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Formas de aproximação, geopolítica

e a lógica capitalista na aventura dos


brasileiros no Paraguai1
Paulo M. Esselin*
Tito Carlos Machado de Oliveira**

Resumo este texto faz parte de uma pesqui-


sa mais ampla sobre a construção das
Este texto tem o objetivo de interro- fronteiras do Brasil com o Paraguai e
gar sobre a participação de brasileiros com a Bolívia, que, neste caso, trata-se
em território paraguaio, identificando ainda de um texto em construção.
as causas da transferência de peque-
nos agricultores seguidos de grandes Palavras-chave: Migração. Brasiguaios.
agropecuaristas entre os anos 1970 e Brasileiros no Paraguai. Fronteira.
1980, do sul de Mato Grosso e do Pa-
raná para o Paraguai. A participação
dos brasileiros em território paraguaio
modifica a paisagem territorial desalo- *
Historiador. Pós-Doutor em História pela Univer-
jando pequeños campesinos, ao mesmo sidade de São Paulo. Atuação em História da Amé-
tempo em que constrói “pontes” de in- rica, com ênfase em História Latino-Americana.
Professor Adjunto da Universidade Federal de Mato
tegração e de subsunção (real e formal)
Grosso do Sul. Pesquisador do Centro de Análise e
do Paraguai ao Brasil. Esse processo Difusão do Espaço Fronteiriço (Cadef/UFMS).
migratório está diretamente ligado **
Geógrafo. Doutor em Geografia Humana pela Uni-
versidade de São Paulo. Atuação em Geografia Hu-
aos intentos geopolíticos e estratégicos mana, com ênfase em Geografia Econômica. Profes-
do governo brasileiro com o intuito de sor Titular da Universidade Federal de Mato Grosso
afastar o Paraguai das hostes da Ar- do Sul. Pesquisador e coordenador do Centro de Aná-
lise e Difusão do Espaço Fronteiriço (Cadef /UFMS).
gentina; por outro lado, também redu- 1
Parte do projeto de pesquisa “Circuitos legais, ile-
zir as possibilidades de conflitos inter- gais e violência na fronteira”, realizada pelo Centro
nos em áreas de expansão da moderna de Análise e Difusão do Espaço Fronteiriço (CA-
DEF/UFMS).
agricultura. É importante relatar que
Recebido em 30/9/2010 - Aprovado em 1º/12/2010
Publicado em agosto de 2011

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História: Debates e Tendências – v. 10, n. 2, jul./dez. 2010, p. 360-389. Publ. no 2o sem. 2011.
Introdução geopolíticas e indagar sobre seus desdo-
bramentos atuais.
Até meados da década de 1950, era
muito difícil encontrar um cidadão para- As ações geopolíticas e a
guaio ou boliviano radicado em terras bra-
sileiras à frente de qualquer empreendi- construção da ponte de
mento. As trocas eram comuns através do aproximação do Brasil com o
intenso contrabando, mas cada qual per-
Paraguai
manecia em seu país de origem.
Havia algumas exceções, óbvio. As As relações entre Brasil e Paraguai
crises econômicas no Paraguai e Bolívia e haviam se deteriorado com o conflito da
os constantes golpes de estado fizeram com Guerra da Tríplice Aliança, provocando
que muitos daqueles vencidos pelo situa- um longo distanciamento diplomático en-
cionismo começassem a cruzar a fronteira tre as nações; por outro lado, no período
tanto para a Argentina como para o Brasil que se segue após a guerra, houve um es-
na busca de asilo político e de trabalho. treitamento das relações entre Paraguai e
Aqueles que optaram pelo estado de Argentina.
Mato Grosso não encontraram muitas di- A história entre Brasil e a Argentina
ficuldades em se estabelecer. Exímios va- era de forte obsessão das duas nações pela
queiros, paraguaios obtinham com facilida- guerra e pela disputa pela hegemonia do
de abrigo nas fazendas de gado da região continente Sul-Americano, o que consti-
do velho Mato Grosso em especial; ou habi- tuiu fator relevante para a reaproximação
lidosos artesãos, não encontravam dificul- do Brasil com o Paraguai, sobretudo de-
dades em construir galpões, cercas, bretes, pois da década de 1940.2
currais, casas etc. no lado brasileiro. É muito emblemática a afirmação
Todavia, essa situação se modificou desferida pelo presidente argentino Juan
radicalmente. O propósito de aproximação Domingo Perón no final década de 1940
com a nação vizinha é construído sob a égi- a respeito da posição do Paraguai no ta-
de de um esforço geopolítico de desgarrar o buleiro geoestratégico do continente Sul-
Paraguai das hostes argentinas na segun- Americano:
da metade do século vinte. Essa aproxima-
Em Sudamérica existen solo dos nacio-
ção é facilitada pelas ditaduras militares nes lo suficientemente grandes y fuer-
de ambos os lados. Esse propósito, que tes para hacerse cargo a la hegemonía:
passou por construção de estradas, pontes Argentina e Brasil. Es nuestra mision
hacer que la hegemonía de la Argentina
e hidrelétrica, foi consolidado com o avan-
sea, no sólo posíble, sino indispensable
ço de brasileiros sobre terras paraguaias. […]. Las alianzas serán nuestro próxi-
A intenção deste texto é buscar de- mo paso. Paraguay ya está con nosotros.
preender a lógica de aproximação entre o Conseguiremos a Bolivia y Chile. Juntos
Brasil e o Paraguai através das conexões y unidos con estos países, nos será fácil

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ejercer presión sobre el Uruguay. Estas control de la economia privada. Nuestro
cinco naciones pueden atraer fácilmente proyeto hubo de ser realizado por el fas-
al Brasil, debido a su tipo de gobierno y cismo (sic) y el nazismo. De triunfar, Eu-
a sus importantes grupos de alemanes. ropa no estaría hambrienta e imposibili-
Una vez que Brasil haya caído, el conti- tada de rehacer su economía. Evitaremos
nente sudamericano será nuestro” (LI- sus errores. No perseguiremos a ninguna
BORIO, 1983, p. 43 - grifo nosso). religión. No tendremos rigores crueles,
comprensibles allá por el calor de la lu-
Pouco tempo depois, o mesmo Perón, cha. Buena es la fuerza para liquidar a
em correspondência a um destacado políti- la oposición, pero malo es abusar de ella.
co uruguaio, afirmava: Nuestra conquista será generosa pero la
dirección debe ser argentino – uruguaya
Hoy quiero mostrarle los progresos de por los derechos inalienables que nos da
nuestro ideal de unificación, leo en La nuestra raza libre de mestizajes degra-
Nación una correspondencia de Mauricio dantes (LIBÓRIO, 1983, p. 43-44).
Hogchschild (sic). Dice el articulista: Hay
que realizar el suño de Bolivar. Debemos É oportuno lembrar que no ano de
formar los Estados Unidos de Sud Amé- 1937 o PIB per capita argentino era supe-
rica.
rior aos da Áustria e da Finlândia, o dobro
Sólo como tales tendremos voto poderoso
en los asuntos del mundo y además dare- do italiano e o triplo do japonês. Nos dois
mos un ejemplo al resto del mundo, sobre casos o Brasil não era sequer listado. No
todo a Europa, para que ese continente, plano militar, em 1920, a Argentina mobi-
que hoy parece un conglomerado de es-
lizaria imediatamente 379 mil homens, e
tados volcánicos, siga el ejemplo. Asi re-
sultaría que en lo futuro habría sólo seis o Brasil, 136 mil. Isso valeria para toda a
grandes unidades: Los Estados Unidos década de 1930 (MAIA, 2009, p. A2).
del Norte y los Estados Unidos del Sur, el O Tratado da Tríplice Aliança esta-
Imperio Británico, Europa, Rúsia y Chi- belecera que, finda a guerra, o Paraguai,
na; los representantes de esas seis poten-
por ter sido o país agressor, arcaria com
cias se sentarían alrededor de una mesa
y crearían un gobierno mundial que se todas as perdas, danos e gastos sofridos
hecho Imperativo ante el peligro de la pelos aliados durante o conflito. Essa dí-
guerra atómica. vida, mesmo reduzida ainda no período do
Amigo, bien claro está, ese es nuestro
Império, era um lastro demasiado pesado
sueño y el del herrerismo, y en ese común
ideal estamos unidos; se propaga y, a las para a economia paraguaia. Resultado: a
razones militares, se le agrega hoy en su dívida não foi paga e Getúlio Vargas pro-
apoyo motivos econômicos muy acerta- moveu o perdão dessa dívida construindo o
dos, por cierto, pero con todo la unifica- primeiro passo seguro no sentido de apro-
ción sólo podrá realizarse por la fuerza.
Es utopia creer posible aunar sin su ayu- ximação com o país vizinho.3
da a los miles de intereses egoístas y a A República, ao tomar essa decisão
los mal entendidos universalismos que num momento difícil para o país, que já
parecen vivir la época de la carreta. Por sofria séria crise econômica com a redu-
la fuerza puesta al servicio de una diplo-
ção dos seus produtos de exportação, com
macia hábil, impodremos la unidad. Por
eso nos armamos, por eso buscamos el a consequente queda de suas receitas em

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razão da Segunda Guerra Mundial e fato- Por outro lado, o Brasil vivia um mo-
res internos, manifestava com esse gesto a mento de extrema importância no seu pro-
preocupação com a crescente influência da cesso de industrialização que havia sido
Argentina sobre o Paraguai. desencadeado na década de 1930 com o
Em correspondência de 24 de feverei- presidente Getúlio Vargas. Nesse contex-
ro de 1954, essas preocupações do governo to, o Paraguai e a Bolívia, repúblicas vizi-
brasileiro ficaram mais claras: o ministro nhas, passaram a ser vistos como mercado
das Relações Exteriores do Brasil reco- potencial para os produtos brasileiros.
mendava ao embaixador brasileiro em As- Na década de 1940, o prolongamen-
sunção: to da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil
Especial atenção da parte de Vossa Exce- atingiu Corumbá (fronteira com a Bolívia)
lência deverá merecer o desenvolvimento e Ponta Porã (fronteira com o Paraguai).
das relações desse país (Paraguai) com a Essa estrada criava uma ponte entre po-
República da Argentina. País pequeno,
tenciais consumidores, mas também se
de recursos econômicos limitados e dis-
pondo de uma única via de acesso comer- aproximava das riquezas dos dois países:
cial ao mundo exterior – o rio Paraguai, de Corumbá partia a estrada de ferro Bra-
cuja navegação é praticamente contro- sil–Bolívia (construída pelo governo brasi-
lada pela Argentina – vive o Paraguai leiro) em direção a Santa Cruz de la Sierra
numa situação de dependência material
e à região petrolífera boliviana; e Ponta
em relação à República Argentina. É de
recear, pois, que o Convênio de União Porã estava situada próxima às áreas ri-
Econômica, há pouco firmado entre os cas em erva-mate e madeira de lei do Pa-
dois países para integração de suas res- raguai.
pectivas economias, venha a criar uma
O próprio chanceler brasileiro José
situação tal que, por força mesmo de sua
inferioridade econômica, esse país se Carlos de Macedo Soares, numa reunião
veria eventualmente obrigado a aceitar, com representantes da indústria paulista,
como fato consumado, a ascendência po- deixava muito claro quais eram as inten-
lítica do vizinho. ções do Brasil para com os países vizinhos
Vossa Excelência deverá estar vigilan-
te, mantendo-se atento no desenrolar Paraguai e Bolívia, ao afirmar:
das negociações entre esse Governo e o É da própria intenção do nosso país
da Argentina, não só no que se refere a contribuir para o levantamento e a in-
execução do Convênio União Econômica, dependência econômica do Paraguai
mas, sobretudo no que diz respeito aos propiciando – lhe condições favoráveis
prejuízos que seu funcionamento possa de desenvolvimento, incentivando a apli-
eventualmente ocasionar aos interesses cação de capitais e indústria de transfor-
brasileiros nesse país (Despacho 4/921.1 mação em seu território, a fim de que ele
(43), p. 12, de fevereiro de 1954. Centro possa, em futuro talvez próximo, consti-
de Documentação do Itamarati. Brasília. tuir autêntico mercado para nossos pro-
In: MORAES, 2000, p. 90). dutos (O Estado de São Paulo, 11 nov.
1956, p. 20).

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Com essa preocupação de estreitar Fortalecendo e consolidando as re-
as relações comerciais com o Paraguai e lações bilaterais entre Brasil e Paraguai,
com a Bolívia, o governo brasileiro pro- em 26 de abril de 1973 os chanceleres dos
curou oferecer alternativas aos governan- dois países assinaram o Tratado de Itaipu
tes vizinhos, sobretudo ao país guarani, no para a construção de uma hidrelétrica na
sentido de buscar soluções ao seu crônico região de Guairá para aproveitamento do
problema de escoamento da sua produção.4 potencial energético do rio Paraná, embo-
Já no primeiro semestre de 1954 ti- ra a construção da hidrelétrica pudesse
veram início as negociações para a cons- ter sido erguida pouco mais acima, com
trução da rodovia Coronel Oviedo–Porto que pertenceria apenas ao Brasil, visto
Presidente Franco, na região do Alto Pa- que o Paraguai não dispunha de tecnolo-
raná (divisa com a cidade brasileira de Foz gia, crédito e muito menos dinheiro para
do Iguaçu). O acordo entre os dois países contribuir com o desenvolvimento do pro-
foi concluído em 20 de janeiro de 1956, fi- jeto.6 Nesse caso, a decisão tomada por
cando nele estabelecido que a rodovia seria parte do governo brasileiro foi política. Ao
financiada com recursos brasileiros. Essa aproveitar conjuntamente e em igualdade
estrada, fazendo a conexão com a estrada de condições o potencial das águas do rio
Coronel Oviedo–Assunção, possibilitava a Paraná, o Brasil demonstrava o desejo de
ligação da capital paraguaia ao Brasil. se aproximar definitivamente do país vizi-
Esse projeto se completava com a nho, promovendo, ao mesmo tempo, como
construção da ponte sobre o rio Paraná, efeito, o distanciando do Paraguai da Ar-
inaugurada em 27 de janeiro de 1961 e gentina. Relata Vasquez (2005 p. 140-141).
denominada no Brasil de “Ponte da Ami- En el plano geopolítico – el gobierno de
zade”. Com ela, pela primeira vez em sua Stroessner (1954-1989) da um golpe de
história, o Paraguai obtinha a ligação com timón a la relaciones internacionales
paraguayas. Así, a partir de la década
o oceano Atlântico, aspiração que busca-
del 70, la salida al mar, es decir el rom-
va desde o século XVI.5 A partir de então, pimiento del aislamiento geográfico, ya
através do porto de Paranaguá, a repú- no se hace por la vía natural e histórica,
blica vizinha poderia estabelecer relações el río de la Plata (eje Sur ), sino por la
comerciais tanto com o Brasil como com o rede rutera brasilelenã y el nuevo puer-
to franco paraguayo en Paranagua (eje
mundo. Ainda foi assinado um novo acor-
Este). Antes, Paraguay dependía econó-
do, que permitia ao Paraguai estabelecer micamente en exclusividad de los puer-
um entreposto de depósito franco em Para- tos argentinos para la entrada y salida
naguá, no litoral paranaense, facilitando a de mercancías. La dependencia política
del puerto de Buenos Aires se rompe re-
importação e exportação e também o esta-
cién con la independencia de Paraguay
belecimento de um entreposto de depósito en 1811 que, según Rodríguez Alcalá, fue
franco em Concepción para as mercadorias realmente una independencia de la Bue-
importadas e exportadas pelo Brasil (MO- nos Aires amenazante que de la lejana y
RAES, 2000, p. 96). débil España.

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Este cambio del eje Sur por el eje Este investimento, não em dinheiro, mas por
tendrá consecuencias políticas, económi- meio da eletricidade excedente que ele re-
cas y espaciales relevantes. En el plano
mete de volta ao Brasil.
político significa la integración de Para-
guay a la órbita brasileña en detrimento
de la argentina, lo que posibilitó que los
intercambios comerciales crecieron con el
Configuração espacial e
Brasil, a partir de la década de los 70. En geopolítica - a edificação da
términos espaciales, es la region Oriental
la que evoluciona. El eje Sur, fluvial, rute- travessia do Brasil para o
ro y ferroviario hacia Buenos Aires, donde
la ciudad fronteriza de Encarnación era
Paraguai
el dispositivo de interfase con Argentina,
fue paulatinamente perdiendo importan- No período que começou no final da
cia ante el surgimento del eje Este hacia década de 1940 e se estendeu até meados
Brasil y la ciudad de Porto Presidente de 1980, o Brasil viveu um dos momentos
Strossner, luego Ciudad del Este. mais importantes da sua história, o qual
Do lado brasileiro, a construção da merece consideração para a compreensão
Ponte da Amizade e da hidrelétrica de deste trabalho, que foi o processo de inte-
Itaipu consolidava a estratégia do governo gração territorial do país e a modernização
brasileiro de integrar o Paraguai à esfera da sua agricultura, com importantes des-
de sua influência em detrimento da da Ar- dobramentos tanto para o Paraguai como
gentina, projeto muito bem recebido pelo para a Bolívia.
governo paraguaio, que soube tirar pro- A política integracionista e a cha-
veito da situação conflituosa entre os dois mada modernização da agricultura im-
principais países da América do Sul para pactaram toda a economia brasileira e
se beneficiar. O presidente Stroessner muito especialmente a paranaense e a
aprovechó de manera excelente los jue-
sul-mato-grossense. Seguindo o modelo de
gos de poder en la década de los 70, cuan- internacionalização do mercado interno,
do Brasil y Argentina se disputaban el estabeleceram-se áreas pioneiras, que pre-
potencial energético del río Paraná, que cisavam ser rapidamente ocupadas, visan-
logo se materializó en las construcciones
do transformá-las em fortes exportadoras
de las represas de Itaipu y Yacyreta. Am-
bos tratados fueron resistidos por los geo- de produtos agropecuários (BATISTA, 1990,
políticos brasileños y argentinos, quienes p. 19). A modernização tecnológica da agri-
criticaban a sus gobiernos respectivos cultura no Brasil foi responsável pela rápi-
por los beneficios excesivos concedidos a
da mecanização do campo e pela incorpo-
Paraguay (VÁZQUEZ, 2005, p. 146).
ração de milhões de hectares ao processo
Ao todo, a obra da hidrelétrica de de produção, sobre uma nova lógica de
Itaipu custou em torno de US$ 30 bilhões, exploração capitalista, pela introdução dos
dívida que o Brasil assumiu sozinho e pa- chamados “insumos modernos” (semen-
gou no exterior. O Paraguai, ainda nos tes selecionadas, adubação química dos
dias de hoje, paga sua parte do custo do solos, herbicidas, fungicidas, pesticidas,

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pelo uso de máquinas e equipamentos mo- descartar animais velhos que haviam per-
dernos, como arado, grades, plantadeiras, dido a função reprodutiva, introduzir tou-
colheitadeiras, tratores de esteira, entre ros de melhor padrão racial, enfim, passa-
muitos outros). Foram criados diversos ram a modernizar a exemplo do que havia
cursos superiores de agronomia e veteri- acontecido com a agricultura.
nária em praticamente todo o país, como Essas transformações, tanto na agri-
também cursos de nível médio de técnico cultura como na pecuária, elevaram ra-
agrícola com especialização em fitotecnia pidamente os ganhos de capital, aumen-
e zootecnia, para que esses profissionais, taram consideravelmente os ganhos da
assim que lançados ao mercado, pudes- terra, devido aos ganhos de produtividade,
sem atuar junto aos produtores a fim de ocasionando uma forte concentração fun-
prepará-los para as novas tecnologias da diária e grandes desastres ambientais em
agricultura e pecuária para difundirem os todo o Brasil. Mas o país foi transformado,
novos métodos de produção, acabar com sua agricultura tornou-se produtiva e ace-
as práticas pré-capitalistas que tinham lerou o processo de industrialização atra-
lugar no campo brasileiro. Nos diversos vés do surgimento de uma agroindústria
estados da federação, os governadores forte (OLIVEIRA, 2003).
abriam agências especializadas, os bancos À medida que avançava, a moderni-
criavam departamentos disponibilizando zação tecnológica do campo no Brasil ace-
créditos, contratando engenheiros agrôno- lerava o processo de expropriação e expul-
mos, veterinários e técnicos agrícolas para são de centenas de milhares de pequenos
prestar assistência técnica aos produtores, produtores rurais. No estado do Paraná
capacitando-os para o manejo adequado esse fenômeno foi acompanhado pela cons-
das novas tecnologias que iam sendo intro- trução da hidrelétrica de Itaipu
duzidas. Expulsos do campo, muitos traba-
Todo esse movimento de moderniza- lhadores rurais eram absorvidos primei-
ção do campo na agricultura suscitou uma ramente pelas obras da Ponte da Amizade
recomposição da tradicional pecuária. Os mais adiante, já nos anos de 1970, pelas
tradicionais pecuaristas passaram a incor- obras de Itaipu. Muitos deles procuravam
porar novas técnicas ao processo de produ- as cidades, o que levou ao surgimento de
ção, formando pastagens artificiais, me- grandes bolsões de miséria e pobreza,
lhorando o padrão racial do rebanho, o que emergindo desse processo as favelas em
possibilitou o aumento da produtividade diversas cidades do Oeste paranaense.7
e do desfrute. Passaram a vacinar anual- No lugar dos homens entrou a máquina.
mente o rebanho contra as mais diversas Em 1970 havia 18.619 tratores, ao passo
doenças que atingiam os bovinos e equi- que em 1980 eram 79.682, um aumen-
nos, sobretudo a aftosa; passaram também to superior a 350% em apenas dez anos
a vermifugá-los, dividir as pastagens com (BATISTA, 1990). Esse período marca a
a construção de cercas, controlar a monta, intensa expropriação de pequenos produ-

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tores rurais, que foram obrigados a ven- no Paraná caminhava a passos largos, os
der suas terras e se deslocar para outras olhos e as atenções do Estado brasileiro
fronteiras agrícolas ou se subordinar aos voltaram-se para o Mato Grosso do Sul;
novos empresários que instalavam suas novas estratégias de ocupação começaram
grandes empresas agrícolas, na condição a ser formuladas no sentido de mudar a
de pequenos arrendatários ou trabalhado- ocupação, quebrando com a velha tradição
res braçais. Esse processo expansionista de promover a interiorização apenas pelo
se reflete nos dados estatísticos do IBGE, deslocamento de populações de outras re-
registrando a redução de 76.515 pequenas giões do Brasil para a região Centro-Oeste,
propriedades no Paraná (BATISTA, 1990, como já havia ocorrido até então, inclusive
p. 26). Esse modelo de modernização tec- no período do governo de Getúlio Vargas.
nológica liquidou com a produção agrícola Entre 1970 e 1980, o governo federal re-
familiar destinada ao consumo. definiu as políticas nacionais, e a região
Para Mato Grosso do Sul vieram Centro – Oeste a exemplo do que havia
ocorrido no Paraná passa a ser incor-
muitos paranaenses, abrindo, assim, uma
porada ao processo de desenvolvimento
nova frente pioneira. Justamente aqueles capitalista brasileiro. Ganham espaço a
que foram expropriados de suas terras se produção de grãos, com a soja avançando
estabeleceram em diversos pontos do es- nas áreas de cerrados e de matas; ocor-
tado onde iniciaram o cultivo de algumas re a alteração do sistema de criação de
pecuária bovina passando para a fase
culturas de subsistência.
da engorda e exportação de gado já para
A política do II Plano Nacional de De- frigoríficos do Sudeste, de onde saía para
senvolvimento (PND), vigente no período o interior; estabelece-se um sistema de
de 1975-1979, possibilitou que, do desloca- transporte que favorece a integração eco-
nômica e regional, supre-se a região com
mento de 80% da população rural do norte
crédito agrícola barato e um conjunto de
paranaense, 44% ocupassem o Mato Gros- empreendimentos agropecuários, inclu-
so do Sul (BATISTA, 1990, p. 27). sive, florestais, instala-se no Estado (LA-
A chegada de gaúchos, paranaenses, TINA..., p. 31).
sulistas e sudestinos em geral ao sul do O governo federal, no sentido de
velho Mato Grosso deve-se também a um impulsionar o processo de transforma-
processo vigoroso de redução do valor da ção econômica do estado, iniciou uma sé-
terra: a arroba do boi gordo sofreu repe- rie de investimentos de infraestrutura, o
tidas desvalorizações entre 1961 e 1968 e que contribuiu para a integração regional
a retração das exportações da erva-mate como também para o desenvolvimento das
para o mercado argentino, encerrando-se atividades de produção. Pavimentaram-
definitivamente em 1968, desestimulou se a BR 163 e a BR 267: a primeira ligou
pecuaristas e ervateiros, que disponibiliza- Campo Grande à capital Cuiabá, criando
ram terras para venda (OLIVEIRA, 2000). imensas condições para que houvesse a ex-
No entanto, no final da década de pansão da agropecuária em toda essa re-
1960, quando a modernização do campo gião; a segunda ligou o Paranapanema, em

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São Paulo, a Nova Alvorada do Sul, ten- subsidiado ao produtor (12 anos de
do sido construído um trecho até a cidade prazo para pagamento com até seis
de Dourados, ligando-a a Campo Grande anos de carência, com juros subsi-
pela BR 163. Incorporaram-se, assim, vas- diados), compra de matrizes, além
tas regiões do estado à economia paulista. de investimentos em infraestrutura
Criadas as condições para que a produção de transporte, energia elétrica, ar-
pudesse ser escoada, o governo federal foi, mazenamento, apoio técnico ao pro-
ao longo da década de 1970 e até meados dutor rural e crédito rural orientado
de 1980, criando novos programas espe- (PLATINA..., p. 34).
ciais, no sentido de modernizar as ativida- Outro programa federal que gerou
des econômicas do estado. impactos econômicos importantes em
Foram criados os seguintes progra- Mato Grosso do Sul foi o programa de pa-
mas para o que é hoje Mato Grosso do Sul: pel e celulose. A implantação de florestas
• Programa de Desenvolvimento da em Mato Grosso do Sul iniciou-se na dé-
Grande Dourados (Prodegran), cujo cada de 1970, aproveitando-se da disponi-
principal objetivo era modernizar as bilidade de recursos federais subsidiados,
técnicas de cultivo da região, propi- grandes extensões de terras disponíveis a
ciando o aumento da produção e da preços baixos, boas condições climáticas e
produtividade da soja e do milho, topográficas e a perspectiva de produção
principais culturas da região; de papel e celulose.
• Programa de Desenvolvimento do Por último, com o Programa Nacio-
Pantanal (Prodepan); que tinha nal do Álcool (Proalcool), criado em 1975
como objetivo principal transformar em resposta à crise do petróleo, o governo
a pecuária pantaneira, cujo modo de federal buscou uma nova alternativa ener-
produção e de circulação era arcaico, gética para diminuir os custos com a im-
colocando-a em bases capitalistas; portação do petróleo. Já no final da década
ao mesmo tempo, tentar controlar de 1970, havia uma grande quantidade de
as enchentes por meio de obras de destilarias em grande parte do estado pro-
infraestrutura; duzindo açúcar e álcool.
• Programa de Desenvolvimento dos Esses programas tiveram efeitos mo-
Cerrados (Polocentro), projeto consi- numentais sobre a economia e a sociedade
derado a principal e a mais impor- sul- mato-grossense. Ao final da década de
tante ação do governo federal para 1970, portanto em um lustro após o início
Mato Grosso do Sul, incorporando dos programas especiais do governo fede-
ao processo produtivo em torno de ral, a área utilizada para lavouras tempo-
um milhão de hectares de cerrados, rárias aumentou de 450 mil hectares para
desmatados em curto espaço de tem- 1,600 milhões.
po, com o emprego de alta tecnolo- A soja, cujo cultivo era inexpressivo
gia e da disponibilização de crédito no início da década de 1970, com produ-

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ção média em torno de 14 mil toneladas e vel tal que o número de tratores teve um
com área de 15 mil hectares, atingiu um crescimento superior a 600%: no começo
milhão de toneladas e em área de cultivo de 1970 eram 3.786 unidades em 1980,
pouco superior a seiscentos mil hectares. 23.162. Em determinadas culturas, como a
Em torno de 70% da soja da região Centro- da soja, que tem alto grau de mecanização,
Oeste eram produzidos em Mato Grosso do em média, era utilizado apenas um empre-
Sul no final da década de 1970.8 gado a cada 200 ha, ou seja, o emprego de
Com a pecuária de corte não foi di- alta tecnologia no cultivo da soja permitiu
ferente, pois os programas criados pelo alta produtividade da mão de obra na pro-
governo federal trouxeram resultados ex- dução. Muito rapidamente Mato Grosso do
pressivos. As pastagens artificiais, que Sul foi incorporado ao processo de moder-
no começo da década de 1970 atingiram nização tecnológica e à economia de expor-
a marca de 3,4 milhões de hectares e um tação.
rebanho bovino de 6,5 milhões de cabeças, Como no vizinho estado do Paraná, à
em fins da década triplicaram a sua área, medida que avançava a modernização tec-
passando a nove milhões de hectares, e nológica do campo, ia sendo gerada uma
o rebanho atingiu uma marca recorde de onda de desempregados nas fazendas de
mais de 11 milhões de cabeças. monocultura, acelerando-se o processo de
Fator importante para o sucesso do concentração da terra nas mãos de uns
desenvolvimento da agricultura e da pe- poucos potentados, promovendo-se um
cuária em Mato Grosso do Sul foi a inau- processo de urbanização precoce, um ver-
guração de três agências da Empresa dadeiro êxodo rural. Além disso, não havia
Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Em- uma leitura correta por parte do Estado
brapa): uma na cidade de Campo Grande, das transformações que vinham ocorren-
outra em Corumbá e uma em Dourados. do; faltava uma política correta de inclu-
Essa empresa teve papel fundamental no são social dos governos federal e estaduais,
desenvolvimento da pesquisa científica que poderia ter contribuído para dobrar o
voltada para a agricultura e a pecuária em mercado consumidor brasileiro, impul-
todo o estado, com o desenvolvimento de sionar o mercado interno e ter permitido
sementes de soja, milho, trigo, sorgo que que o país, na época, pudesse ter cruzado
melhor se adaptassem às condições locais a linha do subdesenvolvimento, como vem
de clima e solo, o que permitiu aumento ocorrendo nos dias de hoje.
substancial da produtividade. O mesmo O que se viu foi o crescimento desor-
aconteceu com a pecuária, com a adaptação denado de cidades, o surgimento de fave-
da semente do capim brachiaria às condi- las, a falta de políticas sociais adequadas,
ções de clima e solo locais, o que elevou a sobretudo em Campo Grande e Dourados,
capacidade de suporte das pastagens. com forte crescimento da violência urbana
O desenvolvimento tecnológico da e dos movimentos sociais dos trabalhado-
agricultura e da pecuária atingiu um ní- res rurais sem-terra.

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Os dados do Censo Agrícola de 1980 tradicional, atraído pela proximidade geo-
mostram que os estabelecimentos agrope- gráfica. Além disso, as terras eram férteis,
cuários com área total ou superior a 500 a infraestrutura rodoviária, pelo menos
ha, compostos basicamente pelos latifún- no seu eixo principal, estava pronta, como
dios, continuaram ampliando a sua super- também a Ponte da Amizade, a grande fa-
fície de domínio. Esta, em 1975, era de 175 cilitadora do comércio regular e do livre
milhões de hectares e, em 1980, alcançou fluxo de bens e capitais. Portanto, entrar
209 milhões, mais de 34 milhões de hec- em território paraguaio naquele momen-
tares conquistados em apenas cinco anos. to era mais fácil do que se estabelecer em
Nas regiões da “fronteira agrícola”, no regiões longínquas, onde não se podia se-
Norte e Centro-Oeste, registra-se um for- quer escoar a produção em razão da falta
tíssimo movimento de concentração: nelas, de infraestrutura. Aos poucos, milhares de
respectivamente, 53,37% e 71,93 das ter- trabalhadores rurais sem-terra foram se
ras estão nas mãos de proprietários com estabelecendo no país vizinho e, à medida
1.000 ou mais hectares; em ambas, entre que ia se intensificando a modernização
1975 e 1980, dos cerca de vinte milhões de tecnológica da agricultura, esse número ia
hectares incorporados, perto de 17 milhões aumentando. Outro fator importante foi a
foram engrossar a grande propriedade desapropriação de áreas destinadas à for-
(VOZ DA UNIDADE, 1983, p. 14). mação do reservatório de Itaipu no início
A modernização tecnológica da agri- da década de 1980. As terras desapropria-
cultura, a concentração da propriedade e das eram ocupadas por pequenos proprie-
a expulsão dos camponeses do campo le- tários rurais, que por elas receberam uma
varam o governo a intervir no sentido de pequena indenização e engrossaram a fila
aproveitar esse excedente de trabalha- daqueles que se internaram no Paraguai.
dores do Paraná e Mato Grosso do Sul e Por outro lado, as autoridades paraguaias
transferi-los para regiões do Brasil que não se mostraram contrárias à ocupação
ainda estavam subocupadas, de forma pelos colonos brasileiros da região frontei-
tal que pudesse reestruturar a fronteira riça do Alto Paraguai.
agrícola, encaminhando-os para o Mato Os interesses geopolíticos dos dois
Grosso, Rondônia, Roraima, Acre etc. No governos autoritários (Brasil e Paraguai)
entanto, antes de o governo utilizar essa eram de promover um processo de moder-
estratégia de ocupar os espaços vazios in- nização agrícola do Centro-Oeste brasilei-
ternos, os trabalhadores rurais tomaram ro, como também no Departamento do Alto
a iniciativa e foram se deslocando para Paraná até Kanedeuo, promovendo a rápi-
o território do vizinho Paraguai; primei- da ocupação desses territórios.
ro, os paranaenses e, em seguida, os sul- A propósito, afirmava o coronel Gol-
mato-grossenses, ocupando, a princípio, bery do Couto e Silva com relação ao Brasil
áreas do lado direito do rio Paraná; era e, sobretudo, ao Centro-Oeste que se deve-
uma alternativa que restava para o colono ria:

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História: Debates e Tendências – v. 10, n. 2, jul./dez. 2010, p. 360-389. Publ. no 2o sem. 2011.
1º) Articular firmemente a base ecumê- me, sobretudo, a vulnerabilidade dos am-
nica de nossa projeção continental, ligan- plos espaços vazios, as vias de penetração
do o Nordeste e o Sul ao núcleo central que deviam ser eficazmente tamponadas.
do país; ao mesmo passo que garantir a Explicita-se, assim, a estratégia de um
inviolabilidade da vasta extensão despo- dos aspectos da política econômica de
voada do interior pelo tamponamento efi- desenvolvimento após o golpe de 1964,
caz das possíveis vias de penetração; 2º) isto é, a ocupação territorial das partes
impulsionar o avanço para noroeste da desintegradas, de modo a ampliar o modo
onda colonizadora, a partir da platafor- de produção capitalista prevenindo-se ao
ma central, de modo a integrar a penín- mesmo tempo, contra a ameaça comunis-
sula centro-oeste no todo ecumênico bra- ta (BITTAR, 1997, p. 224).
sileiro; 3º) inundar de civilização a Hiléia
amazônica, a coberto dos nódulos frontei- Para alcançar tal objetivo, tratou o
riços, partindo de uma base avançada no regime de formular estratégias no sentido
Centro-Oeste. [...] não poderia deixar de de desenvolver políticas públicas que pro-
objetivar a salvaguarda da inviolabilida-
moveram o rápido processo de moderniza-
de territorial, ante ameaças externas de
quaisquer origens que sejam, por pouco ção econômica de Mato Grosso do Sul. Por
prováveis mesmo que se nos afigurem. meio da criação dos chamados “programas
Nesse sentido merecia especial atenção especiais”, como Polocentro, Prodegran,
a integração do “Centro Oeste”, área [...] Prodepan, Proalcool, o Estado intervinha
de importância estratégica no coração do
no sentido de criar uma forte classe média
continente e capaz de permitir reação efi-
caz de qualquer aventura expansionista, rural para respaldar o regime, como tam-
ostensiva ou marcada, que venha a sur- bém foi cumprindo pontualmente uma po-
gir por essas bandas (COUTO E SILVA, lítica de povoar a fronteira com o Paraguai
1967, p. 226).
e Bolívia.
Couto e Silva deu demonstrações de Esse projeto de povoar a fronteira es-
que a ocupação do Centro-Oeste se enqua- teve a cargo do Instituto Nacional de Colo-
drava na estratégia da geopolítica que vi- nização e Reforma Agrária (Incra) e iniciou-
sava, de um lado, à segurança e, de outro, se com a fundação de vilas, como a de Sete
à integração do território.9 Quedas, posteriormente Mundo Novo, que
Segundo os ideólogos do regime, não po- se converteram de pequenos povoados em
deria haver segurança nacional sem um florescentes cidades. Esses assentamentos
alto grau de desenvolvimento econômico, se deram a cada 40 km para manter a fron-
pois a segurança de um país impõe o de- teira povoada.
senvolvimento de recursos naturais, uma
extensa rede de transportes e comunica- Por outro lado, os ideólogos do regi-
ções para integrar o território. Um país me acompanhavam com vivo interesse a
subdesenvolvido, disse Golbery do Couto situação da guerrilha no interior do Para-
e Silva, é particularmente vulnerável guai na década de 1960, que foi acompa-
à estratégia do inimigo comunista, por
nhada de perto pelos militares brasileiros,
isso, a contra ofensiva deveria consistir
em promover uma rápida arrancada do os quais temiam pelo desenvolvimento
desenvolvimento econômico para obter o dessas ações em território nacional. Os ofi-
apoio da população. Preocupava o regi- ciais apoiaram integralmente o governo do

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país vizinho com expressiva ajuda militar. nal es muy limitado, los insumos cada dia
Prestavam informações sobre a movimen- se encarecen y sobre todo ingresan muchos
tação de grupos guerrilheiros na fronteira productos de contrabando desde el Brasil,
e capturavam e entregavam exilados po- frente a los quales es imposible competir”.
líticos à sanha da repressão paraguaia. Rapidamente os colonos brasileiros
Além disso, o governo brasileiro fazia ge- foram invadindo o território paraguaio,
nerosas doações de material bélico – três configurando-o aos moldes brasileiros, e
aviões novos com armamento completo, nada foi feito para detê-los. Ao contrário,
cinquenta bazucas e trezentas granadas em suas marchas de ocupação, receberam
– para que a guerrilha fosse eficientemen- condições para avançar sobre a primitiva
te combatida (MORAES, 2000, p. 94). Por agricultura praticada pelo indígena e por
outro lado, a vizinha Argentina – antes de campesinos tradicionais.
se instalar sua ditadura – generosamente Assim, consolidava-se a visão de Gol-
oferecia asilo político a todos os paraguaios bery do Couto e Silva, por meio da qual
que combatiam a ditadura de Stroessner. era o destino do Brasil como uma potên-
Essa ajuda brasileira, ao contrário cia ocidental com estreitas ligações com
da Argentina, era muito bem recebida pelo Washington e com graus de manobra para
presidente Stroessner, pois com ela comba- consolidar sua hegemonia regional sul-
tia os seus inimigos internos, fortalecia-se americana e garantir aos EUA um status
no poder; por outro lado, criava condições não desestabilizador (MAIA, 2009, p. A2).
para que o colono brasileiro entrasse no
Paraguai e ocupasse um território que se-
A travessia consolidada e a
guramente diminuiria os espaços do movi-
mento guerrilheiro. Além disso, os colonos “limpeza” do território
brasileiros praticavam uma agricultura
Os brasileiros encontraram no Pa-
comercial, estavam familiarizados com as
raguai as melhores condições para se ins-
transformações tecnológicas que vinham
talar e produzir; as terras eram virgens,
acontecendo. Por sua vez, o paraguaio não,
ao contrário das dos estados do Paraná e
pois suas práticas remontavam a uma
Mato Grosso do Sul, onde o uso intensivo
agricultura de subsistência, tipicamente
das terras já elevara o seu preço e os cus-
indígena, totalmente atrasada; os produ-
tos de produção. As florestas eram fartas,
tores utilizavam um sistema de cultivo ru-
nelas se sobressaindo a peroba e outras
dimentar, sem mecanização, e técnicas há
madeiras de lei, que já tinha seus esto-
muito ultrapassadas. Até das hortaliças
ques drasticamente diminuídos no Brasil.
consumidas em Assunção, parte era produ-
A renda da terra se reproduzia de forma
zida, e ainda o é, no Brasil, na Argentina e
mais significativa porque a produtivida-
chile. Conforme revelam Masi e Falabella
de era muito maior, considerando as boas
(2005, p. 323), “[...] el problema com la pro-
qualidades do solo.
dución horticola, es que el mercado nacio-

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A princípio, o movimento migratório culação. Em tal ótica, consolida-se essa
foi de curta distância. Os paranaenses e postura na perspectiva da, grosso modo,
sul-mato-grossenses foram atraídos pela “eternidade da posse”. Essa relação finda
proximidade geográfica e pelas terras quando da valorização da terra. O processo
baratas; logo, foram sendo ocupadas as de expropriação é inevitável. Os grandes
colônias de Santa Rosa, Naranjal, Katue- capitalistas, ao contrário, não encontram
te, General Diaz, Gleba 4, Cedralez, Cor- dificuldades em legalizá-la como proprie-
pus Criste e La Paloma (BATISTA, 1990, dade privada.
p. 22). À medida que se acelerava o processo
Os camponeses brasileiros que en- de modernização tecnológica no Brasil e se
traram no Paraguai o fizeram na condição ampliavam os incentivos federais ao culti-
de posseiros, pretendendo cultivar a terra vo da soja, possibilitava-se uma maior con-
dentro dos padrões que lhes eram familia- centração da propriedade da terra. Como
res; desconsiderando a regularização das efeito, mais trabalhadores assalariados,
posses, conseguiram títulos provisórios de meeiros e rendeiros perdiam a possibili-
posse com os comissários e juízes das co- dade de trabalho. Com mais camponeses
lônias, sem o registro definitivo no único expropriados de suas terras (ou pressiona-
Cartório de Imóveis que existe no Para- dos a vendê-las), ampliava-se a corrente
guai, na cidade de Assunção, ou seja, os migratória em direção ao Paraguai.10
documentos dos camponeses não tinham Ocupando as terras, o primeiro passo
nenhum valor legal. Outros arrendavam a ser cumprido pelos recém-chegados era o
terras do Instituto do Bem Estar Rural de se livrar dos “inconvenientes indígenas”.
(IBR), órgão responsável no Paraguai pela Os expropriados brasileiros consolidavam
colonização e distribuição de terras, pa- mecanismos diversos de expropriação dos
gando uma taxa anual pelo uso da terra. indígenas paraguaios, obrigando-os a pro-
Muitos outros arrendaram terras de colo- curar regiões mais distantes.
nos paraguaios ou mesmo de brasileiros A princípio, tratavam os pioneiros de
que já possuíam maiores extensões. Outro preparar a terra para o seu cultivo.
grupo era formado por pessoas pobres que La incorporación de tierras florestales a
se inseriram nesse processo apenas como la gricultura se realizó en la mayoría de
agregados ou trabalhadores agrícolas. Se- los casos, por médio de un “rozado” ini-
cial tumbado de àrboles con motosierras
gundo o PNUD, “só 1 em cada 5 campo-
[ou machados] que permitia la siembra
neses tem título de propriedade” (MASI; manual de cultivos entre tocones y tron-
FALABELLA, 2005, p. 320). cos caídos posterior a su primera quema,
O camponês, muito a priori, tem a los quales eran trabajosamente elimina-
perspectiva de ter a terra como instrumen- dos manualmente en pocos anõs por me-
dio de extracciones elaboración de lenã y
to de trabalho e de produção, enquanto o
carbón o diretamente quemas. A los 3 a
capitalista tem a necessidade de transfor- 5 años de efectuado el rozado los tocones
má-la em propriedade privada e de espe- restantes eran eliminados finalmente por

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medio de maquinaria pesada quedando estabelecer com exatidão esses números.
finalmente la parcela lista para el cul- Batista, por exemplo, afirma que em 1976
tivo mecanizado. La soja era producida
havia uma estimativa de 130 mil, embora
desde el primer o segundo ciclo luego de
efectuado el rozado, con sembras realiza- no censo de 1972 eles fossem 31.869 e, no
das con sembradores manuales carpidas início da década de 1990, quinhentos mil,
con azadas y cosechadas y emparvadas dos quais 80% não possuíam visto de imi-
manualmente realizandose la trilha con
grantes.
triladoras estaticas (PEDRETTI, 2006,
p. 68). Mas havia uma tentativa por parte
da ditadura Strossner de manter um ab-
Essas frentes pioneiras de brasilei- soluto controle sobre os produtores de ori-
ros em território paraguaio geralmente se gem brasileira.
dedicavam à policultura, cultivavando os
Em terras paraguaias estes “brasiguaios”
produtos básicos para a sua alimentação, ficam mercê da estrutura de poder dita-
como soja, algodão, trigo, mandioca, feijão, torial daquele país. Os mandos e des-
milho, café, arroz, cana-de-açúcar, venden- mandos dos chefes militares criam uma
do os excedentes nos mercados mais pró- situação de controle e repressão. O imi-
grante brasileiro na chegada é obrigado
ximos ou fazendo as trocas com os produ-
a obter o “permiso”, que tem que renovar
tores locais. O comércio era realizado com a cada três meses (sempre pagando as ta-
muitas dificuldades em razão da carência xas e a corrupção que as acompanham).
de transportes; os produtos eram vendidos Além disto, é também obrigado a pagar a
nas vilas e nas cidades mais próximas. “livreta” imposto que dá o direito de tran-
sitar, ou seja, tem que pagar para poder
Também criavam grandes e pequenos se deslocar no país. O valor da livreta é
animais, geralmente um pequeno lote de diferenciado por tipo: a pé, de bicicleta,
bovinos leiteiros, suínos, caprinos, alguns de burro ou de carro.
animais de tiro, e até mesmo o desenvol- Como esses “brasiguaios” não têm condi-
ções financeiras para pagarem sucessi-
vimento de atividades artesanais, tecendo
vamente estas taxas, estão sempre ame-
suas próprias vestimentas e muitas vezes açados pela estrutura policial corrupta
produzindo seus próprios móveis, já que daquele país. Nesse “processo é comum
ocupavam uma área rica em madeira. terem que entregar suas terras para li-
vrarem-se da prisão (OLIVEIRA, 2005,
Por alguns anos, os camponeses bra-
p. 75).
sileiros trabalharam o seu roçado sem
qualquer tipo de incômodo, construindo Esses trabalhadores cumpriram um
uma infraestrutura em seus lotes e desen- papel importante em todo esse processo,
volvendo suas lavouras com o trabalho de que foi o de amansar as terras; foram to-
toda sua família. Segundo Oliveira, (2005, lerados enquanto desbravaram as áreas de
p. 75), quatrocentos mil brasileiros se in- floresta, enfrentando todos os perigos, de-
ternaram no Paraguai e se estabelece- pois foram desapropriados pelos grandes
empresários, proletarizando-se. Muitos de-
ram na condição de pequenos produtores
les foram transformados em peões de fazen-
rurais, embora haja certa dificuldade de
das no Paraguai; grande parcela retornou

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em busca de uma nova fronteira agrícola; A situação interna no Paraguai, que
outros conseguiram se estabelecer como até o início da década de 1950 era de in-
médios e pequenos proprietários rurais. certezas, em virtude das sucessivas crises
Importante registro dos jornalistas econômicas e de golpes de estado, mudou
Alcibíades González Delvalle e Efrain a partir da ditadura de Stroessner. A si-
Martinez, segundo os quais um dos graves tuação política do país se transformou, a
problemas criados por brasileiros no Para- “estabilidade política” dava segurança aos
guai é que que ali queriam aportar seus capitais.11
[...] se está creando respecto a la made- Reinava a mais absoluta “tranquilidade, a
ra, es lo seguinte: poderosos empresários verdadeira paz social”, segurança para os
brasilenõs, financiados por los bancos de investimentos, “garantia para o trabalho”.
su pais, adquirem em el nuestro gran- Para os empresários descomprometi-
des extensiones de bosques. Em segui-
da comiezan a sacar lãs maderas hasta dos com a democracia e com os direitos hu-
terminalas totalmente.Algunos proprie- manos não havia ambiente melhor e mais
tários fraccionan después sus tierras seguro para seus investimentos, sobretudo
para venderlas a los colonos brasileños. muito aos brasileiros que viviam nas fron-
Otros sencillamente las abandonan. Pero
teiras do Paraguai.
no por generosidad. Las dejan ociosas y
hasta correr la voz de que se tratarían de Diferentemente das primeiras levas
tierras fiscales.Y comiezan a entrar los “ de homens descapitalizados que se deslo-
sin tierras.” Levantan sus casitas, hacen caram para aquele país, a partir de 1960,
rozados, cultivan.Passado um tiempo,
esse novo grupo, constituído por empresá-
las tierras ya están totalmente limpias
de mazelas, aparece el proprietário com rios do ramo da agricultura e da pecuária
uma orden judicial exigiendo el desalojo começou a se deslocar para a região do Alto
de los ocupantes. Um negocio redondo Paraná, levando consigo capitais, imple-
(DELVALLE; MARTINEZ, 1979, p. 11). mentos, máquinas e equipamentos agríco-
Pós-meados da década de 1970, gru- las, colheitadeira e uma nova cultura com
pos diferenciados de empresários do meio práticas de cultivo e de utilização do solo.
rural começaram a desmobilizar capitais Houve muitas vantagens para que
no Paraná, Rio Grande do Sul e, sobretudo esses novos imigrantes optassem pela
no Mato Grosso do Sul; passaram a deixar transferência de suas atividades econômi-
os seus estados natais no Brasil e inicia- cas para o país vizinho, além dos solos de
ram novos negócios no Paraguai. Não se boa qualidade e do baixo preço da terra.
tratava de um grupo de aventureiros que Em 1975, para se ter uma ideia, a revis-
iriam em busca de melhores condições de ta Informações Econômicas do Instituto
vida sem garantias mínimas para inverter de Economia Agrícola (citada por Batista,
seus capitais; esperaram pacientemente 1990) publicou um levantamento do preço
pela abolição da lei que proibia a compra de do hectare em São Paulo em relação às ter-
terras por estrangeiros naquele país, o que ras do Paraguai.
aconteceu no ano de 1967; somente a partir
de então passaram a comandar o processo
migratório brasileiro naquele país.

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Preço das terras de primeira no estado de São Paulo e
no Paraguai 1975-1988
Ano 1975 1979 1982 1983 1988
São Paulo (*) 10.270,00 35.384,84 482.000,00 956.155.00 285.000,00
Paraguai (*) 800,00 1.500,00 150.000,00 800.000,00 100.000,00
Fonte: Informações Econômicas do Instituto de Economia Agrícola apud BATISTA, 1990, p. 69.
(*) Valores em CR$ por ha.

Portanto, em 1975, com um hectare paraguaio, que foram loteados e revendidos


paulista era possível comprar quase 13 no a brasileiros. A União das Empresas Brasi-
Paraguai; no ano de 1979, compravam-se leiras (UEB), as dos grupos Ducal, Sparta e
23,5 hectares. Oliveira (2005, p. 73) afirma Bemoreira também foram favorecidas. Essa
ainda que “[...] o interesse dos fazendeiros entidade adquiriu 18.500 ha no interior do
brasileiros, que expandiram suas fazendas Paraguai, ao preço de CR$ 110.00 o hectare,
de café para o Paraguai em busca de terras isso em 1973, pagos em quatro anos, com
baratas (vinte vezes menos que no Para- 20% de entrada; pelo contrato, o grupo fi-
ná)”, o que significa que para cada hectare cava isento do pagamento de qualquer im-
vendido na região do Paraná comprava-se posto sobre a importação de bens de capital.
vinte no país vizinho. Essa situação pode À medida que os brasileiros foram
bem explicar a corrida ao Paraguai. Essa adentrando na região, às florestas nativas
relação mudou no começo da década de do Alto Paraná, foram sendo desmatados
1980. Houve um rápido processo de valo- 121.889 km2, 33% do território paraguaio.
rização das terras em razão de uma cres- Para Antonio L. Balestiere,12 em entrevista
cente procura por parte dos agricultores afirmou: “Entre 1975 e 1985 havia 300 ser-
brasileiros: com a venda de um hectare em rarias entre os municípios de Ponta Porã
São Paulo compravam-se 3,2 no Paraguai, no Brasil e Pedro Juan Caballero no Pa-
uma redução significativa, mas ainda van- raguai.” Para o pesquisador Batista (1990,
tajosa. Além dos baixos preços, os prazos p. 70), em 1975 “[...] havia 74 serrarias de
de pagamento eram dilatados, às vezes dez proprietários brasileiros só na cidade fron-
anos, com parcelas de 10% ao ano, embora teiriça de Pedro Juan Caballero”, onde as
a forma mais comum de comercialização toras eram cortadas e comercializadas no
fosse de cinco anos, com parcelas de 20% Paraguai ou contrabandeadas para o Bra-
ao ano. sil abastecendo as serrarias ou exportadas
Algumas empresas brasileiras, ou para o mercado europeu.
mesmo empresários, foram beneficiadas Na mesma direção, Masi e Falabela
pelo governo Stroessner. Geremias Lunar- (2005) apontam o que houve no Departa-
delli, grande latifundiário brasileiro, rece- mento de Alto Paraná com relação à explo-
beu em concessão 450 mil hectares em solo ração econômica da madeira:

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La deflorestación de la cual estuvo so- solamente millones de guaraníes, sino
metida la zona por varias décadas de hasta su equilibrio ecológico. Y no sola-
su riqueza de 1.400.000 de hectáreas de mente pierde en los rolizos. También en
selvas nativas, constituye un problema las maderas asserradas, puesto que éstas
mayor.Alto Paraná constituía una de las salen de contrabando, en algunos casos y
zonas boscosas nativas mas importantes otros mediante coimas a los funcionarios
del país, y el cultivo extensivo de soja aduaneros como no tardaremos en ver.
mas el contrabando de madera al Brasil En cualquiera de los casos, el dinero no
prácticamente han terminado con el bos- se ha quedado ni siquiera en concepto de
que nativo, reducido a entre 8% a 10% de mano de obra. Los empresarios son brasi-
su masa original de 1965 (MASI; FALA- leños y también los obreros. Estos ganan
BELLA, 2005, p. 329). en cruzeiros que se los gastan en su país.
También en el negocio de la madera per-
A ausência de uma legislação am- demos lejos. Estamos, en este rublo tam-
biental facilitou que as indústrias ma- bién, contribuyendo con la prosperidad
deireiras, aliadas aos novos proprietários de los aserraderos, y afines brasileños
(DELVALLE; MARTÍNEZ, 1979, p. 11).
rurais, desmatassem sem obstáculos a re-
gião. A exploração das florestas e a renda De todo modo, em apenas dois lustros
proveniente da venda da madeira eram os brasileiros devastaram indiscrimina-
tão lucrativas que permitiram que os no- damente toda a floresta do Alto Paraná
vos proprietários pagassem pela terra e para o avanço da soja, sendo a madeira foi
formassem as fazendas; assim, aquelas toda comercializada com pouco controle;
imensidões de “florestas ociosas” foram expropriaram pequenos produtores (brasi-
cedendo lugar a áreas destinadas ao cul- leiros e paraguaios); desalojaram índios e
tivo e produção de diversas culturas, como tradicionais pequenos camponeses de sub-
soja, milho, trigo, mandioca, entre outras, sistência. Noutras palavras, “limparam” o
além das pastagens artificiais, que possi- território para a edificação de uma moder-
bilitaram o apascentamento de um gran- na agropecuária e, com ela, a construção
de rebanho bovino e o desenvolvimento de de uma nova história.
uma pecuária extensiva de boa qualidade.
Centenares de camiones con chapas brasi- Pontes partidas: da
leñas – y otras ni siquiera com placas – se
internan en nuestros bosques de donde sa- consolidação de um
len bien cargados de rolizos. Por caminos
hechos a la disparada salen a nuestras
processo de subsunção real
rutas o directamente a la frontera para di- do território paraguaio às
rigir-se a los aserraderos que crecen como
hongos a lo largo de la línea seca. inevitáveis rusgas, aspectos
Estos camiones transitan de dia y de no-
che. No conocen de pausas. A la hora que
inconclusos
uno está en los caminhos fronterizos, se
encuentra con estos camiones llevando
Esses “intrépidos” fazendeiros ainda
nuestras maderas al Brasil. Tampoco en se beneficiaram de um crédito fácil e bara-
este negocio gana un céntimo nuestro to; os custos de produção ainda são muito
país.Al contrario, cada dia pierde, ya no inferiores aos do Brasil: a carga de impos-

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tos que ainda hoje recai sobre as ativida- imposto sobre o valor agregado (TOLEDO;
des agrícolas e pecuárias naquele país, BERRY, 2007, p. 228).
se comparadas às praticadas no Brasil, é Atualmente, o produtor estabelecido
insignificante; além disso, contaram com o no Paraguai é tributado em 10% da safra
apoio explícito do então governo Stroess- colhida, numa diferença substanciosa.
ner. Adicionava-se ainda o fato de o Para- Outra vantagem que goza o produ-
guai possuir população e capital limitado tor estabelecido no Paraguai são os cus-
para ocupação e integração das terras à tos de produção, significativamente mais
moderna agricultura. “Somava-se a esses baixos aos praticados no Brasil. Na sa-
interesses o desejo do Governo paraguaio fra 2007/2008 o produtor estabelecido no
de implantar usinas de açúcar e álcool em Paraguai desembolsou 364 dólares para
seu território e do incremento de uma pe- o cultivo de um hectare, ao passo que no
cuária melhorada, através de novas raças Brasil, utilizando-se das mesmas técnicas
e invernada com sementes de capim no- de cultivo, foram investidos US$ 614,28.
vas” (OLIVEIRA, 2005, p. 73). A produção por hectare no Paraguai gira
Outra vantagem que ainda nos dias em torno de cinquenta sacas de soja; o va-
de hoje gozam os produtores rurais é o sis- lor histórico da saca gira em torno de US$
tema de impostos soberbamente favorável. 15.00/, o que permite renda média em tor-
Em 2004, o setor agropecuário, que gerou no de US$ 750,00, já descontados os 10%
32% do PIB, contribuiu com apenas 0,3% de impostos.
dos ingressos tributários. Em 2004, pela Na safra 2007/2008 a saca de soja foi
primeira vez, foi estabelecido um impos- vendida a US$ 22.00, o que permitiu au-
to de 4% para as exportações de soja, no mento na receita dos produtores rurais em
entanto o cálculo sobre a base do preço foi torno de US$ 1.100.00 por hectare. Nas
de US$ 80 por tonelada, quando, na ver- tabelas anexas, com os custos de produ-
dade, o valor atualizado da tonelada da ção apresentados pode-se perceber que a
soja era de US$ 300, o que dava uma taxa dispensa de práticas agrícolas, tais como
de apenas 1%, (TOLEDO; BERRY, 2007, o uso do calcário dolomítico desnecessário
p. 227), quase nada se comparado à Argen- em solos paraguaios, a quantidade infe-
tina, que cobra 15%, e só o Estado de Mato rior de adubação química requerida pelos
Grosso do Sul cobra do milho 17,85%, solos (enquanto no Brasil são necessários
15,27% da soja, 12,99% do trigo, fora os duzentos quilos por hectare, lá são neces-
impostos nacionais. Outro benefício de que sários apenas cem quilos), o pagamento de
ainda goza o produtor é o subsídio (estima- determinados impostos no Brasil, como o
do em US$ 54 milhões em 2004) sobre o Fundersul, Funrural, ICMS, Imposto de
preço dos combustíveis; em determinados Renda, aumentam muito os custos de pro-
momentos, os preços deles eram 30% infe- dução, e o rendimento da safra é maior no
riores aos praticados no Brasil. Além dis- Paraguai, em torno de 10 scs/ha. São fa-
so, deixam os produtores de soja isentos do tores que não podem ser desconsiderados

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e que propiciam maior lucratividade aos tais como inseticidas, fungicidas, herbici-
produtores lá estabelecidos. das, trazendo consequências sobre o meio
Os produtores ainda se beneficiaram ambiente e a saúde da população.
da progressiva melhora tecnológica da O sistema de controle, em razão da
produção da soja, milho e outras culturas, ausência de equipamento estatal, é débil, o
sobretudo por técnicas desenvolvidas pela que deu ao produtor autonomia para o uso
Embrapa e que são disseminadas no Para- de produtos altamente tóxicos sem contro-
guai, tanto na difusão de novas variedades le.13 Atualmente, os pesticidas, sobretudo
de sementes com maior rendimento e re- os organoclorados, embora tenham os seus
sistentes a pragas e doenças que atacam usos proibidos no Brasil e em vários outros
as lavouras, fazendo baixar o seu rendi- países, continuam sendo empregados no
mento como na difusão do plantio direto, Paraguai e no próprio Brasil (especialmen-
o que permitiu a preservação do solo, como te nos estados fronteiriços de Mato Grosso
também significativa redução dos custos, do Sul e do Paraná) através do contraban-
já que esse novo sistema de plantio dispen- do. Os pesticidas cujo princípio ativo atua
sa os métodos tradicionais de preparação por mais tempo contaminam o solo, mas
do solo com a aração e gradagem, reduzin- levam grande vantagem sobre os demais,
do substancialmente o uso de combustível pela sua eficiência no combate a pragas
e de trabalho, o que possibilitou aumento e doenças que atacam os cultivos; por es-
significativo da margem de lucro. ses razões são extremamente utilizados
Com o desenvolvimento de pesqui- pelos produtores dessas regiões. Além de
sas com fertilizantes químicos, foi possí- mais eficientes, esses produtos são muito
vel disponibilizar formulações muito mais mais baratos que aqueles que têm o seu
eficientes e que melhor atenderam às de- uso autorizado pelas autoridades sanitá-
ficiências que apresentavam os solos na rias. Como no Paraguai os produtores não
região do Alto Paraguai. As incorporações encontram resistências, continuam utili-
dessas novas técnicas de manejo ao proces- zando-os e os comerciantes fronteiriços os
so de produção vêm contribuindo para a contrabandeiam sem qualquer controle da
restauração da fertilidade das terras gas- comercialização, muito menos da maneira
tas pelo uso intensivo e, assim, permitindo como são utilizados.
o aumento contínuo da produtividade e a Outro fator que estimulou a entrada
redução dos custos operacionais. de brasileiros no Paraguai foram os custos
A incorporação de um milhão e qua- com a mão de obra, que, além de mais ba-
trocentos mil hectares no Paraguai em rata em si, resume-se ao pagamento de sa-
curto espaço de tempo e a sua transforma- lário. Não existem os chamados “encargos
ção em áreas de cultivo aconteceram sem sociais”, que no caso brasileiro encarecem
o amparo de uma legislação ambiental em até 100% o valor do trabalho.
que orientasse o desmate, como também De acordo com depoimentos colhidos
a aplicação em larga escala de produtos, de alguns fazendeiros, os trabalhadores

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são mantidos em situação análoga à es- 2,8 bilhões em divisas, o que significa em
cravidão, com a exploração degradante torno de 60% dos ingressos internacionais
da mão de obra local. Há que considerar no país. Essa região, que era totalmente
que, obviamente, essa relação de trabalho coberta de grandes florestas, hoje apresen-
não atinge a totalidade da população tra- ta um dos melhores solos e uma das mais
balhadora. O desenvolvimento tecnológico altas taxas de produtividade agrícola do
da agricultura que atingiu as regiões onde mundo. Os brasileiros transformaram o
predominantemente estão os brasileiros Alto Paraguai numa das mais importantes
exige um trabalhador mais bem qualifi- regiões produtoras de alimentos do mundo.
cado, que não se submete a essa situação O produtor sul-mato-grossense con-
degradante. tribuiu ainda para implantar uma pecuá-
Os brasileiros souberam se aprovei- ria moderna no Paraguai pela introdução
tar das muitas facilidades que lhes foram de novas raças e do plantio das pastagens
oferecidas na vizinha república do Para- artificiais. No final da década de 1960 o
guai. Logo que adentraram na grande re- rebanho bovino paraguaio era constituído,
gião do Alto Paraná, foram transformando majoritariamente, por uma raça nominado
muito rapidamente a tradicional agricul- internamente de Taquaty.14
tura praticada pelos nativos; importaram O rebanho bovino sul-mato-grossen-
a experiência tecnológica do Brasil e, ra- se tinha a mesma origem do rebanho pa-
pidamente, tornaram-se responsáveis pela raguaio, herança colonial, submetido à na-
maior parte da soja produzida – em torno tureza e procriando sob as leis de seleção
de 65% da soja produzida no país está em natural (ESSELIN, 2003, p. 282). Porém,
mãos de brasileiros. Introduzindo o que de a modernização da pecuária deu salto sig-
mais moderno havia à disposição no mer- nificativo no estado, especialmente a par-
cado mundial, em pouco mais de trinta tir de 1968, quando foi criado o primeiro
anos os imigrantes brasileiros transforma- Programa de Erradicação da Febre Aftosa.
ram o Paraguai no quarto exportador e o O programa de saúde animal trouxe no
quinto maior produtor de soja do mundo, seu bojo outro conceito de manejo, com a
principal fonte externa de recursos nas introdução do vermífugo, do sal mineral,
exportações, com produtividade superior a divisão da propriedade em piquetes, da
27% do resto dos países produtores dessa vacinação. Contudo, o maior significado
oleaginosa. para o avanço da pecuária foi a importação
Hoje a soja ocupa uma área superior do gado zebu (indiano), com característica
a dois milhões de hectares; há trinta anos excepcionais de adaptação à região.
a produção girava em torno de quinhentas Essas transformações promoveram
mil toneladas. Hoje há uma expectativa de profundo impacto na economia sul-ma-
se obter uma safra recorde de 7.5 milhões, to-grossense, fronteira com o Paraguai,
na safra 2008/2009. Mantido o preço da consolidaram riquezas e remodelaram o
tonelada da soja em US$ 400, serão US$ tradicional latifúndio em uma moderna

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empresa agropecuária. Como efeito, ao Essa relação descrita pelos dois re-
longo do tempo, encareceu-se a terra. Ter- pórteres nunca se perdeu. Naquele terri-
ra cara significa bloqueio ao acesso e des- tório ainda se processam a cria e recria,
vio de potenciais médios investidores. ao passo que a engorda se dá em território
Em busca de terras mais baratas e brasileiro. Dessa forma, os produtores na-
custo operacional inferior, os produtores cionais foram implantando uma pecuária
cruzaram a fronteira e iniciaram suas melhorada no Paraguai: o antigo rebanho
atividades em solo paraguaio, reservando foi sendo substituído por matrizes zebuí-
para aquelas áreas as fases de cria e re- nas; introduziram novas técnicas de ma-
cria, ao passo que a engorda se realizava nejo e tecnologias, igualando o padrão de
em território brasileiro. manejo ao existente no Brasil.
Os repórteres do jornal ABC Collor Nas últimas décadas do século pas-
puderam, no ano de 1979, registrar o que sado, um novo território do Paraguai co-
vinha ocorrendo na fronteira Brasil–Para- meçou a ser ocupado por pecuaristas bra-
guai. sileiros, o Chaco paraguaio, área contígua
Actualmente los proprietários de uma ao Pantanal.
regular extensión de tierra ubicada em O Chaco é uma planície de bosques situ-
las localidades fronterizas, prefieren cul- ada no centro sul da América do Sul que
tivar pasto colonial. Este rubro les resul- inclui parte do Paraguai, Argentina e Bo-
ta altamente rendidor. Como los vacunos lívia. Possui uma extensão territorial de
invadieron la frontera, em cantidades 790.000 Km². Geograficamente, limita-se
extraordinárias, existe mucha demanda ao sul com os Pampas; a oeste, com a re-
de sítios y alimentos. Se están queman- gião Andina; ao noroeste com o planalto
do grandes extensiones de bosques para de Chiquitos e velasco, e,a leste, com os
plantar pastos. Los empresários brasi- rios Paraguai e Paraná (CARVALHO, In:
leños, o sus representantes paraguayos, Herbets, 1988, p. 66).
alquilan estos sítios por meses para
invernar los vacunos. [...] estos empre- A terra de qualidade e os preços bai-
sários prefieren terneros. Al Brasil ya xos, de 10 a 15 U$ por hectare, provoca-
llegan “mocetones”. Bien dessarollados,
ram uma corrida de pecuaristas brasilei-
su precio se há cuadruplicado. Em ou-
tra circunstancia esto se llamaria visión ros para o noroeste da região. O terreno
comercial. Pero no se trata sino de uma plano e as facilidades de desmatamento
perfecta organización para evadir las levaram os brasileiros a adquirir grandes
leyes del pais. Y también para que las extensões.
armas de casa se plagueen sin remédio
Acompanhados de patrulhas me-
y sin consuelo. El negocio del pasto colo-
nial, más el alquiler del sitio para la in- canizadas e correntões e sem qualquer
vernada, esta resultando mejor negocio obstáculo por parte das autoridades, ino-
que cultivar soja o trigo. Alimentar a los pinadamente, foi surgindo um expressivo
vacunos es más rendidor que alimentar a
número de grandes fazendas, dotadas de
los humanos (GONZÁLEZ; MARTINEZ,
1979, p. 11). infraestrutura com pastagens formadas,
bem divididas, rebanhos na sua maior par-

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te de padrão racial da raça nelore. Nessa que houve deslocamento do rebanho para
região só há um inconveniente: a falta de outras regiões e um abate de fêmeas abai-
água, imprópria para o consumo. A solução xo da reposição no período analisado, ou,
encontrada pelos produtores foi canalizar ainda, porque estaria havendo migração
desde Loma Plata 200 km de rede, que dos produtores para o Mato Grosso, onde
traz a água e abastece toda a região. as terras e o custo de produção são mais
[...] los ganaderos brasileños que comien- baratos (Estado de Mato Grosso do Sul, 12
zan a comprar grandes extensiones de dez. 2007, p. 8).
tierra em el Noroeste del Chaco. La ins- Uma hipótese que o IBGE descon-
talación de nuevas estancias de produc-
siderou foi o deslocamento dos rebanhos
ción ganadera intensiva responde a la
demanda del mercado regional brasileño, bovinos para o Chaco paraguaio. As van-
centrado sobre el estado de Mato Gros- tagens econômicas ali colocadas são muito
so do Sul y la ciudad de Campo Grande. maiores: os custos de produção são muito
Sitien los propietarios brasileños viven menores; a terra é muito mais barata; o
en el Brasil, la aviación privada permi-
preço pago pela arroba é pouco melhor e
te administrar las explotaciones a dis-
tancia. La gran mayoría de los obreros y a capacidade de apascentamento é muito
encarregados de estas estancias son tam- maior. O sr. A. Balestieri, brasileiro com
bién brasileños. Esto demuestra que la propriedades no Paraguai, afirma que o
penetración brasileña y la dinamizacion
preço pago no Brasil pela arroba, em no-
del espacio paraguayo no se reduce a la
sola región Oriental, sino que se expan- vembro de 2008, era de R$ 70,00 e o frigo-
de también al Chaco (VÁZQUEZ, 2005, rífico tem prazo de trinta dias para efetuar
p. 144). o pagamento, ao passo que no Paraguai o
O movimento comercial entre o Pan- valor é pago à vista e a R$ 72,00 a arroba.
tanal vem tomando tal vulto que os presi- Outro produtor brasileiro (que não
dentes Luís Inácio Lula da Silva e Nicanor quis se identificar) afirma que presenciou,
Duarte assinaram um tratado que prevê a no ano de 2007, o contrabando de 30.000
construção de uma ponte sobre o rio Para- cabeças de novilhas da cidade de Porto
guai que unirá o Chaco com o Pantanal do Murtinho para a região do Chaco para-
Mato Grosso do Sul, entre as cidades de guaio. Segundo ele, uma prática comum, já
Carmelo Peralta no Paraguai e Porto Mur- que muitos produtores rurais daquela ci-
tinho no Brasil. dade possuem propriedades no Paraguai, o
Fator importante foi constatado em que facilita a passagem dos rebanhos para
recente pesquisa do IBGE, que concluiu o lado da república vizinha.
que o Estado de Mato Grosso do Sul apre- A ocupação do oeste do Paraná, do sul
sentou a maior redução do rebanho bovi- de Mato Grosso do Sul no Brasil, do Alto
no do país no ano de 2006. A queda em Paraná e regiões adjacentes no Paraguai
relação a 2005 foi de 3,2%, caindo de 24,5 durante os regimes militares e com a cons-
milhões para 23,7. Segundo os pesquisado- trução de Itaipu modificou completamente
res, a redução pode ser um indicativo de os cenários comerciais da fronteira. Esses

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projetos fizeram parte de uma visão geo- dos e pauperizados, gerando uma onda de
política que, em primeiro lugar, visava re- desempregados e de subempregados, em
duzir a influência da Argentina sobre o es- razão de um intenso processo de concen-
tado do Paraguai; em segundo, promover tração de terras nas mãos dos sojicultores.
a expansão econômica da região, prepa- Uma urbanização precoce com todos os
rando terreno para as grandes empresas seus malefícios foi inevitável – o cresci-
agrícolas, especialmente brasileiras, a am- mento da periferia de Pedro Juan Caballe-
pliação do domínio dos monopólios sobre ro e a formação de muitos acampamentos
a agricultura, transformando esse espaço de trabalhadores rurais sem-terra, que se
num grande corredor agrícola de exporta- espalham muito rapidamente pelo país,
ção, e criar uma forte classe média rural, são fatos indecomponíveis dessa nova rea-
que pudesse dar sustentação aos governos. lidade.
A produção intensiva, especialmente Por outro lado, embora houvesse o
da soja, no Paraguai possibilitou a sua in- desenvolvimento de uma agroindústria
dustrialização interna. Destacou-se a pro- no país, não foi suficientemente forte para
dução do azeite e da farinha ou farelo de absorver essa mão de obra excedente, re-
soja. sultando no fortalecimento de lideranças
Do total de soja producida se molduran dos trabalhadores rurais e, por efeito,
actualmente unas 1,2 millones de tonela- aumentando a pressão. No entanto, os
das de grano, representando un tercio de trabalhadores rurais sem-terra não pos-
la soja producida al 2003. Las principales
suem estrutura físico-financeira para su-
empresas industrializadotas actualmen-
te pertencen a las empresas Cargil Agro- portar a continuidade do processo produ-
pecuaria, Conti Paraguay, Adesa y la Co- tivo. Nesses termos, uma reforma agrária
operativa Colonias Unidas, resalta que pode comprometer a balança comercial e
a medida que aumentaba la producción os compromissos externos do Paraguai,
tambien ha ido creciendo el volumen des-
o que, segundo economistas, noutros ter-
tinado a la industrialización.Entre 1989
y 2004, el volumen de soja destinada a mos, pode comprometer a saúde do gover-
la industria pasó de 100mil a 1 million y no Lugo. Consolidando uma contradição
el porcentaje de 10,5 a 39% respecto a la na atuação do presidente: embora o pre-
exportacion en grano PEDRETTI, 2006,
sidente Fernando Lugo tenha sido eleito
p. 49).
com o compromisso de realizar uma ampla
Ao lado de tudo, a modernização tec- reforma agrária no país, recentemente tem
nológica da agricultura paraguaia e a pre- se postado contra as contínuas invasões às
sença maciça de brasileiros naquele país propriedades de empresários agrários bra-
trouxeram inúmeros problemas e tensões sileiros.
sociais. No dia 1º de novembro de 2008 a po-
Milhares de pequenos produtores lícia do Paraguai foi deslocada para a pro-
rurais, a exemplo do que ocorreu no Bra- priedade do brasileiro Tranquilo Fávero, o
sil, foram desalojados do campo arruina- maior produtor individual de soja do país,

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ocasião em que foram presos cinco militan- segue sendo a principal fonte externa de
tes sem-terra que haviam ocupado a fazen- recursos nas exportações do Paraguai,
da. Além disso, a polícia tem permaneci- desestabilizar a produção do campo seria
do no local ameaçado pelas invasões para muito perigoso para a governabilidade do
garantir que as operações necessárias ao país.
cultivo não sejam interrompidas. O presidente da Associação Rural do
O novo presidente tem afirmado continua- Paraguai, Juan Nestor Nuñez, afirmou:
mente que os brasiguaios podem ficar [...] que não existe falta de terras para os
tranqui-los, que o direito a propriedade micros e pequenos produtores no País, o
será preservado. Ao avaliar a situação que falta e dar assistência, para que eles
dos brasileiros que foram morar no Pa- possam produzir e parar com essa onda
raguai em busca de terras baratas para de invasões, que só causam transtornos,
produzirem alimentos o presidente elei- prejuízos e insegurança. Ao se referir ao
to fala que “já são paraguaios”. Possuem Departamento de San Pedro, localidade
raízes aqui, porque é aqui que nasceram onde acontecem a maior parte das inva-
seus filhos. “Vamos garantir o direito à sões disse que os sem-terra e os assenta-
propriedade, mas vamos trabalhar mui- dos não recebem qualquer atendimento
to no social, para reduzir a miséria que por parte do governo. E para piorar a po-
toma conta de muitas regiões do país.” lícia não age como determina a lei, para
(Jornal Corréio do Estado, 2008, p. 15). preservar o direito de propriedade (Cor-
reio do Estado, 2008, p. 2).
Além disso, o governo paraguaio
anunciou no dia 27/10/2008 um reforço Preocupados com o rumo que a situa-
de policiamento em várias regiões agríco- ção vem tomando no país, o governo anun-
las do país para garantir o início da safra, ciou a compra de 22 mil hectares em San
devido às ameaças de grupos sem-terra. O Pedro, onde se concentram os sem-terra
esforço será concentrado no departamento para distribuir a 1.800 famílias campo-
de San Pedro (norte) e nas propriedades nesas. No total, os sem terra são cerca de
dos produtores brasileiros. quatrocentos mil em todo país.
No município de Lima, em San Pe- Entrementes, há algo no contexto
dro, centenas de sem-terra estão acam- político e cultural: a questão nacional que
pados próximos a propriedades de brasi- permeia todas as outras questões. A che-
leiros e ameaçam impedi-los de plantar. gada de brasileiros capitalizados em ter-
Alguns empresários tiveram de negociar ritório paraguaio comprando terras, sub-
com os sem terra para realizar a última sumindo a condição territorial à lógica do
colheita de inverno (Folha de São Paulo, capital, tem destacado os brasileiros como
28/10/2008, p. A14). os malfeitores da transformação espacial.
Pelas declarações do presidente e A maior parte da população – não poderia
pela sua ação no começo do seu governo, ser diferente – não reconhece os avanços
fica visível que os produtores brasileiros promovidos na agricultura no país pela
no Paraguai terão seus direitos à proprie- presença brasileira. Senão o contrário. Os
dade privada preservados. Como a soja brasileiros – não a forma de ser do capital

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– são um atentado à soberania de seu país co naquele território. Pode, desse modo,
a partir da conclusão de que obstaculari- provocar profundas rachaduras nas pontes
zam a possibilidade da reforma agrária, concretadas pelos contornos geopolíticos
consolidam a concentração de terras e im- ao longo dos últimos cinquenta anos.
pedem, de diversos modos, a distribuição
da riqueza. Esse fato possui desdobramen- Methods of approximation,
tos e durabilidade de difícil mensuração. geopolitics and the capitalist logic
Mesmo que parte da população tenha into the adventure of Brazilians in
outra compreensão de que os brasileiros Paraguay
não são mais artefatos de uma aventura
desmedida e imprudente, visto que estão Abstract
perfeitamente integrados à sociedade pa-
raguaia e que seus filhos e netos são cida- This paper aims to question the par-
dãos paraguaios, devendo gozar de todas ticipation of Brazilians in Paraguayan
as prerrogativas legais, a condição dos bra- territory, identifying the causes of the
sileiros no Paraguai é incômoda e incerta. transfer of small farmers followed by
large ranchers between the seventies
Incômoda devido à estreita vincula-
and eighties, from southern of Mato
ção entre eles e à crescente pauperização
Grosso and Paraná to Paraguay. The
do povo paraguaio; e incerta, considerando
Brazilian’s participation in Para-
os fatos de que a presença deles em territó- guayan territory changes the territo-
rio paraguaio não mais consta de um pro- rial landscape displacing smallholders,
grama transparente de interesses de am- while build “bridges” of integration
bos os governos (brasileiro e paraguaio), and subsumption (real and formal)
como foi aludido. Neste caso, estão ampa- from Paraguay to Brazil. This migra-
rados apenas (o que não é pouco) pela lógi- tion process is directly linked to the
ca espacial do capital, seus desígnios e sua geopolitical and strategic intents of the
evolução. Brazilian government to rule out Pa-
Deslocados para o Paraguai em mo- raguay of the Argentina’s host, on the
mento de “segurança” garantida pelos re- other hand, also reduce the possibility
of internal conflicts in areas of expan-
gimes de exceção, esses brasileiros-para-
sion of modern agriculture. Is impor-
guaios, ou brasiguaios, consolidaram uma
tant to report that this text is part of
moderna agropecuária ao lado de uma vas-
a broader study on the construction
ta expropriação de campesinos, que, como of Brazil’s borders with Paraguay and
efeito, moldou a face rural e urbana da Bolivia, which in this case, it is still a
nação paraguaia aos interesses da lógica text under construction.
global da exploração capitalista, construiu
uma nova história calçada nas repletas Key words: Migration. Brasiguaios.
contradições e ambiguidades, levando a Brazilians in Paraguay. Border.
uma inequívoca instabilidade sociopolíti-

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Notas em Mato Grosso, que pela sua escassa ocupação
demográfica e sua importância estratégica poderia
ser local apropriado para o desencadeamento des-
1
Parte do projeto de pesquisa “Circuitos legais, ile- sas ações. Além disso, a rala população existente
gais e violência na fronteira”, realizada pelo Centro estava completamente desassistida pelos governos
de Análise e Difusão do Espaço Fronteiriço (CA- estadual e federal, podendo vir a se constituir em
DEF/UFMS). apoio a esses movimentos.
2
É digno de registro que a década de 1940 está as- 10
Esse fenômeno também impulsionou novas frentes
sociada às grandes dificuldades enfrentadas pelo pioneiras internas em direção à Amazônia.
Paraguai após a guerra com a Bolívia (1932-1935) 11
A ampliação da violência e da perseguição aos opo-
e a guerra civil contra o ditador general Higinio sitores do governo de Stroessener afastou do país
Maríñigo, possibilitando a chegada ao poder do ge- e do cenário político os principais adversários do
neral Alfredo Stroessner em 1954. regime. Já em meados de 1965, o modelo ditatorial
3
“O conflito custou, pois ao Brasil, quase onze anos era vitorioso e estava concentrado nas mãos do pre-
de orçamento publico anual [...]. O governo impe- sidente e de seus apaniguados. O Poder Judiciário
rial reduziu, intencionalmente, a indenização de estava reduzido à impotência e tomado por corrup-
guerra a ser cobrada do Paraguai. Uma comissão tos como de resto todo o aparelho estatal
do ministério da Fazenda, estabelecida para esse 12
Dono de uma serraria em Ponta Porã na década de
fim, estipulou o custo monetário total do conflito, 1970 e hoje proprietário da estância Santa Genove-
para o Estado brasileiro, a ser pago pelo Paraguai, va no Paraguai.
em 460, 718 contos de réis, enquanto a estimati- 13
Muitos desses produtos têm condenado o seu uso
va do tesouro correta, indicava despesas de pouco pelos próprios países que os produzem, o que tem
mais de 614 mil contos de réis. [A dívida não foi provocado a contaminação dos cursos de águas na-
paga] e perdoada por Getulio Vargas, no início dos turais e do próprio solo.
anos de 1940.” (DORATIOTO, 2002, p. 462-465). 14
Raça originária do cruzamento de várias raças eu-
4
O único ponto de escoamento da produção pa- ropeias, sem qualquer padrão racial descendente
raguaia era via rio Paraguai; este fato deixava a dos primeiros rebanhos introduzidos pelos jesuítas
nação em condições de vulnerabilidade constante, espanhóis ainda no século XVI, havia se multipli-
considerando o controle argentino sobre o estuário cado à lei da natureza e, de certa forma, sem trato
do Prata. e sem qualquer preocupação com a melhoria gené-
5
Vale ressaltar que essa aspiração remonta ao tem- tica dos animais.
po de Domingo Martinez de Irala, governador do
Paraguai, que aspirava a uma alternativa de liga-
ção com o Atlântico, tangenciando o território ar-
gentino.
Referências
6
Esse projeto foi pensado ainda no começo dos anos
de 1960; seriam as águas do rio Paraná desviadas ALVES, Edílson José. Campesinos continu-
para um canal à esquerda, em território brasilei- am invasões a fazendas de brasileiros no Pa-
ro, até uma região chamada Porto Mendes. Essa
usina de Sete Quedas seria a maior hidrelétrica do
raguai. Correio do Estado, Caderno de Eco-
mundo, totalmente brasileira, com uma capacida- nomia, Campo Grande, p. 6, 22 out. 2008.
de de geração de energia maior do que possui hoje
ANTÔNIO, L. Balestiere. Pecuarista radi-
a Usina de Itaipu; um dos objetivos do projeto era
preservar as belezas de Sete Quedas. cado no Paraguai. Entrevista realizada em
7
Para se ter uma ideia do impacto causado pelo pro- Campo Grande out. 2008.
cesso de transformação da agricultura, a população
paranaense no período de 1970-1980 diminuiu em BATISTA, Luiz Carlos. Brasiguaios na fron-
1.268.565 habitantes. teira: caminhos e lutas pela liberdade. Dis-
8
“A soja promoveu uma verdadeira revolução no es- sertação (Mestrado) - FFLCH/USP, 1990.
paço. Transfigurou completamente a paisagem e
o modo de produção existente. Noutras palavras: DELVALLE, Alcebíades Gonzáles; EFRAÍN,
permitiu a construção de uma nova história” (OLI- Martinez. En la frontera no hay control. ABC
VEIRA, 2000, p. 58). Collor, Asunción, p. 11, 11 set. 1979.
9
Sem fazer qualquer menção, os militares brasilei-
ros mostravam profunda preocupação com a Revo- _______. Entre bueyes no hay cornadas. ABC
lução Cubana e com o desenvolvimento de ações Collor, Asunción, p. 11, 12 set. 1979.
guerrilheiras na região tanto no Paraguai como

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História: Debates e Tendências – v. 10, n. 2, jul./dez. 2010, p. 360-389. Publ. no 2o sem. 2011.
_______. Como es que no ven los vacunos: OLIVEIRA, Ariovaldo U. de. A geografia das
ABC Collor, Asunción, p. 11, 13 set. 1979. lutas no campo: conflitos e violência movi-
_______. Hacia mas alla del hito fronterizo mentos sociais e resistência os “sem-terra” e
IV. ABC Collor, Asunción, p. 11, 14 set. 1979. o neoliberalismo. 13. ed. São Paulo: Contex-
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Anexo I
Custo de produção de soja no Paraguai
Março de 2008

CONCEPTO UNIDADE VALOR UNIT. G TOTAL G.


I COSTOS DIRECTOS 1.794,052
A - INSUMOS TÉCNICOS 1.017,200
SEMILA KG 80 3.200 256.000
FERTILIZANTES BOLSA 2 143.000 286.000
INSECTICIDAS
CONTACTO KG 0,30 165.000 49.500
SISTÉMICO LTS. 0,50 64.900 32.450
INOCULANTE PAQ. 1,00 8.250 8.250
HERBICIDAS LTS. 2,50 154.000 385.000
B- INSUMOS FÍSICOS 615.241
Arada hs. 2 13.200 26.400
Rastreada hs. 1 13.200 13.200
Siembra y fertilización hs. 0,8 13.200 10.560
Pasada de cultivadora hs. 1 13.200 13.200
Aplicación de herbicida hs. 0,4 13.200 5.280
Aplic. de Insecticidas (2 op.) hs. 1 236.500 236.500
Cosecha Há 1 236.500 236.500
Flete Kg 2.696 27 73.601
C. Interes s/ Capital Operativo (A+B*0,18)/2 146.920
D. Gastos Administrativos 14.692
II. COSTOS INDIRECTOS 1.190.442
A. Bienes Móviles 529.917
Tractor 6,5 67.400 439.662
Arado 2 8.069 16.138
Rastra 1 3.617 3.617
Sembradora 1 23.000 23.000
Pulverizadora 2 21.000 42.000
Carpidora 1 5.500 5.500
B. Bienes Inmóviles 660.525
Arrendamiento Ha 1 660.525 660.525
COSTO TOTAL 2.984.494
ANALISIS DE RENTABILIDAD DE SOJA SISTEMA
CONVENCIONAL
CONCEPTO UNIDAD VALOR G. UNIDAD VALOR G.
1. Rendimiento1 Kg/Ha 2.696
2. Precio de venta2 G/Kg 1.870
3. Ingreso total (1*2) G/Ha 5.041.520
4. Costo total G/Ha 2.984.494
5. Ingreso neto (3 - 4) G/Ha 2.057.026
6. Costos Directos G/Ha 1.794.052
7. Margen bruto (3 - 6) G/Ha 3.247.468
8. Costo medio (4/1) G/Kg 1.107
9. Rentabilidad (5/4)*100 % 69
Fuente: Elaborado por la Unidad de Estudios Agroeconómicos – Dirección General de Planificación/MAG, Marzo de 2008.
1 Proveido por Dirección de Censos y Estadísticas Agropecuarias a febrero 2008.
2 Proveido por Dirección de Comercialización/Servicio de Información de Mercados al Agricultor a enero 2008.

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Custo de produção de soja em Mato Grosso do Sul
A – Insumos Unid. Quant. R$ Unit. R$ Total
Semente Kg 40 3,00 120,00
Calcário Dolomitico Kg 2000 0,07 140,00
Adubo plantio 0 – 20 -20 Kg 250 1,80 450,00
Herbicida dessecante litro 2 20,00 40,00
Inseticida I litro 2 25,00 50,00
Inceticiada II litro 2 30,00 60,00
Fungicida I litro 2 25,00 50,00
Fungicida II litro 2 45,00 90,00
Subtotal – A 1.000,00
B - Serviços mecanizados Unid. Quant. R$ Unit. R$ Total
Preparo do solo h/m 0 30,00 0,00
Dist. de corretivos h/m 1 30,00 30,00
Dist. de adubo e plantio h/m 4 30,00 120,00
Semeio h/m 0 30,00 0,00
Pulverização h/m 4 30,00 120,00
Adubação de cobertura h/m 0 30,00 60,00
Colheita h/m 2 30,00 0,00
Acondicionamento d/h 25,00 0,00
Subtotal – B 330,00
C – Outros Unid. Quant. R$ Unit. R$ Total
Embalagem Saca 45 0,60 27,00
Frete e comercialização Saca 0 0,00 0,00
Fundersul % 2,20 0,00 29,26
Assistência técnica % 2,00 0,00 26,60
Subtotal - C 82,86
Total geral (subtotal A+B+C) 1.412,86

Rentabilidade
Produtividade Valor de venda - R$ Total Resultado - R$
45 Sacas/Há 40,00 Saca 1.800,00 387,14
Fonte: Secretaria de Estado de desenvolvimento agrário, da produção, da indústria, do comércio e do turismo.
Agência de Desenvolvimento Agrário e Extensão Rural – Agraer.

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