas que, nos mesmos moldes de Cuestas,
garantisse a vigência do pacto de 1897 por meio do qual os blancos poderiam continuar
ganhando escalões parlamentares por meio do sufrágio livre e sem acordos. O radicalismo
de Batlle inviabilizava o projeto blanco, deixando-lhes como única alternativa a guerra. O
Partido Nacional tinha motivos para dizer que Batlle era o candidato da guerra. A poucos
dias da eleição comentava-se na imprensa montevideana que "Batlle é visto com clara
aversão e desconfiança, especialmente entre os nacionalistas, para a maioria dos quais
representa uma candidatura de guerra".10
10
Ver: BARRAN, José P. e NAHUM, Benjamín. El Uruguay del Novicientos. Montevideo: Ediciones de la
Banda Oriental,1990. p.246.
Origina-se esta desavença no fato de não haver-se confiado a
ele (Eduardo Acevedo Díaz), a missão de levar a Buenos
Aires, ante o Comitê, a palavra oficial do exército com
referência à paz. Ao feito foi designado o doutor Alfonso
Lamas. Ainda que a aparência seja desfavorável, dada a alta
significação do doutor Acevedo Díaz, foi ato correto não
discernir ao mesmo aquele mandato. Com efeito, este distinto
cidadão, pessoalmente inimizado com quase todos os
membros do Comitê Revolucionário, não estava em situação
de ser intermediário bastante eficaz. Ao preferir francamente
ao digno doutor Lamas, correndo o perigo de ferir a vaidade
do doutor Acevedo Díaz, creditou-se louvável firmeza de
procederes, superior em nosso solo às impertinências dos
homens. (...) 11
Manini Rios aponta uma outra versão para explicar a defecção de Acevedo
Díaz dos quadros nacionalistas e que reside particularmente na sua relação com Aparício
Saraiva. Diz ele:
11
MONEGAL, José. Op. cit. p. 296-297.
12
RIOS, Carlos Manini. El juicio de los Mauser. Montevideo: Barreiro y Ramos, 1979. p.35-36.
Batlle ministro nos Estados Unidos, procurou dali prejudicar o máximo possível a
revolução de 1904, tópico sobre o qual referiremos adiante.
A partir desta data a eclosão da guerra foi antecedida por uma batalha de
críticas e ofensas entre Saraiva, o último grande caudilho rural do século XIX, e Batlle,
que chegaria a ser o primeiro grande caudilho urbano do século XX, o que caracterizou o
verdadeiro preâmbulo da revolução blanca de 1904.
Esta foi a fagulha que incendiou o país, fazendo com que Saraiva
deflagrasse, novamente, o apelo às armas, em 15 de março, em protesto à violação do pacto
de 1897. Imediatamente, Batlle põe em andamento as negociações para um acordo, sendo
que suas bases foram rechaçadas por Saraiva. Após várias rodadas de negociações, a paz
foi firmada em Nico Perez, em 30 de março de 1903. O acordo era, em síntese, a renovação
do Pacto da Cruz, cumprindo função provisória até que fosse efetivada a cláusula
fundamental, a das eleições livres. Ambos os partidos deveriam acatar o resultado das
urnas.
14
MENA SEGARRA, C. Enrique. Aparício Saravia. Las últimas...Op. cit. p. 141.
15
GONZALEZ, Ramon P. Aparicio Saravia en la revolucion de 1904. Montevideo: Florensa & Lafon, 1949.
p. 40.
A pacificação, neste contexto, configurava apenas uma trégua, dando tempo
a Batlle para que se acostumasse com as práticas de defesa militar, cuja direção estava a seu
cargo. Neste sentido, a revolução foi uma experiência significativa pois, a partir dela, Batlle
tratou de reestruturar os quadros militares, transferindo chefes, mobilizando regimentos,
nomeando comandantes nos departamentos, convocando milícias e guardas nacionais em
campanha, criando batalhões destas guardas na capital, reunindo cavalhadas e comprando
armamentos.
17
PAYRO, Roberto. Cronica de la Revolucion Oriental de 1903. Montevideo: Ediciones de la Banda
Oriental, 1967. p. 52.
Além do pedido não ter resultado deferido, provocou irada reação do
governo rio-grandense que manifestou-se da seguinte forma:
18
ALMEIDA, João Pio de. Borges de Medeiros. Subsídios para o estudo de sua vida e de sua obra. Porto
Alegre: Barcellos, Bertaso e Cia., 1928. p.24.
19
De acordo com TRINDADE, Op. cit. p. 81: "o autoritarismo borgista seguirá literalmente as diretrizes
implantadas pelo modelo constitucional castilhista, apenas alterando o estilo de atuação: enquanto Castilhos
era uma personalidade política mais combativa e carismática, Borges apresentava o protótipo da eficiência
organizatória combinada com a sobriedade na condução política”.
20
LOVE, Joseph. Op. cit. p. 82.
reacionária que, nesse ano, irrompera na capital da
República mal disfarçada do presidente Prudente de Morais,
extravasara por todo o país, “encontrara no Rio Grande a
forte barreira que lhe fora oposta pelo partido republicano,
contra o qual se desencadearam em conseqüência,
intepestivamente, as iras do Governo Federal”.21 (grifo
nosso)
21
ALMEIDA, João Pio de. Op. cit. p. 20.
22
Ver: WITTER, José S. Partido Republicano Federal (1893-1897). São Paulo: Brasiliense, 1987.
23
TRINDADE, Hélgio. Poder Legislativo e autoritarismo no Rio Grande do Sul (1891-1937). Porto Alegre:
Sulina, 1980. p. 88.
chefias municipais e com questões de caráter internacional, tais como os contatos
estabelecidos com Aparício Saraiva por ocasião do levante de 1903.
24
FRANCO, Sérgio da Costa. Op. cit. p. 174.
25
Interessante é o texto de FAORO, Raymundo. Os donos do poder. v. 2. Porto Alegre: Globo,1985. p. 590:
"morto Júlio de Castilhos, vela Borges de Medeiros, inexpugnável na sua cidadela isolada - a comtilândia do
sul”.
une-se aos coletivistas e faz pressão no alistamento eleitoral
em execução atualmente, para coibir que os blancos tenham
maioria nas próximas eleições. Os blancos preparam-se para
reagir em todo o terreno. (...) “Os nossos adversários estão
contentes, por sua vez, porque crêem que os colorados,
unidos, triunfem, e estão ativamente trabalhando e
manobrando”.26 (grifo nosso)
26
Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul. Livramento. 16/5/1901. João Francisco a Borges de
Medeiros.
27
Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul. Montevidéu, 25/7/1901. De Geraldino Silveira para
Borges de Medeiros.
Estas palavras são escritas aproxidamente seis anos após o término da
revolução desencadeada em 1893. Até esta data os castilhistas permaneciam atentos a todos
os movimentos de seus opositores, convencidos de que se houvesse nova tentativa contra a
autoridade rio-grandense, adviria do território oriental. Os olhos dos castilhistas fixar-se-
iam, de agora em diante, com deferência especial, em Rafael Cabeda. O mesmo cônsul
diria ao presidente gaúcho:
Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul. Montevidéu. 2/8/1901. De Geraldino Silveira para
28
Borges de Medeiros.
território rio-grandense, a sua política, os seus homens. Mais
ainda, que seja dotado de perspicácia para impor-se sem
jamais magoar alheias suscetibilidades. (...) Solicitar, quase
exigindo, mas sempre solicitando parece-me ser o mais
adaptável à nossa diplomacia no Uruguai.29
29
Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul. Montevidéu. 6/9/1901. De Geraldino Silveira para
Pinheiro Machado.
30
ALMEIDA, João Pio de. Op. cit. p. 23.
Reproduzimos abaixo, as impressões do diplomata apontando justamente a
situação citada e, mais, admoestando o governo federal:
31
Idem.
Apesar de, nessa época, o ministro em Montevidéu, Dr. Alberto Fialho, ter
afirmado sua boa vontade e sua lealdade quanto ao Rio Grande do Sul, isto não tornava-o o
representante adequado, pois: “não é somente de boa vontade que se precisa em um
Ministro aqui no Uruguai; deve alimentar também algum ardor pela causa rio-grandense,
que é a que mais exige apoio nesta Legação”.32
32
Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul. Montevidéu. 11/9/1901. De Geraldino Silveira para
Borges de Medeiros.
33
Após todos os desentendimentos e ressentimentos com Prudente de Morais, Campos Sales aceitaria
remover o General Carlos da Silva Teles, de seu posto em Porto Alegre- uma antiga reivindicação dos
castilhistas. Em troca, Campos Sales assegurou o apoio gaúcho ao seu nome para a candidatura presidencial.
Por isso o governo gaúcho sentiu-se momentaneamente ofendido com o procedimento do Presidente, que
parecia relegar a um secundo plano as necessidades do governo gaúcho face à conturbação fronteiriça.
34
Idem.
35
Idem.
causar sobre o restante do país. Ao contrário, colocavam esta questão como um problema
de âmbito local, logo de competência do governo estadual.
37
Sobre esta Convenção consultar: CARONE, Edgard. Op. cit. p.200-204.
38
PAYRO, Roberto. Op. cit. p. 60.
Enquanto o governo federal e a embaixada brasileira em Montevidéu
continuavam pressionando para que o Rio Grande mantivesse estrita neutralidade em caso
de revolução, continuavam as especulações em torno das vinculações entre João Francisco
e os blancos. Em correspondência diplomática estava registrado o seguinte:
39
Arquivo Histórico do Itamaraty. Montevidéu. 4/9/1903. De Francisco Xavier da Cunha para Rio Branco.
40
Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul. Livramento. 16/11/1903.
O fato é que o coronel João Francisco era respaldado nos seus temores de
uma circunstancial invasão federalista. O ministro oriental no Rio de Janeiro refere-se a
esta possibilidade dizendo que:
41
Archivo General de la Nacion. Montevidéu. Carpeta 1162.
42
Idem.
43
Arquivo Histórico do Itamaraty. Montevidéu. 2/12/1903.
Paula Argollo, e o uruguaio, Federico Guarch, ficou acertado que seria ordenado à
guarnição do Rio Grande que desarmasse e internasse todos os orientais que chegassem à
fronteira.
O governo federal fazia todo o possível para impôr seriamente aos seus
subalternos no Rio Grande a manutenção da neutralidade. Para isso contava com um
inimigo poderoso: as simpatias e os contatos de muito estabelecidos entre a população
fronteiriça e a causa revolucionária.
José Romeu foi um dos blancos dissidentes que colaborou para a eleição de Batlle, que o agraciou com o
45
Sobre este episódio registramos duas referências: HIERRO, Luis A. Op. cit. p. 39 e MACHADO, Carlos.
47
48
A mais importante interdição decretada pelo governo afetava a grande fortuna de Arturo Heber Jackson,
membro do Diretório Nacionalista, a quem se acusava de haver comprado na Europa o armamento de que
dispunha Saraiva e de ser um dos mais importantes contribuintes da revolução. Ver: ABADIE, Washington
Reyes. Crónica ... Op. cit. p. 434.
49
Por este motivo encontra-se pouquíssimo material sobre a revolução nos periódicos uruguaios deste
período. Eram censurados também jornais estrangeiros, como La Prensa, um periódico argentino,
francamente favorável aos blancos revolucionários, que era considerado pelo governo contrabando de guerra
, passível de confisco.
Medeiros desentendia-se com o coronel João Francisco, cujo poder junto à fronteira
passava a ser incômodo.
50
CAGGIANI, Ivo. Op. cit. p. 91.
O presidente da estado foi, durante a revolução de 1904, constantemente
informado por João Francisco sobre a possibilidade de uma reação dos federalistas. Em um
dos documentos remetidos, o coronel diz:
51
Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul. Livramento. 4/1/1904.
52
Arquivo Histórico do Itamaraty. Porto Alegre. ?/1/1904.
53
Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul. Livramento. 2/2/1904.
João Francisco condoía-se da situação dos blancos, seus antigos inimigos,
aos quais perseguiu violentamente nos idos de 1893, sendo que na batalha de Campo
Osório, na qual morreu o almirante Saldanha da Gama, degolado e mutilado, cometeram-se
atrocidades ainda maiores, segundo se crê por suas ordens.54
54
Alguns anos depois de encerrada a revolução de 1904, Borges de Medeiros destituiu João Francisco do
comando militar da fronteira. José Antônio Flores da Cunha, também oriundo de Livramento, então deputado
estadual, publicou uma série de revelações sobre os crimes e abusos cometidos por João Francisco na região
fronteiriça. Amigo de Pinheiro Machado, Flores da Cunha contribuía com o propósito daquele senador em
desfazer os rumores de que João Francisco exercia, na fronteira, poder maior do que o do próprio Borges de
Medeiros, comprometendo, assim, a coesão do PRR. Isso tudo vinha a propósito da campanha para sucessão
de Rodrigues Alves, em 1905, na qual o PRR ressentia-se desta imagem. Deposto por Borges, logo depois de
envolver-se em outros atritos com os Flores da Cunha em Livramento João Francisco recebeu dos blancos
uruguaios o oferecimento de dez mil homens armados e montados, para revidar aos seus inimigos. O ex-
comandante da fronteira, recusando-se o apoio, retira-se do Rio Grande do Sul, auto-exilando-se em São
Paulo. Ver : CAGGIANI, Ivo. João Francisco ... Op. cit. e do mesmo autor: Flores da Cunha. Porto Alegre:
Martins Livreiro, 1996.
55
Idem.
56
Quanto ao aumento dos contingentes da Brigada Militar, houve um sério confronto entre o general Silva
Teles e o governo gaúcho, por volta de 1898. Já nesta época, o general havia comunicado ao governo central a
apreensão de vasto armamento,localizado em Buenos Aires, que era destinado a Porto Alegre. O general
chamava a atenção para o fato de o governo estadual reforçar consideravelmente a Brigada Militar "como um
preparo para dar o grito de separação do Estado" ou "para justificar o avultadíssimo dispêndio de mais de
4.000 contos com o seu exército policial". Solicitava este general que fosse autorizado no sentido de impedir a
militarização do Estado. Para isso reputava inevitável, já na época, a remoção do coronel João Francisco do
comando das forças do Cati, que segundo ele à frente de 600 homens comandados e aquartelados sem prestar
o menor serviço e sem dar obediência alguma ao comando da guarnição da fronteira do Livramento, contra o
qual leva até a provocar constantes conflitos, invadindo-lhes as atribuições, ora praticando recrutamento
forçado, ora alistando em suas fileiras, com graduações, desertores daquela guarnição, ora prendendo,
internando cidadãos orientais por crimes políticos cometidos em seu país... Ver: CARONE, Edgard. Op. cit. p.
185-186.
O jornal A Federação também aludia a que os federalistas haviam-se
animado com a eleição de Batlle para atentar novamente contra o Rio Grande do Sul.
Durante este período, é notório como esta folha reduz o noticiário sobre a revolução
uruguaia, restringindo-se à notas sobre as batalhas militares, sem emitir opinião contra ou a
favor deste ou daquele partido envolvido. Fala-se mais da oportunidade que os federalistas
teriam com a desorganização da fronteira, para atacar o governo gaúcho e dos combatentes
arregimentados nesta zona para lutar ao lado das forças do general Escobar, ligado aos
colorados.
O ministro Rio Branco tinha uma posição bem definida sobre o assunto: